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CENTRO DE ESTUDOS DA ARQUIDIOCESE DE RIBEIRÃO PRETO

GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA

TEOLOGIA MORAL FUNDAMENTAL II – MS. PE. JOSÉ SIDNEY GOUVEIA LIMA

JOÃO GABRIEL DA CRUZ ANDRADE

São João Paulo II – sobre o Pecado.

A temática do pecado é profundamente religiosa, e sempre implica em uma


verdade revelada. Por isso atualmente muitos evitam o uso da palavra pecado, pois
em tempos onde a verdade é relativizada o pecado também se torna relativo. Em
reação a este movimento, muitos religiosos optam por abordar o tema pecado como
juízes, “profetas” do certo ou errado, ou como carrascos que só falam de punição e
condenação. São João Paulo II, em sua exortação pós sinodal Reconciliatio et
paenitentia, indica o erro desta postura, e por isso inicia sua exortação afirmando
que, “falar de Reconciliação e Penitência, para os homens e mulheres do nosso
tempo, é convidá-los a reencontrar, traduzidas na sua linguagem, as próprias
palavras com que o nosso Salvador e Mestre Jesus Cristo quis iniciar a sua
pregação: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho», ou seja, acolhei o anúncio
jubiloso do amor, da adopção como filhos de Deus e, consequentemente, da
fraternidade” (n.1). Assim São João Paulo II indica que ao se falar de pecado é
preciso sempre se apontar para a reconciliação concedida por Deus.

São João Paulo II na carta encíclica Veritatis splendor afirma que nenhum
homem consegue se esquivar das perguntas: o que devo fazer? e como discernir o
bem do mal? Porém responder a estas questões somente é possível graças ao
esplendor da verdade que brilha no íntimo do espírito humano (n. 2).

A Reconciliatio et paenitentia, deixa claro que a reconciliação torna-se


necessária diante a ruptura causada pelo pecado, e dessa ruptura derivaram todas
as outras formas de ruptura no íntimo do homem e à sua volta. Assim a
reconciliação, para ser total, exige necessariamente a libertação do pecado,
rejeitando as suas raízes mais profundas. Por isso, há uma estreita ligação interna,
que une conversão e reconciliação: é impossível dissociar as duas realidades, ou
falar de uma sem falar da outra (n.4).

Desta forma, o sumo pontífice juntamente ao sínodo, fez questão de falar


sobre uma reconciliação de toda a família humana e da conversão do coração de
cada pessoa, do regresso a Deus, querendo confirmar e proclamar que a união
entre os homens não se poderá realizar sem a mudança interior de cada um. A
conversão pessoal é o caminho necessário para a concórdia entre as pessoas.

Portanto a missão da Igreja frente a realidade pecaminosa que podem se


apresentar nas diversas dimensões da realidade é de ser uma anunciadora da
redenção. Para exercer tal missão, em uma sociedade que pede provas e
testemunhos constantemente, a Igreja é chamada a dar o exemplo da reconciliação
primeiramente no seu interior. Para isto, todos os membros da Igreja devem se
esforçar para apaziguar os ânimos, moderar as tensões, superar as divisões, e
sanar as feridas eventualmente infligidas entre irmãos, principalmente quando se
encontrarem entre opções no campo do opinável, procurando sempre de preferência
estar unidos naquilo que é essencial para a fé e a vida cristã, segundo a antiga
máxima: In dubiis libertas, in necessariis unitas, in omnibus caritas (liberdade naquilo
que é duvidoso, unidade no que é necessário e caridade em todas as coisas).

A redenção é sempre uma iniciativa de Deus que concretiza-se e manifesta-


se no ato redentor de Cristo, que se irradia no mundo mediante o ministério da
Igreja. A Igreja, continuando o anúncio de reconciliação que Cristo anunciou nas
aldeias da Galileia e de toda a Palestina, e assim não cessa de convidar a
humanidade inteira a converter-se e a acreditar na Boa Nova. Desta forma a Igreja
fala em nome de Cristo, fazendo seu o apelo do Apóstolo Paulo: “Nós somos
embaixadores ao serviço de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio.
Suplicamo-vos, pois, em nome de Cristo: Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5, 20).

São João Paulo II afirma que “o diálogo pastoral, em vista da reconciliação,


continua a ser hoje uma solicitude fundamental da Igreja em diversos âmbitos e a
vários níveis”. Assim a Igreja deve sempre exercer o diálogo em vista de levar a
reconciliação com Deus, que se dá por meio dos sacramentos (n. 25).
Percebe-se então que São João Paulo II localiza o pecado como ato que
acarreta como consequência um rompimento com Deus, e consecutivamente com o
outro e consigo mesmo. Entretanto maior que o pecado é a redenção oferecida por
Deus. A Igreja não deve anunciar o pecado, mas sim a Redenção. Ao se observar
as realidades pecaminosas, não se deve proclama-las como realidades incuráveis,
mas sim como situações que necessitam de um processo de conversão que leva à
reconciliação que gera vida. Vale assim lembrar também que em seu discurso no
Brasil em São Luís em 1991 o papa afirmou que “toda e qualquer transformação
social tem que passar necessariamente pela conversão dos corações”. Desta forma
a conversão pessoal é sempre necessária para que se ocorra uma conversão social.

Referências:

João Paulo II. Reconciliatio et Paenitentia. Disponível em:


http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-
ii_exh_02121984_reconciliatio-et-paenitentia.html#fn50. Acesso em: 23 de Setembro
de 2020.

João Paulo II. Reforma Agrária (São Luís 14/10/1991). O Papa Peregrino – CD.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aMeHsaZ9ypA&feature=youtu.be.
Acesso em: 23 de Setembro de 2020.

João Paulo II. Veritatis Splendor. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/john-


paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_06081993_veritatis-splendor.html.
Acesso em: 23 de Setembro de 2020.

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