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Arthur Rio Verde Melo Rosin - 11202020257

Gabriel Dias Nunes - 11202131400


Juliana Batista de Araujo - 11202020706
Marcos Rodrigues Fernandes Junior - 11202021716

GATTACA - A EXPERIÊNCIA GENÉTICA:

Comparações com a visão brasileira de C&T e com a perspectiva


antidiferenciacionista

SANTO ANDRÉ, 2022


INTRODUÇÃO

O filme “Gattaca: a experiência genética” se passa em um “futuro não tão distante”


do nosso planeta, onde a ciência e as pesquisas em biologia e genética evoluíram a tal
ponto que se é possível escolher os embriões “mais capazes” antes mesmo que o feto
comece a desenvolver-se. Essa possibilidade de “seleção artificial” acaba criando uma
nova espécie de preconceito na sociedade e dividiu-a em duas “castas”, os chamados
“nascidos da fé” ou “desGENErados”, que são as pessoas que nasceram “normalmente”,
ou seja, seus pais decidiram não realizar esse procedimento de escolha de embrião e os
“válidos” que seriam os seres humanos “tão perfeitos quanto possível”, que passaram por
esse processo de escolha e, consequente, têm menos chances de desenvolver doenças
genéticas por exemplo, essa divisão em castas resulta em uma nova espécie de
preconceito, onde os “válidos” seriam preferencialmente contratados para vagas de
emprego por exemplo, já que eles são, aos olhos da sociedade, melhores e mais aptos,
além de terem maiores chances de viver uma vida mais longínqua comparados com os
“nascidos da fé”, sendo assim, é os empregos que são mais valorizados e bem pagos são
ocupados por “válidos”, enquanto empregos menos valorizados (como o de faxineiro) são
ocupados por “inválidos”. A história do filme gira em torno de Vincent, um “nascido da fé”
que sonha em trabalhar em Gattaca, uma grande corporação mundial que aceita apenas
“válidos” em sua corporação, e os desafios que ele precisa passar, se passando por um
“válido” para conseguir realizar seu sonho.
OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo analisar o filme, especificamente, as relações e


influências que a ciência tem sobre a organização da sociedade e na sociedade em si,
sob o olhar da teoria antidiferenciacionista, assim como usar dados da pesquisa sobre
“percepção pública de ciência e tecnologia no Brasil”, do CGEE (Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos) para tentar fazer ligações com a percepção brasileira de C&T com
a realidade do filme.
METODOLOGIA

Analisar o filme “Gattaca: a experiência genética” sob o olhar da perspectiva


antidiferenciacionista, tendo como base os textos e autores estudados em aula. Ademais,
tentar identificar possíveis ligações entre a visão brasileira de ciência e tecnologia e a
realidade retratada no filme, tendo como base a pesquisa sobre “Perspectiva Pública de
C&T no Brasil”, do CGEE.
ARGUMENTAÇÃO

