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Campo Magnético no Exterior de Condutores

Lineares1
Departamento de Física, FCT
Universidade do Algarve

1 Objetivo
A corrente que passa por um condutor produz um campo magnético à sua
volta. No presente trabalho pretende-se estudar a variação do campo ma-
gnético em função da corrente que passa pelo condutor e da sua distância ao
ponto de observação. Ir-se-á estudar também a forma como os campos ma-
gnéticos produzidos por dois condutores lineares se adicionam, dependendo
dos sentidos relativos das correntes que os percorrem.

2 Fundamento Teórico
A lei de Biot-Savart permite calcular o módulo do campo magnético gerado
por uma corrente I que atravessa um condutor retilíneo infinito, que é dado
por:
µ0 I
B(r) = |B(r)| = (1)
2πr
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Versão original: Rui Guerra (rguerra@ualg.pt); revisado por José Mariano
(jmariano@ualg.pt) em 2016; atualizado em 2022 por Orlando Camargo Rodríguez
(orodrig@ualg.pt).

1
I

Figura 1: Campo magnético gerado por uma corrente que atravessa um con-
dutor retilíneo infinito; a regra da mão direita permite deduzir a direção do
campo.

em que µ0 = 1, 25663706212 × 10−6 T·m/A é uma constante física universal


chamada permeabilidade magnética do vácuo e r = |r| é a distância do con-
dutor ao ponto de medição. Quanto à direção e sentido do campo magnético,
ele é dado como o produto externo das direções de B e r, que pode ser deter-
minado usando a regra da mão direita (ver Figura 1). É possível verificar que
o campo magnético B é sempre tangente a qualquer circunferência centrada
no fio e é perpendicular ao plano definido pelo fio e pelo ponto de observação.
As medições desta experiência pretendem comprovar a validade da Eq(1).
Por razões óbvias não será utilizado um condutor infinito, mas um condutor
com a forma de um retângulo. Pode-se provar, no entanto, que a Eq(1)
mantêm-se aproximadamente válida para um condutor finito, desde que r
seja muito menor que o comprimento do fio L, isto é, r  L. Uma outra
aproximação que se faz nesta experiência é considerar nulas as influências das
duas arestas horizontais do fio e da aresta vertical mais próxima da fonte de
corrente (transformador). É igualmente possível mostrar que se a distância
de medição se mantiver pequena (r < 4 cm), o erro introduzido pela presença
destas arestas é inferior a 10%.

Campo gerado por um par de condutores lineares


Usando a regra da mão direita é possível verificar que se dois condutores pa-
ralelos são percorridos por correntes iguais no mesmo sentido, os seus campos

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I II I II

BII BII

I
⊗ I I
⊙ I
⊙ ⊙
BI BI

(a) (b)

Figura 2: Campos magnéticos gerados por: (a) correntes iguais que circulam
no mesmo sentido; (b) correntes iguais que circulam em sentidos opostos.

magnéticos têm sentidos opostos em qualquer ponto do plano por eles defi-
nido situado entre os dois condutores (ver Figura 2(a)). Da mesma forma
é possível verificar que, se os condutores forem percorridos por correntes
de sentidos opostos, os seus campos magnéticos têm o mesmo sentido na
nessa mesma região do plano (ver Figura 2(b)). Portanto, no primeiro caso
os campos subtraem-se e no segundo somam-se. É este comportamento do
campo magnético na superfície entre dois condutores lineares que se pretende
verificar na segunda parte desta experiência.

3 Material utilizado
• fios de ligação;

• transformador;

• fonte de tensão alternada;

• teslâmetro;

• pinça amperométrica;

• quadros de fio metálico;

• barras;

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Figura 3: Esquema da montagem experimental.

• bases e suportes vários;

• régua.

4 Precauções
Evite o contacto com os condutores lineares enquanto são percorridos pela
corrente elétrica.

5 Procedimento experimental
As experiências que se vão fazer são de um dos dois tipos seguintes:

(i) variar a corrente I e medir o campo, mantendo a distância do ponto de


observação r ao condutor constante; ou

(ii) variar a distância do ponto de observação ao condutor, mantendo a


corrente constante.

Para variar I faz-se variar a tensão fornecida pela fonte e para variar r
desloca-se o sensor relativamente ao fio condutor. A saída utilizada da fonte
de tensão é a de 0-15 V AC.

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Algumas notas importantes para a obtenção de bons resultados:

• Em todos os ensaios a extremidade da sonda de Hall (sensor de campo


magnético) deve estar no plano definido pelo fio condutor e deslocar-se
sempre nesse plano.

• O teslâmetro (isto é, o multímetro a ele ligado) pode indicar um valor


do campo diferente de zero mesmo quando não passa corrente pelo fio
(e portanto quando o campo magnético é efetivamente nulo). Este é
um erro de calibração do teslâmetro. O valor para campo nulo deve ser
registado e posteriormente subtraído das medições feitas com campo.

• A distância r deve ser medida entre o centro do fio condutor e o centro


da sonda de Hall.

• Quando a corrente utilizada for superior a 50 A deve-se fazer as me-


dições o mais rapidamente possivel e baixar imediatamente a corrente
para evitar o aquecimento excessivo dos fios.

