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ORIENTADORA:
2020
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA
INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
JÚRI
PRESIDENTE: ORIENTADORA:
Doutor Rui José Branquinho de Bessa Doutora Maria Madalena dos
Santos Lordelo Redford
VOGAIS:
Doutora Maria Madalena dos Santos
Lordelo Redford
Doutor André Martinho Almeida
2020
i
Agradecimentos
À Professora Doutora Madalena Lordelo Redford, por ser minha orientadora, por ter
confiança em mim para realizar este trabalho e me ter ajudado ao longo deste período
durante toda a realização da dissertação, por partilhar o seu conhecimento fascinante pelas
aves.
Ao David Ribeiro por toda a ajuda, confiança e simpatia que prestou durante todo o
ensaio.
Às minhas grandes amigas que esta faculdade me deu. À Daniela, à Laura, à Leonor
e à Mónica por me aturarem durante estes anos. Obrigado pela vossa amizade e, por este
tempo que passamos juntos, que nos fez crescer. Pelos nossos dias de estudo, de
trabalhos, os almoços e todos os outros momentos que marcaram este inicio da nossa
amizade. Um agradecimento especial à Dani (Daniela para os outros) por me ter dado uma
enorme ajuda ao longo do ensaio e por todo o acolhimento que me deu na “nossa” casa do
ISA. Obrigado meninas!
Aos meus pais e à minha irmã, pelo apoio e motivação que me deram, acreditando
em mim, ajudando a realizar os meus sonhos académicos. Obrigado por tudo aquilo que
fizeram por mim durante estes anos e todas as etapas da minha vida.
Aos meus primos, nomeadamente à Bia e ao Tiago por serem um pilar grande na
minha vida.
Aos amigos que conheci neste percurso de vida, aos da faculdade, aos amigxs de
longa data.
ii
Resumo
Contudo, foi possível concluir que a microalga não teve efeitos negativos nas
performances dos frangos, no entanto a viscosidade é um fator que deve ser melhorado nos
regimes alimentares destes animais, quando se recorre à incorporação da Chlorella vulgaris.
iii
Abstract
In order to replace conventional foods with alternative ones with less environmental
impact, the incorporation of microalgae, such as Chlorella vulgaris, in broiler feeding is
currently considered a challenge in animal production. The aim of this study was to compare
the production rates in broilers (Ross 308) during two weeks. Four different diets, based on
corn and soybean bagasse, were formulated for growing chickens (from 21-35 days). In
these two weeks, the following experimental regimens were administered: the treatment
called Control, which did not contain microalgae or enzyme supplementation, the MA
treatment with an incorporation of microalgae Chlorella vulgaris (10 %), the MAR treatment
with an addition of the Rovabio® enzyme (0,005 %) to the microalgae (10 %) and the MAM
treatment with an addition of an enzymatic mixture (0,010 %) to the microalgae (10 %). The
following productive indices were evaluated: live weight (LW), body weight gain (BWG), feed
intake, conversion index (CI), effect of the treatment on the relative weight of the crop,
gizzards, pancreas, liver, duodenum, jejunum, ileum and both cecos; in the length of
duodenum, jejunum, ileum and cecum and the viscosity of duodenum, jejunum and ileum.
The results showed that in the first week of the study, the feed ingested was higher for the
MAM treatment. This treatment also presented a superior length of the jejunum compared
with the Control and MAR treatments. MAR and MAM treatments showed higher viscosity in
the duodenum and jejunum when compared with the MA treatment. In the ileum, the
treatments that contained microalgae showed higher viscosity compared to the Control.
Nevertheless, it was possible to conclude that the microalgae had no negative effects on the
performance of the broilers, however, viscosity is a factor that should be improved in the
diets of these animals when the incorporation of Chlorella vulgaris is used.
iv
Índice
Agradecimentos ..................................................................................................................... ii
Abstract ................................................................................................................................. iv
1. Introdução ...................................................................................................................... 1
3. Microalgas .....................................................................................................................10
5. Enzimas ........................................................................................................................16
6. Objetivo .........................................................................................................................17
v
8. Resultados ....................................................................................................................24
9. Discussão .....................................................................................................................27
10. Conclusão..................................................................................................................31
vi
Lista de Figuras
vii
Lista de Quadros
viii
Lista de abreviaturas
IC – Índice de conversão
PV – Peso vivo
UE – União europeia
ix
1. Introdução
Face ao desenvolvimento populacional e ao aumento dos rendimentos familiares, a
procura por produtos de origem animal tende a aumentar no setor pecuário. Esta procura
tem como consequência um aumento na produção de milho e soja, sendo estas, duas das
matérias-primas mais utilizadas em todo o mundo na alimentação animal (Madeira et al.
