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2020: 50-63
© Centro Universitário de Patos de Minas
https://revistas.unipam.edu.br/index.php/cratilo
Abstract: Of all the non-concatenative word formation processes, that is, those that are not
predicted by Traditional Grammar (GT), the most important, due to the role they have been
playing in Portuguese morphology, are the vocabulary crossing (blend) and truncation
(clipping). Based on this assumption, in this study, we aim to develop a critical-theoretical
explanation of the bibliography already built around such word formation processes. In view of
this proposal, we believe that these types of morphological processes work from linguistic
bases that can be systematized by the Morphopragmatic approach, which investigates the
structure of words in an association between form and effective context of use in society. For
the development of the research, we adopted a qualitative-interpretative methodology,
through which we analyzed the literature produced about the blend and clipping. As a
theoretical contribution, we used the contributions of Cegalla (2008), Cunha and Cintra (2009),
Bechara (2014), Sandmann (1997), Monteiro (2002), Laroca (2005) and Gonçalves (2006;
2012). The relevance of our study lies in the constant need to reflect both on the functioning
of the language in use in social practices and on the studies that accompany, to some extent,
the dynamism of Brazilian Portuguese, in a reflective linguistic approach.
Keywords: Word formation. Non-concatenative processes. Clipping. Blend.
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1 Considerações iniciais
mais radicais para formar uma palavra nova” (CEGALLA, 2008, p. 98). O autor divide
o processo de composição em dois tipos: i) justaposição; ii) aglutinação.
Há de se ressaltar ainda que Cegalla (2008) trata de outros PFP: redução
(redução de um vocábulo), hibridismo (formação vocabular por meio da união entre
palavras nativas e estrangeiras), assim como onomatopeia (tentativa humana de
imitação das vozes e dos ruídos da natureza). No entanto, o autor pouco desenvolve a
exposição acerca dos referidos PFP, limitando-se apenas à conceituação e à
exemplificação de tais fenômenos linguísticos.
De forma específica, no que diz respeito à redução, que aqui podemos associar,
grosso modo, ao clipping, observamos que Cegalla (2008) detém-se somente à
conceituação e à exemplificação de tal PFP, destacando que “algumas palavras
apresentam, ao lado de sua forma plena, uma forma reduzida” (CEGALLA, 2008, p.
98). Além disso, acerca da redução, o gramático afirma que esse mecanismo da língua é
uma “[...] espécie de economia linguística” (CEGALLA, 2008, p. 98). Nesse sentido,
notamos que Cegalla (2008), no que tange à abreviação, limita-se a uma definição
superficial de tal processo, em que considera como condição para a produtividade da
abreviação o imediatismo linguístico da atualidade, desprezando, portanto, os padrões
de estruturação interna de tal processo. Acerca do blend, nada observa o gramático.
Por seu turno, à maneira de Cegalla (2008), Cunha e Cintra (2009) reconhecem
como principais PFP a derivação e a composição. Desse modo, na seção dedicada aos
processos derivacionais, os gramáticos a subdividem em derivação prefixal, sufixal,
parassintética, regressiva e imprópria. Já no que diz respeito ao processo de
composição, Cunha e Cintra (2009), classificam-no a partir de três abordagens, nas
quais se destacam o viés formal (justaposição e aglutinação), o semântico (relação entre
determinante e determinado), bem como a relação entre as classes gramaticais que dão
origem a palavras compostas.
Ao abordar a formação de palavras por meio da abreviação vocabular, os
autores realizam as seguintes considerações:
gramaticais de palavras estabelecem entre si, seja por meio da formação por
justaposição, seja por meio da composição aglutinativa.
No que tange à derivação, Bechara (2014) destaca os principais processos desse
tipo de PFP: a prefixação e a sufixação, expondo, por meio desses elementos
gramaticais, os principais afixos que são usados para essa formação vocabular.
Detendo-se a outros tipos de PFP, notamos a menção, por parte do gramático, à
formação regressiva, abreviação, reduplicação, conversão, combinação e intensificação.
