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“TUDO O QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR”: UMA ANÁLISE

SOBRE A METAMORFOSE DO CAPITALISMO


Daniel Coelho de Oliveira e Rômulo Soares Barbosa

RESUMO

Este ensaio busca relacionar a análise do que se convencio- realizadas convergências e aproximações metodológicas entre as
nou chamar de ‘primeiro espírito do capitalismo’ a partir das abordagens do ‘O novo espírito do capitalismo’ e a ‘Sociedade
proposições teóricas presentes nas obras de Max Weber, Luc em Rede’, tendo em vista um melhor delineamento das posições
Boltanski, Ève Chiapello e Manuel Castell. O trabalho apre- defendidas pelos autores. Também abordaremos a dinâmica de
senta inicialmente de maneira descritiva o que se entende por ‘poder’ dentro da estrutura das redes, e um debate sobre as
primeiro espírito do capitalismo, o novo espírito do capitalismo configurações temporais nos dois momentos.
e da sociedade em rede. Em seguida, de forma analítica, serão

“Tudo o que é sólido des- um tradicionalismo construí- A proposta do ensaio passa descritiva o que se entende
mancha no ar”, a emblemática do durante séculos. Adaptati- por uma tentativa de cons- por primeiro espírito do capi-
frase de Karl Marx, é uma vo, por que além de se aco- truir uma ponte entre o que talismo, o novo espírito do
metáfora razoável para apre- modar nas mais diversas es- se convencionou denominar capitalismo e a sociedade em
sentar as inúmeras transfor- tr uturas culturais, impeliu de ‘primeiro espírito do capi- rede. Em seguida, de forma
mações vivenciadas pelo sis- quase a totalidade das nações talismo’ a partir das proposi- analítica, serão realizadas
tema capitalista nos últimos a se ajustar a sua lógica de ções teóricas presentes na convergências e aproxima-
séculos. Período em que o produção. Sem nenhum fata- obra de Max Weber, o ‘novo’ ções metodológicas entre as
capitalismo tem se mostrado lismo, o capitalismo se perpe- espírito do capitalismo na abordagens do ‘O novo espí-
com uma imensa capacidade tuou até o momento, sendo concepção de Boltanski e rito do capitalismo’ e a ‘So-
de adaptar-se a novos contex- duro quando se permitiu, e Chiapello (2009), e a ‘Socie- ciedade em Rede’, tendo em
tos. Seu poder poderia ser flexível quando conveniente, dade em Rede’ de Castells vista um melhor delineamen-
chamado de transformador por outro lado, sem nunca se (1999). O trabalho será estru- to das posições defendidas
adaptativo. Transformador, esquecer de motivar todos os t urado da seguinte for ma: pelos autores. A dinâmica do
por que o foi desde a sua ori- seus adeptos a um engaja- nas duas seções iniciais, ‘poder’ dentro da estrutura
gem, solapando as bases de mento profundo. apresentar-se-á de maneira das redes será explorada na

Palavras chave / Capitalismo / Poder / Redes /


Recebido: 07/02/2012. Modificado: 27/02/2013. Aceito: 02/12/2013.

Daniel Coelho de Ol iveira. versidade Estadual de Montes Brasil. e-mail: daniel.coe - Rômulo Soares Barbosa. Doutor
Mestre e Doutorando em Ci- Claros, Brasil. Endereço: lhoo@yahoo.com.br em Ciências Sociais, UFRRJ,
ências Sociais, Universidade Campus Universitário Profes- Brasil. Professor, UEMC, Bra-
Federal Rural do Rio de Ja- sor Darcy Ribeiro, Vila Mau- sil. e-mail: romulosoaresbarbo-
neiro, Brasil. Professor, Uni- ricéia, Montes Claros (MG), sa@gmail.com

814 0378-1844/13/11/814-06 $ 3.00/0 NOV 2013, VOL. 38 Nº 11


“ALL THAT IS SOLID MELTS INTO AIR”: AN ANALYSIS OF THE METAMORPHOSIS OF CAPITALISM
Daniel Coelho de Oliveira and Rômulo Soares Barbosa
SUMMARY

This essay seeks to relate the analysis of what has been ca- vergences and methodological aspects in the approaches of ‘The
lled ‘the first spirit of capitalism’ from the theoretical proposi- new spirit of capitalism’ and the ‘Network Society’ will be ex-
tions in the works of Max Weber, Luc Boltanski, Ève Chiapello plored, with a view on an improved delineation of positions ad-
and Manuel Castell. The paper presents initially a description vocated by the authors. A discussion on the dynamics of ‘power’
of what is meant by the first spirit of capitalism, the new spirit within the structure of networks, and a debate about the settings
of capitalism and the network society. Then, analytically, con- in the two temporal moments, are also included.

