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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
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Viagens
A Suíça
sobre carris
Uma semana a desbravar o país de comboio. Entre lagos,
paisagens alpinas, desníveis vertiginosos - e carruagens abertas
para absorver melhor os cenários. Carlos Cipriano
DR
a É em autocarro que normalmente eléctricos e autocarros. É a forma
se deslocam grupos de jornalistas mais rápida de ligar algumas popula-
convidados para conhecer um país. ções em torno do lago.
O autocarro espera-os no hotel, leva- A companhia privada que explora
os a conhecer os locais turísticos, estas rotas recebe compensações das
deixa-os e recolhe-os nos restaurantes autoridades públicas pelo serviço de
e deposita-os no hotel ao Æm do dia. transporte público, mas o seu negó-
A Suíça fez diferente e durante seis cio assenta no turismo. Os navios são
dias andou a mostrar grande parte do bem maiores que os velhos cacilhei-
país a convidados estrangeiros usan- ros de Lisboa. Têm restaurante de
do o modo ferroviário – comboios de segunda classe e de primeira classe,
via larga e de via estreita, comboios mas este último Æca no convés supe-
de cremalheira, funiculares e, sim, rior e, logo, com vistas mais alarga-
também, um barco e um teleférico, das.
provaram que os transportes públi- O Caminho-de-Ferro de Pilatus,
cos, a mobilidade sustentável e o uso que merece uma visita durante a tar-
de modos de transporte amigos do de, é um dos caminhos-de-ferro de
ambiente são levados muito a sério cremalheira mas íngremes do mun-
pela Confederação Helvética. do. A sua inclinação – pasme-se! – atin-
tudo útil para o transporte de merca- museu, são das peças mais interes- ge os 48%, ou seja, o comboio sobe 48
Segunda-feira dorias que atravessam a Suíça entre santes, mas podem também visitar- metros em cada cem. Parte da esta-
a Alemanha e a Itália. A ênfase da obra se os primeiros comboios de crema- ção de Alpnachstad, onde se chega
O comboio de cremalheira
é colocada no ambiente: estava fora lheira e funiculares suíços, carrua- por um comboio de via métrica que
para o monte Pilatus de questão deixar tantos camiões gens diversas e uma zona onde as sai da estação central de Lucerna.
Num país que faz gala do seu serviço atravessar o país. Estes apanham o crianças brincam aos comboios e de Nesta linha, os horários são cadencia-
público de transportes, não se pode- comboio eléctrico e atravessam os onde os pais diÆcilmente as conse- dos e partem de cada estação aos
ria dispensar uma visita ao museu de Alpes sem gastar gasóleo nem emitir guem arrancar. mesmos minutos de cada hora. Sendo
Lucerna, onde a história do caminho- gases com efeito de estufa. Um cruzeiro pelo lago dos Quatro uma linha de via única, os cruzamen-
de-ferro suíço é contada através de O respeito pelo ambiente parece Cantões, com almoço a bordo, ocorre tos são feitos nas estações e o que
objectos e de painéis interactivos. estar no ADN suíço. Nas primeiras sob um céu nublado e uma chuva surpreende é que o tempo de espera trincheiras, viadutos e outras obras
Logo à entrada atravessa-se uma décadas do século XX os CFF (Cami- miudinha. Ainda assim, a paisagem é quase inexistente. As composições de engenharia que fazem cortar a
réplica, com 15 metros, do que é o nhos de Ferro Federais) já tinham não desilude. É suíça, como nos pos- chegam à estação, pontualmente, respiração.
túnel de base do São Gotardo, uma electriÆcado grande parte das suas tais. O lago é ladeado por zonas ver- como um relógio suíço, cruzam e Mas há limites para fazer um com-
das obras de engenharia suíça e italia- linhas e desde 2004 que a Suíça tem des com aglomerados populacionais seguem viagem sem atrasos. boio galgar pendentes cujas inclina-
na mais relevantes do século. a sua rede integralmente electriÆca- perfeitamente integrados na paisa- Antes de subir o monte Pilatus, ções são um verdadeiro desaÆo à
No interior do museu, uma maque- da. Esta Crocodilo que aqui vemos é gem. Avistam-se chalés e hotéis da façamos uma pausa para explicar gravidade. Por isso, inventou-se o
te reproduz, à escala de 1/200, as um símbolo desses primeiros anos da Belle Époque. O velho e o novo coe- que na Suíça coexistem as linhas de comboio de cremalheira, o qual tem
montanhas alpinas que são atraves- electriÆcação. xistem perfeitamente. Nada é exces- via larga (bitola europeia de 1,44 uma roda dentada que “morde” um
sadas por este túnel com as respecti- Expliquemo-nos: a Crocodilo é sivo. Nada fere a vista. É tudo apenas metros) e as de via estreita (também terceiro carril, igualmente dentado, e
vas estratiÆcações geológicas e expli- uma das primeiras locomotivas eléc- muito bonito. designadas de via métrica, se bem que permite “agarrar” a composição
cações técnicas sobre a obra. Este é o tricas suíças. Verde escura, enorme, O navio destina-se essencialmente que nem todas meçam exactamente à via férrea sem risco de escorregar.
maior túnel ferroviário do mundo: feia, faz jus à sua alcunha, mas é uma a turistas, mas faz também de trans- 100 centímetros). Ao contrário de E é isto que vamos agora experi-
mede 52 quilómetros, mas na verda- maravilha da tecnologia dos anos 20 porte público. Quer isto dizer que Portugal, neste país investiu-se nes- mentar. Mas só mais um pormenor:
de é constituído por 152 quilómetros do século passado. estes barcos cumprem horários e apli- tas linhas que têm comboios moder- um comboio de cremalheira não é
de galerias. Além de ter encurtado a As locomotivas a vapor, toneladas ca-se-lhes o tarifário dos transportes nos que circulam rápidos por traça- um funicular. Este último pode tam-
viagem entre Zurique e Milão, é sobre- de aço e de cobre, em exposição no de Lucerna igual ao dos comboios, dos montanhosos, por entre túneis, bém circular sobre carris, mas é puxa-
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RHÄTISCHE BAHN
do por um cabo, tal como se fosse um hotéis alcandorados a 2132 metros de Em Pilatus esteve a rainha Vitória, de cremalheira, dá, contudo, alguma
i elevador.
