Você está na página 1de 18

Mariana Santana| PMSUS 5 1

conhecer os padrões de morbimortalidade das sociedades


para o entendimento da transição demográfica, porém foi
OFICINA 2- SAÚDE DO ADULTO Omran (1971) um dos primeiros autores a definir o termo
transição epidemiológica como um processo de modificação
nos padrões de morbimortalidade, que ocorreria em
estágios sucessivos e seguindo a trajetória de um padrão
tradicional para um padrão moderno. Omran (1996) propõe
quatro estágios de evolução da TRANSIÇÃO
EPIDEMIOLÓGICA e um quinto em potencial:

 Período das pragas e da fome;


 Período do desaparecimento das pandemias;
 Período das doenças degenerativas e provocadas
ENTENDER TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA,
pelo homem;
EPIDEMIOLÓGICA, NUTRICIONAL E COMO AFETAM A
 Período do declínio da mortalidade por doenças
SAÚDE PÚBLICA.
cardiovasculares, modificações no estilo de vida,
A TRANSIÇÃO NUTRICIONAL refere-se a modificações no doenças emergentes e ressurgimento de doenças;
perfil nutricional da população, caracterizada pela redução  Período de longevidade paradoxal, emergência de
da prevalência de desnutrição e aumento da prevalência da doenças enigmáticas e capacitação tecnológica
obesidade. Em meio a essa mudança no perfil nutricional, para a sobrevivência do inapto.
destaca-se como causa e consequência a transição
epidemiológica, marcada por um modelo polarizado de O caráter linear e unidirecional sugerido pelos estágios da
transição que se caracteriza pela coexistência de doenças transição epidemiológica pode ter sido observado em países
infecciosas e não transmissíveis. desenvolvidos no denominado modelo clássico de transição.
Para a maioria dos países da América Latina, inclusive o
O Brasil e diversos países da América Latina Brasil, observa-se um modelo tardio e polarizado de
experimentaram, nos últimos vinte anos, uma rápida transição, no qual há uma superposição das doenças ditas do
transição demográfica, epidemiológica e nutricional. As atraso sobre as doenças da modernidade (FRENK et al.,
características e os estágios de desenvolvimento da 1991), pois, apesar de decréscimo global das taxas de
transição diferem entre os vários países da América Latina, mortalidade e da diminuição da mortalidade proporcional
com alguns em estágios avançados e outros, não. No por doenças infecciosas e parasitárias, a mortalidade
entanto, um ponto chama a atenção: o marcante aumento decorrente dessa causa ainda permanece elevada no Brasil,
na prevalência de obesidade nos diversos subgrupos exigindo atenção por parte dos setores competentes O Brasil
populacionais para quase todos os países latino-americanos. tem experimentado, nas últimas décadas, importantes
transformações no seu padrão de morbimortalidade,
A teoria da TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA postula que os
relacionadas, principalmente, às seguintes condições:
países tendem a percorrer, progressivamente, quatro
estágios na sua dinâmica populacional. O primeiro estágio é  A redução da mortalidade precoce, especialmente
caracterizado por um equilíbrio populacional decorrente das aquela ligada a doenças infecciosas e parasitárias;
altas de natalidade e mortalidade, principalmente infantil.  O aumento da expectativa de vida ao nascer, com o
No estágio seguinte, ocorre a explosão demográfica derivada consequente incremento da população idosa;
da redução da taxa de mortalidade infantil e a conservação  O processo acelerado de urbanização e de
da alta taxa de fecundidade. No terceiro estágio, a redução mudanças socioculturais que respondem, em
acelerada das taxas de fecundidade e baixas taxas de grande parte, pelo aumento dos acidentes e das
mortalidade levam ao fenômeno do envelhecimento da violências (MINAIO, 2002; SILVA JR; GOMES, 2003).
população, processo no qual o Brasil se encontra
(SCHKNOLKIK, 1996). O quarto e último estágio da transição No modelo polarizado de transição epidemiológica brasileiro
demográfica, conhecido como fase moderna da transição, configura- se o modelo análogo de transição nutricional, no
caracteriza-se por baixas taxas de fecundidade e qual a coexistência de obesidade e subnutrição passa ser um
mortalidade, que proporcionam um equilíbrio populacional. fato marcante observado na sociedade, principalmente, nas
três últimas décadas.
Concomitantemente à transição demográfica, ocorrem
mudanças nos padrões de morbimortalidade de uma O conceito de transição nutricional refere-se a mudanças
comunidade, o que se convencionou chamar de transição seculares nos padrões de nutrição, dadas as modificações da
epidemiológica. Frederiksen (1969) considerou importante ingestão alimentar, como conseqüência de transformações
Mariana Santana| PMSUS 5 2

econômicas, sociais, demográficas e sanitárias (OPAS, 2000). invalidez e morte que caracterizam uma população
A inversão nos termos de ocupação do espaço físico, quando específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras
passamos a ser um país fundamentalmente urbano; a transformações demográficas, sociais e econômicas (JORGE,
melhoria das condições de saúde, decorrente, em parte, da 2007).
importação de tecnologia médica e da melhoria das
condições de saneamento básico; e maior participação dos No Brasil, a transição epidemiológica não tem ocorrido de
trabalhadores no setor terciário da economia são exemplos, acordo com o modelo experimentado pela maioria dos
dentre outros, de transformações que interferem países desenvolvidos. Velhos e novos problemas em saúde
diretamente na geração de renda, estilos de vida e, coexistem, com predominância das doenças crônico-
especialmente, no perfil nutricional da população. degenerativas, as doenças transmissíveis ainda
desempenham um papel importante.
Escoda (2002) aborda a situação nutricional no Brasil nas três (http://www.saude.es.gov.br)
últimas décadas, relatando que, até a década de 1970, o
quadro nutricional esteve fortemente marcado por surtos Na população brasileira o processo engloba três mudanças
epidêmicos de fome, que estavam geográfica e socialmente básicas:
localizados, com altos índices de prevalência das formas
1. substituição, entre as primeiras causas de morte,
graves e severas de desnutrição energética protéica (DEP).
das doenças transmissíveis (doenças infecciosas)
Diferentemente da década de 1970, na de 1980 a situação
por doenças não transmissíveis;
nutricional passou a ser caracterizada por uma deficiência
2. deslocamento da maior carga de morbi-
global de nutrientes, distribuindo-se de forma generalizada
mortalidade dos grupos mais jovens (mortalidade
por todo o país. Na década de 1990, além da manutenção do
infantil) aos grupos mais idosos; e
grave problema da DEP, especialmente em algumas regiões
3. transformação de uma situação em que predomina
como o Nordeste e o Norte, observou-se o acréscimo da
a mortalidade para outra em que a morbidade
obesidade, diabetes e dislipidemias
(doenças crônicas) é dominante.
Entre os aspectos explicitados por Recine e Radaelli para
Há uma correlação direta entre os processos de transição
justificar as altas prevalências de obesidade no país estão:
demográfica e epidemiológica. De um modo geral a queda
 estrutura demográfica: as pessoas concentram-se inicial da mortalidade concentra-se seletivamente entre as
mais nas cidades, onde gastam menos energia e doenças infecciosas e tende a beneficiar os grupos mais
têm acesso a variados tipos de alimentos, jovens da população. Estes “sobreviventes” passam a
principalmente industrializados; conviver com fatores de risco para doenças crônico-
 redução do tamanho da família: aumento da degenerativas e, na medida em que cresce o número de
idosos e aumenta a expectativa de vida, tornam-se mais
disponibilidade de alimento na família
freqüentes as complicações daquelas moléstias.
 dieta desequilibrada: predomínio de alimentos
muito calóricos e de fácil acesso (cereais, óleo e Modifica-se o perfil de saúde da população; ao invés de
açúcar) à população mais carente processos agudos que “se resolvem” rapidamente através da
cura ou do óbito, tornam-se predominantes as doenças
Os padrões nutricionais sofrem alterações a cada século,
crônicas e suas complicações, que implicam em décadas de
resultando em mudanças na dieta dos indivíduos. O século
utilização dos serviços de saúde.
XX foi marcado por uma dieta rica em gorduras
(principalmente as de origem animal), açúcar e alimentos O Brasil se encontra, portanto, em pleno estágio
refinados e reduzida em carboidratos complexos e fibras. O intermediário de transição epidemiológica, sendo que esta
predomínio dessa dieta tem contribuído, juntamente com não é uniforme: em alguns estados, ou regiões destes, esta
declínio progressivo da atividade física, para o aumento da se encontra em fase inicial; em outros, na fase intermediária,
obesidade. Apesar de os dados sobre o padrão alimentar da e em alguns a transição está quase se completando. Este
população do país serem escassas e irregulares, as contraste é observado entre áreas de desenvolvimento
informações disponíveis mostram que, nos últimos 20 anos, diferenciado intra-regionais e entre subgrupos
o brasileiro passou a consumir mais alimentos de origem populacionais submetidos a condições de vida também
animal e menos grãos e cereais. diferenciadas nestas regiões. As doenças infecciosas
apresentam maior prevalência nas regiões de precária infra-
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL
estrutura e entre as populações mais pobres.
O conceito de transição epidemiológica refere-se às
No Brasil, a hipertensão arterial tem alta determinação
modificações, a longo prazo, dos padrões de morbidade,
social. A proporção de trabalhadores de baixa renda em uma
Mariana Santana| PMSUS 5 3

