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Resumo
O nosso objetivo neste artigo é discutir sobre a concordância nominal de número na constituição
interna do DP, especificamente em contextos morfossintáticos nos quais se verifica a presença de
um nome geral, como trem, coisa e negócio, por exemplo. Numa abordagem sintático-semântica,
levando-se em conta as propriedades linguísticas desses elementos lexicais, a hipótese adotada é a de
que esses nomes são possíveis motivadores para a não realização da concordância na configuração
do constituinte. Propomos que número é uma categoria funcional independente (NumP) e que essa
projeção sintática é a responsável pela valoração dos traços de concordância no interior do DP.
Palavras-chave: concordância de número; DP; nomes gerais.
Abstract
Our objective in this article is to discuss the nominal agreement of the number in the internal
constitution of the DP, specifically in morphosyntactic contexts in which a general name is present,
such as train, thing and business, for example. In a syntactic-semantic approach, taking into account the
linguistic properties of these lexical elements, the hypothesis adopted is that these names are possible
motivators for not achieving agreement in the configuration of the constituent. We propose that
number is an independent functional category (NumP) and that this syntactic projection is
responsible for the valuation of the agreement traits within DP.
Keywords: number agreement; DP; general names.
Introdução
No presente artigo, temos por objetivo evidenciar que há uma tendência de apagamento do
afixo de plural [–s] em nomes gerais (NG)31 quando esses itens estão presentes na estrutura interna
do DP. Desse modo, a nossa hipótese é a de que existe um bloqueio sintático-semântico na estrutura
interna desse constituinte que é responsável pela não realização morfológica do [–s] nesses nomes,
considerando que a principal característica desses elementos lexicais é o seu pouco conteúdo
semântico (KOCH e OESTERREICHER, 2007 [1990]). Junto a isso, numa perspectiva sintática,
adotamos o posicionamento de que número é uma categoria funcional independente, denominada
de NumP, que é projetada pela necessidade de valoração dos traços de concordância no interior do
DP (AUGUSTO et al., 2006). Nesse sentido, defendemos que as relações de concordância nominal
são motivadas por questões semânticas e sintáticas, considerando a funcionalidade do número na
língua em uso, e não somente uma flexão gramatical.
Para fins de análise, selecionamos apenas quatro dados oriundos de língua falada, cuja
estrutura apresenta os seguintes nomes gerais: coisa, negócio, trem e pessoa. Tais dados foram extraídos
28 Este artigo constitui-se num trabalho final de uma disciplina do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Linguísticos (POSLIN) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ofertada no primeiro semestre de
2019, intitulada Fundamentos de Linguística Teórica e Descritiva II: Sintaxe, ministrada pelo Prof. Dr. Fábio
Bonfim Duarte.
29 Mestrando em Estudos Linguísticos do POSLIN, Faculdade de Letras da UFMG. Bolsista do Conselho
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da obra Nomes Gerais no Português Brasileiro, de Amaral e Ramos (2014), de onde extraímos, também,
os exemplos ilustrativos abaixo:
(1) eu to pareceno coruja gosto mais de vê DP[Das NGcoisa] noturna (p. 48)
(2) essas dona que faz DP[Daquês NGnegoço] de barro de madera né? (p. 65)
(3) jogava DP[Dos NGtrem] da véia tudo pô terrero. (p. 78)
(4) naquele tempo lá DP[Das NGpessoa] que era mais pobre assim num istudava. (p. 87)
Nos sintagmas de (1) a (4), notamos que somente o determinante recebeu o traço de
concordância, corroborando o pensamento de Magalhães (2004), para quem os traços de
concordância são checados em D, e não em N, conforme propunha Chomsky no âmbito do
programa minimalista. Vale destacar que a sigla NG é uma adaptação que ousamos fazer por uma
questão didático-metodológica, visto que lidamos como nomes gerais. Na metalinguagem da sintaxe
gerativa, a sigla corresponde a esse constituinte é NP, conforme discutiremos mais adiante. Dito isso,
sugerimos a seguinte decomposição para os DPs destacados de (1) a (4):
DP = [D {+concordância} + NG {-concordância}]
Aporte teórico
De (5) a (8), notamos que a concordância nominal não se estabelece plenamente na estrutura
do sintagma, gerando uma desarmonização gramatical entre os elementos. Em (5) e (6), o
determinante é marcado com o afixo {s}, mas o núcleo nominal, não. Em (7), há concordância entre
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o determinante e o nome, mas o modificador bom, elemento adjetivo, não recebe o traço formal de
concordância. Por fim, em (8), o determinante e o elemento modificador desenvolvidos são marcados
formalmente, indicando que se trata de um sintagma pluralizado, mas a não marcação do plural em
país motiva a ausência de concordância nominal de número na sentença.
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No que tange à concordância interna ao DP, Augusto et al. (2006) tratam da projeção
independente NumP, uma proposta que, conforme os autores, está inserida no arcabouço teórico
gerativista pré-minimalista, citando como referência os autores Picallo; Ritter (1991). No estudo, os
autores apresentam argumentos a favor da manutenção de uma categoria independente NumP no
arcabouço minimalista, discutindo os reflexos que a presença dessa categoria traria para a questão da
concordância interna ao DP. Abaixo, apresentamos a configuração canônica do DP e a inserção da
categoria independente NumP como uma projeção intermediária.
