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MEDIÇÃO DO PODER CALORÍFICO DE UM GÁS COMBUSTÍVEL

O calor de combustão de um gás pode ser determinado cômoda e facilmente em um


calorímetro de fluxo constante de Junkers, que é constituído pelas seguintes partes,
indicadas nas duas figuras a seguir:

1)- Combustor Meker (bico de gás):

Provido de uma regulagem conveniente da vazão de gás combustível e de ar, para


produzir uma mistura com queima estável durante toda a experiência. Um espelho
próprio, permite ao usuário monitorar a chama, desligando imediatamente o gás, se esta
se apagar, tomando então as devidas providências para o reuso seguro da aparelhagem.

2)- Cãmara de combustão:

Trata-se de um trocador de calor especial. O calor, liberado pela queima do gás no


combustor, aquece a água que circula na câmara de combustão, estabelecendo uma
diferença de temperatura entre a entrada e saída de água na câmara. A temperatura da
água à entrada do trocador de calor é invariável, pelo menos durante o tempo de duração
da experiência e a de saída, tenderá a manter-se também constante, se o processo de
trocas térmicas permanecer em regime estacionário. Este regime, é alcançado,
mantendo-se invariáveis as condições de vazão da água e do gás combustível. Dos gases
resultantes da combustão completa (CO2 e H2O), o vapor d´água, em contato com as
paredes frias do trocador de calor, tende a condensar-se e resfriar-se. A câmara de
combustão é dotada de um dreno, que permite recolher esta água condensada.
A câmara também é dotada de três termômetros: dois para medir a temperatura da água
à entrada e à saída (T2 e T3) e um terceiro, para medir a temperatura dos gases de
exaustão e da água condensada (T4).
A figura, a seguir, representa a construção da parte interna do calorímetro, os sistemas
externos, responsáveis pela manutenção de nível constante de água na câmara interna,
sempre repleta, o posicionamento do combustor e o ambiente preenchido pelos gases de
combustão, de onde também é drenada a água condensada, coletada externamente.

3)- Gasômetro (Wet Gas Meter):

Dispositivo para determinar o volume de gás combustível usado, também dotado com
um termômetro (T1) para a medida da temperatura do gás, antes de ser queimado.
Por conveniência de uma coleta de dados compatível, cada corrida de gás, a ser feita na
experiência, corresponderá ao valor de 1 L, garantindo assim, uma faixa prática de
volumes para os líquidos que serão recolhidos.

4)- Manômetro diferencial:

Tubo em U de vidro, contendo água, convenientemente conectado á linha de gás, de


modo a determinar a diferença de pressão entre o gás combustível e o ar atmosférico.
Cada ramo do tubo em U possui uma escala graduada, onde se pode medir, em
milímetros, as alturas dos líquidos, sendo estas identificadas pelas letras H1 e H2.

5)- Provetas graduadas:

Durante cada corrida de 1 L de gás combustível, são coletados, em provetas com o


tamanho adequado, volumes de água corrente (Va) e de água condensada (Vc).
Medidas experimentais, feitas em GLP (gás de bujão) do laboratório :

Determinam-se alturas de líquido, no manômetro diferencial, (H1) e (H2), a


temperatura de alimentação do gás combustível (T1), a temperatura de entrada (T2) e de
saída (T3), da água no calorímetro, a temperatura da água condensada (T4), o volume
de água circulante (Va) e o volume de água que resulta da condensação do vapor d´água
da combustão (Vc), correspondente ao volume de gás queimado (1L de gás
combustível).

Independentemente, faz-se uma medida, em um barômetro de mercúrio, do valor da


pressão atmosférica no laboratório, Patm, procedendo-se, em seguida, às devidas
correções de seu valor quanto a altitude, latitude geográfica e temperatura ambiente
reinante.