população está relacionada com a prevalência da compara-se as grandes regiões do país. Isso decorre de
hipertensão arterial. Desta forma, estas doenças não seriam fatores como a grande extensão territorial, elevado número
a consequência inevitável do processo de envelhecimento de habitantes e diferenças sociais, econômicas e culturais.
da população e sim preveníveis por ser o resultado de Por isso, o Brasil ainda está numa fase intermediária de
modificações do estilo de vida, da relação do ser humano todos esses processos, porém, sem homogeneidade em
com o ambiente onde vive e do qual faz parte. todo o país (PINHEIRO, FREITAS e CORSO, 2004).

Artigo 2 – Vasconcelos e Silva (2003) alertam para casos ainda mais


graves do controle de estado nutricional da população
Sobre as alterações das estruturas sociais, a Organização brasileira, sendo possível identificar indivíduos obesos e
Mundial de Saúde (OMS, 2004) chama a atenção para o fato subnutridos dentro de um mesmo grupo familiar. Batista
de que a tendência econômica globalizada e industrializada Filho e Rissin (2003) também alertam para uma evidente
de alguns países gerou, por um lado, melhoras na qualidade alteração no quadro nutricional do país, visto que há um
de vida e, por outro, problemas associados à vida urbana aumento de casos de sobrepeso e obesidade entre os
com grande concentração demográfica e alterações das estratos de renda mais baixa e exemplificam tudo isso
relações cotidianas da família e da comunidade. Contudo, a apresentando informações recentes, oriundas do Estado de
melhora na qualidade de vida não significou melhora na Pernambuco, um dos mais pobres do país, onde a
qualidade da alimentação, mas sim, na maioria das vezes, prevalência de obesidade em mulheres adultas é mais
incremento apenas quantitativo dos alimentos ingeridos. Em frequente que a prevalência de baixo peso. Além disso, há
contrapartida, o tempo dedicado às atividades motoras, uma associação reconhecidamente perigosa, entre
tanto no trabalho como nas horas de lazer, tem declinado obesidade e dislipidemias, que também se manifestou
nas últimas décadas. naquela população (www.ibge.gov.br).
Com tantas alterações, o cotidiano vivido atualmente difere- Nota-se que esse contexto molda uma situação paradoxal,
se consideravelmente daquele vivido há algumas décadas. com o excesso de peso e o déficit ponderal em populações
Por isso, a Organização Panamericana de Saúde (OPAS, que ocupam um mesmo espaço geográfico, como um fato
2003) alerta que uma conseqüência, quase que natural, concreto e, ao mesmo tempo, de difícil solução. Dâmaso
desse somatório de fatores, é o incremento no peso corporal (2003) aponta para uma possível incompatibilidade
da população que, ao longo de poucas décadas, viu a alimentar, representada pela ingesta de alimentos em
obesidade tornar-se algo real. Traeberg et al. (2004) quantidades pequenas, porém com elevada concentração
corroboram dessa idéia, ao afirmarem que tais mudanças de lipídios e carboidratos, como uma explicação coerente
repercutem hoje em um ambiente favorável a instalação do para tal fato.
excesso de massa corporal, notadamente no tocante ao
tecido adiposo, inclusive entre as crianças e adolescentes. Como no Brasil o paradigma da desnutrição energético-
protéica ainda é uma realidade em algumas regiões do país,
Chopra, Galbraith e Darnton-Hill (2002) dão indicação de que os dados que apontam para uma mudança demográfica,
o recente ganho de peso da população é resultado do epidemiológica e nutricional, nem sempre são vistos com a
processo de transição nutricional, no qual destaca-se o magnitude de seu potencial para um processo degenerativo
incremento de novos produtos alimentícios altamente da saúde da população (BATISTA FILHO e RISSIN, 2003).
calóricos e bastante palatáveis. Além disso, os autores Porém, isso não é exclusividade do Brasil, já que em vários
apontam para a existência de fatores comerciais países em desenvolvimento há um paradoxo de quadros de
influenciando a dieta alimentar da população, ao desnutrição e obesidade convivendo em áreas geográficas
exemplificarem o caso do Reino Unido, onde de todos os não muito distantes. Tal situação decorre de fatores
novos produtos introduzidos nos supermercados no ano de etiológicos análogos responsáveis por ambas as doenças,
1991, mais de 77% destes eram novos tipos de alimentos. como a disponibilidade, a quantidade e a qualidade dos
Neste cenário, algumas doenças ganharam espaço e se alimentos e nutrientes ingeridos corriqueiramente por esses
estabeleceram de maneira preocupante entre a população, indivíduos (TRAEBERG et al., 2004). Corso, Botelho e Zeni
dentre as quais a obesidade tem grande relevância como (2003) afirmam que a fome crônica afeta crianças brasileiras
agravo à saúde, sendo considerada por Pinheiro, Freitas e há várias décadas. No entanto, observa-se um declínio deste
Corso (2004) a mais importante desordem nutricional dos problema, o qual cede espaço para a obesidade infantil, que
países desenvolvidos. configura-se mais frequente que o déficit nutricional. Como
este cenário está presente mais frequentemente em áreas
Apesar de o Brasil ter experimentado algumas das alterações
urbanas e geralmente bem desenvolvidas, pode-se atribuir o
descritas anteriormente, o processo de transição ainda não
ganho excessivo de peso corporal na população infantil às
se completou, visto que há situações divergentes quando
mudanças decorrentes do processo de transição nutricional.
Mariana Santana| PMSUS 5 4

