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@diariodeumafuturadelegada

Bem Jurídico Tutelado:


A segurança e a incolumidade pública, que são interesses vinculados
a um corpo social, tendo a coletividade como titular, e, não, a uma pessoa
isolada ou grupo isolado de pessoas.
As armas de fogo são espécies de material bélico e estão
intimamente ligadas a segurança pública. A lei que institui o Estatuto do
Desarmamento busca punir todo e qualquer comportamento irregular
relacionado a arma de fogo, acessório ou munição, como a venda,
transporte, fabricação, porte etc., uma vez que quase todos os crimes
violentos são cometidos com armas sem autorização do Poder Público. Ex:
homicídio, roubo, latrocínio, extorsão mediante sequestro etc.

Aplicação da Lei Penal no Tempo:


Segundo entendimento da Súmula 711 do STF, aplica-se a norma mais
grave ao crime continuado ou permanente, se a sua vigência é anterior a
cessação da continuidade ou permanência.

Competência:
Em regra, da justiça comum estadual, salvo quando envolver tráfico
internacional de armas, quando será competência da justiça federal por
envolver interesse da união.

Princípio da Insignificância:
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O STJ decidiu que NÃO SE APLICA o Princípio da Insignificância ao crime


de porte ilegal de arma ou munição.
Qual a diferença entre arma de fogo de uso permitido, restrito e
proibido?
Os conceitos relativos à restrição ou proibição da arma de fogo são
dados pelos Decretos 9.845/19 (posse de arma de fogo) e 9.847 (porte de
arma de fogo), ambos de 25 de julho de 2019. Vários instrumentos
normativos anteriores foram revogados.
Com os novos Decretos, a classificação entre armas de uso
permitido e restrito perdeu o parâmetro do tipo da arma de fogo em si e
passou a adotar um parâmetro lastreado no potencial lesivo do armamento,
isto é, na sua força cinética, medida em joule.
As armas de fogo de uso permitido são aquelas cuja utilização é
autorizada a pessoas físicas, bem como a pessoas jurídicas, não integrantes
das Forças Armadas ou dos Órgãos de Segurança Pública previstos no art.
144 da Constituição Federal.
As armas de fogo de uso restrito são aquelas de uso exclusivo das
Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de pessoas físicas
e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército, de
acordo com legislação específica.
As armas de fogo de uso proibido, por sua vez, são aquelas previstas
em acordos e tratados internacionais aos quais o Brasil seja signatário, bem
como as armas dissimuladas, que parecem ter caráter inofensivo.
Ademais, a tipificação criminal do Estatuto do Desarmamento
contempla elementos descritivos relacionados à munição de armas de fogo.
Ainda, analisando os elementos descritivos do tipo penal, encontramos
elementos relacionado aos acessórios de armas de fogo. Assim, aquele
agente que pratica uma das condutas previstas na Lei 10.826/03
relacionadas a acessório de arma de fogo sem autorização está incurso
nas penas cominadas.
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Crimes em Espécie:

Posse Irregular de Arma de Fogo de Uso Permitido:


Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda
no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do
estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Trata-se de delito que tutela a segurança e a paz pública, de forma
abstrata, prescindindo de demonstração de efetiva situação de perigo,
porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física e sim a
segurança pública e a paz social, estando o perigo presumido pela própria lei.
O crime previsto no art. 12, da Lei nº 10.826/03, consiste em possuir
ou manter a guarda de arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido, no interior de residência ou dependência desta, ou no local de
trabalho, intra muros, na condição de titular ou responsável legal do
estabelecimento ou empresa, sem o devido registro.
Segundo a doutrina, as condutas de possuir ou manter a sua guarda
significam a mesma coisa, que se afigura como a pronta disponibilidade da
arma, acessório ou munição, não sendo necessário que a arma esteja junto
ao corpo da pessoa. Parte da doutrina, faz distinção, afirmando que possuir
significa ter a posse de alguma coisa, enquanto manter significa ter algo
sob sua guarda, cuidado, vigilância. Portanto, haverá o crime de posse quando
o agente for flagrado em sua residência com arma de fogo que esteja na
posse ou cuidado do agente.
Transporte de arma de fogo no interior do veículo:
O caminhão e o táxi não são considerados residência e nem local de
trabalho. Assim, o transporte de arma de fogo de uso permitido em caminhão
ou táxi é considerado o crime de PORTE DE ARMA DE FOGO – ART. 14.
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Simulacro de Arma:
A posse de arma de brinquedo, arma de pressão ou a utilização de
qualquer outro instrumento simulador de arma de fogo configura FATO
ATÍPICO, por ausência de previsão legal.
*Atenção:
Aquele que mantém arma na empresa, se não for o titular ou
responsável legal do estabelecimento, a conduta se amolda ao crime de
porte ilegal de arma de fogo. Nesse sentido, se o dono do restaurante e o
garçom trabalham com armas de fogo guardadas na gaveta, o dono
responderá por posse e o garçom por porte.
Arma com registro vencido dentro da residência configura crime?
Não, mas cuidado, pois se estiver fora da residência ou local de
trabalho caracteriza o porte. Se o agente já procedeu ao registro da arma,
a expiração do prazo é mera irregularidade administrativa que autoriza a
apreensão do artefato e aplicação de multa, não caracterizando fato típico.
No entanto, muito cuidado aqui, pois portar arma com registro vencido é
crime previsto no art. 14 ou 16, a depender da arma.
Policial com arma sem registro:
É típica e antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo autorizado
a portar ou possuir arma de fogo, não observa as imposições legais
previstas no Estatuto do Desarmamento, que impõe registro das armas no
órgão competente. Delegado de Polícia que mantém arma em sua casa sem
registro no órgão competente pratica crime de posse irregular de arma de
fogo. (Info 597 – STF).
Arma dentro da fazenda é posse:
Conforme a Lei nº 13.870/2019, se o cidadão possui uma fazenda
por 10 mil hectares, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do
respectivo imóvel rural, para fins de consideração da posse, e não do porte.
Arma enterrada no quintal é porte:
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Segundo entendimento do STJ, enterrar a arma no quintal


caracteriza o crime de porte, pois presente o verbo núcleo do tipo ocultar,
presente no art. 14 da Lei nº 10.826/03.
Posse de arma na casa da namorada:
Conforme ensina Renato Brasileiro, de acordo com o Decreto nº
8.945/19, considera-se interior da residência ou dependência desta “toda a
extensão da área particular do imóvel, edificada ou não, em que resida o
titular do registro, inclusive quando se tratar de imóvel rural.” A posse de
arma de fogo em outra residência que não a do agente tipifica o crime de
porte ilegal de arma de fogo. Logo, se alguém mantiver uma arma de fogo
devidamente registrada, porém na casa de um terceiro, sem que este tenha
ciência, aquele deverá responder pelo crime do art. 14 ou do art. 16, a
depender da espécie do artefato.
Disparo e consunção:
O crime de disparo de arma de fogo absorve os crimes de porte e
posse de arma de fogo quando diante de arma de uso permitido, por
aplicação do Princípio da Consunção.
E qual a diferença entre posse e porte?
 Posse: ocorre na residência ou local de trabalho da pessoa (responsável
pelo local de trabalho), intra muros.
 Porte: ocorre em qualquer outro lugar, extra muros, isso é, fora da
residência ou local de trabalho.

