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Introdução

As características biológicas e comportamentais são modeladas por diferentes processos


seletivos, por exemplo, o comportamento humano é interpretado como resultado da interação da
história evolutiva, história do indivíduo e a cultura.
A seleção natural é resultado de mudança evolutivas que ocorrem ao logo do tempo e é
passada adiante pela reprodução e pela herdabilidade. Uma vez que ela precisa de um longo período
para se perpetuar é preciso que haja a reprodução para formar novas gerações, e esses descendentes
possuem maior probabilidade de se parecer com seus pais. Vale lembrar aqui que, o fenótipo é o
resultado da interação entre o gene e o ambiente, desta forma a herdabilidade pode ser conceituada
em sentido amplo como a parte da variação fenotípica que pode ser atribuída a variação genética e
se manifesta através das gerações.
Evolução Biológica e Comportamento
Variabilidade genética e herança
O mecanismo de herança em organismos de reprodução sexuada foi elucidado por Gregor
Mendel em 1865; posteriormente, no século XX, descobriu-se como ocorrem a recombinações e as
mutações, o que permite a amplificação da variabilidade genética, tornando cada indivíduo único.
A sexualidade, que, culminou com a reprodução sexuada, surgiu como fruto da evolução
biológica e, em si, promove a evolução. A eficiência da recombinação para a amplificação da
variabilidade genética implica na existência de formas alélicas diferentes, originadas por mutação, e
na possibilidade de rearranjos gênicos. Embora a recombinação seja universal, a reprodução
sexuada criou novas oportunidades para rearranjos gênicos. O recurso evolutivo amplamente
desenvolvido para esse processo é o encontro de células provenientes, na maioria das vezes, de
indivíduos de sexos diferentes, cuja definição tem base genética (SIMÕES, 2020).
Seleção natural e artificial
Desde Darwin a seleção artificial vem atuando para ajudar a entender como funciona
a seleção natural, ele a utilizou para propor o mecanismo da seleção natural.
A seleção natural é um processo que não apresenta uma direção a priori, tendo como
selecionador de características de maior valor adaptativo o meio ambiente em que a espécie habita.
Esse processo de sobrevivência remete a mudanças, ao longo do tempo, na composição da genética
populacional.
O uso da seleção artificial é muito mais antigo que o estudo da genética. Por milhares de
anos utilizou-se o conhecimento empírico na seleção de indivíduos reprodutores com características
interessantes; muitas hortaliças utilizadas até hoje são derivadas de uma única espécie.
A diferença básica entre seleção artificial e seleção natural é que a primeira está
condicionada aos interesses do homem, enquanto a segunda está condicionada à adaptação das
populações a um determinado meio. A seleção artificial também costuma ser muito mais veloz que
a natural, pois há escolha precisa pelos produtores (BRANDÃO, 2004).
Seleção natural: Conduzida pela natureza (Ex: o elefante africano tem as orelhas maiores
que a outra espécie de elefante, pois necessita delas para controlar a temperatura do corpo em locais
muito quentes).
Seleção artificial: Conduzida pelo homem (Ex: não existem rosas multicoloridas na
natureza, mas se formos a uma floricultura e pedirmos, seremos atendidos, pois foi feita uma
seleção genética para essas colorações em suas pétalas).
Seleção sexual
Também temos a seleção sexual e existem duas formas de seleção sexual, intrassexual e a
intersexual; a primeira ocorre por competição, onde membros do sexo limitado competem entre si

