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ATMA BODHA

SUMÁRIO
01-08. INTRODUÇÃO

09-15. O PROBLEMA DA SUPERIMPOSIÇÃO “ADHYASA”

16 -19 ALL PERVASIVE CONSCIOUSNESS –

20-26 FALSO ATRIBUTO DA ATIVIDADE MENTAL

27-30 A ATMA AUTO -REVELADO

31-38 COMTEMPLAÇÃO VEDANTA

39-47 O FRUTO DO AUTO-CONHECIMENTO

48-52 PESSOA ILUMINADA

53-63 CONHECIMENTO DE BRAHMAN

64-67 ILUMINAÇÃO/ESCLARECIMENTO

Shankara ou Shankaracharya como também é conhecido, nasceu no sul da Índia cerca de 1200
anos atrás e é considerado o professor mais importante na tradição de Advaita Vedanta, a
tradição baseada na sabedoria não dual ensinada primeiramente pelos rishis, os sábios da Índia
antiga.

A importância de Shankara se deve em grande parte ao detalhamento claro e sistemático de


Advaita Vedanta em seus muitos comentários acadêmicos e textos brilhantes, Um desses textos
é Atma Bodha.

Não podemos ter certeza se Atma Bodha foi realmente escrito por Shankara, ou por outro
grande professor de sua linhagem, mas este texto é tradicionalmente atribuído ao próprio
Shankara.

Atma Bodha é um trabalho simples que usa muitas metáforas úteis para tornar esses
ensinamentos mais acessíveis. Mas o fato é, a menos que os alunos estejam adequadamente
preparados pela prática da meditação, karma yoga e outras disciplinas, eles podem não ser
capazes de compreender as verdades elevadas expressas aqui.

Portanto, Shankara começa:

Verso 01

“Para aqueles que são purificados por austeridades, que são contemplativos, livres de desejo,
e estão buscando a iluminação, Atma Bodha foi composto”

Shankara não queria que ninguém presumisse que a iluminação poderia ser obtida meramente
por meio da meditação, karma yoga e outras práticas. A iluminação, em última análise, requer
Ātma-bodha, o conhecimento ou descoberta pessoal de sua verdadeira natureza divina, o Eu
interior, Atman.

Verso 02

“Ao contrário de outras práticas espirituais, autoconhecimento é o meio direto para a


iluminação, assim como o fogo é o meio direto para cozinhar. Sem autoconhecimento, a
iluminação é impossível”.
Para cozinhar arroz, uma panela e um pouco de água são necessários, mas é o fogo que
realmente cozinha. Da mesma forma, para se tornar iluminado, meditação e outras práticas são
necessárias, mas é autoconhecimento, Ātma-bodha, que realmente remove a ignorância e
permite que você perceba sua verdadeira natureza, como Shankara explica:

Verso 03

“Outras práticas espirituais podem coexistir com a ignorância, então, elas não podem
remover a ignorância. Apenas o autoconhecimento remove a ignorância, como a luz remove
as trevas”.

Suponha que você fosse adotado e não soubesse quem era sua mãe biológica. É um absurdo
pensar que meditação ou outras práticas poderiam de alguma forma remover sua ignorância
sobre a identidade dela.

Então, como poderia a meditação ou outras práticas removerem a ignorância sobre sua
verdadeira identidade, Atman, sem autoconhecimento, Ātma-bodha?

Verso 04

“Porque o verdadeiro Eu, Atman, está coberto pela ignorância, quando essa ignorância é
removida, Atman se revela, como o Sol se revela quando as nuvens se afastam.”

O Sol sempre brilha, mesmo quando está escondido atrás das nuvens. Da mesma forma, Atman
sempre brilha como a luz da Atenção Consciente, a luz da Consciência, sua consciência, a
consciência pela qual você conhece todos os seus pensamentos, emoções e sensações. Quando
as nuvens se afastam, o circunferência brilhante do Sol é revelado E, quando a ignorância é
removida, a verdadeira natureza da sua consciência é revelada.

Mas há um problema aqui. Se o autoconhecimento é necessário para revelar sua verdadeira


natureza, então, você precisa pensar constantemente no Atman para permanecer iluminado?
Não, porque...

Verso 05

“Uma pessoa maculada pela ignorância é purificada quando a ignorância desaparece devido
ao autoconhecimento. Então, o próprio autoconhecimento desaparece, como o pó usado para
purificar a água.”