2017).
De acordo com Aviagen (2018), as proteínas presentes nos alimentos, como as que
se encontram nos grãos de cereais e no bagaço de soja são decompostas pela ação da
digestão em aminoácidos. A qualidade proteica das dietas é baseada no nível do equilíbrio e
da digestibilidade dos aminoácidos essenciais.
Os efeitos anti nutricionais reduzem a eficiência das microalgas pelo organismo dos
animais monogástricos, impedindo assim que sejam digerida devido à sua parede celular
(Madeira et al. 2017). Contudo a investigação na área da indústria alimentar para os
animais, procura melhorar a biodisponibilidade dos nutrientes e a sua digestão, através da
utilização de enzimas. A aplicação combinada de enzimas pode resultar como efeito aditivo
na utilização dos nutrientes, melhorando o desempenho do animal (Madeira et al. 2017).
Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo a observação dos índices
produtivos em frangos de carne, quando alimentados com adição de Chlorella vulgaris em
com a incorporação de diferentes enzimas.
1
2. Alimentação de frangos de carne
A avicultura é um setor dentro da produção animal que continua em permanente
evolução, tendo como base a eficiência animal e o seu bem-estar. Esta eficiência é afetada
por diversos fatores, entre eles, a genética, a alimentação, o maneio e o ambiente.
80000
mil toneladas
60000
40000
20000
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano
Figura 1. Evolução da produção de carne de frango no mundo desde 2012 a 2018. Fonte:
https://www.statista.com/statistics/237637/production-of-poultry-meat-worldwide-since-1990/
consultado a 27/07/2020.
2
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (2017) a produção de frango em
Portugal, alcançou as 318 mil toneladas com um acréscimo de 5,4 %, comparativamente ao
ano anterior, consequência da maior produção nacional dos aviários de multiplicação e da
importação de pintos do dia (Figura 2). Os dados dos abates confirmaram o dinamismo da
atividade neste segmento, expresso pelo aumento do número de cabeças e sobretudo do
volume, resultando num peso médio de carcaça de frango superior em cerca de 3 %,
relativamente a 2016. É de referir também, o aumento da importação de pintos do dia para
produção de carne (+53 %, face a 2016) e a redução das saídas para o exterior (-9 %).
400
300
103 t
200
100
0
2015 2016 2017
Ano
Figura 2. Produção de frango de carne em Portugal de 2015 a 2017. Fonte: INE, I. P., Estatísticas da
produção animal.
3
Figura 3. Ilustração do sistema digestivo da galinha doméstica. Adaptado de:
https://zootecnicainternational.com/poultry-facts/impact-grain-type-performance-broilers-necrotic-
enteritis-challenge/ consultado: 02/12/2019
O intestino delgado é constituído pelo duodeno, jejuno e íleo (Sturkie 1965). É aqui
que ocorre a grande parte da digestão e absorção dos nutrientes, demorando até 3 horas.
No duodeno dá-se a continuação da digestão dos alimentos vindos da moela com a adição
das enzimas vindas do pâncreas. No jejuno é onde existe a grande parte da absorção dos
nutrientes. Na fase final do jejuno e no íleo, o conteúdo resultante da digestão já se encontra
com um pH alcalino (Santos 2008). Os cecos apresentam uma estrutura em forma de saco,
4
contendo uma elevada atividade microbiana. Aqui é onde ocorre a hidrólise parcial da
celulose e de outros polissacáridos não amiláceos (PNA), a reabsorção da água presente no
material fecal e algumas fermentações (Mendes 2015). Por fim, o cólon conduz os
conteúdos resultantes da digestão para a cloaca. Existindo ainda, pelo trajeto, a absorção
de água, alguns produtos da digestão e sais minerais (Mendes 2015). A cloaca é a cavidade
terminal do sistema digestivo, urinário e reprodutor que contacta com o exterior (Mendes
2015).
