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RESUMO

A Esporotricose é uma doença fúngica , transmitida por fungos de espécie Sporothrix,


que pode acometer cães, gatos, equinos e seres humanos, entre outros mamíferos. É
uma zoonose, sendo comumente encontrada em áreas rurais e em áreas periféricas sem
saneamento básico e infraestrutura. Por ter se tornado uma epidemia é uma doença de
notificação compulsória.O objetivo deste trabalho é apresentar o levantamento de dados
sobre a esporotricose na Cidade de Guarulhos, Estado de São Paulo, doença que já
acometeu mais de 7129 animais neste municipio (Dados fornecidos pelo CCZ- Centro de
Controle de Zoonoses, Guarulhos ,2011- 2022 até agosto).

Palavras-Chave: Esporotricose, gato, zoonose,epidemia, vulneraabilidade social


ABSTRACT

Sporotrichosis It is a fungal disease, transmitted by fungi of the Sporothrix species,


which can affect dogs, cats, horses and humans, among other mammals. It is a zoonosis,
commonly found in rural areas and peripheral areas without basic sanitation and infrastruc-
ture. Because it has become an epidemic, it is a notifiable disease.The objective of this
work is to present a survey of data on sporotrichosis in the city of Guarulhos, State of São
Paulo, a disease that has already affected more than 7129 animals in this municipality (Data
provided by CCZ- Centro de Controle de Zoonoses, Guarulhos, 2011-2022 until August).

Keywords: Sporotrichosis, cat, zoonosis, epidemic, social vullnerability


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Gato com lesões de esporotricose (Arquivo pessoal, 2015) ........................ 11


Figura 2 – Lesões cutâneas em cabeça e orelha (Arquivo pessoal,2015) .................... 13
Figura 3 – Lesão em membro de felino .......................................................................... 15
Figura 4 – Lesão oronasal (Arquivo pessoal, 2016) ....................................................... 16
Figura 5 – Lesões cutâneas em cabeça e dorso (Arquivo Pessoal, 2018).................... 17
Figura 6 – Sporothrix schenckii livres e no interior do citoplasma de macrófagos.
(Fonte: www.avma.org)................................................................................ 19
Figura 7 – Aplicação de Anfotericina B em lesões causadas pela esporotricose
(Arquivo Pessoal,2022)................................................................................ 20
Figura 8 – COMUNIDADE EM GUARULHOS (Arquivo Pessoal, 2018) ........................ 22
Figura 9 – COMUNIDADE EM GUARULHOS (Arquivo pessoal, 2018) ........................ 23
Figura 10 – Serie temporal de casos de esporotricose felina , notificações entre 2011 e
2022 pelo Serviço de Vigilância de Zoonoses do Município de Guarulhos.
Cidade de Guarulhos, 2011-2022 ................................................................ 25
Figura 11 – Gráfico acíclico direcionado. Representando a hipótese causal da esporo-
tricose zoonótica Scuarcialupi el at., 2021. ..................................................... 26
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – CASOS ( ANALISE EXPLORATÓRIA)........................................................... 24


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CCZ - Centro de Controle de Zoonoses

IPVS -Indice Paulista de Vulnerabilidade Social

NA - Nenhuma anotação
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11
Histórico da Esporotricose em Guarulhos ............................................... 14

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ ..18

3 MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................... ..22

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. ..27

5 CONCLUSÃO .............................................................................................. 29

6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 30
11

1 INTRODUÇÃO

Figura 1 – Gato com lesões de esporotricose


(Arquivo pessoal, 2015)

A esporotricose é uma micose sub cutânea, causada por fungos do gênero Sporothrix
. São oito (8) espécies patogênicas de maior relevância das cinquenta e três (53) espécies
conhecidas, sendo 4 espécies , S. shenckii, S. brasiliensis, S. globosa, S.luriei, as que
possuem maior importância clínica e maior potencial patogênico para os mamíferos e S.
mexicana, S. pallida, S. chilensis, S. humicola, espécies ambientais com baixo potencial
patogênico, ou seja, raros agentes de infecção ((Rodrigues et al. 2020)
Destas as mais importantes no acometimento dos felinos domésticos são a S.
brasiliensis e a S. shenckii, temos, também, relato em literatura, de casos por S. pallida e S.
12

humicola ( Chakrabarti et al., 2015, Cruz et al.,2012, Marimon et al.,2008)


