Você está na página 1de 2

Se pudéssemos olhar para a doença da adicção sem seus sintomas primários – isto é, separada

do uso de drogas ou de outros comportamentos compulsivos – e sem suas características mais


óbvias, encontraríamos um pântano de medo egocêntrico.

Temos medo de nos ferir, ou talvez apenas de sentir intensamente, vivendo uma espécie de
meia existência, passando pela vida sem vivê-la plenamente.

Temos medo de tudo o que nos faça sentir; por isso, nos isolamos e nos retraímos. Temos
medo de que as pessoas não gostem de nós; por isso, usamos drogas para nos sentir mais
confortáveis conosco.

Temos medo de ser pegos fazendo algo errado e ter de pagar um preço; por isso, mentimos,
trapaceamos ou magoamos os outros para nos proteger.

Temos medo de ficar sozinhos; por isso, usamos e exploramos os outros, para evitar os
sentimentos de solidão, rejeição ou abandono.

Temos medo de não conseguir o suficiente – seja do que for; por isso, perseguimos o que
queremos de forma egoísta, não nos preocupando com os danos que causamos ao longo do
processo.

O medo é um estado emocional que surge em resposta a consciência


perante uma situação de eventual perigo.

A ideia de que algo real ou alguma coisa imaginária possa ameaçar a


segurança ou a vida de alguém, faz com que o cérebro ative,
involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam
reações que caracterizam o medo.

O aumento do batimento cardíaco, a aceleração da respiração e


a contração muscular são algumas das características físicas
desencadeadas pelo medo.

O medo é uma sensação de alerta de extrema importância para a


sobrevivência das espécies, principalmente para o ser humano.

Inconscientemente, as características físicas reproduzidas pelo sentimento


de medo preparam o corpo para duas prováveis reações naturais: o
confronto ou a fuga.

É importante que olhemos com bastante atenção para o medo e a forma como ele afetou a
nossa vida.

A nossa experiência diz que o medo egocêntrico está na base da nossa doença.

Muitos de nós fingiram não ter medo quando, no fundo, estávamos aterrorizados.
O medo leva-nos a agir sem reflexão, tentando, ainda assim, protegermo-nos a nós próprios.

Os nossos medos muitas vezes paralisaram-nos completamente.

Como tínhamos medo do futuro, recorríamos a mentiras e manipulações.

Adotamos atitudes radicais só para tentar evitar aquilo que julgávamos ser uma possível
perda, um desastre, uma falta daquilo que que necessitávamos.

No passado não tínhamos a menor fé num Poder Superior que pudesse cuidar de nós. Por isso,
tentamos controlar a nossa vida e tudo à nossa volta.

Usamos pessoas, manipulamos, mentimos, arquitetamos esquemas, planejamos,


racionalizamos, planejamos, roubamos, e depois mentimos ainda mais para encobrir os nossos
esquemas e manipulações.

Sentíamos inveja, ciúmes, profundas e dolorosas inseguranças. Estávamos sós.

O medo egocêntrico nos deixava sozinho, afastando aqueles que se preocupavam conosco e
usávamos mais drogas, tentando disfarçar nossos sentimentos.

Quanto mais sozinhos nos sentíamos, mais tentávamos controlar tudo em todos. Sofríamos
quando as coisas não corriam como queríamos, mas o nosso desejo de poder e de controle
era tão forte que não conseguíamos ver quão inútil era esse nosso esforço para controlar os
acontecimentos.

Temos agora uma fé num Deus amantíssimo, cuja vontade para nós é melhor do que tudo
aquilo que conseguiríamos obter através do controle e da manipulação.

Você também pode gostar