No que diz respeito ao teor proteico das dietas dos frangos, pode-se considerar que
estes não necessitam de proteína, mas de aminoácidos digestíveis. Logo, o nível de
proteína bruta das matérias-primas pode ser reduzido consideravelmente quando formulado
com aminoácidos digeríveis (Santomá e Mateos 2018). A metionina é o primeiro aminoácido
limitante em aves alimentadas com dietas à base de milho e soja. Atua como um
aminoácido essencial na síntese das proteínas, mas também influência o metabolismo
lipídico. Os requisitos de metionina nas dietas dos frangos são diferentes durante o seu
crescimento, afetando a qualidade da carne e a sua estabilidade oxidativa (Wen et al. 2017).
A metionina tem uma ação direta e importante na composição das penas para a
síntese de queratina. A queratina é uma proteína fibrosa que precisa deste aminoácido para
5
o desenvolvimento das penas como agente de termorregulação dos frangos (Emous e
Krimpen 2019).
Aviagen (2014), refere que o teor proteico a ser introduzido na alimentação para
frangos entre os 11 e os 24 dias deve ser de 21,5 % e para frangos em acabamento, entre
os 25 dias e o abate, de 19,5 %.
O cálcio tem uma grande influência nas dietas dos frangos no que diz respeito ao
crescimento, eficiência alimentar, desenvolvimento esquelético, função dos nervos, e ao
sistema imunitário (Aviagen 2018). As necessidades de cálcio variam ao longo do
crescimento, desde os 0,87 % para frangos em crescimento até aos 0,79 % para frangos em
fase de acabamento (Aviagen, 2014).
O fósforo tem mais funções conhecidas de que qualquer outro elemento mineral no
corpo dos animais (McDonald et al. 2010). Estudos realizados sobre o efeito dos níveis de
fósforo nas dietas dos animais, mostram que uma alta ingestão afeta negativamente o
metabolismo do cálcio e todas as funções ósseas, enquanto que, dietas com baixo teor de
fósforo limita o crescimento desses mesmos animais (Li et al. 2016). A Aviagen (2014)
indica valores de 0,435 % para frangos em crescimento e 0,395 % para frangos em fase de
acabamento.
6
importância na dieta das aves, seguidas pelas fontes de proteína. Globalmente, o milho (Zea
mays) é a fonte de energia mais usada enquanto que a soja (Glycine max) é a fonte proteica
mais comum. No entanto, a utilização do trigo (Triticum spp.), do sorgo (Sorghum vulgare) e
do girassol (Helianthus annuus) são outras fontes comummente utilizadas (Ravindran 2013).
1. Energia:
Cereais (principalmente milho, trigo, sorgo) e subprodutos de cereais;
Óleos vegetais.
2. Proteína:
Bagaço de soja.
3. Suplementos minerais:
Suplemento de cálcio: carbonato de cálcio, casca de ostra.
Suplemento de cálcio e fósforo: fosfato dicálcico, fosfato monocálcico;
Minerais: premix de minerais;
Fonte de sódio: sal, bicarbonato de sódio.
4. Outros:
Suplementos vitamínicos: premix de vitaminas;
Aminoácidos: metionina, lisina, treonina;
Aditivos alimentares: enzimas, coccidiostáticos, etc.
O trigo apresenta uma grande variedade quanto ao seu teor proteico dependendo da
cultivar que se utiliza, do grau de desenvolvimento do grão, das condições climáticas, o tipo
de solo, entre outros fatores. Contudo, pode apresentar assim, uma variação do seu teor
proteico entre os 8% e os 14% (Mandarino 1994). Embora seja considerado uma fonte mais
proteica e forneça menos energia que o milho, existem alguns problemas associados á sua
ingestão. A presença de pentosanos, nomeadamente os arabinoxilanos causam problemas
na viscosidade ao nível dos conteúdos digestivos, isto, devido á insuficiente produção de
xilanases, aumentando assim, a viscosidade dos conteúdos digestivos (Leeson e Summers
2005).
7
O trigo é um cereal que tem limites de incorporação nos regimes alimentares. Mais
de 30 % da sua incorporação pode levar á acumulação dos detritos no bico da ave, o que
pode provocar uma redução na atividade alimentar desse animal (Leeson e Summers 2005).
O bagaço de soja é utilizado como uma fonte principal de proteínas (Vahjen et al.
2005). A constituição de proteína bruta varia entre os 38 a 48 %, dependendo do método de
extração do óleo e da qualidade do grão (Ravindran 2013). Choct et al. (2010) referenciam
que o bagaço de soja também é constituído por 35 % de hidratos de carbono, 10 % de água,
5 % de minerais e menos de 1 % de gorduras.
