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PRINCIPAIS CAMPOS DE ATUAÇÃO 10

O PSICÓLOGO FORENSE 19

ÉTICA EM PSICOLOGIA FORENSE 22

PERÍCIA PSICOLÓGICA FORENSE 24

PERÍCIA CIVIL 31

PSICOLOGIA DA POLÍCIA 36

A PSICOLOGIA E O DIREITO 55

ASSISTENTE TÉCNICO 59

0 PROCESSO DA PSICOLOGIA FORENSE 65

ESTRATÉGIAS DA PSICOLOGIA FORENSE 67

PSICOPATAS, SOCIOPATAS E SERIAL KILLERS 90

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE EM SITUAÇÕES DE SUSPEITA DE ABUSO


SEXUAL EM CRIANÇAS E ADOLECENTES. 110

REFERÊNCIAS 118
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HISTÓRIA DA PSICOLOGIA FORENSE

● Psicopatologia: Psiquê + Pathos + Logos


● Estudo das “doenças” mentais.
● Conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser
humano. Esforça-se por ser sistemático, descritivo, elucidativo e
desmistificante. Visa ser científico, não incluindo critérios de valor, nem
dogmas ou verdades a priori. (Dalgalarrondo, 2008)

Psicologia Jurídica é o campo da psicologia que agrega os profissionais que


se dedicam à interação entre a psicologia e o direito. A principal função dos
psicólogos no âmbito da justiça é auxiliar em questões relativas à saúde mental dos
envolvidos em um processo, com importantes colaborações nas áreas da cidadania,
violência e direitos humanos. A psicologia vive obcecada pela compreensão das
chaves do comportamento humano.
O direito é o conjunto de regras que busca regular esse comportamento,
prescrevendo formas de soluções de conflitos, colaborando nas áreas da cidadania,
prevenção da violência e Direitos humanos, plasmando o contrato social que
sustenta a vida em sociedade.
O que entra em jogo agora é a capacidade de entender as situações jurídicas
que o indivíduo é incorporado, como processos, testamentos, decisões variadas,
acatar sentenças e assumi-las ou cumpri-las. Para que sejam justos os
procedimentos, a pessoa deve ter uma capacidade minimamente básica para poder
participar em qualquer dos polos processuais.
Existem muitas formas de
abordagens para realizar a avaliação de
capacidade, que consistem em testes
cognitivos, psicológicos e os instrumentos
concebidos para ocorrer o julgamento.
Falamos aqui da submissão a um
julgamento, porém existem as capacidades
criminais e civis ainda, que serão
abordadas mais profundamente
juntamente com os aspectos vitais para o
direito, de forma justa.
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A psicologia forense surgiu da necessidade do Direito em compreender o


comportamento humano e aplicar esses ensinamentos no auxílio ao sistema legal,
desde a interpretação de leis até a sua aplicação das penas.
Desde o século XVIII os pareceres psicológicos já eram utilizados nos
tribunais norteamericanos. Essas consultas jurídicas aos profissionais de outras
áreas buscavam aprofundar análises testemunhais, exames de evidências delitivas
e análise do grau de veracidade em suas confissões, motivações para a prática dos
crimes, orientações psíquicas e morais do infrator, dentre outras questões que
isoladamente o Direito não conseguiria compreender.
No estudo de Huss , em 1962 a psicologia forense conseguiu o evento que
marcou seu ingresso ao campo jurídico. No caso Jenkins nos Estados Unidos: a
Corte determinou que fosse reconhecido o testemunho psicológico para determinar
a responsabilidade criminal dos agentes (Inimputabilidade).
Após isso os psicólogos forenses passaram a testemunhar frequentemente
casos de inimputabilidade. A decisão Jenkins levou a uma explosão da psicologia
forense nos Estados Unidos durante as décadas de 1960 e 1970. A psicologia
Jurídica (gênero que abrange a psicologia forense) se consolidou nos anos
seguintes, contudo, depois das experiências de psicologia criminal, desenvolvidas
por agentes do FBI que entrevistaram assassinos em séries presos, com o intuito de
entender como os criminosos pensavam, e aplicar esse conhecimento da psicologia
e da ciência comportamental ao comportamento criminoso violento de maneira
abrangente (HUSS, 2011, p. 24).
Já no Brasil, a psicologia Forense já era utilizada no país antes mesmo da
regulação da profissão de psicólogo, em 1962. O trabalho não oficial dos psicólogos
jurídicos foi feito de início de maneira informal. Direcionada aos estudos de
questões criminais, como por exemplo, o perfil psicológico dos criminosos, da
criança e dos adolescentes que eram ligados a atos ilícitos. Os psicodiagnósticos
eram vistos como instrumentos que forneciam dados matematicamente
comprováveis para orientação dos operadores do Direito.
O auxílio dos psicólogos dentro do sistema penitenciário também data antes
da década de 1960, mas foi com a Lei de Execução Penal (Lei n° 7210 de 1984)
que o psicólogo Brasileiro passou a ser reconhecido legalmente pela instituição
penitenciária.
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Histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de atuação.

Delimitar o início da Psicologia Jurídica no Brasil é uma tarefa complexa, em


razão de não existir um único marco histórico que define esse momento. Assim, na
história brasileira. A seguir, serão apresentados os principais campos de atuação do
psicólogo jurídico, com uma sucinta descrição das tarefas desempenhadas em cada
setor.
Objetiva-se, ainda, que o artigo possa ser utilizado como referência
bibliográfica para disciplinas de Psicologia Jurídica, pois seu caráter introdutório foi
delineado com esse propósito. A história da atuação de psicólogos brasileiros na
área da Psicologia Jurídica tem seu início no reconhecimento da profissão, na
década de 1960. Tal inserção deu-se de forma gradual e lenta, muitas vezes de
maneira informal, por meio de trabalhos voluntários.
Os primeiros trabalhos ocorreram na área criminal, enfocando estudos acerca
de adultos criminosos e adolescentes infratores da lei (Rovinski, 2002). O trabalho
do psicólogo junto ao sistema penitenciário existe, ainda que não oficialmente, em
alguns estados brasileiros há pelo menos 40 anos. Contudo, foi a partir da
promulgação da Lei de Execução Penal (Lei Federal nº 7.210/84) Brasil (1984), que
o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciária
(Fernandes, 1998).
Entretanto, a história revela que essa preocupação com a avaliação do
criminoso, principalmente quando se trata de um doente mental delinquente, é bem
anterior à década de 1960 do século XX. Durante a Antiguidade e a Idade Média a
loucura era um fenômeno bastante privado.
Ao “louco” era permitido circular com certa liberdade, e os atendimentos
médicos restringiam- -se a uns poucos abastados. A partir de meados do século
XVII, a loucura passou a ser caracterizada por uma necessidade de exclusão dos
doentes mentais.
Criam-se estabelecimentos para internação em toda a Europa, nos quais
eram encerrados indivíduos que ameaçassem a ordem da razão e da moral da
sociedade (Rovinski, 1998). A partir do século XVIII, na França, Pinel realizou a
revolução institucional, liberando os doentes de suas cadeias e dando assistência
médica a esses seres segregados da vida em sociedade (Pavon, 1997).
Após esse período, os psicólogos clínicos começaram a colaborar com os
psiquiatras nos exames psicológicos legais e em sistemas de justiça juvenil (Jesus,
2001). Com o advento da Psicanálise, a abordagem frente à doença mental passou
a valorizar o sujeito de forma mais compreensiva e com um enfoque dinâmico.
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Como consequência, o psicodiagnóstico ganhou força, deixando de lado um


enfoque eminentemente médico para
incluir aspectos psicológicos (Cunha,
1993). Os pacientes passaram a ser
classificados em duas grandes categorias:
de maior ou de menor severidade, ficando
o psicodiagnóstico a serviço do último
grupo, inicialmente. Desta forma, os
pacientes menos severos eram
encaminhados aos psicólogos, para que
esses profissionais buscassem uma
compreensão mais descritiva de sua
personalidade.
Os pacientes de maior severidade,
com possibilidade de internação, eram
encaminhados aos psiquiatras (Rovinski,
1998). Balu (1984) demonstrou, a partir de
estudos comparativos e representativos,
que os diagnósticos de Psicologia Forense
podiam ser melhores que os dos
psiquiatras (Souza, 1998).
De acordo com Brito (2005), os psicodiagnósticos eram vistos como
instrumentos que forneciam dados matematicamente comprováveis para a
orientação dos operadores do Direito.
Inicialmente, a Psicologia era identificada como uma prática voltada para a
realização de exames e avaliações, buscando identificações por meio de
diagnósticos. Essa época, marcada pela inauguração do uso dos testes
psicológicos, fez com que o psicólogo fosse visto como um testólogo, como na
verdade o foi na primeira metade do século XX (GromthMarnat, 1999).
Psicólogos da Alemanha e França desenvolveram trabalhos
empírico-experimentais sobre o testemunho e sua participação nos processos
judiciais. Estudos acerca dos sistemas de interrogatório, os fatos delitivos, a
detecção de falsos testemunhos, as amnésias simuladas e os testemunhos de
crianças impulsionaram a ascensão da então denominada Psicologia do
Testemunho (Garrido, 1994).
Atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica, com
objetivos bem definidos, para encontrar respostas para solução de problemas. A
testagem pode ser um passo importante do processo, mas constitui apenas um dos
recursos de avaliação (Cunha, 2000).
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Esse histórico inicial reforça a aproximação da Psicologia e do Direito através


da área criminal e a importância dada à avaliação psicológica. Porém, não era
apenas no campo do Direito Penal que existia a demanda pelo trabalho dos
psicólogos. Outro campo em ascensão até os dias atuais é a participação do
psicólogo nos processos de Direito Civil.
No estado de São Paulo, o psicólogo fez sua entrada informal no Tribunal de
Justiça por meio de trabalhos voluntários com famílias carentes em 1979. A entrada
oficial se deu em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso público para admissão
de psicólogos dentro de seus quadros (Shine, 1998).
Ainda dentro do Direito Civil, destaca-se o Direito da Infância e Juventude,
área em que o psicólogo iniciou sua atuação no então denominado Juizado de
Menores. Apesar das particularidades de cada estado brasileiro, a tarefa dos
setores de psicologia era, basicamente, a perícia psicológica nos processos cíveis,
de crime e, eventualmente, nos processos de adoção.
Com a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Brasil
(1990), em 1990, o Juizado de Menores passou a ser denominado Juizado da
Infância e Juventude. O trabalho do psicólogo foi ampliado, envolvendo atividades
na área pericial, acompanhamentos e aplicação das medidas de proteção ou
medidas socioeducativas (Tabajaski, Gaiger & Rodrigues, 1998).
Essa expansão do campo de atuação do psicólogo gerou um aumento do
número de profissionais em instituições judiciárias mediante a legalização dos
cargos pelos concursos públicos. São exemplos a criação do cargo de psicólogo
nos Tribunais de Justiça dos estados de Minas Gerais (1992), Rio Grande do Sul
(1993) e Rio de Janeiro (1998) (Rovinski, 2002).
Outro dado histórico importante foi a criação do Núcleo de Atendimento à
Família (NAF), em outubro de 1997, implantado no Foro Central de Porto Alegre e
pioneiro na justiça brasileira. O trabalho objetiva oferecer a casais e famílias com
dificuldades de resolver seus conflitos um espaço terapêutico que os auxilie a
assumir o controle sobre suas vidas, colaborando, assim, para a celeridade do
Sistema Judiciário (Silva & Polanczyk, 1998).
Vale observar ainda que, com o propósito de acompanhar as mudanças
legais e adequar as instituições de atendimento a crianças e adolescentes às
diretrizes presentes no ECA, fez-se necessário o reordenamento institucional
dessas entidades em todo o país. A extinta Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor (FEBEM) mesclava, em uma mesma instituição, crianças e adolescentes
vítimas de violência, maus tratos, negligência, abuso sexual e abandono com jovens
autores de atos infracionais (http://www.sjds.rs.gov.br).
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Pela Lei 11.800/02 foram criadas duas fundações: a Fundação de


Atendimento Socioeducativo (FASE), responsável pela execução das medidas
socioeducativas, e a Fundação de Proteção Especial (FPE), responsável pela
execução das medidas de proteção.
O surgimento dessas fundações se deu inicialmente no estado do Rio
Grande do Sul. Elas são a consolidação do processo de adaptação aos preceitos
regidos pelo ECA, iniciado nos anos 1990.
Diante do exposto, percebe-se um histórico inicial da aproximação da
Psicologia e do Direito atrelado a questões envolvendo crime e os direitos da
criança e do adolescente. Contudo, nos últimos dez anos a demanda pelo trabalho
do psicólogo em áreas como Direito da Família e Direito do Trabalho vem tomando
força. Além desses campos, outras possibilidades de participação do psicólogo em
questões judiciais vêm surgindo, as quais serão apresentadas e discutidas na
segunda parte deste artigo.
Em relação à área acadêmica, cabe citar que a Universidade do Estado do
Rio de Janeiro foi pioneira em relação à Psicologia Jurídica. Foi criada, em 1980,
uma área de concentração dentro do curso de especialização em Psicologia Clínica,
denominada “Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos”.
Seis anos mais tarde, passou por uma reformulação e tornou-se um curso
independente do Departamento de Clínica, fazendo parte do Departamento de
Psicologia Social (Altoé, 2001). Atualmente, não são todos os cursos de Psicologia
que oferecem a disciplina de Psicologia Jurídica. E, quando o fazem, normalmente é
uma matéria opcional e com uma carga horária pequena. Já nos cursos de Direito,
ainda que a carga horária também seja reduzida, a disciplina já se tornou de caráter
compulsório.
Esses dados acarretam uma deficiência na formação acadêmica dos
profissionais, o que exige o oferecimento, por parte das instituições judiciárias, de
cursos de capacitação, treinamento e reciclagem.
Os psicólogos sentem estar sempre “correndo atrás do prejuízo”, uma vez
que as discussões sempre giram ao redor de noções básicas com as quais o
psicólogo deveria ter tomado contato antes de chegar à instituição (Anaf, 2000).
Porém, essa realidade tem se modificado. Atualmente, são oferecidos cursos de
pós-graduação em Psicologia Jurídica em universidades de estados brasileiros
como Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio de
Janeiro, Santa Catarina e São Paulo, o que revela a expansão da área no País.
Como pode ser evidenciado, o Direito e a Psicologia se aproximaram em
razão da preocupação com a conduta humana. O momento histórico pelo qual a
Psicologia passou fez com que, inicialmente, essa aproximação se desse por meio
da realização de psicodiagnósticos, dos quais as instituições judiciárias passaram a
se ocupar.
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Contudo, outras formas de atuação além da avaliação psicológica ganharam


força, entre elas a implantação de medidas de proteção e socioeducativas e o
encaminhamento e acompanhamento de crianças e/ou adolescentes. Observa-se
que a avaliação psicológica ainda é a principal demanda dos operadores do Direito.
Porém, outras atividades de intervenção, como acompanhamento e orientação, são
igualmente importantes, como se verá na seção seguinte deste artigo. São áreas de
atuação que devem coexistir, uma vez que seus objetivos são distintos, buscando
atender a propósitos diferenciados, mas também complementares.
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PRINCIPAIS CAMPOS DE ATUAÇÃO

● Psicologia do Crime
● Avaliação Forense
● Clínico Forense
● Psicologia no sistema correcional
● Psicologia aplicada aos Programas de Prevenção
● Psicologia da Polícia
● Assessoria
● Pesquisa

Na Psicologia Jurídica há uma predominância


das atividades de confecções de laudos, pareceres e
relatórios, pressupondo-se que compete à Psicologia
uma atividade de cunho avaliativo e de subsídio aos
magistrados. Cabe ressaltar que o psicólogo, ao
concluir o processo da avaliação, pode recomendar
soluções para os conflitos apresentados, mas jamais
determinar os procedimentos jurídicos que deverão
ser tomados.
Ao juiz cabe a decisão judicial; não compete
ao psicólogo incumbir-se desta tarefa. É preciso
deixar clara esta distinção, reforçando a ideia de que
o psicólogo não decide, apenas conclui a partir dos
dados levantados mediante a avaliação e pode, assim, sugerir e/ou indicar
possibilidades de solução da questão apresentada pelo litígio judicial. Contudo, nem
sempre o trabalho do psicólogo jurídico está ligado à questão da avaliação e
consequente elaboração de documentos, conforme se apresenta a seguir.
Os ramos do Direito que frequentemente demandam a participação do
psicólogo são: Direito da Família, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Civil,
Direito Penal e Direito do Trabalho. Cabe observar que o Direito de Família e o
Direito da Criança e do Adolescente fazem parte do Direito Civil. Porém, como na
prática as ações são ajuizadas em varas diferenciadas, optou-se por fazer essa
divisão, por ser também didaticamente coerente.
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● Psicólogo jurídico e o direito de família: destaca- -se a participação dos


psicólogos nos processos de separação e divórcio, disputa de guarda e
regulamentação de visitas.
● Separação e divórcio: os processos de separação e divórcio que envolvem a
participação do psicólogo são na sua maioria litigiosos, ou seja, são
processos em que as partes não conseguiram acordar em relação às
questões que um processo desse cunho envolve. Não são muito comuns os
casos em que os cônjuges conseguem, de maneira racional, atingir o
consenso para a separação. Isso implica resolver o conflito que está ou que
ficou nas entrelinhas, nos meandros dos relacionamentos humanos, ou seja,
romper com o vínculo afetivo- -emocional (Silveira, 2006).

Portanto, o psicólogo pode atuar como mediador, nos casos em que os


litigantes se disponham a tentar um acordo ou, quando o juiz não considerar viável a
mediação, ao psicólogo pode ser solicitada uma avaliação de uma das partes ou do
casal. Processos de separação e divórcio englobam partilha de bens, guarda de
filhos, estabelecimento de pensão alimentícia e direito à visitação.
Desta forma, seja como avaliador ou mediador, o psicólogo buscará os
motivos que levaram o casal ao litígio e os conflitos subjacentes que impedem um
acordo em relação aos aspectos citados. Nos casos em que julgar necessário, o
psicólogo poderá, inclusive, sugerir encaminhamento para tratamento psicológico ou
psiquiátrico da(s) parte(s).

● Regulamentação de visitas: conforme exposto acima, o direito à visitação é


uma das questões a ser definida a partir do processo de separação ou
divórcio. Contudo, após a decisão judicial podem surgir questões de ordem
prática ou até mesmo novos conflitos que tornem necessário recorrer mais
uma vez ao Judiciário, solicitando uma revisão nos dias e horários ou forma
de visitas. Nesses casos, o psicólogo jurídico contribui por meio de
avaliações com a família, objetivando esclarecer os conflitos e informar ao
juiz a dinâmica presente nesta família, com sugestões das medidas que
poderiam ser tomadas. O psicólogo pode, ainda, atuar como mediador,
procurando apontar a interferência de conflitos intrapessoais na dinâmica
interpessoal dos cônjuges, com o objetivo de produzir um acordo pautado na
colaboração, de forma que a autonomia da vontade das partes seja
preservada (Schabbel, 2005).




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● Disputa de guarda: nos processos de separação ou divórcio é preciso definir
qual dos ex-cônjuges deterá a guarda dos filhos. Em casos mais graves,
podem ocorrer disputas judiciais pela guarda (Silva, 2006). Nesses casos, o
juiz pode solicitar uma perícia psicológica para que se avalie qual dos
genitores tem melhores condições de exercer esse direito. Além dos
conhecimentos sobre avaliação, psicopatologia, psicologia do 15
desenvolvimento e psicodinâmica do casal, assuntos atuais como a guarda
compartilhada, falsas acusações de abuso sexual e síndrome de alienação
parental podem estar envolvidos nesses processos. Portanto, é necessário
que os psicólogos que atuam nessa área estudem esses temas, saibam seu
funcionamento e busquem a melhor forma de investigá-los, de modo a
realizar uma avaliação psicológica de qualidade.

Pais que colocam os interesses e vaidade pessoal acima do sofrimento que


uma disputa judicial pode acarretar aos filhos, na tentativa de atingir ou magoar o ex
companheiro, revelam-se com problemas para exercer a parentalidade de forma
madura e responsável (Castro, 2005). Portanto, nesses casos, a mediação não é
uma prática comum, dado o alto nível de conflitos existentes entre os ex cônjuges e
que os fazem disputar seus filhos judicialmente.
Psicólogo jurídico e o direito da
criança e do adolescente: destaca-se o
trabalho dos psicólogos junto aos
processos de adoção e destituição de
poder familiar e o desenvolvimento e
aplicação de medidas socioeducativas dos
adolescentes autores de ato infracional.
● Adoção: os psicólogos participam do
processo de adoção por meio de
uma assessoria constante para as famílias adotivas, tanto antes quanto
depois da colocação da criança. A equipe técnica dos Juizados da Infância e
da Juventude deve saber recrutar candidatos para as crianças que precisam
de uma família e ajudar os postulantes a se tornarem pais capazes de
satisfazer às necessidades de um filho adotivo (Weber, 2004). A primeira
tarefa de uma equipe de adoção é garantir que os candidatos estejam dentro
dos limites das disposições legais e a segunda é iniciar um programa de
trabalho com os postulantes aceitos, elaborado especialmente para
assessorar, informar e avaliar os interessados, e não apenas “selecionar” os
mais aptos (Weber, 1997). Como a adoção é um vínculo irrevogável, o
estudo psicossocial torna-se primordial para garantir o cumprimento da lei,
prevenindo assim a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução.
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Além do trabalho desenvolvido junto aos Juizados da Infância e Juventude,


existe também o dos psicólogos que trabalham nas Fundações de Proteção
Especial. Essas instituições têm como objetivo oferecer um cuidado especial capaz
de minorar os efeitos da institucionalização, proporcionando às crianças e aos
adolescentes abrigados uma vivência que se aproxima à realidade familiar.
Os vínculos estabelecidos com os monitores que cuidam delas são
facilitadores do vínculo posterior na adoção, uma vez que se estabelece e se
mantém-nos a capacidade de vincular-se afetivamente. As relações substitutas
provisórias, representadas pelo acolhimento institucional que abriga os que
aguardam uma possibilidade de inclusão em família substituta, são decisivas para o
desenlace do processo de adoção (Albornoz, 2001).

● Destituição do poder familiar: o poder familiar é um direito concedido a ambos


os pais, sem nenhuma distinção ou preferência, para que eles determinem a
assistência, criação e educação dos filhos. Esse direito é assistido aos
genitores, ainda que separados e a guarda conferida a apenas um dos dois.
Porém, a legislação brasileira prevê casos em que esse direito pode ser
suspenso, ou até mesmo destituído, de forma irrevogável. A partir desta
determinação judicial, os pais perdem todos os direitos sobre o filho, que
poderá ficar sob a tutela de uma família até a maioridade civil.

O papel do psicólogo nesses casos é fundamental. É preciso considerar que


a decisão de separar uma criança de sua família é muito séria, pois desencadeia
uma série de acontecimentos que afetaram, em maior ou menor grau, toda a sua
vida futura. Independentemente da causa da remoção - doença, negligência,
abandono, maus-tratos, abuso sexual, ineficiência ou morte dos pais - a
transferência da responsabilidade para estranhos jamais deve ser feita sem muita
reflexão (Cesca, 2004).
Adolescentes autores de atos infracionais: o Estatuto da Criança e do
Adolescente prevê medidas socioeducativas que comportam aspectos de natureza
coercitiva. São medidas punitivas no sentido de que responsabilizam socialmente os
infratores, e possuem aspectos eminentemente educativos, no sentido da proteção
integral, com oportunidade de acesso à formação e à informação.
Os psicólogos que desenvolvem seu trabalho junto aos adolescentes
infratores devem lhes propiciar a superação de sua condição de exclusão, bem
como a formação de valores positivos de participação na vida social. Sua
operacionalização deve, prioritariamente, envolver a família e a comunidade com
atividades que respeitem o princípio da não discriminação e não estigmatização,
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evitando rótulos que marquem os adolescentes e os exponham a situações


vexatórias, além de impedi-los de superar as dificuldades na inclusão social.

Na Fundação de Apoio Socioeducativo de


Porto Alegre (RS), colocou-se em prática um projeto
pioneiro que utiliza soluções mais eficazes para
responsabilizar e corrigir comportamentos
considerados transgressores: a Justiça Restaurativa.
Essa medida tem por objetivo tratar e julgar melhor
as questões que levaram os jovens a cometerem um
ato infracional, e tem como foco a reparação dos
danos causados às pessoas e relacionamentos, ao
invés de punir os transgressores. Através de um
mediador, as vítimas e os jovens procuram dialogar
para que eles se conscientizem dos erros que
cometeram. Esse tipo de projeto tem o intuito de
evitar que o adolescente volte a cometer crimes e que os danos causados às
vítimas sejam minimizados (Jesus, 2005).

Psicólogo jurídico e o direito civil: o psicólogo atua nos processos em que são
requeridas indenizações em virtude de danos psíquicos e nos casos de interdição
judicial.

● Dano psíquico: o dano psíquico pode ser definido como a sequela, na esfera
emocional ou psicológica, de um fato particular traumatizante (Evangelista &
Menezes, 2000). Pode-se dizer que o dano está presente quando são
gerados efeitos traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório
comportamental da vítima. Cabe ao psicólogo, de posse de seu referencial
teórico e instrumental técnico, avaliar a real presença desse dano. Entretanto,
o psicólogo deve estar atento a possíveis manipulações dos sintomas, já que
está em suas mãos recomendação, ou não, de um ressarcimento financeiro
(Rovinski, 2005).
● Interdição: a interdição refere-se à incapacidade de exercício por si mesmo
dos atos da vida civil. Uma das possibilidades de interdição previstas pelo
código civil são os casos em que, por enfermidade ou deficiência mental, os
sujeitos de direito não tenham o necessário discernimento para a prática dos
atos da vida civil. Nesses casos, compete ao psicólogo nomeado perito pelo
juiz realizar avaliação que comprove ou não tal enfermidade mental. À justiça
interessa saber se a doença mental de que o paciente é portador o torna
incapaz de reger sua pessoa e seus bens (Monteiro, 1999).
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As questões levantadas em um processo de interdição incluem a validade,


nulidade ou anulabilidade de negócios jurídicos, testamentos e casamentos. Além
dessas, ficam prejudicadas a contração de deveres e aquisição de direitos, a
aptidão para o trabalho, a capacidade de testemunhar e a possibilidade de ele
próprio assumir tutela ou curatela de incapaz e exercer o poder familiar (Taborda,
Chalub & Abdalla-Filho, 2004).
Psicólogo jurídico e o direito penal: o psicólogo pode ser solicitado a atuar
como perito para averiguação de periculosidade, das condições de discernimento ou
sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento (Arantes, 2004). Portanto,
destaca-se o papel dos psicólogos junto ao Sistema Penitenciário e aos Institutos
Psiquiátricos Forenses.
A criação da Lei de Execução Penal (LEP), em 1984, foi um marco no
trabalho dos psicólogos no sistema prisional, pois a partir dela o cargo de psicólogo
passou a existir oficialmente (Carvalho, 2004). A Lei 10.792/2003 trouxe mudanças
à LEP, uma vez que extinguiu o exame criminológico feito para instruir pedidos de
benefícios e o parecer da Comissão Técnica de Classificação Brasil (2003).
Para a concessão de benefícios legais, as únicas exigências previstas são o
lapso de tempo já cumprido e a boa conduta. No entanto, há uma pressão por parte
do Ministério Público e Poder Judiciário pela continuidade das avaliações técnicas.
No estado de São Paulo, após as rebeliões ocorridas no sistema penitenciário, as
avaliações técnicas estão voltando a ser uma exigência para a concessão dos
benefícios legais (Sá, 2007).
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As ​avaliações psicológicas
individualizadas​, previstas em lei, são
inviáveis nos presídios brasileiros sem razão
das superpopulações existentes. Pelo mesmo
motivo, proporcionar um “tratamento penal”
aos apenados ou estabelecer outro tipo de
relações institucionais com os demais
funcionários, internos e/ou seus familiares são
tarefas difíceis para os psicólogos que
trabalham junto ao sistema carcerário (Kolker,
2004). Existe ainda o trabalho dos psicólogos
junto aos doentes mentais que cometeram
algum delito. Esses sujeitos recebem medida
de segurança, decretada pelo juiz, e são encaminhados para Institutos Psiquiátricos
Forenses (IPF).
]Além de abrigar esses doentes mentais, os IPF são responsáveis pela
realização de perícias oficiais na área criminal e pelo atendimento psiquiátrico à
rede penitenciária. Atualmente existem no Brasil 28 instituições psiquiátricas
forenses e cerca de 4 mil internos (Piccinini, 2006). No Rio Grande do Sul, o
Instituto Psiquiátrico Forense Maurício Cardoso (IPFMC) foi o segundo fundado no
País, em 1924.
O trabalho do psicólogo nesse instituto teve início em 1966, através do
estágio curricular de psicopatologia. Inicialmente as atividades da Psicologia eram
subordinadas à Medicina, pois havia a necessidade de prescrição médica para os
pacientes psicóticos. Além disso, os laudos psiquiátricos elaborados não eram
assinados pelos psicólogos, devido a um dispositivo legal que atribuía a
competência e a responsabilidade desses laudos ao psiquiatra forense (Modena,
2007). Com o passar dos anos houve ampliação do atendimento multidisciplinar,
que passou a reunir as diferentes habilidades técnicas em prol de uma prestação de
serviço com maior qualidade aos pacientes.
Assim, o Setor de Psicologia foi alcançando sua independência e autonomia
dentro dos IPF. Psicólogo jurídico e o direito do trabalho: o psicólogo pode atuar
como perito em processos trabalhistas. A perícia a ser realizada nesses casos serve
como uma vistoria para avaliar o nexo entre as condições de trabalho e a
repercussão na saúde mental do indivíduo.
Na maioria das vezes, são solicitadas verificações de possíveis danos
psicológicos supostamente causados por acidentes e doenças relacionadas ao
trabalho, casos de afastamento e aposentadoria por sofrimento psicológico. Cabe
ao psicólogo a elaboração de um laudo, no qual irá traduzir, com suas habilidades e
conhecimento, a natureza dos processos psicológicos sob investigação (Cruz &
Maciel, 2005).
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Vitimologia

Objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da vítima. Cabe


ao psicólogo atuante nessa área traçar o perfil e compreender as reações das
vítimas perante a infração penal. A intenção é averiguar se a prática do crime foi
estimulada pela atitude da vítima, o que pode denotar uma cumplicidade passiva ou
ativa para com o criminoso. Para tanto, a análise é feita desde a ocorrência até as
consequências do crime (Brega Filho, 2004). Além disso, a vitimologia dedica-se
também à aplicação de medidas preventivas e à prestação de assistência às
vítimas, visando, assim, à reparação de danos causados pelo delito.
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Psicologia do testemunho

Os psicólogos podem ser solicitados a avaliar a veracidade dos depoimentos


de testemunhas e suspeitos, de forma a colaborar com os operadores da justiça. O
chamado fenômeno das falsas memórias tem assumido um papel muito importante
na área da Psicologia do Testemunho. Hoje, sabe- -se que o ser humano é capaz
de armazenar e recordar informações que não ocorreram. As falsas memórias
podem resultar da repetição de informações consistentes e inconsistentes no
depoimento de testemunhas sobre o mesmo evento.
É preciso desenvolver pesquisas na área que possam contribuir para a
elucidação dos mecanismos responsáveis pelas falsas memórias e, assim, auxiliar o
aprimoramento de técnicas para avaliação de testemunhos (Stein, 2000). Uma área
recente e relacionada à Psicologia do Testemunho que vem ganhando espaço é o
Depoimento sem Dano, que objetiva proteger psicologicamente crianças e
adolescentes vítimas de abusos sexuais e outras infrações penais que deixam
graves sequelas no âmbito da estrutura da personalidade.
Esse projeto foi criado no Segundo Juizado da Infância e Juventude de Porto
Alegre, em razão das dificuldades enfrentadas pela justiça na tomada de
depoimentos de crianças e adolescentes (Cezar, 2007).
A fim de atingir tais objetivos, é importante que o técnico entrevistador -
assistente social ou psicólogo - possua habilidade em ouvir, demonstre paciência,
empatia, disposição para o acolhimento e capacidade de deixar o depoente à
vontade durante a audiência.
O técnico deve, ainda, conhecer acerca da dinâmica doabuso e,
preferencialmente, possuir experiência em situações de perícia, o que facilita a
compreensão e interação de todos os envolvidos no ato judicial (Cezar, 2007).
Desta forma, a inserção de uma equipe psicossocial no âmbito da justiça respeita e
preserva o estado emocional da vítima, permitindo, assim, um processo menos
oneroso e mais justo para o caso.
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O PSICÓLOGO FORENSE

O psicólogo forense participa dos diferentes processos judiciais nos quais


sua presença é solicitada. Ele será responsável por reunir a informação necessária,
examinar o indivíduo, elaborar inquéritos etc. e, por fim, apresentar as provas e os
resultados obtidos. Tudo isso com a finalidade de responder às perguntas feitas
pelo juiz.
A função principal é tentar sanar as dúvidas dos profissionais da justiça.
Todos os atores que participam de um processo judicial não possuem
conhecimentos de todas as áreas sociais, relacionais, científicas, etc. Por isso,
precisam de especialistas em cada uma dessas áreas que os ajudem a esclarecer
elementos importantes para uma correta resolução do caso. Não podemos nos
esquecer de que vivemos em uma sociedade orgânica: existe uma grande divisão
do trabalho. Os indivíduos se especializam em um determinado âmbito, mas
precisam de conhecimentos do resto da sociedade. Assim, é estabelecido um
sistema de relações funcionais entre os diferentes profissionais.
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A cooperação de cada um se baseia nas capacidades com as quais pode


contribuir para ajudar a suprir as necessidades do outro.
Âmbitos dos quais participa

O psicólogo forense, como já anunciamos, colabora no sistema judiciário.