5.1 Determinação do campo magnético de um condutor


linear em função da corrente que o atravessa
1. Monte o circuito conforme a Figura 3.

2. Use o quadro de fio em forma de quadrado.

3. Faça as medições a meia altura do quadrado, na aresta vertical mais


distante do transformador.

4. Coloque o sensor a aproximadamente 1 cm (e do lado de fora do qua-


drado, para reduzir ao mínimo a influência parasita das outras 3 ares-
tas).

5. Anote o valor de campo nulo do teslâmetro.

6. Varie a corrente entre 10 e 90 A, com acréscimos de 10 A.

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5.2 Determinação do campo magnético de um condutor
linear em função da distância de observação
1. Utilize o quadro de fio condutor em forma de quadrado.

2. Faça as medições a meia altura do quadrado, na aresta vertical mais


distante do transformador.

3. Anote o valor de campo nulo do teslâmetro.

4. Fixe o valor da corrente para, aproximadamente, 90 A.

5. Varie a distância do ponto de observação (centro da sonda de Hall) ao


fio condutor entre 5 mm a 60 mm, com acréscimos de 5 mm (e do lado
de fora do quadrado).

5.3 Determinação do campo magnético entre dois con-


dutores lineares paralelos percorridos por correntes
com o mesmo sentido
1. Use o quadro de fio condutor em forma de quadrado com um travessão
a cerca de um terço do seu comprimento.

2. Faça as medições a meia altura do condutor vertical.

3. Fixe a corrente em aproximadamente 90 A.

4. Anote o valor de campo nulo do teslâmetro.

5. Repare que os fios condutores que vão dar origem a uma sobreposição
dos campos são os dois segmentos verticais que estão mais próximos
entre si.

6. Faça r variar entre 60 mm à esquerda do segmento da esquerda e 60


mm à direita do segmento da direita, em intervalos de 5 mm e passando
pelo espaço entre os dois segmentos.

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5.4 Determinação do campo magnético entre dois con-
dutores lineares paralelos percorridos por correntes
em sentidos opostos
1. Use o quadro de fio condutor em forma de retângulo.

2. Repare que, neste caso, são os dois segmentos verticais que vão dar
origem aos campos que se vão sobrepor.

3. Proceda de modo idêntico ao explicado no ponto anterior.

6 Apêndice: sobre a montagem experimental


O início do protocolo mostra uma fotografia da montagem experimental e
a Figura 3 mostra um esquema desta mesma montagem. A montagem tem
duas partes distintas: uma, que se destina a produzir o campo magnético, e
outra, que se destina à medição do campo.
A parte destinada à produção do campo magnético é constituída por uma
fonte de alimentação (a caixa da direita). A fonte de alimentação está ligada
ao primário de um transformador, a sua entrada, e o secundário, a sua saída,
está ligada ao fio condutor que, ao ser atravessado pela corrente, vai gerar
o campo magnético a ser medido. Usa-se um transformador porque as cor-
rentes necessárias para gerar um campo magnético que seja detetável pelo
equipamento desta experiência são muito elevadas e as fontes de alimentação
comuns num laboratório não as conseguem gerar. O transformador resolve
este problema porque produz uma corrente muito maior no secundário do
que no primário e esta corrente, que vai passar pelo fio condutor, já é su-
ficiente para obter um campo magnético mensurável (embora a tensão nos
extremos do secundário seja muito menor do que a tensão nos extremos do
primário; esta é a razão pela qual não há perigo de choque, mesmo com
grandes correntes a atravessar o fio condutor)2 .
Relativamente à segunda parte do circuito. Nesta experiência há que de-
terminar dois parâmetros: a corrente que flui através do fio condutor e o
2
Para um transformador ideal tem-se que Is /Ip = np /ns , em que os índices p e s se
referem ao “primário” e “secundário” do transformador e n é o número de espiras. Por
exemplo: se np = 1000 e ns = 10, uma corrente de 1 A no primário irá dar origem a uma
corrente no secundário de 100 A.

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valor do campo magnético. Estes dois parâmetros controlam-se através de
dois circuitos independentes. Para medir a corrente usa-se o dispositivo que
está do lado direito do meio da Figura 3 e que se chama pinça amperomé-
trica; esta, no seu visor, indica diretamente o valor da corrente no fio. Este
dispositivo deve ser usado para medir a corrente porque não estão disponíveis
amperímetros comuns com a capacidade para medir correntes tão elevadas.
Finalmente, a parte de medição do campo magnético, que se encontra
no lado esquerdo da fotografia do equipamento. O dispositivo que permite
medir o campo magnético, a que se chama teslâmetro, é composto por sonda
+ amplificador + fonte de alimentação + voltímetro. O sensor que permite
medir o campo magnético encontra-se na extremidade do tubo horizontal e
designa-se por sonda de efeito de Hall. O sinal proveniente deste sensor é
depois processado num amplificador que converte o valor da tensão recebida
no valor do campo magnético observado, que é depois mostrado no visor de
um multímetro. O amplificador é alimentado por uma fonte de alimentação.

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