8
entre os 16 e 32 %, com um perfil de aminoácidos bem equilibrado na lisina, resultando de
um bom complemento com cereais (Iji et al. 2017).
O tremoço é muito rico em proteína (35 %), mas todas as variedades cultivares
apresentam fatores anti nutricionais nomeadamente os alcaloides. Os alcaloides têm um
sabor amargo, logo resulta de uma diminuição da ingestão do tremoço (Iji et al. 2017).
2.3.1.2. Insetos
Chen et al. (2009) relata que os insetos são um alimento nutritivo ricos em proteínas,
aminoácidos, gordura, vitaminas e oligoelementos. A utilização de proteínas animais
processada (exceto a farinha de peixe) é proibida na UE para aves, suínos, e ruminantes,
contudo esta proibição poderá ser alterada com mais investigação no setor (Van der Poel et
al. 2013). A constituição dos insetos é muito variável de acordo com as espécies e o seu
estado de desenvolvimento (larva, pupa e adulto) (Ravindran 2013). A fração proteica pode
variar entre 40 % a 75 % (Ravindran 2013). O teor de gordura, por sua vez, oscila entre os
10 % e os 50 %, e a constituição de ácidos gordos essenciais é muito diferente da gordura
animal. Análises realizadas aos insetos mostram que estes são ricos em minerais como
potássio, sódio, cálcio, cobre, ferro, zinco, manganês e fósforo (Chen et al. 2009). No que
diz respeito às vitaminas, estes apresentam caroteno e vitaminas A, B1, B2, B6, D, E, K e C
(Chen et al. 2009).
9
que a inclusão da farinha de larva pode melhorar o peso vivo e a ingestão, mas afetar
negativamente o efeito da eficiência alimentar.
Num estudo realizado em frangos de carne por Shammout e Zakaria (2015), foi
descoberto que, apesar do seu elevado teor proteico, a lentilha também fornece uma boa
fonte de vitaminas e minerais e que, quando comparada com outros alimentos utilizados na
alimentação animal, a percentagem de fibra não excede os 5 %, possuindo assim muito
pouco material indigestível para os animais monogástricos (Shammout e Zakaria 2015).
3. Microalgas
As algas são divididas por macroalgas, microalgas e cianobactérias. As macroalgas
representam as algas marinhas e são um organismo eucariota. As microalgas, são
organismos eucarióticas e procarióticas e a maior parte são unicelulares. As cianobactérias,
também conhecidas como algas verde-azuladas ou bactérias unicelulares são organismos
procariotas (Yang et al. 2019; Ferrell e Sarisky-Reed 2010).
10
3.1. O cultivo e o ambiente
Os problemas ambientais tais como o aquecimento global, o aumento das emissões
de CO2 para a atmosfera, a desflorestação, entre outros, têm sido uma preocupação da
atualidade quando se pensa no futuro (Al-qasmi et al. 2012). A produção de biodiesel é
mundialmente obtida de muitos ingredientes, também utilizados na alimentação animal
como são o exemplo a soja e o milho. A preocupação por uma produção sustentável leva à
procura de outras matérias-primas que necessitem de menos recursos para uma maior
produção (Singh et al. 2011). As microalgas são um dos alimentos alternativos, pois
necessitam de menores áreas para o seu cultivo comparando com as culturas tradicionais
(Al-qasmi et al. 2012).
Segundo Singh et al. (2011), as microalgas têm um ciclo muito curto de produção,
dependendo do tipo de processo, permitindo colheitas contínuas ou múltiplas tendo, por isso
maiores rendimentos de produção. Devido a uma alta eficiência fotossintética, a utilização
de fertilizantes e nutrientes é reduzida, resultando num impacto significativo na poluição que
os fertilizantes causam no meio ambiente.
11
3.2. Resultados da utilização da microalga na alimentação
A utilização das microalgas nos alimentos compostos tem vindo a sofrer avaliações
nutricionais e toxicológicas, demonstrando ser um potencial suplemento alimentar ou
substituto de fontes de proteína convencionais (Becker 2007).
No que diz respeito à microalga Chlorella, Kotrbáček et al. (2015), relataram que um
nível muito baixo de incorporação nas dietas pode afetar o desempenho do animal. Num
estudo realizado por Combs (1952), a inclusão de 10 % da microalga na dieta resultou num
aumento acentuado no crescimento e melhoria na eficiência alimentar dos frangos. Esta
melhoria deveu-se ao alto teor de riboflavina, caroteno e várias vitaminas do complexo B.
