Você está na página 1de 3

XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO DIFERENCIAL DAS


PRINCIPAIS DERMATOACARÍASES EM CÃES
Júlio Cézar dos Santos Nascimento1, Suany Regina Vanderley2, Gizélia Lemos Pinto3, Ludmilla Vicenzi4, Rafael Bruno
Marques de Oliveira5, Marcelo Honorato da Silva6, Marleyne José Afonso Accioly Lins Amorim7

Introdução
Scott et al. (2003) constataram que na casuística da clínica médica de cães, as dermatopatias representam cerca
de 30% do atendimento clínico, independente da localização geográfica e do desenvolvimento socioeconômico do país
considerado. Dentre os mais variados tipos de patologias cutâneas incidentes nos caninos, as dermatites parasitárias
assumem um papel representativo, não só pela ocorrência, mas também pela sintomatologia clínica no animal e pelo
potencial zoonótico característico a algumas dessas parasitoses.
Dentre as doenças cutâneas de origem parasitária estão as acaríases, enfermidades causadas por ácaros, que
ocorrem frequentemente em cães. Os ácaros são membros da ordem Acarina, apresentam-se menores do que os
carrapatos e não possuem cobertura endurecida; o hipóstoma pode ser desarmado e alguns ácaros apresentam
espiráculos no cefalotórax. Os ácaros parasitas são principalmente ectoparasitas da pele e mucosas, porém poucos são
endoparasitas. Distribuem-se por todo o mundo e são encontrados em plantas e animais, causando lesão direta e
disseminando doenças. Tendo em vista maior prevalência e importância no contexto clínico na medicina canina, pode-se
destacar os ácaros Demodex canis, Cheyletiella yasguri, Otodectes cynotis e Sarcoptes scabei (var. canis) (Scott et al.,
2003).
O objetivo desta revisão de literatura é fornecer subsídios para o clínico veterinário realizar o diagnóstico
diferencial das principais acaríases que acometem a pele dos cães (Demodex canis, Cheyletiella spp., Otedectes cynotis
e Sarcoptes scabei (var. canis) baseados nos exames parasitológicos de identificação morfológica dos ácaros patógenos.

Material e métodos
A. Pesquisa Bibliográfica
O levantamento bibliográfico consistiu na prospecção de informações em relação as principais acaríases que acomete
a pele dos caninos, direcionando para a morfologia dos ácaros causadores de dermatopatias, utilizando artigos
científicos, sites , livros, anais de congressos, relatórios técnicos, entre outros.

Resultados e Discussão
A. Otodectes cynotis
O. cynotis (Figura 1A) é comumente chamado de ácaro da orelha, possuindo como local de predileção o canal auditivo
externo de cães, gatos e vários outros mamíferos pequenos incluindo furões e raposas vermelhas, no entanto pode
infestar secundariamente outras partes do corpo, incluindo a cabeça, o dorso, a extremidade da cauda e os pés, sendo a
infestação denominada sarna otodécica ou otoacaríase (Taylor et al., 2010). A otocaríase é uma sarpa psoróptica
caracterizada por ser uma sarna não-penetrante, em que o agente casual não escava galerias dentro do tegumento do
hospedeiro, entretanto se desenvolve no pelame do animal alimentando-se de fluido tissulares na profundidade do canal
auditivo, próximo ao tímpano (Scott et al., 2003).
O diagnóstico laboratorial de sarna otodécica é em geral, feito através de otoscopia bilateral ou visualização do
cerúmen em microscópio esterioscópico utilizando espéculo veterinário e pinça de dissecção com algodão, introduzida
no canal auditivo, com o intuito de pesquisar a presença de O. cynotis. Os ácaros encontrados devem ser colocados