A subida para Pilatus demora uma
altitude. Sair do conforto dos salões
panorâmicos e fazer um passeio exte-
em visita à Suíça, em 1868. Mas subiu
de burro. O Hotel Pilatus Kulm já exis-
tranquilidade.
meia hora de puro prazer. Primeiro rior é uma experiência radical, com tia, mas o caminho-de-ferro só foi Terça-feira
As possibilidades de viagens através de bosques que mal deixam o vento a uivar e bátegas geladas de construído em 1889, à época com veí-
Um teleférico com primeiro
sobre carris pela Suíça ver a paisagem que se agiganta lá em chuva a baterem no rosto. Há um con- culos movidos a vapor que venciam
são imensas. Há passes baixo. E depois, passados alguns junto de túneis com “janelas” abertas as pendentes à vertiginosa velocidade andar em Stanserhorn
para visitar o país de comboio túneis, através das rochas das monta- na rocha que deixam ver a paisagem. de 3,6 km/h. Hoje, mesmo com trac- Treze minutos num comboio de via
e estão todos especificados nhas onde cada subida parece sempre Não é aconselhável para quem tem ção eléctrica e modernos sistemas de estreita, nove minutos num funicular
em www.sbb.ch/fr/loisirs-et- mais íngreme que a anterior. Não é vertigens, mas, houvesse sol, um tem- segurança, a velocidade não ultrapas- e outros nove num teleférico. Assim
vacances/inspiration/ exagero: a linha foi, literalmente, po morno e uma brisa suave, e isto sa os 12 km/h. se pode resumir a viagem do centro
voyageurs-internationaux/ esculpida na montanha. parecer-se-ia ao paraíso. Os dois A descida é mais impressionante de Lucerna ao monte Stanserhorn, a
swiss-travel-pass.html. Olhando para trás, vemos que já hotéis têm promoções que vão dos do que a subida e pode mesmo ser 1900 metros de altura. Mas na Suíça
ultrapassamos as nuvens e que mal 230 aos 298 francos suíços (aproxi- assustadora, tal é a inclinação em que as viagens valem também por si. Nem
se distingue o lago lá em baixo. O mes- madamente o mesmo em euros) por o comboio mergulha, como se esti- sempre interessa o destino – para um
mo acontece no complexo de Pilatus, noite, para duas pessoas, e incluem vesse numa montanha-russa. Conhe- turista, a viagem já é (também) um
onde chega o comboio que serve dois também a viagem de comboio. cer o funcionamento de um sistema Æm em si mesmo. c
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Viagens
RHÄTISCHE BAHN
ALEMANHA
Zurique
Berna ÁUSTRIA
Lucerna
SUÍÇA
Davos
Tirano
I TÁ L I A
FRANÇA 45 km
ferro para Rigi. No século XIX a pro- que estão permanentemente a chegar
cura turística para visitar estes picos e a partir. Às 15h15 apanhamos um
das montanhas de boas vistas e ares Inter-regional da Sudostbahn (uma
puros já justiÆcava o investimento. empresa “privada” que na verdade é
Em 1907 a linha era electriÆcada (em pública porque a maioria dos capitais
Portugal a primeira linha electriÆcada são do governo federal e dos cantões),
foi a de Cascais, em 1926, e seria pre- que nos deixa às 15h55 em Zurique
ciso esperar até 1957 para a de Sintra depois de uma viagem em que se
ter também comboios eléctricos), recreia a vista pelos lagos e monta-
dispensando assim a tracção a vapor. nhas que atravessamos.
É que a Suíça não tem carvão, mas Nesta maratona ferroviária o pró-
dispõe de abundantes recursos hídri- ximo comboio é o Intercidades dos
cos, o que justiÆcou o recurso à elec- CFF que possui a tal carruagem pano-
triÆcação. râmica que faz as delícias dos passa-
Apesar do Inverno rigoroso, do geiros menos habitués. É como viajar
vento e da neve, a exploração decor- numa cápsula envidraçada atraves-
re durante todo o ano graças à robus- sando cidades, pontes e túneis e que
tez do transporte ferroviário, possuin- depois de se despedir do lago de Zuri-
do a empresa limpa-neves sobre que logo inicia a subida dos Alpes ao
carris que asseguram uma frequência longo de um rio caudaloso.
de, pelo menos, um comboio por O comboio tem um serviço que é
hora na época baixa. Se nos meses de cada vez mais raro nos caminhos-de-
Verão aÇuem mais turistas para des- ferro da Europa – uma carruagem-
frutar da paisagem, no Inverno, como restaurante, com refeições a sério,
as pistas de esqui nesta zona não são não plastiÆcadas, e uma carta de
especialmente famosas, a própria vinhos razoável. Para alguns passa-
empresa dos caminhos-de-ferro geiros, sobretudo quadros de empre-
Viagens
que o cantão de Grisões tem 150 Em Filisur é impressionante a cadên- nariz encostado ao vidro. Treze minutos depois chega o próxi- 260 mil turistas. Mas nesta linha cir-
vales e 600 lagos, o que a torna um cia dos comboios que chegam e par- As próximas automotoras que a mo comboio para Disentis-Munstér. culam também comboios regulares
dos destinos turísticos mais bonitos tam. O nosso chega, pontualmente, Ferrovia Rética encomendou (desi- Mas este – hélas! – traz um veículo azul que transportam um milhão de pas-
e exclusivos da Suíça. às 11h01, para nos levar até Reiche- gnadas Capricórnio, o símbolo do no meio da composição branca e ver- sageiros por ano.