Geralmente, é um profissional associado a processos penais, focalizando sua
atuação no âmbito criminal. No entanto, há muitas outras áreas nas quais ele é
necessário:
● Direito da família. Determinar se os pais estão capacitados para o cuidado
do(s) filho(s) no processo de divórcio; orientar o regime de visitas; analisar as
disfuncionalidades existentes que possam afetar a criança devido à
separação etc.
● Direito civil. Incapacidades legais em relação à livre disposição de bens
patrimoniais, principalmente.
● Direito penal. Imputabilidade penal (se o indivíduo sabia o que estava
fazendo e agiu voluntariamente com base nesse conhecimento); efeitos da
violência na vítima; existência de algum possível transtorno etc.
● Direito do trabalho. Incapacitação laboral; situações de assédio no trabalho
(possível comprometimento nas atividades cotidianas); etc.
● Crianças. Credibilidade do depoimento; sequelas psicológicas etc.

Elaboração de relatórios
Os relatórios são os documentos elaborados pelos peritos nos quais são
respondidas as perguntas formuladas pelo juiz. Elas servem como prova pericial. O
psicólogo forense deverá realizar um relatório quando sua opinião for requisitada em
relação a um assunto judicial.
O conteúdo do relatório deve ser preciso e específico, omitindo qualquer
detalhe que for supérfluo. Ou seja, deve se voltar diretamente à questão do assunto.
Da mesma forma, sua redação deve ser clara, tentando evitar a utilização de uma
linguagem muito específica.
Não podemos nos esquecer de que esse tipo de documento será entregue a
pessoas não especializadas no mundo da psicologia, nem no campo científico.
Devido a isso, não devemos ser extremamente técnicos, pois o que queremos
transmitir poderia não ser compreendido.
Ao mesmo tempo, não podemos fugir dos parâmetros da objetividade e do
rigor científico. Qualquer teste psicológico que tenha sido realizado deve ser
devidamente informado. Deve-se apontar sua utilidade, a forma como foi realizado,
os resultados obtidos, a fiabilidade dele etc.
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Perfil profissional
Como é evidente, será necessário que o psicólogo forense conte com
formação universitária em Psicologia. Além disso, deve ter se especializado nessa
área do conhecimento.
E isso não é suficiente. Deverá ter aperfeiçoamento profissional e ter
conhecimento das novidades que surgem nesse campo em diferentes artigos
científicos. Por outro lado, não é requerido apenas o conhecimento na área da
psicologia, também é preciso ter conhecimentos de Direito.
Portanto, é um profissional que deverá saber como o processo é realizado,
assim como as diferentes leis que o amparam e que, da mesma forma, determinam
sanções que podem ser aplicadas por uma má práxis. Mas nem tudo se resume aos
conhecimentos acadêmicos. O psicólogo forense não pode se deixar envolver
emocionalmente no caso que está analisando, pois macularia a missão para a qual
foi designado como perito.
A empatia também é uma característica que deve ser avaliada, assim como a
tolerância à frustração. A assertividade e uma boa oratória são características que
contam pontos nesse âmbito de trabalho.
Por fim, o psicólogo forense rompe com a ideia que se tem da profissão
estereotipada do psicólogo que as séries e os filmes podem mostrar. A psicologia
jurídica e forense é um campo, por vezes, desconhecido, mas necessário para
resolver questões que exigem um ponto de vista mais científico.
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ÉTICA EM PSICOLOGIA FORENSE

http://satepsi.cfp.org.br/docs/codigode-etica-psicologia.pdf

Ao longo dos últimos anos delitos exacerbados advindos da nossa sociedade


tem se tornado um verdadeiro caos na história da violência no país. Diante de tal
premissa se faz necessário conhecer o perfil psicológico desses criminosos,
ressaltando a função probatória e ética das conclusões periciais.
Contudo para que possamos validar tais conclusões é indispensável uma
reflexão ética do profissional perito na excelência desses documentos, uma vez que
eles delimitam não só o perfil dos criminosos, bem como dirigem a medida cautelar
que reforça ou conclui a pena desses indivíduos, como também subsidiam demais
decisões judiciais.
O exercício ético da psicologia forense começa pela alteridade, que só é
possível se o profissional assume uma postura rigorosamente neutra, ou seja, sem
qualquer preconceito moral, religioso, rácico de uma situação ou comportamento.
Outro aspecto preponderante ao exercício ético do psicólogo passa pela
responsabilidade e experiência do profissional ao conduzir tais avaliações, uma vez
que sem as devidas provas periciais podem ocorrer situações onde o assassino é
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solto e o inocente é preso, provocando assim malefícios a sociedade e impedindo a


reinserção no convívio social ao réu que tem direito a esse benefício.
Em se tratando do conteúdo dos laudos periciais é importante atentarmos
para a questão do sigilo profissional, ou seja, o psicólogo só deve passar à justiça
os dados que são importantes para a solução da causa. Ele não pode estar
revelando coisas que não dizem respeito à demanda judiciária em particular.
O laudo deve ser bem conduzido e bem trabalhado, de forma objetiva e
sistematizada, usando-se de terminologia psicológica, numa linguagem simples de
uma maneira que os juízes entendam.
Perpassando pelos recônditos psi, se faz importante conhecer a fundo os
distúrbios de personalidade que podem acometer esses indivíduos, bem como os
caminhos elementares que conduzem o mesmo ao crime.
Conhecendo os fatores que o levam a esse desajustamento social, é possível
inferir se o réu em questão é imputável ou inimputável, fator imprescindível para
construção fidedigna de um laudo.
Como vimos é importante mencionar que o conhecimento é a base de tudo.
Cabe ao Direito controlar e regular o social e o real, baseado no princípio de Bem e
Mal, porém, cabe a psicologia forense o embasamento adequado, subjetivo e
multidisciplinar, para que a justiça seja feita, e isso só é possível se o profissional
psicólogo perito, se adequar ao exercício ético e moral dessa profissão.
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PERÍCIA PSICOLÓGICA FORENSE

● Busca a diferenciação, o diagnóstico diferencial, entre “comportamentos


normais” e os “comportamentos patológicos”.
● Objetivo de investigação sobre a pessoa enferma. (Jaspers, 1913).
● Uso de manuais para classificação (CID e DSM) visando unificar linguagem,
facilitar a comunicação entre diferentes áreas e profissões.
● Atuação de profissionais da Psicologia e Psiquiatria (em geral) peritos oficiais
ou judiciais.
● Diversas áreas de atuação: sem consenso nas nomenclaturas e na tipificação
das áreas de atuação

A avaliação psicológica, processo pelo qual através de instrumentos


apropriados (entrevistas, técnicas e testes psicológicos, observações etc.) chega-se
a conclusões a respeito de aspectos do funcionamento psicológico de um indivíduo,
encontra-se presente em diferentes campos de atuação do psicólogo.
Assim sendo, insere-se também no campo da Psicologia Forense, sendo
conhecida como avaliação psicológica pericial ou, mais comumente, perícia
psicológica forense. A perícia psicológica se diferencia de outros tipos de avaliação
psicológica pelo fato do seu objetivo ser subsidiar decisões judiciais.
A perícia psicológica insere-se no campo interdisciplinar da psicologia
forense e da psicologia clínica. Ibañez e Ávila definem a psicología forense como
sendo toda psicologia “orientada para a produção de investigações psicológicas e
para a comunicação de seus resultados, assim como a realização de avaliações e
valorações psicológicas, para sua aplicação no contexto legal” (1990, apud
ROVINSKI, 2003, p. 183).
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A perícia psicológica forense pode ser definida como o exame ou avaliação


do estado psíquico de um indivíduo com o objetivo de elucidar determinados
aspectos psicológicos deste; este objetivo se presta à finalidade de fornecer ao juiz
ou a outro agente judicial que solicitou a perícia, informações técnicas que escapam
ao senso comum e ultrapassam o conhecimento jurídico. Na perícia psicológica,
todo o processo de avaliação (a obtenção dos dados através de instrumentos
adequados, a análise dos dados e a comunicação dos resultados) deve ser
direcionado aos objetivos judiciais.
Segundo Silva (2003), recorre-se à prova pericial quando os argumentos ou
demais provas de que se dispõe não são suficientes para o convencimento do juiz
em seu poder decisório, portanto, esta tem como finalidade última auxiliar o juiz em
sua decisão acerca dos fatos que estão sendo julgados. A perícia psicológica é
considerada um meio de prova no âmbito forense e sua materialização se dá
através da elaboração do chamado laudo pericial.
O laudo pericial, que será apreciado pelo agente jurídico que o solicitou, deve
ser redigido em linguagem clara e objetiva para que possa efetivamente fornecer
elementos que auxiliem a decisão judicial, devendo responder aos quesitos
(perguntas) solicitados, quando presentes.
Segundo a autora, embora o Direito exija respostas imediatas e definitivas, o
laudo psicológico poderá somente apontar tendências e indícios. Segundo Rovinski
(2003; 2004) as técnicas e os métodos de investigação utilizados na avaliação
psicológica forense não diferem de forma substancial do processo de avaliação
psicológica clínica, necessitando apenas de uma adaptação aos objetivos forenses.
A eleição da metodologia que será utilizada na perícia dependerá das
especificidades de cada caso. A coleta dos dados deve direcionar-se ao que deve
ser investigado, assim, para que o psicólogo selecione os instrumentos psicológicos
mais adequados para cada caso, ele deverá se basear na própria natureza do
exame em questão e na prévia leitura dos autos do processo (com especial atenção
ao que demandou a perícia psicológica e aos quesitos formulados).
Não existem metodologias fixas para a realização de avaliações psicológicas
periciais, sendo estas construídas de acordo com as características do caso e do
sujeito (nível de escolaridade, idade, presença de limitações físicas ou mentais etc.).
A leitura dos autos do processo propicia o levantamento de hipóteses prévias antes
do primeiro contato com o indivíduo e permite que a entrevista seja direcionada para
a investigação de tais hipóteses.
Em uma perícia psicológica frequentemente se faz necessário entrevistar
outras pessoas além do próprio examinando (como, por exemplo, algum familiar
próximo) para que possam ser colhidas mais informações a respeito das suas
características e funcionamento psicológico.
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Segundo Rovinski (2003) isso acontece porque a avaliação pericial busca


entender e responder, de modo imparcial e neutro, as questões colocadas pela
justiça, diferentemente da avaliação clínica, que busca compreender a realidade
psíquica do paciente e sua visão particular sobre seus problemas.
A entrevista com terceiros também é de suma importância nos casos em que
a psicopatologia do sujeito impede que ele forneça dados confiáveis e precisos
acerca de si próprio. Taborda (2004) afirma que em uma avaliação pericial é comum
que a simulação se faça presente, pois o examinando poderá omitir informações
que possam prejudicá-lo e potencializar as que acredita que possam auxiliá-lo.
Deste modo, o “perito deverá estar atento a essa possibilidade e buscar
confirmar por fontes colaterais (entrevista com terceiros, exame de documentos e
prova técnica carreada aos autos) a fidedignidade do que é afirmado” pelo
examinando em sua entrevista (p. 63).
O perito, ao conduzir uma entrevista, jamais deverá perder de vista os
objetivos dela, que estarão atrelados aos objetivos da própria perícia (quais
aspectos psíquicos específicos deverão ser investigados?).
A entrevista psicológica sempre fará parte de um processo de avaliação
psicológica pericial, já os testes psicológicos não são utilizados por todos os
psicólogos peritos; para Rovinski (2009), os testes, sejam psicométricos ou
projetivos, funcionam como instrumentos auxiliares.
Pesquisa realizada por Rovinski e Elgues (1999, citada por ROVINSKI, 2003;
2004) no Rio Grande do Sul encontrou que 87% dos psicólogos forenses
pesquisados utilizavam outros instrumentos de avaliação além da entrevista, dando
preferência para os testes de personalidade projetivos e gráficos. A prévia leitura
dos autos processuais e a(s) entrevista(s) direcionarão a escolha dos testes
psicológicos que serão utilizados para responder à demanda do judiciário.
O uso dos testes psicológicos nas perícias psicológicas apresenta algumas
vantagens em relação a uma avaliação realizada somente através de entrevistas: os
testes aprofundam a compreensão do sujeito, pois medem características não
passíveis de serem percebidas ou mensuradas apenas através das entrevistas e
observações; dão ao profissional a possibilidade de observar o comportamento de
forma padronizada e julgar se o mesmo encontra-se dentro das condições
observadas na população normal; auxiliam a eliminar boa parte da “contaminação”
subjetiva da percepção e do julgamento do psicólogo; diminuem a possibilidade do
sujeito manipular a avaliação psicológica; possibilitam acessar regiões profundas do
sujeito, muitas das quais são inacessíveis a ele próprio, por não ter consciência de
certas características que existem em si mesmo.
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Os testes psicológicos auxiliam no conhecimento do estado mental dos


indivíduos e segundo Ávila e Rodriguez-Sutil (1995, apud ROVINSKI, 2003) estes
seriam responsáveis pela crescente solicitação dos laudos psicológicos periciais.
Rovinski (2004) afirma que a avaliação forense dirige-se a eventos definidos
de forma restrita, relacionadas a um foco circunscrito (o quesito solicitado),
entretanto, a avaliação psicológica pericial é demandada pelo sistema jurídico
geralmente através de assertivas gerais, tais como se o réu era capaz de entender o
caráter criminoso do seu ato à época do fato.
Dependendo do caso em questão, o psicólogo deverá investigar se há
alguma doença do espectro psicótico ou rebaixamento intelectual que poderia ter
diminuído ou anulado a capacidade de entendimento da natureza criminosa de um
ato; se o sujeito padece de depressão como alega no seu pedido de aposentadoria;
se há um transtorno no controle dos impulsos que predispõe o sujeito a cometer
determinado delito; se existe alguma lesão ou disfunção neurológica que tenha de
alguma forma relação com o comportamento criminoso ou que incapacite o sujeito a
gerir a própria vida; quais as condições afetivas e relacionais apresentadas pelos
genitores que pleiteiam a guarda do filho, dentre outras várias demandas.
Deste modo, a demanda jurídica deverá ser transportada para a linguagem
psicológica para que se identifique as características que serão alvo de
investigação. Assim, para se avaliar a capacidade de entendimento de um sujeito o
psicólogo necessitará, por exemplo, avaliar sua inteligência, sua capacidade de
perceber a realidade de modo adequado e objetivo e o grau de coerência e lógica
dos seus pensamentos.
No momento da escolha dos testes psicológicos que irão compor a avaliação
pericial, há de se considerar as limitações e os alcances deles, no sentido de saber
se as informações que poderão ser extraídas destes auxiliarão na investigação das
questões psicológicas demandadas no processo judicial. Vamos considerar os
seguintes exemplos para gerar uma reflexão sobre o assunto: qual instrumento
psicológico é capaz de predizer qual genitor tem melhor capacidade para cuidar
adequadamente de uma criança para obter sua guarda? De esclarecer se há
indícios de que uma criança foi vítima de abuso sexual? De predizer o potencial de
reincidência criminal de um sujeito?
O psicólogo perito, diante destas demandas, deverá decompô-las em
construtos que poderão ser analisados através de testes psicológicos (lembrando
que deverá utilizar testes que estejam aprovados pelo SATEPSI) e escolher aqueles
que poderão responder a tais demandas.
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Como forma de ilustração em relação aos exemplos acima, o psicólogo


poderá optar por avaliar grau de controle emocional, impulsividade, presença de
traços antissociais, qualidade do relacionamento interpessoal, capacidade de
empatia, presença de autoestima rebaixada, entre outros e, para isso, deverá ter um
bom conhecimento dos testes psicológicos disponíveis para uso e do que é possível
se avaliar através dos mesmos.
Deste modo, dependendo da demanda específica de cada caso, alguns
instrumentos psicológicos serão escolhidos em detrimento de outros. Como outro
exemplo, nos casos em que é necessário aferir de modo específico o nível de
inteligência de um adulto para saber se está se encontra dentro da normalidade ou
se há a presença de algum grau de Retardo Mental, pode-se utilizar a Escala
Wechsler de Inteligência para Adultos (WAIS-III).
Se for necessário investigar funções neuropsicológicas, pode-se utilizar as
Figuras Complexas de Rey, Teste de Atenção Dividida, WISCONSIN, etc. De modo
geral, a avaliação neuropsicológica no âmbito forense terá como objetivo
diagnosticar os efeitos cognitivos, emocionais e comportamentais de uma desordem
neurológica e sua possível correlação com a esfera criminal ou cível (SERAFIM,
2006).
A capacidade de compreensão do caráter delituoso de uma ação ou a
capacidade de um sujeito para gerir a si próprio e os próprios bens são exemplos de
competências que podem ser diretamente afetadas por um rebaixamento na
capacidade intelectual do sujeito ou pela presença de disfunções cerebrais. Em
algumas perícias poderá ser necessário realizar um diagnóstico diferencial entre
uma síndrome psiquiátrica ou neurológica, e alguns aspectos não cognitivos da
conduta (desinibição, irritabilidade, impulsividade etc.) podem ser expressão de
alguma alteração no sistema nervoso central.
A avaliação da personalidade constitui-se na maior demanda relacionada às
perícias psicológicas: busca-se investigar o grau de controle dos impulsos,
características do relacionamento interpessoal, o controle emocional, recursos da
personalidade, agressividade, presença de psicopatologias, dentre outros.
No contexto pericial, os testes de personalidade projetivos apresentam uma
grande vantagem em relação aos testes de personalidade objetivos ou
psicométricos. Isto ocorre porque a avaliação psicológica pericial, diferentemente da
clínica, constitui-se num embate de interesses advindos dos sujeitos envolvidos no
processo judicial; busca-se demonstrar que se é um genitor capaz de prover as
necessidades do filho; que se é portador de Esquizofrenia que o incapacita ao
trabalho; que não apresenta tendência a comportamentos violentos, etc.
O psicólogo perito deve estar sempre muito atento a estas características do
trabalho pericial e buscar cercar-se de estratégias avaliativas que sejam adequadas
a este contexto, a fim de diminuir a possibilidade de que o examinado distorça
intencionalmente a apresentação dos dados.
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Os testes de personalidade objetivos geralmente oferecem poucas


informações úteis em contextos forenses (GACONO; EVANS; VIGLIONE, 2008).
As assertivas objetivas dos testes de personalidade psicométricos facilitam,
por parte do examinando, a produção ou simulação de
traços/sintomas/características que ele não possui. Por exemplo, se a avaliação
pericial for para analisar um pedido de indenização por danos psíquicos onde o
requerente alega sofrer de Depressão, o Inventário de Depressão de Beck (BDI)
poderia facilitar um resultado do tipo falso positivo, pois ao responder o teste o
examinando, sem dificuldade, consegue escolher as assertivas que melhor
caracterizam uma personalidade que se encontra em um estado depressivo.
O mesmo acontece com as tentativas de encobrimento ou dissimulação de
traços/sintomas/características que se possui; em um exame de cessação de
periculosidade, o uso do Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço
(STAXI) facilitaria ao sujeito manipular os resultados favoravelmente aos seus
interesses. Deste modo, os testes projetivos constituem-se como um método
bastante apropriado para se obter dados a respeito das características de
personalidade de um periciando, pois as possibilidades de simulação ou
dissimulação de características apresentam-se mais reduzidas quando comparadas
às entrevistas ou aos testes de personalidades objetivos.
Serão as coerências ou incoerências entre os fatos relatados nos autos do
processo, nas entrevistas, no comportamento não verbal do examinando e nos
resultados dos testes psicológicos que nortearão o psicólogo na análise de questões
relacionadas à simulação ou dissimulação.
​Base Legal da Perícia Psicológica - Diferenças entre a avaliação
psicológica e perícia (avaliação psicológica em contexto forense):

I) Em relação ao seu objeto: é a questão pertinente que a avaliação trata de


investigar, ou posto de outra forma, trata-se de um problema a resolver (Maloney
and Ward (apud Grisso, 1986, p. 105; Cunha, J. A., 2000, p. 19), uma questão a
responder. Lembremos que a Psicologia funciona por meio da busca de uma
resposta a uma pergunta específica (Qual é a inteligência do fulano? por exemplo).
II) Em relação ao objetivo: será dado pela demanda que é feita ao psicólogo
em sua avaliação. Por exemplo, em casos de disputa de guarda em Vara de
Família, recorrese ao perito psicólogo no intuito de buscar respostas a
questõesproblemas de origem e natureza psicológicas, mas cujo objetivo final é
definir o guardião legal da criança: Quem tem as melhores condições psicológicas
para o exercício da guarda?
A resolução do problema que a avaliação psicológica visa sempre recairá
sobre um sujeito (Shine, 2003). A abordagem da Psicologia se caracteriza, então,
pela dimensão intersubjetiva; em última instância o objeto da Psicologia é sempre
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pertinente ao sujeito. Portanto, toda a questão técnica implica, necessariamente, em


uma posição ética em relação ao sujeito-objeto da avaliação e ao demandante dela.
Sujeito-objeto:​ quem vai ser avaliado.
Demandante:​ quem solicita a avaliação.

A partir das distinções acima, apresenta exemplos em que se configuram as


diferenças entre a atuação do Psicólogo no enquadre clínico e no enquadre jurídico
e os tipos de problemas que tendem a surgir neste campo.
● Resolução CFP Nº 008/10 - Dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito
e assistente técnico no Poder Judiciário.
● Resolução CFP Nº 010/10 - Institui a regulamentação da Escuta Psicológica
de Crianças e Adolescentes envolvidos em situação de violência, na Rede de
Proteção. [SUSPENSA] • Resolução CFP nº 017/12 - Dispõe sobre a atuação
do psicólogo como Perito nos diversos contextos.
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PERÍCIA CIVIL

Especificamente, no caso da atuação dos psicólogos na área da justiça, o


Código de Processo Civil traz importantes questões que, felizmente, têm mobilizado
discussões nos órgãos da classe.
Como inovação temos o artigo 156 que diz que o juiz será, e enfatizo — será
—, assistido por perito quando a prova ou fato depender de conhecimento técnico
ou científico. Uma devida valorização do conhecimento próprio ao psicólogo nas
demandas que envolvem questões de família.
Podem ser nomeados peritos os profissionais legalmente habilitados e, como
inovação, os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro
mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Caberá aos tribunais a avaliação
para manutenção do cadastro.
Avaliação cujos critérios, acredito, devam necessariamente ser objeto de
discussão com as respectivas categorias profissionais. O artigo 464 define a prova
pericial como exame, vistoria ou avaliação. Ademais desta função, é preciso dizer
que o trabalho realizado pelos psicólogos muitas vezes tem, além da perícia, um
caráter de intervenção.
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Está guarda uma relação, mas que não se confunde, com a mediação e a
conciliação. Institutos que têm enquadramentos específicos e profissionais não
necessariamente formados em psicologia.
Assim, no âmbito das perícias podem ocorrer intervenções com o uso de
técnicas próprias à psicologia, e que em muito contribuem para a elaboração dos
conflitos e solução dos litígios.
Para citar algumas: a conscientização do significado e das consequências
das disputas, sobretudo, para os filhos; mediação das relações com o fortalecimento
dos vínculos; a prevenção de transtornos psíquicos ou de seu agravamento;
acompanhamento da situação objeto do litígio; recomendação de psicoterapias
específicas às situações analisadas.
No parágrafo 2º consta que o juiz poderá determinar a produção de prova
técnica simplificada, com a inquirição de especialista, quando o ponto controvertido
for de menor complexidade. Uma inovação cuja definição a priori é um tanto difícil
quando se trata de questões inerentes à avaliação psicológica, uma vez que, em
geral, é no curso da perícia que a complexidade pode ser avaliada. Mas a prática o
dirá. Como também a experiência indicará, acredito, a necessidade da presença de
assistente técnico na inquirição de especialista.
Mas é o artigo 466 que traz importante controvérsia quanto ao concurso do
assistente técnico no campo da psicologia. Diz o parágrafo 2º: “O perito deve
assegurar aos assistentes das partes o acesso e o acompanhamento das
diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, comprovada nos
autos, com antecedência mínima de cinco dias”.
Já a resolução 008/2010 do Conselho Federal de Psicologia que trata a
respeito da atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder
Judiciário, aponta que os assistentes técnicos são de confiança da parte para
assessorá-lá e, sublinho, garantir o direito ao contraditório. No entanto, observo que
no Capítulo I – Realização da Perícia, o artigo 1º diz que “o psicólogo perito e o
psicólogo assistente técnico devem evitar qualquer tipo de interferência durante a
avaliação que possa prejudicar o princípio da autonomia teórico-técnica e
ético-profissional, e que possa constranger o periciando durante o atendimento”.
E diz o artigo 2º: “O psicólogo assistente técnico não deve estar presente
durante a realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento
do psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e
qualidade do serviço realizado” (grifos meus).
Certo é que não há de se questionar a hierarquia das normas. No entanto,
cabem algumas considerações e, quiçá, a ponderação de princípios para que a
diferença entre o CPC e a referida resolução seja devidamente sopesada. Minha
experiência como perita e como assistente técnica recomendam cautela e
amadurecimento quanto a esta questão, e que deve ser considerada caso a caso.
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E com este caráter faço as considerações a seguir. Há uma característica da


avaliação psicológica que implica na exploração de questões da intimidade, e a
exposição de aspectos muitas vezes desconhecidos e mesmo negados, inclusive
inconscientemente. Cuida-se aqui da preservação da intimidade e mesmo de
questões de dignidade.
O vínculo com o perito, sem a presença de assistentes técnicos, poderia
gerar uma relação de maior confiança, menor constrangimento e terreno fértil para
uma possível intervenção do perito e resolução do litígio. E é certo que pode ser
mais constrangedor que a avaliação se dê na presença de assistentes técnicos.
Estas são algumas razões pelas quais as perícias psicológicas não deveriam ser
acompanhadas pelos assistentes técnicos.
Mas, por outro lado, a presença dos assistentes também poderia, por
exemplo, trazer maior segurança pessoal aos assistidos, inibir a tentativa de
manipulação do perito, efetivamente colaborar com este na avaliação de questões
prenhes de subjetividade, além de possibilidade de acompanhar e, se for o caso,
criticar a produção da prova.
Pondero que, neste último aspecto, o novo código traz algumas
salvaguardas, especificando no artigo 473 o que o laudo pericial deverá conter,
garantindo-lhes melhor qualidade e possibilidade de crítica (exposição do objeto da
perícia; análise técnica ou científica realizada pelo perito; indicação do método
utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos
especialistas da área do conhecimento da qual se originou; resposta conclusiva a
todos os quesitos).
Mas é certo que sem o acesso às entrevistas, o trabalho do assistente
técnico é dificultado e muitas vezes chega a ser cerceado pela falta de acesso às
partes, ficando muitas vezes sua credibilidade diminuída. Do meu ponto de vista, tal
situação corrobora para que, muitas vezes, os laudos críticos se assemelham mais
a uma defesa das partes, com considerações indevidas e coibidas pela ética dos
psicólogos, em vez de serem trabalhos de compreensão da dinâmica psicológica
que se encontra em jogo no litígio em exame.
O resultado pode ser, então, uma descabida parcialidade, do ponto de vista
da psicologia. Aponto a indevida parcialidade porque no campo de análise da
psicologia as relações devem ser vistas como necessariamente complementares,
envolvendo aspectos conscientes e inconscientes.
Ou seja, não cabe uma visão maniqueísta e excludente de certo ou errado,
ou mesmo de são ou doente, assim como não cabe a mera defesa de uma parte em
detrimento da outra. Tal postura de assistentes técnicos pode trazer sérios prejuízos
à dinâmica familiar e resolução dos litígios.
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E, finalmente, quanto ao acompanhamento das entrevistas, quase


desnecessário seria dizer que todo o cuidado é pouco quando se cuidam de
avaliações que envolvam crianças e adolescentes, vulneráveis que são aos traumas
e sua repetição que pode se dar com as avaliações. Finalmente, como inovações
expressas, temos ainda, o artigo 471 parágrafo 3º, segundo o qual “a perícia
consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria realizada por perito
nomeado pelo juiz”.
E no artigo 472 consta que: “O juiz poderá dispensar prova pericial quando as
partes, na inicial e na contestação, apresentarem sobre as questões de fato,
pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes”. Assim,
ganham valor a escolha consensual e os pareceres e laudos prévios.
As questões, confusões e discussões estão apenas em seu início, mas
acredito ser um cenário promissor, com a valorização e o reconhecimento da
importância do operador da saúde, caminhando ao lado da eficácia que deve pautar
sua atuação, segundo a ética profissional, e em consonância com o novo Código de
Processo Civil. De fato, as atividades da Perícia Criminal são definidas em norma
que altera a Lei Orgânica da Polícia Civil,Lei Complementar de nº 113/2010, no seu
Anexo V, da seguinte maneira:
“IV.3 - ​Perito Criminal:
a) a realização de exames e análises, no âmbito da criminalística,
relacionados à física, química, biologia legal e demais áreas do conhecimento
científico e tecnológico;

b) a análise de documentos, objetos e locais de crime de qualquer natureza


para apurar evidências ou colher vestígios, ou em laboratórios, visando a fornecer
elementos esclarecedores para a instrução de inquérito policial, procedimentos
administrativos ou processos judiciais criminais;

c) ​a emissão de laudos periciais para determinação da identificação criminal


por meio da datiloscopia, quiroscopia, podoscopia ou outras técnicas, com a
finalidade de instruir procedimentos e formar elementos indicativos de autoria de
infrações penais;

d) o cumprimento de requisições periciais pertinentes às investigações


criminais e ao exercício da polícia judiciária, no que se refere à aplicação de
conhecimentos oriundos da criminalística, com a elaboração e a sistematização dos
correspondentes laudos periciais para a viabilização de provas objetivas que
subsidiem a apuração de infrações penais e administrativas;

e) o exame de elementos materiais existentes em locais de crime, com


prioridade de análise, a orientação para abordagem física correspondente e a
interação com os demais integrantes da equipe investigativa;
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f) a constatação da idoneidade e da inviolabilidade de local, bens e objetos


submetidos a exame pericial, sob a garantia da autonomia funcional, técnica e
científica a ser assegurada pelo Delegado de Polícia.”

