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CURSO DE LETRAS
E-MAIL: darley.pereira@urca.br
O conto tem como espaço físico o bairro Santa Tereza, bairro bucólico, passa-se
no final do século XIX. Especificamente em uma taberna, essa discussão acontece. Sala
iluminada por velas, nem totalmente escura, nem totalmente clara. Atmosfera duvidosa,
ambiente duvidoso... Não se inicia em um ambiente definido.
Com relação à duplicidade, o personagem diz que o ser humano tem duas almas.
A alma exterior é uma motivação para qual o indivíduo volta a sua intenção naquele
momento; momento de foco em algo que ele tem interesse. A alma exterior muda
frequentemente. O que não muda teoricamente é a alma interior, a essência do ser
humano, aquilo que ele é. O personagem usa uma metáfora com uma laranja para
explicar essa dupla identidade do indivíduo. Não existe metade maior ou metade menor,
ambas as metades são de tamanhos iguais. Essa contextualização dá a entender que as
almas se completam. Elas têm o mesmo peso, há equilíbrio entre elas. As duas metades
da laranja formam a duplicidade da identidade do ser humano.
“Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acabava de ser nomeado alferes
da Guarda Nacional.” (O Espelho, p. 3)
Dando ênfase à alma exterior pode-se fazer usar como exemplo a metonímia. No
Brasil o uso da metonímia é bem exagerado. Usam, trocam um termo por outro termo
que tem proximidade em relação ao significado. Segundo o Dicionário Gramático
Português, a metonímia é uma figura de linguagem ou de palavra caracterizada
pela substituição de um termo por outro, havendo entre eles algum tipo de ligação.
Desse modo, pode haver a substituição de parte pelo todo, qualidade pela espécie,
singular pelo plural, matéria pelo objeto, indivíduo pela classe, autor pela obra,
possuidor pelo possuído, lugar pelo produto, efeito pela causa, continente pelo
conteúdo, instrumento pelo agente, coisa pela sua representação, inventor pelo
invento e concreto pelo abstrato. Nos dias atuais, a sociedade troca o nome próprio
pela profissão. Como suposição as profissões presidente e médico. O presidente do
Brasil muitas vezes é mais chamado de presidente do que sua possível alma interior,
que é Jair Bolsonaro. Voltando ao fictício, o nome do personagem é trocado pelo
nome de sua profissão, talvez por aproximação, talvez, por prestígio social. O autor
Machado de Assis sempre deixar algo a refletir.
“[...] e ela abanava a cabeça, bradando que não, que era o "senhor
alferes". Um cunhado dela, irmão do finado Peçanha, que ali morava,
não me chamava de outra maneira. Era o "senhor alferes", não por
gracejo, mas a sério, e à vista dos escravos, que naturalmente foram
pelo mesmo caminho.” (O Espelho, p. 3)
Com muitas bajulações, para lá, para cá, sua tia, chamada Marcolina o convida
para sua casa, casa afastada, espécie de sítio; como é chamada nos dias atuais. Todos da
casa o chamam de “senhor alferes”. Chega um momento em que ele desabafa e expõe
que tem como preferência o nome “Joãozinho”. Mas a tia insiste em chamá-lo pela sua
profissão. Percebe-se que aos poucos sua alma interior (aquilo que ele é, a essência) vai
se apagando e a alma exterior (seu status social) vai aparecendo cada vez mais. É como
se a alma exterior estivesse substituindo a alma interior, em processo gradativo.
Sua tia o coloca em seu quarto um espelho muito antigo e importante para ela. O
espelho destoava toda a mobília da casa. Porém, o personagem afirma que não sabia a
veracidade de toda a história que os contaram sobre o espelho. Nota-se o clima
duvidoso, como no início do conto. O espelho era um pouco ofuscado, velho, como
afirma o personagem.
“Se lhes disser que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de
mandar pôr no meu quarto um grande espelho, obra rica e magnífica,
que destoava do resto da casa, cuja mobília era modesta e simples...
Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta herdara da mãe,
que o comprara a uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de D.
João VI. Não sei o que havia nisso de verdade; era a tradição. O
espelho estava naturalmente muito velho; mas via-se-lhe ainda o ouro,
comido em parte pelo tempo, uns delfins esculpidos nos ângulos
superiores da moldura, uns enfeites de madrepérola e outros caprichos
do artista. Tudo velho, mas bom...” (O Espelho, p. 3)
O autor Machado de Assis nesse conto discutirá sobre a alma humana, como o
próprio fala que o alferes elimina o homem. O personagem Joãozinho vai se apagando
aos poucos, e o alferes acendendo. Em outras palavras, a alma exterior se sobressairá; o
papel social supera o indivíduo. O ser humano acomoda-se à situação que lhe é
conveniente.
“O alferes eliminou o homem.” (O Espelho, p. 3)
O personagem passa sete dias ao todo na casa de sua tia. O sete, segundo
Restaurante Number Seven, é o número da Transformação, é a primeira manifestação do
homem para conhecer as coisas do Espírito, as coisas de Deus, a Criação. Porque quatro
mais três são sete; o número sete reflete na Trindade Santíssima. Quatro está
relacionado da Terra; quatro estações do ano, quatro pontos cardeais, quatro
elementos... O número sete representa a totalidade. No contexto do conto o sete é
simbólico, porque foram sete dias para transformação do Jacobina.
Há uma relação dessa situação do espelho no conto “O Espelho”, Machado de
Assis, a obra de Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray”; na parte em que o retrato
envelhece, fica feio, ele em sua aparência sempre continua jovem. A aparência que ele
apresenta para a sociedade e a realidade que está no retrato é umas das questões
principais do livro.
Concluindo o raciocínio, o conto encerra-se com a vinda do narrador em terceira
pessoa, apenas o tempo cronológico retoma e o personagem sai do local para não haver
réplica.
REFERÊNCIAS
https://5ca0e999-de9a-47e0-9b77-7e3eeab0592c.usrfiles.com/ugd/
5ca0e9_63b0f058bfc54ffe9882b2500e44d2a8.pdf
https://www.todamateria.com.br/caracteristicas-do-realismo/
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%C3%BAmero,coisas%20de%20Deus%2C%20a%20Cria%C3%A7%C3%A3o.