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FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ENSINO DE PIRACICABA

ESCOLA DE ENGENHARIA DE PIRACICABA

CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

CRISTIAN MARCELO DO PRADO

DIMENSIONAMENTO DE UMA CÂMARA FRIA PARA O ARMAZENAMENTO DE SUCO


NATURAL DE LARANJA

PIRACICABA

Dezembro/2018
CRISTIAN MARCELO DO PRADO

DIMENSIONAMENTO DE UMA CÂMARA FRIA PARA O ARMAZENAMENTO DE SUCO


NATURAL DE LARANJA

Trabalho de conclusão de curso apresen-


tado á Escola de Engenharia de Piracica-
ba como parte dos requisitos para obten-
ção do título de Bacharel em Engenharia
Mecânica.

Orientador: Jorge Marcos de Moraes

PIRACICABA

Dezembro/2018
Dedico este trabalho a minha mãe,
Maria Aparecida Ribeiro, a meu
pai, Rodinei Francisco do Prado e
a meu irmão Giovani Leonardo do
Prado
AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos a todos que me ajudaram, direta ou indiretamente na


realização deste trabalho, em especial:

Ao meu professor e orientador Dr. Jorge Marcos de Moraes pela oportunidade


de desenvolver este trabalho sendo atencioso e sugerindo melhorias constantes
neste projeto.

Aos meus pais por me incentivarem e me apoiarem durante toda minha traje-
tória no curso.

Aos meus amigos, Gabriela Lais Rozati, Vagner Aparecido de Lima e Gui-
lherme de Moraes Lombello por terem contribuído com o meu crescimento acadêmi-
co durante todo o curso.
“Não se deve ir atrás de objetivos
fáceis, é preciso buscar o que só pode
ser alcançado por meio dos maiores es-
forços.”

Albert Einstein
RESUMO

O correto armazenamento de alimentos é essencial para a diminuição de perdas e a garan-


tia de entrega de um produto que mantenha suas características nutricionais naturais eleva-
das. Assim, este trabalho apresenta o dimensionamento de uma câmara fria, que possui um
grande espaço físico para armazenamento de grandes quantidades de produtos, para o ar-
mazenamento de suco natural de laranja, que possui grande presença no mercado nacional
e nas exportações brasileiras. Para tal finalidade, foram utilizados conceitos fundamentais
de transferência de calor e especificações conforme as normas brasileira (ABNT) e interna-
cional (ASHRAE). Através dos cálculos realizados obteve-se uma câmara com uma área de
168 m² e uma carga térmica total de 36,330 kW.

Palavras-chave: Câmaras frias. Carga térmica. Suco de laranja.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Condução de calor em uma parede plana. ................................................................... 15


Figura 2: Transferência de uma superfície quente para o ar por convecção. .......................... 17
Figura 3: Mecanismo de condução, convecção e radiação em uma parede plana................. 18
Figura 4: Resistências térmicas de condução e convecção em uma parede plana. ............... 21
Figura 5: Potência dissipada devido à iluminação em ambientes mais comuns. .................... 23
Figura 6: Carta Psicrométrica. .......................................................................................................... 29
Figura 7: Organização dos pallets e as dimensões dos corredores da câmara. ..................... 33
Figura 8: Orientação geográfica das paredes da câmara............................................................ 34
Figura 9: Dados climáticos da cidade de Campinas..................................................................... 35
Figura 10: Quantidade de renovações de ar em 24 horas para volumes pré-determinados. 37
Figura 11: Quantidade de carga térmica gerada por cada componente de calor.................... 42
Figura 12: Exemplo de um monobloco frigorífico. ......................................................................... 44
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Condutividade térmica de alguns materiais.................................................................. 15


Tabela 2: Valores para processos de convecção. ........................................................................ 17
Tabela 3: Propriedades térmicas de alguns alimentos. ............................................................... 24
Tabela 4: Quantidade de calor liberada por fontes diversas. ...................................................... 25
Tabela 5: Isolantes térmicos mais comuns e suas propriedades. .............................................. 31
Tabela 6: Temperatura de armazenamento do suco de laranja. ................................................ 36
Tabela 7: Correção da temperatura externa devido ao efeito solar incidente nas superfície 39
Tabela 8: Tabela de espessuras de isolamentos obtidas e readequadas. ............................... 40
Tabela 9: Valores dos coeficientes globais para cada componente da câmara. ..................... 40
Tabela 10: Valores de carga térmica. ............................................................................................. 41
Tabela 11: Tabela de comparação entre cortina de PVC e de ar na diminuição de carga
térmica.................................................................................................................................................. 43
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

NBR: Norma Brasileira

TBU: Temperatura de bulbo úmido

TBS: Temperatura de bulbo seco

PVC: Policloreto de vinila

CO2: Dióxido de Carbono


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................................... 14

2.1 Carga térmica ............................................................................................................................... 14

2.1.1 Fenômenos que compõem a transmissão térmica ............................................................. 14

2.1.1.1 Condução ............................................................................................................................... 14

2.1.1.2 Convecção ............................................................................................................................. 16

2.1.1.3 Radiação................................................................................................................................. 17

2.2 Transmissão térmica ................................................................................................................... 18

2.3 Resistência térmica e resistência térmica total ....................................................................... 19

2.4 Coeficiente global ........................................................................................................................ 20

2.5 Carga térmica gerada por pessoas........................................................................................... 22

2.6 Carga térmica gerada pela iluminação..................................................................................... 22

2.7 Carga térmica gerada pela movimentação de produtos........................................................ 23

2.8 Carga térmica gerada por equipamentos ................................................................................ 25

2.9 Carga térmica devido a infiltração............................................................................................. 25

2.10 Carga térmica total .................................................................................................................... 26

2. 11 Psicrometria............................................................................................................................... 27

2.11.1 Propriedades fundamentais do ar úmido............................................................................ 27

2.12 Isolantes normalmente usados em refrigeração................................................................... 30

3 METODOLOGIA.............................................................................................................................. 32

4 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................ 33

4.1 Condições externas do ambiente .............................................................................................. 35

4.2 Condições de armazenamento do produto.............................................................................. 35

4.3 Número de pessoas e horário de utilização ............................................................................ 36

4.4 Iluminação ..................................................................................................................................... 36

4.5 Equipamentos elétricos............................................................................................................... 36


4.5 Movimentação de produtos ........................................................................................................ 37

4.6 Infiltração ....................................................................................................................................... 37

4.7 Carta psicrométrica ..................................................................................................................... 38

4.8 Especificação dos materiais de construção e isolamento ..................................................... 38

4.9 Carga térmica total ...................................................................................................................... 40

4.10 Discussão ................................................................................................................................... 41

5 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 46


1 INTRODUÇÃO

Desde as antigas civilizações, o homem sempre buscou um modo de tornar o arma-


zenamento de alimentos mais eficaz por meio da utilização de temperos, sal, gelo de mon-
tanhas, dentre outros até chegar aos sistemas de refrigeração atuais.