A chegada da via férrea em 1890 foi nau-Tamins. Incrível como num mes- cantão de Grisões) já não serão como melha. Trata-se de uma belíssima A composição de hoje é composta
determinante para o turismo e des- mo comboio os suíços põem carrua- estes comboios, compostos por loco- carruagem-restaurante dos anos de por nove veículos panorâmicos bas-
envolvimento de Davos. Deveu-se a gens tão diferentes. É um simples motiva e carruagens, mas a empresa 1930 na qual será servido o almoço a tante confortáveis. Tecnicamente, do
empreitada a um holandês, Willem regional, mas tem uma carruagem teve o cuidado de pedir ao fabricante bordo. Uma salada seguida de zuri ponto de vista ferroviário, é formada
Jan Holsboer, cuja mulher, tubercu- para as crianças poderem brincar para que, apesar do ar condicionado, geschnetzeltes, um prato típico de por uma UTE (Unidade Tripla Eléctri-
losa, morreu antes de poder tratar-se (com jogos e um escorrega), outra as janelas se possam abrir. É que a Zurique à base de iscas com mousse ca) que reboca seis carruagens.
no sanatório que havia na cidade. A para transporte de bicicletas e outras paisagem dos Alpes suíços é um bem de batatas, acompanhado com branco Com cerca de 200 pontes e 44 via-
viagem, em carroça, foi fatal para a onde se podem abrir as janelas para escasso e único. Seria grave não lhe e tinto da região. O branco era bom. dutos e túneis, este é um dos três
infeliz esposa, mas o marido prome- se fazer fotograÆas sem reÇexo e des- permitir o acesso desde o comboio. Michel Pauchard, director de caminhos-de-ferro do mundo classi-
teu que iria encurtar os tempos de frutar da paisagem sem estar com o São 11h52 em Reichenau-Tamins. Marketing da Ferrovia Rética, diz que Æcados como Património da
viagem para quem quisesse chegar MAX GALLI
a sua empresa mantém ao serviço UNESCO. Há mais outro na Áustria e
rápido aos ares puros da montanha e quatro comboios regulares em cada outro na Índia. A Alemanha tinha um
acabou como o promotor do cami- serviço entre Chur e St. Moritz com em Dresden, mas perdeu a classiÆca-
nho-de-ferro para Davos. carruagem-restaurante. São todas da ção por causa de uma ponte que não
Um passeio nocturno pela cidade primeira metade do século XX, de cor obedecia aos critérios da organiza-
(só tem 12 mil habitantes) é pouco azul, destoando do resto da compo- ção. Michel Pauchard aponta para
menos que deprimente. Não há nin- sição, mas acentuando o ar clássico um dos inúmeros túneis que acaba-
guém nas ruas, ladeadas de hotéis e que pretendem dar ao momento da mos de atravessar: “Remodelámos
de casas incaracterísticas. Não pas- degustação. todo o interior do túnel, mas na
sam carros e a vida nocturna resume- entrada tivemos de manter as pedras
se a meia dúzia de clientes em alguns Sexta-feira em vez de pôr cimento para manter
bares de hotéis. a fachada original”, explica.
O Bernina Expresso
A linha do Bernina é realmente
na via férrea que é espectacular e parece incrível como
Quinta-feira
As carruagens abertas para património da UNESCO é que, com os meios do século XIX, à
Um dos comboios mais famosos do custa de pá, picareta e explosivos, se
desfrutar da paisagem mundo – o Bernina Expresso – percor- conseguiu romper por entre desÆla-
Entre Abril e Outubro, a Ferrovia Réti- re 144 quilómetros entre Chur e Tira- deiros e cumes para chegar aos pon-
ca põe ao serviço uma estranha com- no, um percurso pelos Alpes absolu- tos mais recônditos dos Alpes. Verda-
posição: uma locomotiva eléctrica de tamente fabuloso, que em 2019 atraiu deiros colossos da engenharia são os
1929, três carruagens de madeira dos ANDREA BADRUTT
anos 20 do século passado, dois veí-
culos de caixa aberta onde se viaja ao
ar livre e um vagão J para transporte
de mercadorias.
Será um comboio histórico turís-
tico?
É e não é.
É turístico porque o material é cen-
tenário e está cuidadosamente pre-
servado. Mas é também um comboio
regular que circula duas vezes por dia
entre Davos e Filisur, com tarifário
igual ao dos outros comboios normais
e que transporta também os locais
nas suas deslocações regionais. Os
suíços, já se sabe, gostam de com-
boios e também sabem que a melhor
maneira de preservar material histó-
rico é porem-no a circular em vez de
o deixar parado nos museus. E sabem
igualmente que este serviço atrai mui-
tos turistas, que adoram viajar nesta
composição histórica, privilegiando
muitos deles os vagões abertos onde
podem apanhar sol, chuva ou frio,
para não perderem pitada de uma
paisagem magníÆca, cuja beleza cau-
sa grande emoção.
Seguimos, pois, por entre desÆla-
deiros e túneis, pendurados em
penhascos, subindo por entre rochas,
atravessando rios em pontes que ven-
cem abismos. Um regalo para os sen-
tidos. Uma pulsão irresistível para os
passageiros, que não largam os tele-
móveis e as câmaras de Ælmar.
Dura a viagem das 10h18 às 10h53.
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túneis helicoidais, destinados a tes e chá. Mas a paisagem é a mesma. sobretudo durante o Inverno em que União Europeia (à qual a Suíça não
ganhar cota no interior da montanha,
como os que existem entre Bergun e
Não muda.
Ospizio Bernina é a estação ferro-
Ospizio Bernina as estradas se tornam perigosas, faz
com que o caminho-de-ferro seja a
pertence, recorde-se) que manda os
caminhos-de-ferro nacionais separa-
Preda. Para o passageiro a sensação
é estranha: entramos no túnel e pou-
viária mais alta desta linha. Fica a
2253 metros de altitude e aqui o com-
é a estação melhor opção para o abastecimento
das cidades. É o caso dos produtos
rem a roda do carril através da divisão
entre a operação dos comboios e a
co depois saímos e avistamos a linha
no lado oposto, umas centenas de
boio detém-se 15 minutos para os
viajantes poderem fotografar o gla-
ferroviária para as principais cadeias de super-
mercados, bem como combustível
gestão da infra-estrutura. Renato Fas-
ciati, CEO da Ferrovia Rética, diz que
metros mais abaixo. Olha-se para
cima e perguntamo-nos como vamos
ciar e o lago que daqui se avista. O
Bernina Expresso inicia a sua desci-
mais alta desta para as bombas de gasolina e deriva-
dos do petróleo para o aquecimento
isso seria impensável para a sua
empresa porque as duas vertentes só
passar ali naquele viaduto. Mas a res-
posta está em mais um túnel em cara-
da para Poschiavo, devagar, a 25 km/
h, com todas as cautelas, porque
linha. Fica das casas. Em sentido inverso são
escoadas toneladas de madeira, tam-
funcionam bem se estiverem juntas.
