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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

Andreia Renata Alves de Lima RGM: 12161500934


Caroline Soares dos Santos RGM: 12161500835
Deivy Fernandes RGM: 12181400511
Guilherme Junqueira Barbosa RGM: 12171501317
Laerte Iwanaga da Silva RGM: 12162400314

POSSE E PORTE ILEGAL DE ARMAS


ESTATUTO DO DESARMAMENTO

Trabalho apresentado à Universidade de Mogi das


Cruzes, no curso de Direito - 10ºA, para disciplina:
Tópicos de Direito Penal, Prof.ª Adriana Haas
São Paulo
2020
POSSE E PORTE ILEGAL DE ARMAS
1. INTRODUÇÃO

No Brasil, a posse e o porte de arma são regidos pela Lei 10.826 de dezembro de 2003,


conhecida como Estatuto do desarmamento. O Estatuto é responsável por regulamentar a
posse e o porte de armas e, como o próprio nome indica, tem o intuito de coibir o uso de
armamentos no território nacional. Para isso, a Lei determina que o  direito de posse é
restrito àqueles que puderem comprovar necessidade dela.
O Artigo 6° da Lei estabelece a proibição do porte de arma em todo o território
nacional, salvo casos específicos. Em resumo, a posse de armas é permitida para o cidadão
comum no Brasil, mas é preciso seguir algumas regras para a comercialização e registro de
armamento. Em contrapartida, o porte de armas é restrito aos profissionais que necessitam de
armamentos para o exercício de suas funções como os atuantes na segurança pública, membros
das Forças Armadas, policiais e agentes de segurança privada. Em suma, o Estatuto do
desarmamento estabelece que apenas um grupo restrito de pessoas pode possuir e
portar armas, apenas quando o uso dessas faz-se necessário para exercício profissional ou
outros casos específicos.

2. HITÓRICO E ELABORAÇÃO DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO

As primeiras ações em prol do desarmamento no Brasil datam de 1997, quando o controle


de armas de fogo entrou com mais vigor na pauta de debates de autoridades, estudiosos e agentes da
segurança pública. Nessa época foi sancionada a Lei nº 9.437/ 97. Respeitando a preocupação geral
com o controle sobre a aquisição, posse e porte de armas de fogo e buscando fortalecer nossa
legislação sobre a regulamentação da matéria, o legislador resolveu atender a recomendação da
ONU e assim editou a Lei 9437/97. O Governo Federal, em 1997, desejava reduzir a delinquência
urbana, a chamada “criminalidade de massa”, desta forma em de 20 de fevereiro de 1997, entrou em
vigor a Lei n. 9.437 a chamada “Lei das Armas de Fogo”. Através da Lei 9437/97 se criou o
SINARM – Sistema Nacional de Armas, com o objetivo de ter o controle de sua circulação legal.
Com o passar de alguns anos, a norma se tornou mais repressiva e proibitiva, para assim
tentar, reduzir o numero de mortes por arma de fogo no país. Era basicamente a tentativa de se
instaurar uma ideologia contra as armas no meio social. A qual já se era pensado pela ONU algum
tempo atrás mesmo não possuindo exemplos solidados de outros países que deram certo. Foi neste
ano que apareceram os primeiros movimentos pró-desarmamento no Brasil e o controle de armas de
fogo começou a entrar na pauta de preocupações nacional. Em junho de 2003, foi organizada uma
Marcha Silenciosa, com sapatos de vítimas de armas de fogo, em frente ao Congresso Nacional.
Este fato chamou bastante atenção da mídia e da opinião pública. Os legisladores tomaram
para si o tema e criaram uma comissão mista, com deputados federais e senadores para formular
uma nova lei. Esta comissão analisou todos os projetos que falavam sobre o tema nas duas casas e
reescreveram uma lei conjunta: o Estatuto do Desarmamento. Em 22 de dezembro de 2003, foi
aprovada a Lei nº 10.826 denominada de Estatuto do Desarmamento e mais tarde regulamentada
pelo Decreto nº. 5.123, que passou a vigorar em 02 de julho de 2004. Com o objetivo de reduzir o
número de crimes de morte por motivos banais, após a promulgação da Lei foi dado o ponta pé
inicial para a Campanha do Desarmamento em dia 15 de julho do ano referente. Com o fim da
campanha, entra em vigor a punição prevista no Estatuto do Desarmamento nos quais os crimes e as
penas estão descritas no capitulo IV da referida Lei, para aqueles proprietários de armas de fogo de
uso permitido e também para armas de uso restrito, caso não a obedeçam à lei. O objetivo do
Estatuto foi regulamentar o registro, a posse, o porte, a comercialização de armas de fogo, e também
regulamentar toda circulação de munição no interior do território nacional. Dessa forma, o país
finalmente passou a ter critérios mais rigorosos para o controle do acesso às armas lícitas por parte
da população civil e também por parte das agências privadas de segurança. Somente as devidamente
registradas podem, desde então, ser portadas em residências ou no local de trabalho pelo
responsável legal pelo estabelecimento, para maiores de 25 anos, que possuam ocupação lícita e
comprovação de residência. O Estatuto do Desarmamento também prevê a proibição do porte de
arma quando o portador for identificado utilizando sua arma em estados de embriaguez alcoólica ou
até mesmo estando sob efeito de outras substâncias psicotrópicas que expressem alteração clara de
seu desempenho intelectual ou motor.
A Lei 10.826/03 trouxe algumas mudanças, principalmente em relação à compra e o porte de
armas. Estipulou, também, penas mais duras para o porte ilegal e instituiu um Sistema Nacional de
Registro de Armas (SINARM) no âmbito da Polícia Federal, responsável por conceder e controlar
as armas em todo território nacional.