Nos tempos antigos, a água suja às vezes era purificada adicionando-se o pó finamente moído
de nozes kataka. Impurezas suspensas na água aderiam-se ao pó e se assentavam no fundo do
vaso, deixando como resultado a água pura.

Esta metáfora representa como a investigação de Vedanta sobre a verdadeira natureza do


Atman remove a impureza da ignorância. Quando esse processo de auto inquirição remove com
sucesso a ignorância e chega ao fim, então a mente fica em silêncio, e somente a Consciência
pura permanece.

Agora, Shankara muda sua atenção do Eu interior para o mundo exterior. Se o mundo é tão real
quanto o Atman, então o Atman pode estar sujeito ao sofrimento devido aos eventos
mundanos. Mas, se o mundo não é tão real como o Atman:

Verso 06
“O mundo é como um sonho, repleto de experiências agradáveis e desagradáveis. Ele parece
real até você despertar e descobrir que não é”.

Em Vedanta, o Real é definido como: “Aquilo que sempre existe, Aquilo que não vem e vai.” Os
sonhos vêm e vão. Até o mundo vem e vai. O universo começou com o big bang há 14 bilhões
Anos e, eventualmente, deixará de existir. Então, o mundo não é absolutamente real. Não é tão
real quanto o incriado, Eu eterno, Atman.

Verso 07

“O mundo parece absolutamente real, como uma madrepérola parece uma peça de prata, até
que Brahman seja descoberto como sendo a realidade não dual subjacente do mundo”.

É fácil confundir a madrepérola com uma peça de prata. Esse engano ocorre quando você não
reconhece a verdadeira natureza da madrepérola. Da mesma forma, é fácil pensar que o mundo
é absolutamente real quando você não reconhece sua realidade subjacente, Brahman.

Verso 08

“Criadas a partir da realidade senciente, subjacente, eterna e onipresente, são todas as coisas
que existem, como uma pulseira feita de ouro”.

Assim como o ouro é a realidade subjacente e razão pela qual está pulseira existe, Brahman é a
realidade subjacente e razão pela qual o mundo existe. A pulseira nada mais é do que ouro, e o
mundo nada mais é do que Brahman. Este é o ensinamento do Advaita, não dualidade.

Agora, Shankara volta sua atenção para a sobreposição ou adhyasa. Se sua verdadeira natureza
como Atman é “Sat Cit Ananda” [Sat= real, eterno; Cit = consciência; Ananda = ilimitado],
Consciência eterna, ilimitada, onipresente, então por que você se considera um homem ou
mulher de carne e osso?

De acordo com Vedanta, isso ocorre devido a adhyasa. Características que realmente
pertencem ao seu corpo e mente, como gênero, idade e inteligência, são sobrepostas ao Atman,
são falsamente atribuídas à Consciência pura.

Verso 09

“Como o espaço em muitos potes, a Consciência onipresente reside em muitos corpos e parece
dividida por eles. Na ausência de potes ou corpos, o espaço e a Consciência permanecem
indivisos”.

Esta famosa metáfora de como o mesmo espaço onipresente está simultaneamente presente
em muitos potes é crucial para a compreensão da unidade do Atman, a Consciência ilimitada
que permeia o universo e se manifesta simultaneamente em incontáveis seres vivos.

Verso 10

“Os atributos dos corpos, como casta, cor, status, etc., são sobrepostos ao Atman, como
diferentes sabores e cores são sobrepostos na água.”

A água continua a ser H2O, mesmo quando açúcar ou corante são adicionados. Da mesma
forma, Atman continua a ser Consciência pura, mesmo quando está associado a um corpo e
mente.

O Atman é totalmente não afetado por todos e quaisquer atributos desse corpo e mente.
Nos próximos três versos, Shankara descreve seus três corpos, três aspectos de sua existência
individual com os quais o Atman está associado, seu corpo grosseiro ou físico, conhecido como
sthula sharira, seu corpo sutil, ou sukshma sharira, e seu corpo causal, karana sharira

Primeiro, o corpo físico:

Verso 11

“Composto por elementos físicos e nascido devido ao karma é o corpo físico, onde o prazer e
a dor são experienciados”.

A idade, sexo e outras qualidades do seu corpo são sobrepostas ao Atman, à Consciência pura,
que não tem idade ou sexo.

