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Bovespa IPO nets $3.

6-billion

TELMA MAROTTO

Bloomberg News

Bovespa Holding SA, owner of the Sao Paulo stock exchange, raised 6.63 billion reais ($3.6-billion) in the world's fifth-biggest initial public offering this
year.Bovespa starts trading today in Sao Paulo after shareholders sold 288.1 million shares at 23 reais each, the top of the price range, according to a
statement on the Brazilian Securities and Exchange Commission's website. The sale gives the company a market value of 16.2 billion reais, making it the
fifth largest of the world's 23 publicly traded exchanges, according to data compiled by Bloomberg.

Sucesso do IPO da Bovespa Holding


No primeiro dia de negociação, as ações da Bovespa Holding foram o principal destaque do pregão. Os papéis (BOVH3)
encerraram com valorização de 52,13% no mercado à vista (com valor de lançamento de R$ 23,00 e encerramento de
R$ 34,99). Ao final do dia, as ações da Bovespa Holding movimentaram R$ 5,06 bilhões, sendo os papéis mais
negociados da Bovespa. Com o ingresso da empresa, chega a 56 o número de IPOs na Bovespa neste ano de 2007. A
oferta pública inicial da empresa pode movimentar R$ 6,6 bilhões, considerando lote suplementar de ações, a maior da
história do país. 

O fenomeno Bovespa na Bovespa

 EXAME | 01.11.2007

Com o espetacular lançamento de ações da bolsa, os investidores dão o recado: estão apostando e comprando um futuro
brilhante para o mercado de capitais brasileiro

Por Giuliana Napolitano
Nos últimos três meses, era de tensão o clima entre os empresários que pretendiam lançar ações de suas empresas na
Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Desde o renascimento das aberturas de capital na bolsa brasileira, em 2004, os
investidores estrangeiros sempre tiveram um papel crucial, respondendo, em média, por 70% do total aplicado. No final
de julho, com a crise financeira internacional provocada por problemas no mercado imobiliário americano, passou-se a
temer que o apetite de americanos e europeus em bolsas de países emergentes pudesse ter chegado ao fim. Desde
então, oito companhias abriram o capital na bolsa paulista, mas o desempenho foi apenas razoável -- a maioria das ações
foi vendida pelo preço mínimo. Já havia quem afirmasse que os 92 lançamentos de ações de empresas brasileiras de
maio de 2004 até julho deste ano tinham ocorrido numa janela de oportunidade e que, agora, a vida de empresas
estreantes na bolsa seria bem mais difícil. Foi preciso chegar o final de outubro para o mercado brasileiro entrar em
estado de êxtase no lançamento de ações da Bovespa na própria Bovespa. Com um volume total de 6,6 bilhões de reais,
o IPO (sigla para abertura de capital), na sexta-feira 26 de outubro, tornou-se o maior já feito na América Latina -- o
recorde anterior pertencia à companhia argentina de petróleo YPF. Foi ainda o quinto maior do planeta neste ano.

Ante o cenário de dúvida até então reinante, qualquer companhia brasileira que tivesse
conquistado um sucesso tão estrondoso seria motivo de animação e otimismo. No caso
específico da Bovespa, os recordes e as circunstâncias dão um significado muito mais
importante ao momento atual. A Bovespa Holding, nome oficial da empresa, não fabrica
aviões, não produz minérios nem está no ramo de transporte aéreo. Ela ganha com as
taxas pagas por bancos e corretoras a cada operação de compra e venda de ações. Seu
único atrativo é o futuro do mercado de capitais brasileiro. Os aplicadores investem em
papéis da Bovespa na expectativa de que mais e mais empresas lançarão ações e muitas
das companhias listadas vão cumprir suas promessas de expansão. "O sucesso do IPO da
Bovespa é um divisor de águas e aponta para uma nova fase do mercado de capitais no
país", diz a economista Ana Novaes, ex-pesquisadora do Banco Mundial e autora de um
alentado estudo sobre a importância da bolsa brasileira no cenário internacional. O
melhor termômetro do quanto os investidores estão confiantes foi a demanda pelas ações
da Bovespa, que, de acordo com algumas estimativas, superou a oferta em cerca de dez
vezes. Com tamanha procura, as ações estrearam no pregão custando 23 reais, o preço
máximo previsto no prospecto de abertura de capital -- e já reajustado em 24% dias antes
do IPO. Assim que os papéis começaram a ser negociados, as cotações dispararam e
encerraram o dia com alta impressionante de 52%, outro recorde. A valorização alçou o
valor de mercado da bolsa para 25 bilhões de reais e a transformou numa companhia
maior que empresas do porte de ALL, Embraer e Telemar. Na segunda-feira após o IPO,
a Bovespa ultrapassou a barreira dos 65 000 pontos.
Destaque global

A abertura de capital da Bolsa de Valores de São Paulo coroa


um dos melhores desempenhos de mercados de ações em
todo o mundo

O IPO da Bovespa foi o quinto maior do mundo neste


ano(1) (em bilhões de dólares)

VTB Bank (Rússia) 8

Blackstone (EUA) 4,8

Criteria Caixa (Espanha) 4,5

Citic Bank (China) 4,2

Bovespa (Brasil) 3,2

De janeiro a agosto(2), as aberturas de capital feitas


por 46 empresas na Bovespa totalizaram 15,9 bilhões
de dólares, o quinto melhor desempenho mundial
(volume em bilhões de dólares)

Nova York 48,4

Londres 36,4

Xangai 20

Hong Kong 17,8

São Paulo 15,9

A soma do valor de mercado das empresas listadas na


Bovespa a coloca na 15a posição no mundo(3). Há
quatro anos, era a 21a colocada (valor de mercado em
trilhões de dólares)