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para ter acesso ao sexo limitante, já o segundo, quando o sexo limitante faz a escolha, os limitados
competem para serem escolhidos pelo sexo oposto.
Esse tipo de seleção não contribui diretamente para a sobrevivência de seus portadores, mas
são indicadores de aptidão, por exemplo o canto longo e melodioso de um sabiá, o papo
extremamente colorido de um lagarto, as garras desproporcionais de algumas espécies de
caranguejos; essas características destoantes são formas do macho mostrar para a fêmea que ele está
saudável e apto, o que gerará filhotes fortes e saudáveis.
Na espécie humana, a seleção sexual, assim como em outras espécies, induziu diferenças
morfológicas entre os gêneros masculino e feminino, na forma de caracteres sexuais secundários
(barba, mamas, distribuição dos pelos, etc), fenômeno denominado dimorfismo sexual, e de forma
análoga, certas características comportamentais, associadas particularmente à possibilidade do
gênero feminino ser capaz de gerar filhos.
História Evolutiva de uma Espécie
Por meio da aplicação da perspectiva evolucionista ao estudo do comportamento humano,
uma porta para novas possibilidades de entendimento dos processos psicológicos e de integrações
entre aspectos antes considerados desconexos se abriu. Mostrar que os mecanismos da evolução
natural atuam em todas as espécies, ampliou a investigação de diversos aspectos do comportamento
e acrescentou novas maneiras de olhar e novos níveis de analisar sua biologia, psicologia e sua
cultura.
Por diferenças estatísticas entre sobrevivência e reprodução diferenciadas de organismos da
mesma população expostos a pressões ambientais podemos concluir que uma espécie evoluiu, e
dizer que ela passou por um processo de seleção natural, afinal a evolução é resultado da seleção
natural. Nesse processo, as variações favoráveis à sobrevivência e reprodução da espécie são
mantidas e as desfavoráveis são extintas.
Comportamento e sobrevivência seletiva
O comportamento que apresenta uma consequência favorável para o indivíduo tem maior
chance de ser selecionada, já que aumenta a probabilidade de sobrevivência do indivíduo, e ao
contrário, aqueles que apresentarem consequência desfavorável podem ser enfraquecidos ou até
mesmo extintos.
A adaptação é fundamental para a evolução e pode ser compreendida como uma forma de
seleção de uma certa característica ou traço que ajudou direta ou indiretamente na sobrevivência e
reprodução e foi passada para as gerações futuras. A característica não surge pela pressão
ambiental, mas é selecionada por ela.
A evolução biológica se refere à mudança através do tempo e não deve ser confundida com
o conceito de progressão que traz a ideia de mudança para melhor, para estágios sempre superiores,
o que não ocorre necessariamente na natureza.
Filogenia e análises filogenéticas
A filogenia estuda as relações evolutivas entre os diferentes grupos de indivíduos existentes
na terra, sendo eles extintos ou não, em busca de um ancestral comum por meio de árvores
filogenéticas estimadas, determinando a história evolutiva do gene, da função ou da espécie.
Árvores filogenéticas e cladogramas são representações gráficas semelhantes às árvores
genealógicas familiares, avançando no passado.
As análises filogenéticas podem ser usadas com diversos objetivos, como entender
comportamentos adquiridos hereditariamente pela história de seleção da espécie; identificação de
polimorfismos importantes na seleção natural, que podem aumentar a imunogenicidade (capacidade
de uma substância provocar uma resposta imune) de determinadas proteínas auxiliando na produção
de vacinas; detecção de pontos de recombinação para funcionarem como marcadores moleculares