Em relação às consequências dessas doenças, verifica-se que pública, tanto pela alta prevalência como pela rapidez com
a obesidade e o sobrepeso atuam de maneira mais que adquiriram destaque como principais causas de morte
acentuada na morbidade, enquanto que a desnutrição tem no Brasil e no mundo.
um impacto importante tanto na morbidade, quanto na
mortalidade (TRAEBERG et al., 2004). Talvez, por isso, As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são um dos
causem mais impacto as ações que se dedicam ao combate maiores problemas de saúde pública do Brasil e do mundo.
do déficit nutricional do que as que visam o controle do Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS)
excesso de peso da população. indicam que as DCNT são responsáveis por 71% das 57
milhões de mortes ocorridas globalmente em 2016 (WHO,
Com tudo isso, as alterações descritas no período das 2018a, 2018b).
últimas décadas representam mudanças abrangentes no
perfil de morbidade e mortalidade, apontando não só para No Brasil, as DCNT são igualmente relevantes, tendo sido
avanços, como também, e principalmente, para mudanças responsáveis, em 2016, por 74% do total de mortes, com
de focos epidemiológicos, representando, de uma maneira destaque para doenças cardiovasculares (28%), neoplasias
simplificada, a transição de doenças relacionadas ao baixo (18%), doenças respiratórias (6%) e diabetes (5%) (WHO,
peso, passando para aquelas decorrentes do sobrepeso ou 2018c). De acordo com a OMS, um pequeno conjunto de
obesidade, acometendo não só adultos, mas também fatores de risco responde pela grande maioria das mortes
crianças e adolescentes. Nesse sentido, Mendonça e Anjos por DCNT e por fração substancial da carga de doenças
(2004) observam que o sobrepeso e a obesidade alcançaram devida a essas enfermidades. Entre esses fatores, destacam-
os patamares mais elevados já experimentados pela se o tabagismo, o consumo alimentar inadequado, a
população brasileira, como consequência do estilo de vida inatividade física e o consumo excessivo de bebidas
proveniente do processo de transição nutricional. Para alcoólicas (WHO, 2014).
Batista Filho e Rissin (2003), o componente epidemiológico
RASTREAMENTO DE DISL IPIDEMIA:
do quadro de sobrepeso e obesidade da população brasileira
é a característica mais marcante do processo de transição Existe boa evidência de que a dosagem dos lipídios séricos
nutricional no país. pode identificar homens e mulheres assintomáticas que são
elegíveis para a terapia preventiva. Níveis altos do colesterol
Como resultado das mudanças relativas ao processo de
total (CT) e da lipoproteína de baixa densidade de colesterol
transição, vivido no século XX, a população brasileira
(LDL-C), assim como baixos níveis de lipoproteínade alta
caminha para uma condição nutricional em que o baixo peso
densidade de colesterol (HDL-C), são importantes fatores de
diminui gradativamente, enquanto que o excesso de peso
risco para doença arterial coronariana (DAC). O risco de DAC
aumenta em uma proporção um pouco maior. Isso não
é maior naqueles em que há combinação de fatores de
acontece de maneira linear em todo país, devido às
riscos. O risco de doença arterial coronariana em 10 anos é
particularidades de cada região geográfica e dos estratos
menor em homens jovens e nas mulheres que não tenham
sócio-econômicos diferenciados. No entanto, o sobrepeso e
outros fatores de risco, mesmo na presença de
a obesidade já são situações preocupantes entre as crianças
anormalidade lipídicas.
e adolescentes brasileiros, pois sua disseminação tem sido
observada em várias pesquisas realizadas nos últimos anos Quando é importante rastrear?
(ANJOS, CASTRO e ENGSTROM, 2003).

Dessa forma, parecem evidentes as consequências dos Rastreamento em homens:


processos de transição no Brasil, mesmo que ainda não 1. Está recomendado fortemente o rastreamento das
estejam completamente concluídos. Nesse sentido, há desordens lipídicas em homens com 35 anos ou
também necessidade de mudança no modo como a mais. Grau de recomendação A
população atua em relação à proteção e promoção da 2. Recomenda-se também o rastreamento das
própria saúde, o que se espera que seja incentivado por desordens lipídicas em homens com 20 a 35 anos
políticas públicas e não só por ações individuais, já que a quando se enquadrarem como um grupo de alto
abrangência dos problemas é populacional. risco para doença coronariana. Grau de
recomendação B.
CARACTERIZAR AS PRINCIPAIS DCNT E COMO SE DÁ O 3. Não há recomendação contra ou a favor do
RASTREIO DELAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE. rastreamento das desordens lipídicas em homens
com 20 a 35 anos se eles não estiverem em grupo
As doenças crônicas não transmissíveis – DCNT (doenças
alto risco cardiovascular. Grau de recomendação C.
cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças respiratórias
crônicas) representam um dos principais desafios de saúde
Mariana Santana| PMSUS 5 5

Rastreamento em mulheres: nunca foram rastreadas, contudo, o rastreamento repetido


é menos importante nas pessoas idosas, pois os níveis
1. Recomenda-se fortemente o rastreamento das
lipídicos têm maior probabilidade de se manter estáveis
desordens lipídicas em mulheres com 45 anos ou
após os 65 anos.
mais quando se enquadrarem como grupo de alto
risco para doença coronariana. Grau de Como realizar?
recomendação A.
2. Recomenda-se também o rastreamento das Por meio da dosagem dos lipídios séricos de pessoas que são
desordens lipídicas em mulheres com 20 a 45 anos elegíveis, conforme recomendações acima. O profissional de
quando se enquadrarem como um grupo de alto saúde deve orientar que o paciente esteja em jejum de 12h,
risco para doença coronariana. Grau de evite mudanças na rotina alimentar e de atividade física,
recomendação B. além de não ingerir bebida alcoólica.
3. Não há recomendação contra ou a favor do
rastreamento das desordens lipídicas em mulheres RASTREAMENTO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
com 20 anos ou mais se elas não estiverem em (HAS)
grupo alto risco cardiovascular. Grau de 1. Está recomendado o rastreamento da hipertensão
recomendação C arterial nos adultos (acima de 18 anos) sem o
conhecimento de que sejam hipertensos. Grau de
OUTRAS SITUAÇÕES CLÍ NICAS: recomendação A.
1. Devem ser rastreados os níveis de colesterol de Por que é importante o rastreamento?
todos os pacientes com DAC, bem como os
equivalentes coronarianos (outras formas clínicas A hipertensão é uma condição muito prevalente que
de aterosclerose), tais como: contribui para efeitos adversos na saúde, incluindo, entre
 Aneurisma de aorta abdominal; outras, mortes prematuras, ataques cardíacos, insuficiência
 Estenose de coronária sintomática (AIT ou renal e acidente vascular cerebral.
AVC de origem de carótida com > de 50%
de estenose da artéria carótida); Intervalo de rastreamento:
 Doença arterial periférica;
Não se tem evidência para se recomendar um ótimo
 Paciente com Diabete mellitus; intervalo para rastrear a hipertensão nos adultos. O 7° JNC
 Paciente com dois ou mais fatores de risco (The seventh report of the Joint National Committee on
e com uma projeção de 20% de risco de Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High
desenvolver DAC em 10 anos; Blood Pressure) recomenda o rastreamento a cada dois anos
 Hipertrofia ventrículo esquerdo nas pessoas com pressão arterial menor que 120/80 e
“definitiva”, de acordo com o estudo de rastreamento anual se a pressão sistólica estiver entre 120 e
Framingham (skolov-lyon [onda S V1 + 139 mmHg ou a diastólica entre 80 e 90 mmHg.
onda R V5 ou V6] + infradesnivelamento
de ST ou inversão de onda T em V5 e V6). Como realizar?

