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LIPOASPIRAÇÃO

INTRODUÇÃO:
A lipoaspiração foi originalmente introduzida por Illouz nos anos 80.

ANATOMIA:
Três camadas do subcutâneo: superficial, intermediária e profunda.
- a camada superficial não deve ser violada, sob o risco de comprometer a vascularização e o
contorno corporal com irregularidades.

ZONAS DE ADERÊNCIA:

Áreas de fibrose, aderidas à fáscia profunda


subjacente, que ajudam a definir a forma
natural do corpo.
São de alto risco para irregularidades, mas
isso não significa que não devem ser
lipadas.

Classificação (baseada na lipodistrofia e característica da pele):


Tipo 1: lipodistrofia localizada (geralmente em pacientes jovens, com bom tônus de pele e
mínimas irregularidades)
Tipo 2: lipodistrofia generalizada (tônus de pele diminuído, irregularidades de pele
e lipodistrofia circunferencial)
Tipo 3: redundância de pele e lipodistrofia (outros procedimentos com retirada de pele são
mais indicados, ficando a lipoaspiração como complementar)

CELULITE: ondulação dérmica com fisiopatologia mal compreendida, relacionada com adesões
dérmicas fibrosas à fáscia subjacente e à gordura hipertrofiada. Mediada por hormônios. Ainda
não há tratamento efetivo a longo prazo. A lipo pode melhorar ou piorar a celulite.

DIAGNÓSTICO / INDICAÇÃO / SELEÇÃO DOS PACIENTES:


Indicações: pacientes saudáveis, expectativas realistas, peso estável, que se submetam
a mudança no estilo de vida, prática regular de atividade física, dieta balanceada, e que
possuam alterações localizadas no contorno corporal.
Contra-indicações: grávidas ou com saúde comprometida. Deve ser desconsiderada na
obesidade mórbida, doenças cardiovasculares ou pulmonares, alterações de percepção da
imagem corporal, quando há expectativa irreal ou alterações de cicatrização.

Pré-operatório:
Avaliação inicial: avaliar a expectativa do paciente, história médica, medicamentos de
uso habitual, alergias, tabagismo, perda acentuada de peso, cirurgias prévias, uso de
fitoterápicos.
Descontinuar por três semanas o uso de AINES, óleo de peixe, aspirina e suplementos.
Contraceptivo oral e estrogênio devem ser discutido caso a caso com as pacientes. Ideal
descontinuar um mês antes da cirurgia.
Exame físico: na frente de um espelho de corpo inteiro.
Considerar áreas de lipodistrofia e deformidades, tônus da pele, assimetrias, celulite,
suporte miofascial, zonas de aderências, hérnias, cicatrizes prévias, diástase de músculos retos
abdominais.
USG ou TC se houver dúvida sobre a integridade da parede abdominal.

Registros fotográficos : anterior, posterior, laterais e oblíquos.


Consentimento informado: informações sobre o procedimento, tratamentos alternativos,
complicações e riscos (sangramento, infecção, dor, seroma, despigmentação, parestesias,
irregularidades, disestesias, problemas durante a anestesia, riscos da lipoaspiração em altos
volumes, complicações anestésicas).
Marcar a paciente diante do espelho, para que ela possa ter pleno entendimento das áreas a
serem lipoaspiradas e das limitações cirúrgicas.

TÉCNICA:
Incisão: deve permitir lipoaspirar em várias direções, e a maior área possível com menos
incisões. Porém não se deve reduzir a quantidade de incisões a ponto de dificultar o
procedimento. Evitar incisões em áreas de aderências. Incisões de 3-4 milímetros. Aparelhos
de ultra-som exigem incisões maiores, 5-6 mm. Considerar protetores de pele. Esteticamente
preferir incisões assimétricas para uma maior camuflagem.

Técnicas anestésicas:
Recomenda-se evitar epidural ou raquianestesia pelo risco potencial de hipotensão. A
preferência do autor é pela anestesia geral, principalmente se o paciente for posicionado em
decúbito ventral, para proteção de via aérea.
Lipoaspiração no consultório com anestesia local: apenas para tratamento de área única ou
pequenas revisões. Usar a técnica tumescente.

