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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS

MARCOS RODRIGUES FERNANDES JUNIOR – 11202021716

ANÁLISE DE DADOS:
Análise de conteúdo e Análise de Discurso

SANTO ANDRÉ, 2022


Análise de Discurso (AD) e Análise de Conteúdo (AC) são dois métodos de análise de dados
que podem estar presentes em uma pesquisa. São, basicamente, caminhos que podem ser
seguidos durante a análise de dados que será realizada. A AD e a AC são parte de uma grande
“família” de técnicas de análise textual, por isso, se aproximam mais do que é conhecida como
abordagem qualitativa e são, geralmente, mais utilizadas em pesquisas desse tipo (GALIAZZI,
2020).

Como citado anteriormente, AD e AC são parte de uma grande família, logo, é de se esperar
que existam diferenças entre esses dois métodos. Uma delas se mostra na questão “Descrição e
Interpretação”. Enquanto na AC existe a preocupação de estabelecer conexões entre o nível
sintático do texto com seus níveis semântico e pragmático, na AD essa preocupação não existe
e ocorre um “salto” do nível de superfície do texto para o nível interpretativo (GALIAZZI,
2020).

A AC investe tanto na descrição do dado como em sua interpretação. Para a AC a descrição é


uma etapa necessária, embora não se deva permanecer apenas nela. A AD tem como principal
preocupação a interpretação, especificamente, uma interpretação crítica. Por isso, muitas vezes
a descrição é vista como secundária na AD e algumas vezes até mesmo dispensável
(GALIAZZI, 2020).

Um outro ponto de diferença também pode ser visto ao olharmos pela lente “Compreensão e
crítica”. Na AC existe uma grande preocupação em compreender os dados que se está
analisando e, geralmente, essa compreensão vêm de dentro do objeto, ela é construída a partir
do exame empírico do mesmo. Já a AD não possui essa compreensão como objetivo principal,
focando muito mais principalmente na crítica, ou seja, o autor da pesquisa já possui uma teoria
prévia (não derivante da pesquisa) e usa essa teoria para olhar para seus dados de uma forma
crítica (GALIAZZI, 2020).

Também é possível enxergar diferenças entre esses dois diferentes métodos em relação à forma
como é realizada a leitura de materiais, textos e discursos que estão sendo analisados. Enquanto
na AC o foco está muito mais no explícito, ou seja, naquilo que está realmente escrito no texto,
na AD o foco é dado, preferencialmente, para o implícito, aquilo que pode ser enxergado “por
trás” do texto. Porém, é interessante destacar que, atualmente, tanto a AC quanto a AD podem
sim se concentrar em conteúdos implícitos, porém, com intensidades e formas diferentes, nunca
necessariamente excluindo uma ou outra forma de leitura (GALIAZZI, 2020).
Um outro ponto de discussão é a utilização de teorias a priori, quando estamos falando da AD
elas sempre estarão presentes, já que a AD sempre se estrutura em torno dessas marcantes e
fortes, como citado anteriormente, para olhar para seus dados de forma crítica. Isso se diferencia
um pouco da AC, que pode trabalhar tanto com teorias a priori quanto com teorias emergentes
(que surgem da análise dos dados que estão sendo estudados), entretanto, cada vez mais a AC
tem assumido a construção de teorias a partir dos dados (GALIAZZI, 2020).

Um exemplo de estudo que usa a AD (infelizmente, não foi encontrado um artigo que fale
especificamente sobre educação) é o artigo "Fazer o Desconhecido ser Descoberto" novos
talentos da rede pública (RNEC/NT).

O estudo teve como objetivo analisar o discurso de ciência dos grupos da região Sul
pertencentes à Rede Nacional de Educação e Ciência.

Para a produção dos dados que foram utilizados na construção do artigo, os autores utilizaram-
se de entrevistas semiestruturadas com coordenadores e monitores de cinco grupos de quatro
universidades do Sul do Brasil pertencentes à RNEC. No total, foram entrevistados 15 sujeitos.