O primeiro refrigerador doméstico surgiu em 1913, mas sua aceitação foi mínima,
tendo em vista que o mesmo era constituído de um sistema de operação manual, exigindo
atenção constante, muito esforço e apresentando baixo rendimento (MARTINELLI JUNIOR,
2003).

Ainda para Martinelli Junior (2003) só em 1918 é que apareceu o primeiro refrigera-
dor automático, movido à eletricidade, e que foi fabricado pela Kelvinator Company, dos Es-
tados Unidos. A partir de 1920, a evolução foi tremenda, com uma produção sempre cres-
cente de refrigeradores mecânicos.

Com o aumento dos modelos de produção em larga escala visando suprir a necessi-
dade de alimentos de uma população crescente e a demanda pela entrega de produtos
frescos e que preservassem ao máximo suas características originais, grandes sistemas de
refrigeração, como as câmaras frigoríficas, começaram a ser desenvolvidas.

Para Silva (2014) as câmaras frigoríficas são compartimentos refrigerados, fechados,


isolados termicamente, no interior dos quais são mantidas as condições termohigrométricas,
isto é, de temperatura e de umidade, mais adequados para a conservação dos gêneros ali-
mentícios.

Fiorelli (2009) explica que todo e qualquer projeto de um sistema de refrigeração, ar


condicionado ou aquecimento, começa com a avaliação de qual é a quantidade de calor que
deve ser retirada ou fornecida a um determinado ambiente ou processo. Esta quantidade de
calor é chamada de carga térmica. Esta carga térmica, na refrigeração, é fruto dos diversos
ganhos de calor, ou seja, das diversas formas pela qual o ambiente ou processo recebe ca-
lor do meio externo.

Assim, o presente trabalho teve como principal objetivo o dimensionamento de uma


câmara frigorífica para o armazenamento de suco integral de laranja, produto que exige
grande cuidado em seu armazenamento e estocagem, considerando a presença do Brasil
no cenário de exportação crescente desta ‘’commodity’’.

13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Carga térmica

Segundo Menezes (2005) a carga térmica é a quantidade de calor que deve ser reti-
rada ou fornecida a um local ou sistema, na unidade de tempo, objetivando a manutenção
de determinadas condições térmicas.

Nas câmaras frigoríficas, os principais fatores que aumentam o ganho de calor são:

- A transmissão de calor pelas paredes, teto e piso;

- A atividade de pessoas e equipamentos elétricos ou mecânicos no ambiente;

- A geração de calor devido à movimentação, iluminação ou infiltração de ar e umi-


dade provenientes do ambiente exterior.

2.1.1 Fenômenos que compõem a transmissão térmica

A transmissão térmica ocorre pela combinação dos fenômenos de transferência de


calor por condução, convecção e radiação.

2.1.1.1 Condução

Condução é a transferência de energia das partículas mais energéticas de uma subs-


tância para partículas vizinhas adjacentes menos energéticas, como resultado da interação
entre elas. A condução pode ocorrer em sólidos, líquidos ou gases (ÇENGEL; GHAJAR,
2011).

Ainda para Çengel e Ghajar (2011), em líquidos e gases, a condução deve-se ás co-
lisões e difusões das moléculas em seus movimentos aleatórios. Nos sólidos, ela acontece
por causa da combinação das vibrações das moléculas em rede, e a energia é transportada
por elétrons livres.

A equação da condução para uma parede plana, ilustrada na Figura 1, pode ser es-
crita da seguinte forma:

𝑑𝑇 ∆𝑇 𝑇 − 𝑇 (1)
𝑞 = −𝑘𝐴 = −𝑘𝐴 = 𝑘𝐴
𝑑𝑥 ∆𝑥 ∆𝑥
14
Onde: 𝑞 - Fluxo de calor por condução (W/m²); 𝑘 - Condutividade térmica
(W/(m.°C)); 𝑇 - Temperatura da superfície 1 (°C); 𝑇 - Temperatura da superfície 2 (°C); ∆𝑥-
Variação de espessura (m) ; ∆𝑇 - Variação de temperatura (°C) ;𝐴 - Área (m²); - Gradiente

de temperatura.

A taxa de transferência de calor por condução é proporcional à condutibilidade térmi-


ca 𝑘, a área total, 𝐴, e o ao gradiente de temperatura . O sinal negativo indica que o senti-

do da transferência de calor é da região que apresenta temperatura mais alta para a que
apresenta temperatura mais baixa (SONNTAG et al., 2003).

A Tabela 1 mostra os valores típicos de condutividade térmica para alguns materiais.

Tabela 1: Condutividade térmica de alguns materiais.

Material Temperatura °C Densidade kg/m³ Condutividade


Alumínio (puro) 20 2707 204
Cobre (puro) 20 8954 386
Tijolo 20 2000 1,32
Vidro (janela) 20 2700 0,78
Água 21 997 0,604
Madeira (pinho) 23 640 0,147
Ar 27 1,177 0,026

Fonte: Stoecker e Jones (1985)

A Figura 1 mostra como ocorre a condução de calor através de uma parede plana de
espessura ∆𝑥 e área 𝐴.

Figura 1: Condução de calor em uma parede plana.

Fonte: Çengel e Ghajar (2011)

15
2.1.1.2 Convecção

Segundo Incropera et al. (2008), o modo de transferência de calor por convecção


abrange dois mecanismos. Além de transferência de energia devido ao movimento molecu-
lar aleatório (difusão), a energia também é transferida através do movimento global, ou ma-
croscópico, do fluído. Esse movimento do fluído está associado ao fato de que, em um ins-
tante qualquer, um grande número de moléculas está se movendo coletivamente ou como
agregado.

A transferência de calor por convecção pode ser classificada de acordo com a natu-
reza do escoamento do fluido. Referimo-nos à convecção forçada quando o escoamento é
causado por meio externos, tais como um ventilador, uma bomba, ou ventos atmosféricos.
Em contraste, no caso da convecção livre (ou natural) o escoamento do fluido é induzido por
forças de empuxo, que são originadas a partir de diferenças de densidades (massas espe-
cíficas) causadas por variações de temperatura no fluido (INCROPERA et al., 2008).