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na detecção de novas linhagens; identificação de mutações relacionadas a distúrbios ou doenças;
determinação da identidade de novos patógenos e caracterização molecular.
No nível filogenético, investiga-se a origem e percurso histórico das estratégias
comportamentais, ao longo da evolução por estudos comparativos das diferentes espécies e de
análises de registros fósseis ancestrais, entre outros, por homologia, origem comum, ou analogia,
convergência por pressões adaptativas semelhantes.
Sucessivas acumulações de pequenas mutações genéticas, fruto do desenvolvimento
biológico individual, transmitidas de geração em geração, através do tempo
geológico, construíram lentamente a história evolutiva da nossa espécie. A história
evolutiva da espécie estabelece o universo de possibilidade, a partir das quais cada
um de nós, seres humanos individuais, se desenvolve.
Manifestação de genes ancestrais
A ancestralidade é baseada no estudo de ancestrais e antepassados, determinada com base em
marcadores gravados ao longo de todo o DNA, sem necessariamente avaliar as características
físicas e culturais de um indivíduo ou população, e sim, a origem geográfica.
A manifestação dos genes ancestrais contribui para estudos de diversas áreas, como antropologia,
epidemiologia, genética de populações, aumentando sua diversidade e representatividade
populacional. Fornecem informações sobre a biologia humana e a interação do homem com o meio
ambiente, para a medicina personalizada, farmacogenômica, nutrigenômica, identificação de
biomarcadores e fatores ambientais para doenças.
Evolução Humana
Há pouco mais de 6 milhões de anos, iniciou a evolução da espécie humana. Uma população de
primatas, no noroeste da África, se dividiu em duas linhagens, uma permaneceu na floresta tropical
e originou grandes macacos sem cauda como os chimpanzés (Pan troglodites) e a outra se adaptou a
ambientes mais abertos dando origem ao ramo que originou o Homo sapiens. As características
próprias da espécie humana foram construídas no decorrer de milhares de anos; essa evolução os
diferenciou como uma espécie (VIEIRA, 2017).
Ancestrais humanos e o processo de hominização
Os primeiros registros do homem moderno (Homo sapiens) surgem no registro fóssil a cerca de 200
mil anos atrás. Antes e durante a formação da nossa espécie existiram muitas outras espécies do
gênero Homo, bem como outros hominídeos bípedes (Ex: Australopithecus, Parantropus,
Ardipithecus). A nossa linhagem deriva dos Australopithecus, e herdamos de ancestrais caçadores-
coletores anteriores ao Homo sapiens, a capacidade de produzir ferramentas e dominar o fogo.
O uso do fogo ampliou muito as possibilidades alimentares, estabelecendo uma grande capacidade
de adaptação a diferentes regiões. A cerca e 10 mil anos, iniciamos a domesticação de plantas e
animais, em vários locais diferentes da Terra, permitindo segurança alimentar e mudando os
padrões ancestrais de pequenos grupos nômades para grupos sedentários cada vez maiores.
Após ter aprendido a comer tudo o que fosse comestível, o homem aprendeu a viver em qualquer
clima, desta forma podendo estar presente em toda superfície possível da Terra, tornando-se o único
capaz que o fazia por vontade própria. A passagem do clima uniformemente cálido da pátria
original para zonas mais frias, onde o ano se dividia em verão e inverno, criou novas exigências,
obrigando-o a procurar habitação e a cobrir seu corpo para proteger-se do frio e da umidade.
Surgindo assim novas esferas de trabalho, e novas atividades, afastando ainda mais o homem dos
animais (KAJI-MARKENFELDT, 2006).
Com as habilidades aos poucos sendo conquistadas com o uso das mãos, dos órgãos da linguagem e
do cérebro, não só individualmente, mas também em grupo, os homens foram aprendendo a