Intervalo de rastreamento: A aferição ambulatorial com esfigmomanômetro é a mais


amplamente utilizada. A pressão alta (hipertensão) é
O intervalo ótimo para rastreamento é incerto e este está usualmente definida em adultos como sendo a pressão
principalmente fixado de acordo com o risco cardiovascular. sistólica igual ou superior a 140 mmHg ou uma pressão
Quanto maior o risco, menor o intervalo de rastreamento. diastólica maior ou igual a 90 mmHg. Devido à variabilidade
Com base em outros protocolos e opinião de especialistas, individual da medida da pressão arterial, é recomendado,
uma opção razoável e referida na Força-Tarefa Americana é para se realizar o diagnóstico, que se obtenham duas ou mais
um intervalo de cinco anos, para a população geral com aferições em pelo menos duas ou mais visitas ao longo de
resultados normais (Evidência nível III). Intervalos menores um período de uma ou mais semanas.
podem ser recomendados para pessoas que têm níveis
lipídicos próximos do limite para instituição de terapia. Como interpretar o resultado?
Intervalos maiores também podem ser estabelecidos para
aqueles com baixo risco cardiovascular ou que apresentem A relação entre a pressão diastólica e sistólica com o risco
níveis lipídicos repetidamente normais. Não está cardiovascular é contínua e gradual. O nível de pressão
estabelecida a idade de se interromper o rastreamento. O elevado não deve ser o único valor para determinar o
rastreamento pode ser apropriado para pessoas idosas que
Mariana Santana| PMSUS 5 6

tratamento. Os médicos devem considerar o perfil global de tratamento está em se manter um controle mais rigoroso
risco cardiovascular para tomar a decisão de tratamento. dos níveis pressóricos, ou seja, uma pressão arterial menor
ou igual a 135/80. Dessa forma, pode-se reduzir a
Estima-se que são necessárias de 274 a 1.307 pessoas morbimortalidade cardiovascular nesses pacientes.
rastreadas para hipertensão acompanhadas ao longo de
cinco anos com tratamento para evitar uma morte. O
Quadro 6.5 abaixo estratifica as pessoas de acordo com o
nível pressórico e o Quadro 6.6 orienta quanto às
reavaliações sistemáticas de acordo com essas aferições.
RASTREAMENTO DE TABA GISMO

1. Está recomendado o rastreamento do tabagismo


em todos os adultos, incluídas as gestantes. Grau de
recomendação A.

Por que é importante o rastreamento?

O tabagismo é o principal fator prevenível de morte. A


abordagem breve (cerca de cinco minutos) pode levar a
cerca de 5% do abandono do hábito do tabaco. No Brasil, a
prevalência do tabagismo é de 17,2% (PNAD, 2008); cerca de
200.000 mortes são causadas por ele. Fumar durante a
gravidez resulta em aproximadamente cerca de 1.000
mortes infantis anuais e está associado com o aumento no
RASTREAMENTO DE DIAB ETES MELLITUS TIPO II risco de parto prematuro e retardo de crescimento
intrauterino.
Está recomendado o rastreamento de diabetes em adultos
assintomáticos com PA sustentada maior que 135/80 mmHg, Quando é importante rastrear?
não se aplicando a outros critérios como obesidade, história
familiar nem faixa etária. Grau de recomendação B. A Em todos os encontros com os pacientes, recomenda-se que
prevalência da diabetes do tipo II está aumentando – os profissionais de saúde perguntem a todos os adultos
aproximadamente 7% da população adulta brasileira tem (incluídas as gestantes) sobre o uso do tabaco e forneçam
esse problema. intervenção para que deixem esse hábito. Como realizar?
Por meio de abordagem breve com cinco passos (os cinco
A diabetes lidera como causa de cegueira, doença renal e As):
amputação e expõe a um aumento de mortalidade,
principalmente por eventos cardiovasculares. É possível por 1. Aborde quanto ao uso de tabaco;
meio do rastreamento da diabetes nas pessoas com 2. Aconselhe a abandonar o tabagismo por meio de
elevação dos níveis pressóricos (acima de 135/80 mmHg) uma mensagem clara e personalizada;
reduzir a incidência de mortalidade e dos eventos 3. Avalie a disposição em parar de fumar (grau
cardiovasculares, por meio de um rigoroso controle da motivacional para mudança de hábito);
pressão artéria. 4. 4. Assista-o(a) a parar;
5. 5. Arranje condições para o seguimento e suporte
Como realizar? do paciente.

Por meio de glicemia de jejum de oito horas. Como interpretar o resultado?

Como interpretar o resultado? A interpretação da intervenção não deve ser entendida


como positiva ou negativa, no sentido do êxito de abandono
Pessoas com uma glicemia em jejum superiores a 126 mg/dl ou não do tabagismo, mas sim como um processo contínuo
devem realizar confirmação do resultado com nova glicemia de cuidado e valorização do tema como um problema para a
de jejum, para, dependendo do segundo resultado, serem equipe de saúde e para os usuários. Nem todos os usuários
diagnosticadas com Diabetes mellitus. A meta de tratamento estão no mesmo estágio ou abertos para a discussão do
para as pessoas diabéticas é alcançar uma hemoglobina tema. Por exemplo, se um deles não vê o tabagismo como
glicosilada em torno de 7%. Geralmente, isso corresponde a um problema (estágio pré-contemplativo), a abordagem
uma glicemia de jejum menor que 140 mg/dL. Porém, pode não ser efetiva em movê-lo ao abandono, mas pode
conforme orientação descrita acima, o grande benefício do sensibilizá-lo para o tema em questão e, num próximo
Mariana Santana| PMSUS 5 7

encontro, caso esteja mais aberto, reflita sobre a Na prática, para se determinar o risco cardiovascular (RCV),
possibilidade de abandonar o hábito (estágio deve-se primeiro classificar o paciente segundo seus fatores
contemplativo). Nesse novo estágio, a atuação pode ser mais de risco, podendo fazer parte de um dos três grupos abaixo:
frutífera, resultando no agendamento de uma consulta ou
sua participação em grupo de tabagismo para conversar 1. Se o paciente apresenta apenas um fator de risco
melhor sobre o tema. Na sequência, possivelmente haveria baixo/intermediário, não há necessidade de
um avanço para a fase de ação e poderia ser criada uma calcular o RCV, pois ele é considerado como baixo
estratégia conjunta para o abandono do tabagismo. Para que risco CV e terá menos que 10% de chance de morrer
se tenha sucesso, é necessária uma equipe motivada e que por acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto
tenha apoio institucional na realização de um programa agudo do miocárdio (IAM) nos próximos 10 anos.
organizado e mais efetivo de rastreamento e de intervenção. 2. Se apresentar ao menos um fator de risco alto CV,
não há necessidade de calcular o RCV, pois esse
RASTREAMENTO DE OBESIDADE paciente é considerado como alto risco CV e terá
mais ou igual a 20% de chance de morrer por
1. Recomenda-se o rastreamento de todos os acidente vascular cerebral (AVC) ou Infarto agudo
pacientes adultos e crianças maiores de seis anos do miocárdio (IAM) nos próximos 10 anos
para obesidade e a oferta de intervenções de 3. Se apresentar mais do que um fator de risco
aconselhamento e de mudança de comportamento baixo/intermediário, há necessidade de calcular o
para sustentar a perda de peso. Grau de RCV, pois esse paciente pode mudar para baixo,
recomendação B. para alto ou permanecer como risco intermediário.
Abaixo segue o Quadro 6.2 para classificação do
Por que é importante o rastreamento?
risco cardiovascular daqueles que fazem parte do
Porque a obesidade está relacionada com doença grupo três.
coronariana, hipertensão arterial, DM II, acidente vascular
Calcule o número de pontos dos fatores de risco e, com
cerebral, alguns tipos de câncer e com apneia do sono. Além
a soma, encontre o escore total de risco.
disso, é associada à menor qualidade de vida devido ao
estigma social e à menor mobilidade. Após estimar o risco cardiovascular do paciente como
baixo, intermediário ou alto risco (Quadro 6.4), devem-
Como realizar o rastreamento?
se definir as metas em relação a níveis pressórico, perfil
Por meio do cálculo do índice de massa corpórea (IMC), que lipídico, entre outros, a serem alcançadas para a
corresponde ao peso (kg) dividido sobre a altura (metros) ao redução do risco de mortalidade e morbidade do
quadrado. paciente.

