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Ilustríssimo Sr.

Encarregado do Processo de Licenciamento ​Ex-Officio​ a Bem da


Disciplina

O Sd PM Mat. 114.002-7 PHILIPE DIÓGENES DE SOUZA PINTO​, lotado


no 2ºBPM, vem à presença de V. Sª apresentar, tempestivamente, as Alegações Finais
Complementares, com fundamento na Instrução Normativa nº 002/2017, publicada no BG
SDS nº 202, de 26/10/2017​.

INTROITO

Em razão do Despacho de Instrução e Indiciação referente ao Processo


de Licenciamento ​Ex-Officio a Bem da Disciplina instaurado sob o SIGPAD nº
2018.5.5.000771, venho apresentar as Alegações Finais Complementares ante o
contido no aludido Despacho, de onde foi transcrito o trecho a seguir, no que importa
mencionar:

INDICIAR o Policial Militar Sd PM Mat. 114.002-7 PHILIPE DIÓGENES


DE SOUZA PINTO, o qual foi acusado pelo Sr. JOSÉ WALLACE PEREIRA DA SILVA,
por ter comportado-se de forma não condizente à conduta policial militar ao incorrer em
crimes contra a economia popular, Lei 1.521/51, Art. 4º, “a”, § 2º, IV, “a”; Supressão de
documento (Art. 305-CP); Além dos tipos penais contidos noa Art. 147 e 158, do
Decreto Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940, tudo registrado na Denúncia nº
229/2018-GTAC.

Sr. Encarregado, em razão do disposto no Despacho de Instrução em apreço,


passo nesta ocasião a expor os seguintes argumentos, e no final, realizar o Pedido mais adequado
para o presente caso.

DA FORMA DE PUNIR BASEADA APENAS EM ACUSAÇÃO

Realizadas as investigações no Processo de Licenciamento, na sua fase


regular, apenas restaram acusações em desfavor deste policial militar, o que levou o
Ilustre Oficial encarregado do PL a Conclusão de que não houve uma conduta que
pudesse ensejar uma Pena Máxima a ser imposta a este Soldado.
Ou seja, não houve Fatos irregulares que pudessem incriminar este
brigadiano, apenas tipificações penais que, como sabemos, não podem nem devem
servir de base para se punir alguém, pois aludem a situações genéricas, não devendo
com isso serem admitidas em direito para penalizar o militar estadual, por não detalhar
ou especificar o ato, restando dessa forma, passível de ser nula, já que não houve
motivação.
Ante a inexistência de fatos irregulares praticados por este brigadiano, o
encarregado do PL naturalmente não pôde inseri-los no Despacho de Indiciação, não
havendo assim o requisito para que houvesse o aludido Despacho, como se vê do
PARÁGRAFO ÚNICO do Art. 12 da Instrução Normativa nº 02/2017/Cor.Ger./SDS.

Art. 12. (…)


Parágrafo único. O Despacho de Indiciação deve conter,
circunstanciadamente, os fatos que pesam em desfavor do imputado,
contidos na Notificação Disciplinar, bem como tudo quanto mais foi
revelado nos autos, se houver.

Em outras palavras, uma eventual penalidade a ser imposta tem que,


obrigatoriamente, estar lastreada em fatos, e não em artigos de Leis, Regulamentos, ou de
quaisquer normas legais, para que haja a necessária motivação prevista na nossa Lei Especial
(Lei nº 11.817/2000), e na lei subsidiária como a Lei Estadual nº 11.871/2000, apenas para citar
alguns dos diplomas legais que exigem o princípio constitucional da motivação para se legalizar
o ato administrativo.

