Você está na página 1de 4

Vapor saturado - Diagrama temperatura x entalpia

Em página anterior, tópico Vapor, foi visto o diagrama temperatura x


entropia para as transições líquido / vapor saturado e vapor saturado /
vapor superaquecido para a água.

Os mesmos processos podem ser apresentados num diagrama


temperatura x entalpia. A Figura 01 dá o gráfico aproximado para a
água. Embora não sejam iguais, os aspectos de ambos os diagramas
guardam alguma semelhança entre si.

O parâmetro χ é o mesmo visto no referido tópico: χ = massa de vapor


saturado / massa total (água + vapor saturado).

Esse parâmetro pode ser entendido como um índice de qualidade do


vapor. Para melhor esclarecer, seguem alguns comentários sobre o uso
do vapor saturado.

O vapor saturado é provavelmente o meio mais fácil de se obter


aquecimento em larga escala. É facilmente produzido por geradores
(caldeiras). Por sua vez, caldeiras podem ser projetadas para usar o
combustível mais conveniente ou o mais disponível. A distribuição do
vapor é simples, usa basicamente tubulações. Por esses e outros
fatores, é amplamente empregado na indústria.

Fig 01
Uma caldeira ideal produziria vapor saturado com χ = 1. Na prática,
turbulências e formação de bolhas provocam o arraste de água.
Naturalmente, a presença de água é prejudicial porque reduz a
quantidade de vapor disponível para aquecimento. Uma instalação
típica em bom estado deve produzir vapor com cerca de 5% de água, ou
seja, χ ≈ 0,95.

Voltando ao diagrama da Figura 01, as linhas com uma parte horizontal


são exemplos de linhas de pressão constante. Usa-se uma delas para
analisar a formação do vapor:

Supõe-se que o recipiente onde a água se encontra está na pressão da


linha BCD. Se a água inicialmente está no ponto A, o aquecimento eleva
sua entalpia até o máximo possível do líquido para aquela pressão (hB −
hA).

O ponto B marca o início da vaporização, ou seja, é a temperatura de


saturação da água para a pressão considerada.

Continuando o fornecimento de calor, a evaporação tem início e a


temperatura se mantém constante até o ponto C, onde toda a água terá
sido transformada em vapor saturado. A diferença (hC − hB) é a entalpia
de vaporização da água. A continuação do aquecimento (CD) resulta em
vapor superaquecido.

Notar que a expressão entalpia de vaporização equivale ao calor latente


de vaporização anteriormente comentado (considerado por unidade de
massa). Mas o conceito de entalpia é mais abrangente e, por isso, o
termo é preferível. Ver mais detalhes no tópico sobre Entalpia. De
forma similar, a diferença de entalpia do aquecimento (hB − hA) equivale
ao calor sensível por unidade de massa.

No ponto C há apenas vapor saturado e sua entalpia é denominada


entalpia total ou calor total do vapor saturado. E deve ser igual à soma
das anteriormente adicionadas. Assim, ocorre uma das igualdades
básicas do vapor saturado:

hg = hf + hfg #A.1#. Esses símbolos são usuais em literatura e significam:

hg: entalpia (ou calor) total do vapor saturado (kJ/kg).


hf: entalpia (calor sensível) do líquido (kJ/kg).
hfg: entalpia (calor latente) de vaporização (kJ/kg).
Exemplo de aplicação: aquecimento de fluido

A Figura 01 abaixo dá um exemplo bastante simplificado de aplicação do


vapor d'água saturado (aquecimento de um fluido com trocador de
calor). Na realidade, instalações de vapor têm vários outros acessórios
sobre os quais aqui não cabem comentários.

O vapor sai da caldeira com uma pressão p e alimenta uma linha ou


ramal principal. Uma válvula redutora diminui a pressão para pV e
alimenta a serpentina do trocador. Nessa condição, o vapor tem uma
temperatura TV e o fluxo de massa é qmV.

Ao passar pela serpentina o vapor troca calor com o fluido e se


condensa. Um dispositivo na saída, denominado purgador, evita a perda
de vapor, permitindo somente a passagem do condensado. Em geral, a
água condensada é enviada a um reservatório próprio e retorna à
caldeira por bombeamento.

No trocador, o fluido que se deseja aquecer entra com uma


temperatura TE e sai com TS. Naturalmente, a vazão de massa qmF é a
mesma em ambos os lados. É suposto que o fluido tem um calor
específico médio cF entre essas temperaturas.

Neste exemplo simples, desprezam-se quaisquer perdas de calor.


Portanto, todo o calor cedido pela condensação do vapor é usado para
aquecer o fluido. Considera-se também que a vazão de massa do fluido
qmF é constante.

Fig 01
De acordo com o conceito de calor específico, ΔQ = c m ΔT.
Adaptando para o fluido a aquecer, ΔQ = cF mF (TS − TE). Onde mF é a
massa de fluido aquecida num determinado intervalo de tempo Δt.

No mesmo intervalo de tempo, deve circular pela serpentina uma massa


de vapor igual a qmV Δt. Assim, o calor trocado deve ser igual à entalpia
de vaporização hfg (que é a mesma da condensação) multiplicada por
essa massa (considerado vapor ideal, qualidade χ = 1):

ΔQ = hfg qmV Δt.

Igualando com a anterior e mudando Δt de lado,

hfg qmV = cF (mF/Δt) (TS − TE).

Mas (mF/Δt) é a vazão de massa qmF do fluido. hfg qmV = cF qmF (TS − TE). E
a vazão de massa necessária de vapor é:

qmV = cF qmF (TS − TE) /hfg #A.1#.

Notar que, na equação acima, não aparece a pressão do vapor p V na


entrada da serpentina. Mas é um parâmetro fundamental porque a
entalpia de vaporização hfg depende dela e também a temperatura TV.
No tópico Vapor em página anterior pode ser visto que a temperatura de
saturação depende basicamente da pressão.

Assim, se a válvula redutora mantém uma pressão constante na saída, a


temperatura do vapor TV ao longo da serpentina é também constante as
temperaturas do vapor e do fluido se comportam, de forma aproximada,
de acordo com o gráfico na parte inferior direita da figura.

A relação direta entre pressão e temperatura é uma das grandes


facilidades do uso de vapor saturado para aquecimento. A temperatura
pode ser mantida ou variada mediante simples ajuste de pressão.
Válvulas redutoras ou reguladoras de pressão são dispositivos simples e
podem ter regulagem manual ou automática, através da expansão de
fluido ou outros meios, para manter a temperatura constante, mesmo
com variações de demandas no equipamento a aquecer.

As propriedades do vapor saturado (temperatura, pressão, entalpias e


outras) podem ser obtidas nas conhecidas tabelas de vapor. Nos
próximos tópicos, algumas informações sobre essas tabelas e relações
entre propriedades.

Você também pode gostar