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As parecenças familiares são um fenómeno que todas conhecemos. Alguns de nos somos
mais parecidos com o nosso pai, outros com a nossa mãe, e com outros ainda é difícil
aferir qual os progenitores tem em nós maior peso. Se recuarmos um pouco mais,
encontramos parecenças com avós, e olhando para o lado encontramos primos ou tios
com quem também temos semelhanças.
Cromossoma – Sendo portador e transmissor de ADN, contém vários genes que são
responsáveis por todas as características físicas do individuo, transportando a informação
genética que recebemos dos nossos progenitores.
É com a conceção que tudo começa. O óvulo é fecundado por um espermatozoide, dando
origem a um ovo ou zigoto, que é a primeira célula que constitui cada individuo. Esta
célula tem toda a informação genética que define cada um de nós, e por um processo de
divisão em duas, que por sua vez também se subdividem, aí estamos nós. A esse processo
dá-se o nome de mitose.
A informação genética que herdamos dos nosso pais está contida nos cromossomas. A
espécie humana tem vinte e três pares de cromossomas. Vinte e dois são comuns e só um,
que define o nosso sexo, é distinto nos dois sexos: na mulher, o par é de dois
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cromossomas X, e no homem o par tem um cromossoma X e outro Y. é, portanto, o
homem quem define o sexo da criança.
Ao mesmo tempo que nos assemelhamos a todos os membros da nossa espécie, também,
entre nós, nos conseguimos a distinguir. De facto, é impossível a um ser humano ganhar
em velocidade a uma chita, o que denota existirem características próprias de cada
espécie. Constatações como esta remetem-nos para a distinção entre hereditariedade
específica e hereditariedade individual.
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características individuais e singulares. Corresponde às características que nos distinguem
dos outros seres humanos.
As espécies não são imutáveis e evoluem no sentido gradual de resposta aos obstáculos
externos, escrevendo-se, assim, a história de cada espécie desde os seus ancestrais até à
forma que hoje se pode observar. Esta constatação está na base da distinção entre
filogénese e ontogénese.
Na “equação” sobre a interação entre genes e meio tem sido um enigma saber qual dos
fatores “pesa” mais sobre o comportamento humano. Não poderíamos ser o que somos e
quem somos sem o respetivo património genético, mas, do mesmo modo, não podemos
saber quem ou como seriamos se vivêssemos sob um outro contexto, ou num meio
diferente daquele em que vivemos.
Natureza ou meio?
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A discussão não é nova. Filósofos como René Descartes e David Hume, ou muitos
séculos antes, Platão e Aristóteles, debateram-se com este problema. A discussão foi
importada para o campo das ciências naturais e, ainda hoje, constitui um tema
amplamente discutido, nomeadamente quando nos referimos aos casos das crianças-
prodígio.
Conceção preformista
Conceção epigenética
A visão preformista perdeu força com novas interpretações e estudos sobre o impacto do
meio no desenvolvimento humano. Atualmente, privilegia-se uma visão que considera o
meio como o elemento que condensa as condições que permitem a expressão dos genes
em características reais. Sem a influência do meio, não passaríamos de um conjunto de
possibilidades virtuais. A constituição genética constitui a predisposição que depende da
interação com o meio para se manifestar, ou seja, é o meio que torna as possibilidades
biológicas em características e capacidades reais. Cada ser humano constrói-se na
combinação destes dois fatores.
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Convém salientar que uma visão epigenética não ignora o papel do genótipo no
desenvolvimento do ser humano, apenas atribui ao meio uma função, também ela
incontornável, na expressão que dá aos genes e ao modo como se configura o
desenvolvimento der cada indivíduo. Não se trata de cair numa forma de determinismo,
agora de ordem social, mas considerar a relação inseparável entre o património genético
(genótipo) e o meio como um processo ao qual damos o nome da pessoa.
A visão atual
O meio atua sobre nós, e essa situação ocorre desde a fase embrionária, em ambiente
intrauterino, até ao fim da nossa vida, acompanhando e pautando toda a nossa história
pessoal. Este contributo do meio deve-se, em grande parte, ao inacabamento biológico
que caracteriza a espécie humana à nascença.
Inacabamento biológico
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Uma resposta a esta questão relaciona-se com o advento do bipedismo na nossa historia
filogenetica. Somos, à nascença, um sistema aberto e “incompleto”: aberto a uma
interferencia significativa do meio, “incompleto” por não dispormos de mecanismos
inatos ou biologicos de proteção que assegurem a sua sobrevivência. Desprovida de
hiperespecializações para desenvolver determinados comportamentos que visem a sua
preservação, a espécie humana, diferentemente de outras espécies, tem de criativamente
suprimir a falta que deriva do seu inacabamento. O bipedismo, associado à libertação das
mãos, parece ter sido um dos grandes triunfos evolutivos na história evolutiva da
Humanidade.
Programa genético
No segundo caso, a impreparação dos seres humanos à nascença contribiu para outro
aspeto fundamental da nossa existencia, aliado à predisposição para a aprendizagem: a
predisposição para a sociabilidade e o crescimento e a complexificação das relações
sociais.
Prematuridade biológica
Neotenia
A fragilidade do ser humano à nascença – ser dependente dos outros, sem especializações
comportamentais ou capacidade de sobrevivencia por si mesmo – revela-se
posteriormente a maior vantagem de espécie, que consiste no prolongamento do periodo
da infancia, e que se traduz no aumento exponencial das capacidades intelectuais. A
neotenia, que é a tendência para a preservação dos traços da infância durante um longo
período, constitui uma marca singular da espécie humana e possbilita o desenvolvimento
de capacidades e competências exclusivas, responsáveis pela maior adaptabilidade do ser
humano. Somos seres neoténicos porque a prematuridade biológica da espécie a isso
obriga, tornando-se ausência de autonomia à nascença o motor que impulsiona a
autonomia futura.