Possui duas formas de transmissão , a clássica e a zoonótica. Na transmissão
clássica, a infecção ocorre geralmente pela implantação traumática de elementos fúngicos
na pele, por Sporothrix spp, presentes nas plantas, solo, matéria orgânica em decomposição.
Conhecida como doença do Jardineiro, doença da Roseira, essa transmissão clássica é
denominada de SAPRONOZES (maioria dos casos de S. shenckii e S. globosa)(Falcão et
al., 2019).
Já a transmissão zoonótica consiste na inoculação transcutânea de leveduras por
meio de mordedura e arranhadura de gatos infectados ou do contato com o exsudato de
suas lesões. O S. brasiliensis está mais associado a esta zoonose com transmissão gato a
gato.( Schubach et al, 2012).
Além dos gatos, os cães podem ser acometidos pela exposição ao gato doente. No
caso humano, os grupos mais expostos são os tutores, os protetores, cuidadores de gatos
errantes e os médicos veterinários.( Rodrigues et al., 2016).
Entre os gatos a contaminação pode ocorrer por via clássica (solo e plantas) como
também pela via zoonótica, onde a maioria se infecta por brigas e contato direto com gatos
doentes (Gremião et al., 2017).
O gato é a única espécie animal com alto potencial zoonótico,também considerado
fonte de infecção. Podem apresentar carga fúngica nas lesões cutâneas (de 96% a 100%
de isolamento) , também é isolado nas secreções oro nasais (de 49% à 70%) e nas garras
(39%). Nas fezes, também encontramos isolados, no entanto, gatos saudáveis tem o menor
risco de transmissão de S. brasiliensis, possui baixa frequência de isolamento fúngico da
cavidade oral e/ou unhas, mesmo em contato com gatos doentes (3 a 4%). ( Schubach et.
al. 2012 e Macedo – Sales, et. al. 2018).
13

Figura 2 – Lesões cutâneas em cabeça e orelha


(Arquivo pessoal,2015)

Desde os meados do ano de 2011, o número de casos da esporotricose começa


a crescer e chamar a atenção, no Município de Guarulhos. Chegando a quase 200 casos
14

confirmados em 2013 (Montenegro, 2014) , levando a doença para o status de Notificação


Compulsória , pela portaria 064 de 2016 publicada em D.O do Município em 27 de julho de
2016, visando que as clínicas veterinárias notificassem o Centro de Controle de zoonoses
do município o maior número de casos que apresentassem a suspeita da doença, e desta
forma fosse possível o mapeamento da doença como também auxiliasse no planejamento
estratégico nas medidas de controle ( Gonsales, 2018).
O atraso no diagnóstico e tratamento pode levar a disseminação da doença para
os gatos saudáveis e demais moradores da comunidade (Almeida et al., 2018; Berocal &
Gomes, 2020).
O objetivo deste trabalho é mostrar as dificuldades encontradas para que o controle
da doença seja eficaz no município bem como quais ações foram implementadas pelos
órgãos de vigilância em saúde do município