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executar atividades cada vez mais complexas, desafiando-se cada dia mais. Aos poucos, o trabalho
foi de diversificando e aperfeiçoando a cada geração, estendendo-se a novas atividades.
O ser humano se diferencia dos outros animais por possuir grande capacidade de evolução cultural,
recebendo informações e tecnologias de ancestrais, modificando-as e passando novamente para as
próximas gerações, de forma análoga á evolução biológica. Essa capacidade muito amplificada com
a escrita, dando início ao que chamamos de história.
Mudanças anato-fisiológicas, órgãos vestigiais e repertórios comportamentais
O desenvolvimento da espécie humana provocou transformações anatômicas decorrentes da
aquisição de novos comportamentos como o bipedalismo e, estes promoveram novas
especializações. Essas acabaram criando sucessivas inovações biológicas, que possibilitaram o
desenvolvimento de características morfológicas específicas à espécie humana.
Dadas as adaptações necessárias à vida no ambiente arborícola, vieram as modificações para o
abandono das árvores para o solo, desenvolvendo uma postura bípede. A nova postura possibilitou o
aprimoramento da visão, em detrimento do olfato, e a liberação das mãos para outros movimentos
além do deslocamento. O polegar opositor em relação aos demais dedos das mãos e dos pés é uma
característica típica dos primatas. Na linhagem dos hominídeos, o polegar dos pés torna-se paralelo
aos outros dedos, enquanto ocorreram modificações na coluna, nas cinturas pélvica e escapular
como adaptações para o caminhar. Em humanos, o desenvolvimento de áreas cerebrais do córtex
motor permitiu um grande avanço na capacidade de coordenação motora fina, que surge após a
mielinização dos nervos motores aos cinco anos de idade aproximadamente. Estes novos
movimentos proporcionaram o uso extensivo dos membros, particularmente das mãos, ampliando a
exploração do ambiente e uso de extensivo de ferramentas.
Os genes dos nossos ancestrais não podem ser retirados de nosso genoma, mas alterados por
mutações e genes reguladores através do tempo. Esses genes ancestrais se manifestam pela presença
de por exemplo, os músculos adutores da orelha, muito úteis em animais quadrúpedes para mover
as orelhas e direcionar o som, mas que embora não sejam funcionais na maioria dos humanos, estão
presentes em todos nós. Esses órgãos com tamanho reduzidos ou sem função, são os chamados
órgãos vestigiais, presentes nas demais espécies de mamíferos, exercendo funções claras. A
importância desses órgãos vestigiais é a indicação de uma ancestralidade comum.
Podem ser destacados os terceiros molares (dentes do siso), o apêndice vermiforme e o cóccix,
nossas vértebras finais da coluna. Quando uma característica ancestral reaparece por falha dos genes
reguladores, como no caso de crianças que nascem com cauda, chamamos o fenômeno de atavismo,
e a característica em questão de atávica.
Certos comportamentos estranhos ao presente podem ser o reflexo da sua manifestação em
antepassados muito remotos, sendo também denominados como comportamentos atávicos.
Sistema nervoso humano: plasticidade neural
Plasticidade neuronal é o nome dado a essa capacidade que os neurônios têm de formar novas
conexões a cada momento. Quando estimulados, os neurônios geram impulsos elétricos e liberam
íons e substâncias químicas lançadas nas sinapses, estabelecendo ligações entre eles. A cada novo
estímulo gerado, a rede de neurônios se recompõe e se reorganiza. O que explica o relato de
crianças que sofreram acidentes graves que resultaram em perda de massa encefálica, déficits
motores, visuais ou de fala e audição, e que vão se recuperando gradativamente e podem chegar à
idade adulta sem sequelas, iguais às crianças que nenhum dano sofreram.

Fechamento da Unidade
Evolução biológica
Mudança dos seres vivos através do tempo.
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Evolução cultural
Aquisição de conhecimento e mudança dos padrões culturais e tecnológicos através do tempo.
Seleção natural, artificial e sexual
Natural: adaptação populacional ao meio.
Artificial: condicionada ao interesse do homem.
Sexual: intrasexual ou intersexual.
História evolutiva
A evolução é resultado da seleção natural, onde as variações favoráveis à sobrevivência e
reprodução da espécie são mantidas e as desfavoráveis são extintas.
Filogenia
Filogenia estuda as relações evolutivas entre os diferentes grupos de indivíduos existentes na terra
em busca de um ancestral comum.
Evolução humana
Uma população de primatas ancestrais se dividiu em duas linhagens, uma permaneceu na floresta
tropical e originou os grandes macacos antropoides e o outro se adaptou a ambientes mais abertos
dando origem ao Homo sapiens.
Mudança Anato-fisiológicas
O desenvolvimento da espécie humana selecionou características anatômicas(forma) e
fisiológicas(funcionais) que aumentam nossas chances de sobrevivência.

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