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A transição, se assim lhe podemos chamar, da zona superior para a zona inferior, pode
ser exemplificado por uma interessante pintura de Jan Steen mostrando uma cabana de
camponeses (Fig. 171 do livro), embora sem certeza da sua fiabilidade pois aparenta ser um
cenário pequeno.
Ainda existem pinturas no teto, como por exemplo, de uma paisagem monumental e
um busto de género ao estilo de Frans Hals.
Por baixo está outra fila ao nível do olhar com pinturas de pequenos gabinetes.
Existe um relato de John Evelyn feito em 13 de agosto de 1641 que fala sobre uma viagem
feita a Roterdão onde o mesmo observou e até adquiriu as pinturas da mais diversa variedade
a preços absurdamente baixos para tais peças.
Sabemos que Jan Steen tinha de complementar os seus rendimentos de pintura com a gestão
de estalagem. Há provas intrínsecas de que a pintura da casa se tornou um bem precioso.
Quando foi deslocada para baixo, era frequentemente colocada uma cortina para proteger a
obra do pó e da luz e tal como outra obra de Jan Steen, foi exposta numa moldura dourada.
Podemos assim ver estas e outras manifestações do estilo de vida opulento adotado pelos
prósperos cidadãos dos países baixos. Apesar do pouco que se sabe de como os italianos
decoravam os seus interiores é muito provável que a moldura dourada tenha sido adotada
muito antes de se tornar moda nos países baixos.
A esplêndida galeria de arte foi concebida como uma medida de emergência; as salas estavam
inacabadas e Giulio Romano tinha prometido afrescá-las no Verão seguinte. No entanto, vale a
pena lembrar que nessa altura, muitas transferências foram feitas entre pintura a fresco e
pintura emoldurada. Pintura emoldurada, o recurso conhecido como quadro riportato, a
pintura fictícia inserida na decoração, merece um estudo especial. A moldura dourada parece
ter sido adotada bastante cedo.
Em Inglaterra, a escolha parece ter dependido muito da classe social e da riqueza. Algumas
pinturas teriam sido consideradas mais apropriadas para o boudoir e outras para a sala de
estar ou de jantar. Devem ter existido sempre membros da classe média que simplesmente
queriam que um quadro fosse colocado acima de um sofá ou numa alcova semelhante, sem se
importarem com o costume ou mensagem que continha. É aqui que a procura de quadros para
a casa sofreu um formidável revés quando se deparou com a concorrência de um meio mais
barato: a gravura, esta promoção da gravura entre as imagens de casa não teria sido possível
sem a facilidade de emoldurar com vidro resultante do desenvolvimento do vidro extraído. É
característico das transformações do século XV ao qual me refiro que os gravadores, por sua
vez, tenham conseguido nas suas gravuras as esplêndidas meias-cores das pinturas de
Reynolds que foram regularmente distribuídas após as exposições da Academia Real. Aqui
existe uma muda de função subtil nas pinturas de parede. Destina-se a servir como lembrete
ou como lembrança, e a rivalizar livros como fonte de conhecimento. Infelizmente as pinturas
começaram a entrar em desuso por conta das fotografias que começavam agora a vigorar por
toda a parte, pois, as mesmas podem imitar uma imagem de forma mais precisa e económica.
No fundo, qualquer uma das maneiras apresentadas eram e são uma maneira de nos
relacionarmos com os artistas do passado e sabermos parte das suas histórias. No entanto,
estou certo de que a violência da reação contra o culto do passado que caracterizou o
movimento pictórico moderno não pode ser totalmente compreendida sem este pano de
fundo, revolta contra a exibição em casa de reproduções fotográficas de obras-primas deveria
ter beneficiado muito. Se não o fez tanto quanto esperávamos ou esperávamos, foi devido à
revolução concomitante no gosto, referindo-se à ascensão da arquitetura moderna, que está
subsumida, por mais superficial que seja, no conceito do movimento artístico modernista. Pelo
que o novo gosto abominava acima de tudo eram as salas cheias de coisas, tanto como o
recheio e a ornamentação das pinturas que associamos a este estilo de vida, Agora o arquiteto
queria articular a sala ele próprio e deixar pouco espaço em casa para pinturas. Os pintores
também começaram a aceitar esta modernização, fazendo mais pinturas neste novo estilo.