GATTACA E A VISÃO ANTIDIFERENCIACIONISTA

É possível perceber que a sociedade na qual o filme se passa é baseada


completamente em um regime tecnocrata, onde as decisões tomadas têm total base nos
chamados fatos científicos e eles são os fatores determinantes para que as coisas
aconteçam/decisões sejam tomadas. Embora tal visão possa, em um primeiro momento,
aparentar que carrega consigo apenas pontos positivos, uma vez que a própria ideia de
ciência carrega consigo um viés de veracidade e progresso, quando analisamos outros
aspectos, é possível notar que um regime tecnocrata é idealizado por um grupo, portanto,
sempre haverá um viés em relação às métricas utilizadas para determinar o certo e o
errado.
Isso pode ser observado em diversos momentos do filmes, onde as pessoas
chamadas “degeneradas”, que seriam as menos aptas aos olhos da ciência do filme, são
tratadas com desprezo pelas demais, sofrendo um novo tipo de preconceito, o que faz
com que essas pessoas vivam em áreas mais pobres, percam empregos, tudo isso
devido a essa crença de que se a “ciência” não participou da “criação” delas, essas
pessoas não possuem as mesma capacidades que aquelas pessoas “escolhidas”, a
sociedade como um todo tornou aceitável olhar para as pessoas através dessa lente e
esse preconceito acabou por se tornar um fato científico para as pessoas. Essa visão,
entretanto, distancia as pessoas da realidade, que passam a olhar não para os indivíduos,
mas sim para um exame de DNA, por exemplo, e tiram todas as suas conclusões com
relação aos indivíduos, não olhando diretamente para eles, mas sim se baseando em sua
genética, não analisando aquilo que o indivíduo é capaz de realizar, mas sim observar se
o código genético diz se ele consegue ou não, a observação acaba por ser “exteriorizada”
(PINCH apud SHINN, RAGOUET, 2008), a ciência não olha para as pessoas e suas
capacidades, mas sim o código genético e usa ele como base para “determinar” as
capacidades dos indivíduos, com isso, o filme também traz à tona um debate sobre a
eugenia, teoria esta que tenta usar da ciência para realizar uma seleção de indivíduos
cujo objetivo visa o processo de aprimoramento genético da espécie humana, logo, tal
teoria, a qual carrega valores racistas e extremamente classistas, se debruça sobre a
ciência para trazer autoridade e veracidade. Isso mostra como a ciência não é algo
superior ou diferente de outros meios, ela não é incapaz de errar e não-influenciável, os
atores que participam dela têm razões e crenças que direcionam suas decisões.
O FILME E A VISÃO BRASILEIRA DE C&T
Quanto a visão do brasileiro em relação a ciência, a maioria se posiciona favorável
e otimista segundo o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) em uma pesquisa
realizada em 2019 sobre a percepção pública da C&T no Brasil. A pesquisa foi realizada
pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Centro de
Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) com parceria do Instituto Nacional de
Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC).
Em geral, essa visão é boa, tendo em vista que a maioria dos brasileiros
consideram que a ciência e a tecnologia proporcionam mais benefícios que malefícios ou
até só trazem benefícios. É um cenário agradável, mas que pode se tornar um pouco
preocupante ao comparar com dados de outros anos. Há uma queda pequena nos
aspectos bons e uma leve crescida em aspectos não considerados tão bons assim.

Figura 1: Como é visto o cientista. a) pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade; b)
pessoas que se interessam por temas distantes da realidade das pessoas; c) pessoas que servem a
interesses econômicos e produzem conhecimento em áreas nem sempre desejáveis.

Fonte: www.cgee.org.br/web/percepcao/home

Na imagem anterior é possível observar que 11% dos entrevistados acredita que os
cientistas são “Pessoas que servem a interesses econômicos e produzem conhecimento
em áreas nem sempre desejáveis”. Isso mostra que uma considerável parcela da
população reconhece que, em muitos casos, aquilo que o cientista (um ator da ciência)
faz é influenciado por fatores externos, no caso da pergunta, a economia, o que vai de
encontro com um dos pontos defendidos pelos antidiferenciacionistas, a ciência é sim
influenciada por outros aspectos sociais.
Com relação à representação dos cientistas em si, no filme, são representados na
maior parte do tempo como sendo pessoas lógicas e frias, que se baseiam apenas em
aspectos científicos e que passam confiança. Essa representação combina em partes
com a visão que o brasileiro tem de um cientista. Segundo a pesquisa feita pelo CGEE
41% das pessoas acreditam que os cientistas são pessoas inteligentes que fazem coisas
úteis para a sociedade, o que vai de encontro com a representação encontrada no filme,
porém, 23% acreditam que eles são pessoas normais com treinamento especial, o que já
difere da representação vista no filme, já que as pessoas "comuns" exerciam funções de
menor importância na sociedade.
Além disso, de acordo com a mesma pesquisa, 66% dos brasileiros afirmam que
consideram cientistas pessoas perigosas, por causa do conhecimento que possuem. Uma
possível razão para essa desconfiança pode ser vista ao analisar o filme e observar como
a ciência e os cientistas são retratados no mesmo, justamente, porque o filme retrata uma
tomada de poder através da ciência o que acaba por determinar uma nova forma de
segregação social.