Em seguida, o corpo sutil:

Verso 12

“Tendo cinco forças vitais, mente, intelecto, e dez faculdades, feito de elementos sutis, o corpo
sutil é o meio para a experiência”.

Você sobrepõe a acuidade de seu intelecto e a felicidade de sua mente no Atman, Consciência
pura. Você sobrepõe a força ou a fraqueza de seu prana ao Atman. E você, da mesma forma,
sobrepõe a força ou a fraqueza de seus cinco sentidos e seus poderes de ação no Atman, que é
totalmente livre de todos esses atributos.

Finalmente, Shankara descreve a chamada karana sharira, corpo causal, que realmente não é
um corpo de maneira alguma:

Verso 13

“Ignorância indescritível e sem começo é considerada o corpo causal. Distinto desses três
corpos é o seu Eu interior, Atman, que você deve reconhecer”.

A ignorância do Atman é considerada o seu corpo causal, pois faz com que seu corpo sutil
renasça em um novo corpo físico. Essa ignorância também se sobrepõe ao Atman.

Os três corpos que Shankara descreve aqui estão intimamente relacionados aos cinco
invólucros ou koshas, a que ele se refere a seguir

Verso 14

“Na presença dos cinco invólucros, Atman parece adquirir suas naturezas assim como, na
presença de um pano azul, um cristal transparente parece azul.”

Assim como o azul do tecido pode ser falsamente atribuído a este cristal transparente, da
mesma forma, as qualidades de seu corpo e mente podem ser falsamente atribuídas à
Consciência pura, Atman.

Esta falsa atribuição ou sobreposição deve ser removida com a ajuda dos ensinamentos de
Vedanta.

Verso 15

“Como grãos de arroz cobertos por casca, descascando-os com a razão, Atman, o puro Eu
interior, deve ser separado”.
Atman é figurativamente coberto por seus três corpos ou cinco invólucros. Para descobrir sua
verdadeira natureza, o Atman deve ser separado ou distinguido dessas coberturas por meio da
aplicação vigorosa dos ensinamentos de Vedanta.

Agora, Shankara explica a verdadeira natureza do Atman como Consciência onipresente e


imutável.

Verso 16

“Mesmo que o Atman seja onipresente, Ele não aparece em todos os lugares. Apenas na
mente ele brilha, como um reflexo em uma superfície brilhante”.

O Sol brilha em toda a terra, mas é refletido apenas onde há uma superfície reflexiva como um
oceano, lago ou rio. De forma semelhante, a Consciência onipresente se manifesta sempre que
houver um meio refletor adequado, um meio como a sua mente.

Verso 17

“Separado de seu corpo, sentidos, mente, intelecto e do mundo, independente, como a


testemunha de todos eles, como um rei, Atman deve ser conhecido assim”.

Os ministros desempenham seus deveres e administram o reino na presença do rei. O rei


apenas os observa. Da mesma forma, na presença do Eu consciente, Atman, seu corpo, mente
e sentidos desempenham suas várias atividades. No entanto, sua própria Consciência não está
envolvida nessas atividades; ela permanece como a testemunha passiva.

Aqui, você pode argumentar: "Sempre que faço algo, como andar, falar ou pensar, certamente
parece que minha consciência está totalmente engajada nessa atividade".

Shankara explica:

Verso 18

“Quando seu corpo, mente e sentidos estão ativos, Atman também parece estar ativo, devido
à ignorância, como quando as nuvens passam pela Lua, é a Lua que parece se mover”.

Às vezes, as nuvens dão origem à ilusão de que a Lua está se movendo de alguma forma. É a
proximidade da Lua e das nuvens que dá origem a essa ilusão. Da mesma forma, é a proximidade
da Consciência ao seu corpo e mente que dá origem à ilusão de que sua própria Consciência está
ativa, quando, na verdade, a Consciência permanece como um observador passivo, como o rei
no versículo anterior.

Verso 19

“Com a ajuda do Eu consciente, Atman, seu corpo, mente e sentidos se envolvem em várias
atividades, como as pessoas se envolvem em atividades com a ajuda da luz solar”.

O Sol não participa ativamente das atividades mundanas; apenas facilita essas atividades. Da
mesma forma, o Atman não participa das atividades de seu corpo, mente e sentidos; apenas
facilita essas atividades.

Agora, Shankara explica em detalhes como as várias qualidades e atividades de sua mente são
sobrepostas à Consciência pura e falsamente atribuídas ao Atman.