A equação abaixo mostra o fluxo de calor envolvido na convecção.

𝑞 = ℎ (𝑇 − 𝑇 ) (2)

Onde: 𝑞𝑐𝑜𝑛𝑣- Fluxo de calor por convecção (W/m²); ℎ - Coeficiente de transferên-


cia de calor por convecção (W/ (m².°C)); 𝑇 - Temperatura de superfície (°C); 𝑇 - Temperatu-
ra do fluido (°C).

A Figura 2 mostra como ocorre a transferência de calor de uma superfície quente pa-
ra o ar por convecção.

16
Figura 2: Transferência de uma superfície quente para o ar por convecção.

Fonte: Adaptado de Çengel e Ghajar (2011)

A Tabela 2 mostra alguns valores típicos para os processos de convecção.

Tabela 2: Valores para processos de convecção.

Processo 𝒉𝒄𝒐𝒏𝒅 , W/m².K


Convecção natural, ar. 5 - 25
Convecção natural, água. 20 - 100
Convecção forçada, ar. 10 - 200
Convecção forçada, água. 50 - 10.000
Água em ebulição. 3000 - 100.000
Água condensando. 5000 - 100.000

Fonte: Stoecker e Jones (1985)

2.1.1.3 Radiação

A radiação é o mecanismo de troca de calor entre dois corpos – que guardam entre
si uma distância qualquer – através de sua capacidade de emitir e de absorver energia tér-
mica. Esse mecanismo de troca é consequência da natureza eletromagnética da energia,
que, ao ser absorvida, provoca efeitos térmicos, o que permite sua transmissão sem neces-
sidade de meio de propagação, ocorrendo mesmo no vácuo (FROTA; SCHIFFER, 2001).

A equação abaixo mostra o fluxo de calor envolvido nesse mecanismo:

17
𝑞 = ℎ (𝑇 − 𝑇 ) (3)

Onde: 𝒒𝒓 - Intensidade do fluxo (W/m²); 𝒉𝒓 - Coeficiente de trocas térmicas por radi-


ação (W/m² °C); 𝑻 - temperatura da parede considerada (°C); 𝑻𝒓 - Temperatura radiante re-
lativa às demais superfícies (°C).
Ainda para Frota e Schiffer (2001), o coeficiente ℎ é um parâmetro simplificado, que
resume todos os fatores que interferem nas trocas de radiação, a saber: as temperaturas de
superfícies, os aspectos geométricos e físicos das superfícies envolvidas e, principalmente,

a emissividade térmica 𝜀 da superfície. A emissividade expressa à capacidade de uma su-


perfície de emitir calor.

Para os materiais de construção correntes, sem brilho metálico, 𝜀 ≅ 0,9, pode-se


adotar ℎ = 5 (W/m² °C).

2.2 Transmissão térmica

O mecanismo de transmissão térmica que ocorre nas paredes da câmara é dado pe-
la combinação dos fenômenos da condução, convecção e radiação.

A Figura 3 ilustra a ocorrência destes fenômenos em uma parede plana.

Figura 3: Mecanismo de condução, convecção e radiação em uma parede plana.

Fonte: Fiorelli, 2009.

Segundo Fiorelli (2009), no cálculo da carga térmica devido à transmissão pela en-
voltória (paredes, teto e piso) da câmara frigorífica, o fluxo de calor é dado por:
18
𝑄̇ = 𝑈𝐴[(𝑇 + ∆𝑇 )− 𝑇 ] (4)

Onde: U - Coeficiente global de transferência de calor da parede (W/m²); A - Área da


parede (m²); T0 - Temperatura do meio externo (°C); Ta - Temperatura no interior da câmara
(°C); ΔTrad - Fator de correção (°C).

O fator de correção ∆𝑇 é importante no cálculo de transmissão térmica já que a


algumas paredes sofrem mais incidência solar do que outras ocasionando diferenças signifi-
cativas na carga térmica total dependendo de onde a câmara será instalada.

A energia solar chega até nós sob a forma de ondas eletromagnéticas após experi-
mentar consideráveis interações com a atmosfera. A energia de radiação emitida ou refletida
pelos constituintes da atmosfera forma a radiação atmosférica (ÇENGEL; GHAJAR, 2011).

Ainda para Çengel e Ghajar (2011), superfícies comuns como grama, árvores, ro-
chas e concreto refletem cerca de 20% da radiação, enquanto absorvem o resto. Superfícies
cobertas de neve, contudo, refletem 70% da radiação incidente.

2.3 Resistência térmica e resistência térmica total

Segundo Incropera,(2008) a resistência térmica é definida como razão entre um po-


tencial motriz e a correspondente taxa de transferência. Assim, a resistência térmica para
condução em uma parede é:

𝑇, − 𝑇, 𝐿 (5)
𝑅 , = =
𝑞 𝐾𝐴

Onde: Rt,cond - Resistência térmica para condução (°C/W); Ts,1 - Temperatura da su-
perfície 1 (°C); Ts,2 - Temperatura da superfície 2 (°C); qx - Quantidade de calor (W); L - es-
pessura (m); k - condutividade térmica (W/m. °C); A - Área superficial (m²).

E para convecção térmica:

𝑇 − 𝑇 1 (6)
𝑅 , = =
𝑞 ℎ𝐴

19
Onde: Rt,conv - Resistência térmica de convecção (°C/W); Ts - Temperatura da super-
fície (°C); 𝑇 - Temperatura do ambiente (°C); q - Fluxo de calor (W); h - Coeficiente de pelí-
cula ( W/m².°C); A - Área (m²).

Para Çengel e Ghajar (2011) tanto a resistência de condução e a convecção são


análogas à relação de fluxo de corrente elétrica.

𝑉 − 𝑉 (7)
𝐼=
𝑅

Onde: I - Fluxo de corrente elétrica (A); V1 - V2 - Diferença de tensão (V); Re - Resis-


tência elétrica (Ω).

Assim, as equações e podem ser rearranjadas do seguinte modo:

1 𝐿 1 (8)
𝑅 = + +
ℎ 𝐴 𝑘𝐴 ℎ 𝐴

Onde: Rtot - Resistência total (°C/W); L - Espessura (m); h1 e h2 - Coeficientes de pe-


lícula (W/m².°C); A - Área (m²); k - condutividade térmica (W/m. °C).

2.4 Coeficiente global

Para Stoecker e Jones (1985) o coeficiente global de transmissão de calor U pode


ser calculado como:

1 (9)
𝑈=
𝑅 𝐴

Onde: U - Coeficiente global (W/m².C°); Rtot - Resistência total (°C/W); A - Área (m²).