Os nomes gerais
De acordo com Halliday e Hasan apud Amaral e Ramos (2014), os nomes gerais constituem-
se numa categoria especial de nomes que se situa num limite, numa fronteira entre classes abertas e
fechadas33, já que trabalham a serviço da coesão lexical do texto e possuem um conjunto mínimo de
33 Na perspectiva de Halliday e Hasan (1976), as classes abertas são aquelas constituídas de palavras que
possuem uma função eminentemente lexical; e as palavras de classe fechadas são as que possuem função
gramatical, de modo que os nomes gerais situam-se num limite entre esses dois pólos.
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 16 Nº40 vol. 5 – 2020 ISSN 1809-3264
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significado substantivo.
Para Mihatsch (2006b), esses nomes são elementos lexicais frequentes, com um nível de
generalização extremamente alto e, em geral, são contáveis. Mahlberg (2005) diz que o significado
referencial dos nomes gerais só pode ser recuperado a partir do contexto em que foram utilizados.
Nesse sentido, os nomes gerais não possuem um sentido específico que é inerente a eles, mas tem
uma ampla capacidade de denotação no mundo, já que podem se referir a muitos elementos, até
mesmo a seres humanos.
Procedimentos metodológicos
A fim de alcançarmos os objetivos que delineamos para este estudo, que é de cunho
qualitativo, valemo-nos dos parâmetros de análise da sintaxe de orientação gerativista, adotando a
nomenclatura dessa teoria na análise das sentenças e seus principais pressupostos teóricos. Tendo-se
em vista as limitações impostas pelo espaço e que se trata apenas de uma proposta de reflexão inicial
sobre o assunto, selecionamos uma pequena amostra que se restringe a quatro exemplos ilustrativos
provenientes de língua falada, os quais extraímos da obra Nomes Geras no Português Brasileiro, de Amaral
e Ramos (2014).
Apresentamos, a seguir, os 04 exemplos ilustrativos que selecionamos para fins de análise. Cada
um deles tem um nome geral: coisa, negócio, trem e pessoa. Abaixo de cada transcrição do texto falado,
fizemos a configuração arbórea do DP em evidência e tecemos algumas considerações de caráter
analítico acerca de cada uma delas.
(5) eu acho que eu vô assim... eu gosto de ir no cinema DP[Desses NGnegócio]... saio lá... mais é
uma vez no mês lá e o restante aqui.
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(6) a gente ouve vozes... meus fio mesmo ali embaixo... de vez em quando (...) iscuta vozes
sabe?... Chamando eles sabe? até hoje... ouve vozes chamando... DP[Daquelas NGcoisa]...
No exemplo (6), o nome geral coisa aparece como núcleo nominal do NP, que neste trabalho
denominamos NG. Tal nome é um dos mais prototípicos dessa classe especial de nomes, possuindo
um alto grau de informalidade na língua em uso e um verdadeiro auxílio linguístico nas interações
verbais.
No referido contexto, o elemento coisa não aparece marcado no que diz respeito à sua
concordância de número com o elemento demonstrativo aquelas, que, neste caso é o item gramatical
que recebe o traço de concordância, a partir de um movimento que faz um percurso de Nº para
Numº e de Numº para Dº, para que a interpretabilidade desse traço aconteça e possa ser entendido
no nível da representação sintática.
(7) nós arranjamo cd, eu mar Michele e Sandynha tomamo a frente de tudo, assim ó, DP[Dnesses
NGtrem], de ligar o som dentro da sala, nós mermo tomamo a frente de tudo.
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(8) naquele tempo lá DP[Das NGpessoa] que era mais pobre assim num istudava...
Por fim, no exemplo (8), temos o uso de um nome geral que é prototípico no português
brasileiro para a referência a seres humanos, pessoa. Esse nome, no contexto em análise, é
acompanhado com o artigo definido as, que revela um constituinte cuja estrutura é pluralizada. O que
notamos é que, novamente, o nome geral não é marcado morfologicamente com o [s], e que a
valoração dos traços de concordância se dá por meio de dois movimentos mediados pela projeção
independente NumP.
Considerações finais
Por meio deste breve estudo que realizamos, percebemos que há implicações de ordem
semântica que interferem nas relações gramaticais de concordância na estrutura interna dos DPs
constituídos de nomes gerais. Acreditamos que o alto grau de abstração desses nomes na linguagem
constitui-se num motivador semântico para a não-realização do afixo de plural nesses itens lexicais.
De modo geral, os dados com os NG trazem evidências a favor da projeção de NumP como
uma categoria funcional independente, e que há movimento sintático de Nº para Numº e de Numº
para Dº, de maneira que, por meio desses movimentos, notamos uma recursividade morfossintática
por meio da qual se dão as relações gramaticais no interior do DP. Esses movimentos são importantes
para que os traços de concordância não interpretáveis nos nomes gerais sejam checados e valorados
na sentença.
Referências
AMARAL, Eduardo. T. R; RAMOS, Jânia. M.; Nomes gerais no português brasileiro. Belo
Horizonte, Faculdade de Letras da UFMG, 2014.
AUGUSTO, Marina R. A; NETO, José Ferrari; CORRÊA, Letícia M. Sicuro. Explorando o DP: a
presença da categoria NumP. Revista de estudos da linguagem da UFMG. v. 14, n. 2, p. 245-
275, Belo Horizonte, 2006.
CHOMSKY, Noam. Linguagem e mente: pensamentos atuais sobre antigos problemas. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1ª ed., 1998.
KOCH, Peter; OESTERREICHER, Wulf. Lengua hablada em la Romania: español, francés,
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 16 Nº40 vol. 5 – 2020 ISSN 1809-3264
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