Verso 20
“As qualidades e atividades de seu corpo, mente e sentidos são atribuídas à Consciência pura,
Atman, devido à ignorância, como o azul é falsamente atribuído ao espaço”.

Você experimenta um céu azul, mas o espaço é incolor. O azulado pode ser sobreposto ao
espaço. Da mesma forma, as qualidades e atividades do seu corpo, mente e sentidos podem ser
sobrepostas ao Atman. Mas, assim como o espaço não tem forma ou cor, o Eu consciente,
Atman, não tem qualidades ou atividades.

Verso 21

“Devido à ignorância, as qualidades e atividades de sua mente são atribuídas ao Atman, como
quando a Lua é refletida na água, as ondulações da água são atribuídas à Lua”.

Neste famoso exemplo, o balde representa seu corpo físico, a água representa sua mente, e a
Lua representa o Eu consciente, Atman. As ondulações na água parecem afetar a Lua, quando,
na verdade, a Lua no céu brilha inalterada.

Da mesma forma, ondulações em sua mente - seus pensamentos, emoções e sensações -


parecem afetar sua Consciência quando, na verdade, a Consciência permanece completamente
inalterada.

Verso 22

“Desejo, prazer, dor, etc. são experimentados quando sua mente está ativa, mas deixam de
existir no sono profundo, quando sua mente está inativa. Portanto, eles pertencem à sua
mente, não ao Eu consciente, Atman”.

No sono sem sonhos, sua Consciência permanece completamente presente. Ela observa ou
testemunha a ausência total de atividade em sua mente. É como estar em um quarto totalmente
escuro com os olhos bem abertos; você pode ver, mas não há nada para ser visto.

Da mesma forma, no sono profundo, você está consciente, mas não há nada para estar
consciente. Se o prazer e a dor realmente pertencessem ao Eu consciente, Atman, então você
os experimentaria mesmo em sono profundo.

Verso 23

“A natureza do Sol é o brilho, a natureza da água é o frescor, e a natureza do fogo é o calor.


Da mesma forma, a natureza do Atman é existência, consciência, plenitude, imutabilidade e
pureza”.

Mas, se a sua verdadeira natureza é Consciência ilimitada, imutável, como diz este versículo,
por que você geralmente se sente como uma pessoa limitada e individual que vive em um
mundo de objetos?

Shankara explica:

Verso 24

“Quando a Consciência e a Existência pura do Atman estão unidas com as atividades de sua
mente, então, devido à ignorância, você experiência ser uma pessoa individual”.

É a combinação da Consciência imutável com as atividades mutáveis de sua mente que dá


origem à experiência de ser uma pessoa individual, um jiva.

Verso 25
“Atman é a Consciência imutável e sua mente é, por si só, inconsciente. Considerando-se uma
pessoa individual, uma jiva, você erroneamente assume que você vê e conhece objetos”.

Mesmo que sua verdadeira natureza seja Consciência ilimitada e imutável, devido à
identificação com seu corpo e mente, você se considera uma pessoa limitada, uma jiva.

Verso 26

“Como identificar erroneamente uma corda como sendo uma cobra, identificar
incorretamente Atman como uma pessoa limitada causa medo”. Se você sabe, "Eu sou Atman,
não um jiva," então você não terá medo”.

Vedanta usa o famoso exemplo de uma corda inofensiva em um lugar sombrio confundida com
uma cobra mortal para ilustrar as consequências da ignorância. Este versículo mostra como os
ensinamentos de Vedanta têm o objetivo de libertá-lo do medo e do sofrimento, não apenas
transmitir sabedoria filosófica.

O Atman está constantemente presente em todas as experiências, presente como a Consciência


pela qual as atividades da sua mente e sentidos são conhecidas. Ainda assim, a verdadeira
natureza dessa mesma Consciência permanece desconhecida ou oculta quando está velada
atrás do chamado véu da ignorância.

Shankara explica:

Verso 27

“Apenas o Atma revela as atividades de sua mente e sentidos, como uma lâmpada brilhante
revela um pote de barro. Mas a sua mente e os seus sentidos, sendo insensíveis, não podem
revelar o Atman”.

A luz revela objetos, e aquilo que não emite luz não pode revelar nada. Sua mente e sentidos
são inerentemente inertes; eles não têm consciência própria. Portanto, sua mente e sentidos
por si só não podem revelar nada, sem a luz da Consciência.

