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Teoria 2 _ 2022/23 _ FAUP _ David Silva _ Estudos para “Da Ideia à Linha”

Luz Fdez, Valderrama Aparício, La Construcción de la mirada: Três Distâncias


A única coisa que não se pode retirar do espaço é o nosso ponto de vista.
O nosso ponto de vista é o que define o que vemos, coisas, objetos, mundo.
A partir de autores como Heidegger, Lefebvre, M. Panty ou Foucoult, o espaço pode ser
pensado como densidade (imaginária), como vida, como uma dimensionalidade que cresce.
Do ponto de vista ontológico, o espaço já não é necessariamente separado do sujeito.
Distância como figura que constrói o espaço desde o sujeito ou na que é construída o sujeito
através do espaço.
“Como construir um corpo equilibrado quando apenas dispomos de um olhar, e esse olhar está
peneirado?”
O olhar é aquilo que faz com que a grossura e a realidade das coisas não esteja nessas mesmas
coisas, sendo que está nas nossas mentes (e na nossa pele) e depende das quantidade de
correlações que uma certa estimulação sensorial consegue gerar”.
Quando se fala em mirada (olhar) não estamos a falar de uma função ocular, a mirada é
fisiológica, todo o corpo atua como recetor. A mirada é mental e corporal, é mental e cultural.

Foucault, em Theatrum Philosophicum – Sistematiza com grande claridade qual é o processo


para a construção de um pensamento. Estudado por Miguel Morey, este expõe uma estratégia
que consiste em “fazer perguntas” que só podem ser respondidas mediante a construção de um
problema.
O projeto não começa com premissas ou hipóteses, como tende a propor com alguma tendência
a investigação. De igual maneira devemos questionar sobre as relações entre espaço-sujeito ou
espaço-objeto com a única certeza de que estes conceitos que se enfrentam numa aparente
dualidade não são independentes.
À pergunta pelo espaço, o tempo, o objeto e o sujeito, o trabalho constrói o problema distância.
Distância é a figura de dissolução de todos estes binómios de conceitos.

Baeza. Campo, Pensar com as Mãos


Desde que saiu das cavernas, o homem procura por sítios planos para implantar a sua ideia.
Busca de um plano estável para sempre: a casa permanente. O ponto de partida da arquitetura é
o plano horizontal.
Primeiro tentou dominar a forma cúbica. Percebeu que era impossível conseguir ver mais que
três faces desse cubo pelo exterior, apesar de saber que são seis. Ao entrar e colocando-se em
localizações específicas conseguia até ver as seis faces do cubo de uma vez.
“Se alguém dissesse que uma ideia tem dimensões, seria seguramente tomado por louco. É claro
que as ideias, os pensamentos, não podem ter dimensões! Porém, em arquitetura, as ideias, para
poderem ser construídas, precisam de ter medidas, dimensões. E só podem ser eficazes quando
as medidas são as necessárias e as adequadas para fazer com que essas ideias vejam a luz.”
Da medida das ideias
Sobre pensar com as mãos e construir com a cabeça
Como defende Campo Baeza “Architectura sine ideia vana architectura est”. Uma arquitetura
sem ideias é vã, está vazia, é forma banal.
Arquitetura é ideia construída.
O ponto de partida da arquitetura é o homem como ser corpóreo e com peso. Para poder
trabalhar sobre arquitetura é imprescindível o maior conhecimento sobre as medidas e o seu
efeito no homem.
Medida, dimensões, tamanho, distância, proporção, forma.
A luz é o material primordial, e principal com que os arquitetos trabalham. É desvalorizada por
ser gratuita e ao alcance de todos.
“O desenho à linha, mais abstrato do que o mero desenho real, não só tem a capacidade de
facilitar a transmissão da IDEIA central como também de esclarecer de uma só vez, tudo o que
nos propomos transmitir. Plantas, cortes e axonometrias claras e precisas, despojadas de
qualquer detalhe, ajudam a entender perfeitamente cada uma das propostas.”
Sharpening the scalpel
Sobre os desenhos do arquiteto

Siza Vieira, Álvaro, Imaginar a evidência


Trata-se de influências que se manifestam no subconsciente e que entram no projeto sem nos
apercebermos disso. A articulação destas influências é um ato de criação irrepetível.
Aprender a ver é fundamental para um arquiteto, existe uma bagagem de conhecimentos aos
quais inevitavelmente recorremos, de modo que nada de quanto façamos é absolutamente novo.
O objetivo consistia em delinear, naquela imagem orgânica, uma geometria: descobrir aquilo
que estava disponível e pronto para receber a geometricidade. Arquitetura é geometrizar.
A solução surge hoje como óbvia e inevitável, embora na realidade, ver primeiro seja intuição
difícil, só possível com a ajuda de uma grande experiência.
Limitar o impacto do edifício.
Todos os tipos de pré-existências vão influenciar de alguma forma o projeto.
Três exercícios indispensáveis: Pensar a cidade, pensar o edifício, pensar o móvel. Dependem
uns dos outros.
Posso começar com ideias bizarras, do arco-da-velha e o processo que a seguir decorre é difícil
de explicar porque não é linear, mas sim contraditório.
É importante a expressão de uma qualquer singularidade que, não traíndo a essência, liberte o
desenho das razões demasiado óbvias. Consegue assim definir-se um toque de autenticidade que
atrai de maneira não agressiva mas que, ao mesmo tempo, surge, em parte, como banal. Partir
com a obsessão da originalidade é um processo inculto e primário.

