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PONTOS

SENSÍVEIS

ENFIM
LEGISLAÇÃO

ESTATUTO DO DESARMAMENTO
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Lei nº 10.826/2003

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

De acordo com jurisprudências do STJ e STF, todos os crimes do estatuto do


desarmamento são crimes de perigo abstrato ou presumido. Trata-se do perigo já
presumido pela própria lei quando a conduta típica é realizada. O tipo penal se restringe a
descrever a conduta, sem a necessidade de mencionar qualquer resultado físico
específico. Em outras palavras, configura-se um crime mesmo na ausência de perigo
concreto ou real.

Os crimes de perigo abstrato são considerados constitucionais, desde que


tipifiquem comportamentos comprovadamente perigosos, de acordo com as normas
baseadas na experiência. Um exemplo claro disso é a condução de um veículo sob efeito
de álcool e o porte de arma de fogo sem registro ou autorização, ambos comportamentos
que representam riscos comprovados à segurança e à saúde das pessoas.

Tanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto o Supremo Tribunal Federal


(STF) afirmam que, quando o comportamento é demonstradamente perigoso, o legislador
tem a prerrogativa política de antecipar a proteção penal e sancionar a mera conduta
arriscada antes que ela cause danos efetivos. Portanto, o legislador possui o direito
discricionário de punir o simples ato de dirigir alcoolizado, por exemplo, mesmo antes de
resultar em um acidente de trânsito fatal.

Diante do exposto, prevalece a posição no STF e no STJ de que os crimes


estabelecidos pelo Estatuto do Desarmamento são crimes de perigo abstrato. Isso
significa que a lesão ao bem jurídico já está presumida na lei, e não é necessário provar
que a conduta gerou um perigo real e concreto, uma vez que o perigo é intrínseco ao
próprio ato conforme estabelecido pela legislação.

BEM JURÍDICO PROTEGIDO

Em geral, a doutrina geralmente entende que o Estatuto do Desarmamento tem


como objetivo principal a proteção da incolumidade pública, considerada como o bem
jurídico central.

No entanto, segundo a visão do Professor Damásio, os delitos previstos neste


estatuto possuem uma objetividade jurídica múltipla. Isso significa que existe um objeto
jurídico principal e imediato, que é a incolumidade pública, mas também um objeto
jurídico mediato e secundário, que visa à proteção da vida, da integridade física e da
saúde dos cidadãos.
Adicionalmente, Nucci argumenta que o Estatuto do Desarmamento busca
proteger dois bens jurídicos: a segurança pública e a saúde pública. Os Tribunais
Superiores, como o STF e o STJ, reconhecem que o bem jurídico principal é a
incolumidade pública, embora o estatuto do desarmamento também tenha um efeito
reflexivo na proteção de outros bens jurídicos.

Portanto, com base no exposto, podemos concluir que o objeto jurídico protegido
abrange a segurança pública e a incolumidade pública, que são interesses relacionados a
toda a sociedade, tendo a coletividade como seu detentor, em vez de uma única pessoa
ou um grupo específico. Consequentemente, caracteriza-se como um "crime vago", no
qual o sujeito passivo é uma coletividade sem personalidade jurídica, ou seja, toda a
comunidade e não apenas um indivíduo isolado.

ARMA DE FOGO

Uma arma de fogo é um dispositivo que lança projéteis utilizando a pressão dos
gases gerados pela queima de um propelente contido em uma câmara, geralmente
localizada dentro de um cano que serve para manter a queima do propelente, bem como
guiar e estabilizar o projétil.

Observação: Caso o dispositivo não tenha a capacidade de produzir esse efeito


mencionado, ele não será classificado como uma arma de fogo

ACESSÓRIOS

Um acessório é um dispositivo que, quando conectado a uma arma de fogo, tem


a capacidade de aprimorar o desempenho do atirador, alterar algum efeito secundário do
disparo ou modificar a aparência visual da arma. Por exemplo, um silenciador modifica o
efeito secundário do tiro, diminuindo o ruído, enquanto uma bandoleira afeta a maneira
como a arma é transportada.

MUNIÇÃO

Munição é um dispositivo completo, pronto para ser carregado e disparado por


uma arma. Seu propósito pode variar, incluindo a capacidade de causar destruição,
fornecer iluminação ou ocultação ao alvo, influenciar o estado emocional das pessoas,
ser utilizado para treinamento, manuseio e diversos outros efeitos especiais.

REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO

AQUISIÇÃO DA ARMA: A pessoa interessada na compra de uma arma de fogo


deve ter no mínimo 25 anos de idade, conforme estipulado no artigo 28 do Estatuto do
Desarmamento, a menos que esteja enquadrada nas exceções especificadas nos incisos
I, II, III, V, VI, VII e X do artigo 6º.
REGRA EXCEÇÃO (NÃO PRECISA TER MAIS DE 25 ANOS DE IDADE).
I – os integrantes das Forças Armadas;
II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art.
144 da Constituição Federal;
III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos
Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil)
habitantes;
ATENÇÃO: O STF considerou que esse critério escolhido pela lei é
inconstitucional porque os índices de criminalidade não estão
necessariamente relacionados com o número de habitantes. Com a
TER NO decisão do STF todos os integrantes das guardas municipais
MÍNIMO possuem direito a porte de arma de fogo, em serviço ou mesmo
25 ANOS fora de serviço. Não interessa o número de habitantes do
DE Município.
IDADE V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e
os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República;
VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas
prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas
portuárias;
X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do
Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor- Fiscal e
Analista Tributário.

Além do requisito de idade mínima, a aquisição de uma arma de fogo exige o


cumprimento de diversos critérios estabelecidos no Estatuto do Desarmamento, que
incluem:

● Comprovação da idoneidade;

● Ter ocupação lícita e residência;

● Demonstração de capacidade para manuseio da arma.

Vamos analisar o conteúdo do artigo 4º do Estatuto para obter mais detalhes:

Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado


deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender os seguintes
requisitos:

I – comprovação de idoneidade, com apresentação de certidões


negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal,
Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito
policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios
eletrônicos;
II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita
e de residência certa;

III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica


para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no
regulamento desta Lei.

Caso os critérios legais sejam atendidos, o Sistema Nacional de Armas (SINARM)


emitirá uma autorização para a aquisição da arma de fogo, em nome do requerente,
exclusivamente para a arma específica que foi indicada. Além disso, é importante
observar que a compra de munição só é permitida no calibre que corresponda à arma
adquirida, conforme estipulado no artigo 4º, parágrafo 2º.

REGISTRO DA ARMA DE FOGO: Após a aquisição da arma de fogo, é


necessário proceder ao seu registro, e a competência para esse registro varia de acordo
com o tipo da arma adquirida.

a) No caso de armas de fogo de uso permitido, o registro será efetuado na


Polícia Federal, mediante a anuência do Sistema Nacional de Armas (SINARM), e terá
validade em todo o território nacional.

b) Já para armas de fogo de uso restrito, esse registro será realizado junto ao
Comando do Exército, conforme estabelecido no artigo 27 do Estatuto do Desarmamento.

O registro confere ao proprietário o direito de manter a arma de fogo


exclusivamente no interior de sua residência ou dependência desta, ou em seu local de
trabalho, desde que ele seja o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou
empresa.

É importante destacar que o registro da arma permite apenas a sua posse, não
autorizando o seu porte em locais públicos. Portanto, o detentor do registro deve cumprir
as seguintes regras:

● Manter a arma no interior de sua residência ou dependência desta.