A Fugas viajou
a convite do Turismo da Suíça
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Protagonista
FOTOGRAFIA: ADRIANO MIRANDA
Hélder Ventura
A paixão pelo restauro de barcos de madeira
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Memória de viajante
Humberto Lopes
a O chapa bamboleia-se por uma
estrada de terra. Vai como um
barco numa dessas tardes em que
o Índico é mais imprevisível que
um deus em dia de embirrar com o
mundo. Abarrotado de povo,
afunda-se em cada cova da picada
e volta a emergir com a proa
apontada ao céu de chumbo. A
cada guinada do volante para fazer
o veículo escapar aos buracos, o
condutor faz também os
passageiros amassarem-se uns
contra os outros com um pouco
daquela solidariedade promíscua
com que a humanidade partilha
destinos.
A tempestade mostra cara de
ciclone. O vento ruge, dos céus
caem faíscas e estrondos e trombas
de água como se estivéssemos
debaixo de uma cachoeira. A
borrasca está mesmo por cima e de
vez em quando um estouro
metálico avisa que o raio caiu nas
curtas redondezas. Indiferente, o
condutor vai fazendo as paragens
reclamadas pelos candidatos a
passageiros espetados à beira da
estrada. É evidente que a lotação já
está esgotada há maningue tempo,
mas isso não quer dizer que o
cobrador, em acrobacias de
pendurar o físico do lado de fora,
não seja profissional de inventar
modos de a cada paragem entalar
mais dois ou três passageiros
dentro do submarino. inaugurar com pompa e homilia ziguezagues para engendrar um Ænda. Não é assim em todo o
Estamos quase a sair de uma umas semanas antes. O queixoso trilho de piso sem água. Claro que mundo? À mesa, sobram teorias,
estrada secundária salpicada de falou para o ar, ninguém lhe os heróis, agora petriÆcados em planos, estratégias, análises, entre
covas como se tivesse acabado de responde, os passageiros querem é topónimos, cansados de tanta garfadas de bacalhau e de matapa
ser bombardeada. O caminho chegar depressa às vistas do independência e de tanta luta pelo engolidas com vinho da comarca
serpenteia entre cajueiros e
mangueiras. Mais uns solavancos e
Maputo.
Mas o que pode acontecer às
desenvolvimento e pelo combate à
pobreza absoluta, não estão em
A noite é quase sul-africana de Stellenbosch. Um
economista tira estatísticas do
já estamos a entrar na N1. Sim. Mas
daqui a Maputo ainda estão a faltar
vezes acontece mesmo: a viatura
mergulha na corrente e logo a
condições de prestar auxílio
patriótico aos transeuntes: nem os
tropical. Muito bolso, um académico explica-as, o
crescimento económico alastra
três horas e como é véspera de
Natal, o tempo daquelas festas em
seguir o pneu da frente do lado do
condutor esvazia-se com um furo
passeios da Mondlane, nem os da
Armando Tivane, nem os da Sekou
provavelmente pelo gráÆco imaginário. Todos se
mostram anuentes. Aliás, são
que o gato da vizinha pode
desaparecer misteriosamente, o
subaquático. O cobrador salta para
a chuva, pega nas fatais
Touré escapam à enxurrada.
Vencido o lodaçal, com água pelos
ainda haverá tempos de paz e de atitudes
cordatas. Os dedos tamborilam no
tráfego deve estar mais
atrapalhado. E também deve haver
maquinarias e põe-se a substituir o
cujo, com a água a dar-lhe pela
tornozelos, vem uma corrida de
táxi, com o motorista a fazer
um bom cristal dos copos, inspira-se a
quadra nas luzinhas piscantes. O
mais polícias de trânsito a
confiscar as boas festas dos
barriga da perna. Cada vez que
passa outra carripana, uma onda
planos para rodear meia cidade a
ver se consegue chegar “mais
punhado supremo líder, esse, não é o Pai
Natal agora?
condutores encurralados. São
essas as previsões meteorológicas
deixa o infeliz ainda mais
encharcado. Dentro da viatura não
depressa” ao destino, o bairro de
Sommerschield. Nos tempos de chapas Perto da meia-noite, alguém
propõe um brinde. Já não chove e
mais razoáveis.
A passar o Zimpeto a N1
se ouve um queixume, vigora a
resignação. Os passageiros
coloniais era a paróquia dos
possidentes, da alta Ænança e do a navegar quem vai fumar um cigarro no
jardim pode avistar uma ou outra
afunda-se num rio. O passageiro
sentado ao lado do homem do
ensardinhados dividem, ordeiros,
a água que se inÆltra pelo chão
empresariado superlativo. Após a
independência, e esquadrinhada à no purgatório tímida estrela no céu. A noite é
quase tropical. Muito
volante, no tom paciente de quem
todos os dias faz exercícios desses,
carcomido e o oxigénio disponível
na cabina de vidros embaciados.
distância, a atmosfera pouco
mudou: apenas há mais cercas, e de rios de lama provavelmente, como todos os dias
do ano, ainda haverá um bom
conjectura que aquilo deve ser das
águas baralhadas com a
Três horas depois
desembarcamos na Eduardo
mais altas e mais electriÆcadas. E
mais guardas e mais vigilância. e água punhado de chapas a navegar no
purgatório de rios de lama e água
construção da nova circular, obra
que o presidente tinha vindo
Mondlane. A grande avenida virou
um lamaçal. Caminha-se aos
Natal serve já também para
antecipar balanços do ano que da periferia da periferia, cheios de gente
ansiosa por chegar a casa.
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Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
Passeios
De Barcelos a Santiago
a “Todos os dias me deslumbro com
isto. Com o sítio onde vivo, com a
minha terra, as histórias das pessoas,
os meus vizinhos. Vivo muito isso e
aproveito para escrever histórias”,
de Compostela, o caminho
conta Marlene Costa à entrada do seu
Ninho, em Rubiães, concelho de Pare-
des de Coura. Em 2014, a antiga pro-
fessora de Matemática e de Ciências,
mais tarde de Expressão Dramática,
é “rústico” e “primitivo”
regressou à terra para abrir um alber-
gue de peregrinos na antiga casa da
bisavó JoseÆna, erguida em 1822.
“Estou a recuperá-la desde o primei-
ro dia em que cá cheguei. Vou fazen-
do conforme vou ganhando.”