“TODO LO SÓLIDO SE DESVANECE EN EL AIRE”: UN ANÁLISIS DE LA METAMORFOSIS DEL CAPITALISMO


Daniel Coelho de Oliveira y Rômulo Soares Barbosa
RESUMEN

Este ensayo persigue relacionar el análisis de lo que ha sido foques metodológicos entre los enfoques de ‘El nuevo espíritu
llamado ‘el primer espíritu del capitalismo’ a partir de las pro- del capitalismo’ y la ‘sociedad en red’, con miras a una mejor
posiciones teóricas en la obra de Max Weber, Luc Boltanski, identificación de las posiciones defendidas por los autores. Tam-
Chiapello Eva y Manuel Castell. Inicialmente se presenta de bién se analiza la dinámica de ‘poder’ dentro de la estructura
manera descriptiva lo que se entiende por el primer espíritu del de las redes, y se plantea un debate sobre los valores en los
capitalismo, el nuevo espíritu del capitalismo y la sociedad de dos momentos temporales.
redes. Luego, analíticamente, se abordan convergencias y en-

seguinte seção. O ‘tempo’ conseqüência de fenômenos origem. O primeiro, materia- -se a expansão dos assalaria-
aparecerá na próxima seção econômicos. lizado na obra de Max We- dos médios no ‘setor de ser-
com variável importante para Weber (2004) aponta a Re- ber, dava especial valor a viços’, que inicialmente in-
entender o espírito do capita- forma Protestante como im- moral da poupança; já o se- corporou parcelas significati-
lismo na sociedade em rede. portante fato histórico. Não gundo, o que predomina é a vas de trabalhadores expulsos
Ao final serão costuradas al- no sentido de eliminar a do- moral do trabalho e da com- do mundo produtivo indus-
gumas considerações de cará- minação, mas pela substitui- petência. O ‘novo’ espírito do trial, tal processo é resultado
ter não conclusivo. ção de uma dominação ex- capitalismo se apóia no de- da ampla reestruturação pro-
tremamente cômoda da Igre- senvolvimento que Boltanski dutiva ocorrida no sistema.
Mutações no Espírito do ja Católica por incômoda, e Chiapello (2009) denomina- Se por um lado, em um pri-
Capitalismo que penetrou e procurou re- ram de ‘mundo conexionista’ meiro momento ocorreu forte
g ular tod as as esferas da ou ‘cidade dos projetos’. absorção, pelo setor de servi-
Logo no i n ício de su a vida doméstica e pública. Na É relevante destacar que ços, dos desculpados pelo
obra, Weber (2004) formula concepção de Giddens nos distintos períodos do ca- mundo industrial, faz-se ne-
uma problematização de or- (1990), a novidade da obra pitalismo ocorreram mudan- cessário acrescentar que as
dem estatística. Segundo ele, de Weber não consiste em ças significativas na sua for- transformações tecnológicas e
basta observar as estatísticas fazer u ma relação ent re a ma organizacional e produti- organizacionais afetaram di-
ocupacionais em alguns paí- Reforma e o capitalismo mo- va. De acordo com Harvey retamente o mundo do traba-
ses europeus para constatar derno; autores anteriores a (1992) o novo momento do lho nos serviços, que cada
a notável freqüência de um Weber já haviam feito essa sistema é marcado pela flexi- vez mais se subjugaram à
fenômeno, o caráter predo- relação, como foi o caso de bilidade no mercado de tra- racionalidade do capital e à
m i na ntemente protest ante alguns escritos de Mar x e balho, dos padrões de consu- lógica dos mercados.
dos proprietários do capital Engels. Sua originalidade é mo; há também o surgimento No fim dos anos 60 e iní-
e empresários, assim como constituída a partir do enten- de serviços financeiros e no- cio dos 70 o capitalismo sen-
das camadas superiores da dimento que protestantismo, vos mercados; além da manu- tiu a redução do crescimento
mão-de-obra qualificada. A longe de se desinteressar do tenção de taxas intensificadas e rentabilidade; por out ro
maior participação de protes- controle das atividades coti- de inovação comercial, orga- lado a sua crítica estava no
tantes nos postos de traba- dianas, exigia aos seus fiéis nizacional e tecnológica. A auge, como demonstrou os
lhos mais elevados das gran- uma disciplina muito mais acumulação flexível no capi- acontecimentos de maio de
des empresas capitalistas se rígida do que o catolicismo, talismo seria um confronto 1968 na França. Após a se-
deve em pa r te por ra zões introjetando assim um ele- direto com a rigidez do for- gunda metade da década de
históricas. Retomando o pas- mento religioso em todos os dismo. 70, o que se observou foi o
sado, percebe que a confis- aspectos da vida do crente. Na visão de Antunes e Al- sumiço repentino da crítica,
são relig iosa não apa rece O espírito do capitalismo ves (2004), as últimas déca- deixando u m espaço liv re
como causa, mas sim como atual não é o mesmo de sua das do século XX observou- para a reorganização do capi-