Omissão de Cautela:
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere
de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Trata-se de um tipo penal que exige um dever objetivo de cuidado
por parte daquele que é proprietário ou possuidor de arma de fogo, que
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deve reconhecer o perigo que tal objeto representa nas mãos de incapazes,
adotando, assim, precauções para que isso não aconteça.
*Atenção: o crime somente é punido na forma culposa. Trata-se do
único tipo penal culposo previsto no Estatuto do Desarmamento.
Majoritariamente, entende-se que este delito somente pode ser
cometido a partir da NEGLIGÊNCIA do proprietário ou possuidor da arma de
fogo, a partir da literalidade do texto legal, que fala em deixar de observar
as cautelas necessárias. Todavia, parte minoritária da doutrina entende que
o crime também pode ser cometido por IMPRUDÊNCIA e IMPERÍCIA.
Sujeito ativo:
O sujeito ativo deve ser o proprietário ou possuidor da arma de fogo.
Trata-se de crime omissivo próprio.
Sujeito Passivo:
O sujeito passivo é a coletividade. Secundariamente, também figura
como vítima do delito o menor de 18 (dezoito) anos ou a pessoa portadora
de deficiência mental que se apodera da arma de fogo, bem como terceiros
que por eles possam vir eventualmente a ser alvejados.
Alguns BIZUS:
1 – Não é necessário nenhum vínculo entre o omissor da cautela e
a criança. Nesse sentido, aquele que pega a arma, a partir da omissão de
cautela, pode ser o filho ou qualquer outro menor, mesmo que não tenha
relação com o omissor.
2 – Mesmo que o menor de 18 (dezoito) anos já tenha obtido a
capacidade civil pela emancipação há a incidência deste crime, pois o critério
é biológico, e não civil.
3 – A lei, expressamente, faz menção ao deficiente mental. Então,
não há crime se o agente que se apodera da arma é deficiente físico.
4 – Arma esquecida em cima da mesa, sem nenhum menor ou
deficiente mental que possa ter acesso a ela, não há crime, configurando
conduta atípica.
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5 – Nesse delito, o agente não tem a intenção de entregar a arma


ao menor de 18 anos ou portador de doença mental, oportunidade em que
tal resultado advém de sua conduta negligente, imprudente ou imperita. Se
dolo houver por parte do agente no tocante à entrega de arma à criança
ou adolescente, o crime em questão será o do art. 16, parágrafo único da
Lei nº 10.826/03 (“vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente,
arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente).
6 – Para configuração deste crime, é indiferente se a arma de fogo
é de uso permitido, restrito ou proibido.
7 – Para configuração deste crime, é indiferente se a arma de fogo
estava registrada ou autorizada. No entanto, se o agente tem a posse ilegal
de arma e a deixa ao alcance de um menor, responde pelos delitos de posse
ilegal de arma de fogo (art. 12) e omissão de cautela (art. 13) em concurso
material de crimes (art. 69 do Código Penal).
8 – O tipo penal faz menção expressa a omissão de cautela quanto
à arma de fogo, NÃO fazendo menção a acessórios ou munições.

Do Crime de Ausência de Registro de Ocorrência


Policial e de Comunicação à Polícia Federal de
Extravio de Arma de Fogo, Acessório ou Munição
que Estejam sob sua Guarda, nas Primeiras 24
(Vinte e Quatro) Horas Depois de Ocorrido o Fato.
Art. 13, parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou
diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que
deixarem de registrar ocorrência policial (1) e de comunicar à Polícia Federal
(2) perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo,
acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte
e quatro) horas depois de ocorrido o fato.
O tipo penal prevê duas condutas:
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Deixar de registrar ocorrência policial, e;


Deixar de comunicar à Polícia Federal sobre furto, roubo ou qualquer
forma de extravio.
Trata-se de crime próprio, visto que exige a qualidade especial do
agente em ser proprietário ou diretor de empresa. Muito cuidado, pois não
se admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica pela prática dos crimes
previstos no Estatuto do Desarmamento. Ademais, caso o agente ativo não
seja proprietário ou diretor de empresa, não haverá crime, apenas havendo
penalidade administrativa.
O crime se consuma no exato momento que se extinguir o lapso
temporal previsto na norma (crime a prazo). A conduta deve ser dolosa, ou
seja, o proprietário ou diretor da empresa de segurança ou transporte deve
possuir o conhecimento do extravio a fim de caracterizar o crime de
omissão de cautela em questão, sob pena de configurarmos responsabilidade
penal objetiva, não albergada por nosso direito penal pátrio.

Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Permitido:


Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de
uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Trata-se de crime de ação múltipla, também chamado de tipo misto
alternativo, em que a realização de mais de uma conduta típica, em relação
ao mesmo objeto material, constitui crime único.
Do porte compartilhado:
Segundo entendimento do STJ, mesmo que apenas um dos agentes
esteja portando a arma de fogo, admite-se o concurso de agentes. Nesse
sentido, admite-se o concurso de agentes, seja na modalidade de coautoria,
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seja na modalidade de participação. É o que a doutrina denomina de porte


compartilhado. Como já se pronunciou o STJ: “(...) ainda que apenas um dos
agentes esteja portando a arma de fogo, é possível que os demais tenham
concorrido de qualquer forma para a prática delituosa, motivo pelo qual
devem responder na medida de sua participação, nos termos do art. 29 do
CP (...).”
Da conduta do agente que tem o porte, mas não traz consigo o
documento:
Segundo a doutrina majoritária, não há crime, pois havia autorização
legal de porte de arma de fogo, subsistindo tão somente uma infração
administrativa.

Disparo de Arma de Fogo:


Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em
suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta
não tenha como finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Trata-se de um crime expressamente subsidiário, visto que a
conduta em questão somente será imputada se a conduta não objetivar a
prática de outro delito como, por exemplo, tentativa de homicídio. Havendo
crime mais grave o crime de disparo será absorvido.
*Atenção: independente do número de disparos, haverá crime único.
É firme o entendimento jurisprudencial no sentido de que o delito de
disparo de arma de fogo é crime de perigo abstrato, que presume a
ocorrência de dano à segurança pública e prescinde, para sua
caracterização, de comprovação de lesividade ao bem jurídico tutelado.
Portanto, desde que o disparo tenha sido feito em lugar habitado ou em via
pública, pouco importa que tenha sido efetuado para o alto ou para o chão.
Na mesma linha, é de todo irrelevante querer o acusado provar que, embora
se tratasse de lugar habitado, seus tiros não teriam o condão de acertar
ninguém, pois as casas próximas estariam supostamente vazias.
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Diferença do artigo 15 do Estatuto do Desarmamento e artigo 132


do Código Penal:
O artigo 132 traz o perigo a uma pessoa determinada, já no artigo 15
do Estatuto do Desarmamento o perigo é gerado a um número
indeterminado de pessoas. Caso o disparo seja efetuado em lugar não
habitado normalmente, mas que naquela ocasião possuía alguma pessoa, que
ocorreu perigo efetivo, o delito configurado é o do art. 132. Por fim,
destaque-se que o art. 15 traz hipótese de perigo abstrato e o art. 132, CP
hipótese de perigo concreto.
*Atenção:
O disparo de arma de fogo em local ermo (desabitado) é atípico, por
ausência de previsão legal. Ademais, considerando que se trata de um crime
punido exclusivamente a título de dolo, o disparo culposo – acidental –
afigura-se também como fato atípico.
*Atenção:
O crime de disparo de arma de fogo absorve os crimes de porte e
posse de arma de fogo de uso permitido .

Posse ou Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso


Restrito:
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de
uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
O crime de posse e porte de arma ilegal de uso restrito pode ser
praticado até mesmo por quem detém a posse de arma de fogo de uso
permitido. Ademais, cumpre destacar que se a arma tem a identificação
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suprimida (raspada) ou mesmo é realizada alteração que vise induzir


autoridade policial a erro estaremos diante de arma de fogo de porte
restrito, mesmo que originariamente esta arma fosse de porte permitido.
Figuras equiparadas do porte ilegal de arma de fogo de uso restrito:
§ 1º. Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019).
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação
de arma de fogo ou artefato;
*Atenção: este dispositivo legal não traz como objeto material o
acessório ou a munição. Desse modo, suprimir ou adulterar sinal identificador
de acessório ou munição não é crime, caracterizando-se, por ausência de
previsão legal, em fato atípico.
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de
dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou
juiz;
*Atenção: estamos diante de crime especial em relação ao crime de
fraude processual do art. 347 do CP. Ou seja, esse inciso II é norma especial
em relação ao artigo 347 do CP.
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
*Atenção: a conduta de portar granada de gás lacrimogêneo ou
granada de gás de pimenta não se amolda ao delito previsto no art. 16, § 1º,
III, da Lei nº 10.826/03. Isso porque elas não se enquadram no conceito de
artefatos explosivos. (Info 599 – STJ).
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;
*Atenção: a identificação posterior de numeração pela perícia não
afasta crime de porte de arma de uso restrito. Segundo o STJ, nas
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situações em que o número de série da arma de fogo está raspado ou