O primeiro espaço aberto ao públi-
co foram os antigos estábulos dos
O Caminho Português de Santiago Central – Caminho Primitivo animais, no piso térreo, hoje um
albergue com várias camas em meza-
está em certiƊcação. De Barcelos a Valença, há lendas, natureza nino e espaço de cozinha e refeições,
onde Marlene e a cadela Carolina,
e muitas histórias de um caminho que se quer manter “rústico” mascote do Ninho, nos recebem com
fatias de bolo e café. São 17 camas no
e “genuíno”. Mara Gonçalves (texto) e Nelson Garrido (fotograƊa) total, a contar com dois quartos pri-
vados, que em breve deverão passar
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MARA GONÇALVES
Na oficina de
marcenaria
Restauro à
Sexta (foto
principal)
carimbam-se
os
passaportes
dos
peregrinos
Nesta página:
vista de
Barcelos e
capela e
painel alusivo
ao caminho
em Paredes de
Coura
a três. Finda a época de maior movi- nacional. Há uns anos, uma peregrina Entretanto toda a gente saiu e fui eu go a pé, de bicicleta ou de carro. milagre de Santiago em território por-
mento de peregrinos rumo a Santiago alemã, “uma miúda de 20 anos que que acabei por regressar.” Primeira paragem: Barcelos – onde tuguês”, sublinha Nuno Rodrigues,
de Compostela, confessa-se “muito andava a caminhar há dois”, apare- o mais famoso dos galos é Ægura ine- técnico de turismo da autarquia.
cansada”, ainda que o trabalho seja ceu por “aqui perdida” a pedir-lhe Canta o galo a inocência vitável, dada a ligação da lenda ao “Está retratado no Codex Calixtinus,
“muito bonito e gratiÆcante” e nunca alojamento. Era Inverno. Marlene não caminho. “Há várias versões, mas o primeiro guia do caminho, quer em
do peregrino
perca o sorriso energético e acolhe- tinha ainda o albergue nem sequer a genericamente conta a história de um Toulouse em 1070, quer em São
dor. ideia de o criar, mas deu-lhe guarida. Quando encontramos Marlene Costa peregrino galego que terá passado Domingo da Calçada já no século XV,
Da Páscoa a meados de Novembro, “Foi uma noite muito interessante, já vamos sensivelmente a meio do por Barcelos num dia em que se julga salvo erro. Depois, em meados do
recebeu “em média 15 peregrinos por falámos muito.” roteiro rumo a Santiago de Compos- ter havido um roubo”, recorda Daniel século XX, os etnógrafos ligam isto ao
dia” e, depois de um Julho fraco Poucos meses depois, decidiu “pôr tela, com menos caminho a passo e Afonso, guia turístico que nos acom- artesanato de Barcelos e, hoje em dia,
(“Æcámos todos assustados”), a partir os pés ao caminho também”, “como mais quilómetros conquistados de panha durante todo o percurso. Leva- é uma das lendas mais conhecidas da
do festival de Paredes de Coura, altu- forma também de gratidão” por um automóvel para dar tempo de nos do a um juiz enquanto este almoçava portugalidade no mundo.”
ra em que a casa se divide entre meló- problema de saúde que tinha supera- demorarmos nas localidades. “Pelo um galo, o peregrino terá jurado ino- No Museu da Olaria, uma das expo-
manos e peregrinos, “foi uma loucu- do. “Foi um caminho muito alegre, número de pessoas que passam e cência e, para prová-lo, declarou que sições temporárias, patente até ao
ra”. “Acho que foi o mês de Setembro em que me ri muito. Não fui à procu- pelo tempo que permanecem, cada o galo cantaria sobre o prato caso fos- Ænal do mês, é dedicada “à peça de
em que tive mais gente e de países ra de encontrar nenhuma luz para vez mais os peregrinos não querem se condenado. Ægurado mais famosa” do concelho.
que nunca tinha tido. Imensos israe- decidir alguma coisa da minha vida”, só caminhar, mas conhecer os sítios O cruzeiro de pedra, hoje no museu O galo mais antigo data de 1900 e “era
litas, alguns libaneses”, recorda. recorda. A verdade é que regressou e falar com outras pessoas, não obs- arqueológico instalado nas ruínas do um brinquedinho” com “uns bura-
O edifício de pedra, típica casa “cheia de ideias”. Depois de Madrid, tante o cansaço”, comenta Tiago antigo paço dos Condes de Barcelos, quinhos para as crianças puderem
minhota, Æca mesmo de portão para Timor, Londres e várias cidades por- Cunha, vice-presidente da autarquia tem uma gravura que conta o Ænal da fazer sons”, provavelmente mais ins-
o Caminho Português de Santiago tuguesas, ia voltar a Rubiães para de Paredes de Coura. “A experiência história. Reza a lenda que foi o após- pirado “no quotidiano dos artesãos”
Central – Caminho Primitivo, actual- abrir um albergue “diferente”. “Já é cada vez mais abrangente. Já não tolo Santiago quem, milagrosamente, do que em milagres de peregrinos,
mente em processo de certiÆcação e não concorri às escolas nesse ano e querem só chegar e dormir.” Por isso, sustentou o corpo do peregrino, sal- conta a guia Anabela Gaspar. “Em
que arranca oÆcialmente no Porto, comecei as obras”, conta. “Sempre a nossa viagem ocupa-se, sobretudo, vando-o na forca, enquanto o juiz 1950, nasce aquele que é o galo clás-
com dez etapas até Santiago de Com- fui muito ligada às minhas raízes, ao daquilo que se pode ver e fazer ao acorria ao local gritando a inocência sico, feito ao molde e reproduzido
postela, cinco delas em território meu chão, à minha casa. Nasci aqui. Ænal de cada etapa, rume-se a Santia- do homem. O galo cantara. “É o único milhares de vezes.” c
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Passeios
Barcelos, graças aos barros dos bai- o slogan. O lema assenta em duas pre-
xios do Cávado, foi sempre terra de missas, entre outros levantamentos
oleiros e olarias, uma arte tradicional históricos: por um lado, as zonas
que “permaneceu muito inalterada” onde, à época, se atravessavam os
ao longo das décadas e que ainda tem vários rios até à fronteira, por outro,
enorme expressão no concelho, não as antigas vias romanas (“os primeiros
só pelo galo como pelo Ægurado de a construir uma estrutura viária na
autor. O museu nasceu em 1995 com Península Ibérica”), nomeadamente
o objectivo de “preservar, promover a estrada que unia Bracara Augusta
e instigar nas pessoas que visitam a (Braga) e Austurica Augusta (Astorga),
ideia da relevância da cerâmica para na qual Santiago de Compostela é
o futuro” e, em breve, vai sofrer remo- ponto de passagem.