Histórico da Esporotricose em Guarulhos

Em novembro de 2011, o primeiro caso de esporotricose felina foi confirmado no


município pelo Serviço Municipal de Vigilância em Saúde, após um incêndio em uma
comunidade, conhecida como Favela dos Pallets, durante uma ação de desapropriação,
onde o CCZ realizou a retirada de diversos cães e gatos abandonados durante o ocorrido,
logo no dia seguinte aos fatos, munícipes acionaram o serviço do CCZ relatando haver
no local um gato com graves queimaduras em focinho e cabeça, porém ao ser capturado
e durante a avaliação clinica foi notado que embora estivesse com muitas lesões e mau
cheiro, os bigodes estavam intactos , fato que chamou a atenção e sugerindo que não fosse
as lesões originadas por queimaduras. Feita a coleta de material para alguns exames e
também cultura fúngica, se diagnosticou esporotricose.( relato do Me. Fernando Cortez
Pereira ,CCZ - Guarulhos, 2022 )
No município de Guarulhos a doença vem assumindo proporções epidêmicas, envol-
vendo gatos e pessoas. Dados de diagnosticados entre 2011 à 2021, apontam para 6.083
animais positivos para esporotricose e 362 casos humanos, dados não muito precisos,
pois muitos animais não são levados para tratamento e se morrem não são encaminhados
para cremação, portanto, a distribuição geográfica dos casos no município tem caráter
de sub notificação, embora o CCZ ofereça os exames laboratoriais e tratamento gratuito,
estabelecimentos particulares também recebem pacientes com esporotricose e a maioria
destes estabelecimentos não notificam a Secretaria da Saúde. ( Dados fornecidos por
Escola SUS, Centro de Controle de Zoonoses de Guarulhos, 2022).
Possíveis vieses na cobertura para detecção dos casos ou no esforço na busca do
serviço:
Existem tutores e/ou pacientes em condições socioeconômicas tão precárias que
15

não chegam em qualquer instituição. Estes fatores sugerem para uma incidência de esporo-
tricose muito mais altas que os dados existentes.
A doença não era um agravo de notificação compulsória até 27 de setembro de
2016, infelizmente a portaria inclui somente os casos humanos confirmados ou suspeitos,
os casos veterinários ficaram de fora desta portaria.
Mas mesmo assim, é feito através da notificação de um caso notificado, a varredura
do histórico, da origem da doença, se é uma sapronoze ou uma zoonose. Cabe ressaltar
aqui que todos os casos notificados no município foram transmitidos através da forma
zoonótica, do gato para a pessoa.
Com relação aos felinos contaminados, os dados são obtidos por avaliação clinica
epidemiológica e por coleta de material das lesões por SWAB, e realizada cultura fúngica
(Larsson & Lucas, 2016). A confirmação é obtida com o isolamento do Sporothrix spp. a
partir dos exsudatos das lesões (Araújo et al., 2020; Barros et al., 2012; Marques-Melo et
al., 2014; Marques et al., 1993; Pires, 2017; Silva et al., 2015) realizadas no Laboratório do
Centro de controle de zoonoses do município de São Paulo.

Imagens de Lesões de esporotricose em felinos:

Figura 3 – Lesão em membro de felino


(Arquivo pessoal, 2018)
16

Figura 4 – lesão Oronasal


(Arquivo pessoal, 2016)
17

Figura 5 – Lesões cutâneas em cabeça e dorso


(Arquivo Pessoal, 2018)
18

2 REVISÃO DE LITERATURA

Esporotricose é uma micose que atinge o tecido cutâneo e subcutâneo, causada por
um fungo, o Sporothrix schenckii , é distribuído no solo, na água, matérias em decomposição,
encontrado em regiões tropicais e também subtropicais ( Barros, 2011; Chakrabarti,2015).
No Brasil o primeiro caso humano foi relato em 1907, por Lutz e Splendore, detectado
em camundongos que desenvolveram a doença naturalmente, mas a doença já havia sido
descrita desde 1898 por Benjamim Schenck em Baltimore. Há também relatos de casos
em outros animais, esquilos, calopsitas, papagaios, cachorros, eqüinos, galinhas( Rippon,
1998), mas sem apresentar potencial zoonótico como o gato doméstico ( Schubach, 2012).
Nos humanos, a doença está relacionada com atividades rurais, afetando jardineiros,
trabalhadores agrícolas e fazendeiros, embora a doença seja atribuída ao fungo Sporothrix
schenckii , é de conhecimento que a doença é causada por um grupo de espécies que
conhecemos como Complexo Sporothrix schenckii(( de Beer, 2003; Marimon, 2006),grupo
este composto por espécies patogênicas, com maior potencial e importância clinica , entre
elas a S. schenckii, S. brasiliensis, S. globosa e S. luriel e espécies ambientais com baixo
potencial de patogenicidade , como a S. mexicana, S. pallida, S. chilensis, e a S. humicola,
contudo são menos frequentes casos ( Schubach et al., 2012)
A forma mais comum, ou clássica, de se adquirir a patogenia, ocorre de forma
traumática, com contato com solo, espinhos, madeira contaminados, porém também pode
acontecer por mordeduras, arranhaduras ou por contato com lesões de animais, principal-
mente felinos, infectados, sabemos que a contaminação humano-humano é muito rara (
Rodrigues, 2016).
No Brasil, a epidemia, de perfil zoonótico, é relatada a partir da década de 1990, no
Rio de Janeiro, considerado o epicentro da esporotricose , mas também com ocorrência
em São Paulo, Minas Gerais, Espirito Santo, estes 3 Estados limítrofes com o Rio de
Janeiro , mas também com grande incidência no Rio Grande do Sul ( Gremião et al. , 2020;
Montenegro et al. , 2014; Paiva et al. , 2020; Rodrigues et al., 2020).
A esporotricose é considerada uma doença negligenciada, um grave problema de
saúde pública e vem tomando proporções de epidemia, muito associada às áreas de
vulnerabilidade social ( Pereira, 2014).
Muitas pessoas que adquirem a esporotricose temerosas por ocorrer outras con-
taminações, acabam abandonando seus gatos , este fato acaba favorecendo o aumento
da doença, bem como através da morte de seus animais, enterrados ou abandonados em
terrenos baldios contribuem com a contaminação do ambiente (Barros, 2010)
As características dos gatos envolvidos na cadeia de transmissão são: gatos que
possuem casa, mas tem acesso à rua, ou gatos que vivem nas ruas; em sua maioria
19

machos, não castrados, que acabam se envolvendo nas disputas por fêmeas no cio, e
sendo contaminados por arranhaduras e mordeduras de gatos contaminados com a doença
e portadores saudáveis; faixa etária de 2 a 3 anos , e que não possuem raça definida. Estes
animais acabam por serem fontes de contaminação para os humanos e outros animais
domésticos, então desta forma, não só os trabalhadores rurais são considerados como
grupo de risco , mas também, os tutores de gatos, cuidadores de animais, profissionais
de banho e tosa, profissionais veterinários e estudantes de medicina veterinária podem se
contaminar ocasionalmente por arranhaduras e mordeduras destes animais (Pereira, 2014).
O diagnóstico é realizado pelo isolamento do agente patogênico em cultura, técnicas
histológicas e citológicas podem ser utilizadas para a confirmação do mesmo (Gremião,
2015).
Além das lesões cutâneas, obseerva-se também lesões fúngicas em figado, pulmões,
baço e linfonodos (Schubach, 2003). Temos a padronização de um exame de técnica ELISA
( Ensaio imunoenzimático) que tem o objetivo encontrar no material anticorpos específicos
contra o S. schenckii em felinos, sendo importante ferramenta para a identificação da
esporotricose ( Nelson & Couto, 2006).

Figura 6 – Sporothrix schenckii livres e no interior do citoplasma de macrófagos.


(Fonte: www.avma.org)

O tratamento da doença ocorre pelo uso de agentes fúngicos orais e apresenta um


desafio, pois muitos pacientes apresentam efeitos adversos, não respondem ao tratamento
e possuem um custo considerável . Os fármacos azólicos (Itraconazol, cetoconazol) e o
iodeto de potássio são os medicamentos mais comuns utilizados no tratamento. Em média,
o tratamento leva de 4 a 9 meses e deve continuar até um mês após a cura total. Em alguns
casos, com histórico de lesões refratárias, podemos associar a anfotericina B, aplicada via
subcutânea e também intralesional (Gremião, 2011; Pereira 2009).
20