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talismo nas duas décadas se- conceitos de capitalismo e estabelecer um bem comum tituiu consequência involuntá-
guintes. Seu papel se limitou sua crítica sejam relacionados para toda a sociedade, pois ria de uma ética religiosa.
ao regist ro das crescentes de forma dinâmica. A neces- causaria progresso dos bens Ou seja, que havia afinidade
dificuldades do corpo social. sidade de um ‘espírito’ para materiais, garantiria a satisfa- entre certas denominações
o capitalista advém da pró- ção das necessidades e a li- protestantes e a ética econô-
“Parece-nos útil, para tanto,
pria incoerência do sistema, berdade política. Alegações mica da atividade capitalista
abrir a caixa-preta dos últi-
fato que justifica colocar a insuficientes para engajar os moderna. Onde foi demons-
mos t r inta anos e olhar o
noção de ‘espírito’ no centro trabalhadores. Desta forma as trado que a racionalização da
modo como os homens fazem
da análise. Na at ualidade justificativas necessitam ser vida econômica que caracte-
sua história. Voltando para o
nota-se que os trabalhadores buscadas ‘fora do princípio riza o capitalismo moderno
momento em que as coisas se
assalariados estão destituídos da acumulação’, pois o capi- se relaciona com compromis-
decidem e most rando que
do resultado do seu trabalho, talismo seria uma forma his- sos de valores irracionais.
elas poderiam ter enveredado
por consequência são incapa- tórica desvinculada da esfera Observa-se que os três pi-
por direção diferente, a histó-
zes de levar uma vida digna moral. Neste cenário o siste- lares que justificam o novo
ria constitui o instrumento
e independente. O valor que ma precisaria de seus inimi- espírito capitalista são: efici-
por excelência da desnatura-
recebem pela venda de sua gos, opositores para consti- ência na satisfação das ne-
lização do social e está de
força de trabalho constitui no tuir pontos de apoio moral cessidades, eficácia, e pro-
mãos dadas com a crítica.”
máximo uma razão para ficar que lhe faltam e incorporar gresso material. Mas por se
(Boltanski & Chiapello,
no emprego e não de dedicar- nos seus próprios dispositivos tratarem de aspectos genéri-
2009, p. 29).
-se a ele. Em outra ponta, os de justiça. cos e serem estáveis no tem-
ções iniciais, Boltanski e capitalistas estão inseridos O capitalista originário da po, tais razões não parecem
Chiapello (2009) propõem em um processo sem fim e ética protestante apresentava suf icientes para engajar a
analisar as mudanças ideoló- abstrato de acumulação, to- atitudes, aparentemente irra- maioria das pessoas no mun-
gicas que acompanharam as talmente desvinculado das cionais que geraram uma do do trabalho capitalista.
recentes transformações do necessidades de consumo, conduta de vida racional. Boltanski e Chiapello (2009)
capitalismo. O recorte tempo- mesmo as mais supérf luas. Para Weber (2004), o calvi- ressaltam que o discurso em-
ral da obra abrange os acon- Como pensar o engajamento nismo defendia uma desuma- presarial é a forma ao qual o
tecimentos de maio de 1968, pessoal em um sistema que nidade patética, como foi o espírito do capitalismo é in-
aos anos 1980, até a segunda não se justif ica pelos seus caso da doutrina da predesti- corporado e apresentado com
metade da década de 1990. O resultados materiais? Bol- nação. Porém, o efeito foi algo que deve ser comparti-
espaço da pesquisa é a Fran- tanski e Chiapello (2009) uma mudança radical na con- lhado por todos. Discurso
ça, os autores defendem que chamam de espírito do capi- dução da vida intramundana esse que tem com principal
há boas razões para acreditar talismo a ideologia que justi- de seus membros. A santifi- alvo os executivos, cuja ade-
que os acontecimentos viven- fica o engajamento no capita- cação da vida no calvinismo são ao capitalismo é essen-
ciados no país, em boa medi- lismo. Para ocorrer o engaja- assemelhava ao caráter de cial para o bom f unciona-
da, representam as mudanças mento “O capitalismo precisa administração de empresa. O mento das empresas. Há tam-
ideológicas que ocorrem na ter condições de dar as essas comportamento ascético to- bém a preocupação que os
reestruturação do capitalismo pessoas a garantia de uma mava conta de toda a exis- filhos da burguesia não ‘de-
em outros países. Mais do segurança mínima em verda- tência do indivíduo. A metó- sertem’, pois eles são o ‘vi-
que uma obra descritiva, é deiros santuários onde é pos- dica conduta de vida ética veiro’ natural para futuros
proposto um quadro teórico, sível viver, for ma família, influenciada pelo calvinismo recrutamentos. O capitalismo
cuja finalidade é de compre- criar filhos etc.” (Boltanski e contrastava com a posição do não encontra em si mesmo,
ender a forma que se trans- Chiapello, 2009, p. 39). catolicismo e do luteranismo. nenhum motivo que justifique
formam as ideologias relacio- Os autores abordam a A desvinculação da possi- o engajamento.
nadas às atividades econômi- questão da coerção econômi- bilidade de salvação por in- O capitalismo é, provavel-
cas. Boltanski e Chiapello ca, vinculada a propriedade termédio da Igreja e dos sa- mente, a única, ou pelo me-
(2009) são enfáticos ao afir- privada dos meios de produ- cramentos constitui a princi- nos a principal, forma histó-
mar que o conceito de ideo- ção como um aspecto rele- pal diferença dos calvinistas, rica ordenadora de práticas
logia não é empregado no vante no que tange a defesa em relação a católicos e lute- coletivas perfeitamente des-
sentido redutor, em certa me- que o capitalismo. Por esta ranos. Para a igreja de Calvi- vinculadas da esfera moral,
dida vulgarizado pelos mar- razão o salário, desemprego e no, a responsabilidade de sal- no sentido de encontrar sua
xistas. Pretende-se empregá- a ameaça da fome, na visão vação dependia da conduta f inalidade em si mesma (a
-lo como: “conjunto de cren- de Boltanski e Chiapello mundana, o fiel se via relega- acumulação do capital com
ças compartilhadas, inscritas (2009) não seriam suficientes do a percorrer sozinho a es- fim em si), e não por referên-
em instituições, implicadas para engajar o trabalhador. O trada rumo ao encontro do cia não só ao bem comum,
em ações e, portanto, ancora- empenho do mesmo depende- seu destino na eter nidade. mas também aos interesses
das na realidade” (Boltanski ria da aceitação do espírito Portanto, o calvinismo encer- de um ser coletivo, tal com
e Chiapello, 2009, p. 33). A do capitalismo, a ideologia ra um grande processo histó- povo, Estado, classe social.
ideologia seria responsável que justifica o engajamento rico, o gradual ‘desencanta- (Boltanski e Chiapello, 2009,
por formar a base de justifi- no capitalismo, ou seja, dos mento do mundo’. p. 53).
cação do ‘novo’ espírito do argumentos que valorizam os Como foi possível verificar, Todas as organizações so-
capitalismo. benefícios individuais e as o principal mérito da ética ciais são submetidas ao im-
A noção de ‘espír ito do vantagens coletivas da parti- protestante consiste no fato perativo de justificação. Con-
capitalismo’ é utilizada por cipação. Eles discordam que de ela ter demonstrado que o forme Boltanski e Chiapello
Boltanski e Chiapello (2009) os trabalhadores aceitam que instrumentalismo moral do (2009), elas tendem a incor-
porque ela per mite que os a atividade remunerada pode espírito do capitalismo cons- porar a referência da um tipo