Posição do paciente:
Iniciar a cirurgia com o paciente pronado (decúbito ventral), levemente fletido. Usar coxins nas
proeminências ósseas, rolos macios sob as cristas ilíacas e os ombros, manter braços acima da
cabeça, com angulação de <90 graus, posição neutra de coluna, proteger globos oculares.
Lipar: braços, torso, quadris/flancos, coxas lateral, posterior e medial (70% do contorno).
Na posição supina, cuidados com a abdução >90 graus dos braços, que pode causar lesão de
plexo braquial. Flexão de 30 graus nos joelhos com uso de coxins ou travesseiro.
Lipar: braços, abdome, coxas medial anterior, joelhos.
Decúbito lateral é bom para flancos, lateral das costas, glúteos, coxas e pernas, porém, esta
posição dificulta a comparação contralateral no intraoperatório.
Manutenção da temperatura corpórea e cuidados imediatos pré-operatórios:
Uso de compressão pneumática. Aquecer soluções infiltradas. Manta térmica.

SOLUÇÕES:
Intenções da infiltração: hemostasia, hidrodissecção e potencial analgesia perioperatória.
Existem 4 tipos de infiltração:
- Seca: nenhuma infiltração de solução. Esta técnica tem pouca ou nenhuma indicação.
- Úmida: infiltração de solução por região a ser tratada, independente do volume a ser
aspirado.
- Super-úmida: infiltração de 1 ml de solução para cada 1 ml estimado a ser aspirado.
- Tumescente: popularizada por Klein, infiltração de 3 ml da solução para cada 1 ml de volume
estimado a ser aspirado.
Independente da técnica, após a infiltração, deve-se aguardar de 7 minutos a não mais que 30
minutos para que ocorra a ação anestésica e vasoconstritora da solução.
Considera-se uma perda sanguínea menor de 1% do volume aspirado nas técnicas super-úmida
ou tumescente, e perda entre 4-30 % na técnica úmida.

TÉCNICA INFILTRADO ASPIRADO PERDA SANGUÍNEA


Seca Nada Detalhes 20-45%
Úmida 200 a 300 ml/área detalhes 4-30%
Super-Úmida 1ml de infiltrado 1ml de aspirado (1:1) 1%
Tumescente até o turgor da pele 2-3ml de aspirado/ml 1%

FÓRMULAS MAIS USADAS:

- Marcaína: deve ser evitada por


potenciais efeitos
cardiológicos indesejáveis.
- Lidocaína: a maioria das soluções
utiliza a lidocaína como
anestésico. É relatado uma
analgesia pós-operatória de até 18
horas. A toxicidade da lidocaína
afeta o coração e sistema nervoso
central. Os sintomas iniciais da
toxicidade da lidocaína incluem
dormência peri-orbital, zumbidos
e tontura. Pode evoluir para
tremores, convulsões e
acometimento cardiopulmonar.
No intra-operatório podem ser
identificadas arritmias. A
recomendação máxima de
lidocaína com adrenalina é de 7
mg/kg, no entanto na
lipoaspiração estudos confirmam
segurança em concentrações de
até 35-55 mg/kg.

Epinefrina: seu uso nas soluções se deve ao seu poder vasoconstritor diminuindo o
sangramento. Ela também diminui a absorção da lidocaína, potencializando o efeito
anestésico. A toxicidade da epinefrina pode causar taquicardias, hipertensão e arritmias.
Estudos tem sido feitos para determinar o limite da dose de epinefrina, que até o momento é
considerado em torno de 15 mg. Diluição: 1:1.000

Recomendações perioperatórias no manejo dos fluidos:


Recomenda-se 3-5 mg/kg de cristaloide por hora. E nas lipoaspirações maiores de 5 litros,
reposições adicionais (0,25 ml de cristaloide para cada ml de aspirado acima de 5 litros).
TIPOS DE LIPOASPIRAÇÃO:

-SAL - Lipoaspiração tradicional (popularizada por Illouz): lipoaspiração por sucção (técnica
mais utilizada; incisões de 3-4 mm; principais vantagens: técnica facilmente reprodutível,
décadas de experiência; principais desvantagens: dificuldade em casos com muita fibrose ou
em lipoaspiração secundária)
-PAL - Power-assisted lipossuction (uso de cânulas oscilantes; principais vantagens: exige
menos esforço, eficiente em áreas de fibroses, em grandes volumes a serem aspirados, mais
rápida- exemplo: Vibrolipo).
-UAL - lipoaspiração com ultrason (facilita a quebra de gordura, mas pode causar cavitações e
efeitos térmicos – importante o uso de protetores de pele, que podem ser constantemente
molhados para diminuir o efeito térmico. Nesta técnica a gordura é emulsificada, o que facilita
a sua remoção. Compreende 3 estágios: infiltração, emulsificação e aspiração. Vantagens: mais
rápida, fácil, melhores resultados em áreas com fibroses e lipoaspiração secundária.
Desvantagens: lesões térmicas da pele, preço do aparelho, tempo operatório).
- VAL - lipoaspiração com vaser (nova geração de ultrason, com energia menor, o que diminui
seu efeito térmico).
- LAL - lipoaspiração com laser (defendida por muito pela retração maior de pele).
Lembrar que lipoaspirações superficiais somente são aceitáveis em casos de irregularidades
superficiais e em mãos muito experientes.

Tipo de cânula mais comum: Mercedes (três aberturas afastadas na pontapara permitir a
remoção da gordura circunferencial de forma eficiente).

Tratamento das áreas específicas:


Dorso: derme mais espessa, maior fibrose nas camadas gordurosas. Posição preferida
é pronado (decúbido ventral semi-fletido). Ultrason é bastante útil.
Abdome: avaliar necessidade de abdominopastia com ou sem lipoaspiração complementar.
Esclarecer aos pacientes que o excesso de gordura intra-abdominal pode limitar os resultados.
Quadris (culotes) e flancos: incisões determinadas pela concentração de gordura em cada
paciente. Evitar masculinizar as mulheres ou feminilizar os homens. Atentar para que em
certos casos haverá a necessidade de enxerto de gordura e não lipoaspiração das áreas
adjacentes. Incisões para-vertebrais são mais utilizadas para a aspiração dos flancos.
Glúteos: Uma redução uniforme glútea pode ser alcançada através de um tratamento
cuidadoso da camada intermediária, resultando em uma redução na projeção da nádega em
uma dimensão anterior/ posterior. Importante evitar a aspiração profunda e agressiva e
garantir o comprimento, a posição e a integridade do sulco glúteo inferior. O tratamento
excessivo no plano profundo ou superficial pode resultar em ptose glútea.
Coxas: orientar que lipoaspiração não é tratamento para celulite, e que, pelo contrário, pode
acentuá-la.
Joelhos: não aspirar região posterior.
Pescoço: para pacientes com flacidez mínima a leve e lipodistrofia cervical. O paciente é
posicionado com o pescoço hiperestendido com um rolo de ombro abaixo da parte superior do
tronco.

CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS:

Uso de malhas compressivas diminui o edema. Usar 24 horas por dia por 2 semanas.
Observação por 24 horas após a cirurgia nos seguintes casos: aspirado maior que 5 litros,
múltiplas áreas ou associado com abdominoplastia.
Deambulação precoce (se possível no mesmo dia);
Retorno em consulta com 5 a 7 dias de pós-operatório;
Retorno às atividades leves com 3 a 15 dias dependendo do porte do procedimento;
Edema diminui em 3-5 dias; hematomas com 7-10 dias; resultado final com 3-6 meses;
Realizar drenagens linfáticas.

COMPLICAÇÕES:

Perioperatório: 0-48 horas


complicações anestésicas, cardíacas, trauma da cânula na pele e órgãos, sangramento,
hipotermia

Pós-operatório recente: 1-7 dias


TVP (1% dos casos), TEP, necrose de pele, náusea, vômito, infecção- até fasceíte necrotizante-
cefalosporina de primeira geração deve ser usada no intra-operatório, opção para casos
selecionados seria vancomicina. Não há indicação de antibiótico pós-operatório de rotina.

Pós-operatório tardio: 1 semana – 3 meses


seromas tardios, edema, equimose, parestesias, hiperpigmentação, irregularidades
- a complicação tardia mais comum de lipoaspiração é irregularidade!

As complicações são mais frequentes quando a lipoaspiração é associada a


outros procedimentos, em especial a abdominoplastia.

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