Baeza, Campo, A Ideia Construída


Fazer com que a arquitetura construída concretize as ideias explicadas através das palavras será
a melhor prova de que as primeiras são válidas e as segundas verdadeiras. Essa é a nossa
verdadeira intenção.
A história da arquitetura e a história da procura, do entendimento e do domínio da luz.
As ideias são indestrutíveis.
Superabundância de elementos de desenho, desdobramento ornamental excessivo que procura
dissimular, pela quantidade de efeitos especiais, a vacuidade dos seus propósitos.
Uma arquitetura que tem na ideia a sua origem, na luz o seu primeiro material, no espaço
essencial a vontade de conseguir mais com menos.
Ideia que aparece como síntese dos fatores concretos que concorrem para o complexo facto
arquitetónico: Contexto, função, composição e construção.
Contexto que é relativo ao lugar, a Geografia, a história.
Função que gera arquitetura com o seu para quê.
Composição que ordena o espaço com o seu como geométrico. Dom a dimensão e a proporção.
Com a escala.
Construção que torna realidade aquele espaço com o seu como físico. Com a estrutura, os
materiais, a tecnologia. Orientando a gravidade. Com a matéria.
A ideia, o porquê, será tanto mais precisa quanto melhor responda a estas questões: onde, para
quê e como.
A luz é o material básico, imprescindível, da arquitetura. Com a capacidade misteriosa, mas
real, mágica, de colocar o espaço em tensão para o homem. Com a capacidade de dotar esse
espaço de uma qualidade que consiga mover e comover os homens.
O espaço essencial, o qual, depois de tensionado pela luz, pode ser compreendido pelo homem.
Mais do que pelo carácter elementar das formas, pela essencialidade dos espaços.
A ideia é o quê que se quer fazer.
Pensar: idealizar construções.
Construir: levantar ideias.
A arquitetura é sempre ideia construída.
Desenhar. com o desenho como instrumento de Transmissão.
Com traços expressivos que transportam as ideias para o papel.
Com traços precisos que permitem ao executor concretizar a sua construção.
Aprender a olhar. “Olhar, observar, ver, imaginar, inventar, criar”.
Criar e pensar. Pensar, como também dizia Sullivan, e criar o nosso pensamento.

A ideia é síntese de todos os elementos que compõem a arquitetura (contexto, função,


construção, composição). Como se de uma operação de alquimia se tratasse, numa destilação
dos múltiplos elementos necessários para se obter um resultado único e unitário: uma ideia
capaz de ser construída, de materializar-se.
E assim como as formas passam, se destroem, as ideias permanecem, são indestrutíveis.
A história da arquitetura é uma história de ideias, de ideias construídas, de formas que
materializam e põem de pé essas ideias. Pois sem ideia, as formas são vazias. Sem ideias,
arquitetura é vã. Seria pura forma vazia.
Reclamo a ideia como a base necessária a qualquer obra de criação. Como base
imprescindível da arquitetura. Pensar ou não pensar. Eis a questão.

A luz, material mas sempre em movimento, é precisamente a única capaz de fazer com que os
espaços definidos pelas formas construídas como material denso flutuem, levitem.

Santa-Maria, Luis Martinez, Intersecciones, A.40.588


La mirada
Temos de ser capazes de conseguir ver e não ver, conseguir não ver é uma liberdade nova que,
na verdade era uma realidade antiga.
Por vezes a simetria está num lugar que não tem nome.
Milagre, palavra que provém do latim, miraculum: ponto de mira.
El orden
A ordem é também uma inspiração, uma inspiração maior que a que provém das ideias, pois
informa em cada acto e a cada instante o caminho a seguir no projeto.
É então da responsabilidade do autor da obra, sair em busca das verdadeiras ordens.
Quando se começa a pensar num edifício, nos primeiros desenhos do projeto, já se adivinha que
a ordem vai seguir regras previsíveis. A ordem descansa no elemental, no genuíno.
As regras dão reproduzíveis e são produtos, estão escritas. No entanto, uma ordem de um
projeto não pode ser repetido, é uma criação e constitui uma aventura.
É imprevisível e irrepetível.
Louis Khan escreveu: “Quando se tem todas as respostas sobre um edifício antes de começar a
ser construído, não são certas. O edifício arranja sempre respostas à medida que cresce e chega
a ser ele mesmo.”
O projeto não existe para verificar ideias, mas sim para retificá-las.

Le Corbusier, Mensagem aos Estudantes de Arquitetura: a arquitetura é organização


A cimeira de onde parte toda a luz é a intenção.
Antes do projeto se tornar num palácio, deve ser uma simples e honesta “casa de homem”, ou
seja, deve primeiro servir o propósito e o seu objetivo.

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