Como se pode facilmente


perceber, todas as alíneas acima,
constitutivas da finalidade da
Polícia Técnica, se referem a
investigação policial, infrações
penais e processos criminais, não
lhes incumbindo por lei, nada que
extrapole essa específica seara.
Além disso, a regra do artigo 434
do CPC, que possibilita ao
magistrado requisitar técnicos de
estabelecimentos oficiais, não pode
ser entendida como de validade
absoluta, posto que relativizada no
seu próprio texto com a expressão
“de preferência” e também tem que
ser interpretada de forma
sistemática, considerando-se o
universo administrativo onde
deve/pode ser aplicada.
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PSICOLOGIA DA POLÍCIA

● Psicologia aplicada à investigação criminal – nome


corrente nas instâncias policiais para o uso da
psicologia, psiquiatria e ciências afins para o auxílio
às forças policiais na persecução penal.
● Em geral está na Polícia Científica ou Civil
● Incipiente no Brasil

No caso dos estudos em Psicologia sobre o


processo investigativo, vale lembrar que o saber psicológico clássico esteve
relacionado a uma concepção patologizante, individualizante e causal dos
processos interacionais (Martins, 2008).
Torna-se preocupante a reprodução da lógica positivista no campo de
estudos em Psicologia, visto que fornece subsídios ao campo jurídico e policial para
validar práticas do Estado que costumam desconsiderar aspectos sociais, contextos
culturais e atravessamentos nos modos de subjetivação de pessoas que se
encontram inseridas num processo de violência (Brizola, & Zanella, 2015).
Percebem-se práticas hegemônicas em Psicologia a compartilhar interesses e
finalidades semelhantes com as do Direito Penal, a exercer uma variada gama de
opressões junto a sociedade.
Desta correlação surgem dificuldades teórico-metodológicas sobre o campo
da Psicologia em interface com a justiça. Torna-se notória a existência de uma
ampla relação entre Psicologia e Segurança Pública, principalmente quando a
intersecção entre ambas as áreas se debruça sobre a assistência aos processos de
violência. Assim, um olhar ampliado sobre esse tema torna-se fundamental, de
forma que a ciência psicológica não naturaliza a violência e venha a superar a
relação dicotômica de vítima e agressor e contribuindo com um viés sistêmico à
análise do fenômeno (Nobrega, Gerlach, Oliveira, Bortoluci, & Beiras, 2017).

Mesmo considerando que o processo de investigação policial demanda um


trabalho sob olhar de diferentes profissionais, este artigo aprofundará o âmbito do
cargo de psicólogo policial, buscando identificar as potencialidades de atuação da
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Psicologia na polícia civil especificamente, atrelado a um paradigma social crítico


jurídico.
Busca-se diretamente identificar quais seriam as possíveis formas de realizar
um atendimento sócio jurídico crítico pela Psicologia no contexto destas delegacias,
tendo por norteadores os conceitos de violência e feminismos.
Em outras palavras, este relato de experiência atrelada à DPCAMI possui a
proposta de identificar formas de atuação da psicologia policial em consonância com
os pressupostos de uma Psicologia Social Jurídica, enquanto promove justiça e
cidadania sob o enfoque do compromisso social e dos direitos humanos, em
realidades permeadas por violências e machismos.
Foi para garantir a sobrevivência que o homem se organizou em grupos.
Essa necessidade de segurança, de acordo com Marcineiro e Pacheco (2005),
representou uma das causas mais importantes para o agrupamento social
apresentado nos diversos momentos pelos quais a humanidade já vivenciou.
“Ao longo dos anos, com a evolução dos valores morais da sociedade, é
possível constatar que houve também a evolução da ideologia que norteia as ações
das Polícias.” (MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p. 58) A Polícia como instituição,
para Rico e Salas (1992, p. 73), nasceu da necessidade social de segurança.
Segundo os autores:

A polícia é, [...], uma instituição social cujas origens remontam às primeiras


aglomerações urbanas, motivo pelo qual ela apresenta a dupla originalidade de ser
uma das formas mais antigas de proteção social, assim como a principal forma de
expressão da autoridade.
Encontra-se, portanto, intimamente ligada à sociedade pela qual foi criada, e
seus objetivos, a sua forma de organização e as suas funções devem adaptar-se às
características sóciopolíticas e culturais da comunidade em que ela deverá atuar.

Com o decorrer dos anos, com o aumento das garantias de direitos a


mulheres, crianças e adolescentes e idosos, e com a grande demanda desse
público emergiu a necessidade de um atendimento especializado que a delegacia
comum já não estava dando conta.
Alguns fatores contribuíram muito para o surgimento de delegacias especializadas
no atendimento a essa demanda a partir de 1985 no Brasil. Conforme Pasinato e
Santos (2008), os fatores referem-se à expansão dos movimentos feministas no
início dos anos de 1970, a transição política do governo militar para o civil e da
redemocratização do Estado, fazendo com que fossem criadas novas leis e
instituições que pudessem corresponder a um Estado de Direito Democrático e ao
reconhecimento dos direitos dos brasileiros. Concomitantemente, Cunha (2008, p.
55) enfatiza que:
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[...] Um dos propósitos de sua criação [Delegacia de Proteção à Mulher] foi garantir
atenção especializada às mulheres que procuravam as delegacias de polícia e
frequentemente eram submetidas a tratamentos vexatórios e negligentes. De fato, a
criação das delegacias especiais motivou muitas mulheres a denunciar, publicitando
o problema da violência contra a mulher - mormente a doméstica e a sexual e
questionando, dentre outros preconceitos, os fundamentos da máxima “em briga de
marido e mulher não se mete a colher” [...]

A criação de uma Delegacia Especializada de Proteção à Criança,


Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) surgiu pelo interesse de diversos policiais
civis em realizar um trabalho diferenciado de atendimento às vítimas. (CÓRDOVA et
al., 2010) Apesar de ter anos de existência, para Silva (1992), a Delegacia
Especializada (DE) não atende completamente os objetivos que a pautam.
A demanda social que os índices de violência contra as mulheres, crianças e
idosos requerem ainda não é completamente atendida pelos serviços prestados por
estas delegacias. De acordo com a Secretaria de Política para as Mulheres
(BRASIL, 2011), a atuação das delegacias deve estar pautada em princípios
básicos, como o princípio da prioridade dos direitos humanos; princípio da
igualdade, não discriminação e do direito a uma vida sem violência; princípio do
atendimento integral; princípio da agilidade e princípio do acesso à justiça.
É necessário que a qualidade do serviço prestado pela DE, mais qualificada e
humanizada, seja capaz de atender as questões trazidas pela demanda, elevando o
padrão de qualidade do acolhimento e encaminhamento. Segundo Rech (2003 apud
FORTES, 2004, p. 31), humanizar “[...] é tratar as pessoas levando em conta seus
valores e vivências como únicos, evitando quaisquer formas de discriminação
negativa, de perda da autonomia, enfim, é preservar a dignidade do ser humano.”
O papel de humanização nos serviços prestados pela DE, é por excelência
uma função que pode ser exercida pelo psicólogo, segundo autores pesquisados;
porquanto, ser ouvida e acreditada sem julgamentos é uma condição essencial.
Em uma DE, existem vários profissionais atuando e envolvidos na execução
das tarefas, dentre eles, delegados de polícia, escrivães e agentes policiais.

Devem realizar todos os procedimentos policiais cabíveis para a elucidação de


notícia de fato que se configure infração penal sob sua atribuição investigativa e
adotar medidas protetivas, bem como encaminhar a mulher atendida para a Rede
de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. (BRASIL, 2006a, p. 25)
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Estas atividades de cunho prático e objetivo incluem além do cumprimento da


lei, outras ações mais subjetivas como entender, lidar sobre as questões
psicológicas envolvidas no delito, até encaminhar ao local correto a demanda
atendida. O policial civil tem como descrição de seu cargo:

Investigar crimes; elaborar perícias de objetos, documentos e locais de crime;


planejam investigações; efetuam prisões, cumprindo determinação judicial ou em
flagrante delito; identificam pessoas e cadáveres, coletando impressões digitais,
palmares e plantares. Atuam na prevenção de crimes; gerenciam crimes,
socorrendo vítimas, intermediando negociações e resgatando reféns; organizam
registros papiloscópicos e custodiam presos. Registram informações em laudos,
boletins e relatórios; colhem depoimentos e prestam testemunho. (BRASIL, 2002)

Por outro lado, o psicólogo jurídico, ainda de acordo com Brasil (2002),
possui sua descrição de cargos baseada em:

Estudar, pesquisar e avaliar o desenvolvimento emocional e os processos mentais e


sociais de indivíduos, grupos e instituições, com a finalidade de análise, tratamento,
orientação e educação; diagnosticam e avaliam distúrbios emocionais e mentais e
de adaptação social, elucidando conflitos e questões e acompanhando o(s)
paciente(s) durante o processo de tratamento ou cura; investigam os fatores
inconscientes do comportamento individual e grupal, tornando-os conscientes;
desenvolvem pesquisas experimentais, teóricas e clínicas e coordenam equipes e
atividades de área e afins.

Neste momento de expansão da Psicologia Jurídica como uma das áreas da


profissão que atuam diretamente no Sistema de Garantia de Direitos da Infância e
da Juventude, da Família, das Mulheres, dos Idosos, faz-se relevante refletir sobre a
maneira como o psicólogo se posiciona diante da complexidade dos fenômenos
psicológicos, expressos em questões jurídicas (JACÓ-VILELA, 1999).
Ainda que haja uma hierarquia funcional na polícia, é inexorável que o
conjunto de servidores da delegacia integrem suas áreas de conhecimento
possibilitando efetividade no serviço prestado a comunidade.

Para o Conselho Federal de Psicologia (2013, p. 77), “é fundamental o


reconhecimento do trabalho em equipe multiprofissional, considerando as
especificidades que o enfrentamento da violência requer”, devendo estabelecer
reflexões com a demanda em situação de violência sobre a importância da
organização coletiva e política na busca pela garantia de direitos.
O trabalho do psicólogo na área jurídica, foi criada em 1985, de acordo com
Córdova et al (2010), a Lei 6.704 que denomina o cargo “Psicólogo Policial” e sua
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respectiva descrição de cargo; dentre elas, realizar avaliações psicológicas,


atendimento em psicoterapia, perícia psicológica e demais atividades correlatas aos
servidores da polícia civil.
O cargo de “Psicólogo Policial” é admitido a partir de concurso público
específico para o cargo, onde é realizado, normalmente, prova escrita, prova de
aptidão física, prova baseada em testes psicológicos e exame toxicológico.
Os aprovados no concurso público realizam cursos na Academia de Polícia
(ACADEPOL) para aperfeiçoar os conhecimentos técnicos do cargo, bem como
realizar treinamentos para a utilização de armas e outros equipamentos pertinentes
a Polícia Civil. Aponta Mendonça (2003) que um dos benefícios do papel do
psicólogo em delegacias está no fato de pessoas que procuram este serviço se
sentirem acolhidas no momento em que surge a necessidade, por estarem
desorientadas, ou simplesmente quando, segundo o autor, precisam “desabafar”
com alguém, lhes proporcionando a diminuição da ansiedade e uma oportunidade
de escutarem a si mesmas.
É notório, com base nos autores pesquisados como Mendonça (2003), que a
presença de um psicólogo policial em DE se faz necessário, contudo, cabe
questionamentos para entender como este profissional “psicólogo policial” é
percebido pelos demais profissionais na equipe de trabalho.
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As delegacias especializadas

O Estado, para
preservar a Ordem
Pública, segundo
Marcineiro e Pacheco
(2005), faz valer seu
poder de polícia por meio
de suas instituições
policiais, judiciárias e
penitenciárias,
organizadas de modo
sistêmico. Para Silva
(1992, p. 105), a “[...]
finalidade básica da
polícia civil é a
preservação da ordem jurídica, da paz social e a garantia dos direitos e liberdades
do cidadão.” Define Lazzarini et al (1987, p. 20) o conceito de polícia como,

O conjunto de instituições, fundadas pelo Estado, para que, segundo as prescrições


legais e regulamentares estabelecidas, exerçam vigilância para que se mantenham
a ordem pública, a moralidade, a saúde pública e se assegure o bem-estar coletivo,
garantindo-se a propriedade de outros direitos individuais.

Polícia é então, a organização administrativa que tem por atribuição impor


limitações à liberdade e manutenção da ordem pública. Conforme Brasil (1986)
compete a Polícia Civil,

Art. 3º À Polícia Civil, I - prevenir, reprimir e apurar os crimes e contravenções, na


forma da legislação em vigor; II - coordenar e executar as atividades relativas à
Polícia Administrativa e Polícia Técnica e Científica. Art. 4º Os funcionários ou
servidores não integrantes da Policia Civil, quando no exercício de função
policial-civil, ficam sujeitos às normas desta lei, no que couber. Art. 5º A
estruturação e constituição da Policia Civil é objeto de lei específica.

Segundo Córdova et al (2010), é considerada Delegacia “Especializada”, uma


vez que foi instituída para atender um público específico, considerado no
ordenamento jurídico como crimes que necessitam de abordagem diferenciada.
Existem diversas DE no Estado de Santa Catarina, como por exemplo, Delegacia de
Defraudações, Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos e Cargas, Delegacia
Antissequestro, Delegacia de Pessoas Desaparecidas, Delegacia de Repressão a
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Entorpecentes e Delegacias de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso.


(SANTA CATARINA, 2010)
A implantação das Delegacias Especializadas foi de grande conquista social
e importante no combate à violência seja ela contra crianças, adolescentes,
mulheres e idosos.

A delegacia especializada constitui-se, pois, em um mecanismo importante


atual da sociedade brasileira, como instância (educativa e repressiva) de combate à
violência [...], no conjunto de esforços que operam no sentido de romper barreiras
do silêncio e da cumplicidade diante desse fenômeno. (SILVA, 1992, p. 172)

Dentre as muitas delegacias especializadas, encontra-se a Delegacia de


Proteção à Mulher, as quais “[...] surgiram no intuito de atender os casos de
violência específica cometida contra as mulheres [...] estimulando as vítimas a
denunciarem os maus tratos sofridos.” (DIAS, 2007, p. 22).
A primeira delegacia de proteção à
mulher foi criada em 06 de agosto de 1985
em São Paulo, segundo Silva (1992). O seu
surgimento serviu de referência para a
criação de outras delegacias
especializadas pelo país. Segundo o
mesmo autor, na década de 70 havia uma
busca pela democratização de instituições
e os movimentos feministas foram se
tornando públicos, com lutas em diversos
campos, entre eles a questão social da
violência contra a mulher.
O Estado conta atualmente, com 28 delegacias de proteção à mulher.
Somente no estado de Santa Catarina, no ano 2013 foram instaurados 11713
inquéritos policiais, 68 Termos Circunstanciados e 3.220 Autos de Prisão em
Flagrante pelas DPCAMI’s, tendo como vítima a mulher. (SANTA CATARINA,
2014). Estes números revelam a importância dos órgãos especializados de
atendimento à mulher no contexto da Segurança Pública no Estado e no País. A
violência de acordo com Santos (2010, p. 239), é um mecanismo de opressão e
subjugação do outro, que visa impor a uma pessoa determinadas normas e formas
de agir. A violência para Chauí apud Azevedo (1985, p. 18) é,
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Uma realização determinada das relações de força tanto em termos de classes


sociais quanto em termos interpessoais. Em lugar de tomarmos a violência como
violação e transgressão de normas, regras e leis preferimos considerá-la sob dois
outros ângulos. Em primeiro lugar, como conversão de uma diferença e de uma
assimetria numa relação hierárquica de desigualdade com fins de dominação, de
exploração e de opressão. Isto é, a conversão dos diferentes em desiguais e a
desigualdade em relação entre superior e inferior. Em segundo lugar, como a ação
que trata um ser humano não como sujeito, mas como uma coisa. Esta se
caracteriza pela inércia, pela passividade e pelo silêncio de modo que, quanto a
atividade ou a fala de outrem são impedidas ou anuladas há violência.

A violência é, portanto, uma relação de força caracterizada, pela dominação e pela


coisificação. É nesta perspectiva que é realizado o atendimento as demandas da
delegacia envolvendo crianças, adolescentes, mulheres e idosos.

Demandas atendidas na delegacia de proteção à criança, adolescente, mulher


e idoso. ​A demanda da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e
Idoso é específica. Sendo assim, a seguir escrever-se-á sobre cada uma.
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Criança e Adolescente

O Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), Lei n°
8.069, de 13 de julho de 1990,
dispõe sobre a proteção integral
à criança e ao adolescente,
estabelece que crianças e
adolescentes sejam
considerados “sujeitos de
direitos, que vivenciam condições especiais e particulares, cujo desenvolvimento
físico, mental, moral e social deve ser garantido em condições de liberdade e de
dignidade”. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009, p. 14)
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente é determinado para
tratamento legal quem são as crianças e os adolescentes. Definido pela idade se
estabelece os limites de que até 12 anos de idade incompletos, é considerado
criança; e entre os 12 aos 18 anos de idade são considerados adolescentes.
(BRASIL, 1990) O Estatuto assegura que as crianças e os adolescentes consigam
ser tratados como sujeitos de direito, com o intuito de criar uma nova política para
atender a infância e a juventude, tendo como base a constituição com o princípio da
descentralização política-administrativa, conforme observa Digiácomo e Digiácomo
(2013):

Formulado com o objetivo de intervir positivamente na tragédia de exclusão


experimentada pela nossa infância e juventude, o Estatuto da Criança e do
Adolescente apresenta duas propostas fundamentais, quais sejam: a) garantir que
as crianças e adolescentes brasileiros, até então reconhecidos como meros objetos
de intervenção da família e do Estado, passem a ser tratados como sujeitos de
direitos; b) o desenvolvimento de uma nova política de atendimento à infância e
juventude, informada pelos princípios constitucionais da descentralização
político-administrativa (com a consequente municipalização das ações) e da
participação da sociedade civil.
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O Estatuto assegura que nenhuma criança ou adolescente passe por


qualquer forma de discriminação, exploração, violência entre outras garantias, assim
descreve Viegas e Rabelo (2011, p. 1):

Dispõe, ainda, que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, por
qualquer pessoa que seja, devendo ser punido qualquer ação ou omissão que
atente aos seus direitos fundamentais. Ainda, no seu artigo 7º, disciplina que a
criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

O Estatuto da Criança do Adolescente prevê ainda que:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária. (BRASIL, 1990)

Em linhas gerais, a violência contra crianças e adolescentes pode ser dividida


nas dimensões intrafamiliar e extrafamiliar. De acordo com o Conselho Federal de
Psicologia (2009), a violência intrafamiliar configura-se quando há um laço familiar,
ou relação de responsabilidade entre vítima e autor/a da violência, e, extrafamiliar
ocorre se o autor da violência não possui laços familiares ou de responsabilidade
com o violado. Em relação às formas de apresentação, “[...] a violência contra
crianças e adolescentes pode ser classificada como: negligência, violência física,
violência psicológica e violência sexual.” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA,
2009, p. 36)
Para lidar com a demanda de crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade, o código de Ética Profissional do Psicólogo destaca os seguintes
princípios fundamentais:

I. ​O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da


dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que
embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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II. O psicólogo trabalhará visando a promover a saúde e a qualidade de vida das


pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005, p. 7)

Há necessidade de serem discutidas as políticas que orientam os Serviços de


Enfrentamento à Violência, Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e
Adolescentes, para assim, conforme o Conselho Federal de Psicologia (2009),
garantir que os serviços atuem plenamente no sentido de desenvolver o potencial
para o enfrentamento à violência contra as crianças e adolescentes.

​Mulher

As Nações Unidas definem violência contra


a mulher como “[...] qualquer ato de violência
baseado na diferença de gênero, que resulte em
sofrimento e danos físicos, sexuais e psicológicos
da mulher; inclusive ameaças de tais atos, coerção
e privação da liberdade seja na vida pública ou
privada.” (CONSELHO SOCIAL E ECONÔMICO,
1992). A violência contra a mulher é considerada
um problema de saúde pública, assim como uma
violação dos direitos humanos. Em Brasília, no dia
07 de agosto do ano de 2006, as mulheres ganharam um reforço na garantia da sua
integridade física, psíquica e moral.
Foi sancionada a Lei nº 11.340, conhecida popularmente como a Lei Maria
da Penha. Esta Lei é “[...] considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU)
como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência
contra as mulheres.” (BRASIL, 2012, p. 7)
Segundo Silva et al., (2010), a Lei Maria da Penha tem como foco as
diferentes formas de violência contra as mulheres, seja física, psicológica, sexual,
moral ou patrimonial. A Lei nº 11.340 segundo Brasil (2006b),
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[...] Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a


mulher, nos termos do § 8 o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de
Execução Penal; e dá outras providências. [...]

A referida Lei vem com o intuito de criar mecanismos que venham reduzir a
violência doméstica e familiar contra as mulheres, e punir de forma rígida quem as
cometam, além de criar juizados especiais para dar mais agilidade nesses casos. A
violência doméstica conforme o Art. 5º da mesma Lei é considerada:

Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - ​no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. (BRASIL, 2006b)

A Lei Maria da Penha incentiva mais mulheres em situação de violência a


denunciar a situação sofrida estabelecendo como um de seus principais objetivos a
proteção a fim de resgatar o direito da Mulher de viver com dignidade. Afirma
Erdmann (1998 apud DEEKER et al, 2010, p. 222) que,

As queixas de agressões físicas e ameaças efetuadas por mulheres e Delegacias


Especializadas de Atendimento à Mulher contra seus parceiros, denunciam uma
forma de solicitação de ajuda, um pedido de socorro num lugar em que procuram
serem cuidadas e confortadas. A obtenção de conforto por parte das solicitantes
inclui a habilidade de confiarem, de serem apoiadas, de obterem esperanças e
forças para enfrentarem a realidade com autonomia.

Há uma inquietação do ser humano em entender o fenômeno da violência


“[...] a fim de atenuá-la, preveni-la e eliminá-la da convivência social.” (BLANCO et
al., 2004, p. 7) Existe uma série de atividades que poderiam e deveriam ser postas
em prática com vistas à sua redução de seus danos.
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As ​Delegacias
Especializadas de
Atendimento à Mulher
foram uma experiência
pioneira, genuinamente
brasileira desde sua
criação e contribuíram
para dar visibilidade ao
problema da violência
contra a mulher,
especialmente aquela
ocorrida no ambiente
doméstico, no interior
das relações conjugais e
familiares, para o reconhecimento, pela sociedade, da natureza criminosa da
violência baseada em diferenças de gênero, a qual a mulher estava submetida; e
permitiu a institucionalização da política pública de prevenção, enfrentamento e
erradicação da violência contra a mulher no Brasil. (BRASIL, 2006a, p. 17)

As mulheres em situação de violência devem ser consideradas como sujeito


de direitos e merecedoras de atenção. Afirma Brasil (2006a) que os policiais
envolvidos no atendimento a esta demanda, devem ter escuta atenta, profissional e
observadora, de forma a propiciar o rompimento do silêncio e o isolamento, em
especial, dos atos de violência, aos quais estão submetidas.
Diante disso, Forcellini (2010) destaca que há necessidade de providenciar o
encaminhamento da ocorrência bem como dar suporte à vítima, de forma que ela
rompa os vínculos que permitem que a violência se repita. Apesar das conquistas
no que diz respeito ao reconhecimento e legitimação do problema, “[...] a violência
contra a mulher, ainda é frequente a banalização e a invisibilidade deste tipo de
violência nos diversos
âmbitos sociais e
institucionais.” (HANADA,
2007, p. 16). Mesmo com a
instituição de serviços, há
dificuldades na implantação
das políticas de
atendimento que garantam
efetivamente os direitos da
mulher.
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I​ doso
O Brasil, resultante da
dinâmica social, está
passando por alterações no
perfil da sua população,
conforme Camarano et al.,
(1999) o momento
demográfico por qual passa a
população brasileira se
caracteriza por baixas taxas
de fecundidade, aumento da
longevidade e urbanização
acelerada. Ainda segundo a
mesma autora, a interação desta transformação tem alterado a faixa etária das
pessoas, onde a população idosa está se elevando em relação aos demais grupos
etários.

Este fenômeno é chamado de envelhecimento populacional, pois se dá em


detrimento da diminuição do peso da população jovem no total da população
brasileira. Enquanto o envelhecimento populacional significa mudanças na estrutura
etária, a longevidade é um processo que se inicia no momento do nascimento e
altera a vida do indivíduo, a estrutura familiar e, certamente, a sociedade.
(CAMARANO et al, 1999, p. 1)

A elevação na expectativa de vida é uma grande conquista social, e de


acordo com Camarano et al (1999), os créditos são dados à evolução da medicina e
os serviços de saúde que estão mais acessíveis às pessoas nos dias de hoje. Não
apenas no Brasil, mas em inúmeros países a preocupação com o bem-estar do
idoso deixou de ser apenas uma questão individual passando a ser uma
preocupação coletiva.
O reconhecimento das pessoas que contribuíram e continuam contribuindo
com o desenvolvimento do país não pode ser descartado, e não deve ser tarefa
individual do Estado.

No Brasil, como na maioria das nações desenvolvidas, o envelhecimento da


população deixou de ser uma preocupação individual. Promover o bem-estar dos
idosos é mais que uma tarefa do Estado. É o reconhecimento de toda a sociedade
àqueles que contribuíram e ainda contribuem para a construção deste País.
(BRASIL, 2008, p. 5)
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O congresso aprovou em 2003 a Lei 10.741/03, conhecida como Estatuto do Idoso.


Um dos principais fatores que motivaram a criação da Lei foi o descaso da
sociedade com relação à pessoa idosa.

Sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de


outubro de 2003, a lei sedimenta e amplia direitos definidos em legislações
anteriores e na Constituição Federal, além de criar várias outras formas de proteção
aos idosos. Saúde, moradia, transporte, trabalho, educação, cultura, esporte, lazer,
cidadania, todos os aspectos para garantir uma vida digna a quem tanto já
contribuiu para o país estão contemplados no Estatuto. (BRASIL, 2010, p. 8)

A partir da publicação deste Estatuto, os idosos (considerado qualquer


pessoa com sessenta anos ou mais) passam a ter especialmente assegurados os
direitos constitucionais como o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à
cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
respeito e à convivência familiar e comunitária. É o que traz a Lei 10.741 em Brasil
(2003, p. 1):

Art. 3 o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público


assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania,
à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Por outro lado, o estatuto do idoso determina que os idosos terão certos
privilégios perante as pessoas de modo geral como indica o parágrafo único do
artigo 3º da Lei 10.741 traz que:

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: I – atendimento preferencial


imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de
serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas
sociais públicas específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas
áreas relacionadas com a proteção ao idoso; IV – viabilização de formas alternativas
de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V –
priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do
atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de
manutenção da própria sobrevivência; VI – capacitação e reciclagem dos recursos
humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos
idosos; VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de
informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de
envelhecimento; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de
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assistência social locais; IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto


de Renda. (BRASIL, 2003)

Todos os idosos passam a gozar do direito de proteção em todos os


aspectos sócio-econômico-jurídicos relevantes. Portanto os idosos, com o advento
do Estatuto, passam a ter assegurada a proteção à sua integridade física e moral,
além da sua integridade financeira, não permitindo a sua exclusão social.
Segundo autores pesquisados, verifica-se que o Estatuto do Idoso
proporciona a eles direitos, garantias e privilégios, que até o momento não se tinha,
retratando a sociedade injusta que relegava a pessoa idosa à margem da
sociedade.
O Estatuto do Idoso serve como parâmetro para provocar reflexões de como
o idoso é discriminado no país; entretanto, serve também como ferramenta para que
essa discriminação seja combatida por todos e rege: “[...] Art. 4 º Nenhum idoso será
objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou
opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na
forma da lei. [...]” (BRASIL, 2003)
Tendo em vista o que foi discutido até o momento sobre as Delegacias
Especializadas e suas demandas, bem como sobre o papel do psicólogo policial em
DE, reforça-se a necessidade de este estar inserido neste novo campo de atuação.

O Psicólogo na delegacia especializada

De acordo com Córdova e


Pinto (2010, p. 112), há “[...] em
Santa Catarina, desde julho de
1986 há a carreira de psicólogo
policial que atua nas mais
diversas áreas de segurança
pública [...]” realizando distintas
atividades. Os psicólogos policiais
do Estado estão inseridos em
diferentes áreas da Secretaria de
Segurança Pública, como afirma
Gomes (2007), eles atuam na Academia da Polícia Civil, em Delegacias Comuns,
Delegacias Regionais, Departamento de Trânsito, Instituto Médico Legal,
Penitenciárias e Delegacias de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso. 58
O psicólogo dentro de uma delegacia especializada faz parte de uma escala de
sobreaviso, na qual se realiza o primeiro atendimento das vítimas. Segundo
Córdova e Pinto (2010, p. 120) este trabalho é “[...] voltado à mediação ou
orientação psico-sócio jurídica [...]”, onde realiza-se uma a entrevista com base no
fato registrado no Boletim de Ocorrência. Ainda segundo os autores, há outros
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trabalhos realizados pelos psicólogos em delegacias tais como o auxílio às


autoridades policiais em investigações, palestras em comunidades com objetivo de
conscientização para que a violência diminua e realização de avaliação psicológica,
quando solicitado.

A relevância do profissional da psicologia estar atuando diretamente nesses casos,


já que possui a instrumentalização necessária para intervir numa dinâmica familiar
onde a violência se coloca medindo a relação entre seus integrantes. Caberia ao
psicólogo, entre outras coisas, disponibilizar outras estratégias de enfrentamento a
essas mulheres, bem como “desfazer” a crença de que a violência é uma forma
adequada de tentar acertar as diferenças entre as pessoas [...]. Ao intervir nessas
situações, o profissional da psicologia estará oportunizando que essas famílias
interrompam o ciclo de violência que se estabeleceu entre seus membros, evitando
que este legado se estenda para as futuras gerações. (SANTOS; MORÉ, 2010, p.
217)

O psicólogo da área jurídica precisa estar preparado para atender a demanda


como forma de minimizar o dano emocional sofrido pelas vítimas de violação de
direitos. Segundo Gomes (2007, p. 20), o profissional de psicologia pode contribuir
com “[...] intervenções que considerem a ligação do sujeito com a vida,
representações que ele faz das figuras de autoridade, quadros depressivos, o
código linguístico utilizado pelo sujeito com quem se pretende estabelecer um
diálogo.”
O psicólogo policial tem como um dos objetivos conforme a descrição e
especificação do cargo no Plano de Carreira da Polícia Civil,

Prestar, quando solicitado pela autoridade competente, atendimento psicológico à


criança, ao adolescente, à mulher, e/ou ao homem envolvidos em infração criminal
(na condição de vítima ou infrator) e, quando necessário, providenciar o
encaminhamento aos órgãos competentes; proceder, quando solicitado por
autoridade policial ou judiciária ou por membros do Ministério Público, apoio
psicológico e perícias na sua área profissional como avaliações, pareceres e laudos
psicológicos. (FORCELLINI, 2010, p. 302)

Conforme o Conselho Federal de Psicologia (2011, p. 30), “[...] compreender


a conjuntura na qual a violência ocorre e o significado que assume também é uma
diretriz fundamental para a atuação do psicólogo no atendimento à mulher em
situação de violência”. O rompimento do ciclo da violência igualmente induz à
necessidade de ressignificação dos processos de humilhação perpetuados.
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Os autores Córdova e Pinto (2010, p. 124), afirmam que “[...] o trabalho de


conscientização de seus direitos e o apoio as suas iniciativas mostra que a violência
é uma questão pública e que pode ser trabalhada em busca de uma transformação”.
A polícia como instituição é muitas vezes vista como ineficiente, omissa.
Por isso, de acordo com os mesmos autores:

Uma de nossas lutas na delegacia é a capacitação continua dos policiais destinados


ao atendimento desta clientela. Aliás, uma medida que devia ser estendida à todos
os policiais no seu no seu processo de treinamento na Academia de Polícia
(ACADEPOL). O “fazer polícia” nas “delegacias da mulher” parece não ser muito
legitimado pelos policiais, talvez pela fragilidade de sua formação e capacitações
recebidas na academia. (CÓRDOVA E PINTO, 2010, p. 124)

Oficialmente foi na década de 1990, segundo Deeker et al (2010), que o setor


de saúde assumiu os acidentes e a violência não apenas como uma questão social,
mas no campo de pesquisa na área da saúde coletiva.
Esta valorização incidiu em decorrência do impacto que provocavam na
qualidade de vida, pelas lesões físicas, psíquicas e morais sofridas por vítimas de
violência. Segundo Campos (2005), o suporte psicossocial é o conjunto de recursos
humanos e materiais que os serviços oferecem, numa perspectiva que vai além do
trabalho burocrático realizado por eles.
Por esta razão faz-se necessário o trabalho do psicólogo em delegacias. O
diálogo, traçado como procedimento sistemático e/ou experiência prática é
imprescindível para o resgate da dimensão corporal subjetiva, e para o processo de
emancipação de preceitos de sujeição da vida em prol da cidadania, (MANDÚ,
2002).
O processo de escuta ativa permite estabelecer relação de confiança entre a
vítima e o psicólogo, facilitando a superação da violência, violação de direitos, entre
outros.
De acordo com a literatura pesquisada, como Córdova et al (2010), Hanada
(2007), Gomes (2007) e Furniss (1993), percebe-se a importância de que os
profissionais de uma delegacia especializada trabalhem em conjunto para que haja
um efetivo atendimento às demandas da instituição. Como afirma o Conselho
Federal de Serviço Social (2009, p. 26),

A interdisciplinaridade, que surge no processo coletivo de trabalho, demanda uma


atitude ante a formação e conhecimento, que se evidencia no reconhecimento das
competências, atribuições, habilidades, possibilidades e limites das disciplinas, dos
sujeitos, do reconhecimento da necessidade de diálogo profissional e cooperação.
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A equipe profissional deve estar sempre em comunicação para que o


atendimento seja qualificado e humanizado. Não só o psicólogo deverá atender com
respeito e solidariedade; não obstante, o acolhimento é elemento importante para a
qualidade e a humanização da atenção, independe da demanda a ser atendida.
Brasil (2005) se refere ao atendimento às mulheres quando afirma que “[...] o
acolhimento pressupõe receber e escutar essas mulheres, com respeito e
solidariedade, buscando-se formas de compreender suas demandas e expectativas
[...]” (BRASIL, 2005, p. 13), mas este acolhimento, respeito e solidariedade precisam
ser estendidos a toda população atendida.
Com essas medidas, os servidores estarão dando qualidade ao serviço
policial “o que significaria torná-lo mais próximo e acessível ao cidadão,
respeitando-lhes as necessidades e desejos e considerando as díspares
peculiaridades de cada comunidade no planejamento e oferta do serviço policial.”
(MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p. 14)
Tendo em vista o que foi exposto até o momento sobre Delegacia de
Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso, torna-se imprescindível ao seu
funcionamento uma equipe multiprofissional integrada por profissionais
especializados em diversas áreas. Para o Conselho Federal de Psicologia (2011, p.
31), cabe aos psicólogos, “[...] promover alternativas que questionem o discurso
dominante e as práticas profissionais e situações pessoais que exercem esse tipo
de padrão social, avaliando os impactos nas subjetividades masculinas e femininas
em seus contextos de relações de poder.”
A violência exige da Psicologia:

Repensar suas práticas e modelos de intervenção tradicionais, especialmente os


modelos clínicos voltados para o inter psíquico, devendo agregar o desenvolvimento
de novas práticas que incorporem a perspectiva social, a clínica ampliada, a clínica
social ou ainda intervenções psicossociais articuladas com as práticas de outros
profissionais e serviços. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2011, p. 23)

A psicologia tem papel fundamental de intervenção psicossocial junto a


demanda das delegacias, carecendo desenvolver continuamente novas práticas
para que esta esteja articulada com outros serviços prestados pela instituição.
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A PSICOLOGIA E O DIREITO

Falaremos em Psicologia Jurídica, por


motivos já explicitados no artigo A Psicologia
Jurídica, uma área em expansão. Esta
especialidade é recém reconhecida pelo Conselho
Federal de Psicologia (Resolução n° 14/00 em
22/12/00), é uma área carente de bibliografia e as
pessoas que decidiram seguir por esse caminho
tem tido que desenvolver seus trabalhos através
de experiências próprias.
A iniciativa deste artigo é de trazer à baila
algumas questões pertinentes a área da
Psicologia Jurídica e fazer as pessoas pensarem sobre o tema. Também
notificamos que segundo a Lei 4119 (1962): “Art. 13 § 2º- é da competência do
psicólogo a colaboração em assuntos psicológicos ligados a outras ciências”
(BRASIL, 1999, p.16).
Portanto, explica-se a ligação da psicologia com o Direito, que foi designada
através da Resolução n° 014/00 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) ao
instituir o título profissional de especialista em psicologia e a delimitação das
atividades descritas como relativas a essa especialidade, dado presente no artigo
supracitado.
A Psicologia Jurídica fundamenta-se no percurso histórico de um conjunto de
intervenções especializadas no âmbito das necessidades do Estado de Direito, por
meio da aplicação de determinados princípios psicológicos e métodos periciais na
investigação de depoimentos, avaliação de perfis e processos psicopatológicos e no
entendimento de fenômenos psicológicos instalados ou manifestados no âmbito das
relações das pessoas com a Justiça e com as instituições judiciárias.
A Psicologia Jurídica é uma área de especialidade da Psicologia e, por esta
razão, o estudo desenvolvido nessa área deve possuir uma perspectiva psicológica
que resultará num conhecimento específico. No entanto, pode-se valer de todo o
conhecimento produzido pela ciência psicológica. Desta forma, o objeto de estudo
da Psicologia Jurídica seriam os comportamentos complexos (conductas complejas)
que ocorrem ou podem vir a ocorrer.
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Este recorte delimita e qualifica a ação da Psicologia como jurídica, pois


estudar comportamentos é uma das tarefas da Psicologia. Por jurídico,
compreende-se as atividades realizadas por psicólogos nos tribunais e fora dele, as
quais dariam aporte ao mundo do direito. Portanto, a especificidade da Psicologia
Jurídica ocorre nesse campo de interseção com o Direito.
A história nos mostra que a primeira aproximação da Psicologia com o Direito
ocorreu no final do século XIX e teve origem na avaliação da fidedignidade de
testemunhos (fazendo surgir o que se denominou “psicologia do testemunho”), fato
que contribuiu para o desenvolvimento da Psicologia Experimental no século XIX.
Esta tinha como objetivo verificar, através do estudo experimental dos processos
psicológicos, a fidedignidade do relato do sujeito envolvido em um processo jurídico.
Como diz Brito (1993), o que se pretendia era verificar se os “processos
internos propiciam ou dificultam a veracidade do relato”. Sobretudo através da
aplicação de testes, buscava-se a compreensão dos comportamentos passíveis de
ação jurídica.
A saber: “O testemunho de uma pessoa sobre um acontecimento qualquer
depende essencialmente de cinco fatores:
a) ​do modo como percebeu esse acontecimento;
b)​ do modo como sua memória o conservou;
c) ​do modo como é capaz de evocá-lo;
d)​ do modo como quer expressá-lo;
e)​ do modo como pode expressá-lo.” (MIRA Y LOPEZ, 1967, p. 159)

Esta fase inicial foi muito influenciada pelo ideário positivista, importante
nesta época, que privilegiava o método científico empregado pelas ciências naturais
(Jacó-Vilela, 1999; Foucault, 1996). Mira y Lopes, defensor da cientificidade da
psicologia na aplicação de seu saber e de seus instrumentos junto às instituições
jurídicas, escreveu o “Manual de Psicologia Jurídica” (1945), que teve grande
repercussão no ensino e na prática profissional do psicólogo até recentemente. Dar
relevância a estes dados históricos é importante para desenvolvermos uma reflexão
sobre a prática profissional de psicologia junto às instituições do direito e sobre as
mudanças que têm ocorrido principalmente após 1980, indicando novas
perspectivas para o século XXI.
Desta história inicial decorreu uma prática do profissional de psicologia
voltada quase que exclusivamente para a realização de perícia, exame
criminológico e parecer psicológico baseado no psicodiagnóstico, feito a partir de
algumas entrevistas e nos resultados dos testes psicológicos aplicados. Neste
tocante, segundo Castro (2005), percebe-se que a Psicologia Jurídica como uma
especialidade nasceu na Psicologia Clínica e, mais especificamente no campo da
avaliação psicológica.
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Os psicólogos que estão exercendo suas funções na Justiça estão


aperfeiçoando os métodos de avaliação, mensuração e diagnóstico. Existe uma
pista de mão dupla entre a avaliação psicológica e a psicologia jurídica e o
desenvolvimento de ambas as enriquece.
No final do século XIX observou-se que a perícia psiquiátrica começou a ser
utilizada visando interferir no processo decisório acerca dos dispositivos de correção
a serem aplicados e à aferição de dados que ajudariam nos trâmites jurídicos. Não
mais sendo usada, unicamente, para a investigação da responsabilidade penal de
adultos.
Desta forma, os psicodiagnósticos começaram a ser vistos como
instrumentos que forneceriam dados “matematicamente” comprováveis e estes
dados iriam orientar os operadores do Direito.
Nesta época a Psicologia era subsidiária à Psiquiatria, que respondia a
algumas questões que o Direito formulava. A Psicologia era entendida como tendo
uma prática de realização de exames e avaliações. Como afirma Foucault (1993), a
Psicologia e seu corpo de conhecimento estavam muito vinculados ao diagnóstico
da patologização e este campo deveria ser atribuído a Psiquiatria e não a
Psicologia.
Para atuar na área a forma mais usual é o Concurso Público (perito). Menos
usualmente temos a atuação em consultório, fornecendo laudos, relatórios e
pareceres para advogados e juízes, assistente técnico.
Também podemos atuar em ONGs, abrigos, entre outros. Os primeiros
registros de trabalhos de psicólogos em organizações de Justiça no Brasil remetem
às décadas de 1970 e 1980, este foi um período em que a Clínica se saturou, o que
possibilitou aos psicólogos galgar para outros campos.
Como o psicólogo não é um investigador da mente humana a serviço da
Justiça, ele pode e deve tentar aclarar o sentido, interpretar coisas que não são
perceptíveis ao operador do Direito. Podem ainda realizar outros trabalhos
informais, autônomos ou ligados a organizações não governamentais, como nos
casos de mediação familiar, grupos de apoio à adoção e de trabalhos voluntários
em organizações penais e abrigos, entre outros.
A Psicologia Jurídica, portanto, foi reconhecida como um saber centrado,
prioritariamente, no psicodiagnóstico. Hoje, entendemos que o trabalho do psicólogo
jurídico não se restringe apenas a este e à perícia. Os psicólogos jurídicos
desenvolvem atividades como seleção e treinamento de pessoal, avaliação de
desempenho e o acompanhamento psicológico prestado aos magistrados,
servidores e seus dependentes dentro das instituições judiciárias.
Além de desenvolverem atividades vinculadas aos juízos de Primeira (todos
os Fóruns espalhados pelo Estado) e Segunda Instância (compreende o Tribunal de
Justiça de cada Estado).
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Nos Fóruns o psicólogo


jurídico realiza trabalhos de
avaliação psicológica, elaboração
de documentos,
acompanhamento de casos,
aconselhamento psicológico,
orientação, mediação, fiscalização
de instituições e de programas de
atendimento a demanda do
Fórum e encaminhamentos. Pode
desempenhar funções periciais
e/ou de intervenção direta, conforme a natureza do caso e o momento do
atendimento realizado (antes, durante ou após a sentença judicial).
As atribuições do psicólogo jurídico são fixadas pela instituição judiciária em
portarias e provimentos de cada localidade. São normatizadas pela Lei que
regulamenta a profissão do Psicólogo, o código de ética profissional, resoluções do
CFP e estão de acordo com as legislações pertinentes ao lugar que o psicólogo
jurídico trabalha.
Concluímos que o caminho realizado desde o surgimento das primeiras
atividades psicológicas desenvolvidas no âmbito do Poder Judiciário demonstra que
as organizações de Justiça constituem um campo propício à atuação de psicólogos,
tendo em vista o fluxo de conflitos que para elas convergem. Trataremos das
especificidades dos papéis que os psicólogos jurídicos exercem em outra
oportunidade.
O psicólogo precisa atentar para as limitações dos instrumentos utilizados por
ele, bem como ao caráter situacional da avaliação realizada (validade do
diagnóstico). Deve refletir sobre as implicações éticas, políticas e sociais de seu
trabalho, compreendendo que os resultados podem ser determinantes da medida
judicial aplicada ao caso.
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ASSISTENTE TÉCNICO

● Art. 465: § Incumbe às partes,


dentro de cinco dias, contados
da intimação do despacho de
nomeação do perito:
I –​ Indicar o assistente técnico;
II –​ Apresentar requisitos

O assistente técnico é de
confiança da parte envolvida no
processo, sendo indicado e pago diretamente por ela. A parte não é obrigada a ter
assistente técnico na perícia. O perito escreve o laudo e o assistente técnico, o
parecer.
Assim como o laudo é uma prova, o parecer é outra, igualmente. A função de
perito é a em que mais facilmente atingimos o sucesso, devido à ampla oferta desse
encargo. O assistente técnico escreverá um relatório que igualmente constará no
processo. O juiz deverá fundamentar a sua sentença com uma ou mais provas
constantes no processo, que poderão ser o laudo do perito ou o parecer do
assistente técnico.
Desta forma, existem dois mercados de trabalho na perícia judicial: o do
perito e o do assistente. O perito e o assistente técnico não necessitam fazer
concurso, curso de pós-graduação ou qualquer curso de capacitação, assim como
fazer parte de associação, instituto, conselho ou outra agremiação de peritos para
desempenhar a função. Pode-se ser perito judicial em um processo e assistente em
outro. Não há limite de processo para se atuar nas duas funções.
O assistente tem 03 missões cruciais: escrever o seu parecer, tal qual o
perito escreve o laudo; tentar convencer o perito da tese que possui sobre o objeto
da perícia; por último, fazer crítica negativa, pontual, a cada detalhe que não
concorda com o laudo do perito, ou citar os trechos positivos que ajudam sua tese.
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Nomeação dos assistentes técnicos


As partes têm direito a nomear um assistente técnico cada uma, se quiserem,
na perícia judicial. Se a matéria da perícia envolver mais de um conhecimento
distinto, como medicina e ciências contábeis, é admitido as partes nomearem um
assistente para cada matéria. Mesma coisa para a nomeação do perito pelo juiz;
haverá peritos diferentes para áreas distintas.
Na fase da perícia no processo, cada assistente técnico pode preparar um
parecer, assim como o perito prepara um laudo, sobre o mesmo tema. Nada impede
que os assistentes técnicos assinem juntos o laudo do perito, quando concordam
com ele. Eles expressam a concordância com o laudo do perito através de petições
ou pareceres isolados. O termo parecer para designar o trabalho escrito do
assistente, está determinado no Código de Processo Civil – CPC, art. 433, porém
chama-se ainda essa redação técnica de laudo.
Como no mesmo artigo do CPC, o de número 433, é dito que o assistente
técnico apresentará seu parecer em até dez dias depois de o perito entregar o
laudo, é provável entender o leitor, que o trabalho do assistente será
exclusivamente rebater ou apoiar as convicções do perito através do seu parecer,
porém, o trabalho do assistente pode ser completo, oferecendo a elucidação dos
fatos que cercam a perícia, da mesma forma como o perito deverá fazer no seu.
Comparando o trabalho do perito e do assistente, chega a parecer que o assistente
tem um trabalho comum ao do perito: o de esclarecer os fatos; e outro extra: o de
contestar ou concordar com o laudo do perito.
A partir daí, obtêm-se condições de depreender a importância de que é
revestido o trabalho do assistente técnico, cujo conhecimento dos recursos, da
rotina e da burocracia nas perícias, tem potencial de virar totalmente o teor do laudo
do perito, a favor de sua parte.

Mercado de trabalho do assistente técnico


O mercado de trabalho dos peritos é vasto. Devido as suas características,
está sempre em constante renovação.
O profissional que queira se especializar nesse espaço, possui grandes
chances de fazer carreira, se houver dele a manifesta intenção de prestar um
trabalho de boa qualidade dentro de suas atribuições profissionais, junto ao
propósito de cumprir os prazos que os juízes determinam. Basta então, para tanto,
ter-se conhecimentos sobre a prática e a rotina forense em que implica a ocupação
do perito. Assim como o mercado de perito é vasto, o de assistente técnico não
deixa de andar junto.
Os casos mais comuns de profissionais que trabalham como assistentes
técnicos com relativo sucesso, são exatamente aqueles que se originaram da
prática de perito. Eles se tornaram conhecidos como peritos a ponto de prestarem
serviços como assistentes das partes, de particulares ou empresas de todos os
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portes. E, ainda, como decorrência do conhecimento obtido no trato com empresas


e particulares, realizam serviços extra perícias, atuando como profissionais liberais
ou através de suas próprias pequenas empresas.
Os elementos essenciais para a atividade de perito e assistente técnico são
exaustivamente apresentados no livro Manual de Perícias – ora segundo um ponto
de vista, ora segundo outro, que, ao serem lidos no todo, darão ao estudante da
questão, uma visão global.
As diversas óticas de abordagem de um mesmo tema nele apresentado,
oportunizam segurança para aquele que quer ingressar na função. Após o começo
da atividade de perito, é suscetível surgir um leque de oportunidades para novos
tipos de serviços extrajudiciais.
O mercado de assistente técnico é grande. Significativa porção das
nomeações pelas partes caem em profissionais sem os conhecimentos aqui
mencionados, motivo da grandeza do mercado, já que se torna fácil a colocação
daqueles mais preparados. Inicialmente, é passível de ocorrerem quatro formas
mais comuns de o profissional ser nomeado como assistente técnico pelas partes
em processos:
● Sendo ele distinguido como perito judicial, portanto com experiência na área
● as partes sabedoras disso o procuram para atuar como pessoa de
conhecimento técnico-científico de sua confiança no processo;
● A parte, como tem direito a indicar um assistente técnico, procura qualquer
pessoa que conheça do segmento em que se desenrola a perícia; às vezes,
acaba por indicar um amigo que não lhe cobrará nada pelo encargo que
exercerá;
● A empresa privada ou a administração pública nomeia um funcionário de
seus quadros sem conhecimento de perícias;
● Em processos vultosos, à parte, geralmente empresas, contrata profissionais
experts na matéria específica da perícia, porém sem prática forense ou em
perícias.

Na escolha do primeiro tipo, a parte terá melhores chances na elaboração da


prova pelo perito, pois o assistente o acompanhará em seu trabalho, podendo evitar
equívocos que esse possa cometer. Além disso, a parte estará amparada pelo
parecer do seu assistente, ao fazer eventuais críticas às alegações técnicas do
perito, quando o assistente não concordar com a exploração e abordagem dos fatos
que o perito fez no laudo.
No segundo tipo, a parte visará não gastar com assistente ou ignora ser
importante o conhecimento mínimo que o profissional tenha sobre perícias, entre
outros motivos. Ela desconhece que é necessário o assistente ter noção sobre o
exercício da função para então esse diligenciar com o intento de representá-la
adequadamente.
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Por ocasiões, a parte nomeia um amigo seu, que tem a intenção de ajudá-lo
muito, porém durante os encontros com o perito e o outro, ou os outros assistentes,
sente-se inseguro por não desfrutar do domínio da realidade da burocracia exigida.
O resultado disso são perdas importantes de intervenções durante reuniões,
vistorias e exames, realizados conjuntamente com o perito. Assim, o assistente
deixa rolar o andamento das teses do perito e do outro, ou dos outros assistentes,
sem suas intervenções.
A escolha errada do profissional pela parte envolvida no processo, em grande
parte, é devida à falta de orientação correta do seu advogado. No terceiro caso, a
empresa escolhe o assistente técnico entre os funcionários que dispõe, justo aquele
cuja área da perícia exige conhecimento.
Custa, aos proprietários e diretores das empresas, compreender que não
basta simplesmente nomear um técnico qualquer para desempenhar as
formalidades do encargo. Entre outras condições, este também necessita ter prática
ou conhecimento sobre perícias para representar a parte com bons resultados.
Costuma-se ver processos onde a disputa de valores é alta, e, no entanto, a
empresa é representada insatisfatoriamente.
Da mesma forma, sobrevêm feitos idênticos nas administrações públicas.
Prefeituras e suas autarquias, departamentos estaduais de estradas ou de
abastecimento de água e saneamento, entre outros, têm este hábito, o de nomear
profissionais de seus quadros. Esses, além de não possuírem experiência,
sentem-se desmotivados, porque não recebem pelo serviço extra, que não é de sua
atribuição imediata.
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Tarefas do assistente técnico na perícia


1. Prestar assessoramento técnico e científico ao advogado na montagem inicial
do processo.
2. Sugerir ao advogado os quesitos que serão apresentados no processo.
3. Interagir com os funcionários da empresa ligados ao objeto da perícia judicial.
4. Informar ao advogado acerca da necessidade de apresentação de quesitos
suplementares, pois ele é a pessoa mais indicada para detectar a sua
utilidade e o momento certo de apresentação. (quesitos suplementares têm
como função cercar melhor os assuntos específicos da perícia).
5. Observar a necessidade da apresentação de quesitos suplementares, com a
consequente apresentação dos mesmos pelo advogado, possibilita que o
processo tome nova direção, favorável à sua parte.
6. Conhecer todos os prazos relativos a si e ao perito.
7. Saber como os peritos costumam pensar e agir.
8. Alertar o perito sobre as possíveis distorções, ajudando-o a esmiuçar os
quesitos e suas respostas, para que não venham a ocorrer danos graves,
tendo em vista que a parte adversa tende a distorcer os fatos com os seus
próprios quesitos, levando à confusão do perito e podendo, assim, obter um
laudo técnico favorável a sua parte.
9. Após a entrega do laudo por parte do perito nomeado pelo juiz, quando não
concordar com este, apresenta o seu parecer nos autos em separado, no
qual fará críticas, ponto a ponto, ao laudo do perito.
10. Complementar e advertir o laudo do perito, quando o mesmo, por lapso,
apresentar cálculos equivocados e, involuntariamente, omitir ou distorcer
fatos e técnicas importantes.
11. Após a entrega do laudo do perito, quando não concordar com este,
apresentar o seu parecer nos autos em separado, no qual fará críticas, ponto
a ponto, ao laudo do perito.
12. Advertir o laudo do perito, quando o mesmo, por lapso, apresentar cálculos
equivocados e, involuntariamente, omitir ou distorcer fatos e técnicas
importantes.
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Assistente técnico sem conhecimento de perícia judicial se torna inseguro


A falta de conhecimento do assistente em perícias judiciais leva-o a ter uma
posição em que se sinta, até mesmo, bastante inferior à autoridade que o perito
possa efetivamente representar em relação a ele.
Em alguns casos, percebe-se que os assistentes técnicos nem chegam a
abrir o processo para que estão nomeados, deixando correrem as diligências e
conclusões a bel prazer do perito. A principal característica do assistente técnico
não treinado é a falta de firmeza.

Aceitação do parecer do assistente técnico


A aceitação incondicional do laudo preparado pelo perito, por parte de alguns
juízes, desprezando os laudos dos assistentes técnicos, tem sido rejeitada nos
tribunais, demonstrando, com isso, a importância do assistente técnico no processo.
O juiz pode utilizar o que está no laudo do assistente técnico e não utilizar coisa
alguma do contido no laudo do perito.