3. ESTATUTO DO DESARMAMENTO – Lei n.º 10.826/03

O Estatuto do Desarmamento instituído pela Lei n.º 10. 826/03 foi posterior mente
regulamentado pelo Decreto n.º 5.123/04. A Lei n.º 10.826/03 trata de armas de fogo, munições,
acessórios para armas, artefatos explosivos e/ou incendiários, os quais são os objetos materiais da
lei.
Os crimes inscritos no Estatuto do Desarmamento podem ser praticados por qualquer
pessoa, não sendo, por consequência, crimes próprios. Contudo, calha lembrar que os crimes
previstos nos artigos 14 a 18, terão a sua pena aumentada, conforme a regra do artigo 20, quando
praticados por uma das pessoas elencadas nos artigos 6º, 7º e 8º, desde que tais pessoas estejam no
exercício de suas funções.
Nos crimes elencados no Estatuto do Desarmamento o bem jurídico protegido é a
incolumidade pública representada pela necessidade de proteção da segurança e da paz das pessoas
no convívio social. Desta forma, estamos diante de crimes vagos nos quais o sujeito passivo é a
coletividade.
Os crimes elencados no Estatuto do Desarmamento são considerados crimes de perigo
abstrato. Nesta trilha, temos que o perigo é presumido de forma absoluta pelo legislador (é
presunção iuris et de iure), sempre que há uma arma em desacordo com determinação legal ou
regulamentar (arma sem registro; arma com registro, mas portada sem autorização para porte etc.).
A partir desta natureza jurídica, calha perceber que a lei presume (de forma absoluta) que a
existência de uma arma em desacordo com determinação legal ou regulamentar lesiona a segurança
pública.
Não obstante, não se deve esquecer a necessidade da aplicação do princípio da lesividade
naqueles casos em que se atesta a partir de exame pericial – exame de potencialidade lesiva do
instrumento - a relativa ou absoluta ineficácia da arma, quando esta é apreendida sem munição e o
agente não dispõe de munição próxima.
Desta feita, no momento da apreensão não há como a arma produzir disparo e pode ser
aplicado o princípio acima nominado. O controle de armas de fogo é realizado através do registro e
da autorização para porte. Atualmente, o controle é federal - Polícia Federal e Exército.
A Lei n.º 11.706, de 19 de junho de 2008, alterou o art. 32 do Estatuto do Desarmamento,
criando uma nova causa de extinção da punibilidade, que é a entrega espontânea de qualquer tipo de
arma de fogo à autoridade policial. Para essa entrega, a lei não previu prazo.

3.1- Competência para processo e julgamento

A competência para processo e julgamento dos crimes previstos no Estatuto do


Desarmamento é da Justiça Estadual, salvo no caso do tráfico internacional de armas de fogo
previsto no artigo 18, quando a competência desloca-se, por força do artigo 109 da Constituição
Federal de 1988, para a Justiça Federal.

3.2- Diferença entre a posse ilegal e o porte ilegal de arma de fogo.