Para a análise desses dados, foram utilizados conceitos metodológicos da análise de discurso
foucautiana e algumas ferramentas de inspiração genealógica.

Após as análises das entrevistas, os autores concluíram que houve uma continuidade e uma
atualização em relação ao discurso de ciência da emergência da Rede. Diversos dos grupos que
foram analisados trouxeram em suas falas uma vinculação com o discurso da ciência moderna,
que pode ser visto nas falas dos primeiros grupos da RNEC na década de 80. Porém, embora os
grupos da região Sul promovam as bases de uma ciência moderna sólida, pode-se enxergar
espaços nas falas dos entrevistados para que novas nuances de uma ciência que pode ser menos
densa e encerrada em si mesma possam surgir.

Um exemplo de pesquisa que se utiliza da AC pode ser visto no artigo “Processo de formação
do conceito de cor em crianças de 8 – 10 anos: Buscando invariantes operatórios”.

A pesquisa teve como objetivo identificar invariantes operatórios que fossem utilizados por
crianças em uma situação que envolvia a formação de cores e sombras

Para a coleta dos dados, os pesquisadores usaram gravadores de áudio e anotações em seus
cadernos de campo. Foram realizados diferentes experimentos (que envolviam cores) para as
crianças observarem. Ao fim do último experimento (mistura de cores com o projetor), foi
pedido para que as crianças tentassem replicar o experimento com 3 lápis de cor que foram
fornecidos pelos pesquisadores. As crianças perceberam que o resultado que elas estavam
obtendo era o oposto do esperado.

Após um tempo, foi conduzida uma discussão com as turmas para verificar quais as
justificativas e explicações, das crianças, para os resultados que elas haviam obtido.

Após as crianças terem testado suas hipóteses e realizado os desenhos, os pesquisadores


pediram para que cada aluno redigisse uma explicação para a diferença entre o resultado obtido
com o projetor e o obtido com o desenho. Os registros foram recolhidos e interpretados pelo
grupo de pesquisa. Para a análise dos dados, foi utilizado o método de análise de conteúdo de
Bardin.

Os resultados obtidos foram, segundo os autores, correlacionados com resultados obtidos em


outras pesquisas sobre o tema, mesmo que eles tenham usado metodologias e amostras
diferentes. Os autores ressaltam que as crianças atribuem à diferenças entre a soma das luzes
projetadas e o resultado que elas obtiveram ao tentar replicar o experimento com os lápis a
alguma propriedade do projetor que não existe nos lápis, notadamente a claridade.

Uma outra verificação feita pelos autores diz respeito de que muitas crianças tem a ideia de que
a cor é uma propriedade dos objetos, não considerando a forma como o objeto está sendo
iluminado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, GABRIEL DIAS DE et al. PROCESSO DE FORMAÇÃO DO CONCEITO


DE COR EM CRIANÇAS DE 8 - 10 ANOS: BUSCANDO INVARIANTES
OPERATÓRIOS. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte) [online]. 2019,
v. 21. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1983-21172019210125>. Epub 25 Nov 2019.
ISSN 1983-2117. https://doi.org/10.1590/1983-21172019210125. Acesso em: 2 mar. 2022

Galiazzi, M.D. C. Análise Textual Discursiva. Ijuí, RS - Brasil : Editora Unijuí, 2020.
9786586074192. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786586074192/. Acesso em: 26 Mar 2022

Schwantes, Lavínia, Henning, Paula Corrêa e Ribeiro, Paula Regina Costa. "FAZER O
DESCONHECIDO SER DESCOBERTO" NOVOS TALENTOS DA REDE PÚBLICA
(RNEC/NT). Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte) [online]. 2015, v.
17, n. 1, pp. 173-190. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1983-211720175170108>. Epub
Jan-Apr 2015. ISSN 1983-2117. https://doi.org/10.1590/1983-211720175170108. Acesso
em: 26 março 2022.

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