Obviamente que a procura por esculturas exteriores seria mais limitada do que para
interiores ou até mesmo quadros devido não só a preços mas também ao nível de dificuldade
de tais esculturas que normalmente exigiam ser monumentais. As origens da escultura estão
perdidas na noite do tempo tal como diz Baudelaire. Isto significava o que nos qualificaríamos
como arte primitiva ou tribal, pois ele continua a dizer que todas as raças têm verdadeira
habilidade na escultura da fé muito antes de poderem embarcar na pintura, o que, diz ele,
requer um pensamento profundo e um tipo especial de iniciação. A escultura é muito mais
fácil de fazer e de interpretar porque é sólido como os objetos da natureza. Qualquer pessoa
pode compreender uma obra escultórica, enquanto que uma escultura é muito mais fácil de
fazer e interpretar. Depois de ter emergido dos tempos selvagens, argumentou, a escultura
perdeu a sua brutal independência e tornou-se aquilo a que chamou uma arte complementar,
só poderia desenvolver-se fortemente em associação com a arquitetura e a pintura. No
entanto, não afirmamos que a escultura é realmente mais antiga do que a pintura uma vez
que, ao contrário de Baudelaire, temos visto a arte das cavernas. Podemos duvidar se a
escultura precedeu a pintura na história e se há ou não realmente aldeões que não conseguem
compreender uma pintura porque lhe falta solidez. Mas se esquecermos os supostos selvagens
do passado e recordarmos os nossos pequenos selvagens da creche, algumas das distinções de
Eaudelaire entre o sólido e o plano já não são descabidas. Sem este pano de fundo não
podemos compreender a procura daquilo a que chamo escultura ao ar livre, tal como não
podemos compreender a procura de bonecas de interior em jardins de infância. Usemos por
exemplo a Esfinge. Podemos apenas especular sobre a função precisa desta escultura, mas
certamente não é simplesmente uma representação daquele monstro mitológico a que os
gregos chamavam a Esfinge. Não devemos duvidar que, outrora, estava cheio de vida. Perto
da imagem há uma inscrição com as datas, é verdade, de um período muito posterior, em que
a Esfinge é feita para dizer: "Protejo a capela deste túmulo [...] afasto o intruso. Eu derrubo os
seus inimigos e as suas armas com eles". Não sabemos se era ou não verdade que ela era
considerada capaz de nos prejudicar, visitantes inocentes, mas foi certamente considerado
capaz de minar qualquer força hostil. Aqui podemos ver que a ideia de ar livre adquire um
significado literal. Podemos usar tal presença para proteger as nossas portas ou entradas
contra intrusos, e esta prática é tão generalizada que pode muito bem ter tido origem
independente em diferentes partes do mundo. Por exemplo no japão onde os quatro pontos
cardeais de um recinto do templo são protegidos a distâncias regulares por imagens tão
ferozes que são certamente um triunfo da arte do escultor. Além disso, um dos mais
espantosos arqueólogos achados arqueológicos do nosso tempo é o chamado exército de
Terracota que guarda o túmulo do grande imperador Qi11 Shi Huangdi do século XI a.C. O
próprio facto de os soldados terem sido encontrados no subsolo exclui qualquer possibilidade
de um propósito puramente estético, embora possamos agora discernir a sua elevada
qualidade artística tão livremente como o fazemos com as várias figuras do período Tang em
exposição nos nossos museus. Não há dúvida de que estas estátuas suscitaram certamente
comparações e, por conseguinte, competição. E a partir destas comparações surgiu a história
crítica da arte. Com a ajuda dos Romanos, uma industria a base de cópias surgiu, não só havia
procura por originais como de cópias de tamanho reduzido e moldes em gesso de estátuas
antigas famosas. A medida em que a procura de escultura ao ar livre se tinha tornado
banalizada no mundo romano, de acordo com a para escultura ao ar livre, em que cópias e
réplicas se tornaram mobiliário de jardim, o potencial de animação parece ter persistido, pelo
menos na mentalidade popular. Com a vinda dos cristãos houveram certas censuras nas
esculturas os relevos eram permitidos, pelo menos se não fossem demasiado tridimensionais.
Dizia-se que a sabedoria popular era que uma imagem não devia ser tão proeminente que se
pudesse agarrar o seu nariz. Manipulação e animação andam de mãos dadas. As coisas nem
sempre foram a este extremo no mundo ocidental, mas como regra geral pode dizer-se que ao
longo do final e início da Idade Média nenhuma escultura monumental de pé livre foi
produzida para exibição ao ar livre. As poucas imagens deste tipo que ainda sobrevivem em
Roma foram considerados com desconfiança e temor, como o dos Dioscuri sobre o Quirinal,
que foi sempre mencionado nos guias dos peregrinos. Algumas delas foram reanimadas ou re -
personalizadas pela imaginação popular, tais como as estátuas ou o ou fragmentos conhecidos
como figuras falantes. A procura de estátuas como verdadeiras obras de arte começou a
diminuir. Ao falar das estátuas nas catedrais, Baudelaire descreveu corretamente a escultura
como uma arte complementar à arquitetura, mas quando os florentinos começaram a colocar
estátuas nos nichos das suas catedrais, os da igreja de São Miguel não se destinavam
simplesmente a decorar o edifício. Eram as guildas florentinas que iriam erigir as estátuas dos
seus santos padroeiros, e no decurso desta campanha a igreja foi transformada naquele
museu ao ar livre de escultura de quatrocentos que ainda admiramos muito quando olhamos
para uma estátua dos seus santos padroeiros. Florencia acaba por não querer mais estátuas
depois de heróis e afins depois de Hercules. Em 1534, com a comissão de estátua a Baccio
Bandinelli, a arte da escultura foi duramente criticada e ridicularizada em vários versos
difamatórios de modo que alguns dos autores de tais versos foram presos a mando de
Alessandro de' Medici. A escultura acaba por ficar mais atrás em relação a pinturas e gravuras
devido a uma certa cadeia de acontecimentos que leva o povo florense a odiar certas
esculturas e primariamente os seus escultores e isto trouxe consequências. Uma destas
consequências vem-nos à mente quando recordamos o destino de certos monumentos
escultóricos, o seu próprio poder, a finalidade para a qual foram encomendados e erigidos,
poderiam também ser a sua anulação. Eles eram um alvo para os revolucionários que queriam
derrubar estes símbolos de poder e dominação, como é apreciado. Pessoas derrubam estas
esculturas não pela escultura, mas sim pelo seu significado, pela sua importância, mas
acontece que tal atenção foi ou só é produzida em momentos de particular excitação e
violência nas ruas. Normalmente, o destino dos monumentos nas nossas cidades não é para
ser atacado, mas sim para ser ignorado. A escultura ao ar livre é mais notável do que aquilo a
que poderíamos chamar o fracasso total do monumento público nas nossas cidades.