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Introdução
O presente resumo é baseado na teoria dos dois circuitos da economia urbana,
proposta por Milton Santos e publicada no Brasil na década de 1970 (SANTOS, 1979), e faz
parte de exercício reflexivo vinculado à construção do projeto de pesquisa de doutorado da
autora, na qual pretende-se analisar a dinâmica territorial de um seguimento específico do
circuito inferior da economia urbana no município de Ponta Grossa (PR), as organizações
coletivas de produção, comercialização e consumo.
Essa teoria considera a existência de dois circuitos de produção, distribuição e
consumo dos bens e serviços na sociedade urbana, o circuito superior, constituído por
atividades econômicas com grandes dimensões, ligadas a processos modernos e com
relações mais estreitas com a economia em escala global, e o circuito inferior, constituído
por atividades econômicas de pequena dimensão, que possuem mais influência na escala
local. No entanto, o autor ressalta que a existência desses dois circuitos é decorrente de um
mesmo processo denominado por ele de modernização tecnológica, e que os dois circuitos
são sistemas em interação permanente, sendo o circuito inferior, dependente do circuito
superior. (SANTOS, 1979).
Conforme destacado pelo próprio autor, o circuito inferior “[...] está em processo de
transformação e adaptação permanente [...]” (SANTOS, 1979), assim, algumas das variáveis e
características levantadas e discutidas por ele, com base em seus estudos e experiências em
países subdesenvolvidos, têm sido revistas por diversos autores em função dessas
transformações. No entanto, para além das atualizações dessas variáveis e características,
considera-se que a base da teoria dos dois circuitos da economia urbana fornece subsídios para
a interpretação de problemas atuais.
Objetivos
O objetivo do presente resumo é apresentar a teoria dos dois circuitos da economia
urbana proposta por Milton Santos (1979) e discutir sua utilização em estudos sobre a
economia urbana dos municípios brasileiros na contemporaneidade.
Metodologia
O presente resumo foi elaborado a partir de discussões contidas no livro O espaço dividido:
os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos, de autoria de Milton Santos
(1979) – através do qual a teoria dos dois circuitos da economia urbana foi sistematizada e
popularizada –, e de apontamentos de autores que discutem esta teoria e/ou sua aplicação como
Spósito (1999), Marina (2012) e Cataia e Silva (2013). Assim, apresentamos de forma breve a teoria
dos dois circuitos da economia urbana conforme
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[...] o espaço dos países subdesenvolvidos é marcado pelas enormes diferenças de renda na
sociedade, que se exprimem ao nível regional, por uma tendência à hierarquização das atividades e,
na escala do lugar, pela coexistência de atividades de mesma natureza, mas de níveis diferentes.
Essas disparidades de renda são menos importantes nos países desenvolvidos e influenciam muito
pouco o acesso a um grande número de bens e serviços. Ao contrário, nos países subdesenvolvidos,
a possibilidade de consumo dos indivíduos varia muito. O nível de renda também é função da
localização do indivíduo, o qual determina, por sua vez, a situação de cada um como produtor e como
consumidor. (SANTOS, 1979, p. 15).
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Milton Santos (1979) destaca que os dois circuitos são sistemas em interação permanente, ou
seja, não podem ser considerados isoladamente ou de forma dualista, no entanto, o circuito superior
ou moderno recebeu mais atenção dos pesquisadores ao longo da história do pensamento
econômico e geográfico. Além disso, o Estado acaba por privilegiar as atividades do circuito superior
tendo em vista que seus mecanismos são baseados na produção, porém, os mecanismos do circuito
inferior são baseados no consumo, ou seja, nas necessidades correntes da população, além disso, o
circuito inferior é mais flexível em relação
- necessidade de especialização do trabalho, assim, este circuito possui maior fluidez para
absorver a massa de trabalhadores das cidades.
O circuito inferior, “um circuito não moderno, que compreende a pequena produção
manufatureira, frequentemente artesanal, o pequeno comércio de uma multiplicidade de serviços de
toda espécie” (SANTOS, 1979, p. 155) é dependente do circuito superior, ou seja, sua existência e
sua manutenção são decorrentes das desigualdades produzidas pela modernização tecnológica
excludente, assim, o autor aponta que:
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O circuito inferior ganha novo conteúdo quando incorpora algumas tecnologias em suas
atividades. Além disso, a expansão do crédito trouxe a ampliação do consumo da
população pobre ocasionando um empobrecimento ainda maior das classes populares. A
difusão do cartão de crédito, dos financiamentos pessoais e serviços financeiros
oferecidos por redes de lojas coexistem com as antigas formas de crédito do circuito
inferior como fado, o crediário e mesmo os empréstimos realizados com agiotas. Dessa
forma, o circuito superior aprofunda a dominação sobre o circuito inferior por meio das
finanças. (CATAIA; SILVA, 2013, 71).
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Considerações Finais
Elaborada na década de 1970, para compreender as dinâmicas da economia urbana dos
países desenvolvidos, a teoria dos dois circuitos da economia urbana (SANTOS, 1979), fornece
utilizadas pelo autor para diferenciar os dois circuitos. Mesmo com as transformações nas dinâmicas
dos dois circuitos, a existência deles e a dominação do circuito superior sobre o circuito inferior ainda
é patente. Sendo necessária ainda a busca por meios de superação e/ou minimização dessa
dominação.
Referências Bibliográficas
CATAIA, Márcio; SILVA, Silvana. Considerações sobre a teoria dos dois circuitos da
economia urbana na atualidade. Boletim Campineiro de Geografia, Campinas, v. 3,
n. 1, p. 55-75, 2013.
SANTOS, Milton. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países
subdesenvolvidos. Tradução de Myrna T. Rego Viana. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
(Coleção Ciências Sociais).
SPÓSITO, Eliseu Savério. A teoria dos dois circuitos da economia urbana nos
países subdesenvolvidos: seu esquecimento ou sua superação? Caderno
Prudentino de Geografia. Presidente Prudente, n. 21, p. 43-51, 1999.
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