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.
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l'residenre do R(>ptíl>lica:
Fernanclo llcnrique Cardoso
l\-linistro da Educaçcio e cto Desporto:
Paulo H('ll<.lto de Souza
SccretórJo executil•O:
Luciano Oliva p-•.uríclo
MEC
Secrctcíria de Ecluccl<;{io Func1cmwmal:
Iara G lúria Areias Praclo
l..APEC/-1 - FEL'SP
A História
do Povo Terena
M a io / 2000
REALIZAÇÃO:
Pro<luçüo:
Pro~rama de E ducação Escola r Incti~ena/CTl
Coordennçõo e elal>oroçOo:
Circe Mmin Bittenco11rt
Marín Eli~a Ludeira
Pe~ quiso :
Ho~ério A lves de Rezende
A driane Costa da S ilva
Professores Terenn de Miranda: Severiano P"dscoal, Gen6sio de Farias. Josefina Muchacho
l lcnriquc . Nilza J(Jlio Haimunclo . A rlete l3onifác io. Ruy Sebastiã o. Eu lo~ia de A lbuque rque.
E lizeu Sehaslião. Ané s io Pinto. Luzinete Rain"lundo . 1\:ilo Oelfino . E lcio cte A lbuquerque.
A ronalclo Jülio. Paulo Bonif<c'lcio.
Ah1nos do LRboratório de Pesquisa e E nsino d e C if·ncias l lumam.ls/LJSP/ Lapcch
J>rogramcu.;do Vi~ual:
Sônia Lorcnz
HClli~(lo :
i\tmia Regina t=ig ucirecJo 1 tortc1
APOIO INSTITUCIONAL:
-'
Capítulo ·~~
Começa __
A história do povo Tercna é longa c e stá ligada às história s de vários
povos indígenas. dos e uropeus. dos a fricanos e seus descendentes. O
povo Terena, juntamente com o s Laiana e os Kinikina u, faz parte da
história de g rupos indígenas que v ivem e m várias regiões e países d a
América.
Para se c onhecer a h is tória dos Terena é preciso recorrer a várias
fontes de informação. Podemos conhecer o passacio cios Tcrena pelos
p rodutos da c ultura material. como o bjetos de cerârnica. de tecelagem.
instrumentos musicais. que revelam muito d os hábitos c costumes
antigos e q ue a tunlmcnte ncrn sempre existem mais. Pode-se também
recorrer aos textos escritos. desenhos. pinturas. fotografias feitos por
brancos que cstal1eleceram contatos e m diversos momentos c om os
TerPna.
E a inda. para sabermos sobre a vicia passada elos Terena. é muito
importante o uvir os relatos orais dos mais velhos. A tradição oral revela
os rnorncntos rné1is s ignificativos da história dos povos indígenas. A
língua féllada pelos Tercna é a mais importante fonte que se tern para se
conhecer parte da histórk rnais recente c também do passado rnais
d istante.
1I
A língua falada pelos Terena conserva elementos em comum com
a língua usada pelos Laiana e pelos Kinikinau e qúe, embora com
a lgumas diferenças, permite reconhecer que e le pertence a uma língua
de origem comum denominada Aruák. A identificação dessa língua
comurn é importante porque, por intermédio dela, podemos saber um
pouco sobre a origem dos Terena e localizar o lugar onde vivem e
v iveram em outros tempos.
Pode-se conhecer o lugar de origem das pessoas porque as línguas
têm e lementos cornuns e pode-se perceber que cada povo recebe várias
influências no contato com outras populações. Com a convivência são
acrescentadas novas palavras. a lterando cons tantemente a língua
o rig inal. Quando uma comunidade se separa. a convivência entre as
pessoas diminui e, em conseqüência. aumentam as diferenças na fala
dos habitantes desses lugares. Quando esses g rupos mudam-se para
outros lugares d is tantes. perdem todo o conta to entre si e não existe a
possibilidade de incorporar palavras novas.
Desta forma. apesar da língua ser a mesma , os Terena de
Cachoeirinha, por exemplo. falam de um modo diferente dos Terena de
Taunay e. da mesma forma. a língua portuguesa fa lada pelos gaúchos
é diferente da língua portuguesa falada pelos pernambucanos ou pelos
habitantes de Portugal. Podemos saber, então. pela fala. o lugar de origem
daquela pessoa. Podemos também identificar se um Terena é de
Cachoeirinha. de Ipegue. de Bananal ou de outras aldeias.
I. Os Aruák
12
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1 . OS ARUAK NA AMERICA
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Legenda
Povos lndfgenas existentes
Povos Indígenas extintos
Observe com atenção o mapa para localizar a ampla região onde
são faladas as línguas d e origem Aruák.
Podemos observar que se fala o Aruák na região norte da América
do Sul, com povos que habitam a área dos rios Orinoc o. Negro e
seus afluentes, principalmente o rio Içana. E existem povos que
habitam lugares próximos aos rios Japurá e Solimões. Purus e Juruá
até chegar às nascentes do rio ucaiáli. os povos que fa la m a língua
d e origem Aruák, conforme pod.e-se verificar pelo mapa, não habitam
em un1 único país.
Outros grupos que se utilizam da língua de origem Aruák vivem
mais ao sul · do continente. Existem povos que vivem na região
amazônica da Bolívia. no estado do Mato Grosso e na região do rio
Xingu . no B rasil. o povo de língua Aruák que mora mais ao sul do
continente americano são os Terena .
14
AIOÇCI Palikur
15
•
•
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KamjiiJ'
M axineri
Brasília
e CUibá
•
•
2. OS ARUAK NO BRASIL
Legenda
Povos Aruák
RIO GRANDE
DO SUL
Os g rupos que v ivem próximo
a o rio Negro. Baré. Mandawáka e
Yabaána não tê m mantido a língua
de origem Aruák , se ndo q ue a
maioria deles faln so mente o
português.
Há ta mbém o s Wopixana que
v ivem no esta do de Horaima, às
margens do rio Branco, c o s Palikur,
s ituados no estado do Amapá, na
bacia do rio Oiapoquc. que se
utilizam de uma língua falada muito
próxima. e mbora com a lg umas
diferenças, da língua usada pelos
povos Banivva.
Os g rupos Aruák que v ivem
ao sul do rio Amazonas podem
ser agrupa dos de acordo c om a s
áreas que ocupam. Existem quatro
á reas importantes qu podem ser
o bservadas pelo mapa.
A primeira dessas á reas e stá
s ituada no s udoeste do estado do
Acre e nelas v ivem o s Aaurinã (ou
Jpurinã) . com a lde ias ao longo do
rio Purus: o s Kómpa no a lto rio
Juruá: os Maxinéri e Manitenérí (a
língua Píro) no rio Iaco. um a fluente
do rio Juruá.
u ma segunda á rea fica a oeste
do estado do Mato Grosso. na
região dos formadores do rio
Juruena, que é um a fluente d o rio
Tapajós. onde v ivem o s Paresi e os
Salumã.
Em uma terceira á rea , no alto
do rio Xingu , são fala das línguas
I '
da família Aruák, muito semelhantes e ntre si. Es tes grupos são
denominados c omo Mehináku, \11aura e Yawalapítí.
E, a quarta e ú ltima á rea é a que corre sponde aos g rupos que vivem
na região mais meridional da família Aruák no Brasil. É o povo Terena,
que habita na região dos rios Aquidauana e Miranda, afluentes do rio
Paraguai, no estado do Mato Grosso do Sul. Na década de 3 0 um g rupo
de Tcrena foi transferido para o estado de São Paulo, numa área o nde
v ivem os Kaingang e Nhandcva (Guarani) . na região de Bauru. Em
c onseqüência desta migração . há meio século que a língua Terena
também 6 falada nesta região.
Existe um grupo na Bolívia, os Moxo. que ainda mantém a língua
de origem Aruák; e outro denominado Chané, mas este povo atualmente
s ó fala e spanhol. No Paraguai há também os G uaná, que a parentemente
não falam mais a língua.