DA INOCÊNCIA DO LICENCIANDO COMPROVADA DURANTE A INVESTIGAÇÃO


PROCEDIDA PELA DELEGACIA DE POLÍCIA CIVIL

A respeito dos fatos levianamente imputados a este militar, nada restou confirmado do
descrito na Portaria instauradora do PL, como concluiu o Delegado de Polícia EDUARDO
HENRIQUE ANICETO PEREIRA, responsável para apurar os mesmos fatos objeto do Processo
de Licenciamento.
Nessa esteira, o Delegado alhures, fez constar no Relatório do Inquérito Policial nº
09902.9010.00043/2018-1.3, que segue anexo a esta peça de defesa. Vejamos o que relatou a
autoridade em apreço na conclusão da sua minuciosa investigação, ​in verbis​:

Somente se visualiza do conjunto probatório produzido a prática comprovada do crime de


exercício arbitrário das próprias razões praticado pela pessoa de PHILIPE DIÓRGENES DE SOUZA
PINTO, já que foi necessário a vítima JOSÉ WALLACE PEREIRA DA SILVA procurar o órgão da
corregedoria geral da SDS para procurar o seu ​não se ficando comprovado a prática de qualquer outro
crime, ​até mesmo pelas contradições existentes nos depoimentos, declarações prestadas por ambas as
partes​ (Griffo nosso).

Ora, a única falha do Soldado Souza Pinto, de acordo com o Delegado, foi a prática de fatos
relativos ao artigo 345 do CP, sem que em nenhum momento houve a mínima prática de violência por
parte deste policial militar, conduta essa que não é, bem como nunca foi do feitio deste militar.

Art. 345 ​- Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, 
embora  legítima​, salvo quando a lei o permite (Grifo nosso):
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena 
correspondente à violência. 
Parágrafo único ​- Se não há emprego de violência, somente se procede 
mediante queixa.
 
DA ANÁLISE DA TIPIFICAÇÃO DO ART. 345 DO CPB PARA EFEITOS DE
APLICAÇÃO NOS ASPECTOS ÉTICOS E MORAIS DA PMPE

Como é cediço, o Processo Administrativo Disciplinar, de cuja espécie temos o


Processo de Licenciamento, tem como finalidade apurar a conduta dos administrados em
seus aspectos éticos e morais tutelados, pela Corporação no caso em concreto.

O julgador precisa analisar profundamente a atitude do servidor para que não


haja Injustiça na hora da decisão, devendo o julgamento acontecer de maneira racional, sem
deixar se levar pelos aspectos emocionais que por ventura o instiguem a dessa forma agir.

Observando uma hipotética pena por uma condenação a violar o Art. 345 do
CP (​O que é impossível, pois não houve a queixa da suposta vítima​), esta Pena seria de
no máximo um mês de detenção. Isto é, a penalidade em apreço, já demonstra, por sua
natureza, uma clara relação com o Princípio da Insignificância, o oposto de uma eventual
Pena Significativa de Licenciamento Ex-Officio a Bem da Disciplina.
 
DA LEGITIMIDADE COMO NÃO OFENSA A VALORES ÉTICOS E MORAIS DA 
CORPORAÇÃO

​ Outro ponto crucial para se avaliar a conduta do militar estadual é a ​legitimidade​ que
tem de estar presente numa suposta violação do artigo 345 do Código Penal.
Como dito logo acima, a conduta de Licenciando deve avaliada nos aspectos éticos e
morais, e a ​legitimidade​ presente na suposta acusação labuta em prol deste militar, pois a
legitimidade​ não deve ser vista como uma violação dos aspectos éticos e morais da PMPE.
Nesse sentido, nos ensina Miguel Reale que:
Quando nosso comportamento se conforma a uma regra Moral, e nós
recebemos espontaneamente como ​regra autêntica e legítima​ de nosso
agir, ​o nosso ato é Moral​ (REALE, Miguel. O Direito como experiência:
introdução à epistemologia jurídica. p. 266). (​Grifamos​).
 
    ​Ora, o ato deste militar não pode ser interpretado como violação

moral nem ética, porque simplesmente, quando este policial teve seu direito maculado,
foi simplesmente compensar a perda de um bem que já era seu, ou seja, os valores
monetários obtidos como resultado do seu trabalho honesto nesta Polícia Militar, e
estava de forma ilegal com a suposta vítima, que na realidade

Assim, importante é agir dentro da Legitimidade, tendo em vista que a ela é uma
condição ideal para ser parte de uma demanda. Nessa direção, a legitimidade funciona
como um fenômeno social, como forma de atuação, estando a ética como uma de suas
qualidades.