Incorre em posse ilegal de arma de fogo aquele que possui arma no interior de sua
residência, sem estar a mesma registrada; em porte ilegal, aquele que, embora possuindo a arma
registrada, a retira de sua residência para levá-la consigo, sem a autorização da autoridade
competente. Esta última conduta é prevista no artigo 14, que trata do porte ilegal de arma.

3.3- Exame pericial

Outro ponto a ser observado diz res peito ao exame pericial, se este é ou não indispensável
para a configuração do delito. O exame pericial da arma de fogo é indispensável, uma vez que
compete à autoridade policial informar acerca das características da arma, sua potencialidade lesiva
e recenticidade de disparos. Pelas características da arma saberemos se ela é de uso proibido ou
permitido. Pela potencialidade lesiva saberemos se ela está em funcionamento ou se é obsoleta. E,
pela recenticidade de disparo, saberemos se ela foi utilizada para a configuração do delito autônomo
de disparo de arma de fogo.

3.4- Arma desmuniciada

O fato de o agente trazer a arma desmuniciada e desmontada já caracteriza a conduta


incriminada: transportar, possuir e manter sob guarda, eis que a lei passou a considerar crime a
figura de transportar munição ou acessório, os quais, desacompanhados da arma, não podem ser
prontamente utilizados, não se podendo alegar isto para afastar o perigo tutelado pela norma
jurídica em questão. Contudo, será necessário comprovar, por exame pericial a eficácia da munição
ou do acessório, os quais se imprestáveis, não põem em risco o bem jurídico tu telado, já que não há
crime sem lesão ou ameaça de lesão a bem jurídico tutelado.

3.5- Crimes em espécie

Artigo 12 – Posse irregular de Arma de Fogo de Uso Permitido: Trata da posse ou guarda
irregular de arma de fogo de uso permitido. Refere-se à prática de tais condutas intramuros (dentro
de casa, no local de trabalho, neste caso, desde que seja o titular ou responsável legal da empresa,
pois, caso contrário o crime será o do art. 14). Se as condutas descritas no art. 12 forem praticadas
extramuros e, se a arma for de uso permitido, o crime praticado será o do art. 14 do Estatuto. Caso a
arma de fogo seja de uso restrito, não se aplica o art. 12, nem o art.14. Nesse caso, aplica-se o art.
16, caput do Estatuto.

Art. 13 – Omissão de Cautela: Trata-se do único crime previsto na Lei 10.826/03, de menor
potencial ofensivo, pois a pena é a de detenção de 1 a 2 anos e, portanto, aplica-se a Lei n.º
9.099/95. Portanto, é admissível a suspensão condicional do processo (não admite composição civil
por tratar-se de crime vago – sujeito passivo indeterminado). Pune aquele que não tem cuidado na
guarda da arma e deixa que esta chegue às mãos de menor de 18 anos de idade ou deficiente mental
(crime culposo). O parágrafo único do artigo 13 pune a conduta do sujeito que tem sua arma
roubada, seja ela de uso restrito ou permitido, e não toma as providências de registros de B.O. na
Polícia Civil e comunicação do fato à Policia Federal.

Art.14 – Porte Ilegal de Arma de Fogo de Uso Permitido: trata das armas de fogo de uso
permitido. É crime de ação múltipla ou de conteúdo variado e, portanto, a prática de mais de uma
conduta, dentre as descritas no tipo, dentro de um mesmo contexto fático, não configura concurso
de crimes, mas sim crime único.
Art. 15 – Disparo de arma de fogo: prevê o crime de disparo de arma de fogo em via pública ou
acionamento de munição. A pena é de 2 a 4 anos de reclusão e multa. Há previsão de
subsidiariedade expressa, pois, somente se aplica o crime do art. 15 do Estatuto do Desarmamento
se o agente não tem por finalidade a prática de outro crime (homicídio, por exemplo).

Art. 16 – Posse ou Porte de Arma de Fogo de Uso Restrito: nesse tipo só muda o objeto material
dos artigos 12 e 14 do Estatuto, pois passa a ser arma, acessório, munição de uso restrito. O
parágrafo único traz figuras equiparadas em seus incisos. Atenção: o parágrafo único é
independente de seu artigo 16 nele englobam-se as armas de uso permitido e as de uso restrito.

Art. 17 – Comércio Ilegal de Arma de Fogo: pune-se o comércio ilegal de arma de fogo. É
necessária habitualidade na conduta.