suprimido, a conduta do agente é equiparada à posse ou ao porte de
armamento de uso restrito, mesmo que haja a identificação posterior da
numeração pela perícia técnica.
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente;
*Atenção: não é crime previsto no ECA, mas sim na LEI DE ARMAS e
exige o elemento dolo. Ademais, não se caracteriza como crime de comércio
de arma de fogo, mas sim porte ilegal de arma de fogo de uso restrito na
forma equiparada. Se o agente por negligência deixa a arma ao alcance do
menor de 18 anos, caracteriza omissão de cautela (somente se caracteriza
com culpa). Havendo dolo do agente em ceder a arma ao menor, seja a
título gratuito ou oneroso, teremos a figura do porte ilegal de arma de fogo
de uso restrito na modalidade equiparada.
Se estivermos diante de arma branca, aí sim aplicaremos a art. 242, do ECA,
visto que o Estatuto do Desarmamento somente prevê a conduta criminosa
prevista neste inciso quando se tratar de arma de fogo.
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.

Figura Qualificada: § 2º.


Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo
envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4
(quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).
O Pacote Anticrime criou uma qualificadora do crime de posse ou
porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16): se a conduta envolver
arma de fogo de uso proibido (como as armas dissimuladas com aparência
de objetos inofensivos), a pena em abstrato passa a ser de 4 a 12 anos de
reclusão e multa.
Nesta nova previsão trazida pelo Pacote Anticrime inovou-se ao criar
figura típica autônoma relacionada às armas de fogo de uso proibido.
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Comércio Ilegal de Armas de Fogo:


Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
depósito, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer
forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela
Lei nº 13.964, de 2019).
§ 1º. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo,
qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular
ou clandestino, inclusive o exercido em residência. (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019).
§ 2º. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).
Com a mudança promovida pelo Pacote Anticrime, não apenas o crime
de posse ou porte de arma de fogo de uso proibido ou restrito são
considerados como hediondos, mas também os crimes de comércio ilegal de
arma de fogo e tráfico internacional de armas, artigos 17 e 18,
respectivamente.
Com o advento do Pacote Anticrime, atente-se que o parágrafo
segundo regulamentou a figura dos agentes disfarçados, diferenciando-os,
acertadamente, do agente infiltrado, figura muito mais restrita e
excepcional prevista no art. 10 e seguintes da Lei nº 12.850/13. O agente
disfarçado é aquele que, sem se infiltrar na organização criminosa ou na
associação de pessoas constituídas para a prática de crimes, atua à paisana,
sem caracteres ostensivos, para angariar informações relevantes, porém
com caráter genérico, objetivando munir as investigações criminais.
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Tráfico Internacional de Arma de Fogo:


Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território
nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização da autoridade competente:
Pena- reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação dada
pela Lei nº 13.964. de 2019).
Parágrafo único: incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de
fogo, acessório ou munição, em operação de importação, sem autorização
da autoridade competente, a agente policial disfarçado, quando presentes
elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019).

Art. 19. Nos crimes previstos nos artigos 17 e 18, a pena é aumentada da
metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou
restrito.

Art. 20. Nos crimes previstos nos artigos 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
I – forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos
arts. 6º, 7º e 8º, desta Lei; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).
II – o agente for reincidente específico em crimes dessa natureza. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019).
Note que o Pacote Anticrime criou nova causa de aumento de pena,
visando punir com mais rigor o criminoso reincidente específico nos crimes
do art. 14 (porte ilegal), 15 (disparo em via pública), 16 (posse ou porte de
arma de fogo de uso restrito e proibido), 17 (comércio ilegal) e 18 (tráfico
internacional de arma de fogo). Como se trata de causa de aumento, o
magistrado irá aplicá-la na terceira fase da dosimetria da pena.