Porém, ainda para Stoecker e Jones (1985) muitos materiais de construção são ven-
didos com espessuras normalizadas, de modo que é possível obter a resistência térmica di-
retamente em tabelas sem ter que calculá-las pela expressão.

Para uma parede plana, em que a área é igual em todas as superfícies, U pode ser
calculado pela seguinte equação:
20
1 1 (10)
𝑈= =
𝑅 , +𝑅 + 𝑅 , 𝑅

Onde: U - Coeficiente global (W/°C); Rs,1 - Resistência térmica da superfície 1 (°C/W);


Rp - Resistencia térmica da parede (°C/W); Rs,2 - Resistência térmica da superfície 2 (°C/W) ;
Rtot - Somatório de todas as resistências.

A Figura 4 ilustra o cálculo da resistência térmica total em analogia a um sistema de


resistências elétricas.

Figura 4: Resistências térmicas de condução e convecção em uma parede plana.

Fonte: Adaptado de FIORELLI, 2009.

Ao contrário da condução e da convecção, a transferência de calor por radiação não


exige a presença de um meio interveniente. De fato, a transferência de calor por radiação é
mais rápida (na velocidade da luz) e não sofre atenuação no vácuo. Essa é a forma como a
energia do Sol atinge a Terra (ÇENGEL; GHAJAR, 2011).

A resistência térmica de radiação não entra no coeficiente global, pois seu efeito é
incluído através do conceito de correção ∆𝑇 e o cálculo realizado segundo a equação
4.

21
2.5 Carga térmica gerada por pessoas

Segundo ASHRAE (2010), as pessoas aumentam a carga térmica em quantidades


que dependem da temperatura, tipo de trabalho a ser feito, tipo de roupa utilizada e altura da
pessoa.

O calor da pessoa 𝑄̇ pode ser estimado como:

𝑄̇ = 272 − 6𝑡 (11)

Onde: 𝑄̇ - Fluxo de calor por pessoa (kW); t - Temperatura da câmara (°C).

Ainda para ASHRAE (2010) quando as pessoas entram ou saem da câmara, elas
trazem consigo uma quantidade de calor superficial a mais. Assim, para efeito de ajuste pa-
ra um sistema continuo, deve - se multiplicar o valor obtido por 1,25.

2.6 Carga térmica gerada pela iluminação

A conversão de energia elétrica em luz gera calor sensível. Esse calor é dissipado,
por radiação, para as superfícies circundantes, por condução, através dos materiais adja-
centes, e por convecção para o ar (FROTA; SCHIFFER, 2001).

Para ASHRAE (2010) a carga térmica adicionada à câmara através da iluminação é


dada por:

𝑄̇ = 𝜌𝐴𝑡 (12)

Onde: 𝑄̇ = Fluxo de calor gerado pela iluminação (kW); 𝜌 - Potência dissipada


(W/m²); A - Área (m²); t - Quantidade de horas com as luzes acessas em relação a 24 horas.

A Figura 5 fornece os valores típicos de potência dissipada para diversos tipos de


ambientes (NBR 16401,2008).

22
Figura 5: Potência dissipada devido à iluminação em ambientes mais comuns.

Fonte: Adaptado da NBR 16401, 2008.

2.7 Carga térmica gerada pela movimentação de produtos

Para Fiorelli (2009) uma das parcelas do ganho de calor devido aos produtos a se-
rem conservados é a quantidade de calor que deve ser retirada de uma determinada massa
de produto que entra na câmara a uma certa temperatura e deve ser resfriada/congelada até
a temperatura de armazenamento.

A equação abaixo o ganho de calor para produtos que não serão congelados.

𝑚 (4)
𝑄̇ = 𝑐 , (𝑇 − 𝑇 )
24.3600

Onde: 𝑄̇ - Fluxo de calor devido a movimentação de produtos (kW); mp - movi-


mentação diária de produtos (kg); cacima,cong - calor específico acima do congelamento
(KJ/Kg.°C); TE - Temperatura externa (°C); TA - Temperatura Ambiente (°C).

A Tabela 3 mostra as propriedades térmicas produtos mais comuns.

23
Tabela 3: Propriedades térmicas de alguns alimentos.

Fonte: FIORELLI, 2009

24
2.8 Carga térmica gerada por equipamentos

O calor dissipado por motores para o ambiente é função de sua potência e de suas
características (FROTA; SCHIFFER, 2001).

A equação fornece o ganho de calor em motores ou equipamentos elétricos.

636𝑁 (14)
𝑄̇ =

Onde: 𝑄̇ = Fluxo de calor gerado por equipamentos (kW); N = Potência (CV); ᶯ -


Rendimento.

A Tabela 4 mostra os valores típicos de rendimentos e potências para diversos tipos


de equipamentos (NBR. 6401, 1980).

Tabela 4: Quantidade de calor liberada por fontes diversas.

Equipamentos diversos kcal/h


Potência Eficiência aproximada (%) Sensível Latente Total
Até 1/4 CV Por CV 60 1050 0 1050
1/2 a 1 CV Por CV 70 900 0 900
1 1/2 a 5 CV Por CV 80 800 0 800
7 1/2 a 20 CV Por CV 85 750 0 750
Acima de 20CV Por CV 88 725 0 725

Fonte: Adaptada de NBR 6401, 1980.

2.9 Carga térmica devido a infiltração

Segundo ASHRAE (2010), a infiltração ocorre devido às diferenças de densidades


entre ambientes.

Podem ser encontrados na literatura métodos sofisticados para avaliação da vazão


de ar que entra na câmara e a correspondente carga térmica, porém a prática usual do mer-
cado é definir uma taxa típica de renovação de ar para as câmaras em função da temperatu-
ra interna e volume da mesma (FIORELLI,2009).

25
Assim, a carga térmica devido à infiltração pode ser calculada pela seguinte equa-
ção:

𝑄̇ = 𝑚̇ (ℎ − ℎ )(1 − 𝐸) (15)

Onde: 𝑄̇ = Fluxo de calor devido a infiltração (kW); 𝑚̇ = massa de ar seco infil-


trada (kg/s); he - Entalpia- (kJ/kg); hi - Entalpia - (kJ/kg); E - Fator de efetividade de proteção.

Em que 𝑚̇ é calculada pela equação:

1 𝑉𝑁 (16)
𝑚̇ = .
24.3600 𝑣

Onde: Vc - Volume da câmara (m³); Número de renovações de ar em 24 horas; ve -


Volume específico (m³/kg).