Por facilidade de apresentação, os dados devem ser organizados sob a forma de uma
tabela com 8 colunas e um número de linhas suficiente para acomodar 6 corridas:

H1 H2 T1 T2 T3 T4 Va Vc

Avaliação dos resultados:

Admitindo-se que não há dissipação de calor para o meio externo, o balanço térmico,
envolvendo todos os processos que ocorrem na câmara de combustão é o seguinte:

∆Hcomb. + ∆Haquec. + ∆Hcond. + ∆Hresf. = 0

De que resulta para o calor liberado na combustão do gás (∆Hcomb.):

∆Hcomb. = - ∆Haquec. - ∆Hcond. - ∆Hresf.

Os termos do segundo membro têm os seguintes significados:

∆Haquec. é o calor fornecido para aquecer a água, que circula na câmara de combustão,
que se expressa por:

∆Haquec. = Va ^água Cp,água (T3 – T2),

∆Hcond. é o calor latente de condensação do vapor d´água produzido na na combustão,

∆Hcond. = - Vc ^´água Lv,água

Lv,água é o calor latente de vaporização da água (daí o sinal negativo na expressão do ∆H


de condensação, Cp,água, C´p,água, ^água e ^´água são os valores do calor específico e da
massa específica da água a T3 e T4, respectivamente.
∆Hresf. é o calor envolvido no resfriamento da ágia condensada, desde a temperatura de
condensação (100 oC) até a temperatura T4, aquela em que seu volume é recolhido,

∆Hresf. = Vc ^´água C´p,água (T4 – 100)

O calor de combustão do gás pode ser referido ao seguinte valor:

∆Hinferior = ∆Hcomb./ Vo,

Assim denominado, por ter sido desprezado, no balanço térmico, o calor de dissipação
para o exterior, de poder calorífico inferior (no caso desprezível) e que o valor de Vo,
usado na equação, é o volume de gás combustível medido em CNTP.

Vo = 273 Vgás Pgás / 760 T1,

Onde, T1 é a temperatura Kelvin do gás alimentado ao gasômetro e Pgás é a pressão do


gás efetivamente alimentada ao combustor, dada por:

Pgás = Patm + ∆ P (operacional, no caso, em mm Hg)

A determinação de ∆ P é feita pela análise dos resultados obtidos a partir das leituras no
manômetro diferencial:

∆ P (inicialmente medida em mm H2O) = H2 – H1

Procedimento experimental:

1)- Abra a torneira que alimenta de água a câmara de combustão, lentamente,


verificando a sua vazão em todo o seu trajeto até o esgoto. Proveja um fluxo de água
suficiente para manter a câmara sempre cheia, de tal maneira que o nível de água no
topo do aparelho permaneça estável, nos dispositivos a nível constante e o excesso
escoe pelo tubo extravasor com uma vazão constante, sem respingos;

2)- Acenda o bico combustor, regulando a vazão de gás para uma chama de intensidade
média com uma aeração da chama apenas para combustão completa. (Não abra
excessvamente a aeração, pois o ar em quantidade muito maior que a necessária pode
apagar a chama quando o combustor estiver dentro da câmara de combustão;

3)- Satisfeito com a estabilidade da chama, introduza o combustor na câmara de


combustão, regulando sua centralização e altura. Verifique com um espelho as
condições da chama dentro da câmara;

4)- Aguarde alguns minutos até atingir o regime estacionário de trocas térmicas e se
inicie um gotejamento regular da água de condensação.
5)- Verfique se já há condições de medida. A invariabilidade, da pressão do gás,
expressa pela constância alturas das colunas d´água no manômetro, da vazão regular de
água de condensação e de todas as temperaturas medidas é um sinal claro de que já se
atingiu o regime estacionário. Anote esses valores na tabela, reservando as medidas de
volume para o final de cada corrida;

6)- Realize a primeira medida. Manobre a torneira própria do aparelho, desviando a