Assistente técnico de empresa sem a qualificação necessária


A empresa em que é parte em processo tem o direito a nomear um assistente
técnico. Em nome do exercício desse direito, os dirigentes da empresa indicam, na
grande maioria dos casos, um funcionário de seu quadro para desempenhar tal
função.
O dirigente de empresa particular ou estatal ou de um órgão público
normalmente não tem noção de que, ao nomear como assistente técnico na perícia
um profissional que não conheça a prática e a burocracia de uma perícia judicial,
poderá estar causando um grave dano a sua empresa ou instituição no processo em
que a mesma se encontra envolvida.
Isso porque é necessário que o assistente técnico da empresa ou do órgão
público tenha conhecimento dos meandros e particularidades da perícia judicial para
realizar um trabalho eficiente. Caso contrário, a perda para a empresa, no processo,
poderá ser bastante grande.
Além da necessidade do assistente técnico ser capacitado, a empresa deve
treinar os funcionários dos setores que atendem os assistentes, pois eles saberão
dar um melhor suporte aos assistentes técnicos indicados pela empresa.
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0 PROCESSO DA PSICOLOGIA FORENSE

No caso da perícia forense, a


primeira atividade do psicólogo é
comparecer ao foro do processo para
retirar os autos, que serão
consultados durante a sua atividade
investigativa. De modo geral, o perito
pode ficar com o processo enquanto
realiza o seu trabalho. No máximo no
momento da entrega do laudo, o perito deve devolver o processo judicial ao foro. Já
que é rotina do psicólogo forense ficar com os autos do processo em sua posse, é
importantíssimo que ele saiba que, em nenhuma hipótese, pode gerar alterações
nesses documentos judiciais.
Ou seja, o psicólogo nunca poderá fazer anotações, observações, usar
“marca texto”, corrigir palavras ou fazer qualquer sinalização nos autos. Além disso,
o perito não pode anexar absolutamente nada ao processo, tudo deve ser
encaminhado ao magistrado. De posse dos autos do processo judicial, o psicólogo
pode seguir o seguinte método de organização do material (RODRIGUEZ-SUTIL;
ESPADA, 1999):

1. Documentos iniciais – ficha de dados, informações do advogado, dados do


processo.
2. Outros informes do sujeito – documentos emitidos por várias instâncias ou
peritos. O psicólogo pode fazer todas as solicitações de documentos ao
periciado (ex.: comprovante de desempenho escolar, avaliações psicológicas
anteriores) ou juiz do caso (ex.: baixas hospitalares);
3. Anotações realizadas durante entrevistas com advogados, juízes e outras
pessoas.
4. Levantamento de cada uma das provas ou procedimentos psicológicos, com
análise dos resultados vinculados aos quesitos do processo.
5. Cronologia do caso.
6. Assuntos variados.
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É fundamental lembrar que os documentos escritos decorrentes de avaliação


psicológica, bem como todo o material que os fundamentou, deverão ser guardados
pelo prazo mínimo de cinco anos, observando-se a responsabilidade por eles tanto
do psicólogo quanto da instituição em que ocorreu a avaliação psicológica.
Além disso, o prazo indicado poderá ser ampliado nos casos previstos em lei,
por determinação judicial, ou ainda em casos específicos em que seja necessária a
manutenção da guarda por maior tempo (Resolução CFP nº 007/2003, item “VI”,
“guarda dos documentos e condições de guarda”).
No caso de “extinção dos serviços psicológicos”, o destino dos documentos
deverá seguir as orientações definidas no Código de Ética do Psicólogo, o qual, no
ser artigo 15, diz que em caso de interrupção do trabalho do psicólogo, por
quaisquer motivos, ele deverá zelar pelo destino dos seus arquivos confidenciais do
seguinte modo:

1. ​Em caso de demissão ou exoneração, o psicólogo deverá repassar todo o


material ao psicólogo que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo para posterior utilização pelo
psicólogo substituto.
2. Em caso de extinção do serviço de Psicologia, o psicólogo responsável informará
ao Conselho Regional de Psicologia, que providenciará a destinação dos arquivos
confidenciais.
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ESTRATÉGIAS DA PSICOLOGIA FORENSE

Entrevistas:
A entrevista forense tem como
objetivo a obtenção de um relato sobre
uma experiência passada, vivenciada
ou testemunhada, de uma determinada
pessoa (criança ou adulto) e centra-se
nos factos dessa experiência (e.g.,
atores, ações, tempo, espaço).
Para além disso, a entrevista forense é parte integrante de um processo de
investigação criminal e decisão judicial. Esta entrevista não deve ser confundida
com outros tipos de entrevista que possam surgir durante um processo judicial
como, por exemplo, a entrevista clínica que é conduzida no âmbito de um processo
de avaliação psicológica forense. Esta centra-se na obtenção de informações sobre
a história de vida da pessoa (dimensão anamnéstica) e na observação do
comportamento em contexto clínico (dimensão observacional).
A entrevista clínica é um método de recolha de informação que permite
caracterizar o funcionamento psicológico de uma determinada pessoa, sendo um
dos componentes que constituem o processo de avaliação psicológica forense, do
qual farão ainda parte a administração de provas psicológicas e a análise dos
diferentes documentos processuais.
A entrevista forense deverá também ser distinguida de uma intervenção
psicoterapêutica. O seu objetivo não será a resolução de problemas
comportamentais e emocionais da criança, mas sim, obter uma descrição
pormenorizada de uma determinada experiência.
Características da entrevista forense. São elas: contexto coercitivo; falta
parcial ou total de sigilo; transmissão das informações a um público leigo; distorção
consciente das informações; discordância e verificação; papel de investigador.
(MELOY, 1991).
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1. Contexto coercitivo ​– não há participação voluntária total. O periciado vai


ao encontro do psicólogo porque está obrigado judicialmente a fazer isso e, muitas
vezes, sente-se invadido. O psicólogo pode identificar os fatores legais e clínicos da
entrevista e avaliar o quanto eles interferirão na entrevista. Após, deve planejar
meios de minimizar o impacto coercitivo. Exemplo: criar um ambiente neutro;
solicitar para o entrevistado não ficar fisicamente contido; perguntar sobre razões de
contenção antes de sua remoção; perguntar abertamente ao entrevistado o que ele
pensa sobre a entrevista (esse é um bom momento para corrigir distorções,
promover o vínculo e gerar motivação à entrevista).

2. Falta parcial ou total de sigilo ​– este, em regra, é um ponto que acaba


por trazer algum grau de desconforto ao próprio psicólogo, que, na maioria das
vezes, faz sua formação acadêmica com foco na Psicologia Clínica. Assim, o perito
deve saber de legislação e ética profissional para assimilar o correto exercício
profissional forense e dos limites da confidencialidade.

3. Transmissão das informações a um público leigo – as pessoas que


terão contato com os dados apontados no documento do psicólogo, na sua grande
maioria, não tem conhecimento sobre a linguagem utilizada em Psicologia. Assim, o
perito (além de guardar todos os recursos da avaliação por, no mínimo, cinco anos)
deve criar o seu laudo com uma linguagem que seja acessível, precisa e sucinta.

4. Distorção consciente das informações – em virtude da coerção


existente neste processo, os sujeitos periciados podem utilizar tanto da simulação
quanto da dissimulação para se preservar do trabalho do psicólogo. O psicólogo
deve estar preparado para lidar com essas manifestações. Sugestões: prolongar a
entrevista para induzir fadiga; variar o ritmo e velocidade da entrevista, confrontar o
entrevistado sobre as suspeitas; repetir as mesmas perguntas (com distorções)
depois de algum tempo; sugerir hospitalização de 24 horas para avaliar sinais e
sintomas; em fato criminal, avaliar o réu próximo ao delito; evitar perguntas diretas
sobre sintomas; misturar sintomas excludentes de vários diagnósticos; induzir
estresse (ex.: “não quero que fique tenso com o que vou lhe perguntar agora”). Os
dados da entrevista com presença de distorções deveriam ser confirmados por
testagens, observação e outras informações (registro de escolas, médicos,
hospitais, prisões, processos judiciais, visitas ao entrevistado na sua casa, avaliação
do sujeito na sala de espera etc.).
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5. Discordância e verificação – Os dados gerados pelo psicólogo, em


virtude do princípio constitucional federal da ampla defesa, podem ser questionados
ao máximo em juízo. Por isso, o profissional deve estar pronto para apresentar o
fundamento dos seus achados.

6. Papel de investigador – o psicólogo perito deve incorporar o papel de um


investigador. Ou seja, ter uma atitude imparcial, objetiva, não terapêutica,
identificado com o objetivo de compreender e não de mudar a conduta do periciado.

Testes na Estratégia em Psicologia Forense


Os testes psicológicos são procedimentos científicos que podem ser
comprados, administrados e interpretados unicamente por psicólogos. Esse uso
privativo dos testes é pautado pela Lei Federal nº 4.119/1962 e pela Resolução CFP
nº 12/2000.
Logo, se alguma pessoa, que não seja psicólogo, realizar as atividades antes
mencionadas, estará cometendo uma contravenção penal que leva o nome de
“exercício ilegal de profissão ou atividade”, definida no artigo 47 do Decreto-Lei nº
003.688/1941 como o ato de exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar
que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu
exercício.
O sujeito que incorre nessa contravenção pode receber pena de prisão
simples (de 15 dias a três meses) ou multa. Teste psicológico é um conjunto de
tarefas predefinidas, que o sujeito precisa executar numa situação geralmente
artificializada ou sistematizada, em que seu comportamento na situação vai ser
observado, descrito e julgado, e essa descrição é, na maioria das vezes, feita com
uso de números. (PASQUALI, 2001).
O teste psicológico é um procedimento sistemático para observar o
comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou categorias
fixas. (CRONBACH, 1996). Os testes são instrumentos de grande auxílio ao
psicólogo forense, pois geram a possibilidade de objetivação, de uma avaliação com
maior precisão do funcionamento psicológico do periciado.
O reconhecimento do trabalho do psicólogo e da qualidade dos testes vem
gerando um aumento da demanda pelos serviços desses profissionais no sistema
judiciário. (RODRIGUEZ-SUTIL; ESPADA, 1999). Os testes psicológicos são um
dos aspectos que distingue a avaliação psicológica da avaliação psiquiátrica.
A diferença está no fato de que enquanto os psiquiatras ficam à mercê da
opinião do periciado, os psicólogos levam grande vantagem, pois podem medir (de
forma padronizada e científica) habilidades funcionais, déficits, personalidade, status
mental, escala de mentira, escala de desejabilidade social. (GUDJONSSON, 1995).
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Desse modo, podemos afirmar que os psicólogos são os profissionais que


podem colaborar de forma mais eficaz (com uso de métodos, técnicas e
instrumentos com fundamento ético e científico) com o funcionamento célere e
objetivo do sistema judiciário.
Em uma pesquisa desenvolvida no Estado do Rio Grande do Sul (ROVINSKI;
ELGUES, 1999) ficou demonstrado que 87% dos psicólogos forenses utilizam testes
padronizados, além de entrevistas clínicas, dando preferência aos testes projetivos
e aos testes gráficos (ex.: Machover, HTP, Desenho da família, TAT).
Seria importante não apenas usar os testes aplicados em Psicologia Clínica,
mas promover a criação de um novo conjunto de testes psicológicos direcionados
ao universo da Psicologia Forense, pois assim os instrumentos responderiam de
forma mais adequada à demanda judicial. Desde a década de 1970, no território
anglo-saxão, há instrumentos criados especificamente para uso em Psicologia
Forense (GRISSO, 1986).
Esses testes levam o nome de Forensic Assessment Instruments - FAIs
(Instrumentos Específicos de Avaliação Forense). Aqui no Brasil, a partir de 2001, o
uso dos testes psicológicos passaram a ter uma regulamentação federal com a
edição da Resolução CFP n° 25/2001 (que define o teste psicológico como método
de avaliação privativo do psicólogo e regulamenta sua elaboração, comercialização
e uso).
Em 2003, com a Resolução CFP
nº 2/2003, foi revogada a Resolução CFP
n° 25/2001. A nova orientação passou a
definir e regulamentar o uso, a
elaboração e a comercialização de testes
psicológicos no Brasil. Importante
destacar que o psicólogo brasileiro,
desde 2001, é obrigado a usar apenas os
testes psicológicos validados pelo
Conselho Federal de Psicologia.
A resolução de 2003 (ainda em vigor), no seu artigo 16 diz que será
considerada “falta ética” a utilização de testes psicológicos que não constem da
relação de testes aprovados pelo Conselho federal de psicologia (CFP), salvo os
casos de pesquisa. Assim, o psicólogo que usa testes não aprovados pelo seu
conselho de classe, fora de pesquisa científica, fica sujeito a um processo
administrativo. O psicólogo forense tem total autonomia para escolher entre os
vários testes psicológicos existentes no mercado, desde que todos sejam validados
pelo Conselho Federal de Psicologia. É importante que no processo de escolha de
seus instrumentos psicológicos forenses, o profissional leve em consideração as
características do periciado (ex.: deficiência física, visual, auditiva, motora, etc.) e a
do ambiente de aplicação dos testes (ex.: fontes de distração, iluminação, recurso
de escrita, mesa com espaço suficiente, cadeira adequada, etc.).
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Conforme as orientações profissionais da American Psychological


Association (APA), na atividade de Psicologia Forense não se deve autorizar que o
entrevistado leve os teste para responder fora do ambiente de trabalho do
psicólogo, pois a validade do instrumento poderá ficar comprometida por vários
fatores.
Por exemplo: uso de drogas, influência de outras pessoas etc. (ACKERMAN,
1999). Abaixo, apontaremos um “guia” com algumas considerações sobre o uso de
teste em Psicologia Forense. O guia foi criado por Helbrun (apud GUDJONSSON,
1995):
1. O teste deve estar documentado, revisado cientificamente e ter manual.
2. Deve-se levar em consideração a fidedignidade do teste.
3. O teste deve ser pertinente às questões judiciais.
4. Todas as orientações do manual de aplicação do teste devem ser seguidas.
5. Os resultados de um teste não devem ser usados para explicar dados
diferentes do que o manual aponta.
6. Evitar controvérsia entre dados clínicos e estatísticos.
7. No processo de interpretação dos resultados, o psicólogo deve ficar atento
aos comportamentos evasivo, defensivo, simulação, dissimulação e rejeição
do entrevistado.

Nenhum agente jurídico (ex.: advogado) deve ficar junto com o entrevistado
no momento de aplicação dos testes (isso gera interferência nos resultados) e os
protocolos de aplicação dos testes não devem ficar nos autos do processo, pois
pessoas leigas podem fazer uso indevido do material, além de socializar
informações que podem prejudicar futuras aplicações do mesmo teste.
Se, mesmo assim, o juiz solicitar a apresentação dos protocolos nos autos,
uma saída ao perito seria indicar que esses documentos serão apresentados ao
psicólogo assistente técnico, pois ele tem formação para compreender os
protocolos, além de estar submetido ao código de ética profissional. (ROVINSKI,
2007).
A lista completa e atualizada de todos os testes psicológicos (inclusive com
nome, função, ano de publicação, requerente, recepção, análise, avaliação, recurso,
análise do recurso e avaliação final) aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia
pode ser consultada de forma gratuita, agora mesmo, 24 horas, na internet, no
“Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos” (SATEPSI), no endereço: Nessa
página virtual mantida pela autarquia CFP, você tem acesso a um conjunto de
documentos sobre a avaliação dos testes psicológicos realizada pelo Conselho
Federal de Psicologia.
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A lista completa dos serviços disponíveis no SATEPSI é esta:


1. Lista completa dos testes.
2. Testes psicológicos aprovados para uso.
3. Testes desfavoráveis.
4. Testes psicológicos sem a avaliação do Conselho.
5. Testes não psicológicos.
6. CD-ROM Testes Psicológicos – Conteúdo.
7. Testes Psicológicos - Pareceres Desfavoráveis.
8. Notícias e informações.
9. Legislação.
10. Perguntas e respostas.
11. Cadastro de usuários.
12. Histórico de Comissões Consultivas em Avaliação Psicológica.
13. Dúvidas e sugestões.

Medidas e Instrumentos de Avaliação Forense


Na avaliação psicológica das características antissociais e psicopatas é
fundamental a observação atenta do comportamento do examinando, desde o
momento de sua entrada na sala de exame.
Os indivíduos com estas características são tipicamente manipuladores,
portanto, podem tentar controlar suas verbalizações durante a perícia, simular e
dissimular, manipulando suas respostas e reações, levando a crer que o uso de
testes psicológicos tende a dificultar estes comportamentos e fornece elementos
diagnósticos complementares (Morana, Stone & Abdalla-Filho, 2006).
De acordo com Anastasi (1977, p.24) um teste psicológico define-se como
“uma medida objetiva e padronizada de comportamento”. Ressalta-se, no entanto,
que as resoluções 025/2001 e 002/2003 do Conselho Federal de Psicologia
demarcam a importância e os critérios necessários para a credibilidade dos testes
psicológicos, sendo indispensáveis os estudos de avaliação de suas propriedades
psicométricas antes de utilizá-los em uma população.
De acordo com Abdalla-filho (2004b) a avaliação diagnóstica de TP enfrenta
a polêmica divergência entre a valorização maior de entrevistas livres ou a aplicação
de testes padronizados.
Ainda não há um instrumento totalmente confiável para o diagnóstico de TP,
o que leva, de modo geral, a pouca utilização dos mesmos (Lopez-Ibor,1993).
Porém, o TPAS é quem mais se beneficia das entrevistas estruturadas na
investigação diagnóstica devido aos indicativos bastante objetivos no
comportamento de seus portadores (Websten, 2001), principalmente se associadas
ao uso de informações complementares provindas de familiares, amigos e
cuidadores institucionais (Caballo, 2008).
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Há, contudo, autores que criticam estas fontes colaterais de informações


alegando que elas podem estar tão contaminadas quanto às informações provindas
do relato do próprio indivíduo, especialmente, quando associado a dinâmica da
personalidade psicopata (Oltmanns, Turkheimer & Strauss,1998).
Blackburn, Donnelly, Logan e Renwick (2004), partindo da hipótese de que
indivíduos com TP podem ter pouca consciência ou insight sobre suas intenções
pessoais ou sobre os efeitos do seu comportamento em outras pessoas, utilizaram o
Questionário de Diagnóstico da Personalidade, baseado no Exame Internacional
dos Transtornos de Personalidade, avaliando 156 homens com distúrbios
psiquiátricos.
O estudo concluiu que apesar das entrevistas semi-estruturadas também
serem baseadas no auto-relato, permitiriam acessar aspectos não verbais e através
da habilidade do entrevistador seria possível detectar as inconsistências do relato.
Esses resultados apontam que pode ser uma limitação confiar em um único método
ou em uma única medida para avaliar a personalidade.
De acordo com Caballo (2008), em geral, os questionários avaliam
diretamente o transtorno de personalidade ou podem avaliar as supostas dimensões
que estão subjacentes ao mesmo, classificando-se como gerais ou específicos,
dependendo de seus objetivos. Embora úteis, a maior limitação nos questionários,
segundo o autor, refere-se a dificuldade na validação de suas propriedades
psicométricas.
Outro estudo (Nunes, Nunes, & Hutz, 2006) foi desenvolvido com o objetivo
de associar os resultados da Escala Fatorial de Socialização (EFS) e a Escala
Fatorial de Extroversão (EFE), com o uso de entrevista semiestruturada para a
identificação de traços do TPAS, em grupos clínicos e não clínicos. Os resultados
revelaram que a utilização conjunta de instrumento e entrevista apresentou maior
poder de predição em ambos os grupos.
Nesse modelo, encontrou-se sensibilidade de 87,8% e especificidade de
90,9%, apontando para a vantagem da associação desses dois instrumentos para o
diagnóstico do TPAS.
No entanto, entre as escalas de uso mais tradicional, o Inventário Multifásico
de Personalidade de Minnesota (MMPI) tem se mostrado um instrumento que
evoluiu ao longo das mudanças teóricas e diagnósticas em psicopatologia, servindo
de referência em estudos de validação de outros instrumentos (Caballo, 2008),
especialmente os relacionados aos TP.
As técnicas projetivas também são citadas como recursos importantes na
investigação psicológica forense. Entre elas, a mais tradicional é o Teste de
Rorschach, que consiste em dez pranchas com manchas de tinta simétricas, cujas
respostas oferecem amplas informações sobre a dinâmica da personalidade do
examinando.
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De acordo com Kernberg, Weiner e Bardenstein (2003), de modo geral, o


Teste de Rorschach refletiria traços de Psicopatia por meio da ausência de vínculo e
presença de ansiedade menor que o esperado. Neste sentido, referem que a
interpretação do Rorschach, quando realizada pelo sistema compreensivo de Exner
(1999), aponta significativa ausência de agressividade e de respostas de
movimento, em comparação à população geral. Utilizando o Rorschach, Abade,
Coelho e Fazzani (1993) desenvolveram um estudo com homicidas que
apresentavam condutas violentas e cruéis.
Observaram, dentre outros aspectos, que os examinandos evidenciaram
dificuldades na prova, indicadas pelas reações imediatas e sem organização diante
da apresentação das manchas, denotando afetividade infantil e com pouco controle,
principalmente através do julgamento.
O estudo enfatiza que o Teste de Rorschach é uma das técnicas mais
valiosas entre os testes psicológicos para a investigação de traços de personalidade
psicopata, que, no entanto, concorre com outras técnicas gráficas e projetivas ainda
com poucos estudos de validade e confiabilidade para a realidade brasileira.
Por outro lado, o Rorschach tem também se mostrado relevante aos
processos de validação de outros instrumentos utilizados na área forense. Morana
(2004), no estudo realizado com uma amostra brasileira, carcerária, masculina e
adulta, associou os resultados do Rorschach a uma escala específica de Psicopatia,
o PCL-R ([Hare Psychopathy Checklist Revised]; Hare, 1991).
A autora encontrou forte concordância (0,87) entre os dois instrumentos,
levando a inferir a validade do uso concorrente de técnicas projetivas, como o
Rorschach, e escalas objetivas, como o PCL-R, para a investigação da
personalidade em avaliações forenses.
Sem dúvidas, a utilização de instrumentos psicométricos padronizados no
contexto forense está sendo melhor aceita e estudada na atualidade,
especialmente, nos estudos internacionais. Robert Hare, por exemplo, nas últimas
décadas, deu início à extensa pesquisa em populações norte-americanas com o
objetivo de encontrar parâmetros que pudessem diferenciar a condição da
Psicopatia dos demais comportamentos antissociais.
Desenvolveu, assim, um importante instrumento de avaliação, o Inventário de
Psicopatia de Hare, o PCL-R (Hare, 1991; Morana, 2004) para ser utilizado
especialmente com populações adultas forenses e correcionais. O PCL-R é uma
escala de 20 itens, validada para o Brasil por Morana (2004), para medir
características afetivas, interpessoais, antissociais e comportamentais da
Psicopatia.
É pontuada através de uma entrevista semiestruturada e de informações
colaterais, numa graduação de zero a dois para cada item, perfazendo um total de
40 pontos.
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O ponto de corte não é estabelecido de forma rígida, mas um resultado acima


de 30 pontos, em situações forenses, traduziria um psicopata típico. Segundo Hart
(1998), vários estudos demonstraram a utilidade do PCL-R como instrumento de
avaliação de risco de violência, incluindo a identificação de prováveis recidivas.
No Brasil, ele já vem sendo usado com certa frequência nos contextos
forenses, exatamente pelo avanço já obtido nas pesquisas internacionais com a sua
utilização (Hare, 2003). O PCL-R originou diversas versões derivadas como o
Inventário de Psicopatia de Hare: Versão de Rastreamento ([Hare Psychopathy
Checklist: Screening Version; PCL:SV] Hart, Cox & Hare,1995) e o Inventário de
Psicopatia de Hare: Versão Jovens ([Hare Psychopathy Checklist: Youth Version;
PCL:YV]; Forth, Kosson, & Hare, 2003).
Este último, o PCL:YV, mostra-se ainda mais inovador por ter sido
desenvolvido para avaliar a presença de traços de Psicopatia em adolescentes,
entre 12 e 18 anos.
Consiste em uma escala de 17 itens que investigam aspectos característicos
da Psicopatia e mais três itens específicos para avaliar o comportamento criminal. A
pesquisa empírica com populações jovens utilizando o PCL:YV já está bastante
disseminada no contexto internacional, com resultados psicométricos adequados
(Forth, Kosson, & Hare, 2003).
Recentemente, vem sendo introduzida no cenário brasileiro, na tentativa de
enfatizar a prevenção e as intervenções precoces, coerentes com o propósito das
medidas de proteção e sócio-educativas propostas pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente. O PCL:YV já foi traduzido para o português (Brasil) bem como o seu
manual (Gauer,Vasconcellos & Werlang, 2006) e está sendo utilizado em estudos
empíricos com adolescentes em conflito com a lei (Beheregaray, 2008; Ronchetti,
2009; Davoglio, 2009; ver também Schmitt,Pinto, Gomes, Quevedo & Stein, 2006).
Para fim de validação de suas propriedades psicométricas na população
brasileira jovem em cumprimento de Medida Sócio-Educativa em restrição de
liberdade, o PCL:YV tem se mostrado um instrumento confiável, ainda que os
estudos empíricos sejam incipientes e, portanto, ainda não generalizáveis.
Instrumentos de avaliação, quer sejam projetivos ou não, devem seguir as
recomendações científicas que atestam sua credibilidade, ao mesmo tempo que
precisam se ajustar aos objetivos da investigação.
Segundo Rovinski e Elgues (1999), a avaliação nas perícias psicológicas está
sempre e prioritariamente relacionada às questões que são geradas pela lei. No
entanto, os psicólogos tendem a utilizar na área forense métodos de investigação
idênticos aos utilizados na clínica, o que parece gerar inconsistências relevantes.
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A especificidade desta avaliação, que é distinta da clínica, exige uma


adaptação das informações aos quesitos jurídicos formulados, valorizando as
estratégias para a obtenção dos dados, de forma a se ter uma maior confiabilidade
dos mesmos. Na atualidade, torna-se então relevante entender a avaliação forense,
no campo psicológico, como uma atividade ampla, ultrapassando muito a idéia
psicometrista que sustentou os primeiros trabalhos na área jurídica. Isto tende a ser
particularmente verdadeiro quando a avaliação se direciona para questões que
envolvem a personalidade.
Deste modo, instrumentos projetivos ou psicométricos são coadjuvantes num
trabalho diagnóstico que se sobrepõe às questões meramente nosográficas. A
importância dos mesmos reside justamente em contribuir para a compreensão
aprofundada e ampla do fenômeno apresentado via judicial (Rovinski, 2009).

Documentos Emitidos pelo Psicólogo Forense


Quatro são as modalidades de documentos previstas na Resolução CFP nº
007/2003: declaração, atestado, relatório/laudo e parecer psicológico.