1
Primeiro Autor é aluno do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manuel de Medeiros, s/nº, Dois
Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900, juliocezar@veterinario.med.br
2
Segundo Autor é aluna do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manuel de Medeiros, s/nº, Dois
Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900.
3
Terceiro Autor é aluna do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manuel de Medeiros, s/nº, Dois
Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900.
4
Quarto Autor é aluna do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manuel de Medeiros, s/nº, Dois
Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900.
5
Quinto Autor é aluno do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manuel de Medeiros, s/nº, Dois
Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900.
6
Sexto Autor é aluno do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manuel de Medeiros, s/nº, Dois
Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900.
7
Sétimo Autor é Professora Adjunta do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom
Manuel de Medeiros, s/nº, Dois Irmãos – Recife – PE - CEP: 52.171-900.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

sobre uma lâmina de vidro, coberta com uma lamínula e da solução de Hoyer e a identificação de ácaros é realizada de
acordo com Scott et al. (2003). Contudo, também pode-se realizar pesquisa de O. cynotis em materiais coletados por
raspado superficial ou em fita de acetato (Taylor et al., 2010).
Otodectes lembra Psoroptes e Chorioptes na sua conformação geral, tendo o corpo ovóide e pernas que se projetam.
Entretanto, como Chorioptes, é menor do que Psoroptes e não possuem pré-tarsos articulados. O pulvilo semelhante a
ventosa tem forma de taça, diferentemente de Psoroptes, em forma de corneta. A abertura genital é transversa, e em
machos todos os quatros pares de pernas tem pré-tarsos curtos, com haste e pulvilos, mas os processos posteriores são
pequenos (Taylor et al., 2010).

B. Cheyletiella yasguri
A queiletielose é uma dermatite descamativa ou crostosa, variavelmente pruriginosa, devido à infestação de ácaros do
gênero Cheyletiella spp., que vivem na superfície da pele e são responsáveis por um tipo de sarna conhecida como
“caspa ambulante” que também é considerada com potencial zoonótico. Sua ocorrência é pequena pelo uso de produtos
antipulgas e anticarrapatos, que também são eficazes no combate dos ácaros (Willemse, 1998).
Há estudos que relatam que as C. yasguri (Figura 1B) parasitam cães, a C. blakei, os gatos, e a C. parasitivorax, os
coelhos, sendo que todas elas podem acometer pessoas que tenham contato frequente com animais portadores (Scott et
al., 2003). Os ácaros vivem na superfície da pele e seus ovos ficam aderidos aos pedículos pilosos, sendo caracterizados
por ganchos proeminentes localizados na extremidade de aparelhos bucais acessórios. Os ácaros são facilmente
transmitidos de um animal a outro via contato direto, sendo a maneira pela qual geralmente ocorre a infestação.
Ocasionalmente, a transmissão pode ocorrer pelo contato com ácaros no ambiente (Willemse, 1998).
Cheyletiella yasguri tem cerca de 400 µm de comprimento e são ovóides, possuindo as quilíceras em forma de
lâminas, que são usadas para perfurar a pela do hospedeiro, e palpos oponíveis curtos e fortes com garras curvas. O
fémur do palpo possui uma longa serra dorsal (Taylor et al., 2010).

C. Demodex canis
A demodicose Demodex é uma enfermidade decorrente dos cães que se caracteriza por reação cutânea inflamatória
manifestada por duas condições principais e obrigatórias: a presença de uma quantidade supranormal de ácaros
Demodex canis e um estado de imunodeficiência no animal. A doença também conhecida por sarna folicular, sarna
vermelha, ou lepra canina, acomete os cães, não sendo constatada predileção racial, por sexo ou idade, apesar de ser
observado de forma mais severa e mais freqüente em filhotes (Bichard & Sherding, 2003).
D. canis (Figura 1C) pode ser encontrado no interior dos folículos pilosos, glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas
apócrinas cutâneas. Sobrevive alimentando-se do conteúdo das células epiteliais e sebo do folículo piloso (Scott et al.,
2003). De acordo com Wilkinson e Harvey (1997), a presença de grandes quantidades de ácaros causa dano e
afrouxamento das hastes dos pêlos, terminando com a queda dos mesmos, desde o folículo, resultando em quadro de
alopecia. A patogenia decorre da presença de Demodex nos folículos pilosos e glândulas sebáceas ocasionando sua
dilatação, permitindo assim a invasão bacteriana (Fortes, 1997).
As espécies de Demodex tem o corpo alongado e afilado, com até 0,1-0,4 mm de comprimento e quatro pares de
pernas curtas que terminam em garras rombas do adulto. Não se observa cerdas nas pernas nem no corpo e assim o
opistossoma estriado forma pelo menos metade do comprimento do corpo (Taylor et al., 2010).