● Manter a arma em seu local de trabalho, desde que seja o titular ou


responsável legal pelo estabelecimento.

AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE: Conforme discutido anteriormente, fica


evidente que o registro por si só não confere a autorização para o porte de arma. Para
portar uma arma de fogo em locais públicos ou distintos da residência ou local de
trabalho, é necessário obter uma permissão específica para o porte, conforme
estabelecido no artigo 6º e subsequentes.

Em princípio, de acordo com as regras do Ordenamento Jurídico Brasileiro, o


porte de arma de fogo é proibido em todo o território nacional (conforme o artigo 6º).
No entanto, há situações excepcionais em que a legislação permite a concessão
da autorização para o porte. Essas situações podem ocorrer em virtude da função
desempenhada pelo indivíduo (conforme o artigo 6º) ou através da obtenção de uma
autorização concedida pela Polícia Federal, após a aprovação do Sistema Nacional de
Armas (SINARM), desde que se cumpram todos os requisitos legais estabelecidos
(conforme o artigo 10).

Art. 6º É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional,


salvo para os casos previstos em legislação própria (...).

Portanto, é importante destacar que a autorização para o porte de arma de fogo


de uso permitido em todo o território nacional é de responsabilidade da Polícia Federal .
Essa autorização só será concedida após a aprovação do Sistema Nacional de Armas
(SINARM).

PORTE FUNCIONAL X SERVIDOR APOSENTADO: Segundo o STJ, o porte


de arma de fogo concedido aos policiais civis não se estende aos policiais aposentados.
Isso ocorre devido à condição estabelecida no artigo 33 do Decreto 5.123/2004, que
regulamenta o artigo 6º da Lei 10.826/2003, vinculando o porte de arma de fogo ao
efetivo exercício das funções institucionais, o que exclui os aposentados.

No entanto, é importante notar que essa situação mudou com a promulgação do


Decreto nº 9.847/2019, que permite que os integrantes das polícias, guardas municipais,
ABIN, entre outros, continuem a possuir o porte de arma mesmo após a aposentadoria.

É fundamental explicar que quando um policial ou guarda municipal se aposenta,


perde automaticamente o direito ao porte de arma que detinha quando estava em serviço
ativo, uma vez que esse porte é condicionado ao efetivo exercício de suas funções
institucionais. No entanto, o artigo 30 do Decreto nº 9.847/2019 permite que o aposentado
mantenha a autorização de porte de arma de fogo de sua propriedade (arma particular)
desde que atenda a certos requisitos, incluindo avaliações psicológicas a cada 10 anos.

AUSÊNCIA DO REGISTRO OU AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE E


ADEQUAÇÃO TÍPICA: A ausência de registro de uma arma de uso permitido resulta na
configuração do crime de posse ilegal de arma de fogo, conforme estabelecido no artigo
12.

Por outro lado, quando a arma é de uso permitido, mas o indivíduo não possui
autorização para portá-la, ele comete o crime de porte ilegal de arma de fogo, de acordo
com o artigo 14.

Finalmente, se a arma de fogo é classificada como de uso restrito e o agente não


possui nem a autorização para portá-la, nem o registro, ele incorre no crime definido no
artigo 16 do Estatuto.
LEI 13.870/2019 – AUTORIZAÇÃO PARA POSSE DE ARMA DE FOGO EM
IMÓVEL RURAL: A autorização para a posse de arma de fogo se aplica a toda a
extensão do imóvel rural, não se limitando apenas à sede da propriedade. A Lei nº
13.870/2019 promoveu alterações na Lei nº 10.826, datada de 22 de dezembro de 2003,
estabelecendo que, em áreas rurais, para efeitos de posse de arma de fogo, considera-
se residência ou domicílio a totalidade da área do imóvel correspondente. Vejamos:

Art. 5º O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em


todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma
de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou
dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que
seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou
empresa.

§ 5º Aos residentes em área rural, para os fins do disposto no caput


deste artigo, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do
respectivo imóvel rural. (Incluído pela Lei nº 13.870, de 2019).

CERTIFICADO DE REGISTRO DE ARMA DE FOGO:

Após o cumprimento dos requisitos legais e a emissão da autorização de compra


de uma arma de fogo pelo Sistema Nacional de Armas (SINARM), o interessado deve
solicitar à Polícia Federal o certificado de registro da arma de fogo.

Esse certificado confere ao proprietário da arma de fogo o direito de possuí-la no


interior de sua residência, domicílio, ou suas dependências, bem como em seu local de
trabalho, desde que ele seja o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento. Esta
condição está de acordo com o disposto no caput do artigo 5°:

Art. 5º O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em


todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma
de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou
dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que
seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou
empresa.
§ 1º O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela Polícia
Federal e será precedido de autorização do Sinarm. (...)

POSSE X PORTE DE ARMA DE FOGO

POSSE PORTE

Autorização a manter a arma de fogo Se o indivíduo tem direito ao porte, significa


exclusivamente no: que ele está autorizado a carregar consigo a
●interior de sua residência ou domicílio; arma de fogo mesmo em outros ambientes
ou que não sejam a sua residência ou trabalho.
● no seu local de trabalho (desde que
seja ele o titular ou o responsável legal pelo
estabelecimento ou empresa).
A autorização para posse é concedida por A autorização para o porte de arma de fogo
meio de certificado expedido pela Polícia de uso permitido é de competência da
Federal, precedido de cadastro no Sinarm. Polícia Federal e somente será concedida
após autorização do Sinarm.

É necessário que o interessado cumpra os É necessário que o interessado cumpra os


requisitos previstos no art. 4º da Lei nº requisitos previstos no art. 10, § 1º, da Lei
10.826/2003 nº 10.826/2003.
O titular deste direito recebe um documento O titular deste direito recebe um documento
chamado “certificado de registro de arma de chamado “porte de arma de fogo”.
fogo

O indivíduo que possui ou mantém arma de O indivíduo que é encontrado com arma de
fogo, acessório ou munição (de uso fogo, acessório ou munição (de uso permiti-
permitido) em sua residência ou trabalho, do) fora de sua residência ou local de traba-
sem que tivesse autorização para isso (sem lho sem que tivesse autorização para isso
que tivesse certificado da Polícia Federal), (sem que tivesse porte de arma), comete o
comete o crime de posse irregular de arma crime de porte ilegal de arma de fogo (art.
de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003). 14 da Lei nº 10.826/2003).
ANTECIPAÇÃO DA TUTELA PENAL – “CRIMES DE OBSTÁCULO”

O Estatuto do Desarmamento estabelece tipos penais preventivos, que são


caracterizados pela criação de crimes obstáculo. Nesse contexto, o legislador antecipa a
proteção legal ao incriminar atos preparatórios como infrações autônomas. Vejamos o
que diz a jurisprudência:

1. É irrelevante aferir a eficácia da arma para a configuração do tipo


penal estabelecido no art. 16, parágrafo único, IV, da Lei n. 10.826/2003, pois
a lei visa proteger a incolumidade pública, transcendendo a mera proteção à
incolumidade pessoal. Para tanto, basta a probabilidade de dano, e não a sua
efetiva ocorrência. Trata-se de delito de perigo abstrato, que tem como objeto
jurídico imediato a segurança pública e a paz social, assim, para a
configuração do crime, é suficiente o simples porte de arma desmuniciada.
Precedente da Sexta Turma.

2. De acordo com as Súmulas 440/STJ e 718 e 719/STF, a imposição de


regime prisional mais severo do que o quantum da pena autoriza requer
motivação idônea.

