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22 • Cidades • Brasília, sexta-feira, 20 de setembro de 2019 • CORREIO BRAZILIENSE Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A Press

Apresentação reúne teatro


de bonecos e música
popular brasileira

Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A Press

O GRUPO MAMULENGO ALEGRIA LEVA ESPETÁCULO DE COMÉDIA A PACIENTES EM TRATAMENTO E


ACOMPANHANTES. PRIMEIRA EXPERIÊNCIA FOI NO HOSPITAL DA CRIANÇA DE BRASÍLIA

sorriso
» CAROLINE CINTRA Apaixonado por música, Filipe

A
Alcoeres Queiroz, 9, não gostou
história gira em torno do quando a apresentação acabou.
amor de um casal pres- “Ele está internado aqui desde
tes a subir no altar. Tudo Enquanto a gente segunda-feira, porque precisa fa-
sairia bem se o pai da espera a passagem zer exames e ver a válvula que
noiva, que manda e desmanda na tem na cabeça desde o nasci-
região, não fosse contra o casa-
pela triagem e a mento. Eu e a mãe dele nos reve-

como
mento porque o pretendente não chamada para a zamos para acompanhar. Com
tem dinheiro. Para ajudar os apai- consulta, ele vai se essas apresentações, ele se distrai
xonados, o primo da moça faz de mais, porque acaba ficando mui-
acalmando e entra

remédio
tudo para salvar a união. Parece to preso aqui. A gente se distrai
um conto triste e de difícil supera- no consultório mais junto”, diz Sheila Pereira, 32, tia
ção. No entanto, as cenas arran- do garoto.
caram sorrisos de crianças e ado- tranquilo”
lescentes em tratamento no Hos- Patrimônio cultural
pital da Criança de Brasília José Sheila Pereira, tia de Filipe, que
Alencar, na manhã de ontem. faz tratamento no hospital Em 2015, o Instituto do Patri-
O espetáculo O Casamento de mônio Histórico e Artístico Na-
Chiquinha Muito Prazer foi apre- cional (Iphan) reconheceu o tea-
sentado no corredor central do tro de bonecos popular do Nor-
prédio e deve passar por outras plo, foi a vez de trocar um curati- deste como patrimônio cultural
15 unidades públicas de saúde vo. Na próxima semana, a meni- imaterial do Brasil.
até o fim do ano — de diferentes na volta para tomar medicação. A Para o mamulengueiro Josias
regiões administrativas. O proje- rotina acaba sendo cansativa. Pa- da Silva, é gratificante levar mais
to recebe o patrocínio da Funda- ra o pai dela, o servidor público da cultura do país para as pes-
ção de Apoio à Cultura do Distri- Luís Antônio de Araújo, 48, as soas. “O intuito é oferecer mo-
to Federal (FAC-DF). apresentações no hospital aju- mentos de alegria, nem que seja
Uma mistura de teatro de bo- dam a diminuir a tensão do trata- um pouco. A gente acredita que o
necos e música popular brasilei- mento. “Deixa o ambiente mais sorriso pode ser o remédio para
ra, a apresentação reúne 10 pes- confortável e leve. Traz alegria quem carrega uma carga pesada
soas, entre artistas e produtores, não só para ela, mas para mim e cansativa. O meu coração fica
com o intuito de deixar mais leve também.” cheio e satisfeito por saber que
a rotina de quem vive nos hospi- Além de ser presenteado com cumprimos algo que nos propu-
tais e de seus acompanhantes. o espetáculo, Arthur de Mace- semos fazer”, avalia o artista.
Há 20 anos, o grupo Mamulengo do, 9, ganha a companhia da fa-
Alegria faz esse trabalho social no mília toda vez que precisa ir ao
DF. Já passou por casas de acolhi- hospital. Os pais descobriram o
mento de crianças e idosos, e o autismo dele quando tinha 5 Próximas
foco, agora, é alcançar aqueles anos. Desde então, o acompa- apresentações
que não podem, muitas vezes, ter nhamento é mensal. A mãe, a
momentos de lazer, devido a al- professora Beatriz Pereira, 42, já
guma doença. assistiu a vários espetáculos no 23 de setembro (segunda-feira)
hospital, mas esta foi a primeira Hospital Regional de Ceilândia
Produtora do espetáculo, Ana
Carla de Menezes explica que a vez que acompanhou um teatro 14h
experiência em hospitais é pe- de bonecos. “É muito bom. En-
culiar, porque o público chega quanto a gente espera a passa-
angustiado e retraído. “Eles pas- gem pela triagem e a chamada 2 de outubro (quarta-feira)
sam por procedimentos que para a consulta, ele vai se acal- Hospital Sarah Centro
trazem dor. E nós compreende- mando e entra no consultório 14h
mos isso”, afirma. “Mas, aos mais tranquilo”, ressalta.
poucos, as crianças se soltam,
começam a interagir com os bo-
necos e relaxam. Não só nelas,
os adultos que as acompanham
também. É uma apresentação
para todas as idades.”
Ana Carla lembra que muitos
pacientes internados ficam com-
pletamente isolados do mundo.
A depender do tratamento, não
podem sair nem dos quartos. “A
gente busca o público com me-
nos acesso e vai até ele. Acho que
a sociedade tem de contribuir
mais com essas pessoas. Dar ale-
gria, divertimento. É o papel do
cidadão. Nós fazemos por meio
do mamulengo”, acrescenta.

Leveza no tratamento
A apresentação arrancou risa-
das da pequena Marcela Cam-
mata, 6 anos, que trata de uma
leucemia linfoide aguda (LLA) —
multiplicação anormal de células
— desde maio no Hospital da
Criança. A ida à unidade depen-
de dos procedimentos que ela
precisa fazer. Ontem, por exem-

O servidor público Luís


Antônio assiste ao show
com a filha Marcela, que
trata de uma leucemia

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