Diante do exposto até aqui, em uma perspectiva comparativa, no que diz
respeito ao foco desta pesquisa, podemos observar a associação entre abreviação e
clipping, bem como entre combinação e blend. Dessa forma, no que concerne à
abreviação, assevera Bechara:
Portanto, notamos que Bechara (2014) reconhece a formação vocabular por meio
da abreviação, observando que a palavra abreviada, apesar de remeter-se ao vocábulo-
base, possui autonomia semântica e/ou estilística no contexto em que é usada, sendo
oriunda de brevidade de expressão. Entretanto, apesar das acertadas observações,
salientamos que o gramático deixa de desenvolver a problemática desse tipo de
formativo, dedicando a esse processo um pequeno espaço para uma descrição
sistemática de seus padrões de produtividade.
Por outro lado, detendo-se à construção vocabular por meio da combinação,
pontua Bechara (2014, p. 390): “A combinação é um caso especial de composição em
que a nova unidade resulta da combinação de parte de cada um dos dois termos que
entram, na formação [...]”. A partir dessa afirmativa, vemos que o autor elenca o
processo de combinação como “um tipo especial de composição”, em que a nova
palavra é formada a partir de partes de outros vocábulos, ganhando, portanto,
autonomia no discurso. No entanto, ao contrastarmos a concepção de Bechara (2014)
referente à combinação com estudos linguísticos acerca do mesmo PFP, observamos
que há, aí, grande divergência. Conforme advoga, por exemplo, Gonçalves (2006), a
combinação ou blend não pode ser considerada como um tipo de composição, haja vista
que, como ocorre na composição, não é oriunda de um processo de encadeamento
linear, mas sim de sobreposição de bases.
Por fim, observamos que a abordagem dos PFP por parte de alguns gramáticos
da atualidade, tais como, Cegalla (2008), Cunha e Cintra (2009), assim como Bechara
(2014) detêm-se à exposição estrutural dos PFP concatenativos da Língua Portuguesa.
No que concerne à formação vocabular por meio do blend e do clipping, percebemos
que tais autores limitam-se a breves comentários acerca do blend (denominado, por
parte desses gramáticos, de abreviação), em que caracterizam tal PFP como resultado
do imediatismo da atualidade. Ademais, deixam de citar a formação vocabular por
meio do clipping, à exceção de Bechara (2014) que, além de dedicar pouco espaço a tal
processo, realiza algumas considerações que o dissocia dos estudos da linguística atual.
Por outro lado, nesse mesmo padrão de formação dos blends, há os casos de
semelhança fônica e/ou estrutural em que os vocábulos bases apresentam estrutura
maior. Nesse tipo de ocorrência, o que exporá tanto a produtividade como o ponto de
quebra e, consequentemente, a interseção e a posição das bases da estrutura interna do
blend será a sílaba comum existente entre P1 e P2 (como exemplo: presidengue
(presidente + dengue)). Portanto, conforme Gonçalves (2006, p. 235), “essa semelhança
determina não só a interseção das palavras, como também a posição das bases no
interior da mescla”.
Já no padrão que apresenta casos em que as bases expressam total
dessemelhança entre si, a identificação do ponto de quebra será realizada com base no
maior grau de identidade dos segmentos das bases que, normalmente, ocorre na sílaba
tônica de cada palavra (portunhol (português + espanhol) ou em fonema e/ou letra
congênere entre P1 e P2 (como, por exemplo, Ronalducho (Ronaldo + gorducho)
(GONÇALVES, 2006). Assim como no primeiro padrão, a identificação do ponto de
quebra das bases acarretará o reconhecimento da interseção e da posição das bases na
estrutura interna do blend.
A seguir, sistematizamos os padrões e critérios de estruturação do blend no PB:
5 Considerações finais
Referências
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2014.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48. ed. São
Paulo: Companhia Editorial Nacional, 2008.
TAVARES, F. Personagem da semana: Michel Temer: o vice que não é mais decorativo.
Época. São Paulo, n. 929, p. 19-21, abril 2016.