Declaração e atestado Psicológico


A declaração visa informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas
relacionadas ao atendimento psicológico, com a finalidade de declarar:
a) Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando
necessário;
b)​ Acompanhamento psicológico do atendido;
c) Informações sobre as condições do atendimento (tempo de
acompanhamento, dias ou horários).
Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou
estados psicológicos. (2003b, p. 5)
Já o atestado certifica uma determinada situação ou estado psicológico,
tendo como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de quem, por
requerimento, o solicita, com fins de:
a)​ Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante;
b) Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de
um processo de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético que subscreve
esta Resolução;
c) Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação
atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP nº 015/96.
(Resolução CFP nº 007/2003, 2003b, p. 6)
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Apesar da distinção entre Declaração e Atestado, frequentemente se observa


a solicitação equivocada, por parte dos avaliados, de emissão de atestados para
justificar faltas ou afastamentos do trabalho para comparecimento à avaliação
psicológica.
Na verdade, a mera justificativa de falta ou afastamento do trabalho, sem
registro de sintomas ou estados psicológicos, implicaria a produção de uma
declaração, e não de um atestado. É responsabilidade do profissional saber qual o
tipo de documento deverá produzir diante de um pedido desses e esclarecer ao
solicitante.
Os psicólogos dispõem, também, da Resolução CFP nº15/1996, que institui e
regulamenta a Concessão de Atestado Psicológico para tratamento de saúde por
problemas psicológicos. Essa informação é outro exemplo de dúvida frequente entre
os psicólogos, os quais possivelmente desconhecem essa possibilidade,
acreditando que apenas os médicos podem emitir atestados para afastamento em
virtude de problemas de saúde.
O parágrafo único do artigo 1º desta resolução (Resolução CFP nº15/1996)
dispõe sobre o fato de ser facultado ao psicólogo utilizar o Código Internacional de
Doenças (CID) como fonte de enquadramento de diagnóstico nos atestados. No
artigo 2º, da referida Resolução, há a orientação de que o psicólogo, ao emitir
atestado com a finalidade de afastamento para tratamento de saúde, deva manter
em seus arquivos a documentação técnica que fundamente tal atestado.
Essa documentação poderá ser solicitada a qualquer tempo pelo Conselho
Regional de Psicologia (CRP). Ainda a respeito dos atestados, um fato que suscita
dúvidas diz respeito à aceitação do atestado psicológico nas empresas. Situações,
por exemplo, em que o sujeito apresentaria um quadro psicopatológico e, em
decorrência disso, justificaria sua ausência e/ou afastamento do trabalho.
Embora a Resolução CFP nº 15/1996 admita a possibilidade de emissão de
atestado psicológico para afastamento do trabalho, a realidade nos mostra que
muitas empresas não o aceitam, exigindo que eles sejam fornecidos por médicos,
conforme prevê a CLT (Consolidação das Leis de Trabalho). Em função do CFP
legislar somente para a categoria dos psicólogos, as organizações não são
obrigadas a aceitarem o atestado psicológico.
Por esse motivo, o CFP estuda, juntamente com outros conselhos
profissionais, formas de propor um projeto de lei que regulamente o atestado de
saúde em substituição ao atestado médico (http://site.cfp.org.br/contato/saude/).
Nesse sentido, há jurisprudência que admite a validade dos atestados psicológicos
que prescreveram o afastamento do trabalhador.
A referida orientação judicial inclusive faz menção à Resolução CFP nº
15/1996, por meio da qual o desembargador reconhece a legitimidade e validade do
documento emitido pelo psicólogo
(​http://www.jusbrasil.com.br/diarios/49485162/trt-7-10-12-2012-pg-70​).
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Laudo / Relatório Psicológico


A Resolução nº 007/2003 do CFP define relatório ou laudo psicológico como
"uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e
suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no
processo de avaliação psicológica" (2003b, p. 7).
O fato de este tipo de documento ter duas opções de denominação aumenta,
em determinadas ocasiões, as dúvidas sobre as especificidades dele. Em nosso
entendimento, as denominações "laudo" e "relatório" não deveriam ser sinônimos.
De acordo com o dicionário do Aurélio Online - Dicionário de Português
(2008-2016), laudo é "opinião do louvado ou do árbitro", vocábulo que remete,
portanto, a um parecer emitido por um especialista.
Assim sendo, caberia nos casos de produção de um documento completo,
decorrente de processo de avaliação psicológica, como já vem sendo tratado. Por
outro lado, a palavra "relatório" remete a algo mais amplo, entendido como "ato de
relatar" ou "exposição escrita de fatos". Consequentemente, o termo relatório parece
ser mais apropriado a outras situações que não a da avaliação psicológica.
Aplicar-se-ia o termo em situações de descrição de evolução de um
acompanhamento psicológico, por exemplo, sem o acréscimo de opiniões,
julgamentos ou análises, sendo este realizado em instituições ou em consultórios
privados. Essa diferenciação entre as nomenclaturas poderia esclarecer dúvidas de
muitos profissionais que atuam em diferentes contextos da Psicologia, e não apenas
com a avaliação psicológica.
Um aspecto bastante positivo da definição fornecida nessa Resolução é a
visibilidade dada ao instrumental técnico variado que pode embasar a avaliação
psicológica. "Como todo DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados colhidos e
analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes
psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em
referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo" (Resolução CFP nº
007/2003, 2003b, p. 7).
Ainda, percebe-se a importância dada ao uso de um referencial
técnico-filosófico e científico. Ainda mais relevante em termos éticos é a descrição
dada à finalidade do laudo/relatório psicológico, que seria a de "apresentar os
procedimentos e conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica,
relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e
evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso
necessário, solicitação de acompanhamento psicológico" (Resolução CFP nº
007/2003, 2003b, p. 7).
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Contudo, o que se observa na prática é que muitos dos documentos dessa


modalidade, possivelmente elaborados por psicólogos sem preparo, resultam em
meras descrições de instrumentos aplicados na avaliação, sem preocupação com a
coerência entre a demanda, as hipóteses geradas, os procedimentos adotados, as
conclusões e os consequentes encaminhamentos.
Os prejuízos nessas descrições podem advir de uma má interpretação da
orientação do Código de Ética Profissional do Psicólogo (Resolução CFP nº
010/2005) o qual afirma que "nos documentos que embasam as atividades em
equipe multiprofissional, o psicólogo registrará apenas as informações necessárias
para o cumprimento dos objetivos do trabalho" (p. 11) ou mesmo da própria
Resolução, que diz que o psicólogo deve limitar-se a fornecer somente as
informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição" (p. 7).
Isso significa que nos documentos o psicólogo não precisa entrar em detalhes
desnecessários ao caso analisado, dados que muitas vezes podem levar a
interpretações equivocadas por parte de quem lê assim como expor em demasia o
indivíduo avaliado.
Talvez fatores como temor exacerbado quanto ao uso que poderá ser feito
das informações, bem como uma tendência de omissão no esclarecimento de dados
centrais da avaliação, podem gerar laudos/relatórios psicológicos pouco claros ou
inespecíficos, o que pode trazer danos tanto para o avaliado quanto para a imagem
do profissional.
No que se refere à estrutura do laudo/relatório, a Resolução exige a
apresentação de, no mínimo, cinco itens: identificação, descrição da demanda,
procedimento, análise e conclusão. No entanto, não explicita se esses subtítulos
são obrigatórios ou se o documento em questão deve apresentar itens que reflitam
estes conteúdos, não necessariamente com esta nomenclatura.
Ao examinar cada item separadamente, surgem outras questões não
contempladas diretamente pela Resolução. No que se refere ao item Identificação,
essa prevê três identificadores: o autor/relator (quem elabora o documento); o
interessado (quem o solicita) e o assunto/finalidade (qual a razão/finalidade deste).
Em nenhum trecho da Resolução é especificado que dados sobre o avaliado
devem constar no documento. Mesmo dentre os identificadores detalhados, a
informação central a ser mencionada é o nome do autor/relator e do interessado,
não constando dados como formação profissional e vínculo institucional, por
exemplo. Temos utilizado, na nossa experiência, os seguintes dados de
identificação específicos do(s) avaliado(s): nome completo, data de nascimento,
idade, sexo, escolaridade e ocupação e, em casos de criança ou adolescente, os
mesmos dados de identificação para os pais.
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No identificador Assunto, a Resolução sugere a indicação da razão ou motivo


do pedido, e menciona alguns exemplos: "se para acompanhamento psicológico,
prorrogação de prazo para acompanhamento ou outras razões pertinentes a uma
avaliação psicológica".
É relevante observar que, na prática, muitos psicólogos colocam nesse item a
informação "para fins de avaliação psicológica", o que na verdade é uma tautologia,
uma vez que tanto o atestado como o relatório/laudo psicológico são decorrentes de
avaliação psicológica. Sugerimos que o motivo seja descrito de forma específica,
por exemplo "para investigação de queixas de memória", "avaliação do
funcionamento cognitivo devido a dificuldades escolares", "para avaliação da
competência parental para o exercício da guarda".
O segundo item previsto pela estrutura do laudo/relatório é a Descrição da
demanda, que é destinada à "narração das informações referentes à problemática
apresentada e dos motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do
documento. Nesta parte, deve-se apresentar a análise que se faz da demanda de
forma a justificar o procedimento adotado" (Resolução CFP nº 007/2003, 2003b, p.
8).
Esse item é essencial no que se refere à descrição da(s) queixa(s)
relatada(s) pelo solicitante e/ou pelo avaliado e da possibilidade de investigar as
causas desta(s) através de uma avaliação psicológica. Em muitos casos, a
demanda inicial pode ser mais ampla do que uma avaliação psicológica pode
responder, e é responsabilidade do autor do documento explicitar quais aspectos
poderão ser avaliados e quais necessitarão, por exemplo, ser encaminhados a
outros profissionais para serem melhor investigados. O terceiro item a constar na
estrutura, Procedimento, deve apresentar os recursos e instrumentos técnicos
utilizados para coletar as informações (número de encontros, pessoas ouvidas etc.)
à luz do referencial teórico-filosófico que os embasa.
A Resolução ressalva que o procedimento adotado deve ser pertinente para
avaliar a complexidade do que está sendo demandado. Não é especificado se, no
caso de uso de instrumentos psicológicos, devem ser apresentadas as referências
bibliográficas dos respectivos manuais.
Alguns profissionais entendem que o "referencial teórico-filosófico" a que a
Resolução se refere implicaria a indicação de somente uma abordagem teórica
(psicanálise, cognitivo-comportamental, humanismo, sistêmica, gestáltica) utilizada
para a avaliação.
No nosso entendimento, quem trabalha com avaliação psicológica pode
utilizar diferentes referenciais e, inclusive, integrá-los para o entendimento dinâmico
do avaliado. Por exemplo, quem trabalha com avaliação pode utilizar técnicas
projetivas, com enfoque psicanalítico, assim como avaliar aspectos cognitivos
utilizando o Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC IV), aprofundando
entendimentos de uma linha mais cognitiva.
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Nesse sentido, ele vai se utilizar de diferentes abordagens teóricas. Na


realidade, este é o diferencial do psicólogo que trabalha com avaliação psicológica:
ter uma visão integrada do avaliado, devendo inclusive se utilizar de conhecimentos
que extrapolam a Psicologia (por exemplo, noções de neurologia, fonoaudiologia e
fisiologia).
O item Análise corresponde à exposição descritiva metódica, objetiva e fiel
dos dados colhidos e das situações vividas relacionados à demanda em sua
complexidade. É dado destaque à necessidade de a avaliação psicológica
considerar as determinações históricas, sociais, econômicas e políticas das
questões de ordem psicológica.
Tal advertência é relevante na medida em que orienta que a avaliação
psicológica não deve servir como mera ferramenta de reprodução de práticas
estigmatizantes sem reflexão. Contudo, o termo Análise não se mostra adequado,
uma vez que pressupõe inferência e interpretação, no entanto, as orientações dadas
para esse item sugerem uma exposição descritiva relacionada à demanda.
O item se torna confuso, pois pressupõe a inclusão simultânea de uma
descrição (que poderia ser compreendida como a história do caso), da
apresentação dos resultados e do estabelecimento de suas relações com os dados
colhidos. Como alternativa ao item Análise, sugerimos sua substituição por três
itens, conforme descreveremos a seguir.
O primeiro seria um item específico para a descrição da história da pessoa
avaliada, desvinculada da interpretação feita pelo psicólogo acerca desses eventos,
bem como a impressão geral transmitida pelo paciente ao autor (Pasquali, 2001). A
nomenclatura utilizada nesse item pode variar conforme a demanda da avaliação
(ex.: História Clínica, Histórico Familiar, Histórico Ocupacional etc.).
O segundo seria denominado Resultados, contendo dados obtidos a partir
dos procedimentos utilizados. O terceiro item, Integração dos Dados, promoveria a
síntese e a interpretação entre todos os dados obtidos durante a avaliação. Em
determinadas situações, esses dois últimos itens podem ser apresentados em
conjunto. O item Conclusão contempla a exposição do resultado e/ou considerações
a respeito da investigação a partir das referências que subsidiaram a avaliação. A
Resolução ressalta também a importância de sugestões e projetos de trabalho que
contemplem a complexidade das variáveis envolvidas durante o processo.
Como orientações gerais para a escrita deste tipo de documento, baseadas
em dificuldades frequentemente apresentadas por psicólogos e estudantes de
Psicologia, destacamos:
(a) a importância da escolha ética das informações a serem apresentadas,
considerando a quem o documento será destinado, ​(b) a necessidade de uma
escrita descritiva da demanda e da história clínica, evitando julgamentos ou
interpretações, ​(c) a apresentação clara dos procedimentos adotados e dos
resultados obtidos, considerando o destinatário do documento e ​(d) o
comprometimento do autor do laudo com o encaminhamento do caso avaliado.
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No que se refere ao primeiro ponto, salientamos que a escolha das


informações a serem relatadas deve ser norteada pela análise da demanda feita
inicialmente no processo de avaliação psicológica.
O conteúdo e o nível de complexidade da linguagem (mais simples e direta
ou mais técnica e detalhada) a serem utilizados no documento estão diretamente
relacionados à definição das questões a serem investigadas pela avaliação e do
destinatário do documento (que pode ser tanto um profissional, geralmente da área
da saúde, como o próprio paciente ou responsável).
Reforça-se também a importância de uma escrita concisa, na qual não é
necessário relatar cada encontro ou procedimento feito com o paciente, mas sim as
informações mais relevantes para a compreensão da problemática do caso, como
eventos e conteúdo que se repetem com frequência na história daquele, assim
como fatos incomuns, mas marcantes em sua trajetória.
O segundo ponto aborda a importância da descrição da demanda e da
história clínica do avaliado de forma não interpretativa. Observa-se que muitas
vezes os autores dos documentos psicológicos têm dificuldade em relatar de forma
objetiva (conforme relato feito pelo avaliado, familiar ou profissional envolvido) as
queixas e a história do caso.
É importante que esta parte do documento deixe explícito quem é a fonte de
cada informação, além de mencionar os valores atribuídos a estas informações
pelos envolvidos, sem interferência da leitura feita pelo avaliador. Tal descrição
permite que os futuros destinatários do documento (frequentemente profissionais
aos quais o paciente foi encaminhado) compreendam melhor o caso e a
investigação que foi feita a partir da demanda inicial e da história do avaliado.
Ressalta-se também a importância de organizar as informações de forma que
essa seja compreensível, respeitando a ordem cronológica dos acontecimentos e
separando os parágrafos com base em conteúdos comuns (p.ex.: desenvolvimento
inicial, período escolar, relacionamento familiar, relacionamento social etc.). Cabe
fazer uma observação, no contexto do relato da demanda e da história clínica, sobre
o uso do termo "sic". Muitas vezes esse é utilizado como sigla para "segundo
informações colhidas".
No entanto, trata-se de uma contração de um termo do latim, "sicut", que
significa "assim, desse modo" (Maia & Palomo, 2012). O Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa define que sic, utilizado entre parênteses ou colchetes em uma
citação, indica que o texto está sendo reproduzido exatamente da mesma forma
como no original, por errado ou estranho que esse possa parecer (Houaiss & Villar,
2001).
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Ressalta-se que o simples uso de aspas na afirmativa do paciente já


demonstra tratar-se de uma transcrição literal, tornando desnecessário o uso do sic
como popularmente utilizado (no sentido de "segundo informações colhidas").
Sugerimos que o uso do termo sic seja limitado a situações nas quais não se
pode confirmar a veracidade ou acurácia do relato ou nas quais se deseje destacar
uma informação ou incongruência, evitando um uso que implicitamente desqualifica
o relato original.
A seguir, um exemplo no qual seria recomendado o uso do termo sic: "o
paciente afirma que nunca viu o pai 'alto'(sic) - ou seja, alcoolizado". Trechos do
relato em que se apresente o discurso direto do paciente não necessitariam de sic,
apenas de aspas.
A apresentação clara dos procedimentos e resultados da avaliação, incluída
no terceiro ponto, tem como eixo central o tipo de destinatário a quem este
documento se destina. Nesse caso, cabe fazer uma diferenciação entre:
destinatários leigos, profissionais da área da saúde não psicólogos e psicólogos.
No caso dos destinatários leigos, a descrição dos procedimentos e resultados
deve ser clara e específica, mas sem o uso de termos excessivamente técnicos (ou,
no caso de serem usados, estes devem vir seguidos de uma explicação em
linguagem simples).
Sugere-se também que seja evitado o uso da exposição de resultados
numéricos sem a devida interpretação (por exemplo, o que significa o percentil
obtido pelo paciente). No caso de documentos destinados a profissionais da área da
saúde não psicólogos, a terminologia técnica pode ser utilizada, mas é
contraindicado o uso de jargões psicológicos.
No que tange aos destinatários psicólogos, é importante lembrar que nem
todos os profissionais da área têm conhecimentos específicos de avaliação
psicológica, portanto se faz necessário o esclarecimento de termos da área. Por fim,
no último ponto, ressaltamos a importância de que o documento produzido seja
coerente em seu propósito. Se a avaliação foi solicitada para a investigação de um
problema psicológico, a conclusão do documento deve retomar os aspectos
principais do processo, bem como sugerir indicações terapêuticas para esta
demanda.
Não é imprescindível indicar profissionais específicos, mas é essencial ao
menos sugerir tratamentos, condutas e outros tipos de investigações, quando o
caso necessitar. Em algumas situações, também pode ser preciso explicitar os
riscos que a manutenção de um determinado estado, sem auxílio terapêutico, pode
implicar.
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Parecer
O Parecer Psicológico é definido pela Resolução CFP nº 007/2003 como "um
documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo
psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo" (2003b, p. 9).
Explica, ainda, que esse documento tem como objetivo apresentar resposta
esclarecedora, no campo do conhecimento psicológico, através de uma avaliação
especializada, de uma 'questão-problema', visando a dirimir dúvidas que estão
interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de
quem responde competência no assunto. (2003b, p. 9)
Aqui cabe retomar a observação da Resolução nº 007/2003 (2003b) sobre o
fato de o parecer não ser um documento decorrente de avaliação psicológica.
Seu objetivo é diferente do laudo/relatório e, portanto, sua estrutura é mais
objetiva, dispensando o item "procedimentos". Trata-se de uma resposta pontual e
esclarecedora, que exige conhecimento da ciência psicológica. Pareceres podem
ser solicitados por instituições (como escolas), ou profissionais (psiquiatras,
neurologistas, fonoaudiólogos, advogados).
A resposta a essas solicitações não exige a necessidade de realizar uma
avaliação psicológica, pois o psicólogo responderá ao que lhe foi questionado a
partir de seu conhecimento técnico e embasado em referencial teórico pertinente.
Um advogado pode, por exemplo, solicitar um parecer psicológico acerca dos
possíveis benefícios e malefícios da guarda compartilhada para crianças com
menos de dois anos de idade.
Na área clínica, um psicólogo pode ser solicitado a realizar um parecer sobre
a possibilidade de uma criança com Transtorno do Espectro Autista acompanhar
uma classe regular de primeiro ano do ensino fundamental. Nessas situações, o
psicólogo não responderia com base em um único sujeito, mas considerando o atual
estado da arte que motivou tal consulta.
A Resolução CFP nº 007/2003 (2003b) faz referência também à possibilidade
da existência de quesitos, os quais são perguntas elaboradas pelo solicitante da
avaliação. Sempre que existirem quesitos, o parecerista deverá respondê-los de
forma sintética e convincente, não deixando nenhum quesito sem resposta.
Nas situações em que não existam dados suficientes para emitir uma
resposta mais categórica, deve-se utilizar a expressão "sem elementos de
convicção". Se o quesito estiver mal formulado, pode-se afirmar "prejudicado", "sem
elementos" ou "aguarda evolução". Porém, é importante reforçar que todos os
quesitos exigem uma resposta.
Após a apresentação das críticas em relação à nomenclatura do documento,
explorar-se-á a partir de agora a estrutura do parecer. Conforme disposto na
Resolução CFP nº 007/2003 (2003b), quatro itens compõem o parecer:
identificação, exposição de motivos, análise e conclusão. Em relação à
Identificação, diferentemente do laudo, há a orientação de indicar a titulação do
parecerista, assim como a titulação de quem está solicitando.
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Entende-se que essa orientação seja no sentido de reforçar a especialidade


do psicólogo a quem foi encaminhada a demanda do parecer, justificando sua
competência para tratar do assunto. No item "exposição de motivos", deve constar o
objetivo da consulta e dos quesitos ou dúvidas do solicitante. A Resolução deixa
claro que não há necessidade de descrever detalhadamente os procedimentos,
dados colhidos ou até mesmo o nome dos envolvidos.
Complementando a crítica feita anteriormente em relação à diferença de
nomenclaturas entre as áreas da Psicologia e do Direito, cabe observar que o perito,
ao elaborar seu laudo, apresenta a "resposta aos quesitos" como um novo item,
após a "conclusão", antes de datar e assinar o documento (Rovinski, 2004). A
Resolução do CFP não deixa clara essa informação; pelo contrário, entende-se que
os quesitos deveriam constar no item "exposição de motivos", o que seria uma
prática inadequada no contexto forense.
A análise deve responder à demanda descrita no item "exposição de
motivos", de uma forma resumida, com base no corpo conceitual da ciência
psicológica. Pode, ainda, incluir referências de trabalhos científicos para citações e
informações. Diferentemente da discussão proposta na estrutura do Laudo/Relatório
acerca do termo Análise, aqui entendemos que o termo se mostra adequado. Por
fim, a conclusão apresentará o posicionamento do parecerista, que deverá
responder à questão levantada.
A conclusão deve ser objetiva e concisa, pois se espera que a discussão dos
dados levantados conste no item "análise", ou seja, a justificativa da conclusão
estaria apresentada no item anterior. E, como em todos os documentos
psicológicos, ao final deverá ser informada data e local, e deverão constar a
assinatura do psicólogo e seu carimbo, com número do registro profissional. No
caso de documentos com mais de uma página, o psicólogo deverá rubricar todas as
folhas do documento (a numeração das páginas não é obrigatória, mas indicada).

Validade e Guarda dos Documentos


Os últimos itens contemplados pela Resolução CFP nº 007/2003 (2003b)
dizem respeito à "validade dos conteúdos dos documentos" e "guarda dos
documentos e condições de guarda". Em relação ao prazo de validade, a Resolução
orienta que o psicólogo deverá considerar a legislação vigente nos casos já
definidos. Em não havendo definição legal, o psicólogo poderá indicar, sempre que
possível, o prazo da validade do conteúdo no próprio documento, dispondo dos
fundamentos para tal indicação.
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A título de exemplo, cita-se o caso de uma paciente que se submeteu à


avaliação neuropsicológica e, paralelamente, estava passando por processo de
desintoxicação por agentes químicos. Foi sugerido no laudo decorrente da avaliação
que, após um ano, a avaliação fosse refeita, a fim de comparar os resultados, com o
objetivo de verificar a incidência de progressos ou prejuízos na área da cognição,
considerando os possíveis efeitos do tratamento de desintoxicação. No que tange à
guarda dos documentos, a Resolução indica o prazo mínimo de cinco anos para a
guarda não apenas do laudo, mas de todos os materiais referentes à avaliação.
Neste caso, orientamos que se incluam anotações do psicólogo, folhas de
resposta dos testes e outros materiais que fundamentam os achados da avaliação.
A guarda é de responsabilidade do psicólogo ou da instituição em que a avaliação
foi realizada.
Poderá haver ampliação desse prazo nos casos previstos em lei. Por fim,
caso haja a extinção do Serviço de Psicologia, deverão ser seguidas as orientações
do Código de Ética para o destino dos documentos.

Orientações Práticas para a Escrita de Documentos


Considerando nossa experiência enquanto supervisoras de avaliação
psicológica, foi possível observar a dificuldade que muitos estudantes e/ou
profissionais da Psicologia apresentam para redigir seus documentos.
No intuito de contribuir para esse aprimoramento da escrita,
exemplificaremos algumas falhas encontradas em documentos, justificando sua
inadequação, a fim de que aqueles que buscam orientações de redação possam, ao
menos, evitar incorrer em tais erros.

Utilização de Linguagem Não-Técnica


"​E de repente, surge aquele estranho querendo abusá-la, atacando-a da forma mais
cruel que uma criança pode conceber ... Essa paciente está muito sentida, com
aqueles soluços que parecem do fundo de sua alma infantil". "Joana é uma mulher
guerreira e muito sofredora​"

Os trechos acima, extraídos de documentos emitidos por psicólogos,


demonstram a ausência de linguagem técnica e incorrem na emissão de
julgamentos morais. Parecem, inclusive, remeter a uma linguagem de texto
dramático e/ou romântico. Nesses casos, termos como "a paciente apresenta grave
sofrimento psíquico" e "revela persistência diante de seus objetivos" são sugestões
que apresentam uma linguagem técnica mais adequada.
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Afirmações Categóricas
"A partir das entrevistas realizadas com mãe, pai, filha, avós e tia materna da vítima,
é possível afirmar, com certeza, que abusos sexuais e físicos ocorreram".

Ainda que o psicólogo possa estar convencido da possível ocorrência de


abusos sexuais e físicos, a redação de seu documento deve ser mais cautelosa. A
Psicologia não é uma ciência que nos permita certezas, especialmente por meio de
dados coletados exclusivamente a partir de entrevistas. Nesse caso, o profissional
poderia ter usado alguma expressão do tipo "é possível evidenciar a existência de
fortes indícios de ocorrência de abusos sexuais e físicos".
Nessa situação, é importante que o profissional descreve, ainda, quais são
esses indícios, preferencialmente relacionando o observado com referências da
literatura que corroboram seus achados clínicos. Tais referências podem constar
como nota de rodapé ou, ainda, em uma lista ao final do documento.

Informação Imprecisa, Sem Fundamentação Técnico-Científica


"Sr. João demonstra um comportamento extremamente agressivo e, sem que haja
mínimos critérios de segurança, quanto à doença mental/neurológica que acomete o
Sr. João e que se apresenta como grave, seu contato com a filha não deve ser
permitido, para segurança desta."

Os profissionais que emitiram o documento cujo trecho foi extraído acima


fazem referência a uma "doença mental/neurológica", descrita como grave.
Entretanto, não há identificação de que doença seria, nem tampouco embasamento
para justificar os critérios diagnósticos utilizados para chegar a tal conclusão.
Quando houver um diagnóstico do paciente sob avaliação, é importante deixar claro
qual o diagnóstico (informando, inclusive, o CID) e, ainda, descrever os critérios que
permitiram a conclusão por tal diagnóstico. Esse apontamento é especialmente
importante para o próprio autor do documento, como um respaldo da qualidade
técnica de seu trabalho.

Desrespeito aos Limites de Atuação do Psicólogo


"Foi ordenado a Srta. Maria que não permitisse o contato de sua filha com o pai".
É preciso atentar aos limites de nossa atuação e, para tanto, tomar cuidado
com a utilização de certas palavras. Enquanto psicólogos, ainda que exercendo o
papel de peritos, por exemplo, não temos autoridade para "ordenar", o que seria da
competência do juiz, se aplicável ao caso. Ao psicólogo compete "recomendar",
"sugerir", "indicar".
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Pessoalidade na Escrita
"A seguir apresentamos análise de cada um dos avaliados".
"Nessa ocasião o avô compartilhou conosco a perda da esposa e sua preocupação
com os netos".
Os documentos devem primar pela impessoalidade na escrita, evitando ao
máximo a utilização de linguagem em primeira pessoa, como no exemplo acima.
Para evitar esse erro, sugere-se a utilização de escrita na voz passiva (serão
apresentados), ou reflexiva (apresentar-se-á). No segundo exemplo, o trecho
sublinhado poderia ser substituído por "informou".

Uso de Gíria, Expressão Coloquial ou Depreciação


"Joana apresentava-se vestida de acordo com a idade, mas sem grandes
investimentos no vestuário".

"O paciente teve a oportunidade de conviver com seus pais casados por somente
três anos ... Ele cursou a faculdade por cinco anos e, durante todo esse tempo, não
conseguiu avançar além do terceiro semestre".

No primeiro exemplo citado, o trecho sublinhado faz uso de gíria ou


expressões coloquiais desnecessárias ao entendimento da situação. Já no último
exemplo, fica implícita a avaliação negativa que o autor faz sobre a duração do
casamento dos pais do avaliando ou o desempenho deste na faculdade.
O psicólogo deve se ater a relatar fatos ou, quando necessário, se limitar a
reproduzir juízos de valor expressados pelo avaliando ou por pessoas envolvidas no
caso por meio de aspas, nunca expondo opiniões pessoais acerca da vida do
sujeito.

Uso de Termos Técnicos Desnecessários ou Sem a Devida Explicação


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"Essa escala demonstrou que o paciente se encontra num nível intelectual superior,
com alta capacidade de análise e síntese, bem como de insight.... Suas fraquezas
estão centradas numa dificuldade específica de atenção e de memória imediata, o
que sugere uma baixa capacidade do ego sobre os processos de pensamento."
"Nesse instrumento foi detectada uma tendência do indivíduo de utilizar em demasia
a fantasia, gerando uma forma de pensamento infantil e egocêntrica".

Em alguns casos, como no primeiro exemplo, o termo técnico pode ser


utilizado, desde que acompanhado de um esclarecimento em linguagem acessível.
No outro exemplo, a reescrita do trecho sublinhado seria indicada, evitando a
possibilidade de uma interpretação inadequada.

Uso Inadequado de Informações Obtidas por Meio de Técnicas Psicológicas


"No teste HTP, onde o paciente deve desenhar uma casa, uma árvore e uma
pessoa em folhas individuais, tanto colorido como posteriormente, sem cor".

"Na escala SNAP, das 26 questões da escala, as respostas da mãe foram, 15


'bastante', 8 'demais', 2 'um pouco' e 1 'nada'. As respostas da professora não foram
muito diferentes: 17 'bastante', 6 'demais' e 3 'um pouco'".

"A análise das características de personalidade de Maria sugere que ela não dispõe
de recursos psicológicos suficientes para enfrentar seus disparadores internos de
tensão. Os dados indicaram que a paciente apresenta um estilo vivencial do tipo
ambígua, isto é, seu estilo de responder as demandas do meio ocorrem tanto por
meio de atividades reflexivas (pensamento), bem como por meio dos afetos
eliciados (emoção)."

Os dois exemplos iniciais apresentam descrições excessivas das técnicas


utilizadas, sem benefício para a compreensão do desempenho do avaliado ou da
responsável. O terceiro exemplo apresenta uma interpretação que utiliza muitos
termos específicos da literatura das técnicas projetivas que não contribuem para a
clara explicação dos fenômenos observados.
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PSICOPATAS, SOCIOPATAS E SERIAL


KILLERS

A classificação de transtornos
mentais e de comportamento, em
sua décima revisão (CID-10),
descreve o transtorno específico de
personalidade como uma
perturbação grave da constituição
caracterológica e das tendências
comportamentais do indivíduo. Tal
perturbação não deve ser
diretamente imputável a uma
doença, lesão ou outra afecção
cerebral ou a um outro transtorno psiquiátrico e usualmente envolve várias áreas da
personalidade, sendo quase sempre associada à ruptura pessoal e social.
Os transtornos de personalidade (TP) não são propriamente doenças, mas
anomalias do desenvolvimento psíquico, sendo considerados, em psiquiatria
forense, como perturbação da saúde mental. Esses transtornos envolvem a
desarmonia da afetividade e da excitabilidade com integração deficitária dos
impulsos, das atitudes e das condutas, manifestando-se no relacionamento
interpessoal.

De fato, os indivíduos portadores desse tipo de transtorno podem ser vistos


pelos leigos como pessoas problemáticas e de difícil relacionamento interpessoal.
São improdutivos quando considerado o histórico de suas vidas e acabam por não
conseguir se estabelecer. O comportamento é muitas vezes turbulento, as atitudes
incoerentes e pautadas por um imediatismo de satisfação. Assim, os TP se
traduzem por atritos relevantes no relacionamento interpessoal, que ocorrem devido
à desarmonia da organização e da integração da vida afetivo-emocional.
No plano forense, os TP adquirem uma enorme importância, já que seus
portadores se envolvem, não raramente, em atos criminosos e, consequentemente,
em processos judiciais, especialmente aqueles que apresentam características
antissociais. presentam características anti-sociais.
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Por se tratar de condições permanentes, as taxas de incidência e prevalência


se equivalem na questão dos TP. A incidência global de TP na população geral
varia entre 10% e 15%, sendo que cada tipo de transtorno contribui com 0,5% a
3%.3-4 Entre os americanos adultos, 38 milhões apresentam pelo menos um tipo de
TP, o que corresponde a 14,79% da população. Esse tipo de transtorno específico
de personalidade é marcado por uma insensibilidade aos sentimentos alheios.
Quando o grau dessa insensibilidade se apresenta elevado, levando o indivíduo a
uma acentuada indiferença afetiva, ele pode adotar um comportamento criminal
recorrente e o quadro clínico de TP assume o feitio de psicopatia.