Figura 7 – Aplicação de Anfotericina B em lesões causadas pela esporotricose


(Arquivo Pessoal,2022)
21

Em alguns casos , pode ser realizada a indicação de criocirurgia, para lesões com
grande extensão, associada ao uso concomitante do itraconazol via oral, este protocolo
terapêutico, geralmente, tem bons resultados e sucesso ( Souza, 2016). Mas o prognóstico
para os gatos depende da extensão , quantidade e localização das lesões, bem como
comprometimentos respiratórios, a condição clinica geral , o tipo de cepa com virulência
variável interferindo diretamente na resposta do tratamento entre os indivíduos infectados.
A cooperação dos responsáveis pelos pacientes é de fundamental importância para termos
êxito no tratamento ( Schubach, 2012).
22

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados apresentados no presente estudo foram disponibilizados pelo Centro


de Controle de Zoonoses do Município, provenientes dos gatos residentes na Cidade de
Guarulhos. Dados coletados no período de 2011 até agosto de 2022.
Os casos contabilizados foram atendidos no CCZ - Guarulhos , gatos que apresen-
tavam lesões que incluíam a esporotricose como hipótese diagnóstica, foram realizadas
coletas tanto nas dependências do centro, onde tutores levavam seus animais com a sus-
peita, como coletas realizadas durante visitas técnicas do veterinários do CCZ à residência
de moradores responsáveis por animais com suspeita clínica, visitas agendadas através
contato prévio do munícipe, como também através da busca ativa dos funcionários do CCZ
em regiões censitárias onde a doença tivesse sido diagnosticada previamente.
A concentração de casos na observação se apresentou nos locais onde ocorrem o
maior índice de vulnerabilidade social

Figura 8 – COMUNIDADE EM GUARULHOS (Arquivo Pessoal, 2018)


23

Figura 9 – COMUNIDADE EM GUARULHOS (Arquivo pessoal, 2018)

Guarulhos tem mais de 1600 Setores Censitários, mas em apenas 8 setores censitá-
rios ( Bairros: São João, Bonsucesso, Nova Bonsucesso, Pimentas, Parque Santos Dumont,
Cabuçu, Vila Carmela e Parque Residencial Bambi) observam-se 50% dos casos de gatos
e humanos com esporotricose. Na realidade de Guarulhos não se consegue tratar todos os
setores censitários com equidade.
Observa-se, ao longo dos anos, o aumento significativo de casos, que se acentuaram
principalmente após a regulamentação da notificação compulsória para casos humanos no
município, esta característica se deve pela investigação nas áreas de incidência da doença
em humanos, levando à identificação dos casos nos felinos , estes diretamente relacionados
aos casos notificados. Cabe ressaltar que, embora, tenhamos dados suficientes para
perceber que os casos de esporotricose no município apresenta perfil de epidemia, sabemos
que estes dados estão muito longe da realidade da doença, sabe-se que o número de
casos deve muito maior dos que estão sendo apresentados neste trabalho e que por uma
questão de negligência e até mesmo ignorância sobre a doença , muitos animais são mortos,
enterrados, jogados em terrenos baldios, riachos e rios ou até mesmo abandonados em
outros municípios próximos.
24

Tabela 1 – CASOS ( ANALISE EXPLORATÓRIA)

ANO NÚMERO DE CASOS

2011 2

2012 5

2013 9

2014 24

2015 171

2016 437

2017 711

2018 936

2019 1221

2020 1366

2247 até agosto de 2022


2021-2022
25

Figura 10 – Serie temporal de casos de esporotricose felina , notificações entre 2011 e 2022 pelo
Serviço de Vigilância de Zoonoses do Município de Guarulhos. Cidade de Guarulhos,
2011-2022

MODELO CAUSAL – HIPÓTESE CAUSAL


Estabelecer uma relação entre vulnerabilidade e ocorrência de esporotricose felina:
Saneamento básico deficiente (Vai promover o aumento de roedores e sinantrópicos,
por consequência, ocorre um aumento no número de gatos errantes);
Dificuldade no controle populacional dos gatos;
Residências sem barreiras físicas para o trânsito de gatos, promovendo o surgimento
de casos de gatos com esporotricose.
A vulnerabilidade social prejudica o acesso aos serviços veterinários, não só no
caso da esporotricose, como também a prevalência de outras doenças, as pessoas não
26

conseguem levar seus animais ao veterinário, aumentando o contato de animais infectados


com animais sadios, aumentando desta forma a probabilidade de transmissão zoonótica.
Da mesma forma, a vulnerabilidade social faz com que o individuo tenha dificuldade
no acesso aos serviços de saúde, diminuindo também a taxa de recuperação humana com
esporotricose.