Ainda para Fiorelli (2009) a carga térmica de infiltração pode ser reduzida através da
utilização de dispositivos de proteção como cortinas de ar ou cortinas/portas de PVC, que
possuem um fator de efetividade de proteção E. Para cortinas de ar este fator E é da ordem
de 0,7, enquanto que para cortinas de PVC ele fica na faixa de 0,8 a 0,95, dependendo do
tráfego.

2.10 Carga térmica total

A carga térmica total de refrigeração é a soma das cargas térmicas de transmissão,


infiltração, movimentação de produtos, iluminação, pessoas, equipamentos e demais fatores
que possam aumentar o ganho de calor.

Uma vez calculadas as diversas cargas, a carga térmica total será dada pelo somató-
rio dessas cargas, multiplicando por um fator de segurança Fs que leve em conta impreci-
sões do cálculo e discrepâncias entre os critérios de projeto e o uso final da instalação.
Normalmente este fator é adotado como sendo de 10% (FIORELLI, 2009).

Assim, a carga térmica total é dada pela equação.

𝑄̇ = 𝑄̇ + 𝑄̇ + 𝑄̇ + 𝑄̇ + 𝑄̇ + 𝑄̇ (17)

26
Onde: 𝑄̇ - Carga térmica total (kW); 𝑄̇ - Carga térmica de transmissão (kW) ; 𝑄̇
- Carga térmica devido a circulação de pessoas (kW); Carga térmica de 𝑄̇ - iluminação
(kW); 𝑄̇ - Carga térmica de movimentação (kW); 𝑄̇ - Carga térmica do equipamento

(kW); 𝑄̇ - Carga térmica de infiltração (kW).

2. 11 Psicrometria

Psicrometria é o estudo das misturas de ar de vapor de água (STOECKER; JO-


NES,1985)

2.11.1 Propriedades fundamentais do ar úmido

Para o estudo psicrométrico de um determinado ambiente é necessário o conheci-


mento de alguns conceitos como:

● Umidade relativa: A úmida relativa ∅, é definida como sendo a razão entre a fra-
ção molar do vapor de água no ar úmido e a fração do vapor de água no ar saturado à
mesma temperatura a pressão total, ou ainda, segundo Stoecker e Jones (1985), pode ser
calculado pela seguinte equação:

𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 (18)


∅=
𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 𝑝𝑢𝑟𝑎 𝑎 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑎 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎

Onde: ∅ = Umidade relativa

● Umidade absoluta ou específica: É massa de água contida em 1 kg de ar seco. A


determinação da umidade absoluta pode ser feita com a equação dos gases perfeitos. Tanto
o vapor de água como o ar podem ser admitidos como gases perfeitos nas aplicações usu-
ais de ar condicionado. Ar pode ser admitido como um gás perfeito porque sua temperatura
é elevada em relação à temperatura de saturação, ao passo que o vapor de água tem com-
portamento de gás perfeito porque sua pressão é baixa em relação à pressão de saturação
(STOECKER; JONES, 1985).

27
𝑘𝑔 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 𝑝 𝑉/𝑅 𝑇 𝑝 /𝑅 (19)
𝑊= = =
𝑘𝑔 𝑑𝑒 𝑎𝑟 𝑠𝑒𝑐𝑜 𝑝 𝑉/𝑅 𝑇 (𝑝 − 𝑝 )/𝑅

Onde: 𝑊- Umidade absoluta (kgv/kgas); 𝑉 - Volume de mistura (m³); 𝑝 - Pressão


atmosférica (Pa); 𝑝 - Pressão parcial do ar seco (Pa); 𝑝 - Pressão de saturação (Pa); 𝑅 -
Constante do ar seco, 287 (J/ kg.K); 𝑅 - Constante do gás do vapor, 461,5 (J/kg.K); T -
Temperatura absoluta da mistura (K).

● Entalpia: Segundo Fiorelli (2009), a entalpia específica por kg de ar seco é dada


pela soma das entalpias específicas do ar seco, ha, e do produto umidade absoluta versus
entalpia do vapor d’água, hv

𝑚 (1 + 𝜔) (20)
ℎ= = ℎ + 𝜔ℎ
𝑉

Onde: h - Entalpia (kJ/kg); 𝑚 - massa de ar seco (kg); 𝜔 - Umidade absoluta (kg de


vapor/ kg de ar seco); V - Volume total (m³); ℎ - Entalpia específica do ar seco (kJ/kg); ℎ -
Entalpia do vapor de água (kJ/kg); ℎ - Entalpia do vapor saturado a temperatura da mistura
(kJ/kg).

● Volume específico: É definido como o volume em m³ de mistura por kg de ar se-


co, podendo também ser definido como o volume em m³ do ar seco por kg de ar seco, uma
vez que os volumes ocupados pelas substancias individualmente são iguais (STOEC-
KER;JONES,1985).

𝑅 𝑇 𝑅 𝑇 (21)
𝑣= =
𝑝 𝑝 − 𝑝

Onde: 𝑣 - Volume específico (m³/kg de ar seco); 𝑅 - Constante de ar seco (287


J/kg.K); 𝑇 - Temperatura absoluta (K);𝑝 - Pressão parcial do ar seco (Pa); 𝑝 - pressão ba-
rométrica (Pa); 𝑝 - Pressão de saturação (Pa).

● Temperatura de bulbo úmido (TBU): Esta temperatura é obtida por um termôme-


tro onde seu bulbo envolto numa gaze molhada é exposta a uma corrente de ar até que o
equilíbrio da temperatura da mistura ar-vapor/bulbo seja obtida e a temperatura pare de bai-
xar. Esta temperatura será inferior a de bulbo seco (PENA,2002).

28
● Temperatura de bulbo seco (TBS): É a temperatura para a mistura ar-vapor, por
um termômetro comum. Esta temperatura é a mesma para ambos os elementos da mistura,
ou seja, do vapor e ar (PENA,2002).

● Ponto de Orvalho: É a temperatura na qual o vapor d’água satura e condensa.


Logo, a 100% de umidade relativa a temperatura do ar iguala-se a temperatura de orvalho.
Quanto mais longe a temperatura de orvalho está temperatura ambiente menor é o risco de
condensação e mais seco será o ar (SCHNEIDER, 2000).

● Carta psicrométrica: A carta psicrométrica inter-relaciona inúmeras grandezas da


mistura de ar e vapor de água de grande aplicação em cálculo de refrigeração e ar condicio-
nado. O uso destes diagramas permite a análise gráfica de dados e processos psicrométri-
cos facilitando assim a solução de muitos problemas práticos referentes ao ar, que de outro
modo requerem soluções matemáticas mais difíceis (MENEZES,2005).

