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RESUMO
Este ensaio busca relacionar a análise do que se convencio- realizadas convergências e aproximações metodológicas entre as
nou chamar de ‘primeiro espírito do capitalismo’ a partir das abordagens do ‘O novo espírito do capitalismo’ e a ‘Sociedade
proposições teóricas presentes nas obras de Max Weber, Luc em Rede’, tendo em vista um melhor delineamento das posições
Boltanski, Ève Chiapello e Manuel Castell. O trabalho apre- defendidas pelos autores. Também abordaremos a dinâmica de
senta inicialmente de maneira descritiva o que se entende por ‘poder’ dentro da estrutura das redes, e um debate sobre as
primeiro espírito do capitalismo, o novo espírito do capitalismo configurações temporais nos dois momentos.
e da sociedade em rede. Em seguida, de forma analítica, serão
“Tudo o que é sólido des- um tradicionalismo construí- A proposta do ensaio passa descritiva o que se entende
mancha no ar”, a emblemática do durante séculos. Adaptati- por uma tentativa de cons- por primeiro espírito do capi-
frase de Karl Marx, é uma vo, por que além de se aco- truir uma ponte entre o que talismo, o novo espírito do
metáfora razoável para apre- modar nas mais diversas es- se convencionou denominar capitalismo e a sociedade em
sentar as inúmeras transfor- tr uturas culturais, impeliu de ‘primeiro espírito do capi- rede. Em seguida, de forma
mações vivenciadas pelo sis- quase a totalidade das nações talismo’ a partir das proposi- analítica, serão realizadas
tema capitalista nos últimos a se ajustar a sua lógica de ções teóricas presentes na convergências e aproxima-
séculos. Período em que o produção. Sem nenhum fata- obra de Max Weber, o ‘novo’ ções metodológicas entre as
capitalismo tem se mostrado lismo, o capitalismo se perpe- espírito do capitalismo na abordagens do ‘O novo espí-
com uma imensa capacidade tuou até o momento, sendo concepção de Boltanski e rito do capitalismo’ e a ‘So-
de adaptar-se a novos contex- duro quando se permitiu, e Chiapello (2009), e a ‘Socie- ciedade em Rede’, tendo em
tos. Seu poder poderia ser flexível quando conveniente, dade em Rede’ de Castells vista um melhor delineamen-
chamado de transformador por outro lado, sem nunca se (1999). O trabalho será estru- to das posições defendidas
adaptativo. Transformador, esquecer de motivar todos os t urado da seguinte for ma: pelos autores. A dinâmica do
por que o foi desde a sua ori- seus adeptos a um engaja- nas duas seções iniciais, ‘poder’ dentro da estrutura
gem, solapando as bases de mento profundo. apresentar-se-á de maneira das redes será explorada na
Daniel Coelho de Ol iveira. versidade Estadual de Montes Brasil. e-mail: daniel.coe - Rômulo Soares Barbosa. Doutor
Mestre e Doutorando em Ci- Claros, Brasil. Endereço: lhoo@yahoo.com.br em Ciências Sociais, UFRRJ,
ências Sociais, Universidade Campus Universitário Profes- Brasil. Professor, UEMC, Bra-
Federal Rural do Rio de Ja- sor Darcy Ribeiro, Vila Mau- sil. e-mail: romulosoaresbarbo-
neiro, Brasil. Professor, Uni- ricéia, Montes Claros (MG), sa@gmail.com
This essay seeks to relate the analysis of what has been ca- vergences and methodological aspects in the approaches of ‘The
lled ‘the first spirit of capitalism’ from the theoretical proposi- new spirit of capitalism’ and the ‘Network Society’ will be ex-
tions in the works of Max Weber, Luc Boltanski, Ève Chiapello plored, with a view on an improved delineation of positions ad-
and Manuel Castell. The paper presents initially a description vocated by the authors. A discussion on the dynamics of ‘power’
of what is meant by the first spirit of capitalism, the new spirit within the structure of networks, and a debate about the settings
of capitalism and the network society. Then, analytically, con- in the two temporal moments, are also included.