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de convenção muito geral, talismo que se encontra atu- identidades primárias: religio- que predomina é a estrutura
orientada para um bem co- almente em for mação. Os sas, étnicas, territoriais entre agrária em moldes tradicio-
mum, com pretensão a vali- novos discursos justificativos outras. nais, na qual o poder está em
dade universal. Várias tipolo- capitalistas não se traduzem regra associado à propriedade
“Cada vez mais, as pessoas
gias de cidades são criadas em nenhuma das seis cida- fundiária. A sociedade indus-
organizam seu signif icado
para or ientar a análise da des. Será necessário propor trial se alicerça na produção
não em torno do que fazem,
justiça no vários momentos uma ‘sétima cidade’ que crie de bens industriais e o poder
mas com base no que elas
vivenciados pelo capitalismo. equivalências e justifique po- nela instituído pertence aos
são ou acreditam que são.
Tais imperativos de justifica- sições relativas de grandezas capitalistas. Já a sociedade
Enquanto isso, as redes glo-
ção podem ser modelizadas num mundo em rede. A base pós-industrial tem como prin-
bais de intercâmbios instru-
pelo conceito de cidade. São empírica dos autores será um cipal base o setor de servi-
mentais conectam e desco-
identif icadas na sociedade corpus de textos sobre gestão ços. A fonte do poder nela
nectam indivíduos, grupos,
contemporânea seis lógicas empresarial dos anos 90, des- existente advém do domínio
regiões e até países, de acor-
de justificação, seis cidades. tinados a executivos, material da infor mação. Em out ras
do com sua pertinência na
Dois tipos de fontes são uti- propício para analisar o novo palavras, nesta sociedade ve-
realização dos objetivos pro-
lizados para definir as ‘gran- espírito do capitalismo. rifica-se a ascensão dos ser-
cessados na rede, em um flu-
dezas’: dados empíricos, co- Não se evidenciará neste viços, que se tornam hege-
xo de decisões estratégicas.”
lhidos por um trabalho de trabalho o que Boltanski e mônicos e, inversamente,
(Castells, 1999, p. 41).
campo que fornecem um cor- Chiapello (2009) apresentam pelo declínio das atividades
pus de arg u mentos, e os com o segundo espírito do Em outras palavras, na vi- industriais de modo geral.
construtos da filosofia políti- capitalismo. Forma que teve são de Castells (1999) nossa Podemos dizer que se no
ca que possuem u m nível seu pleno desenvolvimento sociedade cada vez mais é primeiro espírito do capita-
elevado de coerência lógica. entre os anos 1930 e 60. Tra- marcada pela oposição bipo- lismo a ‘inovação’, sof reu
Na ‘cidade inspirada’, a tava-se de um modelo onde lar entre a ‘rede’ e o ‘ser’. implacável resistência diante
grandeza se encontra na dis- predominava a grande empre- Ele não compartilha idéias um tradicionalismo enraiza-
tinção do santo que ascende sa capitalista centralizada e presentes em várias correntes do na própria estr utura do
a u m estado de g raça ou burocratizada, fascinada pelo que defende o niilismo inte- Estado, na nova est r ut u ra
mesmo um artista que recebe gigantismo, espaço de organi- lectual, ceticismo social e social as redes se constituem
inspiração. As manifestações zação familiar. A figura do desgraça política. um sistema aberto dinâmico,
inspiradas são: a santidade, diretor era o principal ícone Para Castells (1999), de cuja inovação não aparece
criatividade, senso artístico, deste modelo de organização. forma inconsciente a revolu- mais como uma ameaça ao
autenticidade. Elas consti- Acredita-se que para os obje- ção da tecnologia da infor- equilíbrio, mas o seu próprio
tuem a forma privilegiada de tivos propostos no ar tigo, mação difundiu na nossa so- motor.
expressão. Já na ‘cidade do- sejam suficientes as pondera- ciedade o espírito libertário
méstica’ a grandeza das pes- ções sob a gênese do capita- dos movimentos dos anos 60. Convergência e
soas depende de sua posição lismo e do seu novo ou ter- Porém, após a propagação os Aproximações
hierárquica numa cadeia de ceiro espírito do capitalismo. valores foram difundidos por Metodológicas entre as
dependências pessoais. O Após uma passagem pelo diferentes países, diversas Abordagens
grande neste caso é o ances- primeiro e o ‘novo’ espírito culturas. O resultado foi que
tral, o pai, a quem todos de- do capitalismo, ver-se-á como a novas tecnologias da infor- Se colocados em compara-
vem respeito e fidelidade. A Castells (1999) compreende o mação foram aplicadas e uti- ção, o ‘novo espírito do capi-
grandeza só depende da opi- período por ele denominado lizadas de inúmeras formas. talismo’ e a ‘sociedade em
nião alheia na ‘cidade da de ‘sociedade em rede’. A reestruturação do siste- rede’, é possível ver if icar
fama’, ou seja, da quantidade ma capitalista a partir da dé- complementar idades ent re
de pessoas que concedem A Sociedade em Forma de cada de 1980 em grande me- ambas. O último, de forma
crédito e estima. Na ‘cidade Rede dida foi condicionada pela exaustiva apresenta um con-
cívica’, o grande é o repre- revolução na tecnologia da junto dados e informações,
sentante de um coletivo cuja O final do último século informação. Neste cenário, de considerável número de
vontade geral ele exprime. O testemunhou a revolução tec- Castells (1999) se propõe a países para comprovar a
sucesso na prova do mercado nológica concentrada nas tec- estudar o surgimento de uma ocorrência de mudanças es-
concorrência é a marca da nologias da informação. Con- nova estrutura social, asso- truturais na sociedade con-
‘cidade mercantil’, ou seja, o forme Castells (1999), as mu- ciada ao surgimento de um temporânea. Já o primeiro
grande é aquele que enriquece danças sociais são tão drásti- novo modelo de desenvolvi- analisa o conteúdo desta mu-
com o sucesso na prova do cas quanto os processos de mento, o ‘informacionismo’, dança de forma mais qualita-
mercado. E na ‘cidade indus- transformação tecnológica e que manifestou sob várias tiva. Possivelmente tal objeti-
trial’, a grandeza se funda- econômica. Dentro das inú- formas moldado pela diversi- vo não teria sido alcançado,
menta na eficácia e determina meras alterações apresenta- dade de culturas e institui- sem a restrição da análise ao
uma grandeza de capacidades das, destaca-se a crise estru- ções em todo o planeta. espaço francês, o que não
prof issionais. (Boltanski e tural de legitimidade que os Em seu original trabalho, invalida a capacidade analíti-
Chiapello, 2009). sistemas políticos atravessam, Bell (1974) aponta que a ca desta pesquisa.
B ol t a n s k i e C h i a p e l l o estão eles mais distantes dos ideia de sociedade pós-indus- A abordagem de Boltanski
(2009) procurarão identificar cidadãos. Os movimentos trial é nitidamente desvenci- e Chiapello (1999) se distan-
quais as convenções e modos sociais apresentam uma ten- lhada quando comparada aos cia da tentativa de explicar a
de referência ao bem comum dência de fragmentação, fe- atributos das sociedades in- gênese do capitalismo, o ob-
são tomados de empréstimo nômeno que abre espaço para dustrial e pré-industrial. Na jetivo é entender como na
pelo terceiro espírito do capi- o reagrupamento em torno de sociedade pré-industrial, o atualidade o sistema recruta