A Figura 6 mostra o exemplo de uma carta psicrométrica.

Figura 6: Carta Psicrométrica.

Fonte: CIBSE, sd.


29
2.12 Isolantes normalmente usados em refrigeração

A finalidade do isolamento térmico é reduzir as trocas térmicas indesejáveis e, man-


ter a temperatura da parede externa do recinto isolado, próximo a do ambiente externo, para
evitar problemas de condensação (CHAGAS, 2001).

Ainda para Chagas (2001), o isolamento térmico é formado por materiais de baixo
coeficiente de condutividade térmica (k). Os materiais isolantes são porosos, sendo que a
elevada resistência térmica se deve a baixa condutividade térmica do ar contido nos seus
vazios. A transferência de calor ocorre, principalmente, por condução. Nos espaços vazios
ocorre também convecção e irradiação, porém com valores desprezíveis.

Para Costa (1982), um bom isolante térmico deve apresentar as seguintes qualida-
des:

- Ter baixa condutividade térmica;

- Ter boa resistência mecânica;

- Não sofrer fisicamente, influência da temperatura em que é aplicado;

- Não ser combustível;

- Ser imputrescível e inatacável por pragas, ratos, etc.;

- Ser abundante e barato;

- Ter baixa permeabilidade ao vapor d’água.

Para o dimensionamento da câmara o material escolhido foi a espuma de poliureta-


no.

As espumas de poliuretano são obtidas pela reação química de 2 componentes líqui-


dos - Isocianato e poli - hidroxilo - em presença de catalizadores. A estrutura celular é for-
mada pelo desprendimento de CO2 devido a uma reação química secundária ou, pela ebuli-
ção sob o efeito do calor de reação, de um líquido (agente de expansão) adicionado a um
dos componentes. As espumas de poliuretano podem ser, plásticas de estrutura celular
aberta (utilizadas em isolamento acústico, embalagens, etc.), rígidas de estrutura porosa fe-
chada ( utilizadas em isolamento térmico) (COSTA, 1982).

A Tabela 5 relaciona mais alguns materiais isolantes frequentemente utilizados e su-


as respectivas condutividades térmicas.
30
Tabela 5: Isolantes térmicos mais comuns e suas propriedades.

Material Condutividade Térmica, W/m. K


Espuma de Poliuretano 0,023 - 0,026
Poliestireno Expandido 0,037
Cortiça 0,043
Fibra de Vidro 0,044
Concreto 0,94
Tijolo 0,72

Fonte: Adaptada de Fiorelli, 2009.

31
3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para o dimensionamento da câmara de refrigeração foi reali-


zada seguindo a sequencia abaixo:

● Identificar as características climatológicas e geográficas do ambiente em que a


câmara será construída;

● Levantamento de dados essenciais para o dimensionamento como:

- Tipo de produto e a quantidade a ser armazenada;

- Condições em que produto chega à câmara;

- Movimentação diária;

- Condições de temperatura adequadas para a conservação ou armazenamento do


produto;

- Quantidade de pessoas que irão atuar no interior da câmara;

- Potência dissipada pelos equipamentos de movimentação e iluminação; e

- Cálculo da carga térmica total.

32
4 ESTUDO DE CASO

Para o estudo de caso deste trabalho, será idealizado um galpão situado na cidade
de Piracicaba, fictício, modelado apenas para utilização neste projeto.

Este trabalho teve como principal objetivo o dimensionamento de uma câmara frigorí-
fica para o armazenamento de 25 toneladas de suco integral de laranja vendido comercial-
mente.

As dimensões foram escolhidas de modo a mostrar a carga térmica gerada por uma
quantidade de suco que é transportada por um caminhão frigorífico. Foi considerado tam-
bém que o suco esteja armazenado em garrafas de 900 ml de dimensões 23,5 x 8 x 8 cm
(Altura x Largura x Comprimento) distribuídos no total de 20 pallets, divididos em dois con-
juntos de 10 pallets. As garrafas foram divididas nestes pallets com fardos de 6 garrafas,
base de 35 fardos e empilhamento máximo de 6 fardos.

A construção foi idealizada de modo a respeitar o espaço mínimo de 2,7 metros nos
corredores para a movimentação de empilhadeiras conforme as normas logísticas.

A Figura 7 mostra as dimensões da câmara, bem como a disponibilização dos pal-


lets.

Figura 7: Organização dos pallets e as dimensões dos corredores da câmara.

Fonte: Do próprio autor.


33
Para o cálculo da carga térmica foram verificadas as condições térmicas do ambiente
e as características do produto.

Em seguida foram analisadas as condições para o acondicionamento dos produtos


como: quantidade, espaço disponível, movimentação diária, quantidade de pessoas, o calor
dissipado pelo sistema de iluminação e equipamentos e por fim as trocas térmicas com o
ambiente.

A câmara frigorífica a ser dimensionada teve como base as condições climáticas da


cidade de Piracicaba.

A Figura 8 ilustra um esboço da construção bem como suas dimensões e os pontos


cardeias aos quais as paredes estão expostas.

Figura 8: Orientação geográfica das paredes da câmara.

Fonte: Do próprio autor.

A Figura 8 mostra que a parede 3 tem orientação oeste, a parede 4, norte e as pare-
des 1 e 2, leste e sul respectivamente. As paredes 1 e 2 estão voltadas para uma parte
sombreada, devido ao fato de estarem situadas dentro de um galpão maior. A escolha da

34
orientação geográfica da parede 1 foi feita com o objetivo de deixar a porta voltada para
dentro do galpão, diminuindo a intensidade solar da manhã e evitando o aumento da carga
térmica por infiltração caso seja necessário a intervenção na câmara por algum motivo.

4.1 Condições externas do ambiente

Os valores da temperatura de bulbo seco e bulbo úmido foram extraídos da norma


NBR 16401 (2008), que fornece os dados climáticos de várias cidades brasileiras.

A cidade mais próxima a Piracicaba é Campinas e seus dados são fornecidos pela
Figura 9.

Figura 9: Dados climáticos da cidade de Campinas.

Fonte: NBR 16401 , 2008.

Assim, os valores adotados foram:

Temperatura de bulbo seco do ar externo: 33,2 °C

Temperatura de bulbo úmido do ar externo: 24,4 ° C

4.2 Condições de armazenamento do produto

Nesta etapa foram determinadas as condições de armazenamento do suco de laran-


ja integral conforme a tabela extraída de ASHRAE (2010) ilustrada na Tabela 6.