Todos estes g rupos indígenas que falam a língua A ruák têm
diferenças e ntre s i , mas possuem uma mesma líng ua de o rigem. A lém
desta proximidade que indica uma o rigem c omum, e stes g rupos têm
semelhanças na forma de s ua organização social. Todos esses g rupos
possuem ou possuíram formas de organização internas características.
sendo tradicionalmente agricultores e c onhecedores das t6cnicas de
tecelagem e cerâmica .
8
catequese de m issio n á rios. esta b e lecen do-se conta tos diversos . às
vezes de forma pacífica e em o utras s ituações d e m a n e ira v iole nta . É
importante destacar q u e esta s ituação ocorre u n o passado. m as a inda ·
a·contece atu alme nt e.
A his tó ri a d a ocupação do t e rrit ó ri o p e los g ru pos indígen as,
a nterio r à c h egad a d o s e uropeu s ta mbé m foi realizad a de d ife re ntes
fo rm as e m o m e nt os. A o c up ação d o t e rrit ó ri o foi se nd o fe ita
le nta m e nte. d ura nte muito t e mpo, por mig r açõ es de populaçõ es
ind ígenas d ife re ntes que esta b e lecera m c onta to s e ntre si, trocara m
exp e riê n c ias, reali zando a lia n ças ·que e nriquecera m s u as h e ra n ças
cultu ra is ou. e ntão. fi zera rn g u e rras par a d o mina r á reas m a is fé rte is
ou de fácil comunicação .
D esta fo rma, a população ind ígen a no B rasil é con s tituída p o r
d iversos povos, dife rentes entre si, c om usos . costumes e c re n ças
próprias . e q u e fala m líng u as dife re ntes. O dire ito a esta dife re n ça,
m antendo a líng u a e c o s tum es tradicio n ais é a tu alme nte gara ntido p e la
Con stituição Brasile ira de 1988 p elo A rtig o 23 1 :
Brasília
e Cuibá
• •
Legenda
- Jê
- Tupi-Guarani
A ruák
- Pano
- Karib
Outras línguas RIO GRAifOE
DO SUL
É provável q ue na é poca da
c hegada dos portugueses. há soo
a nos. o nún1ero das línguas
indígenas fosse maior do q ue é
hoje. É também difícil sa ber o
número de habitantes indígenas na
é poca d a c hegada dos e uropeus.
o desaparecimento de muitas
línguas indígenas foi maior nas
regiões c olonizadas mais
intensamente e há mais tempo
pelos portugueses. como a região
s udeste. nordeste e sul do Brasil.
As lín g uas indígenas
existentes no Brasil podem ser
agrupadas. de um modo geral,
e m g ra ndes g rupos denominados
como " famílias linguísticas" que,
e m alguns c asos. t ê m falantes
também e m o utros países. Estas
" famílias" sã o T upi-Guarani,
Karib, Pano, A ruák e Jê.
Existem também, a lé m dessas
g randes "famílias", o utras "famílias"
menores como G uaikuru, Tukano,
Maku e Yanomami. E ainda existem
as línguas que os es tudiosos
c lassificam co mo " lín g uas
isoladas". Po r " língua is o l a da "
queremos d izer que o s ling üistas,
que são os estudiosos das línguas,
não sabem a q ue "família" o riginal
esta língua pertence.
4. Histórias da origem do povo T e re na
~ oiz
que a ntigamente nôo havia gente. Bem-te-ui. uítuka,
descobriu o nde havia gente cteboixo do vrejo. Bem -te-ui marcou
o lugar (lOS Orekajuvakái q ue eram dois hornens e estes tiraram
u gente do buraco
Antif}amente, Orekajuuakái era urn só e quando n1oço a
sua mãe ficou brava, pois Orekajuuakôi não q ueria ir j unto com
ela à roça. foi à roça. tirou joice e cortou com ela Orekajuvakái
em dois pedaços. o pedaço na cintura paro cima ficou gente. e
a outra meroc1e também .
Antes de tirar a gente do buraco. O rckajuuakái manclaram
tirar jogo. iukú. Pensaram q uem U(li tirar jogo. Foi o tico-tico.
xavokóÇJ. Ele foi e não achou jogo. Depois foi o coelho. kanóu.
e tomou o jogo dos s eus nonos. os Tokeóre.
O konóu chegou o nde estoua os Orekajut 1okái c foram
jazendo grandejogueirn Gen re levantou os braços e Orekajuunkái
tirou do b uraco . Toda gente era nu e tinha f rio e Orekajuuakái
chamaram paro ficar perto do fooo . Era gente de ro da raça.
Orekajuvokái sempre p ensarorn c o rno fazer jular esta gente.
1\landaram-na entror em f ileira um a trás no o urro. Orekajuuakái
chamarorn lobinho. okué. pra f azer rir a gente. Lobinho fez
mucacndo. mordeu no p róprio rabo. mas não c onseç)uiu jazer
rir. oreknjut 'Okâi chnn1aron1 sapinho. a quele vern1elho. kolalôke.
J-~c; te andou como sempre a nda e a gente começou a dar risada.
Sapinho passou ida e volta ao longo da fila três vezes. Aí a
gente corneçou a f alar e ctar risaclo.
Orckqjcwakái o uuirnm q ue cacto um da gente falou clijerente
do o utro. Aí separaram cada um o um lado. Eram gente de
-
".)
.....
toda raça. Como o mundo era pequeno, Orekajuvakói aumentou
o mundo para o pessoal caber.
O rekajuvakói deu uns carocinhos de feijão e milho e deu
mandioca também e ensinou como se planta. Deu tarnbém
semente de a lgodão e ensinou como tecer faixa. Ensinou jazer
arco e flecha, ranchinho, roçar e plantar. "(relato oral de Antônio
Lulu Ka liketé. traduzido para o português por Ladislau Hahóoti)
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24
s . Mome ntos da história do povo T e re na
Cada povo t e m mom e ntos importantes marcados por
acontecime ntos que levam a rnudanças na v ida d e toda a c omunidade.
Esses momentos surgem e ntr e laçados a vários acontecimentos e
permanecem na m emória de todos . R e le mbrar esses mome ntos c buscar
entendê-los é irnportantc para que s e possa p e rcebe r os acontecimentos
p resentes e como eles estão ligados a esse passado. Para os Tcrcna .
têm s ido re lembrados três grandes mome n tos e m sua história.
Nova Constinuc;ão
lll<tcpenc ti''n<.·ia Pnx:twnaçtlo L3ra..-.ilcira
uu Brasil <la Rq >úhli<'CI
Gu<·rra do Elei<;ÜI.'S
)Jrl'Sicl<."nCiHis
P<lr~ltai
I I t1olpe l\ hhta r
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Trc-uado ele paz Destnli<,;ao ck'
l'lltrl' o~< iltnicuru .tltll'icl!:> t' (JiSJ l<.'rS<"to
do puvu Tcr('IICI <:ria<.,·[tO CriaÇ<io
e t •urtugal da Funai
<k> SPI
Prinlt'ir<t.'> 1nforn li l<.,ú<:~
PrtrTK'iras llt'111C:lr<.'él(,'Ül'S
l'S<.TII<I.'> ~obr!' a prest·n~.,·,,
<k• àrt'éL<; l'l:r('na
Ter<'li< 1 lld H1 ·gtilo
,..) ;--
-J
O primeiro deles foi a saída do Êxiva. transpondo o rio Paraguai , e a
ocupação da região do a tual estado de Mato-Grosso do Sul. Este período
foi longo, durando muitos anos, com migrações que foram feitas em
todo o decorrer do século XVIII. Foi um período e m que os Terena
ocuparam um território vasto, dedicando-se à agricultura e estabeleceram
a lianças importantes c om os Guaicuru e com os portugueses.
Este foi o período dos Tempos Antigos.
Em seguida, um acontecimento importante a fe taria a v ida dos
Terena, a Guerra do Paraguai. O momento mais significativo da v ida
dos Terena foi a Guerra do Paraguai ( 1864-1870). Esta g uerra, na q ual
participaram muitos países - Brasil. Paraguai, Argentina e Uruguai -
envolveu tamb6m os escravos de o rigem a fricana e povos indíge nas
habitantes das regiões próximas ao rio Paraguai. Os Te rcna e Guaicuru
alia ram-se a os brasileiros e lutaram para preservar seu território .