Art. 18 – Tráfico Internacional de Arma de Fogo: trata do comércio internacional de arma de


fogo, munição ou acessório. Competência da justiça federal para processar e julgar a matéria.

Art. 19: indica causas de aumento de pena a serem aplicadas nos crimes previstos nos artigos 17 e
18.

Art. 20: indica causas de aumento de pena a serem aplicadas nos crimes previstos nos artigos 14,
15, 16,17 e 18 quando praticados por intermédio dos integrantes dos art. 6°, 7º e 8º.

Art. 21: Foi declarado inconstitucional pela ADIN n.º 3.112, pois fere o princípio da presunção
de inocência – art. 5º, LVII, da CF/8 8, além de ofender também a disposição do art. 5º,
LXVI, da CF/88 que determina que ninguém será preso quando a lei admitir liberdade provisória.

4. COMPRA DE ARMAS 

Em 2005, a população brasileira foi às urnas para votar no primeiro referendo popular no
Brasil sobre o artigo 35 do Estatuto, que proibia a venda de armas e munições para civis. No final
da votação, a população escolheu com 64% dos votos a permanecer com o direito à
comercialização. Então, o Estatuto do Desarmamento não proibiu a comercialização de armas no
Brasil, mas sim estabeleceu regras e requisitos que devem ser cumpridos se uma pessoa quiser
possuir uma arma. 

Tais requisitos, em sua maioria, estão previstos no artigo 4º do Estatuto, vejamos: 

1. Ter ao menos 25 anos ou mais (art.28); 

2. A arma precisa ser de calibre permitido; 

3. Comprovar sua idoneidade;

4. Possuir ocupação lícita e residência fixa;

5. Aptidão psicológica; 

6. Possuir capacidade técnica para manejar uma arma; 


7. Ter a efetiva necessidade de ter a arma. 

Assim, de acordo com a Lei 10.826/03, é proibido que civis com menos de 25 anos de idade
adquiram armas de fogo. Para quem tem idade mínima possível, é preciso que comprovem, por
meio de certidões como a de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Eleitoral, Justiça
Estadual, Justiça Militar e Justiça Eleitoral a sua idoneidade. 
Ademais, para quem deseja adquirir uma arma, é preciso ter uma ocupação lícita que possa
ser comprovada com a carteira de trabalho ou contracheque. E também, que tenha uma residência
fixa, demonstrando-a com uma conta recente de luz ou água em seu nome. 
A aptidão psicológica é imprescindível, porque diz respeito a um laudo emitido por
profissionais da área psicológica e com credenciamento na Polícia Federal. Outro ponto importante
é a capacidade de manejar uma arma, ou seja, é necessário passar por um curso de manuseio e,
posteriormente, enfrentar uma prova que se subdivide em duas etapas: uma teórica e outra prática. 
Um ponto bastante discutido é no que tange à efetiva necessidade. O Estatuto do
Desarmamento determina que seja comprovada a razão de se possuir uma arma, ou seja, a pessoa
tem que se justificar à Polícia Federal, na qual são explicados os motivos pelos quais ela precisa
daquele armamento. 

5. POSSE E PORTE ILEGAL DE ARMAS

A Lei 10826/03, conhecida como estatuto do desarmamento, dentre os crimes previstos,