Como interpretar o resultado?

O valor do IMC é dividido nas seguintes categorias:

 IMC 25-29.9 é classificado como sobrepeso;


 IMC > 30 é classificado como obesidade, esse item
é subclassificado em: grau I (IMC 30-34,9), grau II
(IMC: 35-39,9) e grau III > 40.

Após o cálculo do IMC, é importante que o profissional pense


junto com a pessoa os reflexos desse problema para seu dia
a dia, observe o grau de motivação para mudança de hábitos
e, a partir daí, organize o plano de intervenção com
aconselhamento sobre dieta, exercício físico e, se
necessário, intervenções comportamentais individuais ou Identificando pacientes com risco de doença
em grupo. cardiovascular:

 Use uma estratégia sistemática e não oportunística


AVALIAÇÃO E RASTREAMENTO DO RISCO
CARDIOVASCULAR de rastreamento para identificar pessoas com alto
risco de doença;
Mariana Santana| PMSUS 5 8

 Exclua os pacientes que tenham DAC estabelecida  Auxiliar ou técnico de enfermagem e profissionais
ou que sejam considerados de alto risco, tais como capacitados em aferir PA: fazer MPA 1 vez ao ano
diabéticos; em pessoas > 3 anos e ≥ 18 anos.
 Estime o risco cardiovascular usando fatores de  Orientar MEV e detectar queixas e os primeiros
risco já registrados nos prontuários da APS, tais sinais e sintomas em todas as oportunidades;
como pressão arterial, gênero, idade, tabagista etc.;  Médicos e enfermeiros: a consulta é integral, isto é,
 Use o risco estimado para priorizar pacientes e queixas subjetivas, objetivas, avaliação e plano.
agende para que uma completa avaliação do risco Prescrever PAP, Atendimento em Grupo para DCNT,
cardiovascular seja estimada; MPA semanal com auxiliar de enfermagem até 1
 Avalie usando o escore de Framingham (1991) com mês após normalizar a PA;
projeção de risco para 10 anos;  Ao fazer o diagnóstico de HA, o médico deve
 Registre no prontuário fatores de risco importantes solicitar o agendamento programado da consulta
para o desenvolvimento de doença cardiovascular, de enfermagem;
tais como etnia, índice de massa corporal (kg/m²),  Enfermeiros: supervisionar e controlar o fluxo das
história familiar de doença cardíaca prematura; consultas de retorno intercaladas entre: médico,
 Ajuste o escore aos fatores importantes para o enfermeiro, MPA auxiliar de enfermagem. Todos os
desenvolvimento de doença cardiovascular, mas profissionais são responsáveis pelas ações em
que não estão contemplados no cálculo de saúde;
Framingham, da seguinte maneira:  Auxiliar ou técnico de enfermagem ou profissional
1. Se existe um parente de primeiro grau com capacitado para aferir PA: MPA uma vez por
DAC prematura, multiplique a estimativa pelo semana até 1 mês após normalizar a PA;
fator correção 1.5; se existe mais de um  Se PA < 140/90 mmHg e sem sintomas clínicos, MPA
parente de primeiro grau com DAC prematura, 1 vez ao ano: equipe multiprofissional,
multiplique a estimativa por 2; principalmente auxiliar de enfermagem;
 Aumente o risco estimado em 1.4 se tiver  Realizar a aferição de PA pelo menos 3 vezes com
ascendência sul-asiática. intervalo de 1 semana.
 Obesidade (IMC ≥ 30 kg/m² – especialmente
aqueles com obesidade central – homens com RASTREAMENTO E BUSCA ATIVA: DIABETES MELL ITUS
circunferência abdominal ≥ 102 [asiáticos ≥ 92];
Aplicar testes de avaliação do risco de diabetes e pré-
para mulheres essa medida deve ser ≥ 88 cm),
diabetes em adultos assintomáticos para DM: o intervalo
multiplique pelo fator de correção 1.3.
anual ou de 3 em 3 anos depende sempre dos FR e condições
 Após o ajuste do escore, veja as metas e converse
avaliadas:
com o paciente sobre elas, para juntos definirem o
plano de tratamento. 1. Indivíduos ≥ 45 anos de idade: 3 em 3 anos.
 Use o julgamento clínico para decidir sobre o 2. Anual ou de 3 em 3 anos, em qualquer idade com
tratamento se o risco estimado estiver próximo do sobrepeso ou obesidade (IMC ≥ 23 kg/m2 ), crianças
limiar de tratamento e caso exista evidência para e adolescentes (IMC > 85% para idade e sexo, peso
outros fatores que possam predispor a pessoa a para altura > 85% ou peso > 120 % do ideal para
risco de doença cardiovascular prematura, tais altura), e que apresente algum dos FR (abaixo):
como baixo padrão socioeconômico, obesidade  Pré-Diabetes;
severa (IMC > 40) ou se, por exemplo, o paciente  Parentes de primeiro grau com diabetes;
parou de fumar recentemente.  Fatores étnicos de alto risco para DM
(negros, hispânicos, latinos, asiáticos);
Rastreamento, busca ativa, monitoramento PA| HAS e
 História de DCV;
retornos
 Hipertensão ≥ 140/90 mmHg ou em
 Adulto ≥ 18 anos: MPA uma vez ao ano; terapia para hipertensão;
 À gerência cabe o planejamento, a supervisão e a  Dislipidemia. Nível de colesterol HDL < 35
programação do trabalho junto à equipe mg/dL e/ou nível de triglicérides > 250
multiprofissional: Busca Ativa, Rastreamento, mg/dL;
campanhas, MPA etc.;  Mulheres com síndrome do ovário
 Multiprofissional: orientar em todas as policístico;
oportunidades MEV e PAP, detectar queixas clínicas  Inatividade física;
e acompanhar doentes crônicos;
Mariana Santana| PMSUS 5 9

