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REPENSANDO A GUERRA DA COREIA: O PAPEL DAS GRANDES POTENCIAS NA

CRIAÇÃO E PERPETUAÇÃO DO CONFLITO DA PENÍNSULA COREANA1


Fabricia Felippe
Resumo:
Este trabalho busca analisar a Guerra da Coreia, sua relação com o impasse quanto à
implementação dos mísseis THAAD e a Cúpula de Cingapura de 2018, tentando entender,
ainda, como esses eventos se relacionam às grandes potências desde sua criação, a
perpetuação e possível resolução do conflito.
Palavras-chaves:
Guerra da Coreia; Sunshine Policy; Causa e Consequência

INTRODUÇÃO
A Guerra da Coreia é um dos conflitos menos estudados pela academia. Tendo
resultado em cerca de 1.200.000 baixas, a guerra foi tratada como “um conflito
encapsulado e discreto”2 que durou 3 anos e cuja origem fora desconhecida até as décadas
de 1970-80. A partir de então ocorreu uma reexaminação do conflito, que foi
caracterizado como guerra civil, internacionalizada a partir da intervenção dos Estados
Unidos da América. Deste modo, este artigo busca analisar a Guerra da Correia, os fatores
que levaram a esta e suas atuais consequências para a península coreana. Assim sendo,

DA MONARQUIA COREANA AO IMPÉRIO JAPONÊS


O primeiro sistema político organizado da península se dá com o surgimento de
Gojoseon que unificou as tribos locais. Após sua queda, houve um retorno aos estados
tribais até a formação de Buyeo, que caiu com o processo de desenvolvimento da
confederação nacional. Assim, surgiram os reinos de Baekje, Silla e Goguryeo 3.
A partir deste ocorreram conflitos entre os reinos que buscavam sua expansão
territorial, até a conquista de Baekje e Goguryeo pela dinastia Tang. Levando ao conflito
entre os Tang e Silla, que resultou na unificação da península sobre o domínio do último.
Em seguida, houve o surgimento do reino de Balhae, em 698, que ficou conhecido pelos
Tang como “Haedong seongguk” (“país próspero no leste”). Balhae encontrou seu fim
em 926 após a invasão dos Khitan, povo Mongol que dominaria a região até o século XII
d.C.4
No século VIII, Silla se encontrava enfraquecido pelas lutas de poder da nobreza,
levando, no século X, à formação de novos reinos e a diminuição de seu território. Em
918 foi formado Goryeo, que anexaria pacificamente a Silla Unificada (união de Silla
com Balhae) em 935 e em 936 tomaria todo o território dos antigos Três Reinos. Goryeo
encontra seu fim no século XIV quando o General Yi Seong-gye ascende ao trono,
criando Joseon.

1
Este é uma versão resumida do artigo de mesmo título financiado pela CNPq a ser publicado
posteriormente pelo PIBIC – IBMEC.
2
Geiger, 2017, p.118
3
Information Service Of The Republic Of Korea, [s.d.]f
4
Britannica, [s.d]
É Joseon que começa a sofrer com as invasões japonesas, tendo como principal
conflito a Guerra Imjin, que teve como causa o comércio entre os países e levaria a Joseon
a se aproximar mais da dinastia Ming chinesa. A queda de Joseon ocorreu por conta de
seu isolamento durante o período imperialista, resultando também na abertura (forçada)
da China e Japão. Ao negar-se a fazer o mesmo, o reino foi atacado em 1866 pelos
franceses, em 1871 pelos estadunidenses e em 1875 pelo Japão. Estes ataques levaram a
assinatura do Tratado Ganghwado.

Em 1902 o Japão construiu para si uma forte posição ao entrar numa aliança
com o Reino Unido, a potência europeia mais importante na região. O Japão
reconheceu os interesses britânicos na China e em troca os britânicos
reconheceram os interesses especiais do Japão na Coreia. Sentindo uma
fraqueza na costa do território chinês, a Rússia começou a mover tropas para a
Coreia e imediatamente entrou em conflito com o Japão. Numa tentativa de
evitar uma guerra, o Japão propôs que os dois países dividissem a Coreia em
esferas de influência, com o marco divisor sendo traçado no Paralelo 38 - a
mesma linha escolhida pelos Estados Unidos para a divisão da Coreia depois
da Segunda Guerra Mundial. (OBERDORFER; CARLIN, 2014, p. 4)