3. É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos


reincidentes condenados à pena igual ou inferior a 4 anos se favoráveis,
como no caso, as circunstâncias judiciais (Súmula 269/STJ).

4. Ordem concedida em parte, para fixar o regime inicial semiaberto.

HC 211.823/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,


julgado em 22/03/2012, DJe 11/04/2012

REGISTRO DE ARMA DE FOGO E LEI MARIA DA PENHA

A Lei Maria da Penha estipula a possibilidade de suspensão da posse ou


restrição do porte de armas em situações de violência doméstica ou familiar contra a
mulher. Caso o indivíduo mantenha a posse da arma de fogo, ele estará sujeito à
configuração do crime conforme o artigo 12 ou o artigo 16 do Estatuto do Desarmamento,
dependendo do tipo de arma envolvida. Vejamos:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a


mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao
agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas
protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com


comunicação ao órgão competente.
CRIMES EM ESPÉCIE

Em regra os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento são crimes dolosos,


exceto pelo crime de omissão de cautela do art. 13, caput, que prevê uma conduta
culposa.

POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou,
ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o
responsável legal do estabelecimento ou empresa:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa

O artigo 12 do Estatuto do Desarmamento sanciona a falta de registro,


configurando um crime de médio potencial ofensivo, uma vez que estabelece uma pena
mínima de um a três anos, além de multa. Esse crime permite a suspensão condicional
do processo, de acordo com o artigo 89 da Lei nº 9.099/95.

O artigo faz questão de mencionar a expressão "no interior de sua residência ou


dependência desta". A doutrina interpreta esse termo como englobando as dependências
"intramuros", ou seja, não se limitando apenas aos cômodos da casa, mas incluindo
áreas como churrasqueiras, espaços da piscina e o quintal. Portanto, se alguém estiver
com a arma na cintura, mas ainda dentro dos limites da propriedade, estará praticando o
crime de posse. Por outro lado, se estiver fora desses limites, caracterizará o porte.

Além disso, o artigo também aborda a posse no local de trabalho, onde não basta
apenas estar presente, sendo essencial ser o titular ou o responsável legal pelo
estabelecimento ou empresa. Portanto, esse crime exige uma qualidade especial por
parte do autor. Vale destacar algumas observações adicionais:

1. No caso de caminhoneiros e taxistas, que alegam possuir armas em seus


veículos, justificando que são suas residências ou locais de trabalho, o STJ não considera
esses argumentos válidos. Para o tribunal, essas situações não se enquadram como
residência (especialmente o caso de caminhoneiros que dormem na cabine) e local de
trabalho, uma vez que se trata apenas de instrumentos de trabalho. Portanto, nesses
casos, a conduta é considerada porte (art. 14 da Lei 10.826/03) e não posse (art. 12 da
Lei 10.826/03).

2. No caso da posse de armas na casa de terceiros, não se configura como


posse, uma vez que a propriedade não é do indivíduo. Isso caracteriza o crime de porte,
pois não se trata de sua residência.
3. Sobre simulacros de arma de fogo, é importante observar que não
configuram armas de fogo reais, mas produtos de circulação controlada ou proibida,
conforme o artigo 26 do Estatuto do Desarmamento. A importação irregular desses
produtos configura crime de contrabando, e nesse caso, o princípio da insignificância não
se aplica, conforme decisão do REsp 1.727.222/PR. Vejamos:

1. Nos termos do artigo 26 da Lei n. 10.826/2003, são vedadas a


fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos,
réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam
confundir.

2. A importação de arma de brinquedo capaz de ser confundida


com verdadeira configura o delito de contrabando, diante da proibição
contida no artigo 26 da Lei n. 10.826/2003, considerando os riscos à
segurança e à incolumidade públicas.

3. No crime de contrabando a tutela jurídica volta-se não apenas


ao interesse estatal patrimonial, mas também à segurança e à
incolumidade pública, de modo a afastar a incidência do princípio da
insignificância. Precedentes.

4. Recurso provido.

OBJETIVIDADE JURÍDICA: Como mencionado anteriormente, o principal bem


jurídico protegido é a incolumidade pública, abrangendo a segurança pública, juntamente
com o controle sobre a propriedade das armas de fogo. Isso reflete indiretamente na
proteção de outros bens, como o patrimônio e a vida, entre outros.

CONDUTAS: As condutas descritas no tipo legal são: possuir e manter.

Para Fernando Capez, possuir significa guardar a própria arma, enquanto manter
sob a guarda, significa guardar a arma para terceiro.

Para Nucci, o entendimento é que possuir e manter sob a guarda significa a


mesma coisa, ou seja, estar na posse de uma arma. Esse é o entendimento mais aceito.

#ATENÇÃO: Se uma questão abordar a diferença entre possuir e guardar,


considerando que "possuir" significa manter a própria arma e "guardar" significa fazê-lo
em nome de terceiro, essa é provavelmente a alternativa correta, uma vez que o
examinador pode seguir a doutrina de CAPEZ ou outros defensores dessa interpretação.

OBJETO MATERIAL: Os objetos materiais do crime são: arma de fogo; munição


e acessórios.
ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO OU ELEMENTO ESPACIAL DO TIPO: A
distinção entre posse e porte está contida no Art. 12, com base na expressão "no interior
de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que
seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa".

Exemplo 1: Se um indivíduo guarda uma arma em seu quarto, configura o crime


de posse. No entanto, se ele pega a arma e a carrega na rua, comete porte ilegal de
arma de fogo.

Exemplo 2: Tanto o gerente de um posto quanto o frentista estão trabalhando


armados. O gerente comete posse ilegal de arma, mas o frentista pratica o crime de
porte ilegal de arma de fogo, uma vez que não é o proprietário ou responsável legal do
posto.

Exemplo 3: Se um indivíduo guarda uma arma de uso permitido na residência de


outra pessoa, está cometendo o crime de porte, não de posse.

Outro elemento normativo do tipo está na expressão "Portar, deter, adquirir,


fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar", conforme estabelecido no Art. 14.

POSSE LEGAL POSSE ILEGAL


Fato atípico Fato típico

É a posse da arma com registro. É a posse da arma sem registro.

Desde que o Estatuto do Desarmamento entrou em vigor em 23/12/2003 até


23/10/2005, o Governo Federal emitiu Medidas Provisórias que posteriormente se
tornaram Leis, concedendo prazos sucessivos para a regularização de armas. Nesse
período, tanto o STF quanto o STJ entenderam que não ocorreu crime, resultando em
uma abolitio criminis temporária, conhecida como vacatio legis indireta. Portanto, a posse
de armas permitidas e proibidas não era considerada crime.

Entre 24/10/2005 e 31/12/2009, o Governo Federal continuou emitindo Medidas


Provisórias, estendendo os prazos para a regularização da posse de armas permitidas.
Durante esse período, a posse de armas permitidas ainda não era considerada crime,
enquanto a posse de armas proibidas passou a ser considerada crime. A partir de 1 de
janeiro de 2010 até os dias atuais, a posse de armas permitidas ou proibidas passou a
ser considerada crime, mas a entrega voluntária da arma é uma causa de extinção da
punibilidade.
#ATENÇÃO: A abolitio criminis temporária se aplicou apenas à posse de arma,
pois o porte de arma já era considerado crime desde o primeiro dia de vigência do

Se alguém entrega voluntariamente uma arma, a punibilidade é extinta. No


entanto, em um cenário hipotético em que a polícia entre na residência de uma pessoa e
encontre a arma, isso configuraria um crime, e a punibilidade não seria extinta.

Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas


regularmente poderão, a qualquer tempo, entregá-las à Polícia
Federal, mediante recibo e indenização, nos termos do regulamento
desta Lei.

Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão


entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de
boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a
punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. (Redação
dada pela Lei nº 11.706, de 2008)

Parágrafo único. O procedimento de entrega de arma de fogo de que


trata o caput será definido em regulamento. (Incluído pela Medida
Provisória nº 417, de 2008) (Revogado pela Lei nº 11.706, de 2008)

Em um caso curioso, um indivíduo foi preso por porte ilegal de arma de fogo ao
tentar entregar a arma em uma delegacia. O ato de transportar a arma no carro até a
delegacia foi considerado como uma conduta antinormativa pelo Delegado de Polícia. No
entanto, o STJ decidiu que faltava ação antinormativa a essa conduta, aplicando a teoria
da tipicidade conglobante. Vamos fazer a leitura do caso:

I – Esta Corte vem entendendo que a absorção do delito de porte


de arma pelo de disparo não é automática, dependendo, assim, do
contexto fático do caso concreto. Por conseguinte, em se tratando de
contextos fáticos distintos, há a possibilidade de configuração de
delitos autônomos.
II – In casu, não há imputação de eventual fato delituoso
pré-existente ao contexto fático narrado na prefacial acusatória
(contexto do disparo de arma de fogo). Vale dizer, a denúncia não
descreve fato anterior que esteja inserido em outro contexto fático, de
modo a possibilitar a configuração de delitos autônomos. Assim sendo,
considerando a nar- ração contida na denúncia, que descreve um
único contexto fático, de- ve o delito tipificado no art. 14 da Lei nº
10.826/03 (porte ilegal de ar- ma de fogo) ser absorvido pelo disparo
de arma de fogo (art. 15 do mesmo diploma legal).

III – De outro lado, a conduta de quem se dirige até delegacia de


polí- cia para entregar arma de fogo de uso permitido não pode ser
equipa- rada ao delito de porte ilegal de arma de fogo e ser, por
conseguinte, tida como típica e ilícita, uma vez que este
comportamento é autoriza- do pelo Estado (artigos 30, 31 e 32, da Lei
nº 10.826/2003). Falta, portanto, a esta ação, antinormatividade.

STJ - HC: 94673 MS 2007/0270829-7, Relator: Ministro FELIX FIS-


CHER, Data de Julgamento: 27/03/2008, T5 - QUINTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 18/08/2008.

SUJEITOS DO CRIME:

O sujeito ativo desse crime pode ser qualquer pessoa, pois se trata de um crime
comum ou geral, ou seja, não exige nenhuma qualidade especial do agente. Isso inclui
até mesmo o proprietário da arma que a possuir sem o devido registro.

O sujeito passivo desse crime é a coletividade, já que se trata de um crime vago.


Isso significa que o sujeito passivo é uma entidade sem personalidade jurídica, como a
sociedade ou a família, por exemplo.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: O crime descrito no artigo 12 do Estatuto do


Desarmamento se consuma no momento em que o agente passa a ter posse da arma,
do acessório ou da munição de uso permitido, desde que isso ocorra dentro de sua
residência ou local de trabalho.

É importante notar que o crime de Posse Irregular de Arma de Fogo é


considerado um crime permanente, pois sua consumação se estende no tempo de
acordo com a vontade do agente, ou seja, enquanto o sujeito mantiver a posse ou guarda
da arma sem o devido registro. Isso significa que a prisão em flagrante (conforme
previsto no CPP, art. 303) pode ser admitida nesses casos.
Este é um crime de perigo abstrato, o que implica que ele se configura com a
simples exposição do bem jurídico a uma probabilidade de dano, não requerendo uma
lesão efetiva do bem jurídico. A situação de perigo é presumida de maneira absoluta pela
lei, não permitindo prova em contrário.

Além disso, é um crime de mera conduta, ou seja, o tipo penal descreve apenas
uma conduta ilícita, sem exigir um resultado concreto. O crime se consuma quando
alguém está ilegalmente na posse de uma arma de fogo.

Este é um crime plurissubsistente, o que significa que ele é composto por várias
ações ou atividades que se desenvolvem ao longo do tempo. Como tal, admite tentativa,
pelo menos teoricamente, como destacado por Renato Brasileiro (2020).

GUARDA DE ARMA DE FOGO COM REGISTRO VENCIDO

A conduta do agente que mantém sob guarda, no interior de sua residência, uma
arma de fogo de uso permitido com registro vencido não configura o crime de posse ilegal
de arma de fogo, conforme o disposto no artigo 12 da Lei nº 10.826/2003.

Nesse cenário, a expiração do prazo de registro da arma é considerada apenas


uma irregularidade administrativa, o que pode resultar na apreensão do artefato e na apli-

Porém esse entendimento se restringe ao crime do artigo 12 (posse irregular de


arma de fogo de uso permitido), não se aplicando aos crimes dos artigos 14 e 16 (porte
irregular de arma de fogo de uso permitido e posse ou porte ilegal de arma de fogo de
uso restrito).
OMISSÃO DE CAUTELA

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que


menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental
se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de
sua propriedade:

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor


responsável de empresa de segurança e transporte de valores que
deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia
Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de
fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas
primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

Este crime é classificado como uma infração penal de menor potencial ofensivo,
uma vez que possui uma pena máxima que não excede dois anos de detenção. O
parágrafo único da legislação prevê uma figura equiparada a essa conduta.

No caso de omissão de cautela em relação a acessórios ou munições, a


legislação dispõe sobre uma contravenção penal, conforme estabelecido no Art. 19, § 2º,
"c" do Decreto 3.688/41. Por exemplo, se uma criança encontrar munições e começar a
brincar com elas, a pessoa responsável pode ser enquadrada nessa contravenção.

Vale destacar que no que diz respeito à venda ou fornecimento de armas


brancas para menores, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) trata dessa
questão no Art. 242.
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de
qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.

Observe que o mencionado artigo se refere à palavra "arma". Portanto, por


interpretação extensiva, pode-se incluir armas brancas nessa categoria.

É importante ressaltar que haverá concurso material de crimes no caso em que


o agente esteja em posse irregular de uma arma de fogo e a deixe ao alcance de um
menor ou de uma pessoa portadora de deficiência mental. Nesse cenário, o agente
responderá tanto pelo Art. 12 quanto pelo Art. 13 do Estatuto do Desarmamento.

OBJETIVIDADE JURÍDICA: O bem jurídico protegido é a segurança pública, e,


mediatamente, a integridade física do menor de 18 anos de idade ou doente mental.

SUJEITOS DO CRIME:

Sujeito Ativo: Trata-se de um crime próprio.

Sujeito Passivo: Engloba a coletividade, pois é um crime contra a segurança


pública, além de incluir menores e pessoas portadoras de doença mental.

ELEMENTO SUBJETIVO: O elemento subjetivo é a culpa, que ocorre quando o


agente deixa de observar as cautelas necessárias, configurando negligência (modalidade
de culpa). No entanto, se o agente age com dolo, responderá nos termos do artigo 16
deste Estatuto. É importante ressaltar que este é o único crime culposo previsto na
legislação do Estatuto do Desarmamento.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Este crime é de natureza material, o que


significa que depende da efetiva produção de um resultado concreto. Portanto, não basta
que o agente seja negligente, deixando de tomar as precauções necessárias; é
necessário que o menor ou o portador de doença mental efetivamente se aposse da arma
de fogo.