1º Nova York 16

2º Tóquio 4,6

3º Euronext 4,2

4º Londres 4

5º Xangai 2,6

15º São Paulo 1,2

(1) Até 29/10


(2) Até 31/8. Exclui a bolsa de Tóquio, que não informa o
total captado
(3) Até 30/9
Fontes: bolsas, Dealogic e World Federation of Exchanges

A aposta no futuro tem como base um histórico já expressivo. Números da associação internacional World Federation of
Exchanges mostram que a Bovespa ocupa o quinto lugar no ranking mundial de bolsas que mais sediaram IPOs de
empresas neste ano. Foram 46 operações entre janeiro e agosto, que movimentaram quase 16 bilhões de dólares,
volume maior que o de mercados tradicionais, como o alemão e o espanhol. "A bolsa é avaliada pelos investidores e
analistas como qualquer outra empresa aberta, e uma companhia nessa situação é um excelente negócio", diz um gestor
de fundos que, como muitos, participou do IPO da Bovespa. "Números como esses mostram que a bolsa brasileira mudou
de patamar", diz Carlos Alberto Rebello Sobrinho, superintendente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
responsável pelo registro de companhias abertas. Em 2003, o valor de mercado de todas as empresas listadas na
Bovespa somava 226 bilhões de dólares, o que a colocava na 21a posição no ranking mundial. Hoje, com uma
capitalização cin co vezes maior, ocupa a 15a colocação (veja quadro). A expectativa de quem comprou ações da bolsa
paulista é que ela continue a galgar posições nesse ranking.
Ao abrir seu capital, a Bovespa segue o exemplo dos principais mercados acionários do mundo, como os de Londres,
Nova York e Tóquio -- todos com ações listadas em pregão. Trata-se de um movimento que começou com a bolsa de
Estocolmo, em 1993, e ganhou força na última década. Hoje, as bolsas abertas concentram 75% da capitalização global.
O que leva as bolsas ao mercado é a busca por eficiência. Fechadas, elas são entidades sem fins lucrativos controladas
por seus membros, os bancos e as corretoras. "As decisões só podem ser tomadas em consenso e todo o lucro é
devolvido aos membros na forma de descontos nos custos de operação", diz a advogada Pamela Hughes, sócia do
escritório canadense Blake, Cassels & Graydon, num artigo publicado em um livro sobre o tema. Foi o que ocorreu, por
exemplo, com a Bovespa no ano passado -- ela teve um lucro de 274 milhões de reais, que voltou ao caixa dos bancos e
das corretoras que eram seus controladores. Pamela afirma que esse modelo funcionou bem até os anos 80, porque
havia pouca pressão por inovações tecnológicas e pequena competição internacional entre as bolsas, já que suas
operações eram essencialmente locais. "Hoje, há mais integração entre os mercados e as bolsas precisam de agilidade e
de recursos para competir." Caso contrário, as empresas locais fazem seus IPOs em outros países.
Com a abertura de capital, o controle da Bovespa passou a ser pulverizado entre milhares de acionistas e as decisões são
tomadas por um conselho de administração formado por nove executivos e presidido por Raymundo Magliano Filho, que
está à frente da Bovespa desde 2001. Além disso, a bolsa agora pode dar lucro. Estima-se que o lucro da Bovespa suba
para 1 bilhão de reais dentro de dois anos -- dinheiro que agora poderá remunerar quem comprou ações. Na prática, isso
significa o fim de descontos e isenções de taxas para as corretoras. "A bolsa passará a cobrar por serviços que eram
gratuitos ou muito baratos em razão dos descontos, como os cancelamentos das ordens de compra e venda dos clientes,
e com isso nossos custos vão subir cerca de 30%", diz o diretor de uma corretora. "Parte desse aumento será repassado
aos investidores." O que poderá barrar a alta de preços é o aumento da competição entre as corretoras com a entrada de
um número maior de concorrentes estrangeiros.
Outra mudança que costuma ocorrer com as bolsas que abrem capital é a busca por consolidação -- via fusões,
aquisições ou parcerias com outros mercados. Um exemplo recente é a fusão entre a bolsa de Nova York e a européia
Euronext, anunciada neste ano. Se a Bovespa acompanhará essa tendência, quando isso ocorrerá e que modelo será
adotado são questões que, a julgar pelo tamanho do IPO da Bovespa, valem alguns bilhões de dólares. Ainda assim,
executivos do mercado já traçam alguns possíveis cenários. Um deles prevê uma fusão entre a Bovespa e a Bolsa de
Mercadorias & Futuros (BM&F), que também está prestes a abrir seu capital. A união poderia criar um gigante financeiro
com valor de mercado superior a 40 bilhões de reais, maior que CSN, Gerdau e Unibanco, nas estimativas dos analistas.
Executivos do mercado dizem que as duas bolsas cogitaram a possibilidade de se fundir antes de fazer o IPO, mas uma
briga de egos inviabilizou o acordo.
Além da fusão com a BM&F, duas alternativas da Bovespa são: ser comprada por um concorrente internacional ou
comprar bolsas latino-americanas. "Faz sentido a Bovespa virar um pólo regional para a América Latina", diz Sobrinho, da
CVM. Segundo um estudo da consultoria Ernst & Young, consolidar-se e ganhar escala é algo atraente para as bolsas
porque permite que elas atraiam negócios de outros países e reduzam seus custos fixos com tecnologia e sistemas. "Isso
já ocorreu com as companhias de aço e de automóveis", diz James Klein, da Ernst & Young. "Agora, é a vez das bolsas."
Impulsionada pelo sucesso da abertura de capital, a Bovespa se prepara para essa briga.

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