Verso 28

“Nenhuma outra consciência é necessária para revelar o Eu consciente autorrevelador,


Atman, como nenhuma outra lâmpada é necessária para ver uma lâmpada brilhando por si
mesma”.

O Atman é autorrevelador, como uma lâmpada brilhante. O objetivo de Vedanta não é revelar
Atman, mas remover sua ignorância sobre a verdadeira natureza do Atman, eliminar suas
conclusões equivocadas e a identificação com seu corpo e mente.

Verso 29

“Depois de negar seu corpo, mente e sentidos com o ensinamento, "Neti neti - Eu não sou
nada disso," usando os mahavakyas, você deve perceber a unidade de sua consciência e
Brahman”.

Mahavakyas são declarações das escrituras como "tat tvam asi - tu és isto". Tais declarações
revelam a identidade completa do Eu consciente, Atman e Brahman, a realidade subjacente em
razão da qual o mundo existe.
As mahavakyas expressam a verdade mais elevada de Vedanta; que a Consciência em si é o
próprio tecido da existência, a realidade chamada Brahman.

Verso 30

“Seu corpo, mente e sentidos, nascidos da ignorância, são tão impermanentes quanto bolhas
na água. Você deve saber que é completamente independente deles, pensando: "Eu sou puro
Brahman".

Perceber a verdade mais elevada - que sua consciência é idêntica a Brahman - não é uma
questão de apreender um conceito intelectual ou compreender um princípio filosófico. É uma
questão de descoberta direta e pessoal, ao reconhecer algo totalmente notável sobre você que
anteriormente estava oculto de sua percepção.

Para apoiar a descoberta pessoal ou o reconhecimento desta verdade mais elevada, Shankara
agora dá vários exemplos de contemplações de Vedanta que devem ser praticadas junto com a
meditação.

Verso 31

"Porque não sou o meu corpo, não tenho nascimento, velhice, decadência ou morte. Não tenho
associação com objetos mundanos, porque sou independente dos meus sentidos”.

São os seus sentidos de visão, audição, paladar, olfato e tato que interagem com objetos
mundanos, não a Consciência em si.

Verso 32

"Porque não sou minha mente, não tenho sofrimento, desejo, aversão ou medo.
Independente do meu prana e da minha mente, Eu sou Consciência pura, como dizem as
escrituras”.

Sua mente está sujeita à tristeza. Seu prana, força vital, está sujeito a fraquezas. Mas sua
Consciência imutável é totalmente não afetada por eles. As próximas contemplações não
requerem nenhuma explicação.

Verso 33

"Livre de atributos, imóvel, eterno, livre de pensamentos, imaculado, imutável e sem forma -
Eu sou eternamente livre e puro”.

Verso 34

"Eu sou como o espaço, dentro e fora de tudo, imutável, sempre contente, perfeito,
desvinculado, puro e imóvel”.

Verso 35

"Eternamente puro e livre, plenitude indivisa, não dual, real, consciente e ilimitado - Eu sou
realmente aquele Brahman supremo”.

Verso 36

"Por meio da prática constante dessas contemplações, a convicção: "Eu sou Brahman" remove
a ignorância e a identificação, como o remédio remove doenças”
Contemplações como estas são essenciais para ajudá-lo a perceber as verdades ensinadas por
Vedanta de uma maneira direta e pessoal, não como ideias abstratas ou conceitos intelectuais.
Esta prática é crucial para assimilar ou internalizar esses ensinamentos elevados.

Shankara agora dá mais instruções para meditação:

Verso 37

“Sentado em um lugar solitário, livre de desejo, sem distração, você deve meditar sobre o
Atman sendo uno e ilimitado, com atenção inabalável”.

Verso 38

“Fundindo o mundo inteiro em Atman por meio da contemplação, você deve meditar sobre o
Atman como uno e eternamente puro como o espaço”.

Quando o processo de investigação explicado na primeira parte deste texto está acompanhado
por essas contemplações vedânticas, você pode se tornar firmemente estabelecido ou
enraizado em Ātma-bodha, autoconhecimento.

Na próxima parte do texto, Shankara descreve os frutos desse autoconhecimento firmemente


estabelecido e enraizado:

Verso 39

“Abandonando toda a identificação com o corpo, uma pessoa iluminada, cuja verdadeira
natureza é a Consciência ilimitada, permanece nessa natureza”.