Figura 11 – Gráfico acíclico direcionado. Representando a hipótese causal da esporotricose zoonótica


(Scuarcialupi el at., 2021)
27

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As áreas em vulnerabilidade econômica tem relação direta com o aumento dos casos
de esporotricose felina , essas áreas exigem um suporte maior, com abordagens integradas,
e inseridas em políticas públicas condizentes com a redução da desigualdade social (
Baquero, 2021). Desta forma identificar estas áreas, dentro do município de Guarulhos
é fundamental para podermos ter diretrizes e planejar o trabalho a ser desenvolvido nas
diferentes áreas e setores censitários que o município possui.
A existência de áreas silenciosas é um grande desafio, como, por exemplo, realizar a
vigilância nestas áreas, setores censitários com alta vulnerabilidade social sem histórico
de casos discriminados (Baquero, et al., 2021). Um exemplo, são as regiões, dentro de
Guarulhos, onde não temos nenhum relato de caso da doença, porém que possuem
características indicadoras de que a doença pode estar ali presente, regiões rurais, com
mata preservada, com moradias irregulares, em vulnerabilidade social, inexistência de
saneamento básico, com uma população de gatos presente, mas que até hoje não tivemos
nenhuma notificação de casos da esporotricose humana e também felina.( Vigilância
Sanitária, Secretaria da Saúde, Centro de Controle de zoonoses de Guarulhos, 2021).
A tomada de medidas para intervir na doença animal terá grande impacto no atual
cenário, gerando menos custos ao Sistema Único de Saúde a longo prazo e prevenindo
os tutores de gatos domésticos e seus animais, as principais vítimas da doença ( Baquero,
2021).
Cerca de 93% dos casos suspeitos, foram confirmados pelo isolamento do fungo,
mostrando, desta forma que o diagnóstico clínico nas áreas endêmicas com o diagnóstico
laboratorial são eficientes (Gonsales, 2018).
Complicações reais para o êxito no tratamento e diminuição desta epidemia:
Falta de programas de controle de esporotricose felina;
Falta de medicação gratuita (disponibilidade da medicação);
Alta frequência de abandono do tratamento (30 a 40% );
Falta de guarda responsável;
Aumento do número de gatos criados como pets (tutores sem práticas responsãveis),
aumentam , por negligência, a transmissão cruzada.
Falta de conhecimento das medidas de controle da esporotricose pela população;
Casos em regiões de condições econômicas desfavorecidas e serviços de saúde
precários;
Ausência de medidas de educação.

Os 2 casos, do ano de 2011, correram em comunidades muito próximas, mas,


no decorrer dos anos, os casos começaram a ter uma incidência em diversas áreas de
vulnerabilidade social, não próximas ao foco inicial identificado , como também não sendo
28

limítrofes destas mesmas áreas ( Vigilancia Epidemiologia, Secretaria da Saúde, Centro de