Comentários da Súmula 513 – STJ:


@diariodeumafuturadelegada

Súmula 513, STJ. A abolitio criminis temporária prevista na Lei nº 10.826/2003


aplica-se ao crime de POSSE de arma de fogo de uso permitido com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado, praticado somente ATÉ 23/10/2005.
Abolitio Criminis Temporária:
O Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), com o intuito
de estimular a regularização das armas existentes no país, trouxe a
possibilidade de que aqueles que tivessem armas ilegais pudessem resolver
tal situação (art. 30).
Assim, o Estatuto estabeleceu que os possuidores e proprietários de
arma de fogo de uso permitido não registradas teriam um prazo de 180 dias
após a publicação da Lei (que ocorreu em 23/12/2003) para solicitar o
registro da arma.
Se a arma tivesse sua numeração raspada ou fosse de uso restrito
e, assim, não pudesse ser regularizada, o indivíduo tinha a opção de entregá-
la à Polícia Federal, sendo indenizado por isso.
Durante o período previsto na Lei, a pessoa que fosse encontrada
em sua casa ou trabalho com uma arma de fogo de uso permitido ou de
uso restrito não cometia os crimes dos arts. 12 ou 16 do Estatuto. Havia
uma abolitio criminis temporária (também chamada de descriminalização
temporária ou vacatio legis indireta).
Segundo a redação inicial do Estatuto, a pessoa tinha até o dia
23/12/2003 para regularizar ou entregar a arma. Esse prazo foi sendo
ampliado por diversas leis que se sucederam. Todas as vezes que o prazo
ia terminando, era editada uma MP ou uma lei ampliando esse limite.
A quais crimes se aplica essa abolitio criminis temporária?
No período compreendido entre 23/12/2003 a 23/10/2005, a abolitio
criminis temporária abrangia as condutas de posse de arma de fogo de uso
permitido (art.12) e de posse de arma de fogo uso restrito (art.16), incluindo
as condutas equiparadas (art.16, parágrafo único). A partir de 23/10/2005
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até 31/12/2009, a abolitio passou a incidir somente sobre a conduta de posse


de arma de fogo de uso permitido (art.12).
Por que houve essa mudança?
Porque a MP 417/2008 (convertida na Lei nº 11.706/2008), ao
revigorar o art. 30 do Estatuto do Desarmamento e reabrir o prazo para
regularização, não mais previu que os possuidores de arma de fogo de uso
restrito pudessem fazer o registro da arma.
Desse modo, para o STJ, no período compreendido entre 23/12/2003
a 23/10/2005, quem foi encontrado na posse de arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado, não cometia crime porque estava resguardado pela
vacatio legis indireta. De 24/10/2005 em diante, quem foi encontrado na
posse de arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado, cometeu sim crime, porque
vacatio legis indireta para o crime do art. 16 durou até 23/10/2005.
Resumindo:
De 23/12/2003 a 31/12/2009: não é crime a posse de arma de fogo
de que trata o art. 12.
De 24/12/2003 a 23/10/2005: não é crime a posse de arma de fogo
de que trata o art. 16.

Algum Crime do Estatuto do Desarmamento é


Considerado Hediondo (Lei nº 8.072/90)?
SIM! Os crimes do Estatuto do Desarmamento (10.826/03)
considerados hediondos (8.072/90) são os seguintes:
 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no
art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
 Comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
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 Tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto


no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
Jurisprudência:
Depois da Lei nº 13.497/2017, tanto o caput como o parágrafo único
do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 são hediondos. A qualificação de hediondez
aos crimes do art. 16 da Lei nº 10.826/2003, inserida pela Lei nº 13.497/2017,
abrange os tipos do caput e as condutas equiparadas previstas no seu
parágrafo único. (Info 567 – STJ).