Após a Guerra do Paraguai, muitas mudanças aconteceram na
região e, para os Terena , e la s ignificou a perda da maior parte do seu
território, que passou a ser disputado pelos proprietários de terras
brancos, que c hegavam cada vez mais para plantar e c riar gado.
Este foi o período denominado Tempos da Servidão.
E o terceiro momento c orrcspondeu à delimitação das Rese rvas
Terena, iniciado com a chegada da Comissão Construtora das Linhas
Tele gráficas c hefiadas por Rondon , e continua até o presente . Essa
é poca. d o c omeço deste século até os d ias de hoje. é marcada por uma
maior proximidade c om a popul açã o branca , o s purutuyé , com
mudanças nos hábitos e cos tumes terenas. Os T e r e na têm s ido
obrigados a se s ubmete r a trabalhos para os proprie tários de terras
particulares. Este momento ainda está sendo v ivido pelos Tere na, que
estão fazendo s ua história, buscando maior autonomia e nquanto povo.
e mais d ireitos como c idadãos brasileiros . Este período não possui a inda
um título. Cada c riança ou jove m Tercna pode denominá-lo como desejar.
Depois de le r e ste livro, d ê um título a este terce iro momento d a
história dos Te re na :
I.Os Aruák
Por que a língua falada pelos Tcrena é diferente da língua falada dos
Salumã. se as d uas línguas são da "família" 1\ruák?
Observando o mapa 1 , escreva:
o nome dos países da América onde vivem povos de origem Aruák.
28
o nome de alguns dos rios importantes para os A ruák
Procure saber junto aos ma~s velhos o utros mitos Tcrcna . Escreva nas
linhas a baixo. Depois leia para seus c olegas.
5. Momentos da História do povo Terena
"
1 . Os Guana no Exiva
/
3.S
Guaná que se conhecem nesta parte oriental são 5: Layana.
Etelenoe ou Etelena. Equiniquinao ou Equiliquinao, Neguecatemi
e Hechoaladf'
3()
do pantanal do Mato-Grosso do Sul, na fronteira c om o Paraguai. Nguns
relatos d os Kadiwéu mostram que essas diferentes maneiras de v iver
sempre existiram:
.
As diferenças entre os Guaná e os Guaicuru facilitaram a s relações
de troca. Os Guaicuru aprenderam a utilizar cavalos trazidos da Europa
para fazer g uerra e protegiam as a lde ias aliadas dos a ta ques dos inimigos
Guarani e dos espanhóis. Os Guaicuru forneciam para os Guaná facas e
machados que e ram utilizados na agricultura. Os Guaná forneciam aos
Guaicuru produtos que c ultivavam nas roças. roupas de algodão e
c obertores . Para consolidar estas a lianças, os Guaná c os Guaicuru
realizavam casamentos e ntre s i.
:-37
e les o rgan izaram muitas exp e dições para lá. Assim. a p artir do século
XVI. começou a h istó ria do conta to e ntre os p ovos indígenas, primeiros
h a bita n tes e sen hores dessas te rras , e os europeus .
Schimdel. um escrit o r e uropeu que passou pelo Êxiva naquela
é p oca. descreveu a v ida d os G u a n á:
As várias tribos da região foram e nvolvidas por essas lutas. Para defender
seu povo c suas terras. os Guaná procuraram fazer a liança com o s
portugueses. Já os Guarani, procuraram unir forças c om os espanhóis
contra seus antigos inimigos . os Guaicuru.
Durante essas g uerras muita~ a ldeias foram destruídas . Os Guaná.
v ieram se deslocando acompanhando os seus a liados Mbayá-Guaicuru
para o Mato Grosso do Sul, no século XVIII. Os Terena, os Kinikinau, os
Laiana reconstruíram s uas a lde ias perto do fone Coimbra c das vilas
das Serras cJo A lbuquerque, entre o s rios Paraguai e Miranda. Os Kadiwéu
e outras tribos Guaicuru se estabeleceram nas redondezas da Serra de
Maracaju .
A lguns relatos dos mais velhos c ontam porque os Terena saíram
do Êxiva e como eles a travessaram o rio Paraguai:
"Minha avó, meu avô são do Êxiva. Eles usaram uma taquara
bem g rande para a travessar o rio ... pelo nome ' taquaruçu ' ela é
conhecida pelos p urutuyé. Eles trançavam com cipó (hymomó)
para fazer uma ca noa para a travessar o rio P araguai
(huveonokaxionó - 'fiO elos paraguaios'). quando vierarn para
o Cachoeirinha . ..
(João Martins- 'Menooró · - a ldeia Cachoeirinha)
3~)
4 . A OCUPAÇÃO DE MATO GROSSO
@ CUIABÁ
GO
~xiva
9.
SP 1o Ã
PR
Legenda
TE REN A . KADIWÉU
I. AI Pilade Rebuá 6. A I Limão verde
2. A I cach ocirin h a 7. A I Buriti ., GUAR ANI
3. AI Taunay/lpegu e 8. AI Nioaque
.Ã GUATÓ
4. AI Lalima 9. AI lca tu
s. A I Alde inh a I O. A I A r ar ibá . OFAI É-XAVANTE
. KAMI3A
4()
Na época c r n que os Te re na deixa ram o Êxiva . a região de Miranda
era desabitada. Eles foram os primeiros a ocupar a á r a . A ocupação da
região pelos portug ues s c omeçou depois da descoberta de ouro na
região de Cu iabá c e m Mato Gross o. no século XVIII. Várias povoaçôes
fo r a m fundadas pelos po rtugu e ses nessa é poca: Cuiabá ( 1 727);
A lbuque rque e Vila Maria ( 1 778).
Pre ocupados e m defende r suas fro nt ' iras elos e spa nhóis, os
portugueses também c o nstruíram vários fortes: r-ort ele Coimbra ( I 775),
Forte Doura do e Pr e sícJio de M ira nda ( I 778) . Observ e no mapa a
localização e stratégica de a lguns destes forte s .
Assim. enquanto os espanhóis queriam instalar fazendas etc gado
para e fetivar a posse na região e e xpulsa r a s populaçôes nativas. o s
portugueses procurar a m garantir o domínio da r gié1o a través déJ
construção de fortes c acordos c om os índios . Já nessa é poca os Guaná
vendiam no Porte de Coirnbra redes e panos. hatatas. g alinhas c porc os
e. e m troc a recebiam objetos ele metais c tecictos.
Para dominar a região. os purutuyé p recisavanl da ami~adc dos
g rupos indíge nas que aí viviam. Era importante ter gente para garantir a
posse das terras e para morar nas novas vilas e c idade s . També m
p recisavam de trabalha dore s para as minas e para as faze ndas q ue
surg iam. onde plantavam c ana-de-açúcar e criavam gado. Para a região
foram enviados soldados para vigiare m a s fronteira s .
Os portugueses fiz ram uma lei que proibia a escravização dos
indígenas. mas eles e ram obriga dos a morar e m a lde ic s dirigidas por
c hefes brancos. Aí. os ínciios d -veriam aprende r é\ viver e a trabalha r de
aco rdo com os c ostumes do homem bran c o . Mas os Guaná c ontinuaram
levando uma v ida independente dos b ranc os. Graças à a liança com os
Guaicuru . conseguiram rnan te r o domínio da re g ião e n tre os rios Apa e
Miranda . Observe no mapa 4 e s ta região de domínio dos índios .
Os co lonizadores b ranc os te ntaram de várias man 'iras c onquistar
a cHnizade cios índios. especialme nte dos Guaicuru. pois queriam
colonizar a região. Para isso. faziam c omércio . distribuíélm p resentes e
davan1 aos c hefes las tribos aliadas pate ntes do e xérc ito.
os ~cavaleiros~ (como os pun1tuyé chamavam os Guaicuru) ram temidos
.
tanto pelos portugueses. c orno pelos espanhóis. Montados e m cavalos.
utilizavarn sua boiada para atacar os inimigos. O s truíam suas povoações.
roubavam seus cavalos e seu gado. c arruinavam suac; p lantações .