Abdelnour et al. (2019), relatou que a adição da Chlorella, com 5 % a 10 % nos regimes,
forneceu um suplemento proteico adequado, que não teve efeitos prejudiciais ao
12
crescimento das aves, e melhorou a digestibilidade da fibra bruta, contribuindo para o
aumento de peso corporal e redução do custo da alimentação.
De acordo com a literatura, Świątkiewicz et al. (2015) verificou que, mesmo utilizando
diversas espécies de microalgas, a maioria pode ser adicionada aos regimes alimentares
das aves. No caso da Spirulina e da Chlorella, estas podem ser utilizadas para aumentar a
pigmentação e os ácidos gordos presentes na carne. No que diz respeito aos índices
zootécnicos, Yan e Kim (2013), utilizaram a microalga Schizochytrium JB5 na alimentação
de frangos (0.1 e 0.2 % na sua incorporação) e, afirmaram que não houve alterações no
ganho médio corporal, na taxa de ingestão alimentar e na taxa de conversão alimentar, mas
sim na composição nutricional da carne. A incorporação da microalga nos dois tratamentos
reduziu a proporção de ácidos gordos n-6 / n-3 e o conteúdo de SFA em comparação com o
tratamento controlo. Melhorou também a composição de ácidos gordos da carne do peito
sem afetar o desenvolvimento dos frangos comparativamente ao tratamento controlo.
4. Chlorella vulgaris
A Chlorella vulgaris é uma microalga unicelular que pertence às microalgas verdes,
da família Chlorophyta (Ahmad et al. 2018). A sua estrutura morfológica é de célula
microscópica esférica com 2 a 10 μm de diâmetro e possui muitos elementos estruturais
semelhantes às plantas (Safi et al. 2014) (Figura 4). De uma forma geral, o seu valor
nutritivo é muito rico, contendo proteínas, lípidos, hidratos de carbono, oligoelementos e
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vitaminas, tais como, complexo B, tiamina, C, D, E e K. É uma microalga composta por mais
de 20 vitaminas e minerais, como ferro, potássio, cálcio, fósforo, magnésio, pró-vitamina A,
Figura 4. Esq:Ilustração da célula da Chlorella; Fonte: (Safi et al. 2014). Dir: microalgas de Chlorella
vulgaris; adaptado de : adaptado de (Fayad et al. 2017). Harvesting of microalgaeChlorella
vulgarisusingelectro-coagulation-flocculation in the batch mode
inositol, biotina e ácido fólico (Ahmad et al. 2018). Becker (2013), afirma que em termos de
percentagens, o valor da proteína varia entre 51 % a 58 %, os hidratos de carbono variam
entre 12 % a 17 % e o valor dos lípidos varia entre 14 % a 22 %.
Quadro 2. Perfil de aminoácidos de dois alimentos (Chlorella vulgaris e Soja) e valores de referência
(OMS/FAO) (g por 100g de proteína). Adaptado de: (Becker 2007)
Ile Leu Val Lys Phe + Tyr Met + Cys Try Thr Ala Arg Asp Glu Gly His Pro Ser
Soja 5.3 7.7 5.3 6.4 5.0 3.7 1.3 1.9 1.4 4.0 5.0 7.4 1.3 19.0 4.5 2.6 5.3 5.8
14
O perfil de aminoácidos analisado a partir da hidrolise das proteínas, fornece
informações sobre a qualidade nutricional, contudo não é possível diferenciar entre a
quantidade total e o grau de disponibilidade dos aminoácidos (Becker 2013). Assim sendo,
tratando-se de uma estrutura com uma parede celular, são necessários tratamentos
específicos para destruir essa parede e tornar acessível as proteínas às enzimas digestivas,
para se tornar um alimento de boa digestibilidade (Becker 2007).
Quadro 3. Composição simples de açúcares na parede celular da Chlorella vulgaris. Adaptado de:
(Safi et al. 2014)
15
C16:0 e C18:2. Em condições favoráveis de cultivo para a alimentação, a Chlorella
apresenta maiores concentrações de ácidos gordos polinsaturados, como o C18:2, C18:3 e
o C20:5 (Safi et al. 2013).