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os atores necessários para informacionalismo em todos cessamento. Castells (1999) em rede. Castells (1999) se
formação do lucro. Por outro os domínios sociais e cultu- acredita que embora o novo aproxima de Boltanski e
lado, os autores adotam o rais. Arrisco a dizer que e paradigma da informação seja Chiapello (2009) ao dizer “O
método do tipo ideal webe- pr incipal preocupação de originário das esferas domi- que está em jogo e parece ser
riano, para captar as varia- Boltanski e Chiapello (2009) nantes da sociedade, ele se a tendência predominante na
ções que o capitalismo atra- foi de entender a ‘alma’ ou difunde para todas as estrutu- maioria dos setores avançados
vessou nos últimos 30 anos e novo ‘espírito’ do capitalis- ras socais. da maior parte das sociedades
entender os traços ideológi- mo, já Castells (1999) se pro- desenvolvidas é a diversifica-
cos específicos que caracteri- põe a desvencilhar a configu- O Tempo com Variável ção geral do tempo de traba-
zam a nova representação do ração que este novo ‘corpo’ Central para Entender o lho.” (Castells, 1999, p. 536).
sistema. Diferente de Castells social, econômico e cultural Espírito do Capitalismo Como foi possível observar,
(1999), Boltanski e Chiapello adquiriu. Ou seja, os contor- as concepções de tempo estão
(2009) não usam fontes esta- nos e as formas assumidas As especificidades do capita- intimamente ligadas à forma
tísticas. A idéia foi resgatar a pela sociedade em red. lismo ao longo dos tempos po- como o poder é exercido den-
literatura sobre a gestão em- dem ser evidenciadas, pela for- tro do sistema capitalista.
presarial destinada a executi- Poder na Estrutura de ma com o tempo é utilizado, As palavras de Benjamin
vos, tendo em vista que se Rede com vista à conquista ou atin- Franklin expressam que tem-
trata de um dos principais gir determinado objetivo. We- po é algo valioso; horas des-
espaços de inscrição do espí- O conhecimento e a infor- ber (2004) apresenta nas pala- perdiçadas são horas perdidas
rito do capitalismo. A litera- mação sempre foram elemen- vras de Benjamin Franklin, a de trabalho. O crente ascético
tura de gestão empresarial tos importantes em todas as definição pura do que seria o estava liberto dos entraves
que não é puramente técnica, formas de desenvolvimento, primeiro espírito do capitalis- tradicionais que condenava o
além de receitas para melhor tendo em vista que o processo mo, nele o tempo aparecer enriquecimento. O acúmulo
o desempenho das organiza- de produção em grande medi- como uma variável chave. de bens materiais como fruto
ções, também é carregada de da está ancorado no conheci- do trabalho passou a ser algo
“Lembra-te tempo é dinheiro;
u m for te conteúdo moral. mento e no processamento da bem visto por Deus. A única
aquele que com seu trabalho
Segundo os atores, os textos informação. “... o que é espe- advertência era sobre a má
pode ganhar dez xelins ao dia
são como o exemplum que cífico ao modo informacional utilização da riqueza em uma
e vagabundeia metade do dia,
deve ser seguido, ou virtudes de desenvolvimento é a ação vida ociosa e de prazeres. A
ou fica deitado em seu quarto,
que devem ser praticadas. de conhecimentos com princi- preguiça, perda de tempo e o
não deve, mesmo que gaste
A intenção de Castells pal fonte de produtividade.” consumo supérfluo são os pe-
apenas seis pence para se di-
(1999) não é o de fazer um (Castells, 1999, p. 54). Posição cados por excelências. Em
vertir, contabilizar só essa
livro sobre livros, seu argu- semelhante é defendida por outras palavras, para um cal-
despesa; na verdade gastou,