Etiologia
Existem estudos que apontam para a ausência de fatores de risco
neuropsiquiátrico para o desenvolvimento de transtorno de personalidade antisocial.
Têm sido investigados aspectos orgânicos, como complicações obstétricas,
epilepsia e infecção cerebral.
Achados anormais no exame eletroencefalográfico (EEG) também foram
encontrados em indivíduos com transtorno de personalidade antissocial que
praticaram crimes. Uma das anormalidades registradas mais frequentemente tem
sido a persistência de ondas lentas nos lobos temporais.
Segundo Eysenck e Gudjohnsson, que elaboraram a Teoria da Excitação
Geral da Criminalidade,7 existe uma condição biológica comum subjacente às
predisposições comportamentais dos indivíduos com psicopatia. Estes seriam
extrovertidos, impulsivos e caçadores de emoções, apresentando um sistema
nervoso relativamente insensível a baixos níveis de estimulação (não se contentam
com pouco, são hiperativos na infância). Assim, para aumentar sua excitação,
participariam de atividades de alto risco, como o crime.
A biologia e a genética molecular vêm colaborando progressivamente para o
entendimento e o tratamento dos pacientes psiquiátricos. No entanto, até hoje, não
foi possível encontrar genes específicos para os diversos transtornos mentais.8 Nos
TP, os genes não podem ser considerados responsáveis pelo transtorno, mas, sim,
pela predisposição. Consequentemente, é fundamental se considerar o ambiente
em que vive o indivíduo e a interação com ele estabelecida. O conceito de espectro
vem sendo utilizado no sentido de demonstrar que, conforme a interação ambiental,
mesmo o sujeito apresentando um gene determinante, pode não vir a expressar o
transtorno mental previsível, ou expressá-lo em um amplo espectro de
configurações clínicas.
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Diversos estudos comprovaram a existência de traços de personalidade


determinados por características genéticas. Estudos com gêmeos monozigóticos
mostraram comportamentos bastante semelhantes em suas escolhas pessoais,
sociais e profissionais, mesmo em indivíduos criados em ambientes diferentes.
Houve também uma concordância significativa no desenvolvimento de transtornos
de personalidade, bem maior do que aquela encontrada em gêmeos dizigóticos.
Tais resultados foram posteriormente respaldados por estudos incluindo filhos
adotivos.
Existem ainda aspectos biológicos que não são de natureza genética, mas
que também interferem no desenvolvimento da personalidade. Como exemplo, um
comportamento de maior agressividade pode estar relacionado a níveis maiores do
hormônio testosterona. Por outro lado, níveis aumentados de serotonina podem
gerar um comportamento mais sociável.
Quanto à interação que o indivíduo estabelece com o meio ambiente, uma
importância especial tem sido dada aos relacionamentos primitivos, devido à sua
influência na formação do núcleo de sua personalidade. Sabe-se que a negligência
e os maus-tratos recebidos por uma criança em que o cérebro está sendo esculpido
pela experiência, induz a uma anomalia da circuitaria cerebral, podendo conduzir à
agressividade, hiperatividade, distúrbios de atenção, delinquência e abuso de
drogas.
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Classificação
A CID, em sua décima revisão, descreve oito tipos de transtornos específicos
de personalidade: paranoide; esquizoide; antissocial; emocionalmente instável;
histriônico; anancástico; ansioso; e dependente.

1. Transtorno paranoide: predomina a desconfiança, sensibilidade excessiva a


contrariedades e o sentimento de estar sempre sendo prejudicado pelos
outros; atitudes de auto referência.
2. Transtorno esquizoide: predomina o desapego, ocorre desinteresse pelo
contato social, retraimento afetivo, dificuldade em experimentar prazer;
tendência à introspecção.
3. Transtorno antissocial: prevalece a indiferença pelos sentimentos alheios,
podendo adotar comportamento cruel; desprezo por normas e obrigações;
baixa tolerância a frustração e baixo limiar para descarga de atos violentos.
4. Transtorno emocionalmente instável: marcado por manifestações impulsivas
e imprevisíveis. Apresenta dois subtipos: impulsivo e borderline. O impulsivo
é caracterizado pela instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos.
O borderline, por sua vez, além da instabilidade emocional, revela
perturbações da autoimagem, com dificuldade em definir suas preferências
pessoais, com consequente sentimento de vazio.
5. Transtorno histriônico: prevalece egocentrismo, a baixa tolerância a
frustrações, a teatralidade e a superficialidade. Impera a necessidade de
fazer com que todos dirijam a atenção para eles próprios.
6. Transtorno anancástico: prevalece preocupação com detalhes, a rigidez e a
teimosia. Existem pensamentos repetitivos e intrusivos que não alcançam, no
entanto, a gravidade de um transtorno obsessivo-compulsivo.
7. Transtorno ansioso (ou esquivo): prevalece sensibilidade excessiva a críticas;
sentimentos persistentes de tensão e apreensão, com tendência a
retraimento social por insegurança de sua capacidade social e/ou
profissional.
8. Transtorno dependente: prevalece astenia do comportamento, carência de
determinação e iniciativa, bem como instabilidade de propósitos. No entanto,
neste estudo, o enfoque será dado ao transtorno de personalidade
antissocial, por ser este o tipo revestido de maior importância na esfera
forense, devido à sua íntima associação com o comportamento psicopático.
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Diagnóstico
O diagnóstico dos transtornos de personalidade é ainda hoje de difícil
identificação pelos psiquiatras. Esse fato é agravado pelo desinteresse que muitos
deles manifestam pelos transtornos dessa natureza, por entenderem que patologias
desse tipo, por serem permanentes e refratárias a tratamento, não compensam o
atendimento especializado.
Não raramente, o diagnóstico é lembrado somente quando a evolução do
transtorno mental tratado é insatisfatória. A avaliação diagnóstica enfrenta uma
polêmica internacionalmente conhecida, centrada na divergência entre a valorização
maior de entrevistas livres ou aplicação de testes padronizados. Enquanto alguns
profissionais baseiam o seu diagnóstico no relato de seus pacientes e exame direto
de como ele se manifesta emocionalmente, outros já preferem a utilização de testes
padronizados, com questões diretivas.
Segundo Western, a investigação diagnóstica do transtorno de personalidade
antissocial é uma das que mais se beneficia das entrevistas estruturadas, pelos
índices bastante objetivos no que se refere ao comportamento de seus portadores.
Para o diagnóstico de TP é necessária uma boa e minuciosa avaliação
semiológica. Investiga-se toda a história de vida do examinando, verificando a
existência ou não de padrão anormal de conduta ao longo de sua história de vida. A
dinâmica dos processos psíquicos, apesar de inestimável importância, pode
confundir o profissional na categorização dos TP.
Por exemplo, o psiquiatra pode confundir o estado afetivo da esquizotípica,
ou mesmo da esquizoidia, que se caracteriza por expressão afetiva deficiente, com
a indiferença e insensibilidade afetiva do transtorno antissocial. Não se tem ainda
um instrumento confiável para o diagnóstico de TP.
Consequentemente, o índice de confiabilidade do diagnóstico é baixo, sendo
o índice KAPPA de 0,51.13 Os instrumentos de auto aplicação mostraram-se falhos
na identificação desses transtornos. Não se recomenda também o diagnóstico de
TP até a idade de responsabilidade legal que vai até 16 ou 17 anos, preferindo-se o
diagnóstico de transtorno de conduta preferindo-se o diagnóstico de transtorno de
conduta.
As características relacionadas aos TP manifestam-se em circunstâncias
específicas, quando as situações vivenciadas pelo sujeito assumem um significado
tal que despertam reações peculiares que, por sua vez, expressam a dinâmica
psíquica latente. Essa disposição, entretanto, pode interferir de modo mais ou
menos intenso na dinâmica subjetiva e nas diversas modalidades de relacionamento
interpessoal.
É preciso considerar que os TP podem se apresentar como um espectro de
disposições psíquicas que, em grau muito acentuado, seria realmente difícil
distingui-los das psicopatias que, por sua vez, não constituem um diagnóstico
médico, mas um termo psiquiátrico-forense.
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Não obstante, foi plausível configurar diferenças significativas de padrão, por


meio dos dados da Prova de Rorschach e do ponto de corte da escala de Hare. No
caso das psicopatias, o dinamismo anômalo evidenciou ser mais extenso,
envolvendo de modo tão amplo a vida psíquica, que esta condição assume
importância particular para a psiquiatria forense, em especial pelo fato de apresentar
ampla insensibilidade afetiva, o que dificultaria os processos de reabilitação.
Segundo Hare, os psicopatas diferem de modo fundamental dos demais
criminosos. Ele realizou uma pesquisa com o objetivo de encontrar parâmetros que
pudessem diferenciar a condição de psicopatia e criou um instrumento de pesquisa,
a escala PCL-R. Essa escala é um checklist de 20 itens, recentemente validada no
Brasil por Morana, com pontuação de zero a dois para cada item, perfazendo um
total de 40 pontos.
O ponto de corte não é estabelecido de forma rígida, mas um resultado acima
de 30 pontos traduziria um psicopata típico. Os 20 elementos que compõem a
escala são os seguintes:
1. loquacidade/charme superficial;
2. autoestima inflada;
3. necessidade de estimulação/tendência ao tédio;
4. mentira patológica;
5. controle/manipulação;
6. falta de remorso ou culpa;
7. afeto superficial;
8. insensibilidade/falta de empatia;
9. estilo de vida parasitário;
10. frágil controle comportamental;
11. comportamento sexual promíscuo;
12. problemas comportamentais precoces;
13. falta de metas realísticas em longo prazo;
14. impulsividade;
15. irresponsabilidade;
16. falha em assumir responsabilidade;
17. muitos relacionamentos conjugais de curta duração;
18. delinquência juvenil;
19. revogação de liberdade condicional; e
20. versatilidade criminal.
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Em trabalho recente, Morana et al., por meio da análise de cluster de sujeitos


criminosos classificados com transtorno antissocial da personalidade,
estabeleceram dois tipos de personalidade anti-sociais: transtorno global (TG) e
transtorno parcial, que encontraram equivalência estatística com psicopatia e
não-psicopatia tal qual estabelecido por Hare et al.
O estudo foi realizado por meio do ponto de corte obtido no PCL-R. As faixas
de pontuação do PCL-R para a população forense estudada correspondem a: não
criminoso (0 a 12); transtorno parcial (12 a 23); e transtorno global (23 a 40). O
grupo com transtorno parcial tem uma manifestação caracterológica
significativamente atenuada do grupo da psicopatia, por meio da pontuação na
escala PCL-R. A análise de cluster pode comprovar que a condição de transtorno
parcial é uma atenuação do transtorno global da personalidade. Isto de torna
relevante para a diferenciação do risco de reincidência criminal entre a população
de criminosos. O diagnóstico diferencial entre transtornos de personalidade e
transtornos neuróticos pode ser de difícil precisão. Tanto os transtornos neuróticos
como os transtornos de personalidade podem apresentar comportamento de rigidez.
No entanto, um dos aspectos a ser analisado é o grau de "aversão ao risco".17
Essa aversão predomina nos neuróticos, uma vez que essa população tem receio
do que pode lhe causar algum prejuízo e culpa a si mesma pelos insucessos da
vida. Por outro lado, os indivíduos portadores de transtorno de personalidade
antissocial têm uma forte tendência a culpar os outros por seus insucessos e
desavenças.
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Perícia
No exame pericial, é
fundamental a observação atenta
do comportamento do examinando,
desde o momento de sua entrada
na sala de exame. Isso porque a
tendência do periciando é repetir,
ainda que de forma inconsciente, o
seu padrão de funcionamento
mental, sobretudo como ele se
manifesta no relacionamento interpessoal, o que poderá ser utilizado como critério
de diagnóstico. No próprio relacionamento perito-periciando, é possível perceber
alguns sinais que revelam uma personalidade transtornada com características
antissociais ou mesmo psicopáticas.
Os psicopatas são descritos frequentemente como indivíduos deficientes de
empatia. Empatia é a habilidade de se colocar na posição de outra pessoa; imaginar
o que a outra pessoa está experimentando emocionalmente. Na língua inglesa, a
expressão usada para tal definição é "to be able do put yourself in the other person's
shoes", ou seja, ser capaz de usar o sapato do outro, ser capaz de sentir o que o
outro sente.
Alguns autores fizeram as seguintes referências quanto à (in)capacidade de
empatia e resposta emocional dos psicopatas:

1. Entendem muito bem os fatos, mas não se importam;


2. É como se os processos emocionais fossem para eles uma segunda língua;
3. Eles conhecem as palavras, mas não a música. Em outras palavras, são
incapazes de verdadeira empatia e isso pode ser percebido na relação
interpessoal no momento da perícia. Esses examinandos podem entender o
que os outros sentem, do ponto de vista intelectual, uma vez que a noção de
realidade não se altera nestas condições, mas são incapazes de sentir como
pessoas normais do ponto de vista dos sentimentos mais diferenciados.
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Exames psicológicos podem ser muito úteis na investigação diagnóstica de


transtornos de personalidade. Sendo os portadores de TP antissociais tipicamente
indivíduos manipuladores, eles podem tentar exercer um controle sobre sua própria
fala durante a perícia, simular, dissimular, enfim, manipular suas respostas ao que
lhe for perguntado.
Os testes psicológicos dificultam tal manipulação e fornecem elementos
diagnósticos complementares. Outro elemento que pode ser bastante útil na
investigação pericial dos TP é representado por entrevistas com familiares do
periciando, uma vez que eles podem revelar dados importantes sobre a história de
vida do examinando, fundamental para a construção diagnóstica.

Responsabilidade penal e capacidade civil


Variações do padrão de comportamento considerado normal, mas que não
alcançam a condição de doença mental propriamente dita, são condições que
demandam atenção especial nas questões forenses. Em psiquiatria forense
brasileira, os transtornos de personalidade não são considerados doença mental,
mas, sim, perturbação da saúde mental.
Na esfera penal, examina-se a capacidade de entendimento e de
determinação de acordo com o entendimento de um indivíduo que tenha cometido
um ilícito penal. A capacidade de entendimento depende essencialmente da
capacidade cognitiva, que se encontra, geralmente, preservada no transtorno de
personalidade antissocial, bem como no psicopata.
Já em relação à capacidade de determinação, ela é avaliada no Brasil e
depende da capacidade volitiva do indivíduo. Pode estar comprometida
parcialmente no transtorno antissocial de personalidade ou na psicopatia, o que
pode gerar uma condição jurídica de semi-imputabilidade.
Por outro lado, a capacidade de determinação pode estar preservada nos
casos de transtorno de leve intensidade e que não guardam nexo causal com o ato
cometido. Na legislação brasileira, a sem imputabilidade faculta ao juiz diminuir a
pena ou enviar o réu a um hospital para tratamento, caso haja recomendação
médica de especial tratamento curativo.
A medida de segurança para realizar especial tratamento curativo é, por sua
vez, bastante polêmica, devido à grande dificuldade de se tratar de forma eficaz os
portadores de transtorno antissocial. Outro ponto merecedor de questionamento é a
aplicação de um regime de tratamento hospitalar ou ambulatorial na dependência do
tipo de punição previsto para o crime praticado, ao invés de depender do quadro
médico psiquiátrico apresentado.
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Na esfera cível, apesar de existirem várias outras solicitações, o exame


psiquiátrico mais comumente realizado no Brasil é aquele para fins de interdição,
em que se avalia a capacidade do indivíduo de reger sua própria pessoa e
administrar seus bens. A maioria dos portadores de transtorno de personalidade
antissocial não sofre qualquer intervenção judicial. No entanto, casos mais graves
podem gerar uma interdição parcial.

Tratamento
Existe um debate internacional sobre a viabilidade e o alcance do tratamento
dos diversos transtornos de personalidade, sobretudo do tipo antissocial. Segundo
Adshead, os TP ainda representam um desafio terapêutico e o autor propõe um
modelo constituído de sete fatores para checar a viabilidade de seu tratamento. São
eles:
1)​ a natureza e a gravidade da patologia;
2) o grau de invasão do transtorno em outras esferas psicológicas e sociais, bem
como o seu impacto no funcionamento de diferentes setores de sua vida;
3)​ a saúde prévia do paciente e a existência de comorbidade e fatores de risco;
4)​ o momento da intervenção diagnóstica e terapêutica;
5)​ a experiência e a disponibilidade da equipe terapêutica;
6) disponibilidade de unidades especializadas no atendimento de condições
especiais; e
7) conhecimento científico sobre esse transtorno, bem como atitudes culturais em
relação à concepção do tratamento.

Os pacientes portadores de TP demandam excessiva atenção por parte da


equipe profissional e muitos são considerados irritantes e de difícil manejo,
contribuindo para dificuldades contratransferências que dificultam ainda mais a
condução do tratamento.
Existe alguma evidência sugerindo que pessoas que preenchem critérios
plenos para psicopatia não são tratáveis por qualquer forma de terapia disponível na
atualidade. O seu egocentrismo em geral e o desprezo pela psiquiatria em particular
dificultam muito o seu tratamento. No entanto, Berry et al., em um estudo com 48
casos de indivíduos considerados psicopatas, encontraram somente 21 pacientes
(44%) que foram considerados como não responsivos ao tratamento, após um ano
de tentativa.
Esses autores sugerem uma associação entre a resposta terapêutica
negativa e os seguintes fatores: antecedentes prisionais predominando sobre os
hospitalares; não aceitação prévia em realizar tratamento psiquiátrico e falta de
resposta ao mesmo; crime no qual a vítima era desconhecida pelo paciente; e baixo
nível de motivação para o tratamento. Por outro lado, uma parcela de pacientes
portadores de transtorno antissocial de personalidade não psicopatas responde a
processos psicoterápicos.
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Uma outra parcela, no entanto, embora não responsiva inicialmente à terapia,


apresenta mudanças em seu comportamento ao avançar na idade após os 40 anos,
abandonando certos comportamentos que, no passado, os colocaram em
problemas com a lei.
Segundo Davison, os princípios do tratamento são os mesmos de qualquer
condição crônica. Em outras palavras, as condições básicas não podem ser
mudadas, mas tenta-se um alívio da sintomatologia. O lítio pode ser útil no
tratamento de comportamento agressivo e os anticonvulsivantes, como o
topiramato, podem aliviar sintomas de instabilidade de humor, irritabilidade e
impulsividade.
Antipsicóticos podem ser eficazes no controle de sintomas dessa natureza
por vezes exibidos por pacientes borderline. Antidepressivos inibidores seletivos da
recaptação da serotonina podem ser úteis em pacientes também borderline. 21 Por
outro lado, benzodiazepínicos, usados em outros tipos de transtornos de
personalidade, como o paranóide ou o histriônico, devem ser evitados em transtorno
anti social, devido ao alto risco de abuso de substâncias por parte desses pacientes.
Diversos tipos de intervenção psicoterápica vêm sendo propostos. Os
melhores resultados têm sido apontados por aqueles que têm por objetivo o
tratamento de sintomas específicos, e a terapia comportamental dialética vem
recebendo um reconhecimento internacional de sua eficácia em TP. A terapia
cognitivo-comportamental pode ser útil, mas poucos estudos têm dedicado atenção
a essa modalidade terapêutica aplicada a TP.

Seriais killers

Para os propósitos
deste estudo, o termo serial
killer será usado para se
referir somente a homens
que cometeram três ou mais
homicídios sexuais seriados,
separados por intervalos
variados de tempo. Existem
outras formas de serial killing,
como assassinatos
praticados por profissionais
de saúde (enfermeiros, médicos) que envenenam pacientes em hospitais ou mesmo
em suas residências, ou ainda homicídios praticados por mulheres, onde
frequentemente não existe um elemento sexual. Como dito antes, este estudo
aborda crimes praticados por homens que matam por motivo sexual.
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Existem vários fatores biológicos, psicológicos e sociológicos relevantes para


o homicídio sexual seriado. Em relação a características de personalidade, em um
estudo conduzido por Stone, 86,5% dos seriais killers preenchiam os critérios de
Hare para psicopatia, sendo que um adicional de 9% exibiu apenas alguns traços
psicopáticos, mas não o suficiente para alcançar o nível de psicopatia.
Um achado marcante nesse estudo foi o fato de aproximadamente metade
dos seriais killers exibirem personalidade esquizóide, como definido pelo DSM-IV.
Alguns traços esquizóides estavam presentes ainda em um adicional de 4% dos
sujeitos de pesquisa. Transtorno de personalidade sádica, como descrito no
apêndice do DSM-III-R, estava presente em 87,5% dos homens e traços discretos
foram encontrados em 1,5% deles.
Por fim, esse estudo mostrou grande sobreposição entre psicopatia e
transtorno sádico de personalidade: dos seriais killers com psicopatia, 93% também
apresentaram transtorno sádico. Metade dos psicopatas era esquizoide. Quase a
metade apresentou critérios para os três tipos de transtorno: psicopático, esquizoide
e sádico.
Enquanto a personalidade esquizoide pode refletir uma predisposição
hereditária em muitas instâncias, personalidade sádica parece mais provável surgir
como resultado de agressões severas na infância (física, sexual ou verbal) que
foram negligenciadas. Ao longo do desenvolvimento, o sadismo surge
frequentemente como um "antídoto" contra a vivência de ter sido abusado, sendo
que a vítima no passado se transforma em um adulto vitimizador. Entretanto,
existem alguns seriais killers de tendência decididamente sádica, sem que tenham
história de sofrimento de abuso na infância.
O seu caminho para o sadismo não é claro, embora possa ser uma
combinação entre um extremo narcisismo e uma configuração cerebral onde regiões
relacionadas à empatia estejam significativamente deficientes, o que levaria o
homicida a uma total indiferença ao sofrimento de suas vítimas. Entre os mais
sádicos dos seriais killers, existem vários que experimentaram grande violência e
humilhação nas mãos de um ou de ambos os pais,27-28 embora existam também
aqueles que não vivenciaram este tipo de experiência violenta.
Segundo Hazelwood e Michaud, a maioria dos seriais killers exibe um
comportamento sexualmente sádico. Embora a apreciação do sofrimento da outra
pessoa seja um ingrediente comum e importante no sadismo sexual, o desejo pelo
domínio da outra pessoa e uma completa subjugação dela aos seus desejos são
ingredientes cruciais para muitos sádicos sexuais.
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Isso foi claramente explicitado nas palavras de um dos mais conhecidos


serial killers (Mike DeBardeleben), que, certa vez, escreveu: "o impulso central é ter
completo comando sobre a outra pessoa, fazer dela o objeto desamparado de
nosso desejo...fazer com ela o que se quer para o prazer... e o objetivo mais radical
é fazê-la sofrer".
Vários dados apontam para múltiplas perversões sexuais de seriais killers,
incluindo necrofilia e canibalismo. Quanto à possibilidade de tratamento, a maioria
dos seriais killers revela-se psicopata. Muitos enganam as pretensas vítimas e as
seduzem para áreas onde elas não tenham recursos de resistência.
Quando presos, eles enganam os funcionários penitenciários, bem como
profissionais de saúde mental, fazendo-os pensar, após certo período, que eles
"aprenderam a lição" e que estariam prontos para serem reinseridos na sociedade.
Tais decisões conduzem a erros tão graves que custam a vida de novas vítimas.
A literatura está repleta de exemplos desse tipo. Além do perigo de soltar
esses homens na comunidade, que já praticaram concretamente homicídios sádicos
sexuais, existe a necessidade do cuidado adicional no sentido de se considerar os
sentimentos do público. A soltura de homicidas com esse grau de risco de novo
comportamento violento seria de difícil tolerância para a sociedade. Uma vez que se
chegou à uma conclusão de se tratar de um serial killer e identificou-se que ele é um
inimigo irremediável para as pessoas, a separação permanente da comunidade pela
via da prisão parece ser a única alternativa prudente.
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Psicopata
Na psicopatia os indivíduos não são
caracterizados nem como psicóticos, nem
como doentes mentais, por não
apresentarem alguns sintomas, tais como
alucinações, delírios ou psicoses. São
conhecidos pelo desprezo com as obrigações
sociais e por uma falta de consideração com
os sentimentos alheios.
Ou seja, os atos do psicopata não resultam de uma mente perturbada, mas
de uma racionalidade fria e calculista, sendo incapazes de considerar os outros
como seres humanos. Assim, as características mais notórias são que esses
indivíduos são pessoas egocêntricas, frias, insensíveis, manipuladoras,
transgressoras de regras sociais, e apesar de saberem exatamente o que estão
fazendo não aprendem com as experiências, por serem desprovidas de sentimento
de empatia, culpa ou remorso (HARE, 1993/2013). No DSM-5 (2014), a
classificação se dá por Transtorno de Personalidade Antissocial em que a
característica essencial é “(...) um padrão global de indiferença e violação dos
direitos dos outros, o qual surge na infância ou no início da adolescência e continua
na idade adulta (p. 659)”.
Em relação aos critérios diagnósticos algumas considerações se referem aos
psicopatas apresentarem fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a
comportamento legais, tendência à falsidade, impulsividade ou fracasso em fazer
planos futuro, ausência de remorso, irritabilidade e agressividade. Em relação às
causas que levam ao Transtorno de Personalidade Antissocial são apontados
fatores genéticos e ambientais (DSM-5, 2014). Segundo Hare (1993/2013), o
escritor Hervey Cleckley foi um dos primeiros pesquisadores a ter impacto ao
apresentar uma concepção definitiva e abrangente a respeito da psicopatia, dizendo
que as características que definem o perfil clínico do psicopata se resumem em:
a) charme superficial e boa inteligência; ​b) ausência de delírios e outros
sinais de pensamento irracional; ​c) ausência de nervosismo; ​d) falsidade e falta de
sinceridade; ​e) ausência de remorso ou vergonha; f) comportamento antissocial
inadequadamente motivado; ​g) julgamento deficitário e falha em aprender com a
experiência; h) egocentrismo patológico; ​i) deficiência geral nas reações afetivas
principais; j) vida sexual e interpessoal trivial e deficitariamente integrada; e k)
fracasso em seguir um plano de vida.
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Esse conjunto de características tornou-se a base da Psicologia para o


prognóstico de psicopatia de um indivíduo, por um longo tempo. E através desses
conceitos, Robert Hare criou o primeiro instrumento para medir e diagnosticar
psicopatia, o Psychopathy Checklist (PCL), que gera um perfil rico e detalhado para
este transtorno de personalidade (HARE, 1993/2013; OLIVEIRA, 2011).
Porém o autor da escala alerta que esta é uma ferramenta complexa e exige
um amplo estudo, considera também que para fazer um diagnóstico é preciso
treinamento, pois a psicopatia é um conjunto de sintomas relacionados e não devem
ser trabalhados em separado (HARE, 1993/2013). Assim, a escala PCL elenca vinte
características referentes aos psicopatas e, utilizando uma pontuação para cada
sintoma listado foi determinado um mínimo de escore que, ao ser atingido, configura
a psicopatia do indivíduo. Esta medida foi aprimorada, mais adiante, pelo próprio
Hare, passando a ser denominada PCL-R (Psychopathy ChecklistRevised),
tornandose o meio mais utilizado, mundialmente, para diagnóstico de psicopatia
(OLIVEIRA, 2011).

O PCL-R é, então, uma lista de 20 sintomas e requer um julgamento clínico de um


especialista para pontuar cada um. Cada termo é avaliado em uma escala de 3
pontos, variando de 0 a 2. Um escore de 0 indica a ausência de um sintoma, 1
indica a possível presença de um item e 2 é pontuado se o sintoma for apresentado
sem dúvidas pelo examinado. Se o sujeito marca 30 pontos ou mais, já é
considerado psicopata. Além disso, Hare dividiu os elementos em dois fatores: o
Fator 1 possui 8 itens, e é rotulado como o fator interpessoal/afetivos porque é
composto de itens que, em grande parte, se relacionam ao comportamento
interpessoal e à expressão emocional. Já o Fator 2 é o fator do estilo de vida
socialmente desviante/antissocial, com itens baseados no comportamento
(OLIVEIRA, 2011, p. 6-7).

A avaliação de transtornos de personalidade tem sido um desafio para a


Psicologia Forense, pelo fato da falta de instrumentos para tal avaliação e, também,
devido a uma das características do Transtorno de Personalidade Antissocial e/ou
traços psicopatas ser a tendência a negar ou manipular os atributos pessoais. Por
isso, enfatiza-se a respeito da relevância da utilização de instrumentos de avaliação
psicológica para o trabalho com psicopatas (DAVOGLIO & ARGIMON, 2010).
Em uma revisão sistemática dos últimos cinco anos das publicações na área
da Psicologia Forense, Anton (2012) observou uma carência de trabalhos que
buscassem caracterizar o trabalho do psicólogo forense no que diz respeito a sua
ligação com o estudo da psicopatia.
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A pesquisa foi efetivada nos indexadores Plataforma CAPES e SCIELO e


alguns dos estudos encontrados trabalham temáticas que envolvem características
da psicopatia (NUNES, 2009; HENRIQUES, 2009; PIMENTEL, 2010; GOMES &
ALMEIDA, 2010; DAVOGLIO & ARGIMON, 2010; SOEIRO & GONÇALVES, 2010;
HAUCK, TEIXEIRA & DIAS, 2009; NUNES, 2011) e comparação com outras
funções como reconhecimento emocional da voz (COELHO & PAIXÃO, 2010),
cooperação (MARQUES, 2010) e impulsividade (ROCHA, LAGE & SOUSA, 2009),
deficiência mental e outras síndromes (GREVET, SALGADO, ZENI &
BELMONTE-DE-ABREU, 2007; COSTA & VALERIO, 2008; MOURA, 2009;
GUIMARÃES E COLABORADORES, 2010; MOTA, BERTOLA, KIM & TEIXEIRA,
2010) e dinâmica familiar (BUENO, TAVARES & BARBIERI, 2010; MEDEIROS,
TAVARES & BARBERI, 2011; BARBIERI & PAVELQUEIRES, 2012). Outros
estudos fazem comparação com a ficção, comparando a realidade com os
psicopatas presentes em filmes e livros (MARTINS, 2008; MURIBECA, 2008).
Porém alguns estudos se referem aos instrumentos de avaliação utilizados para
reconhecimento de psicopatas, dentre eles a escala de Robert Hare utilizada para
medir traços de psicopatia (LOBO & GONÇALVES, 2007), e outros instrumentos
(DAVOGLIO, GAUER, VASCONCELLOS & LÜHRING, 2011).

