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Hoje vim apresentar um romance chamado Equador, de Miguel Sousa

Tavares, é um livro de aproximadamente 530 páginas, mas com uma


história bastante interessante que torna a leitura fácil e agradável. A capa
do livro tem vindo a mudar ao longo das edições, neste caso é um postal
antigo da cidade de São Tomé. Aqui atrás podemos encontrar uma foto do
autor que gostaria de vos falar um pouco.

Miguel Andresen de Sousa Tavares, como a maioria já devem ter


reconhecido, nasceu no Porto a 25 de Junho de 1952. Filho de Francisco
Sousa Tavares e da conceituada escritora Sophia de Melo Breyner
Andresen, cresceu em Lisboa e foi lá que se licenciou em Direito, passando
12 anos como advogado no escritório do pai. Por volta de 1980 decidiu se
dedicar exclusivamente ao jornalismo e à escrita. Em 2003 publicou o seu
primeiro romance, Equador, uma obra com bastante sucesso,
rapidamente se transformou num dos maiores best-sellers da literatura
portuguesa, traduzida para mais de 10 línguas. Uma curiosidade,
adaptaram este belo livro para uma série na TVI, que o autor gostou
bastante.

O título é de apenas uma palavra, mas mal abrimos o livro encontramos


uma definição que o relaciona com o seu conteúdo. “Equador: linha que
divide a terra em hemisfério norte e sul. Linha simbólica de demarcação,
de fronteira entre dois mundos. Possível contracção da expressão «é com
a dor», do português antigo”.

Equador é um romance histórico que nos conta através do percurso da


vida da personagem principal uma época bastante importante para a
sociedade portuguesa, o início do século XX e o fim da monarquia. Nessa
época, Portugal estava numa grande crise económico-financeira fazendo
com que houvesse um grande descontentamento a nível político e social,
uma vez que a monarquia portuguesa cedia sempre às ordens das grandes
potências, como a Grã-Bretanha, fragilizando esta e, consequentemente,
houve uma grande adesão, por parte dos portugueses, à democracia.
Luís Bernardo de Valença, a personagem principal, é um empresário de 37
anos que aprecia bastante a sua vida na sociedade cosmopolita de Lisboa,
desde estar sentado no seu escritório a trabalhar até fumar charutos e
beber brandy com os seus colegas enquanto discutem sobre a política
portuguesa. Mas tudo isso muda quando numa manhã chuvosa de
Dezembro de 1905 é chamado pelo Rei D. Carlos, a Vila Viçosa, e este
propõem-lhe a oportunidade de ser governador das ilhas de São Tomé e
Príncipe localizadas na linha do equador, em África, com um calor
insuportável e chuvas torrenciais diárias, juntamente com diversas
doenças mortais. Apesar de todos estes factores serem bastantes
convincentes, Luís Bernardo não se sentiu persuadido o suficiente. Mas
como poderia dizer não a um Rei? Tinha caído numa armadilha, a única
opção que lhe restava era ir servir a sua pátria (por três longos anos) para
aquela colónia portuguesa longe de toda a civilização.

O governador anterior a Luís era uma pessoa apreciada pelos donos da


roça, pois consentia com o uso da escravidão (supostamente banida a
nível mundial) como força laboral, de modo a ter os maiores rendimentos
a preços reduzidos. Isto chamou a atenção dos ingleses, que também
comercializavam cacau e café, e viram uma oportunidade de boicotar a
importação de São Tomé e Príncipe dando fim a esta lucrativa colónia.

Seria enviado, então, um cônsul inglês, David Jameson, que tinha acabado
de destruir a sua brilhante carreira na Índia, devido ao seu problema com
o jogo. Assim, o objectivo da personagem principal era convencer David
que não existia de todo trabalho escravo naquela colónia (que ambos
sabiam que era mentira) e, simultaneamente, mostrar aos roceiros que o
trabalho forçado tinha que ser abolido, urgentemente. Uma vez que Luís
Bernardo era completamente contra qualquer tipo de trabalho forçado, os
donos das roças desconfiaram logo dele, no entanto a relação entre o
governador e eles piorou quando este se tornou bastante amigo do cônsul
e da sua mulher, Ann, mas, essa proximidade trouxe graves consequências
e Luís não consegui resistir à beleza e ao encanto de Ann, apaixonou-se
por ela. A situação do governador estava cada vez pior e para agravar, os
donos das roças juntamente com alguns membros do governo oferecem
cada vez mais resistência à mudança.
A personagem principal percebe, então, a hipocrisia do governo que
apenas o enviaram para as ilhas para “inglês ver” e não para alterar o
modo de administração da ilha, o que lança numa rede de conflitos de
interesse com a metrópole. Também os ingleses,na realidade, estavam
apenas preocupados com a concorrência que os produtos das colónias
portuguesas faziam aos das suas e não com as condições de trabalho, pois
eles mesmo praticavam o ato de escravidão.

Este livro foi alvo de muita pesquisa por parte do autor e este até disse
que não voltaria a fazer um livro do género, o que não aconteceu. Tem
uma história admirável, comovente e perturbadora que nos transporta
para o passado e faz-nos repensar sobre todos os nossos valores e dilemas
morais com que nos deparamos na nossa vida. As nossas emoções e
sentimentos variam sempre que Luís Bernardo se depara com um
problema e, sem nos aperceber, tentamos arranjar uma solução
juntamente com ele. Equador retrata perfeitamente Portugal no século XX
e a fragilidade da monarquia nessa época, onde os apoiantes da
democracia eram cada vez mais. No entanto, uma das críticas mais
frequentes a este romance é que há muita narração e pouco diálogo entre
as personagens, mas a descrição e a história em si faz-nos ter uma
percepção idêntica à da época, as comparações, as metáforas e as
adjectivações tornam o texto bastante fluido, captando bem a nossa
atenção

FIM

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