35
Tabela 6: Temperatura de armazenamento do suco de laranja.

Produto Temp. de Armazena- Humidade Rela- Tempo de Armazenamento


mento, °C tiva, % Aproximado
Suco de Laranja -1 a 1,5 - 3 a 6 semanas

Fonte: Adaptado de FIORELLI, 2009.

A faixa de temperatura para armazenamento deste produto é de -1°C a 1,5 °C não


importando a umidade.

Assim, a temperatura adotada foi de 1°C.

4.3 Número de pessoas e horário de utilização

Para essa função foi considerada apenas uma pessoa exercendo a função de operar
a empilhadeira.

Para a jornada de trabalho foram consideradas 2 horas, sendo 1 hora para o arma-
zenamento dos produtos e outra para retirada e carregamento do caminhão.

4.4 Iluminação

A Figura 5 fornece a potência dissipada em diversos tipos de ambientes. Assim, con-


forme a área da câmara, os valores adotados foram:

- Potência dissipada: 2 W/ m²

- Área ocupada: 168 m²

4.5 Equipamentos elétricos

Para a manipulação dos produtos foi utilizada uma empilhadeira de 20 CV.

A Tabela 4 fornece os valores de rendimento e potência dissipada para equipamen-


tos com essa potência.

O rendimento adotado foi de 88% com base na tabela 4 extraída da norma NBR
6401, 1980.
36
4.5 Movimentação de produtos

A Tabela 3 fornece os valores de calor específico para o cálculo do calor liberado na


movimentação dos produtos.

Assim, os valores adotados foram:

- Calor específico: 3,81 kJ/kg.K

- Quantidade de produto movimentado: 25.000 kg

Temperatura externa ou de chegada à câmara: 25°

4.6 Infiltração

A Figura 10 mostra a quantidade de renovações para o ar na câmara.

Figura 10: Quantidade de renovações de ar em 24 horas para volumes pré-determinados.

Fonte: Fiorelli, 2009

Para se ter uma noção exata da quantidade de renovações de necessárias,


efetuou-se uma interpolação e adotou-se o seguinte valor:
37
- Número de renovações: 5 (Serviço médio).

4.7 Carta psicrométrica

A Figura 6 mostra a carta psicométrica de onde foram obtidos os volumes específi-


cos, he e hi.

Assim, os valores adotados foram:

- Volume específico: 0,938 m³/kg;

- he: 72,5 kJ/kg; e

- hi:12 kJ/kg.

4.8 Especificação dos materiais de construção e isolamento

Todas as paredes, o teto e o piso da câmara são compostos por uma barreira de tijo-
los e outra de placa de espuma de poliuretano.

Os principais isolantes utilizados atualmente são a espuma rígida de poliuretano e o


poliestireno expandido. Deve-se ressaltar que a resistência térmica das chapas metálicas e
outros materiais (barreira de vapor, tinta, etc.) costuma ser desconsiderada quando da de-
terminação do coeficiente global U (FIORELLI, 2009).

Além disso, a escolha da espuma de poliuretano se deu pelo fato de este produto
apresentar uma grande facilidade na sua manipulação, além de possuir um bom isolamento
térmico e ter baixo custo.

Segundo Fiorelli (2009), um fluxo de calor para paredes da ordem de 9,3 W/m² resul-
ta num valor de espessura do isolante térmico próximo do valor ótimo em termos de custos
de instalações e operacionais.

Assim, utilizando a equação 4 pôde-se calcular os coeficientes globais para cada


elemento estrutural da câmara, bem como as correções para aqueles que sofrem com a in-
cidência direta da luz solar.

Os valores para correção da temperatura, somados a temperatura de bulbo seco do


ar externo adotada, para os elementos estruturais que sofrem incidência solar são mostra-
dos na Tabela 7.
38
Tabela 7: Correção da temperatura externa devido ao efeito solar incidente nas superfícies.

Parede Teto
Cor da superfície
Leste , °C Norte , °C Oeste , °C Plano, °C
Escura 5,0 3,0 5,0 11,0
Média 4,0 3,0 4,0 9,0
Clara 3,0 2,0 3,0 5,0

Fonte: Fiorelli, 2009.

Com os valores dos coeficientes globais calculados pela equação 4, pôde-se calcular
a espessura do isolante térmico a partir da equação 10.

Os valores adotados para a condutividade térmica utilizados no cálculo da resistência


total, segundo FiorelIi (2009) foram:

Tijolo: 0,72 W/m.K; e

Espuma de poliuretano: 0,025 W/m.K

A espessura adotada para o tijolo foi de 0,25m.

Segundo Os valores dos coeficientes de convecção adotados foram:

Coeficiente de película externo: 34,48 W/m².K;

Coeficiente de película interno: 8,33 W/m².K.

O cálculo da espessura dos isolantes utilizando o fluxo de calor da ordem de 9,3


W/m² leva a uma espessura exata, porém, não condizente com as espessuras encontradas
no mercado.

Assim, segundo Fiorelli (2009), deve-se levar em conta a disponibilidade do mercado


em termos de espessuras padronizadas do isolamento.

A Tabela 8 mostra as espessuras obtidas e as espessuras adotadas conforme as


disponibilidades do mercado.

39
Tabela 8: Tabela de espessuras de isolamentos obtidas e readequadas.

Elemento Espessura obtida, m Espessura de mercado, m


Parede Norte 0,0740 0,0750
Parede Sul 0,0720 0,0750
Parede Leste 0,0720 0,0750
Parede Oeste 0,0820 0,0850
Teto 0,0900 0,0900
Piso 0,0750 0,0750

Fonte: Do próprio autor.

A partir das espessuras dos isolantes, condizentes com o cálculo e com o que o
mercado fornece, pôde-se recalcular os valores dos coeficientes globais definitivos para ca-
da parede, teto e piso utilizando a equação 10. Os valores obtidos são mostrados na Tabela
9.

Tabela 9: Valores dos coeficientes globais para cada componente da câmara.

Parede U (W/m². K)
Parede Norte 0,286
Parede Sul 0,288
Parede Leste 0,288
Parede Oeste 0,257
Teto 0,250
Piso 0,289

Fonte: Do próprio autor.

4.9 Carga térmica total

Nesta etapa, foram calculadas as cargas térmicas na câmara. Os valores obtidos são
apresentados na Tabela 10.