mento defende que já existe Boltanski e Chiapello (2009) vinista, desejar ser pobre é a
ou melhor, jogou fora, cinco
um bom conjunto de teóricas na análise dos discursos em- mesma coisa de desejar ser
xelins a mais.” (Weber, 2004,
sobre sociedade da informa- presariais é colocado em pri- doente, sua prática ascética
pp.4 2-43)
ção, pos-indust r ialíssimo, meiro plano “... a importância estava ancorada na produção
pós-modernidade, entre ou- da informação como fonte de Observa-se que no fundo as de riqueza privada. Boltanski
tros temas contemporâneos. produtividade e lucro.” (Bol- advertências morais são de e Chiapello (2009) destacam
A proposta é construir um tanski e Chiapello, 2009, p. cunho utilitário, virtudes que que no mundo em rede o sen-
discurso que integre matérias 104). A partir do estudo do de forma despretensiosa ou so de poupança não desapare-
e obser vações de diversas caso francês, os autores res- não intencional, formaram a ceu, mas ela não é mais o
fontes. É considerável a saltam que no mundo em rede base do capitalismo ocidental. principal meio de promoção
quantidade de informações há uma correlação direta en- Na cidade dos projetos de social como foi no primeiro
apresentadas na obra, os da- tre capital social e capital in- Boltanski e Chiapello (2009) espírito do capitalismo. Na
dos vão desde estatísticas da formacional. Isso quer dizer o tempo também é um bem sociedade em rede, ganha for-
ONU e Banco Mundial à mo- que a informação é ao mesmo raro. ‘O grande’, nesta cidade ça a possibilidade de locação
nografias acadêmicas e em- tempo resultado e condição é aquele capaz de otimizar o ou empréstimo. O que impor-
presarias. A idéia do autor é para multiplicação de cone- uso deste recurso escasso, ta agora é a disponibilidade.
utilizar um corpus de obser- xões, de tal maneira que a principalmente escolhendo “O homem ajustado a um
vações selecionadas para pos- desigualdade de informação é com discernimento as rela- mundo conexionista preferirá,
teriormente sugerir hipóteses. cumulativa. ‘O grande’ da ci- ções que devem ser mantidas, por exemplo, alugar a residên-
Segundo ele a metodologia dade dos projetos deve distri- evitando conectar-se a pessoas cia principal, pois ele é leva-
utilizada no estudo “... está a buir com sua equipe os bens próximas, ou aquelas que pro- do a mudar-se frequentemen-
serviço do objetivo abrangen- raros aos quais têm acesso, e piciam somente prazer de or- te...” (Boltanski e Chiapello,
te de seu empenho intelectu- o bem mais importante que dem afetiva ou lúdica. Na vi- 2009, p. 191). A constituição
al: propor alguns elementos ele possui é a informação. são de Castells (1999), a per- de uma nova ‘Era do Acesso’
de uma teoria transcultural Se no industrialismo o im- sonificação do tempo é uma é proposta por Rifkin (2005).
exploratória da economia e portante é o crescimento da marca da nossa sociedade. Segundo ele, os conceitos de
da sociedade na Era da In- economia e a maximização da Trata-se de uma categoria que guardar e acumular estão fi-
formação, no que se refere produção, no informacionalis- é central no debate da teoria cando obsoletos, pois em uma
especialmente ao surgimento mo, o principal aspecto é de- social. No atual contexto se sociedade onde a inovação
de uma nova estr utura so- senvolvimento tecnológico, ou verifica o que se poderia cha- tecnológica está ocorrendo em
cial.” (Castells, 1999, p. 61). seja, a acumulação de conhe- mar de ‘tempo intemporal’, ritmo cada vezes mais inten-
O tamanho da obra é propor- cimento em níveis mais eleva- trata-se de uma forma domi- so, a idéia de propriedade
cional a penetrabilidade do dos de complexidade no pro- nante emergente na sociedade passa a ser bastante problemá-