estão a posse e o porte ilegal de armas de calibres de uso permitido e restrito.
Na legislação anterior, Lei 9437/97, havia várias condutas, tais como a posse, o porte, o
disparo, o tráfico, que estavam previstas como crimes em um único dispositivo, o que suscitava por
parte da Doutrina críticas por violar o princípio da proporcionalidade, tendo em vista que previa
crimes de gravidades distintas com as mesmas penas cominadas.
Com a elaboração da nova Lei, 10826/03, a maioria dos crimes foram previstos em
dispositivos distintos, persistindo somente o crime previsto no artigo 16, do referido diploma legal,
que dispõe em um mesmo dispositivo sobre as condutas de posse e porte ilegal de arma de fogo de
calibre de uso restrito em desacordo com a determinação legal ou regulamentar.
Então, na legislação vigente, o artigo 12 prevê o crime de posse irregular de arma de fogo 
de calibre de uso permitido, 14, dispõe sobre o delito de porte ilegal de arma de fogo de calibre de
uso permitido e o artigo 16, que prevê as condutas posse e porte  ilegal de arma de fogo de calibre
de uso restrito em desacordo com a determinação legal ou regulamentar.
Inicialmente cabe esclarecer que para configurar os delitos é necessário que a posse ou porte
esteja em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, na medida em que a posse ou porte
devidamente autorizado, seja por determinação legal ou regulamentar será fato atípico, como no
caso da previsão legal do art. 5o , caput, da Lei 10826/03, que dispõe: “ o registro de arma de fogo,
com validade em todo território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo
exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência deste, desde que ele seja
o titular ou responsável legal do estabelecimento ou empresa”. Assim, se o agente possuir o
certificado de registro de arma de fogo, estará excluído o fato típico.
Como podemos diferenciar a posse do porte de arma de fogo?
“Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
          Art. 12.  Possuir  ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de
sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja
o  titular ou o  responsável legal do estabelecimento ou empresa:
          Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.”
O artigo 12, da Lei 10826/03 prevê as condutas de:
 possuir - ter em seu poder ou a sua disposição, não se exigindo ser proprietário;
 manter sob sua guarda - tomar conta, zelar, conservar em seu poder;
No tipo penal ainda está previsto o elemento espacial do tipo penal:
 Residência- é o local em que a pessoa fixa sua moradia. Abrange apartamento, casa de veraneio,
fazenda, sítio. Compreende-se como dependência da residência, a garagem, jardim, quintal, etc.
(artigo 150, §§, 4o , 5o , do CP).
 Local de trabalho – é todo local com serventia ao exercício de qualquer profissão, a exemplo do
consultório do médico, escritório do advogado. (art. 150, §, 4o , III, do CP).
Já o porte ilegal de arma de fogo calibre de uso permitido está previsto no artigo 14, da Lei
10826/03.
“Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido
          Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:
          Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.”
O objeto material do crime é o mesmo, ou seja, arma de fogo, acessório ou munição, da mesma
forma que o elemento normativo do tipo, assim o que irá diferenciar, o crime de posse irregular de
arma de fogo para o crime de porte ilegal de arma de calibre permitido será o elemento espacial, de
modo que podemos diferenciá-los:
POSSE
 Na residência ou dependência da residência do infrator;
 No local de trabalho do infrator, desde que, ele seja o proprietário ou responsável do
estabelecimento.
PORTE
 Em qualquer outro local que não seja os indicados para posse.
O artigo 16, do Estatuto do desarmamento prevê as condutas de posse e porte ilegal de arma de fogo
de calibre de uso restrito.

“Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito


          Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar
arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo
com determinação legal ou regulamentar:
          Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
          Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
          I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de
fogo ou artefato;
          II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de
fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro
autoridade policial, perito ou juiz;
          III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
          IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca
ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
          V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,
munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
          VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer
forma, munição ou explosivo.”
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso
proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
A Lei 13.497/17 alterou a Lei 8.072/90 para dispor que o crime de posse ou porte ilegal de arma
de fogo de uso restrito passa a ser hediondo. Porém, com o pacote anticrimes (Lei 13.964/19) a
redação do inciso II do artigo 1º da Lei 8.072/90 ficou assim:
 Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:  
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da
lei nº 10.826/2006. (Incluído pelo Pacote Anticrime)
Em resumo, com a mudança do pacote, por falha do legislador, somente a arma de
fogo de uso PROIBIDO é hediondo, ocorreu a novatio in mellius para a arma de uso restrito.
Com relação à diferenciação da conduta de posse e porte, serão definidas de acordo com os
critérios já mencionados, no entanto, aqui tanto a posse quanto o porte o legislador optou por prever
em um mesmo dispositivo, com as mesmas penas cominadas, podendo o Juiz diferenciá-los, caso
entenda cabível na dosimetria da pena.
O que irá diferenciar os delitos de posse irregular e porte ilegal de arma de calibre uso
restrito para o de uso de calibre permitido é o objeto material, que aqui teremos arma de fogo,
munição ou acessório de calibre de uso proibido ou restrito.
Inicialmente vejamos o que seriam armas de fogo, munições ou acessórios:
Os conceitos de arma de fogo, arma de uso permitido, proibido, munição, acessório, artefato
estão dispostas no Dec. 10.030/2019.
Segundo o Decreto 10.030/2019:
 Arma de fogo - Anexo III, do Dec. 10.030/2019 - arma que arremessa projéteis empregando
a força expansiva dos gases, gerados pela combustão de um propelente confinado em uma
câmara, normalmente solidária a um cano, que tem a função de dar
continuidade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil;
 Acessório - Anexo III, do Dec. 10.030/2019 – artefato que, acoplado a uma arma, possibilita
a melhoria do desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a
modificação do aspecto visual da arma.
 Munição -  é o artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma arma, cujo
efeito desejado pode ser a destruição, a iluminação ou o ocultamento do alvo, produzir
algum efeito moral sobre pessoas, o uso em simples exercício, manejo ou outros especiais