4 1
Os Gu aicuru, dep o is de m u itos con fro ntos. tiveram in te resse em
esta b e lecer um acordo c om os portug u eses. D aí fo i assinado um tra tado
e ntre e les n o R ea l P resídio d e Coimbra. e m 1 7 9 1. Esse trata d o .
assegurava a p roteção da c oroa portu g u es a c tran s fo rmava os Mbayá-
Gu a ic uru e m súditos da rainha de Portugal.
Dep o is do Tratad o de 1 79 1 . a aliança entre os Guaicuru e os Guaná
com eçou a se enfraquecer. Os Guan á não n ecessitavam mais da "pro teção"
dos Gu a icuru e ampliaram o conta to com o s brancos, p rincipalm ente d epois
da indep endê nc ia do B rasil e m relação a Po rtugal ( 182 2 ).
4. Os Terena na época
do Império brasileiro
D e p o is q u e os brasile iros se libe rta ra m de Po r tugal , o governo
esta b e lecido fo i d e uma m o n a rq uia. s ob o p o d e r de u m im perad o r, o .
Pedro I, e d epois do seu filho. o . Pe dro 11. Este é o perío d o do Império
( 18 2 2- 1889).
L ogo d epois da inde p e ndê n c ia , o governo p e rmitiu a p resen ça de
v iajantes e estud iosos estran geiros em várias partes d o país. Um a das
exp edições estrangeiras que v is ito u a r egião de M a to Grosso fo i a
Exp edição L a n gsdorff, n os a n os 1825 a 1829. p a ra estudar os a nimais
e as pla ntas brasile iras .
O desenhista q u e acompanhava a expedição chamava-se H ercule
Flo re n ce c e le passou ta m bém a escrever sobre as p opulações indígen as
q u e ia m conhecen do n a v iagem.
Sobre os Gu aná e le d e ixou a seguinte d escrição:
42
a lg odão . o taba co e o utras p lantas do p a ís. Fa b ricantes.
possu em a lgun s en genhos de m oer can a . e j azem g ran des
peças de pan o cte a lgodão com q u e se ues tem . a lém de redes
e cintas. Industriais. uão. em can oas s u as ou n as dos b rasileiros.
até Cuiabá par a uen derem s u as p eças de r o u pa , c intos .
s uspen sórios. cilhas de selim e rabaco. "
(I Jercule Flo ren ce, 1825- 1829)
c.,.~..:/.6- ,/.,.:;.-
/;'~o<4'--.~ .
43
Duas pirogas de Guar)(ÍS. 182 7
44
• •
••
•••
A TIVIDAD E S
I. Os Guaná no Êxiva
Quem fo ra m o s Gu a n á?
45
Escreva o nome de outros povos que habitavam a região do Chaco.
(j
Pedir para os antigos (avós) conta r e m his tó rias d a v ida d os T e rena n o
Êxiva e escreva n as linhas abaixo . D epois faça um d esenho.
47
Agora faça um desenho sobre essas histórias.
4H
2. Contatos entre Guaná e brancos
49
Observe no mapa 4 os fortes construídos p e los portugueses e explique,
com suas palavras, por que foram construídos.
5()
4. Os Terena na época do Império brasileiro
5 1
Desenhe a aldeia descrita por Castelnau.
Capítulo 111
Os Terena e a
Guerra do Paraguai
A Re tiracta da Laguna.
• •
1 . A Gu e rra do Pa ragu a i
Na América do Sul, a região dominada pelos portugueses manteve-
se unida após a Independência e m 1822. formando um só país, o
Brasil .
Com as colônias espanholas não aconteceu o mesmo. As re g iões
dominadas pelos espanhóis, ao se libertarem . formaram vários países
independentes . Foi o q ue ocorr u c om o Vice-Reinado do Prata, do qual
fazia parte a região do rio Paraguai. Após a expulsão dos e spanhóis,
esse V ice-Reinado deu origem a quatro países: Argentina, Uruguai.
Paraguai e Bolívia.
Depois da independência houve vários c onflitos e ntre os países da
região do rio Paraguai c do rio da Prata para delimitar a s fronteiras e
o rganizar s eus territórios. Havia também d iscordâncias e ntre eles por
causa do direito de navegar no rio Paraguai. no rio Paraná e no rio da
Prata . A liberdade de navegação e ra importante para que os países
pudessem realizar seu c omércio.
o Paraguai era um dos países mais poderosos da região naquela
époc a . Não possuía território perto do mar. mas c ontrolava a navegação
no rio Paraguai. o desejo dos g overnantes do Paraguai e ra obter território
55
junto ao oceano Atlântico para exportar c importar produtos . Os
paraguaios começaram a ter vários problernas com os países vizinhos,
principalmente com o Brasil c a Argentina.
Os problemas com o Brasil estavam relacionados ao controle sobre
a navegação no rio Paraguai. pois o rio Paraguai e ra o principal caminho
que ligava a província de Mato Grosso ao litoral brasileiro .
A guerra começou quando o exército de Solano Lopez, o governante
paraguaio, invadiu Mato Grosso em dezembro de 1864. Solano Lopez
usou como pretexto para a invasão, o fato do governo de o. Pedro 11 ter
ajudado a destituir o presidente do Uruguai que era a liado do Paraguai.
Ao mesmo tempo, Solano Lopez tentava conquistar territórios para
chegar ao mar.
A invasão do território brasileiro pelo exército paraguaio foi feita por
dois g rupos de soldados. um atravessou o rio Paraguai em direção ao
·forte Coimbra e Corumbá , que foram facilmente ocupados. O outro g rupo
atravessou o rio Apa, em Bela Vista, e avançou em direção de
Aquidauana e Miranda. O exército paraguaio também invadiu o te rritório
argentino. na província de Corrientes , para alcançar a província brasileira
do Rio Grande do Sul.
o Brasil, a Argentina e o Uruguai uniram-se e formaram a Tríplice
Aliança para combater os paraguaios. A Tríplice Aliança recebeu armas
dos ingleses, que desejavam ter negócios no Paraguai depois que Solano
Lopez fosse vencido .
Durante a guerra, parte das tropas brasileiras e ra formada por
escravos negros. A esses escravos o imperador o . Pedro 11 havia
prometido a libe rdade quando a guerra acabasse.
o governo brasileiro também chamou índios de Mato Grosso para
combaterem os paraguaios. Os Guaicuru lutaram ao lado do exército
brasileiro. enquanto os Terena, que sempre foram grandes agricultores.
além de enfrentar o e xército paraguaio, também participaram da guerra
fornecendo alimentos para os combatentes.
Os exércitos da Tríplice Aliança entraram em Assunción. a capital
do Paraguai, em j aneiro de 1869 , mas . os últimos comba t e ntes
paraguaios só foram derrotados em 1870.
Após quase c inco anos de luta. o Paraguai estava totalmente
arrasado. A maior parte de sua população masculina estava morta ou
mutilada. No início da guerra a população paraguaia era de 800. ooo
,....(....
'- )
pessoas, mas e m 1870, quando a guerra terminou , e ssa população e ra
ele apenas 1 9 4. ooo pessoas.
O Brasil pôde então dominar a navegação do rio Paraguai e demarcar
suas fronteiras da maneira que achou melhor, tomando partes do território
paraguaio. A Ingla te rra , por s ua vez. tambén1 pôde e xplorar a s riquezas
do Paraguai.
Relatos de Taunay
-~
~ >'
"... Pouco depois morrera, com um dia de moléstia apenas.
um índio terena recebido na enfermaria de Bella Vista".
58
o u avental de algodão, cinta abaixo dos seios, com uma das
pontas passadas entre as coxas e segura à cintura.
Raras dentre elas s abem falar o português: todas p orém o
compreendem bem. apesar d e fingirem não o entenderem."