Ademais, em 1905, foi-se assinado um acordo secreto entre os EUA e o Japão


aprovando a dominação japonesa da península em troca da aceitação da colonização
estadunidense das Filipinas. Ainda no mesmo ano, os EUA mediaram o Tratado de
Portsmouth, entre Rússia e Japão, que consolidou os interesses políticos, econômicos e
militares primordiais japoneses na Coreia. Sem oposição, os japoneses ocuparam a
Coreia, em 1905, e a anexaram em 1910, dominando a península até sua derrota na
Segunda Guerra Mundial.5
A colonização japonesa é dividida em 3 períodos: o de dominação militar (Budan
Seiji, 1910-1920);de dominação cultural (Bunka Seiji, 1920-1931; e de mobilização para
a guerra (1931-1945). Forem estas políticas intervencionistas que garantiram o
crescimento econômico e industrialização da República da Coreia (Vu, 2007) e o
desenvolvimento da indústria pesada da República Popular Democrática da Coreia.
(Visentini et al, 2015)

A SEPARAÇÃO DA PENINSULA E A FORMAÇÃO DOS ESTADOS


COREANOS
Analisando-se a história da Coreia fica evidente que não havia uma justificativa
para a divisão de 1945. Além disto, não há um pretexto interno para a escolha do paralelo
38 como divisor da península para além do contexto político-ideológico da Guerra Fria.
Portanto, a decisão da divisória – que havia sido deixada nas mãos de dois jovens oficiais
– foi arbitrária. Nenhum especialista em Coreia foi ouvido e nenhum dos envolvidos na
decisão sabia do antigo tratado russo-japonês, que acabou por ser legitimado pelos EUA.
(OBERDORFER; CARLIN, 2014, p.5)

5
Oberdorfer; Carlin, 2014, p. 4
No breve espaço de tempo entre o colapso da administração colonial japonesa
e a chegada das autoridades de ocupação estrangeira, os coreanos tentaram
criar suas próprias organizações políticas, tanto na capital como nas províncias.
Contudo, por causa da rapidez do processo, as organizações locais que
emergiram tomaram uma variedade de formas e nomes, as quais ficaram
conhecidas, genericamente, como Comitês Populares (inmin wiwonhoe). Os
soviéticos reconheceram a autoridade dos comitês populares, ao mesmo tempo
que tentavam torná-los mais favoráveis a suas políticas. Assim,
diferentemente da firme autoridade exercida pelos EUA no sul, de agosto de
1945 a janeiro de 1946,a URSS não chegou a estabelecer qualquer tipo de
administração central, mas sim um governo provisório misto, no qual a
Administração Civil Soviética (ACS), criada em agosto de 1946, coordenava-
se com os Comitês Populares. (VISENTINI ET AL., 2005, P.50-51)

Com a chegada dos soviéticos, formou-se um governo militar no Sul, que não
reconheceu o governo sul-coreano e levou a divisão política de Seul. Neste contexto
ocorreu o retorno de Syngman Rhee. Com o aumento das tensões internas e externas,
Rhee assumiu um papel cada vez mais proeminente dentro do governo devido ao seu forte
anticomunismo e seu apoio as eleições separadas para os estados coreanos. Este status
permitiu que Rhee elimina-se as alternativas moderadas ao governo, levando-o a ascender
ao cargo de presidente, em 1948, da República da Coreia. (Vu, 2007) E, três semanas
após o surgimento da república sul-coreana, forma-se a República Popular Democrática
da Coreia, sobre o comando de Kim Il-sung, que foi eleito através de uma votação dentro
do partido. (Visentini et al, 2005)

A GUERRA DA COREIA
A polarização da península, somada ao contexto da Guerra Fria, levou a Guerra da
Coreia - iniciada no ano de 1950 e “terminada” em 1953 com o Acordo de Armistício de
Panmunjon. Este foi o único conflito armado entre as potências polos da Guerra Fria e é
facilmente divido, conforme Cumings (2010, p. 11), em 3 partes: a guerra em direção ao
Sul, no verão de 1950; a guerra em direção ao norte, no outono e inverno de 1950; e, por
último , a intervenção chinesa. Deste modo, mesmo que a
[...] Coreia do Norte tenha realizado os primeiros ataques, os pedidos repetidos
e reiterados de Rhee por uma "marcha para o norte" podem ter contribuído para
o aumento das tensões que levaram à guerra. Ele e Kim Il-sung
supervisionaram as prisões e assassinatos em massa de cada regime. A
violência intensificou o que já havia sido o antiamericanismo extremo ao norte
e o anticomunismo extremo ao sul. [...] A guerra homogeneizou as duas
sociedades e reforçou suas elites extremistas. (VU, 2007, p. 38)