Primeiro você tem que desistir da falsa identificação com seu corpo e mente e perceber que
suas limitações e defeitos não pertencem a você. Só então você poderá permanecer em sua
verdadeira natureza como Consciência ilimitada.

Verso 40

“Distinções entre conhecedor, conhecimento e conhecido estão ausentes no verdadeiro Eu,


Atman, porque sua natureza é Consciência ilimitada e não dual. Só Ele brilha”.

Todo o conhecimento ocorre em sua mente, mas o Atman está completamente separado de
sua mente como a Consciência imutável que ilumina todas as suas atividades, todos os seus
pensamentos, emoções e percepções.

Verso 41

“No Atman, como em uma madeira, perfuração constante com a fricção da meditação acende
a chama do conhecimento e queima o combustível da ignorância”.

Esta bela metáfora é baseada no uso de uma furadeira manual para iniciar uma fogueira. A
perfuração persistente com um fuso/haste de madeira produz atrito e chamas. Da mesma
forma, a prática persistente de meditação e contemplação produz um conhecimento do Atman
firmemente estabelecido e profundamente enraizado.

Verso 42

“Como ao nascer do Sol, o amanhecer do conhecimento remove a escuridão da ignorância.


Então, Atman revela sua própria natureza, como o Sol brilhante”.
A verdade suprema de que a consciência é idêntica ao Brahman, o tecido da existência,
permanece envolta em obscura ignorância até o amanhecer do autoconhecimento, Ātma-
bodha.

Verso 43

“Mesmo que o Atman esteja sempre presente, parece ausente devido à ignorância. Quando a
ignorância é removida, parece que o Atman foi encontrado, como a corrente de ouro no
pescoço de alguém”.

Uma história tradicional fala de uma mulher que procurou em todos os lugares por sua corrente
de ouro perdida. Ela finalmente descobriu que estava pendurada em seu pescoço o tempo todo.
Ela encontrou o que já possuía. Tal é a realização do Atman.

Verso 44

“Como um tronco de árvore é confundido com um ladrão, Brahman é confundido com uma
pessoa limitada, jiva. Quando a verdadeira natureza da jiva é descoberta, o erro desaparece”.

No crepúsculo, um tronco de árvore pode parecer uma pessoa ameaçadora e fazer você se
sentir com medo ou ameaçado. Da mesma forma, você pode se sentir ameaçado pelos
problemas e defeitos de seu corpo e mente, até você discernir adequadamente sua verdadeira
natureza como Atman.

Verso 45

“Depois de perceber sua verdadeira natureza, o conhecimento surge imediatamente e remove


a ignorância tal como "eu" e "meu", como o Sol remove a confusão sobre as direções”.

Quando você vê o Sol pela manhã ou à noite, você sabe imediatamente para que lado é Leste
ou Oeste. E, quando você descobre sua verdadeira natureza, você imediatamente sabe que seus
sentimentos de individualidade e possessividade são completamente infundados.

Verso 46

“Yogis iluminados veem o mundo inteiro em si, e veem tudo como não separado do Atman,
com o olho do conhecimento”.

Aqueles que são iluminados experimentam a dualidade como todos os outros, mas eles não são
enganados por suas experiências. Eles conhecem a realidade subjacente a tudo o que existe,
que é o Brahman não dual, como a argila é a realidade subjacente em razão da qual muitos potes
existem.

Verso 47

“Este mundo inteiro é o Atman apenas. Nada existe além do Atman, como os potes nada mais
são do que argila. Assim, tudo é visto como a si mesmo”.

A visão vedântica da unidade é perceber o tecido não dual subjacente à existência devida ao
qual o mundo da dualidade existe, a realidade chamada Atman ou Brahman.

Agora, Shankara descreve a natureza e o comportamento de uma pessoa iluminada:

Verso 48
“Conhecendo Brahman, pessoas iluminadas deixam de se identificar com seus corpos e
mentes. Porque sua verdadeira natureza é Consciência ilimitada, imutável, eles se tornam
Brahman, como larvas se transformam em vespas”.

Nos tempos antigos, pré-científicos, acreditava-se que larvas de vespas eram transformadas em
vespas devido à sua experiência contínua com vespas no ninho. Esta metáfora sugere que a
contemplação contínua no Brahman faz com que você figurativamente se torne Brahman por
estar firmemente estabelecido em sua verdadeira natureza como Brahman.