'Taunay e os koixomuneti
(i O
O c urador ia cantando pela madrugada afora e e ntão parava por
um longo tempo. De repente ouvia-se. bem lo nge, o g rito do macauã.
que e ra respondido pelo c urador. Os pios do pássaro ia m se aproximando
cada vez mais e no final ó ko ixomuneti começava a fazer as previsões.
Taunay confessou ter ficado muito impressionado com a conversa e ntre
o ko ixomuneti e o macauã e desenhou um deles:
ti l
N e ssa é poca o c a pitã o dos Kinikina u d e Agaxi e ra um velho
chamado Flávio Bote lho que n ã o esta va fazendo certo com o p ovo.
R e voltado, o povo do Aga xi d estituiu o capitã o e coloc ou Pacalalá e m
s e u lugar. s egundo Taunay . Pacala lá:
A prime ira coisa que Pacala lá fez depois de e le ito capitão fo i p edir
que s e u povo a b ando n asse a a ld e ia e rn busca d e re fúg io. Enquanto
velhos. mulheres e c ria n ças carregavam o que e ra p ossível p ara as m atas
d a serra d e M a racaju . Pacala lá foi com trinta ra p azes a té Miran da p edir
a rmas às a uto ridades b r a n cas. para e nfrenta r os paragu aios q u e se
a proximavam .
C h egando e m Miranda. Pacala lá c seu s companhe iros p ercebera m
que ning u é m na c idad e tinha inte n ção de resis tir aos paragua ios e as
a utorida d es se recu sara m a e ntregar a rmas aos índios .
A lguns dias d e p o is, todos os bran cos fug iram d e M ira n da. d e ixando
o a rsen a l d a c idad e c h e io d e armas e munições. Os Kinikinau . junta m ente
c om os T e re n a. L ayan a. e ntra ra m n o a rsen al e se arma ra m sozinhos.
a ntes que os p a ragu aios c h egassem e foram para a serra d e Maracaju.
Qua n do os índios c h egara m à serra . os bra n cos ta mbé m tin h a m
s e re fug ia do lá e esta v a m p ass a ndo fo m e. L ogo o s Kinikinau e os
Tcrcna com eçaram a fazer s uas roças e e m pouco tempo havia comida
para todos .
Os paraguaios haviam ocupado toda a região e ntre o rio Apa e o rio
Paraguai. A serra de Maracaju, no e ntanto, c ontinuava a ser um abrigo
seg uro contra os paraguaios. De lá desciam Pacalalá c seus
companheiros para roubar o gado dos parêlguaios e assim abastecer os
re fugiados com carne.
Certa vez, e nquanto tocavam os bois para a se rra, forarn
surpreendidos por uma patrulha paraguaia . Pacalalá, então. o rganizou
uma e mboscada. matando o comandante da patrulha e levando seu
cavalo como troféu.
Em 1866, q uêlndo as tropas brasileiras a inda estavam muito longe
de Miranda, Pacalalá foi com seis Kinikinau e dez Terena a té um canavial
na margem dire ita do rio Aquidauana, para faze r rapadura. Passaram lá
alguns d ias , sem ver nenhum s inal dos paraguaios. Isso fez com q ue se
descuidassem um pouco da vigilância. Mas. foram v istos por uma
patrulha inimiga q ue c hamou reforços c foram cercados por quase
d uzentos soldados paraguaios.
Pacalalá an imou seus companheiros a e nfre ntar os inimigos com
coragem, e logo nos primeiros disparos os índios mataram uns doze
paraguaios e abrigaram-se. então, em uma mata p róxirna. de o nde fizeram
os soldados inimigos re troceder. Porém, q uando o inimigo já ia batendo
em re tirada assustado, Pacalalá foi a tingido por uma bala certeira.
Quando a notíc ia da morte de Pacata lá c hegou à serra. todos
choraram. As moças cortaram os cabelos na a ltura cias o re lhas e tiraram
seus enfeites, em s inal d e luto.
()4
facilitavam os lances certeiros das flechas. Os Terena não
d ispondo de muitas flechas. em o bediência ao c acique
desapareceram nas matas.
Cessado o a taque os paraguaios tomaram p rovidências
para enterrar seus mortos. No local fizeram uma enorme valeta
onde enterraram todos os c adáveres juntos. Nesse local os
antigos terena da aldeia Bananal acharam por bem usar como
cemitério na comunidade. (relato de Olímpio Serra da aldeia de
Argola) ...
••
••
•• •
•• ••
•
•
•
- -
ATIVIDADES
1. A Guerra do Paraguai
()7
Escreva uma conseqüência da Guerra do Paraguai.
Quem foi Taunay e por que ele foi ajudado p elos Terena da aldeia d e
Naxedaxe? Pergunte e localize no mapa 4 onde ficava a aldeia de
Naxedaxe.
---------------------------------------------------------- -----
o es cnhe. c om as informações do texto , como te ria s ido a a ldeia de
Naxedaxe.
()9
Por que os koixomuneti são chamados por Taunay de .. padres índios"?
7()
Procure sab e r com ·seus avós o utras histórias sobre a partic ipação dos
Terena na Gu erra do Paraguai. Escreva no espaço abaixo e conte para
seus colegas.
71
Capítulo IV
Tempos da. Servidão
•• •
•
• •
•
• •
-' ....
Muitas terras de posse dos índios foram assim tomadas c vendidas
em leilão; justamente daqueles índios que não eram mais ..selvagens" e
viviam pacificamente com os chamados "civilizados" . Esta era uma nova
situação da história da propriedade da terra no B rasil e a fetou muito a
vida dos g rupos indígenas.
Pel a primeira vez o governo do Impé rio estabelecia em lei a
diferença ent r e "índio bravo - índio manso". O "ín d i o b ravo" era
selvagem porque defen dia a través das armas a sua terra. e nesse caso
o governo reconhecia sua posse. Agora, o "índio manso" não brigava
mais, e ntão podia ser expropriado de sua te rra. E esta era a condição
do povo T e rena .
2. Os Tere na depois da
Guerra do Paraguai
A Guerra do Paraguai m a rcou profundamente a história dos Guaná.
Como vimos. um dos palcos do conflito foi justamente em território deste
povo, que aliado dos brasileiros. sofreram a taques e represálias por parte
das tropas paraguaias. É quase certo que todas as aldeias então existentes
na região dos rios Miranda e Aquidauana desapareceram. com seus
h abitantes buscando refúgio nas serras de Maracaj ú e Bodoquena.
Quando a Guerra do Paraguai chegou ao fim . em 1870, os T eren a
começaram a voltar para suas antigas a lde ias . destruídas durante os
combates. Muitas a ldeias haviam s ido completamente aniquiladas c
nunca mais fo ram reconstruídas ou recuperadas. O antigo território das
aldeias já e ra disputado por novos "proprietários". em geral oficiais
desmobilizados do exérc ito brasileiro e com erc iantes que lucraram com
a guerra c que permaneceriam na região .
Os Terena h aviam lutado na Guerra para garantirem os territó rios
que ocupavam. m as este direito n ão foi garantido pelo govern o b rasileiro
e a vida do povo Terena seria. a partir daí. bem diferente.
Depois de ganhar a g u erra contra os paraguaios. o governo brasileiro
começou a incentivar a ida de purutuyés de o utras regiões do país para
Mato Grosso. Assim, o governo poderia contro la r melh or a região.
guarda ndo a fronte ira com fazendas de gado e plantações.
7()
Aqui dois ínctios Tercna que combm eram no guerra. com u niformes etc oficiais em
ctesuso.
78
"Meu pai. Belizório Ron don , da aldeia Passarinh o , foi ca tiuo
da fazenda Suc uri. Para m a rcar o tem po, era o rientado pela lua
n oua e para a certar a conta com o patrão ele jazia traços na
bainha do facão, m a rcando os d ias do m ês. " (H o n o ra to Ron don
da aldeia Passarinho)
3 . O governo republicano
e os povos indíge nas
Muitas mudan ças aconteceram no p aís depois da Gu e rra do Paragu a i.