40
Tabela 10: Valores de carga térmica.

Componente Q (kW)
Parede Norte 0,274
Parede Sul 0,482
Parede Leste 0,482
Parede Oeste 0,217
Teto 1,562
Piso 1,563
Pessoas 0,022
Iluminação 0,028
Produtos 26,46
Equipamentos 1,685
Infiltração 0,254
Total 33,029

Fonte: Do próprio autor.

Aplicando o fator de correção de 10% sobre o valor total, a fim de levar em conta im-
precisões do cálculo e discrepâncias entre os critérios de projeto e o uso final da instalação,
a carga térmica total passou a ser 36,330 kW.

4.10 Discussão

Em relação às cargas térmicas pode-se notar que o calor devido ao produto foi o que
apresentou o maior valor, com 80,11% do valor total da carga térmica. Os menores contribu-
intes para o a carga térmica foram às pessoas e a iluminação com aproximadamente 0,07 %
e 0,08% respectivamente.

A quantidade de carga térmica adicionada pelo suco está diretamente ligada a quan-
tidade armazenada, bem como a sua temperatura de chegada à câmara.

O ganho de calor gerado pelas pessoas e a iluminação foram baixas devido ao fato
de serem necessárias poucas pessoas para a execução das atividades de carga e descarga
do produto na câmara.

A Figura 11 ilustra o quanto cada fator de adição de calor influencia na carga térmica
total.

41
Figura 11: Quantidade de carga térmica gerada por cada componente de calor.

80,11%
Parede Norte
Parede Sul
Parede Leste
Parede Oeste
Teto
Piso
Pessoas
Iluminação
5,10%
Produtos
0,08% 0,77%
0,83% Equipamentos
0,07% 1,46% 1,46% Infiltração
4,73% 4,73% 0,66%

Fonte: Do próprio autor.

A partir da leitura da Tabela 9 onde são apresentados os valores do coeficiente glo-


bal para cada componente estrutural, nota-se certo equilibro nos valores.

Este equilíbrio foi atingido pelo aumento da espessura da espuma de poliuretano no


teto, local onde eram obtidas maiores cargas térmicas. Assim, para o teto, utilizou-se uma
espessura de 0,09 m de espuma enquanto que nas paredes e no piso utilizou-se 0,075 m
tornando possível o equilíbrio ilustrado na Tabela 9.

Outro aspecto importante é a utilização de cortinas de ar ou PVC para redução da


carga térmica de infiltração. A Tabela 11 mostra uma comparação entre o comportamento
da carga térmica gerada com o uso das cortinas comparadas a sua não utilização.

Os valores foram obtidos a partir da equação 15. Nesta fórmula a incógnita “E” indica
o fator de efetividade de proteção. Assim, para o cálculo do valor de infiltração de calor na
câmara sem nenhum tipo de restrição o valor de “E” foi zero e para a cortina de ar ou PVC
os valores utilizados foram 0,7 e 0,8 respectivamente.

42
Tabela 11: Tabela de comparação entre cortina de PVC e de ar na diminuição de carga
térmica.

Dispositivo Carga Térmica em kW


Sem Cortina 1,271
Cortina de Ar 0,381
Cortina de PVC 0,254

Fonte: Do próprio autor.

Pelos dados verifica-se que neste caso, pode se ter uma diminuição da carga térmica
de infiltração de 70% quando se utiliza a cortina de ar e 80% na utilização de cortina de PVC
ante o seu não uso.

Empresas como a Springer oferecem vários modelos de cortinas de ar, cujos mode-
los variam de 0,9 m a 1,5 m de comprimento e preços na faixa de R$ 300 a R$ 600. Já para
as cortinas de PVC, o mercado não é tão grande, pois muitas delas são feitas sob medida e
conforme as necessidades do cliente.

4.10.1 Seleção do equipamento

Atualmente existem vários modos de refrigeração. Os monoblocos frigoríficos plug-in


são uma dessas opções e baseiam-se em uma unidade autônoma que possui seus compo-
nentes montados em um equipamento prático para instalação.

Com isso, o equipamento da linha “KFDSP”, modelo 2501, oferecido pela empresa
“KIT Frigor” seria uma alternativa que atenderia aos requisitos do projeto apresentado, pois
possui uma capacidade de refrigeração de no máximo 33400 kcal/h (38,82 kW) e temperatu-
ra de armazenamento entre 5°C e -20°C.

A Figura 12 mostra como é o equipamento.

43
Figura 12: Exemplo de um monobloco frigorífico.

Fonte: Manual técnico – KIT Frigor

44
5 CONCLUSÃO

Diante do apresentado neste trabalho, conclui-se que é importante ter um bom co-
nhecimento do ambiente climático em que a câmara será instalada, já que este aspecto in-
fluencia no ganho de calor por transmissão e uma boa análise geográfica do local auxilia no
direcionamento de portas ou paredes para espaços onde se tem mais sombra ou pouca in-
cidência solar.

Os cálculos apontaram para uma carga térmica total de 36,330 kW para uma
câmara com uma área de 168 m². Desse total, os componentes estruturais (paredes, teto e
piso) somados contribuíram com 13,87% da total de calor fornecido a câmara.

A atenção ao controle da temperatura de entrada do produto na câmara, também é


um fator importante, visto que este foi responsável por 80,11% da carga térmica total. Além
disso, o volume estocado também está diretamente ligado ao aumento de fornecimento de
calor, assim, é importante que o cliente tenha uma boa noção de sua demanda para que a
câmara seja dimensionada de modo a alcançar o máximo de sua capacidade de refrigera-
ção.

A carga térmica gerada pela soma do calor fornecido pelo fluxo de pessoas, ilumina-
ção, equipamentos e infiltração totalizaram 6,02 % do total da carga térmica. Apesar de
apresentarem a menor fatia do calor fornecido, são fatores que podem ser otimizados de-
pendendo de onde a câmara será instalada, o equipamento que será utilizado para a mani-
pulação dos produtos, a quantidade de pessoas e o tempo de iluminação a fim diminuir ain-
da mais a geração de calor.

Além disso, pôde-se concluir que é possível utilizar componentes que diminuem a
geração de carga térmica, como as cortinas de PVC ou de ar, aumentando a eficiência da
câmara de 70% a 80% respectivamente. Além do aumento de eficiência térmica da câmara,
as cortinas também contribuem para a evitar a entrada de insetos, fumaça, poeira e odores.

Por fim, conclui-se que neste tipo de projeto é necessário ter atenção na melhora e
otimização de todos os componentes de geração de calor, já que há várias maneiras de fa-
zer mudanças que se adaptem as necessidades para que essas melhoras pontuais acarre-
tem em uma câmara fria mais eficiente.

45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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46

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