Verso 49

“Cruzando o oceano da ilusão, destruindo os demônios de atração e aversão, iogues, dotados


de paz, deleitam-se em si mesmos”.

Este versículo ecoa a história do Ramayana. O Senhor Rama cruzou o oceano para chegar a
Lanka, onde matou os demônios Ravana e Kumbakarna, e foi finalmente reunido com sua
esposa, Sita.

Nesta metáfora, Sita representa o Atman.

Verso 50

“Livre do apego aos prazeres mundanos, contente com a plenitude do Atman, como uma
lâmpada brilhando dentro de uma vaso, os iluminados brilham, estabelecidos em si mesmos”.

Você não pode ver uma lâmpada brilhando em um espaço fechado. Da mesma forma, você não
pode dizer se alguém é iluminado ou não, observando de fora. Apenas essa pessoa sabe.

Verso 51

“Mesmo que incorporados, por seus corpos, os iluminados não são afetados, como o espaço

Mesmo sendo iluminados, eles agem como tolos, movendo-se sem apego, como o vento”.

Porque os iluminados se sentem completamente contentes e realizados, eles não têm planos,
nem metas, nem agenda alguma. Eles simplesmente respondem de forma adequada para cada
situação, situações que surgem de acordo com seu karma remanescente.

Verso 52

“Quando seus corpos morrem, os iluminados fundem-se na Consciência onipresente como a


água na água, como o espaço no espaço, ou como fogo em fogo”.

Quando água é derramada no oceano, ela se torna inseparável do oceano. Quando um pote é
quebrado, o espaço interno se funde com o espaço externo. E nos tempos antigos, quando uma
chama se extinguia, acreditava-se que ela se fundia no elemento universal, fogo.

Em cada caso, a existência de água, espaço e fogo continua, inalterada e inabalável, enquanto
sua separação chega ao fim. Assim é para os iluminados na hora da morte.

Agora, ao se aproximar do final do texto, Shankara enaltece o conhecimento de Brahman:

Verso 53

“Ganhando isso, nada resta a ser alcançado, nenhuma outra felicidade, nenhum outro
conhecimento - esse Brahman deve ser realizado”.
Iluminação é considerada a maior conquista humana, a meta mais alta. É um estado de
contentamento absoluto em que nada mais resta a ser realizado.

Verso 54

“Vendo isso, nada resta para ser visto, tornando-se isso, não há renascimento, sabendo isso,
nada resta a ser conhecido - esse Brahman deve ser realizado”.

As escrituras dizem que quando o fogo do conhecimento destrói a ignorância, todos os karmas
acumulados nesta vida e em vidas passadas também são queimados pelo fogo do conhecimento.
E na ausência de quaisquer karmas restantes, não há possibilidade de renascer novamente.

Verso 55

“Estendendo-se indefinidamente, ao redor, acima e abaixo, consciência ilimitada e imutável,


não dual, infinito, eterno e uno - esse Brahman deve ser realizado”.

Esta seção do texto parece um hino ou música, com a repetição do refrão, "tad brahma iti
avadharayet", esse Brahman deve ser realizado.

Verso 56

“Por meio de um processo de negação, Vedanta ensina que Brahman é não dual, uno,
plenitude ilimitada - esse Brahman deve ser realizado”.

O processo de negação de Vedanta é proclamado em sua famosa frase, "neti neti - não isso, não
isso".

Verso 57

“Quando todas as conclusões erradas são negadas, somente Brahman permanece. Da


plenitude ilimitada de Brahman, apenas uma pequena porção é apreciada por deuses como
Brahma, que assim se tornam realizados”.

Na mitologia hindu, os deuses que moram no céu desfrutam de palácios magníficos, dança e
música deliciosas, bem como de refeições majestosas. Mas todos esses prazeres celestiais são
apenas uma pequena fração da plenitude de Brahman.

Verso 58

“Brahman está presente em todos os objetos e em todas as atividades. Portanto, Brahman é


onipresente, como a gordura no leite integral”.

A gordura extraída do leite para fazer ghee/manteiga clarificada está presente no leite. De
maneira semelhante, Brahman está presente no e através do universo.

Verso 59

“Nem pequeno nem grande, nem curto ou longo, não nascido, imperecível, sem forma,
qualidade ou cor - Esse Brahman deve ser realizado”.