Arma de uso permitido- É aquela cuja utilização é autorizada de acordo comas normas do
Comando do Exército e nas condições previstas na Lei 10826/03 (art.10, do Decreto 5123/2004).
E o que seria arma de uso proibido ou restrito?
 Anexo III do Decreto 10.030/19 traz a expressão PCE, que é o Produto Controlado pelo
Comando do Exército, que se subdivide em:
 PCE de uso permitido: é o produto controlado cujo acesso e utilização podem ser
autorizados para as pessoas em geral, na forma estabelecida pelo Comando do Exército.
 PCE de uso restrito: é o produto controlado que devido as suas particularidades técnicas
e/ou táticas deve ter seu acesso e utilização restringidos na forma estabelecida pelo
Comando do Exército.
 Arma de fogo de uso proibido (Dec. 9.844/2019): Não se apresenta como arma,
dissimulada, que aparentemente não possui potencial bélico.
 a) as armas de fogo classificadas de uso proibido em acordos e tratados
internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja signatária; ou
 b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos;
No entanto para alguns a arma de calibre proibido é aquela tem sua posse e porte vedados de
forma absoluta, como por exemplo um canhão.
Já no parágrafo único do artigo 16 o legislador previu figuras autônomas em relação
ao caput,  que são aplicadas tanto para as armas de calibre de uso permitido quanto para calibre de
uso restrito. Assim, se, por exemplo, o autor estiver portando arma de fogo de calibre de uso
permitido com sua numeração suprimida, não irá ser responsabilizado pelo delito previsto no artigo
14, da Lei 10826/03, mas sim pelo crime disposto no artigo 16, parágrafo único, IV, do mesmo
diploma legal.
Por fim, cabe esclarecer que a posse e o porte de simulacro de arma de fogo não configura
crime, conforme os termos do artigo 26 da Lei 10826/03.

6. POLÍTICA DE ARMAS DO GOVERNO JAIR BOLSONARO

A política de armas do governo Jair Bolsonaro é a política pública adotada pelo governo


