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Analisis pelicula Gattaca

A película Gattaca apresenta diversos aspectos com influencia no campo da genética. Esta
película aborda um tema controverso que é a manipulação genética que está presente em toda a
película, inclusive na escolha do nome, “GATTACA – A experiência genética”, que tem origem
nas bases nitrogenadas do ácido desoxirribonucleico (ADN). No decorrer da película, é
apresentada uma sociedade “futurista” na qual há a tomada de decisões a fim de garantir que os
futuros nascimentos sejam desprovidos de doenças hereditárias, recorrendo a técnicas que
incluem a manipulação de células embrionários, o que o que é contrário ao respeito absoluto que
merece o embrião humano, enquanto pessoa humana. Além disso, há a possibilidade de escolher
as características físicas da pessoa a nascer, como demonstra o filme, através de planeamento
genético, o que coloca em causa a questão das patentes de genes humanos, que não deve ocorrer,
visto que numa abordagem personalista, devemos considerar que o património genético humano
não pode ser sujeito a patente, nem a propriedade de ninguém, sendo eticamente reprovável.
A película aborda também a questão da eugenia, isto é, a busca por um ser melhorado
geneticamente, e a reprovação daqueles que não apresentam determinadas características físicas
ou de personalidade. No início da película há uma apresentação do personagem, Vincent, que, a
princípio, se apresentava como Jerome, geneticamente modificado, no contexto de eugenesia
positiva, numa abordagem claramente transhumanista, o que é inaceitável numa abordagem
personalista, pois não promove a integridade e dignidade da pessoa humana, onde a relação com
os outros, independentemente das suas condições é essencial.
Neste caso, um homem aceita “ser outro”, a fim de garantir o máximo de direitos possíveis que
este novo “eu” lhe pode oferecer, bem como a possibilidade de não apenas sonhar, mas alcançar
um sonho. Durante outras cenas, é possível verificar que Vincent decide adoptar procedimentos
para assumir essa nova identidade e, assim, não ser reconhecido como “inválido”: cirurgia para
aumentar a altura e utilização de lentes de contato. Esta descrição das cenas da película revela
um não respeito do princípio de defensa de la vida física, pois verifica-se que a pessoa não pode
existir si no es en un cuerpo, que é requisito para exercer a sua liberdade.
Esta desumanização que pode ser testemunhada através da assepsia corporal extrema é percebida
pela fala do personagem, que se traduz no sentimento de “despersonificação do eu” como um

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todo, um não respeito pelo principio de totalidade, ou seja uma pessoa humana libre, com o seu
corpo material.
Ao observarmos a estrutura social de GATTACA como um todo, é possível perceber que a qual
história genética pessoal determina qual será o futuro desse indivíduo. A partir do mapeamento
genético, oportunidades de trabalho são oferecidas ou não, a fim de reduzir, possíveis surpresas
genéticas relacionadas, por exemplo, ao fracasso do trabalhador, sem existir relevância nas
qualidades pessoais do candidato, conduzindo a uma importante descriminação. Em Gattaca há a
sobredeterminação genética, o controlo microscópico do ser humano a partir do seu interior
material, consistindo numa falta de respeito pela pessoa humana. Para poder admirar, respeitar e
proteger o genoma humano é necessário buscar soluções no pensamento cristão.
Na sociedade de GATTACA os genes expressariam as qualidades pessoais de cada indivíduo,
sendo que, a possibilidade de um relacionamento amoroso ou profissional seria determinada por
essas qualidades, sem se respeitar as escolhas livres do indivíduo, não havendo escolha, o que
coloca em causa o principio de la sociabilidade y subsidariedad. Deveria existir um enfoque que
coloca-se a pessoa no centro da sociedade, devendo ser beneficiária dos seus recursos e não alvo
de manipulação e exploração. A expressão de um gene pode ser afetada por grande número de
fatores ambientais e ocorre de um modo muito mais complexo do que o simples “existir de” ou
“possuir” um gene qualquer.
A visualização desta película, leva-nos a abordar temas relacionados com o Projeto Genoma
Humano, tais como: manipulação genética, fecundação in vitro, terapia génica e aconselhamento
genético, numa perspectiva diferente da simples abordagem técnica. Neste contexto, conceitos
como DNA, cromossomas, modelo de dupla hélice, meiose, síntese proteica, na perspectiva
histórica da eugenia, deixam de ser palavras inertes e podem ser compreendidos, como veículos
ideológicos, ao dispor de determinados indivíduos e grupos, o que coloca em risco o principio de
liberdade y responsabilidade. Este tipo de manipulação não deveria existir, devendo a pessoa ser
libre, mas para conseguir el bien de sí mismo y el bien de los otros seres vivientes.
A possibilidade de ascender socialmente reduz-se devido ao círculo fechado entre riqueza
material e riqueza genética, pois só quem possui a primeira terá acesso à segunda, só quem teve
acesso à segunda terá lugar garantido a empregos de maior rendimento financeiro, que poderão
aceder a tecnologia genética, o que leva ao surgimento de um tipo de determinismo genético
contrário ao respeito pela dignidade da vida humana e ao pensamento cristão.

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Em Gattaca a partir da cena do nascimento de Vincent, há a possibilidade de se abordar o tema
das doenças genéticas e a possível expressão delas como resultado de uma interação gene-
ambiente, ou seja, discutindo a relação existente entre genes (responsáveis por características
que podem ser normais ou patológicas) e o meio ambiente, recusando um determinismo genético
redutor.
A película GATTACA levanta imensas questões do âmbito da bioética, como a dignidade da
pessoa humana, que é colocada em causa pela manipulação genética, que permite que o homem
possa perder a sua dignidade intrínseca, deixando de ser considerado como um fim em si mesmo,
para ser um meio através do qual outros podem conseguir alcançar determinados desejos, de que
é exemplo a escolha das características físicas ou de personalidade, mesmo antes de uma pessoa
nascer. A desrespeito pelo conceito central de dignidade humana é colocado numa vertente em
que se procura conceber indivíduos que possuem características ditas como “superiores”, o que
nos reporta para o trans-humanismo ou pós-humanismo.

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