A URSS apoiou a Coreia do Norte, no início da guerra, com armamentos e


conselhos estratégicos. Mas a China logo emergiu como o aliado mais importante,
enviando soldados. As tropas enviadas por Mao foram constituídas por soldados de
origem coreana que haviam lutado no Exército de Libertação Popular durante a
Revolução Chinesa. Eles cruzaram a fronteira, em sua maioria, munidos de seus
equipamentos o que, é evidência da participação da China nos preparativos para a guerra.
No dia 25 de junho de 1950 os norte-coreanos atacaram o Sul, levando os sul-coreanos a
recuarem para o sul da península e culminando na conquista de Seul em semanas.
Contudo, no dia 27, os Estados Unidos declaram guerra à Coreia do Norte, se juntando à
Coreia do Sul. (MANNARINO; DOURADO, 2011)
Aproveitando-se do boicote soviético ao Conselho de Segurança, os Estados Unidos
buscam auxílio da ONU, fazendo com que o Conselho incorporasse 4 itens a resolução:
a determinação de que o ataque armado da Coreia do Norte fosse considerado uma
violação a paz; que fosse solicitado que a Coreia do Norte retirasse imediatamente suas
forças do paralelo 38º; que os outros Estados Membros fossem convocados a prestar
assistência militar à Coreia do Sul; e que fosse autorizado o comando unificado sobre a
bandeira das Nações Unidas. Deste modo, os Estados Unidos conseguiram
internacionalizar a guerra e o comando das Forças das Nações Unidas na Coreia.

O exército da RC continua resistindo aos ataques enquanto o Comando das


Nações Unidas ia se posicionando de maneira estratégica começando em Seul
e indo rumo ao sul, passando por Pyeongtaek, Chochiwon, Taejon, Taegu e
terminando em Pusan. Entretanto, os ataques da Coreia do Norte se mantinham
fortes e com bastante sucesso, fazendo com que ganhassem espaço no sul da
península. (SANTOS; PASSOS, 2014, p. 31)

Assim, as tropas da ONU começam a se direcionar ao norte, o que precipita a


entrada a China na guerra. Agora, com as tropas se aproximando da fronteira com a China,
o envolvimento da China passa de uma responsabilidade ideológica para uma questão de
segurança nacional.(MANNARINO; DOURADO, 2011, p. 6) Assim sendo, a partir de
outubro de 1950 milhares de voluntários chineses se juntam ao exército norte-coreano,
assim como pilotos soviéticos que auxiliaram nas batalhas aéreas.
“Neste contexto se dá a entrada do Exército Chinês da Libertação Popular no
conflito, forçado a evacuação das tropas sul-coreanas a partir do norte.” (GEIGER, 2017,
p.119). É a partir deste momento que a guerra começa a ser travada por pequenas batalhas,
fazendo com que os principais territórios (Seul e a área do paralelo 38) ficassem ora sob
domínio do Sul, ora do Norte.
No ano de 1951 os rápidos movimentos e reviravoltas da guerra diminuem, o
conflito fica mais localizado próximo ao paralelo 38°. Os combates, no
entanto, atingem seu período mais sangrento. [...] A divisão existente no início
da Guerra entre Coreia do Sul e Coreia do Norte foi mantida e dura até os
nossos dias. (MANNARINO; DOURADO, 2011, p. 6)
Essa guerra provocou enormes sofrimentos e perdas para o povo coreano -
cerca de dois milhões de militares e três milhões de civis morreram. Isso criou
uma geração inteira de viúvas e órfãos e uma perda maciça de infraestrutura
da qual a Coreia custou a se recuperar. Uma grande campanha de bombardeio
aéreo [se] iniciou com o General MacArthur no comando, ordenando a
destruição de qualquer aspecto de infraestrutura e sociedade humana, mesmo
casa de aldeias, na Coreia do Norte. A capital, Pyongyang, foi praticamente
destruída. A guerra nada resolveu, obteve pouco além de destruição, com os
dois estados rivais no final ainda se enfrentando após um acordo de cessar-
fogo ao longo do paralelo de latitude 38. (Mason, 2017, p. 305)