Figura 2: Opinião sobre tópicos da ciência (% concordam)

Fonte: www.cgee.org.br/web/percepcao/home

Talvez a falta de conhecimento por parte de uma grande parcela da população seja
a responsável por trazer esse medo à tona e, um maior acesso ao conhecimento, poderia
amenizar esse sentimento de que a população está à mercê do que a ciência a
apresenta. E o perigo realmente está presente, não só no Brasil, na falta da procura por
conhecimento e na comodidade de acreditar no que escutamos. O uso adequado do
conhecimento também é necessário, respeitando a ética, os direitos humanos e usando a
ciência para benefícios de todos.
CONCLUSÃO
Concluindo, após a análise é possível observar que “Gattaca: a experiência
genética”, carrega consigo um ponto de vista antidiferenciacionista, uma vez que
questiona toda organização de um regime tecnocrata e suas métricas para selecionar os
indivíduos, mostrando que todo contexto interfere neste processo de construção da
ciência. Indo além, o filme em questão reforça esta ideia de que valores externos e ideais
possuem um papel fundamental no rumo de como a ciência é produzida, uma vez que o
filme traz à tona um debate sobre a eugenia, teoria esta que tenta usar da ciência para
realizar uma seleção de indivíduos cujo objetivo visa o processo de aprimoramento
genético da espécie humana, logo, tal teoria, a qual carrega valores racistas e
extremamente classistas, se debruça sobre a ciência para trazer autoridade e veracidade.
Ademais, olhando para a perspectiva brasileira de C&T, é possível também ver
alguns aspectos que estão presentes na visão da sociologia antidiferenciacionista, como o
fato de que a ciência e os cientistas são influenciados por fatores externos à ciência, ou
seja, a ciência não seria um campo social isolado e que a apreensão que mais da metade
da população sente com relação aos cientistas, além, é claro, da falta de acesso à própria
ciência e ao conhecimento científico, talvez também possa ser explicado por coisas como
a realidade distópica retratada no filme, onde, em teoria, por causa dos cientistas e de
avanços alcançados por eles na ciência, um novo tipo de segregação social acaba
surgindo.
REFERÊNCIAS

CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS; MINISTÉRIO DA CIÊNCIA,


TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES. Percepcão Pública da C&T no Brasil.
[S. l.], 2019. Disponível em:
https://www.cgee.org.br/web/percepcao#:~:text=Percepção%20sobre%20benefícios%20e
%20malefícios,que%20malefícios%20para%20a%20sociedade. Acesso em: 16 nov. 2022.

GATTACA: a experiência genética. Direção: Andrew Niccol. Produção: Danny DeVito;


Stacey Sher; Michael Shamberg. Roteiro: Andrew Niccol. EUA: Columbia Pictures
Corporation, 1997. Disponível em:
https://www.primevideo.com/dp/amzn1.dv.gti.1aad8135-6802-f58d-de1d-d37566a49d60?a
utoplay=0&ref_=atv_cf_strg_wb. Acesso em: 17 nov. 2022.

MANINI, Ricardo. A ciência aos olhos da sociologia. ComCiência, Campinas, n. 152, out.
2013 . Disponível em
<http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-7654201300080001
3&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 jan. 2023.

MARTINS, Carlos Estevam. Tecnocracia como modo de produção. Revista de


Administração de Empresas [online]. 1973, v. 13, n. 3 [Acesso em: 2 Janeiro 2023], pp.
29-46. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0034-75901973000300003>. Epub 13
Maio 2015. ISSN 2178-938X. https://doi.org/10.1590/S0034-75901973000300003.

SHINN, T.; RAGOUET, P. Controvérsias sobre a ciência: por uma sociologia


transversalista da atividade científica. São Paulo: Editora 34, 2008.

SCHWARTZMAN, S. Ciência, universidade e ideologia: a política do conhecimento


[online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein, 2008. Ciência, tecnologia, tecnocracia e
democracia. pp. 7-17. ISBN 978-85-99662-50-2 . Disponível em:
https://books.scielo.org/id/mny2p/pdf/schwartzman-9788599662502-02.pdf. Acesso em: 4
jan. 2023.

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