Zheng et al. (2011), no seu estudo apresentado no Quadro 4, demostra que o C16:0,
C16:1 e o C18:1, são os mais abundantes nesta análise. Já os teores de ácidos gordos
insaturados e saturados apresentam valores elevados.
Quadro 4. Composição de ácidos gordos da Chlorella vulgaris. Adaptado de: (Zheng et al. 2011)
Num estudo realizado por Tokusoglu e Ünal (2003), com diferentes microalgas, a
Chlorella apresentou os resultados descritos no Quadro 5, destacando-se na percentagem
de PUFA e ómega 3.
Quadro 5. Valores percentuais de SFA, MUFA, PUFA, n-3, n-6, n-3/ n-6 e DHA/EPA, calculados a
partir dos lípidos totais. Adaptado de: (Tokusoglu e Ünal 2003)
5. Enzimas
As enzimas têm como função a digestão dos polissacáridos não amiláceos (PNA),
que são hidratos de carbono complexos presentes nos grãos, permitindo o aumento da
digestibilidade dos alimentos. A sua utilização tem como consequência a diminuição da
viscosidade dos alimentos, melhorando a sua absorção pelos organismos (Suresh et al.
2019).
16
No setor avícola a utilização das enzimas exógenas, como as xilanases, amílases, β-
glucanase, pectinase, protéase, fitase, galactosidase, são algumas das mais utilizadas nos
alimentos compostos (Suresh et al. 2019).
5.1. Rovabio®
O Rovabio® é uma concentração de enzimas, do mesmo organismo e da mesma
fermentação de Penicillium funiculosum, contendo principalmente xilanase e β-glucanase
(West et al. 2007).
6. Objetivo
Este trabalho teve como objetivo principal a comparação de diversos regimes
alimentares para frangos quando incorporada a microalga Chlorella vulgaris em conjunto
com dois tipos de enzimas, o Rovabio® e uma mistura enzimática. Comparando a interação
das enzimas quando adicionadas aos regimes com a Chlorella. Esta comparação fez-se
através da análise dos índices zootécnicos.
17
7. Materiais e Métodos
O estudo foi realizado nas instalações experimentais da secção de Produção Animal
do Instituto Superior de Agronomia. Estudou-se o efeito da adição da microalga Chlorella
vulgaris nos índices produtivos com a utilização de frangos da estirpe Ross 308.
18
No dia anterior à chegada dos frangos procedeu-se à preparação da sala, verificando
todas as pipetas e a instalação das lâmpadas de aquecimento de infravermelhos. As
lâmpadas foram utilizadas para o aquecimento da sala, atingindo valores compreendidos
entre os 24⁰ C e os 26⁰ C para o conforto térmico dos animais. A temperatura da sala foi
medida com um termómetro e regulada de acordo com as recomendações para a estirpe e o
conforto dos animais foi observado pela sua disposição por baixo da lâmpada. Quando a
temperatura da sala aumentou devido às condições climáticas externas e ao crescimento
dos animais, trocaram-se as lâmpadas de infravermelhos por lâmpadas de halogénio ligadas
durante 24 horas. O ambiente dentro da sala foi controlado por um sistema automático de
ventilação.
A limpeza da sala foi realizada de dois em dois dias, de modo a não criar um
ambiente conspurcado.
Uma semana antes do inicio do ensaio (14-21 dias de idade) foi distribuído um
alimento comercial de iniciação da empresa que já acompanhava os frangos desde o seu
nascimento, para não originar problemas de stress alimentar devido à adaptação das novas
instalações e do seu ambiente.
Quadro 6. Formulação percentual dos quatro regimes alimentares em estudo. Controlo, regime sem
qualquer adição de Chlorella; MA, regime com adição de Chlorella; MAR, regime com adição de Chlorella e
Rovabio®; MAM, regime com adição de Chlorella e a mistura enzimática.
19
Sal 0.33 0.33 0.33 0.33
Chlorella vulgaris 0 10 10 10
Rovabio® 0 0 0.005 0
Mistura enzimática 0 0 0 0.010
Figura 6. Aspeto visual dos quatro regimes alimentares de crescimento para frangos realizados para
o ensaio. Controlo, regime sem qualquer adição de Chlorella; MA, regime com adição de Chlorella; MAR,
regime com adição de Chlorella e Rovabio®; MAM, regime com adição de Chlorella e a mistura enzimática.
Após o término do ensaio foram realizadas as análises químicas aos quatro regimes
apresentados no Quadro 7. Todos os regimes apresentam uma semelhança entre eles
como era de esperar.