O armistício de 1953 foi assinado entre o Comando da ONU, os norte-coreanos e os


chineses, com a recusa do governo sul-coreano de assinar o tratado. Neste, foram traçados
os aspectos beligerantes e militares do cessar-fogo e a criação da Zona Desmilitarizada
ao redor do paralelo 38º. (GEIGER, 2017)
UNIFICAÇÃO, SUNSHINE POLICY E O PROGRAMA BALISTICO NORTE-
COREANO
Com o fim da Guerra Fria a agenda internacional se volta para a questão do
desarmamento, levando a península a alterar sua agenda nacional e internacional. Assim,
as Coreias passam a participar mais ativamente do cenário internacional, participando de
tratados internacionais sobre o tópico a partir de 1963. A Coreia do Sul ratificou o total
de 10 tratados de desarmamento6 antes da virada do milênio, enquanto a Coreia do Norte
ratificou 57, entre eles o Tratado de Não Proliferação de Armamentos Nucleares.
Contudo, a ratificação deste por parte da Coreia do Norte só foi possível por conta
de uma série de promessas do governo dos EUA, que incluíram a construção de dois
reatores nucleares e a criação da Organização de Desenvolvimento Energético da
Península Coreana, que comprometeram os EUA, a RC e o Japão a fornecerem o know-
how e os meios financeiros para a construção dos respectivos reatores. 8Internamente,
após o cessar-fogo, ambos se voltaram para políticas de unificação. É a partir deste
momento que, segundo Bleiker (2001), o mito da homogeneidade identitária toma um
papel central para a compreensão da continuidade das tensões na península.

ESTADOS UNIDOS, CHINA E A COREIA DO SUL NA


CONTEMPORANEIDADE: A QUESTÃO DOS MÍSSEIS THAAD.
Com o desenvolvimento do programa balístico norte-coreano, ocorreu uma
intensificação da ameaça a segurança sul-coreana, que fez com que o THAAD norte-
americano fosse enviado a península. Entretanto, a instalação deste no território sul-
coreano representou uma ameaça ao governo chinês, que viu no alcance do radar uma
oportunidade para espionagem americana do seu território.

No entanto, dois radares AN / TPY-2 com especificações semelhantes já foram


instalados no Japão e o EWR de longo alcance de UHF baseado em AN / FPS-
115 Pave Paws, conhecido como o radar mais forte do mundo, foi construído
em Taiwan em 2009. Apesar da instalação desses radares no Japão e em
Taiwan, a China teve uma resposta muito mais forte à sua implantação na
Coreia do Sul. Nos últimos meses, as autoridades chinesas têm expressado
repetidamente suas preocupações e enfatizam que, embora a implantação do
THAAD destina-se a proteger as 28.000 tropas americanas, a Coreia do Sul
deve exercer o seu direito como Estado soberano e expressar a
oposição.(WOO; BLOCK, 2015, p.1)

Contudo, o governo sul-coreano não o fez. Assim, por conta da vulnerabilidade


econômica sul-coreana em relação à China, o governo chinês iniciaria uma série de
embargos não-oficiais à economia do país.
[...] enquanto as relações econômicas eram a pedra angular das relações sino-
sul-coreanas antes e depois da normalização diplomática -complementaridade
mútua e crescente interdependência caracterizaram a crescente comércio e
investimento entre os dois- a rápida “ascensão” da China alterou
significativamente estrutura das relações econômicas, introduzindo amplo

6
UNODA, [s/d]a
7
UNODA, [s/d]b
8
INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, 1994.
espaço para as disparidades de dependência. O comércio bilateral aumentou de
US $19 milhões em 1979 para US $239,9 bilhões em 2017, assim, a China é o
principal parceiro comercial da Coreia do Sul e a Coreia do Sul tem sido o
quarto maior parceiro comercial da China durante vários anos. Desde 1992, a
Coreia do Sul não tem tido déficits comerciais com a China. Como Seul há
muito valoriza o comércio, o investimento e o turismo como interesses
nacionais centrais, a ascensão econômica da China significou uma crescente
de vulnerabilidade para a Coreia do Sul (HO, 2018, p.73)

Portanto, com a decisão de Pequim de sancionar extraoficialmente a economia sul-


coreana teve início um processo de recessão, tendo significativa diminuição nas áreas
comercial e turística, em 2017, que haviam experimentado uma expansão após a entrada
do mercado chinês na economia sul-coreana até o ano anterior.