Algu mas c i dades, como São Paul o e Ri o de Jan e iro, c r escer am
rapidamente e surgiram as p rimeiras fábricas n o B rasil. E m 1888, o
governo pôs t1m ao trabalho escravo e com eçou a incentivar a v inda de
imig rantes da Europa para trab alhar prin c ipalme nte n as fazen das de café .
O café havia se tran sfo rmado n o p rincipal p ro duto de exportação do B rasil.
o café e ra tra n sportad o a través de estra d as de fe rro a té o porto de
Santos, de o n de era exportado para o utros países. Com parte dos luc ros
da ve nda do café, fo i possível d ese n vo l v e r novas t éc ni cas e
ap erfeiçoam entos nos meios de comunic ação. o Gove rno do impera d o r
o. Pe dro ll h avia também inic iado uma polític a d e insta lação d e linhas
telegráficas .
Em 1889. enquanto o povo T ere n a ainda v iv ia n o tempo da s ervidão,
o imperador D. Pe dro ll foi tirado do pode r por u m grupo d e m ilita res
apoiados por g rupos sociais q u e d esejavam mudanças nas le is e na
o rganizaç ão econ ômica do país. O Brasil. então , d e ixou de ser uma
monarquia e se to rno u u m a república . gove rn ad a p o r u m presidente.
o g o v e rno republica n o a m p lio u a política de con s trução de estradas
d e fe rro e d e linha s te legrá ficas para melho rar a comunicação e o
tra nsporte en tre o litoral e o interio r do país e forta lecer seu con tro le
sobre todo o te rritó rio b rasile iro . As estradas d e ferro facilitavam ta m b é m
o transporte de p rodutos para os portos do Ocean o A tlâ n tico. d e ond e
e le s s e riam exportados para países d is tantes.
A instalação d e linhas d e te lég rafo. ligan do o lito ra l ao inte rio r do
país , fa zia parte das g ra n des transformações p ro m ovidas p e lo governo .
o t e l égr afo e ra o m e io d e c omunicação à dis tâ n c ia m ais rá p ido e
m o d erno que exis tia n aquela é poca.
Em 1888, um a n o antes d a R ep ública ser p rocla m ad a, o imperador
o. Pedr o 11 crio u a Com issão Con s trutora de Linhas T e legráficas . O
o bje tivo dessa Comissão e ra ins ta la r linhas de telégrafo por todo o in te rior
do B rasil e s u a p rimeira missão foi levantar os p ostes telegráficos da
c idad e paulis ta d e F ra n ca a té a c idad e de Cu iabá n o Mato Grosso.
"'O poste teleg ráfico uai alJrinno C(lminho ii c iuilização. E . n este caso. duplamente: os
o p erários que o erguem s ão quase tonos recrutcKios entre o s indígenos locais.~
H<>
Os p rimeiros índios que participaram dos trabalhos da comissão
foram os Bororo . Quando a linha telegráfica c hegou à margem do rio
Taquari, os Boro ro n ão q uiseram mais continuar seu trabalho. Dali para
a frente, d isseram e les. estava o território dos Guaicuru e dos Terena. E,
a partir daquele momento. o trabalho dos Bororo foi s ubstituído pelo
dos Terena. q ue participaram das a tividades da Comissão a té o final.
Essa época ainda faz parte da memória dos mais velhos das· a lde ias:
81
4. A Estra d a d e Ferro Noroeste d o Brasil
82
A construção da e strada de
ferro fez esse conflito ficar mais
v iolento p orque o s trilhos da
e strada de ferro passavam
dentro do território Kaingang. O s
Kaingang c omeçaram a a taca r
os trabalhadores da ferrovia,
q ue também matavam os
Kaingang sempre que tinham a
oportunidade.
83
Funcionários do SPI foram mandados para o território dos Kaingang
tentar fazer um acordo de paz. Em 191 2 um primeiro grupo de Kaingang ,
liderado pelo cacique vauhin. fez a paz com o pessoal do SPI. Depois
dele. outros grupos começaram a depor suas armas.
Com o tratado de paz, os Kaingang foram a ldeados em reservas
mui to pequenas. perdendo a maior parte de suas terras para os
fazendeiros. Nos anos seguintes. a maior parte desse povo morreu de
doenças transmitidas pelos brancos.
Com o fim da resistência dos Kaingang, a ferrovia seguiu em direção
a Mato Grosso. encontrando-se, em 1 9 1 7, com o trecho construído. com
a participação dos Terena. a partir de Porto Esperança. Muitos dos Terena
que trabalharam na construção da Estrada de Ferro Noroeste ficaran1 na
memória dos mais velhos:
84
•• • ••
•••o: •
•
•
• •
• •4
•
•
••
• •
•• ••
ATIVIDADES
Explique com suas palavras o que foi a Lei de Terras de 1850 e escreva
nas linhas abaixo .
85
Por que as populações indígenas ~oram prejudicadas pela Lei de Te rras
de 1850?
Por que o governo incentivou a ida dos purutuyé para Mato -Grosso?
8()
Por que este período da história do povo Tere na é le mbrado c omo
Tempos da Servidão?
87
Quando o Brasil tornou-se uma República?
88
4. A estrada de ferro Noroeste do Brasil
94
reb e ldes à · presença do purutuyé. O utros achavam que os índios
deveriam ser transformados em trabalhadores, s ubstituindo a mão-de-
obra escrava nos trabalhos c om as lavouras e c riação de gado.
Havia também d iscordâncias e m relação à educação e controle
das populações indígenas. Uns defe ndiam q ue a e ducação d everia ser
realizada p e los missionários religiosos. Mas, havia o utros q ue achavan1
m elhor que o governo c riasse um ó rgão especial. sem ligações com a
Igreja. para tratar dos assuntos relacionados aos índios.
o p roblema maior d o governo e ra estabelecer o d ire ito dos índios
ao seu te rritório. Ficou decidido q u e os índios teriam suas " reservas "
delimitadas e controladas por funcionários do governo. Essas reservas
q uase sempre foram menores que os te rritórios a nteriormente ocupados
por cada nação indíge na. E os índios não podiam opinar.
Essa p roposta de política e m relução aos índios c omeçou a ser
p raticada a partir de 191 o. com a c riação do Serviço de Proteção aos
índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPI -LTN). Rondon foi
escolhido para fundar e dirigir o futuro SPI devido a seu trabalho na
Comissão das Linhas Telegráficas. Nesta condição. Rondon. usando de
m eios não violentos, havia c onseguido q ue m uitos povos indígenas que
contatou d urante os trabalhos de ligação telegráfica permitissem a
p assagem da linha em seus te rritórios.
Rondon impôs ao S PI as seguintes linhas de atuação:
f)(j
e por isso os índios continuaram a trabalhar nas fazendas c omo mão de
obra . Não foi respeitada a idéia de território. A forma de organizar o
território pelos Terena, o u seja, a organização do espaço das moradias.
das p lantações. das cerimônias e demais a tividades. não foi respeitada
pelos administradores do SPI .
()-
' I'
famílias (37%) combinavam o trabalho em suas roças com o trabalho
esporádico externo.
Muitos Terena começaram a ir para as cidades em crescimento a
partir do final dos anos so. A saída dos Terena de suas aldeias para as
cidades acontecia porque havia um crescimento da população nas
reservas e a falta de "futuro" nelas. Em 1960, Roberto Cardoso de Olive ira
constatou que haviam 4 1 8 Terena morando em Campo Grande.
98
dos principais- senão o princ ipa l - papel desempenhado pelo núcle o
de poder na reserva (chefe PI. capitão e membros p rivilegia dos do
Conselho).
Mas a "changa " não é s omen t e um a fo nt e de r e nda pa ra
determinados membros da aldeia; hoj e e la se tornou importante para
resolver o problema da sobrepopulação nas reservas - sobretudo para
a imensa maioria dos jovens.
Estes jovens. que integ ram 90 % dos "ch angueiros", se encontram
em um momento d ifíc il. Eles sabem q ue a c hanga é o ú nico destino
que lhes é reservado, c aso queiram construir s u as v idas nas alde ias .
