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Figura 1: Como é visto o cientista. a) pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade; b)
pessoas que se interessam por temas distantes da realidade das pessoas; c) pessoas que servem a
interesses econômicos e produzem conhecimento em áreas nem sempre desejáveis.
Fonte: www.cgee.org.br/web/percepcao/home
Na imagem anterior é possível observar que 11% dos entrevistados acredita que os
cientistas são “Pessoas que servem a interesses econômicos e produzem conhecimento
em áreas nem sempre desejáveis”. Isso mostra que uma considerável parcela da
população reconhece que, em muitos casos, aquilo que o cientista (um ator da ciência)
faz é influenciado por fatores externos, no caso da pergunta, a economia, o que vai de
encontro com um dos pontos defendidos pelos antidiferenciacionistas, a ciência é sim
influenciada por outros aspectos sociais.
Com relação à representação dos cientistas em si, no filme, são representados na
maior parte do tempo como sendo pessoas lógicas e frias, que se baseiam apenas em
aspectos científicos e que passam confiança. Essa representação combina em partes
com a visão que o brasileiro tem de um cientista. Segundo a pesquisa feita pelo CGEE
41% das pessoas acreditam que os cientistas são pessoas inteligentes que fazem coisas
úteis para a sociedade, o que vai de encontro com a representação encontrada no filme,
porém, 23% acreditam que eles são pessoas normais com treinamento especial, o que já
difere da representação vista no filme, já que as pessoas "comuns" exerciam funções de
menor importância na sociedade.
Além disso, de acordo com a mesma pesquisa, 66% dos brasileiros afirmam que
consideram cientistas pessoas perigosas, por causa do conhecimento que possuem. Uma
possível razão para essa desconfiança pode ser vista ao analisar o filme e observar como
a ciência e os cientistas são retratados no mesmo, justamente, porque o filme retrata uma
tomada de poder através da ciência o que acaba por determinar uma nova forma de
segregação social.
Fonte: www.cgee.org.br/web/percepcao/home
Talvez a falta de conhecimento por parte de uma grande parcela da população seja
a responsável por trazer esse medo à tona e, um maior acesso ao conhecimento, poderia
amenizar esse sentimento de que a população está à mercê do que a ciência a
apresenta. E o perigo realmente está presente, não só no Brasil, na falta da procura por
conhecimento e na comodidade de acreditar no que escutamos. O uso adequado do
conhecimento também é necessário, respeitando a ética, os direitos humanos e usando a
ciência para benefícios de todos.
CONCLUSÃO
Concluindo, após a análise é possível observar que “Gattaca: a experiência
genética”, carrega consigo um ponto de vista antidiferenciacionista, uma vez que
questiona toda organização de um regime tecnocrata e suas métricas para selecionar os
indivíduos, mostrando que todo contexto interfere neste processo de construção da
ciência. Indo além, o filme em questão reforça esta ideia de que valores externos e ideais
possuem um papel fundamental no rumo de como a ciência é produzida, uma vez que o
filme traz à tona um debate sobre a eugenia, teoria esta que tenta usar da ciência para
realizar uma seleção de indivíduos cujo objetivo visa o processo de aprimoramento
genético da espécie humana, logo, tal teoria, a qual carrega valores racistas e
extremamente classistas, se debruça sobre a ciência para trazer autoridade e veracidade.
Ademais, olhando para a perspectiva brasileira de C&T, é possível também ver
alguns aspectos que estão presentes na visão da sociologia antidiferenciacionista, como o
fato de que a ciência e os cientistas são influenciados por fatores externos à ciência, ou
seja, a ciência não seria um campo social isolado e que a apreensão que mais da metade
da população sente com relação aos cientistas, além, é claro, da falta de acesso à própria
ciência e ao conhecimento científico, talvez também possa ser explicado por coisas como
a realidade distópica retratada no filme, onde, em teoria, por causa dos cientistas e de
avanços alcançados por eles na ciência, um novo tipo de segregação social acaba
surgindo.
REFERÊNCIAS
MANINI, Ricardo. A ciência aos olhos da sociologia. ComCiência, Campinas, n. 152, out.
2013 . Disponível em
<http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-7654201300080001
3&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 jan. 2023.