delações para apresentar de forma Na época medieval, o caminho
permanente, pela primeira vez, todo atravessaria ainda “o centro daquilo
o espólio “de aproximadamente 10 que eram as povoações primitivas” e
mil peças de olaria de Portugal e paí- “sempre por lugares de devoção”,
ses de expressão portuguesa”. uma vez que este é um “caminho reli-
gioso, espiritual”. Esse cariz, ainda
Caminho “rústico” que hoje os caminhos sejam percor-
ridos por diferentes motivos e cren-
e “genuíno”
ças, continua a ser muito importante,
Em Barcelos, são muitos os vestígios defendem os autarcas e técnicos com
arquitectónicos que testemunham a quem nos vamos cruzando. Estamos
passagem de peregrinos em direcção sobre a Ponte das Tábuas, em
a Santiago de Compostela ao longo Balugães, uma estrutura singela de
dos séculos. Note-se a igreja matriz de pedra sobre o Neiva onde uma repre-
Santa Maria, com conchas de vieira, sa forma um género de piscina natu-
“símbolo primitivo dos peregrinos”, ral, quando Nuno evoca “esta etapa
esculpidas nas colunas e órgão de muito tranquila, muito rural, de liber-
tubos, ou o hospital de apoio a pere- tação e recolhimento” para lembrar
grinos, hoje integrado no conjunto de que o caminho não só “toca muito na
edifícios que compõem a câmara História”, como “possibilita estes
municipal. momentos de introspecção”.
À entrada da cidade, a capela de “Não é só ruído, massa, ‘turigrinos’
Nossa Senhora da Ponte, construída e bicicletas”, defende o técnico de
no século XIV juntamente com a pon- Barcelos. “O turismo é o motor da
te que une as duas margens do rio, economia mas não podemos permitir 151 nacionalidades”.
tinha um lava-pés em pedra para que o nosso caminho se torne num Quando lá estivemos, em inícios de
apoio aos peregrinos. “Quando é não-lugar, numa auto-estrada de Novembro, contudo, eram poucos os
construída a ponte, a cidade ganha turismo massiÆcado.” Para Paulo caminhantes que vimos passar de
uma importância geográÆca e comer- Sousa, vice-presidente da autarquia vieira a balouçar nas mochilas, muitas
cial muito maior e faz com que Barce- de Ponte de Lima, é fundamental pre- vezes protegidas por capas coloridas
los se torne, naturalmente, um ponto servar e valorizar “este lado mais contra a chuva que nos acompanhou
estratégico de passagem [dos peregri- rústico”. “Não podemos transformá- ao longo dos dias. No albergue de
nos], uma vez que era o sítio mais lo num negócio. É um recurso único Ponte de Lima, das 61 camas disponí-
perto e fácil [de cruzar o Cávado] para e identitário”, reforça, lembrando veis, apenas 15 tinham sido ocupadas
quem vinha do Porto.” que, muitas vezes, ao querer-se naquela noite. “De Outubro para
É por esta altura, Ænais do século “acrescentar valor, acaba-se por des- Novembro nota-se uma baixa muito
XIII, inícios do século XIV, que o cami- caracterizá-lo”. signiÆcativa, até Fevereiro”, aponta
nho português começa a ganhar noto- José Dantas, técnico da autarquia. No
riedade, em parte graças à rainha San- “Voltou aos números entanto, ali a dois passos, na Restauro
ta Isabel, uma “das primeiras a fazer à Sexta, Manuel Martins sempre vai
de 2019”
essa peregrinação em direcção a San- recebendo “alguns” peregrinos,
tiago”, recorda Daniel. Nos anos de É um equilíbrio que entidades gover- pronto a carimbar o passaporte de
1980, já os caminhos têm uma “grande nativas, empresariais e associativas acesso à Compostela e a cantar uma
expressão” internacional, atraindo tentam gerir: por um lado, é transver- Há ainda vários casos de peregrinos regressar e “conhecer tudo o resto”. música que escreveu dedicada aos
centenas de caminhantes de todo o sal a convicção de que é necessário que se apaixonam pelos lugares por Depois de dois anos de pandemia, caminhantes.
mundo. Em 2019 “tivemos mais de 300 “manter o caminho genuíno, com onde passam a caminho de Compos- ainda não há dados oÆciais sobre Há cerca de um ano que Manuel
mil peregrinos em todos os caminhos identidade”, por outro, é inegável o tela e regressam para fundar negócios 2022, mas no restaurantePedra Fura- tem esta secretária à entrada da oÆci-
que chegam a Santiago”, aponta, “mais impacto dos peregrinos – e do seu ou comprar casa. Paulo Sousa relem- da Herculano garante que “foi um na de marcenaria, envolta num cená-
de 70 mil no caminho português” (ain- número crescente – na economia dos bra o casal russo que “investiu num ano fantástico”. “Voltou aos números rio inspirado no caminho: há placas
da que para estes números não se dis- lugares por onde passam. “Se não hotel” em Ponte de Lima ou os Ælipi- de 2019”, compara o anÆtrião do res- que indicam algumas das principais
tingam os diferentes percursos em fosse o caminho, já não tinha cafés, nos que “compraram uma quinta na taurante familiar, famoso pelo galo localidades até Santiago, um boneco
território nacional). mercearias, padarias em Macieira de vila e criaram um enoturismo”. A assado em forno de lenha. “Tive um de bordão e cabaça surge à espreita
São muitos os trajectos – “o cami- Rates, Pedra Furada ou Balugães, e aposta, repete-se em cada concelho, dia em que tive 60 peregrinos cá den- numa porta, há Æos de vieiras e cru-
nho começa à porta de casa”, não nos não apareciam micronegócios nestes passa por proporcionar “uma extraor- tro. Só de um grupo vinham 23”, zes, um sino que toca à passagem de
cansamos de ouvir – mas este que territórios, nomeadamente na área dinária experiência de hospitalidade recorda, acrescentando que “param, cada peregrino e uma telha onde
agora percorremos anuncia-se como do alojamento”, sublinha Nuno Rodri- e segurança”, resume Nuno, para por ano, dezenas de milhar” de pere- regista a contagem: 6028 peregrinos
o “primitivo”. “Este é o caminho”, diz gues. deixar nos peregrinos a vontade de grinos e, ao longo dos anos, “gente de desde Agosto 2022.