No entanto, o crime de omissão de cautela não admite a tentativa, ou seja, não é


possível caracterizar uma tentativa de cometer esse delito, uma vez que sua consumação
está vinculada à apropriação real da arma por parte do menor ou da pessoa com
deficiência mental.

FIGURA EQUIPARADA: No que diz respeito ao Art. 13, parágrafo único, esse
trata da omissão de cautela do proprietário ou diretor responsável de empresas de
segurança e transporte de valores.

Vejamos:
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que
deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia
Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de
fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras
24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

No que diz respeito a essa última expressão, a doutrina sustenta que o prazo de
24 horas começa a contar a partir do momento em que o fato se torna conhecido, não
necessariamente a partir do momento em que o fato ocorreu. Esse crime é considerado
próprio e omissivo próprio, uma vez que o responsável legal deixa de cumprir essas duas
obrigações, sem admitir uma modalidade culposa.

Portanto, as mesmas sanções se aplicam ao proprietário ou diretor responsável


de empresas de segurança e transporte de valores que incorrerem nas seguintes
condutas:

● Deixarem de registrar ocorrência policial.

● Deixarem de comunicar à Polícia Federal a ocorrência de perda, furto,


roubo ou qualquer outra forma de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que
estejam sob sua guarda. Essa comunicação deve ser feita nas primeiras 24 horas após o
ocorrido.

OBJETIVIDADE JURÍDICA: O tipo penal protege a veracidade dos cadastros das


armas de fogo perante o SINARM, bem como o registro perante os órgãos competentes.

SUJEITOS DO DELITO: O sujeito ativo desse crime é restrito, sendo


exclusivamente o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança ou
transporte de valores. Portanto, é um crime próprio ou especial, uma vez que requer uma
qualidade específica do agente. Trata-se de crime próprio.

O sujeito passivo desse crime é a coletividade, configurando assim um crime


vago, onde o ente lesado não possui uma personalidade jurídica individual, mas abrange
a sociedade como um todo.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Esse crime é classificado como um "crime a


prazo", pois o tipo penal estabelece a consumação somente após um período específico,
que, no caso, são as primeiras 24 horas após a ocorrência do fato. Assim, o delito
somente se consuma após decorrido esse prazo de 24 horas sem que tenha ocorrido a
comunicação.

Por não haver ação na tentativa de evitar a consumação, esse crime é considera-
do um "crime omissivo próprio" e, portanto, não admite tentativa.
PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,


transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo


quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.

Este é um crime de elevado potencial ofensivo, o que o torna incompatível com as


disposições que permitem a despenalização de casos no âmbito da Lei do Juizado
Especial Criminal.

A posição do Supremo Tribunal é que apenas os crimes explicitamente


considerados inafiançáveis pela Constituição Federal o serão de fato. A lei não pode
proibir a concessão de fiança com base apenas na gravidade abstrata do delito.

O parágrafo único foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal


na Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.112-1. A interpretação atual estabelece que os
crimes inafiançáveis são estritamente aqueles que a Constituição Federal explicitamente
designa como tais, ou seja, a lei não pode, de forma geral, categorizar um delito como
inafiançável. No entanto, é importante ressaltar que em situações específicas, o juiz tem
a prerrogativa de negar a concessão de fiança.

O artigo mencionado contém uma série de verbos, mas isso não implica que, se
uma pessoa realizar várias dessas ações, ela responderá por múltiplos crimes. Estamos
lidando com um tipo penal misto alternativo, o que significa que se configura apenas a
prática de um crime, independentemente do número de ações realizadas. A quantidade
de ações desempenhará um papel crucial apenas na determinação da gravidade da pena
a ser aplicada.

SUJEITOS DO CRIME: O autor do delito pode ser qualquer pessoa, uma vez que
se trata de um crime comum. Quanto à vítima, ela é representada pela coletividade, dado
que se trata de um crime vago, isto é, um crime no qual o sujeito passivo é uma entidade
sem personalidade jurídica e não envolve uma vítima específica, como a sociedade e a
família, por exemplo.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Este crime é classificado como um delito de


mera conduta, o que significa que é consumado simplesmente pela posse da arma,
mesmo na ausência de uma situação real de perigo.
INFORMATIVOS JURISPRUDENCIAIS E SÚMULAS

INFORMATIVO 570, STJ - Não está caracterizado o crime de porte ilegal de arma de
fogo quando o instrumento apreendido sequer pode ser enquadrado no conceito técnico
de arma de fogo, por estar quebrado e, de acordo com laudo pericial, totalmente inapto
para realizar disparos.

INFORMATIVO 505, STF - O mero fato de o funcionamento de arma de fogo não ser
perfeito não afasta a tipicidade material do crime definido no art. 14 da Lei 10.826/2003.
Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que condenado por
porte ilegal de arma de fogo pleiteava o reconhecimento da atipicidade material de sua
conduta, sob a alegação de que não restara comprovada, de forma válida, a potencialida-
de lesiva da arma apreendida.

INFORMATIVO 699, STF - Asseverou-se que o tipo penal do art. 14 da Lei 10.826/2003
contemplaria crime de mera conduta, sendo suficiente a ação de portar ilegalmente a
arma de fogo, ainda que desmuniciada.

INFORMATIVO 488, STJ - O crime de manter sob a guarda munição de uso permitido e
de uso proibido caracteriza- se como crime único, quando houver unicidade de contexto,
porque há uma única ação, com lesão de um único bem jurídico, a segurança coletiva, e
não concurso formal.

ALGUMAS OBSERVAÇÕES:

● A posse de uma arma de brinquedo não constitui um ato criminoso. Em


vez disso, é considerada uma infração administrativa, sujeita à apreensão e confisco,
mas não configura um crime.

A Lei 10.826/2003 proíbe a fabricação, venda, comercialização e importação de


réplicas e simulacros de armas de fogo. Isso significa que, embora a posse de uma arma
de brinquedo em si não seja um crime, a fabricação e o comércio dessas réplicas de
armas de fogo são estritamente regulamentados e proibidos por lei. Vejamos:

Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a


importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo,
que com estas se possam confundir. Parágrafo único. Excetuam-se da
proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao
adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições
fixadas pelo Comando do Exército.
● Se a posse ou o porte de arma ocorrerem exclusivamente para a prática de
um roubo, esse ato é considerado um meio para cometer o crime de roubo e, portanto, é
absorvido por este último. No entanto, se uma pessoa tiver uma arma de fogo ilegal e, em
algum momento, cometer um homicídio ou um roubo, haverá um concurso de dois
crimes distintos. Não ocorre bis in idem nesse cenário, uma vez que esses crimes lesam
bens jurídicos diferentes.

Por exemplo, se alguém mantiver uma arma ilegal em sua casa por um ano e, em
determinado momento, decidir usá-la para cometer um roubo, essa pessoa será respon-
sabilizada pelo crime de posse ilegal de arma de fogo em conjunto com o crime de roubo,
com a aplicação da causa de aumento de pena devido ao uso da arma de fogo.

Nesse caso, não existe bis in idem, uma vez que a posse ilegal de arma visa
proteger a segurança pública, enquanto o crime de roubo visa resguardar o patrimônio,
ou seja, cada um deles tutela um bem jurídico diferente.

DISPARO DE ARMA DE FOGO

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado


ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde
que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é

inafiançável

Esse crime é cometido somente quando alguém dispara uma arma de fogo ou
aciona munição em um lugar habitado ou nas áreas próximas a ele, em via pública ou na
direção dessas áreas.