Sabem também q u e, c om pouca e scolarizaçã o. e starão c ompetindo
e m condiç ões de ex tre ma infe rioridade num merc ado de trabalho nas
c idades. A possibilidade de sobrevivên c ia, c omo a tes tam muitos dos
Terena que saíram das reservas Bananal/lpegue e Buriti e foram para a
c idades. é c omo prestadores de serviç os, trabalhando c o mo empregados
doméstic os, empregados de c omerciante s ou c omo mão-de-obra para
serviços gerais.
..(
Estu<1ante Terenu. AtiL 'idw te na Bi/)JiOL'ideotec a do 1VTECA
"Por que nós remos essa terra? Porque nós saluamos a tal
da cidac1e. Por isso nós ganhamos essa terra. quando nós
ganhamos a guerra contra os paraguaios. Eu não alcancei essa
época. mas eu sei porque ouui dos finados meus auós. "
l (_)()
HC'W1ião dos lideranças AITECA. Meninos no sala ele aula.
1() l
ATIVIDAD E S
()2
Por que e quando o SPI foi fechado?
I >~~
Capítulo VI
Cotidiano
nas aldeias:
ontem e hoje
A história elo povo Tercna tem s iclo cte mudanças no seu rnodo de
v iver. Os d iferentes contatos q u e estabe leceram no clecorrer de s ua
história com povos d iversos como os Guaicuru . portugueses e brasileiros
fez c orn que muitos costumes c hábitos de v iciél te nharn se transformado.
O trahalho e as relações com a te rrél e seus p rodutos . as construções
das casas. as vestimentas . os alime ntos c m uitos o utros hábitos d o
co tidiano tên1 rnudado. Mas existcrn características ele v ida que são
manticlas e perrnaneccm. comprovando a resistência elos Ter na e m
rné1ntcr sua identidade corno povo. A língua. festas. re lações familiélres
e políticas. o a rtesanato . e ntre o utras manifestações da c ultura. são
cxernplos ela rnanutenç5o elas características dos Tcrc na. C onhecer e
rc t1ctir sohre as diferentes manifestações c ulturais da v ida c otidiana é
in1portante para o estudo da história do povo Terena. Uma história q ue
tern sido marcélcla por permanências e mudanças.
1 ()7
Ílll lios Gu anô. Hérc u les Florence. 1 82 7 .
1 . Vestuário
Ferna n do Alte nfe lde r. u rn antro p ó logo que v is itou as aldeias Te rena
por v olta d e 1940 , estudou os re la tos escritos dos purutuyé do século
passado e r eco lhe u dep o ime n tos d e info rmantes Terena. B aseado
n esses d ocume n tos, A ltenfc lder com ento u q u e entre os antigos Teren a .
I ()8
.\lu/hcrcs Tcrenn no ((('n ulo etc q uurenro.
I ()9
Ainda segundo Altenfelder. a pintura do c o rpo e ra indispensável
nas dan ças e festas. P intavam o c o rpo c om riscas. e m branco e preto e
utilizavam-se do jenipapo e do carvão veget al. um elos viajantes que
visitou os Terena no século passado. descreveu assim a p in tura cJos
Te rena:
I I()
Dcs nhc , baseado nas informaçôes acima, as vestimentas elos Terena
de a ntigarncnte.
I I I
Você leu sobre Kali Siini na parte q u e trata da Guerra do Paraguai. os
mais velhos contam q ue e le c h egou com uma pele de o n ça nos ombros.
Ele seria um "chefe de g u e rra "?
oesenl:le alguns dos motivos que são usados nas pinturas do corpo e
dos e nfeites da dança do bate-pau . Q ue tinta é usada nestas p inturas?
1 I2
2. Moradia
I 13
Em cada casa viviam várias famílias obedecendo a um chefe . Os
Terena h abitavam aldeias. oneo, onde as casas se distribuíam em círculo
ao redor de uma praça central none-ouocuti. Não havia distinção especial
no tocante à casa do chefe da aldeia , nem parece ter havido d istribuição
especial com referência à localização das metades tribais (Xumonó e
Sukirikiano). A aldeia constituía uma unidade política. mas a unidade
econômica era a família (a qual abrangia pais. filhos , genros e escravos) ;
a posse de escravos. os Kauti , significava auxílio na guerra e no preparo
das plantações.
l 14
Desenhe. com as informações dadas pelo texto acima. como seria uma
antiga aldeia Tcrena e compare com a que você mora. Procure construir.
em miniatura. uma casa tradicional.
15
Antigamente "as portas eram simples aberturas. sem outra proteção". E
hoje. esta afirmação continua sendo verdadeira? Por que os Terena
necessitam de portas trancadas?
Por que o a utor afirma que a "unidade econômica" era a família? A família
Terena ainda permanece organizada desta forma?
I I ()
L eia agora sobre o interior das casas dos antigos T e rena:
I 17
Descreva o interior de uma casa Terena atual. Quais são os objetos.
móveis e utensílios encontrados no seu interior?
1 18
3. As artes: cerâ mic a ,
cestaria e tecelagem
Nas casas dos a ntigos Terena, c onforme o relato e a foto anterior,
havia muitos o bjetos de cerâmica e cestaria. A fabricação dos vários
objetos e ra feita pelos homens e pelas mulheres.
No mito dos gêmeos Yurikoyuvakái, o herói c ivilizador dá a os
homens as armas e os instrumentos agrícolas. e , às mulheres. o fuso.
justificando a ssim a divisão do trabalho masculino e feminino. Se a
limpeza da roça e o prepar o da terra e ram tarefas masculinas. às
mulheres cabiam a s tarefas de fiação, a cerâmica e c uidados caseiros.
Na fiação, tarefa feminina, empregavam-se fibras de a lgodão, de
palmeiras e de um arbusto denominado yuhi. Para fiar o algodão.
deixavam-no p or alg uns dias mergulhado na água. Com esse tratamento
I I9
as fibras de yuhi. eram facilmente separadas e depois de secas e ram
fiadas com o auxílio do uosso-copeti. Com as flbras de yuhi faziam dois
tipos de bolsas; u ma pequena, uerii, para g uardar frutas. pequenas
cabaças e outros o bjetos; e o utra maior, n imaquê, para o transporte de
mandioca e o utros p rodutos da roça para as moradias. Faixas de algodão.
denominadas héo-eti. e ram utilizadas para pre nder os x iripá, a marradas
à c intura.
l 2()
Folhos ele Coranctá exposras oo sol pura secar. empregue/os no confecçclo ele chapéus
de palha e abonos.
124
As mulheres Tcrena, segundo vários re la tos, sempre conh eceram
e empregaram o processo de espirais de a rgila para fabricação de potes
e panelas. Um cientista, de n ome Richard Ro hdc, que dirigiu uma missao
científica no Brasil no ano de 1883-84, contou que, quando a peça estava
pronta. os Tere na faziam inc isões no barro ainda mole com uma corda,
formando o motivo, c a peça era deixada depois para secar ao sol por
uns dias e depois cozida. Depois a louça e ra re tirada e pintava-se o
modelo com a resina do p au-santo. com a peça ainda e m brasa. Mais
tarde com a louça já fria, o desenho era terminado com as cores vermelho
e b ranco.
-
1 --:>,....
.... "')
Um o utro purutuyé. Kalervo Obcrg. que e steve e ntre os Terena cn1 1949.
escreveu que os potes Tercna . depois de queimados. eram decorados
com a c or preta para a q ual e ra usada a resina de jatobá.
(}ueimancto cer(lrnica.
Qtwinwncto peços df' cerâmico dt>JJOis de pintodns.
1
_. .) _,
As fotos apresentando a cerâmica são de épocas diferentes; que
mudanças você pode observar nas peças? Por que. no decorrer do
tempo, as ceramistas mudam o formato e o tamanho das peças?
Para a fabricação da cerâmica, as mulheres continua m utilizando a
mesma técnica que suas a nte passadas?