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Na casa de campo
da Kopke, sentem-se
a hospitalidade
e o orgulho durienses
Guardiães do sabor
i
O Victor
Rua do Laranjal, 3
4830-668 São João de Rei,
Póvoa de Lanhoso
Tel.: 253 909 100
Horário: das 12h30 às 16h
e das 19h30 às 22h.
Encerra à segunda-feira.
bina a brasa de carvão com um sis- sorriso traquina que lhe deÆne o
tema eléctrico, de forma a que seja carácter.
constante a intensidade do calor. Na aldeia de São João de Rei, cra-
Uma solução que implicou um forno vada entre penhascos graníticos e
especial, que teve que ser feito por voltada ao vale do Cávado, o Restau-
encomenda e montado no lugar. É rante Victor é hoje um ícone da gas-
preciso cerca de meia hora para que tronomia local. Uma fama também
Na aldeia Æque “lourinho e assado de forma associada à Ægura do escritor brasi-
de São João uniforme”, precisa Victor Peixoto. leiro Jorge Amado, que se tornou
de Rei, Quanto à demolha, esclarece que amigo e visita regular. “Veio a convi-
encravada tem que ser com água muito fria, te do António Celestino, um homem
entre pelo que hoje lhe junta gelo, cum- de cá que foi para o Brasil, era ban-
penhascos prindo as exigências legais que proí- cário na Bahia mas também escritor,
graníticos bem a demolha em água corrente de e quando voltou para a aldeia convi-
e voltada fonte, como de início acontecia. dou o Jorge Amado. Já era amigo de
ao vale “Mas já nessa altura fazíamos análi- Portugal e tornou-se também amigo
do Cávado, ses regulares à qualidade da água”, da Póvoa de Lanhoso, veio cá muitas
o restaurante ressalva. vezes”, relata de forma enfática, já
é um ícone da Quanto à cura, Victor não alinha que disso dão testemunho a múlti-
gastronomia no coro de receios face ao seu cres- plas fotograÆas distribuídas pelas
local cente abandono. “Vai haver sempre paredes da sala.
cura, tenho a certeza de que, pelo E se Victor Peixoto não receia pelo
menos aqui no Norte, vamos ter futuro da cura do bacalhau, mostra-
sempre bom bacalhau”, conÆa, dan- se igualmente seguro quanto à con-
do conta de que há mais de 25 anos tinuidade do seu restaurante. “São
que tem fornecedor Æel – “já Æz via- as pessoas que exigem que seja sem-
gem com eles à Noruega para ver pre igual, hoje já sou apenas uma
como tratam o bacalhau” – que espécie de embaixador, há muito
garante sempre a melhor qualidade. que são as minhas Ælhas que tratam
“Às vezes até com 20 meses de cura, do negócio”, faz questão de explicar
mas com um ano já é uma cura per- com a argúcia de comerciante. “O
feita”, assegura. que temos é de tratar bem toda a
Hoje a entrega é feita no restau- gente e cumprir com a nossa obriga-
rante (“normalmente à semana”), ção, este é que é o segredo da casa”,
país (e não só) e também ele se sen- “Vendemos muito na loja, especial- mas de modo a garantir a cura ade- reforça, referindo-se às Ælhas Ange-
José Augusto Moreira te a gosto no papel de guardião-mor mente nesta época de Natal. Como é quada tem sempre um lote disponí- lina e Glória, ambas já cinquentená-
do culto minhoto pela posta inteira sempre da melhor qualidade, as pes- vel no armazém fornecedor . Um rias.
O Victor é venerado pela assada na brasa, acompanhada por soas vêm de todo o lado e querem sossego comparado com os tempos Mas se o bacalhau é a essência da
cebola às rodelas, alho, batata a também levar para casa”, conta o em que teve que andar pelos portos casa, o patriarca faz ainda questão
posta de bacalhau assado. murro e um bom Æo de azeite. homem que já andou pelas escolas de Aveiro e Viana do Castelo à pro- de deixar claro que também a posta
Há três predicados Presença diária no seu restauran- de hotelaria e grandes hotéis a expli- cura dos melhores lotes. “Fui buscar de vitela dos lameiros do Barroso ou
fundamentais: cura, te na Póvoa de Lanhoso, dá uma car como cuidar do Æel amigo. muito bacalhau à Empresa de Pescas o cabritinho assado com batatinhas,
demolha e calor constante mão no serviço, espalha simpatia e Cura, demolha, calor suave e de Viana. Eram sacos de 65 quilos igualmente bem justiÆcam a viagem.
eÆciência, cuidando que nada falte constante, são estes os “predicados classiÆcados conforme tamanho e Esclarece que é assado no forno
a Com 85 primaveras contadas, e todos estejam confortáveis e a gos- essenciais” que enuncia. “Tem de qualidade, que abria para escolher onde em tempos se fazia o pão, sen-
invejável jovialidade e ainda uma to. Ele próprio trata das compras, ser acompanhado com muito cari- sempre os melhores.” E com a escas- do neste caso necessária encomenda
inquietude traquina, Victor Peixoto veriÆca a qualidade do bacalhau e nho, demolhar em água fria e o calor sez que se seguiu ao 25 de Abril? prévia. É que são necessários pelo
é um dos símbolos maiores da tradi- ainda lhe sobra tempo para atender não deve ser muito forte”, explica, “Nunca tive falhas, vinha da raia, era menos três dias para garantir o chi-
ção do consumo de bacalhau. O seu os clientes que querem também dando conta de que no seu restau- um taxista da zona de Chaves que binho - “que é aqui da montanha” – e
restaurante está no radar de todo o levar para casa bacalhau do Victor. rante adoptou um sistema que com- vinha cá deixar”, conta com aquele tratar da preparação e temperos.