Controle de Zoonoses, 2021)
A expansão da área geográfica que a esporotricose se encontra atualmente, e o seu
rápido crescimento, quase que exponencial, configura a esporotricose felina como epidemia,
desta forma, ações de prevenção e controle devem ser priorizadas( Madrid et al.,2009).
Na hipótese apresentada, a vulnerabilidade social está diretamente relacionada à in-
cidência da esporotricose, porém não descartamos a existência de sua ocorrência em áreas
favorecidas socialmente, bem como a relação entre condições socioeconômicas precárias
e outras zoonoses negligenciadas, como, por exemplo, a leishmaniose, a leptospirose e a
raiva.
Com cerca de um terço da população concentrada em áreas de vulnerabilidade
social, a esporotricose impõe uma incidência maior a esta população e ao seu coletivo
multiespécie, ficando claro que as políticas públicas, principalmente, as voltadas para a
saúde, devem ter um olhar cuidadoso sobre a vulnerabilidade social. Caso contrário, os
esforços de controle destas doenças e ações preventivas, não terão êxito em seu propósito(
Scuarcialupi,2021).
Outra questão atrelada , é que, enquanto as casas não tiverem estrutura adequada
para os seus moradores e também para os seus pets felinos, com a oferta de ambientes
enriquecidos para os mesmos, restringindo o acesso destes as vias públicas e seus espaços,
de nada adiantarão a aplicação de tais restrições. Enquanto o trânsito de animais estiver
acontecendo, e ocorrendo o contato gato a gato, com campanhas de castração ineficientes
quanto ao número de animais existentes no município, a facilidade da transmissão da
doença continuará.
O CCZ fornece os medicamentos gratuitamente, bem como acompanha e orienta o
tratamento dos gatos infectados que chegam ao serviço. Mas muitas vezes, o tratamento não
acontece corretamente. Algumas vezes o tutor não se encontra no horário das medicações,
ou o gato também não aparece para que o tutor o medique, mesmo sabendo que deve
ocorrer o isolamento do animai em questão. Muitos gatos em tratamento, continuam tendo
acesso livre às ruas e telhados. Em outras situações , os tutores, não entendem como o
tratamento funciona e qual é a sua responsabilidade para o exito do tratamento.
Outra observação nos mostra que gatos sem tutores, comunitários ou ditos ferais,
não são tratados da doença e desta forma se portam como reservatório, em potencial, para o
Sporothrix spp.QA relação, Vulnerabilidade social e Incidência de Doenças, está diretamente
ligada uma à outra. Quanto maior a vulnerabilidade , maior a chance da população que
se encontra nesta situação adquirir doenças como a esporotricose, piorando ainda mais o
quadro de vulnerabilidade.( Baquero, 2021).
29

5 CONCLUSÃO

A Esporotricose ao longo dos anos tem apresentado mudanças epidemiológicas,


taxonômicas como a relação patógeno e hospedeiro. O ponto critico para o controle da
doença está nas dificuldades apresentadas como também o tratamento dos felinos e de
pacientes humanos. Os surtos nas áreas urbanas passaram a ser uma questão de saúde
pública.
Os resultados, deste estudo, são importantes uma vez que os felinos apresentam
papel fundamental na transmissão fúngica. É necessário se ter um perfil epidemiológico
destes gatos, nas áreas endêmicas. Bem como se adotar métodos diagnósticos que nos
deem suporte , para um diagnóstico rápido pensando na agilidade no tratamento e no
combate da esporotricose, de forma eficiente.
Por se tratar de uma infecção zoonótica, deve-se ter o cuidado no manejo do animal
infectado, fazendo utilização de equipamentos de proteção individual e o responsável pelo
animal deve ser advertido dos riscos de potencial de transmissão.
O diagnóstico correto é fundamental para definir o futuro do tratamento, já que é
longo e o tutor deve estar ciente de todos os aspectos ao iniciá-lo.
Como relatado, temos a vulnerabilidade social limitando a eficiência do diagnóstico,
do tratamento e do controle da esporotricose, comprometendo a criação de ações afirma-
tivas. Para termos exito , no caso do Brasil, mais especificamente, Guarulhos, mudanças
estruturais deveriam acontecer, mas estão associadas a tempo e muito esforço conjunto
para ocorrerem de fato.
Os dados apresentados nos mostram um crescente número de casos de gatos e
de humanos, devemos aprofundar mais estes estudos para se compreender a afecção,
conhecer a eficácia destas medidas de controle e descoberta de outras medidas que
auxiliem no sucesso das ações . Porém, para isto venha ocorrer, temos que ter a atuação
conjunta dos CCZs, dos Institutos de Pesquisa, das Universidades, como também de todos
os outros equipamentos de saúde humana e veterinária. Este papel é fundamental, desta
forma poderá ser desenvolvidos programas de vigilância e controle em saúde eficazes e
efetivos .
30

6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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