Quadro 7. Análise química aos quatro regimes estudados em frangos. Controlo, regime sem qualquer
adição de Chlorella; MA, regime com adição de Chlorella; MAR, regime com adição de Chlorella e Rovabio®;
MAM, regime com adição de Chlorella e mistura enzimática.
20
(%MS)
Proteína Bruta
22.4 22.76 22.17 22.13
(%MS)
Gordura Bruta
7.4 8.4 8.5 8.6
(%MS)
Valor Calórico
4613.6 4626.9 4649.77 4614.73
(cal/g de MS)
Uma semana após a chegada dos frangos, foram distribuídos os regimes alimentares
previamente fabricados nas instalações do Instituto Superior de Agronomia de acordo com a
planta da sala representada na Figura 7.
Figura 7. Planta da sala de acordo com a distribuição dos regimes em cada gaiola
21
No início da distribuição dos regimes experimentais, cada frango foi novamente
pesado. Durante todo o ensaio, o alimento foi distribuído diariamente, uma a duas vezes por
dia para minimizar os desperdícios e para estar sempre disponível aos animais.
22
Para os valores da ingestão alimentar e índice de conversão alimentar foi usado
como unidade experimental a gaiola (n=40). Para análise do PV individual e GMD, foi usado
como unidade experimental o animal (n=120). Para os valores dos órgãos do sistema
digestivo e para a medição da viscosidade usou-se um animal por gaiola (n=40).
23
8. Resultados
8.1. Peso vivo e Ganho médio diário
O PV dos frangos foi registado ao longo do ensaio. De acordo com os valores do PV
registados no Quadro 8 durante o ensaio não se verificaram diferenças significativas
(p>0.05). O PV no dia 14 corresponde ao dia da chegada dos frangos. O PV no dia 21
corresponde ao dia em que se começou a administrar os quatro regimes experimentais
(Controlo, MA, MAR, MAM). O PV no dia 35 corresponde ao último dia (frangos com 35 dias
de idade) antes do abate dos animais. Quanto ao GMD, este não apresentou diferenças
significativas no tempo total do ensaio (p>0.05).
Quadro 8. Registo do peso vivo durante todo o ensaio em frangos e do ganho médio diário do
Controlo, regime sem qualquer adição de Chlorella; MA, regime com adição de Chlorella; MAR, regime com
adição de Chlorella e Rovabio®; MAM, regime com adição de Chlorella e a mistura enzimática. SEM (Standard
error of the mean). O PV dia 14 corresponde à chegada dos animais e o dia 21 à primeira semana em que a
alimentação foi igual em todos os grupos.
24
comparando com o tratamento MA. Os frangos do regime Controlo e do MAR ingeriram a
mesma quantidade de alimento, enquanto que o regime MA apresentou menor ingestão,
comparando com o regime MAR.
25
No Quadro 12 estão todas as medidas registadas do peso relativo do papo, moela,
pâncreas, fígado, duodeno, jejuno, íleo e dos cecos e nos quais não se verificaram
diferenças significativas (p>0.05) entre o peso dos órgãos dos animais alimentados com os
diferentes regimes alimentares. No comprimento relativo do duodeno, íleo e ceco também
não apresentaram diferenças significativas (p>0.05) nos diferentes regimes alimentares. Os
resultados revelam que o comprimento relativo do jejuno dos animais mostram uma
tendência para ser significativamente diferente por ter um p>0.05 e p<0.1(Quadro 12).
Quadro 11. Efeito do regime no peso relativo (g/kg de peso vivo) do papo, moela, pâncreas, fígado,
duodeno, jejuno, íleo e 2 cecos (cm/kg de peso vivo) e no comprimento (duodeno, jejuno, íleo e 1
ceco) dos frangos (n=10).
26
Comprimento 45.28b 46.39ab 45.39b 49.40a 0.62 0.06
(cm/kg)
Íleo (g/kg) 11.08 10.94 11.00 11.86 0.27 0.61
Comprimento 45.56 44.76 47.05 48.65 0.78 0.31
(cm/kg)
Ceco* (g/kg) 4.58 4.73 5.41 5.21 0.17 0.29
Comprimento** 10.80 10.22 10.82 9.79 0.18 0.11
(cm/kg)
Controlo, regime sem qualquer adição de Chlorella; MA, regime com adição de Chlorella; MAR, regime com
adição de Chlorella e Rovabio®; MAM, regime com adição de Chlorella e a mistura enzimática. SEM (Standard
error of the mean). a-b médias com letras diferentes significam que são significativamente diferentes (p<0.05).
