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A imagem da auto-estima

Quando convidada a escrever sobre auto-estima, a primeira coisa que tentei fazer
foi definir este conceito, ou seja, procurar saber o que é a auto-estima, palavra
muito utilizada atualmente. Diria até que é a palavra da moda, citada com
frequência em revistas, livros e TV - e com aplicação abrangente.
Fernanda Calderaro,
educadora da ONG Transas do Corpo, de Goiânia, GO. Endereço eletrônico: fernanda@transasdocorpo.org.br

Consultei o dicionário Aurélio que define assim: "valorização de si mesmo, amor próprio". E uma outra definição:
"um sentimento ou uma atitude de aprovação ou de repulsa de si mesmo, e até que ponto o sujeito se considera
capaz, significativo, bem-sucedido e valioso".
Olhando esses conceitos e avaliando as palavras individualmente, diria que "auto" refere-se a algo de si
próprio e a palavra "estima" um sentimento de importância ou valor. Portanto "auto-estima" seria uma avaliação de
si, resultando na atribuição de um valor ou de importância associado a um sentimento. Quando colocamos que há
um sentimento associado, significa que ele pode ser variado e pode mudar de acordo com o momento em que a
avaliação é feita, assim podemos sentir felicidade, ódio, raiva, bem-estar, entre outros.
Um passeio no shopping
Ainda pensando nessas definições, resolvi dar uma volta no shopping. Logo na entrada fui recepcionada por
um enorme espelho que me ajudava a não esquecer o tema deste texto, afinal a imagem refletida faz com que a
auto-avaliação aconteça. Aproveitei para checar se estava tudo bem. Durante meu passeio não consegui esquecer
da auto-estima, os espelhos me lembravam a todo o momento.
Olhei algumas vitrines, mas não me via naquelas roupas, tudo muito pequeno no diâmetro e muito longo no
comprimento, impedindo que eu, no auge dos meus 1,60m e muitos quilos, usasse. Depois de muitas voltas, sentei
na praça de alimentação e ali fiquei por um longo tempo.
Enquanto lanchava, observei as pessoas e refleti sobre a contradição dos tamanhos das roupas nas vitrines e o
tamanho das porções de lanches oferecidas, exigindo-nos muita habilidade para comer aquelas quantidades e
ainda caber nas roupas cada vez menores.
Durante este meu passeio reparei num grupo de adolescentes todos(as) muito semelhantes, seguindo um
padrão pré-deter-minado de beleza, mas diferente para mulheres e homens. Também verifiquei que esse "fenómeno"
não estava restrito aos adolescentes, mas estendido àquelas várias pessoas que ali passeavam ou trabalhavam.
Essa semelhança entre as pessoas me fez pensar até que ponto a auto-estima depende somente de mim. Será
que para ter auto-estima preciso ter a aprovação de outras pessoas e, para ter esta aprovação, eu preciso
obedecer a um padrão? Se a auto-estima depende da aprovação de outras pessoas, seria, então, a auto-estima
menos "auto" do que imaginávamos?
Aprovação do espelho e dos outros
Muitos fatores subjetivos constituem a auto-estima, mas hoje em dia o principal fa-tor está relacionado ao
corpo. Para auto-estima elevada, além de me sentir bem com o que vejo no espelho, preciso da aprovação de
outras pessoas, mas nem sempre nesta ordem.
A imagem corporal "aprovada", portanto feliz e bem-su-cedida, imposta pelas passarelas, novelas, revistas,
entre muitos outros meios que reforçam este ideal, é de um corpo jovem, branco, magro, alto, de cabelos lisos,
músculos definidos, seios grandes e bumbum empinado.
Para sermos aprovados(as) vamos em busca deste "ideal de beleza" e nos submetemos a procedimentos
variados, invasi-vos e nocivos, como: cirurgias plásticas, ini-bidores de apetite, personal trainning, academias de
ginástica, botox, tratamento anti-envelhecimento, alongamento de cabelo, alisamento, tratamento para crescer,
depilações a laser. Todas essas possibilidadesde se tornar belo(a) nos fazem pensar que só é feio(a) quem quer.
Mas seria feia a pessoa cuja imagem corporal não segue esses padrões?
Na adolescência esta "aprovação" através do corpo se intensifica. Os resultados dessa incessante busca
pela beleza nem sempre são bons. Os procedimentos de embelezamento mal feitos podem provocar
resultados desastrosos e até a morte. Outras consequências são o aumento dos casos de bulimia,
anorexia e dismorfofobia.
Vivemos numa sociedade que tanto cultua o corpo como não cessa de aviltá-lo, comercializá-lo,
desprezá-lo. O corpo reina e padece por toda parte. Nossa sociedade continua a desvalorizar as
singularidades das pessoas e a torná-las desnecessárias, sem significado, incertas. E as passarelas, a TV, a
publicidade, prometem justamente o contrário. Enquanto tudo parece incerto e instável (relações, emprego,
vontades), o próprio corpo tende a ser considerado a única coisa que resta.
*

Abaixo a
ditadura da
beleza e viva as
singularidades!
outubro/2006-(199)-7

Conversando com meu corpo


Objetivos: Aprofundar a relação com o próprio corpo; fortalecer a auto-estima. Material: gravador ou toca-cd. Desenvolvimento:
1) Grupo espalhado pela sala, deitado. Pôrmúsica suave.
2) Relaxar todo o corpo no chão. Permanecerem silêncio e de olhos fechados.
3) Sentir cada parte do corpo à medida que ofacilitador as enumera. O facilitador deve nomearas partes do corpo, começando pela cabeça,indo
até os pés, solicitando que os participantes façam contato com as mesmas e relaxem. Tempo.
4) Identificar as partes de que mais gosta e asde que menos gosta.
5) Enviar uma mensagem positiva à parte docorpo de que mais gosta.
6) Enviar uma mensagem positiva à parte docorpo de que menos gosta.
7) Lentamente, começar a movimentar-se, atéespreguiçar.
1) Abrir os olhos e sentar em círculo.
8) Plenário - compartilhar com o grupo ossentimentos vividos:
• Como cada um está se sentindo?
• Qual o sentimento mais forte que vocêvivenciou durante a dinâmica?
• O que lhe chamou a atenção sobre si mesmo?
Fonte: Projeto Crescer e Ser

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