Cada palavra usada aqui para descrever Brahman é de natureza negativa. Estas palavras negam
ou excluem tudo o que não é Brahman. Uma vez que Brahman está além do tempo e do espaço,
além das palavras e conceitos, esta linguagem de negação é fundamental para os ensinamentos
de Vedanta.
Verso 60

“A luz pela qual o Sol e a Lua brilham, mas que brilha sem a ajuda de qualquer outra luz, isso
pelo qual o mundo inteiro é iluminado - esse Brahman deve ser realizado”.

A luz representa a Consciência, aqui. Graças à Consciência, você sabe o que acontece, tanto
dentro de sua mente, quanto fora, no mundo. No entanto, para conhecer sua própria
Consciência, nenhuma outra consciência é necessária, porque sua Consciência é
autorreveladora.

Verso 61

“Permeando o mundo e se estendendo além, iluminando todo o universo, Brahman brilha


como um luminoso pedaço de ferro em brasa”.

Mesmo que o ferro em si não produza luz, quando é aquecido em uma fornalha e fica
incandescente, ele brilha intensamente. Esta metáfora mostra como as criaturas vivas feitas de
carne e osso inertes tornam-se seres sencientes e conscientes devido à presença de Consciência,
brilhando dentro delas.

Verso 62

“Brahman é diferente do universo, mas nada existe além de Brahman. Se algo diferente de
Brahman parece existir, então é falso, como uma miragem”.

Este versículo pode parecer confuso, então considere o seguinte: a argila não é o pote, mas o
pote nada mais é do que argila. A argila é a realidade subjacente pela qual os potes existem, e,
no entanto, a argila é completamente independente dos potes.

Da mesma forma, Brahman é a realidade subjacente pela qual o universo existe, e, no entanto,
Brahman é completamente independente do universo.

Verso 63

“Tudo o que é visto ou ouvido nada mais é do que Brahman. Com o conhecimento, Brahman é
percebido como idêntico à sua Consciência ilimitada, imutável e não dual”.

A última metade deste versículo expressa o mais alto ensino de Vedanta, “tat tvam asi”, tu és
isto. “Tat” refere-se a Brahman e “tvam” refere-se a você, à sua consciência, a Consciência que
realmente é incriada, imutável e onipresente como a própria estrutura da existência.

Nos versos finais do texto, Shankara retorna ao tópico da iluminação:

Verso 64

“O Eu onipresente, imutável e autoconsciente é descoberto com o olho da sabedoria. Alguém


sem o olho da sabedoria não pode descobri-lo, como os cegos não podem ver o Sol”.

Mesmo que o Sol seja autorrevelador, ele não pode ser visto pelos cegos. Da mesma forma,
embora o Eu consciente, Atman, seja autorrevelador, sua verdadeira natureza não pode ser
reconhecida pelos ignorantes.

Verso 65

“Por meio da prática de Vedanta, você é absorvido pelo fogo ardente do conhecimento e
liberado de todas as impurezas, brilhando como ouro”.
O ouro é derretido em uma fornalha para remover todas as suas impurezas. Da mesma forma,
uma pessoa é figurativamente chamuscada pelo fogo do conhecimento para remover a
impureza da ignorância.

Verso 66

“Atman habita em seu coração como a luz da Consciência, destruindo a ignorância,


permeando o universo, sustentando tudo e iluminando tudo”.

A Consciência mora em seu coração, por assim dizer, iluminando as atividades de sua mente.
Essa mesma Consciência permeia simultaneamente o universo, iluminando as mentes de todos.

O verso final deste texto é composto em uma métrica mais longa:

Verso 67

“O Atman permeia todas as direções, tempos e lugares, removendo o sofrimento e


concedendo alegria pura e eterna. Ao adorar este local sagrado de peregrinação dentro de
você, você se torna iluminado, ilimitado e imortal”.

Os peregrinos viajam grandes distâncias para chegar aos lugares sagrados no Himalaia ou ao
longo das margens de rios sagrados. Mas os iluminados não precisam viajar para lugar nenhum
para alcançar a realidade sagrada que habita dentro, o Eu consciente, Atman.

Com este versículo, Ātma-bodha chega ao fim.

Neste breve texto, Shankara transmitiu ensinamentos que podem levar você a descobrir
pessoalmente o que os antigos sábios descobriram e tornar-se firmemente estabelecido nessa
sabedoria sagrada.

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