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tica. No mundo das cidades não precisam ficar presos ao cos, aos do conhecimento, ‘espírito do capitalismo’. O
dos projetos, as pessoas dis- mesmo espaço físico, vigiados que passa a alicerçar o novo novo espírito capaz de absor-
põem dos bens durante um por um ‘Panóptico’, para utili- poder. Para Bell (1974), por ver críticas de diversas natu-
tempo que lhes convém. O zar o termo de Jeremy Ben- exemplo, há alterações no ca- rezas e conquistar para sua
poder de coerção da posse da tham. O trabalho se dá em ráter do próprio conhecimen- estr utura parte impor tante
propriedade é substituído pelo rede, ancorado pelos grandes to. O que se tornou determi- daqueles que o contestavam.
acesso fácil e temporário dos avanços nas tecnologias de nante à sociedade é a centra- Várias mudanças foram perce-
recursos locados. telecomunicações. lidade atual do conhecimento; bidas, entre elas a flexibiliza-
A análise realizada por We- a primazia da teoria sobre o ção produtiva e a constante
ber (2004) é centrada na Considerações Finais empírico. Se os personagens promessa de mobilidade dos
‘ação social’ do capitalista, ou centrais no último século fo- seus trabalhadores. A socieda-
seja, em sua conduta dotada Seria miopia acreditar que ram as do empresário, do ho- de que emerge no final do
de sentido racional. O ethos a ‘labuta’ diária, característica mem de negócios e do execu- século XX para Castells
da conduta do mesmo influen- do primeiro espírito do capi- tivo industrial, os ‘novos ho- (1999) foi descrita como uma
ciou de forma decisiva a es- talismo, foi substituída na mens’ são os cientistas, eco-
‘rede’, ou seja, um conjunto
trutura organizações do capi- maioria das nações por um nomistas, engenheiros e mate-
de nós interconectados, que
talismo nascente. O controle novo espírito que valoriza a máticos da nova tecnologia
industrial. podem expandir de forma ili-
do tempo, a vigilância, a dis- ‘atividade’ profissional que mitada. A nova morfologia
ciplina na realização de todas mistura atividade profissional, A obra de Boltanski e
Chiapello (2009) consegue social pode modificar de for-
as funções, a separação entre lúdica e pessoal. Não faz par- ma substancial os resultados
o tempo da fábrica e o tempo te do cotidiano da maioria ressignificar a noção de ex-
ploração, uma vez que a desi- dos processos produtivos e as
de lazer, entendendo o lazer dos trabalhadores dos países experiências sociais e cultu-
como período de descanso periféricos do capitalismo for- gualdade surge da assimetria
num clique com diferenciação rais.
funcional para uma maior mas de remuneração, tais com
produtividade no ambiente de honorários, direitos autorais, entre móveis e imóveis. Na
visão de Puali (2009), por Referências
trabalho. De acordo com estas royalties. Ou quando não es-
características, as organiza- tão em plena informalidade, o exemplo, o modelo proposto
por eles compreende as assi- Ant unes R, Alves G (2004) As
ções do primeiro espírito ca- modo mais característico de mutações no mundo do tra­
pitalista em Weber (2004) se remuneração é o assalaria- metrias sociais, uma vez que balho na era da mundialização
aproximam da ‘sociedade dis- mento em tempo integral que, o conexionismo desenvolve do capital. Educ. Soc. 25: 335-
ciplinar’ de Foucault (1996), segundo Boltanski e Chiapello uma forma de exploração que 351.
constituída por grandes meios (2009) são características pre- se sustenta na mobilidade de Bell D (1974) O Advento da Socie-
de confinamento, tendo como determinados indivíduos em dade Pós-Industrial. Cultrix.
sente na gênese do capitalis-
um campo de ação indefinido São Paulo, Brasil. 540 pp.