 Outras condições clínicas associadas à observar os critérios de risco para evitar testar
resistência à insulina (por exemplo: pacientes com risco muito baixo ou que já tenham
obesidade intensa, acantose nigricans, diagnóstico de DM, a fim de não onerar a
peso baixo ao nascer); campanha;
 Uso de medicações como corticoides, 4. A importância das atividades de Rastreamento e
diuréticos tiazídicos e antipsicóticos. diagnóstico precoce do DM2 não pode ser
3. Mulheres que tiveram diabetes gestacional ou RN > minimizada em um país como o Brasil, com cerca de
4 kg: 3 em 3 anos. 14 milhões de pacientes, dos quais apenas a
4. Pacientes com pré-diabetes (A1c ¬5,7%, IGT* ou metade sabe que tem diabetes. Considerar testes
IFG**) devem ser testados anualmente. Glicemias de diagnósticos alternativos (teste de glicemia
de jejum entre 100 e 125 mg/dL ou glicemia de 2 plasmática em jejum ou teste de tolerância oral à
horas pós-sobrecarga com 75g de glicose, entre 140 glicose), se houver desacordo entre A1c e níveis de
e 199 mg/dL ou A1c entre 5,7% e 6,4%. Qualquer glicemia.
um dos exames positivos confirma o diagnóstico de
ESTRATIFICAR O RISCO PARA HAS E DM CONSIDERANDO OS
pré-diabetes.
FATORES DE RISCO
Se glicemia de jejum > 126 mg/dL realizar confirmação com
nova glicemia de jejum para ser diagnosticado como DM, Reconhecer as pessoas segundo o risco, vulnerabilidade para
planejamento das ações individuais e coletivas pelos
manter controle rigoroso da PA < 135/80 para diminuir a
morbimortalidade cardiovascular. profissionais de saúde. O médico deve em consulta:

Pré DM2  Confirmar o diagnóstico de HA por medição da PA;


 Identificar FRCV;
Glicemias de jejum entre 100 e 125 mg/dL, glicemias de 2  Pesquisar LOAS subclínicas ou clinicamente
horas pós-sobrecarga entre 140 e 200 mg/dL ou, ainda, manifestas;
HbA1c entre 5,7% e 6,5%. Não caracteriza uma patologia,  Pesquisar outras doenças associadas;
mas uma condição de alto risco para o desenvolvimento de  Estratificar o risco CV global;
DM2;  Avaliar indícios de HA secundária. Para o médico
tomar a decisão de iniciar a terapia para
As medidas de prevenção do DM2 envolvem intervenções
hipertensão é necessária confirmação diagnóstica,
farmacológicas e não farmacológicas; as últimas devem ser
seguida da estratificação de risco cardiovascular,
implementadas sempre e podem ser, eventualmente,
levando em conta, além dos níveis pressóricos, a
associadas a terapias farmacológicas, principalmente nos
presença de Fatores de Risco, de lesões de órgão-
casos de maior risco ou HbA1c mais elevada (> 6%). As
alvo e de doenças cardiovasculares.
medidas não farmacológicas incluem modificações da dieta
alimentar e atividade física, constituindo, portanto,
COMPREENDER A TRIPLA CARGA DE DOENÇAS
mudanças do estilo de vida. As Modificações do Estilo de
Vida reduziram a incidência de DM2 em 58% em 3 anos e em O perfil da situação de saúde do Brasil é de tripla carga de
34% ao longo de 10 anos. A população de mulheres com doenças, pela presença concomitante das doenças
história de diabetes gestacional, a metformina e a MEV infecciosas e carenciais, das causas externas e das doenças
tiveram efeito equivalente, com redução de 50% do risco de crônicas. A solução para o SU S consiste em restabelecer a
evolução para diabetes. coerência entre a situação de saúde de tripla carga de
doenças e o sistema de atenção à saúde em prática, pela
TESTES PARA RASTREAMENTO DE DM2: implantação de redes de atenção à saúde. Adota-se com o
princípio que cada nível de atenção deva operar de forma
1. Utilizar qualquer um dos testes, de acordo com o
cooperativa e interdependente. Os elementos constitutivos
tipo de Rastreamento: glicemia capilar, glicemia de
das redes são: a população, a estrutura operacional e o
jejum, glicemia de 2 horas pós-sobrecarga ou
modelo de atenção à saúde.
hemoglobina glicada (HbA1c);
2. Quando mais de um teste é feito, com resultados A situação epidemiológica brasileira distancia-se da
discrepantes, considera-se aquele que diagnostica transição epidemiológica clássica om ramiana, observada
o DM2 ou o pré-diabetes; nos países desenvolvidos. Ela se define por alguns atributos
3. As atividades de Rastreamento do DM2 devem ser fundamentais: a superposição de etapas, com a persistência
realizadas no ambiente em que a população é concomitante das doenças infecciosas e carenciais e das
habitualmente tratada e em campanhas públicas condições crônicas; as contratransições, movimentos de
Mariana Santana| PMSUS 5 10

ressurgimento de doenças que se acreditavam superadas, as cronificação, retratando as expectativas de um estado não
reemergências de doenças com o a dengue e febre amarela; saudável em uma população. Um estudo de carga global de
a transição prolongada, a falta de resolução da transição 306 doenças em 188 países (GBD201310) apontou que as
num sentido definitivo; a polarização epidemiológica, cinco principais causas de DALYs foram doença isquêmica do
representada pela agudização das desigualdades sociais em coração, infecções respiratórias inferiores, doenças
matéria de saúde; e o surgimento das novas doenças ou cerebrovasculares, patologias lombares, dores de garganta e
enferm idades em ergentes.Essa complexa situação tem sido acidentes de trânsito.
definida, recentemente, com o tripla carga de doenças
QUALITY ADJUSTED LIFE YEARS (QALY) - anos de vida
porque envolve, ao mesmo tempo: um a agenda não
ajustados pela qualidade de vida - capta em uma única
concluída de infecções, desnutrição e problemas de saúde medida os ganhos em quantidade e em qualidade de vida.
reprodutiva; o desafio das doenças crônicas e de seus fatores
Trata-se de um instrumento genérico para avaliar os estados
de iscos, como o tabagismo, o sobrepeso e a obesidade, a de saúde, oferecendo medidas objetivas da qualidade de
inatividade física, o estresse e a alimentação inadequada; e
vida e das intervenções. Por exemplo, esta medida pode ser
o forte crescimento da violência e das causas externas. Essa utilizada para verificação de resultados em intervenções. Em
situação de saúde de tripla carga de doença, com estudo para avaliação da eficácia de intervenções para
predomínio das condições crônicas não pode ser enfrentada gerenciamento de riscos cardiovasculares, a
com sucesso por sistemas de atenção à saúde fragmentados comparabilidade das mensurações de custo-efetividade foi
e voltados para a atenção às condições agudas.
realizada a partir deste indicador, sendo que os achados
apontaram que o custo benefício foi maior para as ações
A solução do problema fundamental do SUS consiste em
restabelecer a coerência entre a situação de saúde de tripla realizadas com mulheres (quando comparadas em ações
com o público masculino), com um ganho maior de QALYs
carga de doenças com predominância de condições crônicas
e o sistema de atenção à saúde. Isso vai exigir mudanças versus libras investidas no público feminino.
profundas que permitam superar o sistema fragmentado YEARS LIVED WITH DISABILITY (YLD) - anos de vida
vigente a partir da implantação de redes de atenção à saúde. perdidos por doença e/ou incapacidade - é a quantificação
dos anos vividos com a incapacidade proveniente de um
DESCREVER O CONCEITO E CÁLCULO DA DALY, HALE agravo. Por exemplo, este indicador pode ser usado para
E QUALY. demonstração de sobrevida. No GBD201310 o aumento de
status sociodemográfico foi associado com uma mudança na
O que é um DALY? DALY é uma abreviatura para ano de vida
carga de Years of Life Lost (YLL) - anos de vida perdidos - para
ajustado por incapacidade. É uma métrica universal que
YLD, impulsionado por quedas nos YLLs e aumentos de YLD
permite aos pesquisadores e formuladores de políticas
de lesões músculo-esqueléticas, doenças neurológicas e
comparar diferentes populações e condições de saúde ao
transtornos mentais por uso de substâncias químicas.
longo do tempo. DALY é igual à soma dos anos de vida
perdidos (YLLs) e anos vividos com incapacidade (YLD). Um CONHECER O INQUÉRITO VIGITEL.
DALY é igual a um ano perdido de vida saudável. DALYs nos
permitem estimar o número total de anos perdidos devido a
causas específicas e fatores de risco em nível de países, Desde 2006, implantado em todas as capitais dos 26 estados
regional e mundial. brasileiros e no Distrito Federal, o Vigitel vem cumprindo,
CÁLCULO DO DALY NA PRÁTICA com grande eficiência, seu objetivo de monitorar, por
inquérito telefônico, a frequência e a distribuição dos
YLL = Número de mortes X Expectativa de vida na idade ao principais determinantes das doenças crônicas não
morrer YLD = Número de casos X Duração até remissão ou transmissíveis (DCNT). O Vigitel compõe o sistema de
morte X Peso da Incapacidade Vigilância de Fatores de Risco de DCNT do Ministério da
DALY = YLD + YLL Saúde - m razão da relevância das DCNT na definição do
perfil epidemiológico da população brasileira, e pelo fato de
DISABILITY ADJUSTED LIFE YE ARS (DALY) - ano de vida
que grande parte de seus determinantes é passível de
saudável perdido - é um indicador que contempla as
prevenção - e, conjuntamente a outros inquéritos, como os
medidas de impacto das doenças, tanto em relação à
domiciliares e em populações escolares, vem ampliando o
morbidade, quanto em relação à mortalidade. O DALY
conhecimento sobre as DCNT no País.
considera o total de anos de vida saudáveis perdidos devido
à uma doença (ou a um fator de risco) e seu cálculo inclui
tanto a idade do óbito, quanto a duração e a gravidade de Com isso, o Ministério da Saúde cumpre a tarefa de
qualquer incapacidade presente2. Por exemplo, sua monitorar os principais determinantes das DCNT no Brasil e,
aplicação pode demonstrar as patologias com potencial de
Mariana Santana| PMSUS 5 11

