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Impressões sobre o SURYA NAMASKAR

por Isabele Linhares

Estou prestes a fazer o Surya Namáskar, a saudação ao sol. Meu ego recebe
com agrado esta intenção, pois é uma das técnicas que mais me traz bem-estar
porque simultaneamente me proporciona momentos de concentração,
contemplação, fluidez e uma não-identificação com os pensamentos
intermitentes e ações.

Escuto o som de minha respiração, preenchendo meus pensamentos, o corpo e


todo o espaço em torno de mim. O foco de minha atenção volta-se da pele para
dentro e é como se existisse apenas um som, aquele que me lembra o fluxo e
refluxo das ondas do mar, uma força “natural” que me mantém alinhada.

Enquanto o añjali mudrá permanece em frente ao meu peito, esvazio meus


pulmões e observo como o vazio respiratório (Shuniaka) me influencia. Depois
inspiro amplamente construindo um triângulo pela junção da ponta de meus
indicadores e polegares. Expiro levando o triângulo, o trimurti mudrá para frente
e em direção ao solo, simultaneamente. Elevo o gesto ao inspirar, pela minha
frente, conduzindo os braços para cima e expiro curvando suavemente as costas
para trás. Meu rosto está elevado e foco o olhar no triângulo que tenho nas mãos.
Aqui, enquanto mantenho o ardha chakrasana, com humildade saúdo e entrego
a prática a Íshwara , o arquétipo do yogi/yoginí e também à inteligência por detrás
da existência.

Expiro curvo-me em uttanásana (ou padahastasana) aproximando o tronco das


pernas estendidas. Aproximo-me de mim mesma, com o auxílio do apoio das
mãos sobre minhas pernas ou tocando o chão próximo aos pés. Inspiro, afasto
o tronco das pernas, crescendo e estendendo-me para cima. Aplico
compressões eventuais internas, pontuais dos esfíncteres do ânus e da uretra
(mula bandha) e compressões do abdômen sempre ao expirar (uddyana
bandha). Estas técnicas ajudam a manter o corpo quente, alinhado e leve.

Expiro e monto o janurásana (ou ashva shankalanásana) levando o pé direito


para trás até apoiar os dedos no chão. As pontas dos dedos das mãos tocam o
solo, mas tão levemente que não há peso nelas. O corpo cresce desde o
calcanhar do pé de trás até́ o topo da cabeça numa linha diagonal ascendente,
como se eu pudesse sentir o calor do Sol em meu rosto e peito.

Inspirando, desloco o pé esquerdo para trás ficando com o corpo paralelo ao
chão (chaturanga dandásana), estabilizo meu equilíbrio nesta posição por alguns
instantes. Este ásana desperta em mim por um lado a presença e um aumento
da auto-determinação (devido ao esforço muscular) e por outro uma atitude
simbólica de prostração e agradecimento (por me aproximar da terra).

Lentamente, após flexionar levemente meus joelhos, olho para o solo, flexiono
gradualmente meus cotovelos e alinho-me para conduzir simultaneamente meus
joelhos, meu peito e meu rosto à terra em ashtangásana. Aqui percebo um
sentimento de entrega e conexão ao fluxo maior de Ser quem sou em um
aspecto mais amplo e profundo (íshwara). Inspiro e empurro o solo com os
braços, estendendo-os, abrindo o peito e crescendo para o céu em Raja
Bhujangásana. Em verdade, percebo que só existe movimento, movimento que
facilito mas não controlo totalmente, apenas permito que aconteça enquanto sou
testemunha de meu próprio ato.

Expiro e aproximo novamente o plexo solar do chão, preparando-me para elevar


meus quadris para o alto e desenhar uma montanha com o corpo, onde as partes
inferior e superior do corpo crescem encontrando-se num vértice que aponta
para cima. Ajusto o adho mukha svanásana, preparando-me para fazer cinco
respirações lentas e profundas. O som de minha respiração traz a atenção para
o momento. Uma agradável sensação de suspensão surge na base da coluna,
como se algo me puxasse. A identificação com o corpo-mente vai-se dissipando,
dissolvendo-se no calor dos bandhas (as compressões internas) e da respiração
consciente e cadenciada. Há uma relação espontânea e sem esforço ao solo e
ao tapete, sentindo a sua textura em meus pés e mãos.

Inspiro e trago meu pé esquerdo para a frente pousando-o entre as mãos. A


sensação de expansão e presença continua, a fluidez e o silêncio corporal
transportam-me para o janurásana, mantendo-me novamente com a perna
direita estendida para trás. Retiro o joelho direito do solo e conduzo meu pé
direito de encontro ao esquerdo. Agora, já em padahastásana (ou uttanásana)
mantenho as pernas firmes e estendidas na medida do possível para mim, o
tronco próximo às pernas, o topo de minha cabeça apontando o solo e meu
cóccix apontando o céu. Estou completamente presente em cada movimento,
cada músculo, cada ação. Expiro longamente sentindo a abertura da parte
posterior das pernas e coxas.

Inspirando, com as mãos em trimurti mudrá, levo os braços e o tronco ao alto


pela frente. Expiro suavemente, curvando minhas costas para trás em ardha
chakrásana . Inspiro enquanto trago o trimurti mudrá para cima, voltando ao eixo
da coluna e expiro trazendo lentamente as mãos em anjali mudrá em frente ao
meu peito, novamente em padásana, o ponto onde tudo começou. Me preparo
então para continuar fluindo, pulsando e vibrando no Surya Namaskar. Completo
o ciclo vivenciando cada fase aqui descrita, e lembrando-me de levar desta vez,
a perna esquerda para trás até os dedos tocarem o chão, em janurásana. À
medida que os ciclos da saudação ao Sol se sucedem, posso perceber a roda
(chakra) que se estabelece e que gira ritmadamente, alinhando o ritmo do
Universo ao ritmo interno, corporal, onde pouco a pouco me destaco do próprio
movimento e começo a me observar (enquanto executo) como se estivesse no
centro desta roda.

Se quiser ouça a intenção a seguir enquanto pratica o Surya Namaskar:

“Eu saúdo sempre o sol, o Belo e Eterno Senhor da Terra... que é a


essência do conhecimento. Brahman, o Senhor dos Deuses, é livre
de impurezas. Ele mesmo é aquele Único que é prezado por todos.
REI DOS SÓIS, REI DOS DEUSES, MESTRE SOL, JÓIA CENTRAL
DOS 3 MUNDOS. Natureza essencial de Brahma, Vishnu e Shiva, o
Sol.”

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