Avaliação de comportamentos antissociais e traços de psicopatas em


psicologia forense
Avaliar aspectos de personalidade em Psicologia Forense tem sido um
desafio. Primeiro pela escassez de instrumentos de avaliação que respaldem as
impressões clínicas que dão sustentação a tais diagnósticos (Widiger & Rogers,
1989; Kosson, Forth, Steuerwald & Kirkhart, 1997).
Em seguida, porque as pessoas com Transtorno de Personalidade
Antissocial (TPAS) e/ou traços psicopatas têm como característica a tendência a
negar ou minimizar atributos pessoais socialmente inadequados (Klonsky, Oltmanns
& Turkheimer, 2002; Bornstein, 2003). Isto ocorre, especialmente, quando estes
atributos têm implicação legal para a própria pessoa, o que contribui para tornar a
tarefa do avaliador ainda mais complexa.
A literatura atual enfatiza que a Psicopatia é uma condição clínica que
desperta controvérsia já na sua classificação diagnóstica (Cleckley, 1941; Goodwin
& Guze, 1981; Debray, 1982; Turner & Hersen, 1984; Harpur, Hare & Hakstian,
1989; Kernberg, 1995; Hare, 1996; Cooke & Michie, 2001; Gauer & Cataldo Neto,
2003).
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A etimologia da palavra (do grego psyché, alma + path, sofrimento) remete


imediatamente à ideia de doença mental, no intuito de nomear estados desviantes.
Neste sentido, o termo Psicopatia costuma ser usado popularmente como sinônimo
de antissocial para descrever uma gama de problemas de comportamentos não
específicos, que envolvem delinquência, agressividade e baixo controle dos
impulsos (Lilienfeld, 1994).
Do ponto de vista clínico, contudo, o comportamento antisocial nem sempre é
comparável à Psicopatia (Garrido, 2005), porém, devido às contravenções e
transgressões da lei típicas destes indivíduos, esses conceitos se apresentam como
temas que se colocam entre a clínica e o judiciário, sendo por isso alvo de atenção
da Psicologia Forense.
Na área forense, a avaliação psicológica exige que o profissional tenha
sempre presente a possibilidade de distorção dos dados pelo periciado. Diante
disso, a busca de recursos que instrumetalizem o psicólogo nessa avaliação é vital.
Segundo Rovinski e Elgues (1999), uma pesquisa realizada no Rio Grande do Sul
com psicólogos forenses constatou que 87% dos pesquisados utilizavam
instrumentos além da avaliação clínica, preferencialmente, técnicas projetivas e
gráficas.
A tendência à utilização de instrumentos padronizados na Psicologia Forense
é comum em outros países, ainda que estes nem sempre atendam as
especificidades de avaliação decorrente da demanda legal, no que se refere a
relevância e credibilidade (Rovinski, 2000).
Sem a intenção de esgotar o tema, este artigo teórico discute as implicações
da presença de comportamentos antissociais e traços psicopatas no âmbito da
avaliação psicológica forense, priorizando o contexto brasileiro. Dando ênfase às
técnicas e instrumentos de avaliação, partiu-se de uma revisão da literatura em
base de dados (Medline, Pubmed, Scielo) e em material bibliográfico relacionado,
com a utilização de descritores amplos, em inglês e português, como: Avaliação
Forense, Psicopatia, Transtorno de Personalidade Antissocial. O material
encontrado foi publicado, principalmente, nas últimas duas décadas, sendo que as
publicações nacionais são bastante reduzidas em relação às internacionais.
Aspectos conceituais da Psicopatia e do Transtorno de Personalidade
Antissocial O termo Psicopatia foi introduzido na literatura pela Escola de Psiquiatria
Alemã. Kraepelin, em 1904, ao definir a personalidade psicopática incluiu os casos
de inibição do desenvolvimento da personalidade, no que se refere ao afeto e a
volição, além de alguns casos de psicose incipiente.
Schneider, em 1923, foi além, difundindo a Psicopatia como um distúrbio de
personalidade que não afeta nem a cognição nem a estrutura orgânica, mas que
ainda assim traria prejuízos para o indivíduo ou para a sociedade. Kahn, em 1931,
agrupou na personalidade psicopática vários problemas e desordens de
personalidade não classificadas como doenças mentais, tendo como condição
essencial o desajustamento social (Shine, 2000).
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Para a Organização Mundial de Saúde, a classificação Antissocial referese


ao distúrbio de personalidade no qual predominam manifestações sociopáticas ou
associais (Debray, 1982). Por outro lado, a Associação Psiquiátrica Americana
(APA) cunhou, já na primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos
Transtornos Mentais (DSM-I, o termo Distúrbio Sociopático de Personalidade, na
intenção de diminuir a confusão terminológica e gerar uma unificação. Ainda assim,
para muitos a Psicopatia e a Sociopatia continuaram sinônimos, enquanto para
outros, a Sociopatia, a qual apresenta traços antissociais e agressivos, deveria ser
vista como um subgrupo de uma categoria mais ampla, que seria a própria
Psicopatia (Goodwin & Guze,1981).
Cleckley em sua famosa obra “The Mask of Sanity” de 1941 definiu a
Psicopatia de modo mais específico e amplo e, em 1976, Hare, Hart e Harpur
completaram esses critérios. Desse modo, a Psicopatia ficou caracterizada pela
presença de problemas de conduta na infância; inexistência de alucinações e
delírios; ausência de manifestações neuróticas; impulsividade e ausência de
autocontrole; irresponsabilidade; encantamento superficial, notável inteligência e
loquacidade; egocentrismo patológico, autovalorização e arrogância; incapacidade
de amar; grande pobreza de reações afetivas básicas; sexualidade impessoal e
pouco integrada; falta de sentimento de culpa e vergonha.
Além disso, a pessoa se apresenta como indigna de confiança; com falta de
empatia nas relações interpessoais; faz manipulação do outro através de recursos
enganosos; mente e não é sincero. Há perda específica da intuição; incapacidade
para seguir qualquer plano de vida; conduta antissocial sem arrependimento
aparente; ameaças não cumpridas de suicídio e incapacidade de aprender com a
própria experiência (Gauer & Cataldo Neto, 2003).
Esse trabalho de Cleckley influenciou o DSMII, no qual o diagnóstico de
Psicopatia ficou circunscrito à personalidade antissocial, sendo a presença de
histórico de crimes e delitos necessária, mas insuficiente para caracterizar o
transtorno (Kornberg, 1995). Já o DSM III manteve o termo Personalidade
Antissocial, antecedido pelo termo transtorno. Nesse modelo, os traços de
personalidade desaparecem quase por completo e o diagnóstico se justificaria
essencialmente pela persistente violação das normas sociais, incluindo a mentira, o
furto, a cabulação de aulas, a inconstância laboral e detenção criminal (Shine,
2000).
Autores como Turner e Hersen (1984), criticaram nessa classificação a
ausência de culpa e remorso como característica, porém, consideraram-na
vantajosa por enfatizar o comportamento, aumentando a confiabilidade diagnóstica.
Por outro lado, Hare (1996) afirma que os critérios do DSM-III e DSM III-R são muito
amplos, incluindo quase todos os padrões de interação agressivos e comportamento
transgressor, mas negligenciando o TPAS não agressivo, no qual predomina o
comportamento cronicamente parasítico e/ou espoliativo.
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No DSM-IV (1995) a nomenclatura continua sendo TPAS, equivalendo à


denominação Dissocial com a Psicopatia e a Sociopatia, reagrupando o que o
DSM-I distinguia como reação antissocial e reação dissocial. Segundo Kernberg
(1995), porém, a reação antissocial estaria se referindo ao psicopata e a reação
dissocial àquele grupo de pessoas que ignora normas sociais, que são geradas em
ambiente social anormal, mas são capazes de mostrar fortes sentimentos de
fidelidade no aspecto pessoal.
Neste sentido, a Psicopata envolve sempre comportamentos antissociais,
porém, nem todo comportamento antissocial tem as características da Psicopatia ou
do TPAS. 118 Esta constatação assume grande importância ao se propor uma
avaliação psicológica destes aspectos, considerando suas repercussões clínica,
jurídica e social. Segundo Ibañez e Ávila (1989) a avaliação psicológica para fins
forenses é caracterizada pela produção de investigações psicológicas e
comunicação de seus resultados visando à aplicação no contexto legal.
Todo o processo de coleta de dados, exame dos elementos e apresentação
de evidências está voltado para o contexto jurídico e não para o clínico. Surge,
assim, a demanda para que os conhecimentos da Psicologia estejam adaptados à
legislação específica de cada área de avaliação e jurisdição a que pertencem.
Relevância jurídica e clínica da avaliação forense dos traços de
personalidade Do ponto de vista legal, quando o autor de um ato infracional é
reconhecido como capaz de responsabilizar-se por suas condutas, o próprio
judiciário, através da legislação, encarrega-se de conduzir o caso. Porém, quando o
delito envolve a capacidade de julgamento do indivíduo ou o controle do próprio
comportamento, a avaliação da responsabilidade legal sai da esfera jurídica e se
enviesa nas capacidades mentais do sujeito.
Neste caso, são relevantes as condições de imputabilidade ou
inimputabilidade previstas na lei, que na prática, determinam as medidas punitivas,
correcionais ou de segurança a serem implementadas diante dos crimes ou delitos
cometidos. Avaliar estas condições demanda ao judiciário a assessoria técnica de
especialistas na área, entrando em cena a perícia psicológica forense.
No Brasil, para fins forenses, os Transtornos de Personalidade (TP) não são
considerados doença mental, mas perturbação da saúde mental. No Direito Civil,
em geral, o TPAS ou a Psicopatia, não sofrem medidas restritivas a não ser em
casos especiais de interdição. Já no Direito Penal, examina-se, via avaliação
psicológica forense, a capacidade de entendimento e de determinação do indivíduo
que tenha cometido um ato ilícito penal. Esta capacidade de entendimento depende
essencialmente dos aspectos cognitivos, que se encontram, quase sempre,
preservados no TPAS, bem como na Psicopatia.
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Por outro lado, a determinação, que depende da capacidade volitiva (ou seja,
a intenção de) é considerada vital pela legislação brasileira. Ela pode estar
preservada nos casos de transtorno de intensidade leve, mas estar comprometida
parcialmente no TPAS ou na Psicopatia, o que pode gerar uma condição jurídica de
semi-imputabilidade (Morana, Stone & Abdalla-Filho, 2006). Na legislação brasileira,
a semi-imputabilidade faculta ao juízo diminuir a pena ou enviar o réu a um hospital
para tratamento, caso haja recomendação clínica de intervenção terapêutica ou de
medida de segurança própria ou alheia. Do ponto de vista clínico, pelos critérios do
DSM-IV (APA, 1995) o comportamento antissocial quando persistente faz parte de
alguns diagnósticos psiquiátricos.
O Transtorno de Conduta e o Transtorno Desafiador Opositivo caracterizam
categorias diagnósticas usadas para crianças e adolescentes, enquanto o TPAS
aplica-se aos indivíduos com 18 anos ou mais. Os estudos que investigam
especificamente o comportamento delinquente tendem a afirmar que a idade de
início e a persistência dos atos infracionais são importantes preditores da
severidade e continuidade da prática de comportamentos antissociais (Farrington,
1995). Assim, identificar a presença de comportamentos e características anti
sociais precocemente pode representar uma maior oportunidade de intervenção
terapêutica ou ações preventivas eficazes.
Já em adultos, a diferenciação clínica entre comportamentos antissociais e
traços psicopatas e condutas infratoras circunstanciais, além de representar
diferenças penais, são de grande valor na determinação prognóstica (Achenbach,
1991; Lambert, Wahler, Andrade & Bickman, 2001), ainda que sempre guardem
reservas nas suas predições. Neste sentido, a avaliação psicológica forense, para
além de questões jurídicas, repercute sobre a qualidade de vida do sujeito avaliado
e suas opções de reinserção social, mostrando-se um campo de estudo vasto e
ainda pouco explorado.
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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE EM


SITUAÇÕES DE SUSPEITA DE ABUSO SEXUAL
EM CRIANÇAS E ADOLECENTES.

O abuso sexual contra crianças


passou a ser assunto de estudos
e pesquisas há cerca de 50 anos,
apesar do mesmo já ser
perpetrado desde a antiguidade e
atingir todas as classes sociais.
Com a identificação das
consequências do abuso sexual
na vida das crianças, muito se
tem escrito sobre o tema nos últimos anos em todo o mundo, demonstrandose a
importância de intervenções preventivas, de modo a evitar maiores danos à vida das
vítimas (ADED e col., 2006).
Estimativas de prevalência e incidência da violência sexual contra crianças
são fundamentais para o desenvolvimento de políticas de prevenção e intervenção
ao problema. No entanto, no Brasil, a investigação do fenômeno ainda se dá através
de serviços especializados em detrimento de pesquisas com a população em geral
(ASSIS, 2009), sendo estes os dados representativos apenas daquela pequena
parcela que chega ao conhecimento dos serviços de proteção. Os estudos têm
demonstrado que são muitos os problemas que levam à não notificação do abuso,
seja pela criança, por seus familiares ou, mesmo, pelos técnicos que fazem o
atendimento da vítima.
Fatores como medo de represálias ou do estigma social, dificuldades na
identificação das práticas como incorretas quando o abuso é cometido por
familiares, desconhecimento ou descrédito do sistema de proteção e o despreparo
dos profissionais da área da segurança e/ou saúde, são alguns dos fatores que
preocupam as autoridades quanto a esta baixa notificação dos casos (ADED e col.,
2006).

Por outro lado, a revelação inicial por parte da criança, ou a suspeita do fato
por parte de um adulto, dá início a um longo e tortuoso processo na busca da
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confirmação do abuso, iniciando-se com a notificação, seguida da denúncia junto


aos órgãos de polícia ou Ministério Público, para após se constituir o processo
judicial (DOBKE; SANTOS; DELL’AGLIO, 2010).
Em nossa realidade, na tentativa de minimizar os problemas da detecção do
abuso sexual, as autoridades da área de segurança e do judiciário têm solicitado, de
maneira crescente, a avaliação psicológica das crianças vítimas. O objetivo destes
encaminhamentos, de maneira sistemática, tem sido o de obter subsídios quanto à
ocorrência ou não de tal fato, para poder fundamentar tomadas de decisão quanto à
proteção dela.
As características do fenômeno do abuso sexual, pela falta de evidências
clínicas médicas (externas) ou pela síndrome do segredo (FURNISS, 1993), fazem
com que as provas sejam pobres e difíceis de serem obtidas. A busca pela
Psicologia parte da expectativa de que se possa, se não pela verbalização direta da
criança, recorrer a indicadores indiretos decorrentes da vivência traumática, que
possam sustentar a ocorrência do fato.
A literatura brasileira sobre as consequências dos danos psíquicos na criança
(ADED e col., 2006; ASSIS, 2009) não tem sido acompanhada, na mesma
intensidade, por estudos que discutam a precisão e a validade das avaliações
psicológicas para a identificação dos casos. Pelisoli, Gava e Dell’Aglio (2011), em
um dos poucos estudos brasileiros sobre o assunto, discutem como as regras
heurísticas podem interferir no julgamento utilizado pelos psicólogos nas tomadas
de decisão em situações complexas, como no caso das avaliações em situação de
suspeita de abuso sexual.
Herman (2005), ao investigar o assunto das perícias forenses, concluiu que
24% das decisões técnicas em laudos se apresentaram como falso-positivas ou
falso-negativas. Mesmo assim, as avaliações psicológicas têm sido requisitadas em
todas as fases de encaminhamento dos casos, da notificação ao processo judicial.
Desde a fase inicial ou investigativa, a criança pode passar por inúmeras
intervenções, inclusive de psicólogos que não atuam diretamente com a justiça, mas
que acabam tomando decisões quanto à veracidade da situação de abuso
(PELISOLI; GAVA; DELL’AGLIO, 2011), sempre com o objetivo de constituir provas
para que a denúncia realmente se efetive e o caso possa ir a julgamento. Conforme
Amendola (2009), um procedimento técnico comum nesta fase inicial de
encaminhamento é limitar-se a entrevistar a criança e o adulto que encaminha a
denúncia, com o objetivo de levantar possíveis indicadores dessa vivência
traumática, sem considerar a dinâmica mais ampla do caso, através de informações
com o acusado.

Avaliação clínica versus avaliação forense


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A avaliação psicológica no contexto forense com o objetivo de trazer


elementos de prova para a tomada de decisão difere em muitos aspectos daquela
realizada no contexto clínico, exigindo adaptação dos procedimentos para não se
incorrer em condutas antiéticas. Nessa diferenciação, três aspectos devem ser
considerados: ​(a) o foco da avaliação; (b) a relação entre avaliador e sujeito
avaliado; e ​(c)​ a metodologia de trabalho empregada (MELTON e col, 1997).
Em uma avaliação clínica, o foco fica dirigido ao mundo interno do sujeito
avaliado, o objetivo é compreender a dinâmica psíquica, sofrimento e possíveis
sintomas, sempre com o objetivo de formar um diagnóstico para futuras
intervenções. Na área forense, o foco dirige-se a eventos que são definidos de
forma mais restrita ou de interação de natureza não clínica.
O diagnóstico do sujeito avaliado pode fazer parte da investigação, mas o
resultado deve ultrapassar tais dados, de forma a se fazer inferências à questão
legal que deu origem ao processo de avaliação. No caso dos encaminhamentos
para avaliação de suposto abuso sexual, a questão da demanda não se atém ao
conhecimento do mundo interno da criança, mas exige que se façam inferências
quanto aos indicadores de sofrimento psíquico que possam ser associados a uma
situação real e específica de abuso sexual.
Grow-Marnat (2003) salienta que a maioria das críticas aos laudos
psicológicos não é direcionada aos dados brutos que os psicólogos levantam em
suas avaliações, mas às inferências e generalizações que realizam sobre esses
dados. Os técnicos precisam estar preparados para fornecer de forma explícita o
nível de segurança de suas informações através dos fundamentos do método
científico para pessoas que não têm essa abordagem em seu enfoque de trabalho.
Quanto à relação entre avaliador e sujeito avaliado, é de fundamental
importância questionar-se sobre a motivação deste último para a participação no
processo avaliativo. Enquanto na área clínica o atendimento é buscado de forma
autônoma, na área forense o sujeito é encaminhado por um agente legal (promotor,
delegado, juiz) e seu interesse em participar estará diretamente vinculado a esta
demanda jurídica e suas consequências.
Assim, pode-se dizer que numa avaliação forense encontramos, com maior
probabilidade, sujeitos resistentes e não colaborativos, com possibilidade de
manifestarem condutas de simulação ou dissimulação. Principalmente em situações
de denúncia de abuso sexual intrafamiliar, será de fundamental importância verificar
não só a motivação da criança, mas, também, do adulto que a acompanha,
relativizando os dados por ele informados se houver indícios de litígio conjugal entre
o acusado e o denunciante. Em separações litigiosas não é incomum encontrarse
falsas denúncias de abuso sexual com intenções diversas daquela de proteção à
criança.

Assim, a metodologia empregada em contextos de avaliação forense exige


preocupação com a validade das informações que se recebe. A avaliação necessita
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ultrapassar a visão particular do avaliando (mundo interno) e de seu acompanhante,


para confirmá-la com outros dados de realidade. O procedimento de avaliação deve
incluir fontes variadas de informação e, no caso de denúncias de violência à criança,
todos os envolvidos, inclusive o suposto agressor, devem participar do processo
avaliativo (CFP, 2010). Para Packer e Grisso (2011), a justificativa para tal prática
está, em primeiro lugar, no fato da possibilidade de erro inerente a todos os
métodos de avaliação psicológica, quando o cruzamento de vários resultados
poderia reduzir as chances de se concluir sobre uma possível fonte de informação
distorcida. Na avaliação dos riscos para a validade dos achados devem ser
incluídas não só as informações distorcidas de forma intencional pelo denunciante,
mas, também, aquelas que foram distorcidas de forma não-intencional. Sabe-se que
conflitos na discriminação entre conjugalidade e parentalidade, histórias pregressas
de violência pessoal e diferença nos valores morais, podem gerar percepções
distorcidas quanto condutas de cuidado com a criança entre os cônjuges, com a
identificação de situações traumáticas que não existiram na realidade ou que se
caracterizaram por condutas sem valor jurídico de ilícito (não correspondem ao
conceito legal de abuso). Assim, o não cumprimento dessa metodologia – de uma
ampla investigação contemplando todas as fontes possíveis de informação -
colocará em risco as conclusões do perito, pois seus achados carecerão da
necessária validade. Echeburúa, Muñoz e Loinaz (2011) incluem os testes
psicológicos nas mesmas exigências de cuidados técnicos quanto às limitações de
suas inferências, pois também necessitam ter seus achados adaptados às
circunstâncias concretas do caso, a partir de um minucioso histórico de dados. É
importante lembrar que não existem instrumentos psicológicos que podem
responder de uma forma direta a demanda legal sobre a ocorrência ou não de um
determinado fato. Em decorrência do exposto, é possível concluir que avaliação
clínica e forense divergem substancialmente quanto aos objetivos e a metodologia
empregada. Resultados encontrados em uma avaliação clínica não possuem os
critérios mínimos de validade que são exigidos num processo de avaliação forense.
O clínico estabelece uma relação baseada no bem-estar (o melhor interesse) de seu
paciente e na confidencialidade – aspectos que colocam em risco a objetividade do
avaliador forense. Crianças que passam por situações de denúncia de abuso sexual
necessitam os dois tipos de intervenções. A abordagem clínica voltada ao seu
mundo interno, apoiando-a no sofrimento psíquico (independente da compatibilidade
com os fatos reais), e a abordagem forense, no sentido de buscar indicadores que
têm a validade necessária para fundamentar inferências quanto à questão legal
(ocorrência do fato). Essas abordagens, em função das diferenças de metodologia e
vínculo com o entrevistador, precisam ser realizadas por pessoas distintas e não se
substituem uma a outra.

Estudo das variáveis que confirmam situações de abuso sexual


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Em função das limitações de provas mais objetivas quanto à ocorrência de


um possível abuso sexual, incluindo aqui a falta de um relato da criança sobre a sua
vivência traumática, seja pela sua incapacidade ou negativa em fazê-lo, a avaliação
da criança, suposta vítima, é dirigida pelo psicólogo para o levantamento de
indicadores indiretos que possam ser associados a vivências traumáticas, de modo
a permitir inferências a fatos que tenham ocorrido na vida real.
Para Faust, Bridges e Ahern (2009), toda variável de comportamento ou um
dado de testagem psicológica para ter o valor de indicador da vivência de um
determinado tipo de trauma, deverá, necessariamente, possuir duas características:
validade e valor de diferenciação. A validade é dada quando, através de estudos
empíricos, pode se associar determinado indicador psíquico a um determinado
grupo de sujeitos. Por exemplo, quando se compara um grupo de crianças que
foram abusadas sexualmente com outro de crianças não abusadas, e constata-se
que no primeiro grupo houve uma maior frequência de “comportamentos
sexualizados”. Assim, pode-se dizer que este é um indicador válido, pois se associa
a este tipo de vivência traumática. Conforme os autores, essa variável pode ser
considerada como válida, mesmo se estiver associada a uma minoria das crianças
que foram abusadas sexualmente, pois estará relacionada a essa vivência.
O valor de diferenciação, de modo diferente ao anterior, é determinado
quando uma variável auxilia na separação ou discriminação de crianças abusadas
sexualmente das outras em geral que também foram encaminhadas para avaliação.
A diferenciação perfeita seria dada quando a variável se manifestasse apenas nas
crianças abusadas e nunca ocorresse por outros motivos. A ocorrência deste tipo de
indicador permitiria garantir que aquele que o manifestasse teria passado,
necessariamente, por esta experiência específica.
Portanto, pode-se dizer que uma variável que não é válida, nunca terá poder
de diferenciação, mas uma variável pode ser válida e não ter o poder de
diferenciação. Retomamos aqui o exemplo já citado da exacerbação da sexualidade
em crianças. Enquanto alguns estudos têm mostrado uma maior sexualização
associada a crianças que foram abusadas sexualmente, outros referem esta mesma
forma de comportamento em crianças que passaram por diferentes tipos de
estresse, como brigas familiares e separação conjugal, mas não abuso sexual
(FRIEDRICH e col., 1998).

Assim, podemos concluir que este tipo de indicador possui validade, mas não
poder de diferenciação. O grande risco quanto à validade dos achados do psicólogo
é a possibilidade de se confundir indicadores de validade com aqueles que teriam
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também o poder de diferenciação. Essa situação tende a ocorrer com mais


frequência quando o técnico é chamado para avaliar uma criança com o objetivo de
encontrar nela indicadores de uma situação que é verbalizada como verdadeira por
aquele que a acompanha e que faz a denúncia. Nestes casos, o psicólogo pode
considerar desnecessário ouvir a versão do acusado e passa simplesmente a
confirmar hipóteses prévias trazidas por terceiros (familiares ou autoridades
investigativas).
Para Amendola (2009) esta seria uma situação de grande risco, pois o
profissional passa a segregar e julgar o acusado por antecipação. A autora
acrescenta que, na prática de muitos psicólogos, a certeza é tanta de que o abuso
tenha acontecido que estes passam a prolongar no tempo seus atendimentos até
que a criança venha expressar-se verbalmente sobre o ocorrido, sem considerar em
nenhum momento a possibilidade da não ocorrência do fato. Aqui, de modo
contrário ao que foi explicado sobre os requisitos da metodologia da avaliação
forense (ampla investigação de fontes), a recusa em falar fica restrita a uma única
interpretação – a resistência interna da criança em expor os fatos.

A verbalização da criança sobre a vivência do abuso


O desenvolvimento atual de pesquisas na área da investigação de ocorrência
de situações traumáticas tem demonstrado a importância de se obter com a vítima a
verbalização de sua vivência. Inúmeras associações de profissionais e grupos de
pesquisa, em diversos países, desenvolveram protocolos de orientação de como a
entrevista com a vítima deve ser conduzida, principalmente quando esta é criança.
De maneira geral, as propostas apresentam um alto nível de coincidência no
desenvolvimento da entrevista em mais de uma sessão (ainda que não devam se
prolongar demais), seguir uma determinada sequência, ser realizada por profissional
capacitado, de preferência sem a presença dos pais e ser sempre gravada. A
orientação destes protocolos segue duas diretrizes básicas: evitar técnicas
sugestivas ou que prejudiquem a exatidão da declaração e propor procedimentos
que estimulem a narrativa das vítimas (DUARTE; ARBOLEDA, 2000). Uma
metodologia muito utilizada nesses casos, para verificar se o discurso seria
representativo de uma vivência real, é o sistema de Avaliação da Validade da
Declaração (Statement Validity Assessment - SVA, VRIJ, 2000).
Conforme Vrij, para realizar este tipo de avaliação é necessário se cumpram
três etapas. Primeiro, uma entrevista que favoreça uma verbalização rica em
detalhes, sem produzir elementos inverídicos; segundo, que sejam identificados
critérios de credibilidade - CBCA2 (são 19 ao todo); terceiro, que se faça uma
avaliação do contexto da entrevista, num domínio mais amplo, envolvendo outras
fontes de informação, sempre com o objetivo de considerar explicações alternativas
para os dados trazidos pela criança. Nesta terceira etapa do processo, é 2 CBCA –
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“Criteria-Based Content Analysis”. apresentada uma “Lista de Controle de Validade”,


com 11 perguntas relacionadas ao declarante, às características da entrevista
realizada, à motivação da vítima para dar sua declaração e outras de cunho
investigativo relacionando inconsistências com outras evidências e declarações.
É praticamente impossível checar as questões desta lista com entrevistas
que se restrinjam apenas à criança vítima e ao seu acompanhante. Assim, pela
própria técnica, não se podem considerar a priori os critérios de credibilidade do
discurso (CBCA) como conclusivos, sem antes verificar os fatores contextuais.
Estudos mostram que histórias criadas, e não vivenciadas, podem se apresentar
ricas em detalhes, produzidos por entrevistas anteriores sugestivas ou por um
imaginário familiar decorrente de conflitos originados em situações diversas do
abuso sexual (KÖHNKEN, 2005).
Cabe lembrar que, falsas memórias podem ocorrer não só na criança, mas,
também, nos demais adultos que a cercam, além da possibilidade de se fazerem
interpretações errôneas sobre a conduta do suposto abusador. Conforme Köhnken
(2008), basta uma intervenção sugestiva à criança para que se prejudique de forma
definitiva e irremediavelmente a prova da oitiva dela. Isto porque, as falsas
memórias substituem as memórias verdadeiras dos fatos realmente acontecidos,
inviabilizando o acesso posterior às primeiras.
Assim, ainda que a entrevista com a criança seja feita dentro de parâmetros
estabelecidos pelos protocolos, sem o uso de técnicas sugestivas, cuidados devem
ser dispensados em uma análise do contexto em que este discurso foi construído.
Conforme Amendola (2009, p. 20), “a relação familiar torna-se parte fundamental no
contexto de análise de alegações de abuso sexual contra a criança”.
Situações onde existem separações litigiosas com vínculos de lealdade da
criança com um dos genitores podem gerar falsos testemunhos, de forma
intencional ou não. Isto quer dizer, a criança pode em algumas situações mentir
(FURNISS, 1993) e, em outras, trazer relatos baseados em falsas memórias
construídas durante o processo de investigação (STEIN e col., 2010). As falsas
memórias devem ser compreendidas como distorções nas lembranças dos fatos
vivenciados pela criança, sendo produzidas por fatores endógenos (características
da personalidade da criança) ou exógenos (influências externas, como entrevistas
sugestivas), mas que, para a criança, permanecem como lembrança de vivências
reais.

Atualmente, em nossa realidade, tem-se observado uma crescente


valorização da palavra da criança vítima, em detrimento ao contexto social/ familiar
em que foi construído, num direcionamento contrário ao que vem sendo alertado
pelos estudos científicos. A crescente adoção dos depoimentos especiais em vários
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estados brasileiros (CEZAR, 2007) e o uso cada vez mais comum da entrevista com
a criança como procedimento único de avaliação psicológica (AMENDOLA, 2009),
tem criado um viés interpretativo de confirmação de hipóteses previamente
construídas.
Conforme Pelisoli, Gava e Dell’Aglio (2011, p.334), “fica claro que apenas
uma entrevista não sugestiva e cuidadosa não garante que outras variáveis deixem
de exercer suas influências”; neste caso, as crenças prévias dos profissionais que
realizam a avaliação da criança exerceriam um papel preponderante e a atuação
dos mesmos se exerceria mais como defensores da criança do que como
avaliadores neutros.
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