Casos Específicos:
Arma quebrada e incapaz de efetuar disparos:
Trata-se de crime de perigo abstrato, no entanto, a doutrina e a
jurisprudência admitem que a arma quebrada pelo fato de ser impossível de
atingir o bem jurídico tutelado pela norma, se caracteriza como crime
impossível.
Porte de arma desmuniciada:
Segundo o STF e a 5ª turma do STJ, é crime, pois estamos diante
de crime de perigo abstrato, situação em que a probabilidade de dano é
presumida pelo tipo penal. Contudo, segundo a 6ª turma do STJ, para que se
possa caracterizar o crime de porte de arma há necessidade de o
instrumento estar municiado, porquanto o tipo penal exige a sua eficácia
para produzir o dano ao bem jurídico tutelado. É dominante, todavia, o
entendimento no sentido de que não há necessidade de a arma de fogo
estar municiada e que o crime estará caracterizado ainda que a munição
não esteja ao alcance das mãos do agente.
Arma com funcionamento imperfeito:
Neste caso, segundo a jurisprudência, trata-se de crime de porte
consumado (STF). Todavia, se a arma de fogo é absolutamente incapaz de
realizar disparos, estamos diante de hipótese de crime impossível por força
da ineficácia absoluta do meio (CP, art. 17).
@diariodeumafuturadelegada

Arma de fogo obsoleta:


As armas obsoletas, por ausência de potencial ofensivo, não são
consideradas armas de fogo para efeito de responsabilidade penal por este
delito. Trata-se de hipótese de crime impossível. Assim, é imprescindível o
exame pericial da arma de fogo, acessório ou munição, para definir se é de
uso permitido ou proibido ou se obsoleta.
Porte de munição sem arma:
Segundo entendimento atual do STJ não é necessário que haja
munição com arma, pois o porte de munição, em si, se caracteriza como
crime de perigo abstrato.
Uso de munição como pingente:
Aplica-se o princípio da insignificância ao uso de munição como
pingente. Assim, é atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente,
munição desacompanhada de arma. Por oportuno, vale registrar que, em
regra, a jurisprudência não aplica o princípio da insignificância aos crimes de
posse ou porte de arma ou munição.
Porte de arma em legítima defesa e estado de necessidade:
Segundo a doutrina e a jurisprudência, a legítima defesa e o estado
de necessidade excluem a ilicitude do porte e posse de arma de fogo.
Coautoria no porte de armas de fogo:
O crime previsto no art. 14 da Lei nº 10.826/03 é comum, podendo
ser cometido por qualquer pessoa. Assim, não se exigindo qualquer qualidade
especial do sujeito ativo, não há dúvidas de que se admite o concurso de
agentes no crime de porte ilegal de arma de fogo, não se revelando plausível
o entendimento pelo qual apenas aquele que efetivamente porta a arma de
fogo incorre nas penas do delito em comento. Ainda que apenas um dos
agentes esteja portando a arma de fogo, é possível que os demais tenham
concorrido de qualquer forma para a prática delituosa, motivo pelo qual
devem responder na medida de sua participação, nos termos do art. 29 do
Código Penal.
@diariodeumafuturadelegada

Porte de arma versus Homicídio e Roubo:


Segundo entendimento do STJ, o crime de perigo – pelo princípio da
consunção - deve restar absorvido pelo crime de dano. Assim, se o porte
de arma foi um meio necessário para o homicídio praticado, estaremos
diante da absorção do crime de porte pelo crime de homicídio. No entanto,
se houver o porte de arma em contexto fático distinto, haverá concurso
de crimes entre homicídio e porte de arma. A mesma inteligência se aplica
ao crime de roubo, situação em que, se no mesmo contexto fático, o crime
de porte será absorvido por aquele.
Importação de colete à prova de balas:
Configura crime de contrabando (art. 334-A do CPP) a importação
de colete à prova de balas sem prévia autorização do Comando do Exército.
Necessidade da apreensão e perícia da arma de fogo:
Para que haja condenação pelo crime de posse ou porte NÃO é
necessário que a arma de fogo tenha sido apreendida e periciada. Assim, é
irrelevante a realização de exame pericial para a comprovação da
potencialidade lesiva do artefato. Isso porque os crimes previstos nos
artigos 12, 14 e 16 da Lei nº 10.826/2003 são de mera conduta ou de perigo
abstrato, cujo objeto jurídico imediato é a segurança coletiva.
No entanto, se a perícia for realizada na arma e o laudo constatar
que a arma não tem nenhuma condição de efetuar disparos não haverá
crime.

“Não é estudar para passar, mas sim estudar ATÉ passar.”

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