-
Observando a foto. você saberia dizer o que estas mulheres estão
preparando?
o texto abaixo, baseado nas informações de Altenfelder. conta um pouco
sobre as comidas dos antigos Terena e o mocJo de prepará-las. Leia.
132
Ac;; espig as eram co/hirtas ainda uerdes e tostadas ao jogo.
f er uenta das o u ainda e_c;mag adas para o preparo de p equenos
b o los d en o minados chipa. O milho era a inda utiliz ado n o preparo
d e b ebidas f erm entadas.
Embo ra d esconhecessem o processo cie fabric a ç ão ela
farinha d e mandioc a , que só mais tarcle uiera m a dominar. os
antigos terena teriam c ultiuado a mandioca braua. s uáiti-tchupú,
a por com as uariedades não uen en osas . ech o ti-tchupú. A
mandioca m an s a era comida c o zida ou as sada. As uariedades
uen en osa s eram utiliz adas na fabri c a ç ão d e b o linh os.
d en ominados hihi. ou de b olos maiores. hopape. D epois d e
raspada a casca da m andioca braua com fac as d e madeira .
p eritau. esmig alhauam o miolo em ralado res d e madeira. A massa
assim o btida era en uoluida em tecidos de algodão. que eram
retorcidos com o auxílio ele uaretas rte madeira. Libertada cio caldo
uen en oso a massa era cozida em panelas d e barro até p erder o
s abor amargoso. A mandioca m ans a era muitas uezes cozida
de mis tura com p edaços de carne o u p eixe m o queado. "
Quais são as diferenças entre o que se come hoje nas aldeias e o que
os purutuyé comem?
Os Terena ainda caçam? Como? Quais são os animais que ainda são
encontrados dentro da área?
13f)
Escreva a lg uma his tó ria sobre animais que s ã o c ontadas e m sua a lde ia.
13~)
6. Festas e cerimônias
A re lação e ntre pais e filhos e ra de muito respeito e afeição. o
casamento e ra uma decisão familiar. Taunay escreveu que
14()
f ilhos que cegamente lhes o bedecem ... Sujeita-se a moça à
imposição paterna. aceitando sem murmurar o esposo que lhe
apresentem. o u desprezando aquele c uja separação aconselharam.
No casamen to regular, esco lhe o noiuo a futura esposa
q uando a inda criança. Dela c uida. ueste-a, c oncorre para a
alimentação dos pais, por quem é considerado filho . Aos dez
a nos. mal lhe apontam os peitos . a inda não núbil. é a
rapariguinha noiua entregue ao futuro marido. Com ele a enrolam
em uma esteira. ao redor do qual dan ç am o s pais, parentes e
conuidados. cantando. bebendo e comendo os presentes .....
14 I
Faça uma pesquisa sobre como eram os casamentos. Quais eram as
obrigações do noivo e da noiva e de suas famílias? Corno era a festa
que tornava público o casamento? Compare com a situação atual.
142
A união fam iliar podia ser percebida também por ocastao do
fa lecimen to de um 1nembro da família. Taunay relatou q ue. na época da
guerra do Paraguai, perto de seu rancho de palha, nos Morros (Se rra
Maracaju)
1 3
Quando uma mulher morre. de uolta do enterro, quebram-
se todos os potes. pratos etc. .. É o seu rancho, também .
comple tamente desmanchado.
Meses depois do falecimento de um parente qualquer
recordação p r ouoca vio l entas explosões de dor, Jogo
acompanhadas por todas as uelhas da aldeia. A duração do
luto uaria conforme o grau do parentesco ... "
144
Flagrante da assistência e do Pajé cantando. evocando os espíritos. O c ulto começa
de noite e termina com o raiar elo sol , revezando o Pqjé com a s ua mulher.
I t-5
chuva. os pássaros foram embora e limpou o tempo. A en1a
ficou no céu como o koixomoneti mais forte a tinha virado"
(Antônio Lulu Kaliketé. 194 7, Araribá, SP)
14(j
Culto rcliuioso dos Tere nu <'n 1 cnchoeirinha.
147
Acinw. dois indios Terena com s ua inclumenrâria <la dan(a elo MBate-Pau". Abaixo. em
coluna cle dois. os lanças de bombu /cvontadas. batendo na lança do companheiro
ao lado. marcancto sernpre a c adência.
"E naquele tempo, quando terminou a guerra do Paraguai,
as pessoas que começaram a se juntar de novo ficaram alegres
e este é o Bate-Pau, vermelho contra azul. E este azul começou
a se manifestar de alegria. Por isso criaran1 a bandeira azul dos
purutuyé. E esse vermelho é o sangue de nossos avos. dizia
meu avô. Por isso nós ganhamos n ossa terra. por causa dos
sangue de n ossos avós. Então por isso que os dois cabeças do
Bate-Pau se perguntam: c daí. .. nós vamos brigar? "e
respondem : Não. nós vamos brincar e começar a ficar alegres!.
disseram os lados azul e vermelho"
(João Martins Menootó)
14
Agora faça um desenho sobre a dança do " Bate-Pau".
l 5()
Para finalizar este livro, em que vocês também são os autores , e s c reva
. sobre os problemas atuais de sua comunidade e como você pensa o
futuro de seu povo.
Círculo risc(lc/o no cheio renclo no centro um máchacto. com a I<imina enrerracla. o que
s ignifico: Pec1icto para que o rempom/ posse Jogo.
Créditos Fotográficos
os desenhos elas abertur<ls <I<: capítulo e c.Hivicl ~tdes s<1o motivos cl<1s p intums da c en:i mica
Te re na .
As fotogmfifls da Cole<;ilo llarcll<l Scllultz . 19 42 . I oram gentilmente cccli<las pelo Museu <lo
tmlio - RJ - Fl 'NAJ. Setor de 1\ntropolo~ia V isual. Os negativ os forélrn ampli a dos c
r<•tocados p or Sér~io B urglli.
. \~ foto~rafifls desta cole<; ilo aparc<.:em nas páginas : 1O. 1on. 1 13. 1 17. I 19. 121 . 122 .
1~4 . 125. 120. 127. 131. 132. foto inferior ela 13 5 . 139. 14 0 . 141. J45 . as cluas fotos da
14 7 . i<l('m na 148. I :i I l' 15:i .
153
Página 43. Gu<:initá. c h e fe cJos g uam1s. A lbuquerque . c . de 1R26. a quarC'Ia. 28.7 x 25.1 na
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Melhorarnc ntos. 1935.
156
Este é un1 livro d él história do
povo Tercnu. un1a puJ..>L tlação de quase
ts .ooo pessoas. que h oje habita na
regi5o oeste do Mdto-G rosso elo Sul e ,
en1 rncnor parcela. no i r "l t e rior elo estado
<le São Paulo, pélra u qual foram
deslocaclos hé'l élp r c> xirnadarnentc
cincocnto anos. {)S Terena estão
dispersos crn un1 tcrrit<"'->rio fragmentado
en1 pequenas áreas e cercados por
granctes fnzcnrlas. Vivc." rn da agricultura
ele subsistência c do trat->alho tcrnporário
nas usinas ele c a na- d e-açúcar. I lá
tan1hérn un1 ~ranele nú m ero de Tere na
desaldeaclos. vivendo n a periferia de
grandes cid<:tcies. corno Campo Grande.
Miranda. Aquidauna e B r asília.
A equipe que cs c r eveu este livro
teve con1o preocupE\ ção vincular a
história do povo Terer1 a à história das
demais populacôcs b r asilei ras . Os
temas significativos da t r ajetório Tercna
articulam·se ao processo histórico dos
povos Aruák. <.1 colonização e ocupação
européiu nas terras elo sul do continente.
à {;uerra do J>·draguai. n 1.a rco divisório na
história desse 1>ovo ao l e var à rcdução
ctrástica dc scus tcrritóric._ >.s c às mudanças
, rnodcrnizantcs na reg i ão. Conhecer a
histór ia elo povo Tcrcn u é n1ais do que
saber sobre a viela c t ns populações
inctíg nas. É tarnbérn r pensar a história
do Brasil. É urn<:t his túri u ctos outros 300
anos.