*Peso dos dois cecos; ** Comprimento de um ceco.
8.5. Viscosidade
Quadro 12. Efeito do regime alimentar na viscosidade (sp) dos conteúdos do duodeno+jejuno e íleo
Controlo, regime sem qualquer adição de Chlorella; MA, regime com adição de Chlorella; MAR, regime com
adição de Chlorella e Rovabio®; MAM, regime com adição de Chlorella e a mistura enzimática. SEM (Standard
error of the mean). a-b médias com letras diferentes significam que são significativamente diferentes (p<0.05).
9. Discussão
27
da adição da mistura enzimática com a Chlorella, apresentou grumos que prejudicaramm a
sua homogeneidade. Posteriormente, procedeu-se à moagem destes grumos até atingir
uma homogeneidade desejável, não sobreaquecendo a mistura. Como se pode observar na
Figura 6, o aspeto visual dos regimes onde se adicionou a Chlorella apresenta diferenças. O
MAM é diferente dos outros dois (MA e MAR) devido ao que foi referido anteriormente. As
diferenças observadas na ingestão dos regimes com a presença de Chlorella em
comparação ao Controlo deveu-se ao sabor, odor e textura (Abdelnour et al. 2019; Halle et
al. 2009).
Figura 9. Empastamento dos bicos em dois regimes alimentares diferentes. Esq. Regime com
Chlorella, Dir. Regime Controlo
28
Relativamente à viscosidade dos conteúdos digestivos, foram observadas diferenças
importantes. O regime Controlo apresentou valores inferiores aos rigimes que contêm a
Chlorella. Estas diferenças podem estar correlacionadas com a dimensão do comprimento
do jejuno, devido à adaptação do intestino perante um novo regime alimentar. Pestana et al.
(2020), relataram que com a utilização de uma baixa concentração da microalga Spirulina
(0.10 %) ocorria a gelificação das proteínas, contribuindo para a diminuição da
digestibilidade dos aminoácidos e consequente aumento da viscosidade conduzindo assim
ao aumento dos órgãos digestivos.
Rezvani et al. (2012), utilizaram frangos de carne machos ROSS 308, formulando
dietas à base de milho e soja, contendo 0, 0.07 %, 0.14 % e 0.21 % de Chlorella. Os autores
verificaram que não houve diferenças significativas no ganho de peso dos animais entre os
tratamentos. No que diz respeito ao índice de conversão, os frangos alimentados com o
controlo apresentaram maior índice de conversão comparando com os frangos
suplementados com a Chlorella (p<0.05). Já Kang et al. (2013) utilizaram a mesma
microalga no estado seco e líquido como suplementação nos regimes para frangos durante
duas semanas na fase de crescimento. Foi adicionado 1 % de Chlorella em pó e 1 % de
Chlorella fresca líquida a um regime de controlo à base de milho e bagaço de soja. O autor
concluiu que o ganho médio diário foi superior nos regimes com a adição de Chlorella
comparativamente ao controlo (p<0.05). A ingestão de alimento e o índice de conversão dos
frangos não foram diferentes dos frangos que ingeriram o alimento de controlo (p>0.05).
29
Comparando estes estudos de vários autores com o nosso estudo, existe uma
diferença na quantidade de Chlorella incorporada. Na maioria dos trabalhos realizados em
aves a microalga é utilizada como fonte de suplementação. O nosso estudo de um ponto de
vista científico é algo inovador, pois, utiliza a Chlorella como fonte proteíca em substituição
percentual de bagaço de soja. Sem grandes diferenças nos valores dos índices zootécnicos,
a viscosidade dos conteúdos digestivos nos animais que ingeriram a microalga é um dado
que se deve ter em consideração.
30
10. Conclusão
31
A utilização das microalgas é um fator positivo na alimentação dos animais. Não só
pelos vários fatores inerentes ao seu modo de produção, como a pouca área que utiliza e à
poluição que causa comparativamente com a produção de soja. No entanto, existem outros
aspetos não tão positivos como o custo o custo de produção deste tipo tipo de matérias-
primas que, terá que ser subtancialmente mais baixo quando em larga escala, para que a
sua incorporação em regimes alimentares para frangos seja viável e ao alcance dos
produtores.
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