ESTADOS UNIDOS, CHINA E COREIA DO NORTE NA


CONTEMPORANEIDADE: A QUESTÃO DAS CONVERSAS DE PAZ DE 2018
A respeito da unificação da península, tanto os EUA quanto a China veem o
objetivo como positivo. Contudo, diferem quanto o alinhamento da Coreia unificada. A
China, por exemplo, não é favorável a uma coreia alinhada aos EUA. Porém o impacto
dessa animosidade não fica somente no imaginário, tendo repercussões reais na atual
tentativa de conciliação uma vez que
Os esforços atuais para resolver a questão nuclear norte-coreana vêm no
contexto de uma relação cada vez mais antagônica entre Washington e Pequim.
Os Estados Unidos classificaram a China como um "competidor estratégico" e
os dois países estão envolvidos em uma guerra comercial e uma rivalidade
tecnológica. Um dos principais desafios para os Estados Unidos é manter a
coordenação com a China nos esforços em relação à Coreia do Norte,
separados das discussões sobre outras questões bilaterais. (USIP SENIOR
GROUP, 2019, p. 16)

Por consequência, o governo chinês vem tentando manter o status quo da região.
Contudo, isto não quer dizer que ele não está envolvido nas negociações do conflito.
A China observará atentamente a cúpula Trump-Kim com a esperança de que
passos cruciais sejam dados em direção à paz na península, que servem aos
melhores interesses da China. Mas Pequim também está seriamente
preocupada com os detalhes dos acordos, bem como com o papel que pode
desempenhar enquanto as negociações avançam. Embora por muito tempo
tenha desempenhado um papel significativo de mediador, Pequim precisou
afastar-se e observar de fora o desenvolvimento desse importante problema de
segurança para a região. Para se manter mais diretamente envolvido no
processo, Pequim está pressionando para que a cúpula Trump-Kim ocorra na
China, o que pode ser uma escolha racional, dada não apenas a conveniência
do local para Kim, cujo avião especial é muito pobre para percorrer longas
distâncias, mas também dado o papel histórico da China como mediador.
(HUANG, 2018)

A cúpula, contudo, viria a ser realizada em Cingapura, no dia 12 de junho de 2018.


Esta resultou na confecção de um Documento Comum, assinado por ambos os líderes, no
qual se acordou a relação entre os países, um esforço comum para construção da paz na
península, um comprometimento da RPDC de desnuclearizar a península, a repatriação
imediata dos prisioneiros de guerra e o envio de seus restos mortais. Ademais, acordou-
se a troca de visitas entre Trump e Kim e a continuidade das negociações, que serão
realizadas pelo secretário de Estado dos EUA e um homólogo da RPDC. Para além disso,
as sanções contra a Coreia do Norte serão mantidas até que seja averiguado que o
armamento nuclear do país não é mais um risco e a suspensão dos exercícios militares
conjunto dos EUA com a Coreia do Sul.
Contudo, o que ocorreu foi uma série de congelamentos e descongelamentos nas
conversas de paz, levando a realização da segunda cúpula somente no ano de 2019, a
continuidade do programa nuclear norte-americano e dos exercícios militares entre a
Coreia do Sul e os EUA.

CONCLUSÃO
Conclui-se que sem a intervenção das grandes potências regionais e internacionais
em sua busca por novos mercados consumidores, mão-de-obra e matéria-prima,
dificilmente ocorreria a separação da península coreana. Mesmo que a Guerra (Civil) da
Coreia ainda viesse a acontecer, é impossível analisar a história da Guerra da Coreia e
não perceber que, sem a intervenção americana e posterior intervenção sino-soviética,
esta teria terminado com a unificação da península sob um governo ou outro. Para além,
é sensato imaginar que a Guerra da Coreia não terá um fim até que se realize uma
conferência com todas as partes envolvidas direta ou indiretamente, de modo a sanar
todos os medos e receios para que, enfim, possa-se chegar a um Acordo de Paz.

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