A legitimidade constante do Art. 345 do Código Penal, e da qual se valeu


este militar para não se ver lesado, sem incindir nesse delito, não deve ser vista como uma
ofensa à ética castrense, muito menos para se punir este policial militar com a pena máxima
de Licenciamento.

O Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa bem define a conduta deste soldado


ao definir a legitimidade:

le·gi·ti·mi·da·de​: 1. Caráter, estado ou qualidade do que é


legítimo ou está de acordo com a razão, com a justiça ou com a lei;
juridicidade, legalidade, licitude.

 
    ​A atitude deste policial militar de agir legitimamente, como foi o caso
destes autos, não pode ser interpretado como um ato vergonhoso para a Corporação, para o
corpo da tropa nem para com a sociedade, pois atuou em defesa dos direitos do militar, que
foi um dinheiro emprestado sem nada a lucrar com isso, como está demonstrado nos autos
do inquérito policial neste PAD.

Vergonhoso para a Corporação e para a o corpo da tropa seria deixar que uma
pessoa, posteriormente conhecida de má índole e de reputação criminosa, ficasse imune e
com a quantia de dinheiro do policial militar honestamente adquirida por este PM.

A suposta vítima, JOSÉ WALLACE PEREIRA DA SILVA, e na realidade um


criminoso comprovadamente, conforme o Mandado de Prisão ANEXO, de Nº 162/2016 –
VEPEC, expedido por Sua Excelência, o Dr. Cícero Bittencourt de Magalhães – Juiz de
Direito da Vara de Execuções Penais da Capital Pernambucana, ​foi preso pelo DEPATRI
– através da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículo, como mostra o Boletim de
Ocorrência anexo, de nº 18E0315000251, estando o criminoso acima em conluio com mais
03 (três) elementos, foi encaminhado ao Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros –
PJALLB.

Este policial militar, agindo de forma legítima, protege sua honra e a de toda a
Corporação.

 
DA AÇÃO DO POLICIAL MILITAR ALEGANTE AMPARADA NO 
REGULAMENTO DE ÉTICA DA CORPORAÇÃO E NO CÓDIGO DISCIPLINAR 
DA PMPE
 
O agir com base na Legitimidade é assegurado no próprio Regulamento de Ética
Profissional dos Militares dos Militares do Estado de Pernambuco – Decreto nº 22.114, de
13 de março de 2000 e na Lei nº 11.817/2000 – CDMEPE.

Vejamos o que reza o Regulamento de Ética acima sobre a ação legítima, com a
necessidade de preservar os Valores Morais da PMPE, ao fomentar o espírito de corpo e a
honra dos militares.

 
Art. 6º Os valores militares, determinantes da moral do
militar estadual, são os seguintes:
(…)
Espírito de corpo, ​traduzido pelo orgulho de suas instituições,
mediante identificação ​legítima​ entre seus componentes;
Honra,​ revelada como busca ​legítima​ do reconhecimento e
consideração, tanto interna, quanto externamente, das Polícias
Militares e aos Corpos de Bombeiros Militares.
 
  ​Ora, quando este policial militar vai reaver uma quantia em dinheiro que já é sua,
jamais será considerada uma falta de espírito de corpo por parte da tropa, pois está agindo
legitimamente em defesa da Corporação, e assim preservando os valores da PMPE.

No tocante à Honra, a busca deste PM pela quantia emprestada (repito, sem lucros),
vem resguardar a Honra da Instituição e fazer ao ser feito de forma justa.

​Já o nosso próprio Código Disciplinar, Lei 11.817/2000, justifica a ação deste
Alegante em reaver a sua quantia emprestada.

  O Art. 23 do CDMEPE reza que são causas de justificação de


uma transgressão:
(…)
IV – Ter sido cometida a transgressão em decorrência de caso
fortuito ou ​força maior​, plenamente comprovado e justificado.

 
  ​Ante o Inciso acima, a ação deste policial militar em reaver sua quantia emprestada
e sem a suposta vítima querer devolver, não dependeu deste Alegante, pois este não deu
causa ao evento, sendo perfeitamente aplicado ao caso a circunstância da força maior.
Tivesse a suposta vítima devolvido o valor, esta investigação sequer teria existido.