Importante ressaltar que não é requerida a presença de pessoas no local; basta


que seja um local habitado. Portanto, os disparos em locais desabitados ou ermos, bem
como os disparos acidentais, não configuram crime, uma vez que o tipo penal exige
intenção dolosa na conduta.

A conduta descrita neste artigo não pode ter como objetivo a prática de outro
crime, devido à subsidiariedade expressa. Isso significa que o indivíduo deve ter a
intenção única de disparar ou acionar a munição naquele local. Por exemplo, se alguém
tinha a intenção de matar outra pessoa, mas erra todos os tiros, não será processado
pelo crime de disparo de arma de fogo, mas sim por tentativa de homicídio. No entanto,
se o indivíduo não tinha autorização para portar ou possuir a arma de fogo, os crimes de
porte ilegal (Art. 12) e posse ilegal (Art. 14) serão absorvidos, uma vez que fazem parte
do mesmo contexto fático, a menos que a posse ou o porte seja de uso restrito, nesse
caso, não será absorvido devido à penalidade mais severa.
CONDUTAS: Este crime envolve o ato de disparar uma arma de fogo ou acionar
munição. Importante notar que, embora contenha o verbo "disparar," o crime pode
ocorrer mesmo sem o disparo efetivo, bastando o simples acionamento da munição.

ELEMENTO SUBJETIVO: O elemento de dolo nesse crime é genérico, não


requerendo uma finalidade específica.

ELEMENTO ESPACIAL DO TIPO: Isso está expresso no Artigo 15, que define o
crime como o ato de disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou nas
áreas próximas a ele, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não
tenha a intenção de cometer outro crime. Caso o disparo ocorra em um local ermo e
desabitado, não se configura crime, sendo considerado um fato atípico.

É importante destacar que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu que


este crime é abstrato, o que significa que é considerado crime, mesmo que não haja um
risco concreto para nenhuma pessoa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Este crime é caracterizado como um delito de


mera conduta, consumando-se quando ocorre o disparo da arma de fogo ou o
acionamento da munição. Tentativas de cometer esse crime são possíveis. Este tipo
penal abrange duas ações distintas:

● disparar uma arma de fogo ou

● acionar munição, mesmo que esta última não seja efetivamente disparada.

ALGUMAS OBSERVAÇÕES:

a) Trata-se de um crime de perigo abstrato.

b) No caso de múltiplos disparos no mesmo contexto, o agente responde por


um único delito, embora a pluralidade de disparos seja considerada na determinação da
pena.

c) Para a caracterização desse crime, é fundamental que o projétil seja real.


O disparo de balas de festim ou de borracha, por exemplo, não configura esse crime.

d) Se o agente efetua um disparo como parte da execução de um crime mais


grave, ele será responsabilizado somente pelo delito mais grave, como no caso de um
latrocínio, onde o disparo é absorvido.

e) Quando o agente, além de portar ilegalmente uma arma de fogo, efetua um


disparo, as condutas podem estar ou não relacionadas entre si, a depender do caso
específico. Vejamos:
1ª SITUAÇÃO 2ª SITUAÇÃO
Em sua residência, o sujeito vai até a O sujeito já estava portando ilegalmente
rua, efetua o disparo e volta para casa. a arma de fogo e, prestes a chegar em
Ele portou ilegalmente a arma de fogo sua casa, ele efetua o disparo e ingressa
apenas para efetuar o disparo. Nesse no imóvel. Nessa hipótese, há contextos
caso, o disparo absorve o porte ilegal. fáticos diversos, e concurso de crimes

POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU PROIBIDO

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em


depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo
com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Assim como no Artigo 14, encontramos aqui outro exemplo de um crime do tipo
misto alternativo. Neste caso, diversos verbos descrevem condutas que, quando
praticadas no mesmo contexto fático, resultam em uma única acusação. É importante
notar que anteriormente tínhamos a expressão "restrito e proibido", mas com as
alterações trazidas pelo Pacote Anti Crime, agora temos um parágrafo 2º que estabelece
uma qualificadora para este segundo tipo.

O parágrafo primeiro deste artigo apresenta condutas equiparadas à posse e ao


porte de armas de fogo de uso restrito, aplicando-se também a armas, acessórios ou
munições de uso permitido. No entanto, devido às particularidades dos incisos do
parágrafo primeiro, o autor é punido de acordo com as penas estabelecidas no Artigo 16.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (casos de equiparação)

I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de


identificação de arma de fogo ou artefato;

Mesmo na posse de uma arma de fogo de uso permitido, se alguém efetuar


quaisquer modificações ou alterações desse tipo, estará sujeito às penas previstas neste
artigo.

Esse tipo penal incrimina aquele que promove a supressão (eliminação completa)
ou a alteração (mudança) da marca ou numeração da arma de fogo. Vale ressaltar que,
na ausência de evidências desse delito, a pessoa pode ser acusada conforme o disposto
no artigo 16, parágrafo único, inciso IV.
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a
torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para
fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial,
perito ou juiz;

No caso de transformar uma arma semiautomática (de uso permitido) em uma


arma automática (de uso restrito), o inciso II abrange a tipificação de duas condutas
distintas. Vamos analisar:

1ª SITUAÇÃO 2ª SITUAÇÃO
(modificar as características de arma de (modificar as características de arma de
fogo, de forma a torná-la equivalente a fogo, para fins de dificultar ou de
arma de fogo de uso proibido ou qualquer modo induzir a erro autoridade
restrito...) pune apenas o responsável policial, perito ou juiz) é crime formal, que
pela modificação. Qualquer outra pessoa afasta a incidência do delito de fraude
que a porte ou a possua responde pelo processual (CP, art. 347).

A primeira figura da lei pune exclusivamente o indivíduo responsável por realizar


a modificação.

Já a segunda figura tipifica a conduta daquele que tenta alterar as características


de uma arma de fogo com o objetivo de dificultar ou de alguma forma enganar a
autoridade policial, perito ou juiz.

Princípio da especialidade - Esse crime é especial em relação ao crime de fraude


processual do art. 347 do CP. Ou seja, esse inciso II é norma especial em relação ao
inciso 347 do CP.

III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou


incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar;

De acordo com o Decreto 9493 de 2018, explosivo refere-se a um tipo de material


que se decompõe muito rapidamente, gerando uma grande liberação de calor e uma
súbita pressão.

É importante destacar que, de acordo com a interpretação do Superior Tribunal


de Justiça (STJ), granadas de gás lacrimogêneo e de gás de pimenta não são
classificadas como artefatos explosivos. Portanto, possuir ou portar esses objetos não
constitui uma conduta tipificada como crime.
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo
com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação
raspado, suprimido ou adulterado;

Se uma pessoa possui um revólver calibre 38 de uso permitido, mas removeu a


numeração da arma, ela será enquadrada neste inciso como posse ou porte de uma
arma de uso restrito.

V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de


fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e

Aqui difere do art. 13 que é uma modalidade culposa, este inciso trata-se de uma
modalidade dolosa.

A doutrina faz uma distinção importante. Enquanto vender, entregar ou fornecer


armas de fogo constitui um crime previsto no Estatuto do Desarmamento, vender,
entregar ou fornecer armas brancas é considerado um crime de acordo com o Artigo 242
do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Portanto, podemos dizer que o crime
estabelecido no Artigo 242 do ECA está parcialmente revogado pelo crime do Estatuto do
Desarmamento, com exceção das situações envolvendo armas brancas.

VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou


adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.

Para que uma pessoa possa recarregar munição em sua residência, é necessário
que ela possua o Certificado de Registro do Exército e tenha a devida autorização para
realizar a atividade de recarga de munição.

§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo


envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4
(quatro) a 12 (doze) anos.
Neste parágrafo, como mencionado anteriormente, há uma novidade introduzida
pelo Pacote Anti Crime. Agora, se as condutas descritas no caput envolverem uma arma
de fogo de uso proibido, será aplicada uma qualificadora.

Com a alteração promovida pelo Pacote Anti Crime, apenas o § 2º do artigo 16


do Estatuto do Desarmamento é classificado como crime hediondo. Vamos examinar o
dispositivo:

Lei dos Crimes Hediondos (8.072/90),

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos


tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal, consumados ou tentados:

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou


consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido,


previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Portanto, o crime de porte ou posse de arma de fogo de uso restrito NÃO é mais
considerado hediondo, somente sua qualificadora, ou seja, posse ou porte de arma de
COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em


depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório
ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada


pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste


artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.

Mais uma vez, temos um exemplo de um crime do tipo misto alternativo, onde
vários verbos estão presentes, mas apenas uma punição é aplicada. Além disso, esse
crime é considerado próprio, ou seja, somente comerciantes ou industriais podem
cometê-lo.

Além disso, é um crime habitual, o que significa que a pessoa deve estar envolvi-
da em uma atividade constante de comércio ilegal de armas de fogo. Por exemplo, é
necessário que o comerciante ou industrial esteja realizando repetidamente as ações
listadas no artigo em questão, pois se elas forem praticadas apenas uma vez, configura-
ria o fornecimento isolado de uma arma, sujeitando-se a outras disposições legais, como
o Artigo 14 ou o Artigo 16.

Vale ressaltar que o Pacote Anticrime (PAC) alterou a redação das penas para o
crime de comércio ilegal de armas de fogo, aumentando a gravidade da infração. Antes
do PAC, a pena prevista era de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.

§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo,


acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado,
quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

É importante destacar a presença do agente policial disfarçado, que não deve ser
confundido com a armadilha de flagrante preparado, uma prática que tornaria a ação ile-
gal, conforme estabelecido na Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal (STF):

Súmula 145, STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante


pela polícia torna impossível a sua consumação.
SUJEITOS: No crime de comércio ilegal de arma de fogo, o sujeito ativo é restrito
a comerciantes ou industriais, quer sejam legais ou ilegais, de armas de fogo, acessórios
ou munição. Portanto, este é um crime próprio que requer uma qualidade especial do
sujeito ativo.

A coletividade é o sujeito passivo deste delito, ou seja, a sociedade como um


todo. Portanto, apenas aqueles que estão envolvidos na atividade comercial ou industrial
de armas de fogo, acessórios ou munição podem cometer esse crime, sendo essa uma
característica especial do sujeito ativo.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Este é um crime de perigo abstrato e mera


conduta. Portanto, a consumação ocorre quando qualquer uma das condutas previstas
em lei é realizada, e uma vez que a conduta é realizada, presume-se de forma absoluta o
perigo à segurança pública.

O crime de comércio ilegal de arma de fogo é consumado no momento em que


as condutas descritas no tipo são praticadas de forma reiterada, independentemente da
produção de qualquer resultado, uma vez que se trata de um crime de mera conduta.
Além disso, a tentativa é admitida, pois se trata de um crime plurissubsistente, ou seja,
composto por múltiplas ações.

CRIME HEDIONDO: Após a promulgação do Pacote Anticrime, que trouxe


alterações na Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), o comércio ilegal de armas de
fogo passou a ser classificado como crime hediondo.

Lei 8.072/90, Art. 1º, parágrafo único. Consideram-se também hedion-


dos, tentados ou consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)

(...)

III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da


Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMAS DE FOGO

A Lei 13.694/19 introduziu uma alteração significativa, aumentando a pena para o


comércio ilegal de arma de fogo e incluindo a figura do agente policial disfarçado,
conforme explicado anteriormente.

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território


nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição,
sem autorização da autoridade competente:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma


de fogo, acessório ou munição, em operação de importação, sem
autorização da autoridade competente, a agente policial disfarçado,
quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

No presente dispositivo, assim como no anterior, o Pacote Anti Crime introduziu


duas alterações significativas:

● A pena foi aumentada, passando de 4 a 8 anos para 8 a 16 anos.

● Foi criado o crime previsto no parágrafo único, que é semelhante ao crime


descrito no Art. 17, §2º. Se alguém importar uma arma e a entregar a um agente policial
disfarçado, desde que haja indícios razoáveis de que a pessoa estava envolvida no
tráfico de armas, ela cometerá o crime previsto no parágrafo único do Art. 18.

É importante notar que no caput deste artigo não se faz menção à importação ou
exportação de explosivos, uma vez que isso configura o crime de contrabando ou
facilitação ao crime de contrabando, conforme previsto nos Artigos 344-A ou 318, ambos
do Código Penal.

Adicionalmente, existe uma causa de aumento de pena para os Artigos 17 e 18


do Estatuto do Desarmamento, conforme previsto nos Artigos 19 e 20:

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada
da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso
proibido ou restrito.

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se: (Lei 13.964/19, pacote anti crime).

I - forem praticados por integrante dos órgãos e empresas


referidas nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei; ou

II - o agente for reincidente específico em crimes dessa natureza.

É importante destacar a presença do Art. 32, que estabelece uma causa que
extingue a punibilidade:

Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão


entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de
boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a
punibilidade de eventual posse irregular da referida arma.
CONDUTAS:
● Importar ou exportar: Crime material que se consuma com a efetiva entrada
ou saída da arma de fogo, acessório ou munição do país. A tentativa é plenamente
possível. Pelo princípio da especialidade, este crime prevalece sobre o crime de
contrabando.

● Favorecer a entrada ou a saída de arma de fogo, acessório ou munição:


Crime formal ou de consumação antecipada. Consuma-se com o simples ato de
favorecimento, mesmo que a arma não entre nem saia do país. Também admite tentativa.

OBJETO MATERIAL: O objeto deste crime, assim como no Art. 17, engloba
armas de fogo, acessórios ou munições, independentemente de seu uso ser permitido,
proibido ou restrito.

Importante destacar que o princípio da insignificância não se aplica ao comércio


ilegal ou tráfico ilegal de munição, conforme entendimento do STJ.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: Este crime é de perigo abstrato e de mera


conduta, onde a lei presume, de forma absoluta, o perigo à segurança pública com a
entrada de uma arma no Brasil de forma clandestina. Sendo um delito de mera conduta,
ele se esgota com a prática da conduta descrita no tipo penal, sem a necessidade de um
resultado naturalístico.

O crime se consuma no momento da prática das condutas previstas no tipo,


independentemente da produção de qualquer resultado, pois é considerado um crime de
mera conduta. A tentativa é admissível.

CRIME HEDIONDO: Após a promulgação do Pacote Anti Crime, que trouxe


alterações na Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), o tráfico internacional de armas de
fogo passou a ser classificado como crime hediondo:

Lei 8.072/90, Art. 1º, parágrafo único. Consideram-se também


hediondos, tentados ou consumados: (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)

(...)

IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou


munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA: Os artigos 19 e 20 do Estatuto do


Desarmamento contemplam circunstâncias que resultam em aumento da pena. É
relevante observar o inciso II do artigo 20, que foi adicionado pelo Pacote Anti Crime e
prevê um aumento de pena para o agente que incide especificamente em crimes dessa
natureza. Vamos analisar esse dispositivo:
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada
da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso
proibido ou restrito.

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)

I - forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas


nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - o agente for reincidente específico em crimes dessa natureza.


(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

AUMENTO DA METADE NOS CRIMES DE

Se a arma de fogo, acessório ou a) Comércio ilegal de arma de fogo


munição forem: (art. 17);
QUANDO
O OBJETO ● de uso RESTRITO; b) Tráfico internacional de arma
de fogo (art.18).

Se forem praticados pelos: a) Porte ilegal de arma de fogo de


uso permitido (art. 14);
● agentes do art. 6º
b) Disparo de arma de fogo (art.
● agentes do art. 7º
15); Posse ou porte ilegal de arma de
● agentes do art. 8º fogo de uso restrito ou proibido (art.
QUANDO
O SUJEITO Ou se o agente for REINCIDENTE 16);
ESPECÍFICO. c) Comércio ilegal de arma de
fogo (art. 17);
d) Tráfico internacional de arma
de fogo (art. 18).

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:
O Supremo Tribunal Federal (STF) sustenta que a munição, quando não está
acompanhada de uma arma de fogo, carece de potencial lesivo. No entanto, trata-se de
um crime de perigo abstrato, em que a ameaça é presumida por lei. Portanto, o poder
público só precisa comprovar a conduta do agente, não sendo necessário demonstrar
que ele efetivamente representou um perigo para a sociedade.

No entanto, é importante observar as circunstâncias específicas do caso


concreto. O STF estabelece que o princípio da insignificância não se aplica de maneira
excepci- onal ao crime de posse ou porte ilegal de munição quando ele está associado a
outros delitos, como o tráfico de drogas, por exemplo.
INFORMATIVOS JURISPRUDENCIAIS E SÚMULAS

INFORMATIVO 710, STJ - O simples fato de os cartuchos apreendidos estarem


desacompanhados da respectiva arma de fogo não implica, por si só, a atipicidade da
conduta, de maneira que as peculiaridades do caso concreto devem ser analisadas a fim
de se aferir:

a) a mínima ofensividade da conduta do agente;

b) a ausência de periculosidade social da ação;

c) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e

d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

No caso concreto, embora o réu tenha sido preso com apenas uma munição de uso
restrito, desacompanhada de arma de fogo, ele foi também condenado pela prática dos
crimes descritos nos arts. 33 e 35, da Lei nº 11.343/2006 (tráfico de drogas e associação
para o tráfico), o que afasta o reconhecimento da atipicidade da conduta, por não
estarem demonstradas a mínima ofensividade da ação e a ausência de periculosidade
social exigidas para tal finalidade.

O colete à prova de balas não se enquadra como um acessório de arma de fogo,


conforme definido pelo Decreto 10.030/19. A lei considera acessório como um artefato
que, quando acoplado a uma arma de fogo, melhora o desempenho do atirador, modifica
um efeito secundário do tiro ou altera o aspecto visual da arma. O colete, por sua vez, é
um produto cuja circulação é proibida, e sua importação ilegal não é regulamentada pelo
Estatuto do Desarmamento, mas sim pelo crime de contrabando.

No caso do crime de contrabando, o princípio da insignificância não é aplicado.


No entanto, no caso do descaminho, o princípio da insignificância pode ser considerado,
desde que o valor envolvido não ultrapasse R$ 20.000,00. O mesmo princípio também
não é aplicado a armas de pressão, uma vez que a importação ilegal dessas armas confi-
gura o crime de contrabando.

TRANSPORTE DE ARMA PARA TIRO ESPORTIVO: Foi recentemente


emitida uma portaria que restringe o porte de armas de fogo municiadas por
colecionadores, atiradores e caçadores (CACs). No entanto, os CACs ainda têm o direito
de transportar suas armas, desde que estejam desmuniciadas. A munição deve ser
transportada separadamente das armas e acondicionada em recipiente apropriado.
Decreto 11.366/23, Art. 14. Não será permitido o porte de trânsito de
arma de fogo municiada por colecionadores, atiradores e caçadores,
inclusive no trajeto entre sua residência e o local de exposição, prática
de tiro ou abate controlado de animais.

§ 1º Fica garantido, no território nacional, o direito de transporte das


armas desmuniciadas dos clubes e das escolas de tiro e de seus
integrantes e dos colecionadores, dos atiradores e dos caçadores, por
meio da apresentação do Certificado de Registro de Colecionador,
Atirador e Caçador ou do Certificado de Registro de Arma de Fogo
válido e da Guia de Tráfego, desde que a munição transportada seja
acondicionada em recipiente próprio e separado das armas.

ARMA DESMUNICIADA: De acordo com um entendimento consolidado,


tanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quanto pelo Superior Tribunal de Justiça

ARMA DE FOGO QUEBRADA: Uma arma que está quebrada e incapaz de


efetuar disparos não configura um crime, pois se trata de um caso de "crime impossível"
devido à ineficiência da arma. No entanto, no caso de uma arma com funcionamento
imperfeito, que às vezes dispara e às vezes não, a situação pode configurar um crime.

ARMA DESMONTADA: O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de


que é de perigo abstrato o crime de porte ilegal de arma de fogo, sendo, portanto, irrele-
vante para sua configuração encontrar-se a arma desmontada ou desmuniciada. (STF —
HC 95861, Rel. Min. Cezar Peluso, Rel. p/ Acórdão: Min. Dias Toffoli, 2ª Turma, julgado
em 02/06/2015, Acórdão eletrônico DJe-128 divulg. 30/06/2015 public. 01/07/2015).
COMPETÊNCIA

Em geral, a competência para o processo e julgamento dos crimes previstos no


Estatuto do Desarmamento é da justiça estadual, uma vez que o bem jurídico protegido
não se relaciona exclusivamente com os interesses da União, conforme estabelecido no
artigo 109 da Constituição Federal. O fato de o controle de armas ser realizado pelo
SINARM, um órgão federal vinculado ao Ministério da Justiça, não justifica a competência
da justiça federal.

No entanto, existem situações em que a competência recai sobre a justiça


federal, como quando a infração penal é cometida em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Por exemplo,
o crime previsto no artigo 18, que trata do tráfico internacional de armas de fogo, envolve
a lesão aos interesses da União Federal relacionados ao controle alfandegário.

Outra hipótese em que a competência é federal ocorre quando um crime do


Estatuto é praticado a bordo de uma embarcação ou aeronave (artigo 109, inciso IX da
Constituição Federal).

FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA

O parágrafo único do Artigo 14, que se refere ao porte ilegal de arma de fogo de
uso permitido, proíbe a concessão de fiança, exceto quando a arma estiver registrada em
nome do infrator.

O parágrafo único do Artigo 15, que se relaciona ao crime de disparo de arma de


fogo, proíbe a concessão de fiança.

O Artigo 21 veda qualquer forma de concessão de liberdade, seja com ou sem


fiança, para os crimes previstos nos artigos 16, 17 e 18.

No entanto, é importante observar que a ADI 3112 declarou a


inconstitucionalidade de todos esses dispositivos. Portanto, a liberdade provisória,
seja com ou sem fiança, é permitida em todos os casos previstos no Estatuto do
Desarmamento, uma vez que os dispositivos que restringiam essa concessão foram
declarados inconstitucionais.

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