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Lâminas para arcos retos e recurvos – considerações básicas

Por Cleber Medeiros e Elison José Gracite Lusvardi

Muito se fala a respeito de arcos inteiriços ou desmontáveis (take down), mas


infelizmente os conceitos que definem cada tipo são muitas vezes confundidos.
Primeiramente vamos falar das diferenças básicas entre arcos straight (retos) e recurvos,
que podem ser tanto inteiriços, quanto desmontáveis, dependendo de cada projeto.

Arcos retos – são os arcos que tem as


lâminas retas da base até as pontas, também são
conhecidos como arcos longos (long bows), ainda que
muitas vezes sejam chamados de longos mesmo
sendo curtos, com 140 cm ou menos (conhecidos por
short bows). Quanto mais longos, mais precisos
costumam ser, em virtude de dissipar a vibração do
momento do tiro em uma área fisicamente maior.
Funcionam em um único estágio, envergando a
lâmina progressivamente ao longo da puxada do
arqueiro.

Arcos recurvos – Estes arcos tem as pontas


curvadas para fora, por uma questão que vai muito além da
estética. Funcionam em dois estágios, sendo que o
primeiro é observado na flexão da porção que vai da base
da lâmina até o início da curva e o segundo estágio vai do
início da curva até a ponta, o que costuma garantir de 20 a
30% mais transferência de energia e consequentemente
maior velocidade para a flecha, mas é lógico que essa
energia vai depender basicamente da construção da lâmina
e dos materiais empregados.

E quanto a precisão?
Arcos retos tendem a vibrar um pouco menos que os
recurvos, sendo naturalmente mais precisos, entretanto
bons projetos de arcos recurvos acabam compensando
muito desta pequena diferença. Os arcos olímpicos são recurvos e ao mesmo tempo
extremamente precisos.

Principais materiais empregados na construção das lâminas dos arcos de


produção artesanal:

Aço – Normalmente são reaproveitados de lâminas do feixe de molas da


suspensão de veículos, como Fusca ou Kombi. Tem a grande vantagem de ser quase
inquebrável, entretanto é praticamente a única vantagem deste tipo de lâmina.
Normalmente são mais pesadas que a empunhadura do arco (riser), fazendo com que a
mão do arqueiro absorva toda a vibração no momento do tiro, além de vibrar muito mais
do que praticamente todos os outros materiais empregados na construção de lâminas de
arcos, minimizando a precisão do tiro. A transferência de energia destes arcos para as
flechas também é baixa, um arco recurvo de 40 libras com lâminas de aço, transfere a
energia proporcional a um arco recurvo de 30 libras com lâminas de fibra de vidro -
laminadas com madeira - ou seja, puxamos 40 libras e devolvemos 30 ou menos, muito
esforço para pouco resultado.
Recurvar e furar este material sem perder a têmpera do aço é uma tarefa pesada e
mesmo quando se logram bons resultados, o material tende a sofrer rapidamente com o
efeito memória, perdendo a força com o tempo. São recomendados para as primeiras
experiências de produção artesanal de arcos, mas não compensa comprar arcos
produzidos com este material, por pouco dinheiro a mais é possível adquirir um arco muito
superior.
PVC – O mais utilizado é o cano de PVC para água quente (Aquaterm), sendo
mundialmente utilizado pela facilidade em curvar e até reproduzir réplicas de modelos
clássicos, como os mongóis. São leves e fáceis de trabalhar, curvando facilmente com o
uso de sopradores térmicos ou mesmo o calor da boca de um fogão. São divertidos e de
baixo custo, porém em termos de resultados também são pobres, transferindo pouca
energia para as flechas a exemplo dos arcos com lâminas de aço. Existem vários
modelos sendo comercializados, os quais pela diversão x baixo custo podem valer a
pena, especialmente para atividades como archery tag ou tiros informais.
Fibra de vidro pultrudada – São lâminas produzidas de forma mecanizada a partir
de fios contínuos de fibra de poliéster, sendo produzidos em diversas larguras e
espessuras. Quando utilizadas em lâminas espessas como único componente das
lâminas de um arco, tem médio rendimento em termos de velocidade, entretanto não
tendem a apresentar efeito memória, nem torcer as lâminas no momento de encordoar
(efeito Twist), sendo ideais para iniciantes que ainda não tem prática em colocar a corda
ou esquecem o arco encordoado e usuários em regiões muito úmidas, pois estas lâminas
praticamente não sofrem deformações com as variações de temperatura e umidade.
Arcos equipados com lâminas pultrudadas também aceitam cordas produzidas com
compósitos mais modernos como Dynema e Fast Flight, praticamente isentos de
flexibilidade, o que acelera significativamente a velocidade das flechas.
O melhor da fibra pultrudada, entretanto, é observado nas lâminas finas, em torno
de 1,5 mm, que servem como reforço em arcos de madeira, garantindo uma maior
durabilidade, aceleração do disparo e precisão. Atualmente é um dos principais materiais
utilizados em arcos tradicionais de alto desempenho, tanto por grandes fábricas como por
artesões independentes.
O armazenamento de energia no arco que utiliza madeira com fibra pultrudada é
mais alto do que com outros materiais, pois os fios da fibra de vidro concentram sua força
em uma única direção, além de que, o retorno do arco à posição original na largada da
flecha é mais rápido, garantindo então uma maior velocidade ao tiro. Por esta razão
também, estas lâminas são utilizadas em arcos-escola e arcos olímpicos (modelos de
entrada).
Fibra de vidro laminada – São lâminas feitas inteiras a partir de resina e fibra de
vidro. Esse tipo de lâmina foi muito usado na decada de 60 e 70 por fabricantes de arcos,
mas foi aos poucos deixado de lado. Hoje em dia ainda é possível encontrar alguns
fabricantes independentes que fabricam arcos assim. A diferença nesse estilo é a
facilidade de fabricação, e o uso de materiais de fácil acesso, o que torna o modelo bem
popular. O desempenho é mediano, o que comparado com o custo x benefício, acaba se
tornando uma boa opção para iniciantes.
Bambu – O bambú é um dos materiais naturais mais bem empregados em
arqueria. Seja utilizado em lâminas, flechas ou apenas como revestimento no backing do
arco, suas fibras flexíveis e lineares garantem um acumulo de energia muito grande ao
arco. Algumas espécies de bambú chegam a competir em eficiência com arcos laminados
com fibra de vidro, e a junção desses dois elementos resulta hoje nos arcos de primeira
linha comercializado por grandes marcas. Pode ser utilizado sozinho em arcos ( tal como
o arco japonês Yumi ), ou em conjunto com alguma madeira.
Madeira – A madeira é o material mais antigo usado em arcos. Desde épocas
remotas sua eficiência mostrou-se um papel fundamental na evolução humana.
Atualmente ainda é possível encontrar alguns artesões que fabricam modelos tradicionais,
ou replicas de arcos antigos usando apenas madeira. Muitas madeiras podem ser
utilizadas para esses modelos de arcos, e a eficiência de cada um vai depender da
madeira escolhida, tamanho do arco, e do conhecimento e experiência do artesão sobre o
melhor modo de utiliza-la. Seus arcos tendem a sofrer efeito de memória quando passam
muito tempo encordoados, sendo conveniente desencordoar para guardar.

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