 
DAS CONCLUSÕES DO ENCARREGADO NA FASE NORMAL DO PL

Ante o exposto, Sr. Encarregado, como bem falou V. Sª na Conclusão do Processo de


Licenciamento em sua fase regular, não houve nenhum motivo para se aplicar a mais
gravosa das Penas no âmbito administrativo, que é a exclusão ​lato sensu da Corporação, o
que favoreceria, sem dúvida o criminoso que se diz vítima neste PAD.

 
DA INOCÊNCIA BASEADA NA AUSÊNCIA DE PROVAS CONTRA O
DEFENDENTE E A CONFIABILIDADE LHE DEPOSITADA NA CORPORAÇÃO

É importante trazer à baila que a inocência deste policial militar não está ligada à
má conduta da suposta vítima e seus maus antecedentes criminais, mas na ausência de
fundamentação fática e jurídica exigidas para se punir este brigadiano, pessoa de confiança
do Sr. Comandante do 2ºBPM, atuando este Soldado no GATI do mencionado Batalhão,
serviço este de destaque e essencial para a operacionalidade da OME.

DO RESUMO DOS FUNDAMENTOS PARA O ARQUIVAMENTO

Portanto, senhor encarregado, solicito que sejam apreciados os pontos elencados nesta
Defesa, que de forma sistemática e resumida, volta a citar:

1. FORMA DE PUNIR BASEADA APENAS EM ACUSAÇÃO, sem que houvesse


motivação para se punir, a se constar no Despacho de Instrução e indiciação, restando
apenas acusação e tipificação penal;

2. INOCÊNCIA DO LICENCIANDO COMPROVADA DURANTE A INVESTIGAÇÃO


PROCEDIDA PELA DELEGACIA DE POLÍCIA CIVIL E NESTE PAD;

3. Insuficiência da TIPIFICAÇÃO DO ART. 345 DO CPB PARA EFEITOS DE APLICAÇÃO NOS


ASPECTOS ÉTICOS E MORAIS DA PMPE

4. ​LEGITIMIDADE COMO NÃO OFENSA A VALORES ÉTICOS E MORAIS DA CORPORAÇÃO

5. MAUS ANTECEDENTES DA SUPOSTA VÍTIMA EM COMPARAÇÃO COM OS BONS


SERVIÇOS PRESTADOS PELO SERVIDOR PÚBLICO DA CORPORAÇÃO MILITAR

6. ​AÇÃO DO POLICIAL MILITAR ALEGANTE amparada no REGULAMENTO DE

ÉTICA DA CORPORAÇÃO E NO CÓDIGO DISCIPLINAR DA PMPE

7. BONS ANTECEDENTE, COMPORTAMENTO E CONFIABILIDADE DEPOSITADA NO


DEFENDENTE PELO 2ºBPM

DO PEDIDO

Ante todo o exposto, vem este policial militar requerer, de início, que sejam
analisados todos os pontos descritos nesta Alegações Finais Complementares, a fim de
satisfazer ao princípio da motivação e, ao final, confiante do julgamento justo e baseado nos
argumentos fáticos e jurídicos desta peça, Arquivar os presentes autos com a Absolvição do
requerente.

Na impossibilidade de deixar de punir disciplinarmente este policial militar,


solicito desse Ilustre Encarregado e dessa Honrada Corregedoria Geral, que seja aplicada
Pena diversa da Punição Máxima, fazendo-se com isso a mais lídima Justiça, com espeque
nos princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade, além da previsão legal para se
aplicar uma sanção menor no caso concreto, que é a constatação de bons antecedentes
registradas nos assentamentos do Alegante, a relevância de Serviços prestados, a confiança
neste Soldado deposita pela sua OME, e a Influência de fatores diversos devidamente
comprovada nos autos, que foi a recusa da suposta vítima em devolver os valores de bom
grado lhe emprestado.

Sd PM Mat. 114.002-7 PHILIPE DIÓGENES DE SOUZA PINTO


Alegante
 

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