características principais a mo. Poder-se-ia dizer que a
quanto aos limites ‘físicos’, e Boltanski L, Chiapello E (2009) O
distribuição de indivíduos em tipologia do primeiro espírito
pouco controlados no sentido Novo Espírito do Capitalismo.
espaços individualizados, hie- do capitalismo não se encon- Mar tins Fontes. São Paulo,
da ordenação dos fluxos buro-
rarquizados e classificatórios. tra totalmente extinta. Umas Brasil. 781 pp.
cráticos. A principal caracte-
Em síntese, busca estabelecer das explicações é que os di- Castells M. (1999) A Sociedade em
rística do conector seria a
uma sujeição do individuo ao versos países não estão no Rede. Paz e Terra. São Paulo,
mobilidade que lhe confere o
tempo com a pretensão de mesmo momento, ou melhor, poder para conectar pessoas e
Brasil. 571 pp.
tornar seu trabalho mais efi- não partilham do mesmo es- colocá-las em locais estratégi- Foucault M (1996) Vigiar e Punir:
caz possível. A análise de pírito do capitalismo. Essas Nascimento da Prisão. 14ª ed.
cos, atuando como seus subs- Trad. Raquel Ramalhete. Vo-
Boltanski e Chiapello (2009) ponderações não visam ques- titutos e que devem permane- zes. Pet rópolis, Brasil. pp.
aponta que a empresa caracte- tionar o poder explicativo de cer imóveis enquanto o co- 173-199.
rística da cidade por projetos tais teorias para fenômenos nector continua se movendo, Giddens A (1990) Capitalismo e
é pensada como uma empresa que são emergentes em nosso aumentando capital social e Moderna Teoria Social. Pre-
enxuta, na sua estrutura não tempo, porém é necessário transformando este em capital sença. Lisboa, Portugal. pp.
há mais um grande número ponderar a intensidade e econômico. Em outras pala- 175-190.
de escalões hierárquicos. “... a abrangências das transforma- vras, a imobilidade de alguns Harvey D (1992) Condição Pós-
imagem típica da empresa ções. A difusão do informa- é a condição de possibilidade -Moderna: Uma Pesquisa so-
moderna hoje em dia é de um cionalismo para Castells bre as Origens da Mudança
da movimentação de outros. Cultural. 5ª ed. Loyola. São
núcleo enxuto rodeado por (1999) é inseparável da rees- Desta forma, ideia da cons- Paulo, Brasil. pp. 115-184.
uma meríade de fornecedores, truturação do capitalismo em tituição de redes técnicas Pauli J (2009) Estratégias indivi-
serviços terceirizados, presta- escala global. No entanto, a como o caso do surgimento duais e ordens de justiça no
dores de serviços e trabalha- reação de cada sociedade a da internet, descrita por Cas- capitalismo conexionista. XIV
dores temporários...” (Bol- essas mudanças não tem sido tells (1999), pode ser imagina- Congresso Brasileiro de So-
tanski e Chiapello, 2009, pp. homogênea. Cada sociedade da de forma semelhante às ciologia. 28-31/07/2009. Rio
102-103). Os trabalhadores possui uma especif icidade de Janeiro, Brasil.
redes empresariais e suas prá-
não estão mais inseridos em histórica, cultura e institui- ticas adotadas nas últimas Rif kin J (2005) A Era do Acesso.
uma estrutura inflexível, eles ções diferentes. Mak ron. São Paulo, Brasil.
décadas. A ‘metáfora da rede’ 368 pp.
se organizam em pequenas Foi possível observar que está longe de se limitar a uma
equipes pluridiciplinares, a entre a sociedade industrial e Weber M (2004) A Ética Protes-
visão pejorativa, de redes de tante e o “Espírito” do Ca-
figura do chefe é substituída pós-industrial, não se observa corrupção, narcotráfico, pros- pit ali sm o. C omp a n h ia d a s
por um coordenador. Agora somente a mudança de crité- tituição, entre outras. É resga- L et r a s. Sã o Pau lo, Br a si l.
todos os membros da equipe rios de propriedade, ou políti- tada para apresentar um novo 335 pp.

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