assim, apoiar a formulação de políticas públicas que respondem a seis tentativas de chamadas feitas em dias e
promovam a melhoria da qualidade de vida da população horários variados, incluindo sábados e domingos e períodos
brasileira. Os resultados desse sistema subsidiam o noturnos, e que, provavelmente, correspondem a domicílios
monitoramento das metas propostas no Plano de Ações fechados.
Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Uma vez que a amostra de adultos entrevistados pelo Vigitel
Não Transmissíveis no Brasil, 2011-2022 (BRASIL, 2011a), o
foi extraída a partir do cadastro das linhas telefônicas
Plano Regional (OPAS, 2014), o Plano de Ação Global para a residenciais existentes em cada cidade, ela só permite,
Prevenção e Controle das DCNT, da Organização Mundial da
rigorosamente, inferências populacionais para a população
Saúde (WHO, 2013), bem como das metas de DCNT
adulta que reside em domicílios cobertos pela rede de
referentes à agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento telefonia fixa. A cobertura dessa rede não é evidentemente
Sustentável (UNITED NATIONS, 2015)
universal, podendo ser particularmente baixa em cidades
ASPECTOS METODOLÓGICO economicamente menos desenvolvidas e nos estratos de
menor nível socioeconômico.
Os procedimentos de amostragem empregados pelo Vigitel
visam obter, em cada uma das capitais dos 26 estados
brasileiros e no Distrito Federal, amostras probabilísticas da Quando dados individuais de um inquérito populacional são
população de adultos (≥ 18 anos de idade) que residem em utilizados sem pesos, todos os indivíduos estudados
domicílios servidos por, ao menos, uma linha telefônica fixa. contribuem da mesma forma para as estimativas geradas
O sistema estabelece tamanho amostral mínimo de, pelo inquérito. Esse procedimento se aplica quando cada
aproximadamente, 2 mil indivíduos em cada cidade para indivíduo estudado tenha tido a mesma probabilidade de ser
estimar, com coeficiente de confiança de 95% e erro máximo selecionado para o estudo e quando as taxas de não
de dois pontos percentuais, a frequência de qualquer fator cobertura do cadastro populacional empregado e as taxas de
de risco na população adulta. Erros máximos de três pontos não participação no inquérito sejam iguais em todos os
percentuais são esperados para estimativas específicas, estratos da população. Quando essas situações não são
segundo sexo, assumindo-se proporções semelhantes de observadas, como no caso do Vigitel, a atribuição de pesos
homens e mulheres na amostra (WHO, 1991). Amostras para os indivíduos estudados é recomendada.
menores são aceitas nas localidades em que a cobertura de O peso atribuído inicialmente a cada indivíduo entrevistado
telefonia fixa seja inferior a 40% dos domicílios e onde o pelo Vigitel em cada uma das 26 capitais e no Distrito Federal
número absoluto de domicílios com telefone seja inferior a leva em conta dois fatores. O primeiro desses fatores é o
50 mil. Nesse caso, as estimativas para a população adulta inverso do número de linhas telefônicas no domicílio do
terão erro máximo de três pontos percentuais, sendo de entrevistado. Esse fator corrige a maior chance que
quatro pontos percentuais o mesmo erro para as estimativas indivíduos de domicílios com mais de uma linha telefônica
específicas por sexo (WHO, 1991). tiveram de ser selecionados para a amostra. O segundo fator
A primeira etapa da amostragem do Vigitel consiste no é o número de adultos no domicílio do entrevistado. Este
sorteio de, no mínimo, 5 mil linhas telefônicas por cidade. corrige a menor chance que indivíduos de domicílios
Esse sorteio, sistemático e estratificado por código de habitados por mais pessoas tiveram de ser selecionados para
endereçamento postal (CEP), é realizado a partir do cadastro a amostra. O produto desses dois fatores fornece um peso
eletrônico de linhas residenciais fixas das empresas amostral que permite a obtenção de estimativas confiáveis
telefônicas. Em seguida, as linhas sorteadas em cada cidade para a população adulta com telefone em cada cidade.
são ressorteadas e divididas em réplicas de 200 linhas, cada O peso final atribuído a cada indivíduo entrevistado pelo
réplica reproduzindo a mesma proporção de linhas por CEP sistema Vigitel, denominado pós-estratificação, objetiva a
do cadastro original. A divisão da amostra integral em inferência estatística dos resultados do sistema para a
réplicas é feita, essencialmente, em função da dificuldade população adulta de cada cidade. Em essência, o uso desse
em estimar, previamente, a proporção das linhas do peso iguala a composição sociodemográfica estimada para a
cadastro que serão elegíveis para o sistema (linhas população de adultos com telefone a partir da amostra
residenciais ativas). Vigitel em cada cidade à composição sociodemográfica que
A segunda etapa da amostragem do Vigitel consiste no se estima para a população adulta total da mesma cidade no
sorteio de um dos adultos (≥ 18 anos de idade) residente no mesmo ano de realização do levantamento.
domicílio sorteado. Essa etapa é executada após a
As variáveis consideradas na composição sociodemográfica
identificação, entre as linhas sorteadas, daquelas que são da população total e da população com telefone são: sexo
elegíveis para o sistema. Não são elegíveis para o sistema as (feminino e masculino), faixa etária (18-24, 25- 34, 35-44, 45-
linhas que: correspondem a empresas; não mais existem ou 54, 55-64 e 65 e mais anos de idade) e nível de instrução
se encontram fora de serviço; além das linhas que não (sem instrução ou fundamental incompleto, fundamental
Mariana Santana| PMSUS 5 12