Este ensayo persigue relacionar el análisis de lo que ha sido foques metodológicos entre los enfoques de ‘El nuevo espíritu
llamado ‘el primer espíritu del capitalismo’ a partir de las pro- del capitalismo’ y la ‘sociedad en red’, con miras a una mejor
posiciones teóricas en la obra de Max Weber, Luc Boltanski, identificación de las posiciones defendidas por los autores. Tam-
Chiapello Eva y Manuel Castell. Inicialmente se presenta de bién se analiza la dinámica de ‘poder’ dentro de la estructura
manera descriptiva lo que se entiende por el primer espíritu del de las redes, y se plantea un debate sobre los valores en los
capitalismo, el nuevo espíritu del capitalismo y la sociedad de dos momentos temporales.
redes. Luego, analíticamente, se abordan convergencias y en-
seguinte seção. O ‘tempo’ conseqüência de fenômenos origem. O primeiro, materia- -se a expansão dos assalaria-
aparecerá na próxima seção econômicos. lizado na obra de Max We- dos médios no ‘setor de ser-
com variável importante para Weber (2004) aponta a Re- ber, dava especial valor a viços’, que inicialmente in-
entender o espírito do capita- forma Protestante como im- moral da poupança; já o se- corporou parcelas significati-
lismo na sociedade em rede. portante fato histórico. Não gundo, o que predomina é a vas de trabalhadores expulsos
Ao final serão costuradas al- no sentido de eliminar a do- moral do trabalho e da com- do mundo produtivo indus-
gumas considerações de cará- minação, mas pela substitui- petência. O ‘novo’ espírito do trial, tal processo é resultado
ter não conclusivo. ção de uma dominação ex- capitalismo se apóia no de- da ampla reestruturação pro-
tremamente cômoda da Igre- senvolvimento que Boltanski dutiva ocorrida no sistema.
Mutações no Espírito do ja Católica por incômoda, e Chiapello (2009) denomina- Se por um lado, em um pri-
Capitalismo que penetrou e procurou re- ram de ‘mundo conexionista’ meiro momento ocorreu forte
g ular tod as as esferas da ou ‘cidade dos projetos’. absorção, pelo setor de servi-
Logo no i n ício de su a vida doméstica e pública. Na É relevante destacar que ços, dos desculpados pelo
obra, Weber (2004) formula concepção de Giddens nos distintos períodos do ca- mundo industrial, faz-se ne-
uma problematização de or- (1990), a novidade da obra pitalismo ocorreram mudan- cessário acrescentar que as
dem estatística. Segundo ele, de Weber não consiste em ças significativas na sua for- transformações tecnológicas e
basta observar as estatísticas fazer u ma relação ent re a ma organizacional e produti- organizacionais afetaram di-
ocupacionais em alguns paí- Reforma e o capitalismo mo- va. De acordo com Harvey retamente o mundo do traba-
ses europeus para constatar derno; autores anteriores a (1992) o novo momento do lho nos serviços, que cada
a notável freqüência de um Weber já haviam feito essa sistema é marcado pela flexi- vez mais se subjugaram à
fenômeno, o caráter predo- relação, como foi o caso de bilidade no mercado de tra- racionalidade do capital e à
m i na ntemente protest ante alguns escritos de Mar x e balho, dos padrões de consu- lógica dos mercados.
dos proprietários do capital Engels. Sua originalidade é mo; há também o surgimento No fim dos anos 60 e iní-
e empresários, assim como constituída a partir do enten- de serviços financeiros e no- cio dos 70 o capitalismo sen-
das camadas superiores da dimento que protestantismo, vos mercados; além da manu- tiu a redução do crescimento
mão-de-obra qualificada. A longe de se desinteressar do tenção de taxas intensificadas e rentabilidade; por out ro
maior participação de protes- controle das atividades coti- de inovação comercial, orga- lado a sua crítica estava no
tantes nos postos de traba- dianas, exigia aos seus fiéis nizacional e tecnológica. A auge, como demonstrou os
lhos mais elevados das gran- uma disciplina muito mais acumulação flexível no capi- acontecimentos de maio de
des empresas capitalistas se rígida do que o catolicismo, talismo seria um confronto 1968 na França. Após a se-
deve em pa r te por ra zões introjetando assim um ele- direto com a rigidez do for- gunda metade da década de
históricas. Retomando o pas- mento religioso em todos os dismo. 70, o que se observou foi o
sado, percebe que a confis- aspectos da vida do crente. Na visão de Antunes e Al- sumiço repentino da crítica,
são relig iosa não apa rece O espírito do capitalismo ves (2004), as últimas déca- deixando u m espaço liv re
como causa, mas sim como atual não é o mesmo de sua das do século XX observou- para a reorganização do capi-