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Vinhos
Vinhos
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo
com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas — Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, bloco A, 3.º 4050-318 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
92 Um dueto 90 88
Pessegueiro Vinha de Viosinho Gorro Alvarinho 2021 Montícola Branco 2019
da Afurada Reserva
Branco 2019 e Rabigato para Portugal Boutique Wines
Melgaço
Sociedade Agrícola
Confiar Memórias,
Quinta do Pessegueiro
Ervedosa do Douro, o frio e comidas Castas: Viosinho e Rabigato
Região: Vinhos Verdes
Freixo de Espada à Cinta
Castas: Códega do Larinho
São João da Pesqueira
Castas: Viosinho e Rabigato gordas e ricas Graduação: 12,5% vol.
Preço: 11,50€
e Arinto
Graduação: 13,5% vol.
Região: Douro Região: Douro
Graduação: 13% vol. Branco vivaz e salivante. Um Preço: 24,95€
Preço: 19,50€ a Dos inúmeros duetos que se registo que dá primazia ao lado (em monticola.pt)
podem fazer com castas brancas do mais acutilante e seivoso do
Douro, o que junta Rabigato e Vio- Alvarinho, em detrimento do seu Um branco de uma zona quente
sinho é dos mais excitantes. Outros lado mais tropical. O que pode com uma boa frescura.
do mesmo nível juntam Arinto com ser explicado com o facto de as Fermentado e estagiado durante
Viosinho, Arinto com Rabigato, uvas serem de Melgaço, onde dez meses em barricas de 500
Rabigato com Gouveio ou Gouveio têm, por norma, uma acidez mais litros de carvalho francês,
com Viosinho, por exemplo. Estas viva e maior austeridade de fruta. incorpora na proporção
são, na minha opinião, as quatro Está mesmo a pedir peixe assado recomendável a nota de tosta
melhores castas brancas da região e marisco. P.G. que se combina com aromas
e sempre gostei de as ver juntas, cítricos. Tem um bom volume de
Proposta porque se completam muito bem: boca e alguma mineralidade. Mas
da semana o Arinto dá uma acidez vibrante; a acusa uma nota de oxidação que
Gouveio acrescenta fruta cítrica perturba o conjunto e impede
deliciosa e também ácida; o Viosi- este branco de atingir outro
nho faz o papel de Chardonnay, gabarito. Vinho raro (650
fornecendo fruta branca e volume; garrafas). M.C.
e o Rabigato contribui com estru-
tura, vivacidade e algum fumado.
Mas tudo depende, claro, da ori-
gem das uvas e do seu estado de
maturação.
Este branco tem origem em
vinhas situadas na margem esquer-
da do Douro (viradas a norte, pre-
93 89
sumo), junto a Ervedosa do Douro,
São João da Pesqueira, a uma altitu- Zuccaro 2018 Casa Relvas Vinha da
de que vai dos 550 aos 580 metros, Quinta Alta, Peso da Régua Mina Touriga Franca 2021
cota que permite já maturações Graduação: 14,5% vol. Casa Relvas, Redondo
equilibradas e pouco precoces. Des- Região: Douro Graduação: 14,5% vol.
te dueto, a casta que mais depressa Preço: 62,95€ Região: Alentejano
amadurece é a Viosinho. A Rabigato (em portugalvineyeards.com) Preço: 10,26€ (em codibebe.pt)
aguenta muito mais o sol e o calor.
Aliás, o que a sua casca rija quer é O Qalt de 2017 foi um bom Depois de uma aventura nos
sol em abundância. Só quando os prenúncio do que estava para vir brancos, a Casa Relvas consolida
seus cachos começam a Æcar entre da Quinta Alta, um projecto da a sua aposta nos varietais com o
o alourado e o acastanhado é que brasileira Fernanda Zuccaro com lançamento de três tintos. Provas
devem ser colhidos. enologia de Francisco antigas tinham revelado uma
O vinho estagiou 16 meses em bar- Montenegro. Este tinto com especial apetência da casa
ricas de 600 litros e o que sobressai nome da mentora confirma uma para a Touriga Franca.
de imediato na prova é a sua textura aposta de grande qualidade e de A edição de 2021, no mercado,
gorda e fumada, que se sobrepõe a fidelidade à natureza do Douro. mostra uma versão alentejana
notas frutadas de cariz cítrico. Volu- Vinho de vinha velha, fermentado da Touriga Franca, com um tinto
moso e amplo, enche a boca por em lagar, com estágio de 30 mais redondo e exuberante
completo, embora deixe a sensação meses em barrica, é suculento e na dimensão aromática,
de precisar de um pouco mais de delicioso. Tem a expressão embora conserve uma aura
acidez para avivar e prolongar o Ænal aromática do bosque, a riqueza de austeridade na estrutura.
de prova. Mas a acidez até está lá, só gustativa e profundidade, Tem boa apetência
que algo submissa perante o volume harmonia entre a garra tânica, a gastronómica. Está ainda numa
do vinho e as suas notas fumadas. acidez e a fruta e um belo final fase em que o fulgor
Não se espere, por isso, encontrar de boca dos Douros de estirpe. da juventude perturba
um branco tipo Alvarinho, mas sim Uma mão cheia de anos na cave a degustação. Espere-se
um branco de Inverno, mais borgo- tornará este tinto num caso ainda por ele, que há-de ficar muito
nhês, com lastro, sabor rico e perfei- mais sério. M.C. melhor. M.C.
to para comida também gorda e rica.
Pedro Garcias
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@photo.capricho #fugadoviajante:
A magia da época natalícia na Avenida dos Aliados,
no Porto. Fotografia de Rui Baltar.
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receita como insistiu em ler esta de açúcar Æcam bem cheias e as de P.S. Este texto foi visto e revisto
minha redacção dessa receita, para farinha menos cheias. Agora vem a
forno, numa forma ou tabuleiro
onde o bolo não se possa colar: ora infinitas. pela Censura Conjugal, tendo sido
apanhar quaisquer desvios palavra que o vai levar a cismar untando com manteiga, ora substancialmente alterado a Æm de
maléÆcos que eu tenha introduzido.
Se não fosse assim, a família
como é que passou a vida inteira
sem ela: cogulo. O cogulo é o
acamando-o numa folha de papel
de forno.
Bom Natal! corresponder mais à verdade
divina.
FUGAS N.º 1166 FICHA TÉCNICA Foto da capa: Andrea Badrutt Direcção Manuel Carvalho Edição Sandra Silva Costa Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Joana Lima e José Soares
Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, José Alves e Francisco Lopes Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua de Júlio Dinis, n.º270, Bloco A, 3.º, 2, 4050-318 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. www.publico.pt/fugas
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