federal brasileiro sob a presidência de Jair Bolsonaro. Ela está associada à edição
de decretos presidenciais sobre posse e o porte de arma.
O primeiro decreto, chamado de Decreto da Nova Regulamentação do Uso de Armas e
Munições (de número 9 785, de 2019), foi assinado em 7 de maio de 2019 por Jair
Bolsonaro, presidente do Brasil. O objetivo anunciado foi facilitar o porte de armas para uma série
de profissões, incluindo advogados, políticos e caçadores. Também permitiu a compra de armas
com grande poder lesivo e que menores de 18 anos praticassem aulas de tiro com a autorização de
um dos responsáveis.
Em 22 de maio de 2019, o governo publicou o segundo decreto referente à posse de armas.
Entre as mudanças, o novo decreto proibiu que cidadãos comuns portassem fuzis, carabinas ou
espingardas. Foi também estabelecida a idade mínima de 14 anos para a prática de tiro esportivo e a
necessidade da autorização de ambos os pais, em vez de apenas um.  
Nos dias seguintes à publicação, análises emitidas por técnicos da Câmara dos Deputados e
do Senado concluíram que o decreto possuía inconstitucionalidades. A consultoria legislativa do
Senado afirmou que o decreto "extrapolou o poder regulamentar", enquanto que a análise da
Câmara dos Deputados apontou que a iniciativa não era compatível com o ordenamento jurídico
brasileiro, pois a natureza do Estado do Desarmamento não permitia que uma norma
infraconstitucional revogasse seus artigos.
Congresso entendeu que se tratavam de decretos inconstitucionais, pois contrariavam o
Estatuto, e antes que o texto chegasse à Câmara dos Deputados (já tinha sido derrubado no Senado),
o presidente revogou  os textos com a publicação de quatro novos. 
O presidente apresentou, ainda em 2019, um projeto de lei (PL) que, se aprovado, permitirá
alterar o Estatuto do Desarmamento a partir de decretos. Entre as mudanças almejadas pelo
Executivo está facilitar o porte para atiradores esportivos, caçadores, colecionadores, membros do
poder Judiciário e outros.
Em linhas gerais podem ser citadas as seguintes principais e efetivas mudanças realizadas
pelo governo de Jair Bolsonaro:
Enquanto o Estatuto do Desarmamento previa a necessidade de comprovar “efetiva
necessidade” para a posse de armas, os decretos finais de Bolsonaro facilitam o acesso de civis ao
substituir a comprovação pela autodeclaração dessa necessidade;
Com o ato normativo da Polícia Federal, publicado em agosto, todo o processo de aquisição,
registro e porte de armas passa a ser online e dispensar documentos que já estejam na base de dados
da PF. A validade do registro também foi ampliada para 10 anos e o limite de duas para quatro
armas por pessoa – também já previsto por Bolsonaro em seus decretos – fica facilitado e
consolidado. 
O porte de armas continua restrito às categorias previstas no Estatuto do Desarmamento,
com o acréscimo dos chamados CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), estabelecido pelo
decreto de junho de 2019, que permitiu que essa categoria transportasse a arma já pronta para uso
quando estiver se digirindo para locais de treino ou competição;
A importação de armas foi facilitada pelos decretos presidenciais;
Em relação a isso, inclusive, o acesso a armas mais potentes, que antes eram restritas a
policiais e militares, se tornou mais amplo para civis;
E, agora, as armas e munições tanto nacionais quanto importadas tornaram-se mais difíceis
de serem rastreadas, com a revogação das portarias do Exército que reforçavam a exigência do
Estatuto do Desarmamento de código de rastreio em armas de fogo, e estipulavam ainda que esse
código constasse também nos estojos de munição;
Menores a partir de 14 anos já podem praticar tiro esportivo. Antes, o Estatuto do
Desarmamento estabelecia que era necessária autorização prévia da Justiça;
Com a sanção da Lei nº 13.870/19, ficou estabelecido o direito de posse estendida de armas
para proprietários rurais. Agora, eles podem andar armados por toda a propriedade, não apenas
dentro de casa.
Por fim, para fim de esclarecimento, atualmente estão em vigor as seguintes legislações:
 DECRETO Nº 9.845, DE 25 DE JUNHO DE 2019
 Regulamenta a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para dispor sobre a
aquisição, o cadastro, o registro e a posse de armas de fogo e de munição.
 DECRETO Nº 9.846, DE 25 DE JUNHO DE 2019
 Regulamenta a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para dispor sobre o
registro, o cadastro e a aquisição de armas e de munições por caçadores,
colecionadores e atiradores.
 DECRETO Nº 9.847, DE 25 DE JUNHO DE 2019
 Regulamenta a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para dispor sobre a
aquisição, o cadastro, o registro, o porte e a comercialização de armas de fogo e de
munição e sobre o Sistema Nacional de Armas e o Sistema de Gerenciamento Militar
de Armas
 DECRETO Nº 10.030, DE 30 DE SETEMBRO DE 2019
 Aprova o Regulamento de Produtos Controlados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

ARAUJO, Bruno Ciniello. Lei 10826/03 – Os crimes de posse irregular e porte ilegal de arma
de fogo de calibre de uso permitido e de posse e porte ilegal de arma de fogo de calibre de uso
restrito, como diferenciá-los, 2017. Disponível em <
https://www.exponencialconcursos.com.br/lei-1082603-os-crimes-de-posse-irregular-e-porte-ilegal-
de-arma-de-fogo-de-calibre-de-uso-permitido-e-de-posse-e-porte-ilegal-de-arma-de-fogo-de-
calibre-de-uso-restrito-como-diferencia-los>. Acesso em. 16/11/2020.

ILHÉU, Taís. As mudanças na posse e no porte de armas no Brasil. 2020. Disponível em:
<https://guiadoestudante.abril.com.br/redacao/tema-de-redacao-as-mudancas-na-posse-e-no-porte-
de-armas-no-brasil/>. Acesso em. 21/11/2020.
TJDFT - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Posse e Porte de Armas.
Disponível em <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-
facil/edicao-semanal/posse-x-porte-de-arma>. Acesso em. 16/11/2020.

BRASIL. Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Estatuto do desarmamento. Brasília,


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.826.htm>. Acesso em.
16/11/2020.

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