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RICARDO JOÃO MACHADO DO ESPÍRITO SANTO

CARVALHO

20151112

MIARQ4E
LISBOA
ricardo.carvalho1996 @outlook.pt
934 623 485
Começou-se por indagar o problema da arquitectura e torná-lo subjectivo, isto é, relativo ao sujeito (a
nós próprios, portanto), não sem antes estabelecer-se o que se entende por “problema”. Problema é o
óbice que estorva o movimento vital de nós. Concluiu-se que o problema se deve à existência duma
dupla definição de arquitectura entre o arquitecto e o habitante - problema o qual já tinha sugerido
no meu texto sobre “O problema da arquitectura”, porquanto concluíra que este deve-se à
incongruência entre a expectativa do arquitecto e o concretizado (os modos de apropriação do utente).
Defendia, porém, erroneamente, que não fazia sentido o problema estar no conceito de arquitectura,
pois o problema não costuma estar na coisa em si, antes na maneira como as pessoas se apropriam
dessa coisa. Erroneamente porque o problema está precisamente neste duplo conceito de arquitectura.
Portanto o problema está na coisa em si na medida em que o conceito não é consensual entre o leigo e o
arquitecto – Falta referir como se manifesta este problema. Foi nos aduzido - advertindo sempre que os
aspectos estéticos ou compositivos das obras tinham o seu valor - alguns exemplos de consequências
negativas em haver uma dupla definição de arquitectura, sendo como caso paradigmático o do
Conjunto habitacional Pruitt-Igoe, projectado pelo arquitecto Minoru Yamasaki, que, apesar de
premiado, teve de ser demolido pela inflação da criminalidade dos habitantes. É digno de nota que
esta obra foi projectada segundo os ideais mais progressistas da época, CIAM (Congress of
International Modern Architects), organizado por Le Corbusier.

É da definição que nos reportamos inconscientemente para decidir, durante o processo do projecto,
quais as propostas que prosseguem. A definição de arquitectura pertence ao domínio teórico, o que
confere à disciplina “Teoria da Arquitectura” um carácter imprescindível para resolução do problema
da arquitectura. A crise da arquitectura está no projecto. Mas esta conclusão, longe de nos deixar
satisfeitos, abre caminho a uma realidade ainda mais constrange- dora e inconveniente. Até mesmo
nos arquitectos mais conceituados, que pensam e formulam as suas teorias honesta e intelectualmente,
as suas obras não escapam à sina da vacuidade das suas teorias. Não por ignorância, nem por
malevolência.
A arte (actividade) da arquitectura é a configuração crítica. O sujeito (submetido á actividade) da
arquitectura é o espaço. O objecto (alvo da actividade) da arquitectura não são só as pessoas e o seu
bem-estar, mas este tema não é para agora. É sobre a arte da arquitectura que me compete redigir.
Com assertei, a actividade da arquitectura é a configuração, actividade que abarca o projectar e
manipulação espacial in loco - como se fazia antes do séc. XV-, mas é sobre a primeira que me vou
debruçar.

O projecto comporta 3 etapas: (1ª) a análise, (2ª) a síntese e (3ª) a avaliação. A primeira etapa refere-se á
preparação, á recolha de informação, ao estabelecimento das regras do jogo, à tomada de consciência dos
vários aspectos que visamos atender, ao programa. A segunda etapa refere-se á incubação, ao
desenvolvimento de ideias, à cogitação, às elucubrações, procedendo daqui a Eureka! isto é, a iluminação, a
realização. A terceira etapa refere-se à apreciação da ideia, á filtração, ao parecer crítico ante o que
engendramos. Destas 3 etapas só uma é que exige um trabalho irracional (crítico) nomeadamente a 2ª. Já as
restantes etapas são trabalho do nosso lado mais racional (crítico). Ora, o trabalho racional reporta-se d’o
que é conhecido, de dados, de informação recolhida, de critérios determinados. O trabalho irracional, que é
mister para o sucesso do projecto, reporta-se d’algo mais dúbio, obscuro, d’o que é desconhecido. Como se
incrementa esta função irracional para o projecto? Onde está o Édipo que responderá a este grande enigma?
Aprendi que esta função criativa advém da cultura. Cultura é o desenvolvi- mento crítico e sistemático da
experiência. Experiência, por sua vez, é a intelectualização das impressões as quais somos sujeitos;
experiência é o trabalho intelectual ante as impressões; experiência é a concatenação dos sentimentos com o
que tomamos como a totalidade realidade; experiência é o exercício de concordar o sentimento (consciência
de algo) com o acreditamos ser a realidade. Experiência implica um acareamento entre o sentimento e o que
cremos por realidade. Com a experiência há um crescimento, na medida em que não se cinge á tomada de
consciência. Esta foi, então, a cultura que adquiri.

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