água que circula para a proveta de medida e ao mesmo tempo, comece a recolher a água
de condensação em outra proveta. Recolha os dois volumes até fluir 1L de gás
combustível, cessando o desvio de água para a proveta de medida e retirando a proveta
da água de condensação. Anote os volumes das provetas, Va e Vc;

7)- As principais variações nos valores, ocorrem nos volumes medidos pelas provetas.
Por isso, é recomendável se fazer mais cinco corridas, anotando os dados para verificar
quais são as tendências de constância;

8)- Faça a medida da pressão atmosférica ambiente, (Patm em mmHg) conforme descrito
anteriormente;

Cálculos e relatório:

1)- Determine o valor de ∆ P (medida em mm H2O) = H2 – H1,


convertendo-a para mm de Hg. Use a expressão:

∆ P (em mm Hg) = ∆ P (em mm H2O) x ( ^oágua / ^oHg),

Onde a massa específica da água e do mercúrio referem-se á temperatura T1 e podem


ser tomadas como sendo aproximadamente iguais aos valores de 25 oC:
respectivamente, 0,997 g/cm3 e 13,6 g/cm3.

Determine a pressão do gás pela relação:

Pgás = Patm + ∆ P ;

2)- Calcule o valor do volume do gás em CNTP (V0),

V0 = 273 Vgás Pgás/760 T1 (com T1 em Kelvin e Vgás = 1L);

3)- Calcule o calor de combustão do gás pela expressão, resultante do balanço térmico:

∆Hcomb. = -Va ^água Cp,água (T3 – T2) + Vc ^´água Lv,água - Vc ^´água C´p,água (T4 – 100)

Onde os diversos valores da massa específica e do calor específico podem, com


aproximação, ser substituidos pelos valores a 25 oC: 0,997 g/cm3 e 4,17 J/g.K e seu
calor latente de vaporização pode ser tomado como sendo igual a 2.257,2 J/g.
4)- Se três determinações mais próximas, realizadas, produzirem valores diferentes para
os volumes de água circulante e condensada e as temperaturas, calcule, pela expressão
acima, os três valores correspondentes de ∆Hcomb. e determine a média aritmética entre
eles: (∆Hcomb.médio);

5)- Calcule o poder calorífico médio inferior pela expressão:

∆Hcomb.médio inferior = ∆Hcomb. médio/ Vo

6)- Expresse o calor de combustão em kJ e o poder calorífico inferior em kJ/m3;

7)- Usualmente, com finalidades comparativas, expressa-se o poder calorífico de um


combustível em kJ/kg, ou em kcal/kg. Para tal, consideraremos que um metro cúbico de
GLP pesa 2,2Kg (Item 3 da referência 3.) e 1 cal = 4,17J. Então:

(∆Hcomb. médio inferior em kcal/kg) = (∆Hcomb. médio inferior em kJ/m3) /(4,17 x 2,2)

8)- Os valores calculados podem então ser comparados com os que estão disponíveis na
literatura (Referência 2.).

Referências:

1)- Vídeo, mostrando o funcionamento de um calorímetro de Junkers, existente no


Departamento de Engenharia Química da Universidade de Toronto, Canadá:

https://www.youtube.com/watch?v=HeofLEQ6wuA

2)- Página da cooperativa Copagaz, apresentando propriedades do GLP:

http://www.copagaz.com.br/representantes/o_que_e_glp.asp

3)- Site Bombeiros Emergência, com considerações e parâmetros interessantes:

http://www.bombeirosemergencia.com.br/glp.html

4)- Página da Wikipedia em portugês e em inglês sobre GLP (LPG em inglês):

http://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A1s_liquefeito_de_petr%C3%B3leo

http://en.wikipedia.org/wiki/Liquefied_petroleum_gas

5)- Página do Corpo de Bombeiros Paraná, com vários links sobre GLP:

http://www.bombeiros.pr.gov.br/

6)- Biografia de Hugo Junkers em português:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hugo_Junkers
JAPB, 20 de abril de 2015.

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