D. Sarcoptes scabei var. canis


A sarna sarcóptica é uma dermatose de cães e, raramente, de gatos, devida à infestação pelo ácaro Sarcoptes scabiei
var. canis (Figura 1D) (Harvey et al. 2004). De acordo com Harvey e colaboradores (2004) uma cuidadosa avaliação da
história e uma observação dos sinais clínicos muitas vezes permitirão um diagnóstico preliminar de escabiose, assim
como a presença do reflexo de coçar as orelhas é altamente sugestivo, embora não patognomônico, de escabiose.
Também relata os diagnósticos diferenciais do Sarcoptes scabiei, que são: intolerância alimentar, dermatite por
Malassezia pachydermatis, dermatite por Pelodera strongyloides, hipersensibilidade à picada de pulga e dermatite
atópica.
O diagnóstico da doença de pele faz-se pelo aspecto clínico do animal junto com a confirmação da presença do ácaro
na pele por um exame de raspagem da pele e observação ao microscópio. Conforme Scott et al. (2003), uma flotação
fecal pode demonstrar ovos de ácaros ou ácaros adultos evidentes nas fezes.O Sarcoptes tem o contorno arredondado e
até 0,4 mm de diâmetro, com patas curtas que se projetam escassamente além da margem do corpo. O ácaro adulto é
microscópico, possui uma forma grosseiramente circular e completa o seu ciclo vital (ovo - larva - ninfa - adulto) em 17
a 21 dias nos túneis do estrato córneo (Taylor et al., 2010).

Conclusão
Diante desta informações reunidas neste presente trabalho, conclui-se que é de extrema inportância para o médico
veterinário dermatologista, o conhecimento das principais espécies de ácaros que parasitam a pele dos caninos, que irá
auxiliar na idenficação do patógeno e posterior diagnóstico clínico da doença, possibilitanto uma melhor abordagem
clínica e prognóstico do paciente.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Referências
SCOTT, D., MILLER, W., GRIFFIN, C. Muller & Kirk, dermatologia de pequenos animais.5. ed. Original. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. 1130p.
BICHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais. 2. ed. São Paulo: Roca, 2003.
SCOTT, D. W.; MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E. Dermatologia de Pequenos Animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996.
WILKINSON, G. T.; HARVEY, R. G. Atlas Colorido de Dermatologia dos Pequenos Animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1997.
FORTES, Elinor. Parasitologia Veterinária. 3. ed. São Paulo: Ícone, 1997.
TON WILLEMSE, Dermatologia Clinica de Cães e Gatos. Manole, 2.ed. 1998. p. 143.
TAYLOR, MIKE A.; COOP, R.L.; WALL, RICHARD L. Parasitologia veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

A B

C D

Figura 1. A) Macho maior de O. cynotis aproximando-se de uma deutoninfa; B) Esboço artístico de uma fêmea adulta do ácaro C.
yasguri, mostrando o corpo característico em forma de sela e os ganchos diagnósticos das partes bucais acessórias. C) Dois ácaros
adultos D. canis (500 X); D) S. scabei var. canis adulto (notar as longas hastes não-unidas e os sugadores. (Fonte: Taylor et al.
(2003).

Você também pode gostar