completo ou médio incompleto, médio completo ou a realização de exames para detecção precoce de tipos
superior incompleto e superior completo). comuns de cânceres em mulheres (mamografia e citologia
O questionário do Vigitel (Anexo A) foi construído de modo oncótica para câncer de colo de útero).
a viabilizar a opção do sistema pela realização de entrevistas
telefônicas feitas com o emprego de computadores, ou seja, TABAGISMO
entrevistas cujas perguntas são lidas diretamente na tela de Tabagismo Percentual de fumantes: número de indivíduos
um monitor de vídeo e cujas respostas são registradas direta fumantes/número de indivíduos entrevistados. Foi
e imediatamente em meio eletrônico. Esse questionário considerado fumante o indivíduo que respondeu
permite, ainda, o sorteio automático do membro do positivamente à questão: “Atualmente, o(a) Sr.(a) fuma?”,
domicílio que será entrevistado, o salto automático de independentemente do número de cigarros, da frequência e
questões não aplicáveis em face de respostas anteriores, a da duração do hábito de fumar.
crítica imediata de respostas não válidas e a cronometragem
da duração da entrevista, além de propiciar a alimentação
EXCESSO DE PESO E OBESIDADE
direta e contínua no banco de dados do sistema.
Percentual de adultos com excesso de peso: número de
indivíduos com excesso de peso/número de indivíduos
entrevistados. Foi considerado com excesso de peso o
indivíduo com índice de massa corporal (IMC) ≥ 25 kg/m2
AS PERGUNTAS DO QUESTIONÁRIO VIGITEL 2019
ABORDAM: (WHO, 2000), calculado a partir do peso em quilos dividido
pelo quadrado da altura em metros, ambos autorreferidos,
a) características demográficas e socioeconômicas dos conforme as questões: “O(a) Sr.(a) sabe seu peso (mesmo
indivíduos (idade, sexo, estado civil, raça/cor, nível de que seja valor aproximado)?”, “O(a) Sr.(a) sabe sua altura?”.
escolaridade, número de pessoas no domicílio, número de
Percentual de adultos com obesidade: número de
adultos e número de linhas telefônicas);
indivíduos com obesidade/ número de indivíduos
b) características do padrão de alimentação e de atividade entrevistados. Foi considerado com obesidade o indivíduo
física associadas à ocorrência de DCNT (por exemplo: com índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m2 (WHO,
frequência do consumo de frutas e hortaliças e de 2000), calculado a partir do peso em quilos dividido pelo
refrigerantes, e frequência e duração da prática de exercícios quadrado da altura em metros, ambos autorreferidos,
físicos e do hábito de assistir à televisão); conforme as questões: “O(a) Sr.(a) sabe seu peso (mesmo
c) peso e altura referidos; que seja valor aproximado)?”, “O(a) Sr.(a) sabe sua altura?”.

d) frequência do consumo de cigarros e de bebidas


alcoólicas; CONSUMO ALIMENTAR

e) autoavaliação do estado de saúde do entrevistado, Percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças
referência a diagnóstico médico anterior de hipertensão regularmente: número de indivíduos que consomem frutas
arterial e diabetes e uso de medicamentos; e hortaliças em cinco ou mais dias da semana/ número de
indivíduos entrevistados. O consumo desses alimentos foi
f) realização de exames para detecção precoce de câncer em estimado a partir de respostas às questões: “Em quantos
mulheres; dias da semana o(a) Sr.(a) costuma comer frutas?”, “Em
g) posse de plano de saúde ou convênio médico; e quantos dias da semana o(a) Sr.(a) costuma tomar suco de
frutas natural?” e “Em quantos dias da semana o(a) Sr.(a)
h) questões relacionadas a situações no trânsito.
costuma comer pelo menos um tipo de verdura ou legume
INDICADORES (alface, tomate, couve, cenoura, chuchu, berinjela,
abobrinha – não vale batata, mandioca ou inhame)?”.
Entre os FATORES DE RISCO, foram incluídos o hábito de
fumar, o excesso de peso, o consumo de refrigerantes, de Percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças
alimentos ultraprocessados, a inatividade física e o consumo conforme recomendado: número de indivíduos com
de bebidas alcoólicas, além da referência ao diagnóstico consumo recomendado de frutas e de hortaliças/número de
médico de hipertensão arterial e diabetes. indivíduos entrevistados. A recomendação para o consumo
de frutas e hortaliças é de cinco porções diárias. Dada a
Entre os FATORES DE PROTEÇÃO, foram incluídos o
dificuldade em se transmitir aos entrevistados o conceito de
consumo de frutas e hortaliças, consumo de feijão, consumo
porções de alimentos, considerou-se o consumo de uma
de alimentos não ou minimamente processados protetores
fruta ou de um suco de fruta como equivalente a uma
para doenças crônicas; a prática de atividade física no tempo
porção, limitando-se em três o número máximo de porções
livre e no deslocamento para o trabalho, curso ou escola; e
Mariana Santana| PMSUS 5 13

diárias computado para frutas e em um o número máximo


computado para sucos. No caso de hortaliças, computou-se Percentual de adultos que praticam atividades físicas no
um número máximo de quatro porções diárias, situação que deslocamento equivalentes a pelo menos 150 minutos de
caracteriza indivíduos que informam o hábito de consumir
atividade de intensidade moderada por semana: número
saladas de hortaliças cruas no almoço e no jantar e verduras de indivíduos que se deslocam para o trabalho ou escola de
e legumes cozidos também no almoço e no jantar. A
bicicleta ou caminhando e que despendem pelo menos 30
recomendação para o consumo de frutas e hortaliças foi minutos diários no percurso de ida e volta/número de
considerada alcançada quando o indivíduo referia o
indivíduos entrevistados. São consideradas as questões
consumo desses alimentos em pelo menos cinco dias da
sobre deslocamento para trabalho e/ou curso e/ou escola,
semana, e quando a soma das porções consumidas conforme a seguir: “Para ir ou voltar ao seu trabalho, faz
diariamente desses alimentos totalizava pelo menos cinco.
algum trajeto a pé ou de bicicleta?”, “Quanto tempo o(a)
As questões relacionadas ao número de porções são as Sr.(a) gasta para ir e voltar nesse trajeto (a pé ou de
seguintes: “Em quantos dias da semana o(a) Sr.(a) costuma
bicicleta)?”, “Atualmente, o(a) Sr.(a) está frequentando
comer salada de alface e tomate ou salada de qualquer outra algum curso/escola ou leva alguém a algum curso/escola?”,
verdura ou legume crus?” e “Em um dia comum, o(a) Sr.(a) “Para ir ou voltar a esse curso/escola, faz algum trajeto a pé
come esse tipo de salada: no almoço, no jantar ou no almoço ou de bicicleta?” e “Quanto tempo o(a) Sr.(a) gasta para ir e
e no jantar?”, “Em quantos dias da semana o(a) Sr.(a) voltar nesse trajeto (a pé ou de bicicleta)?”.
costuma comer verdura ou legume cozido junto da comida
ou na sopa, como, por exemplo, couve, cenoura, chuchu,
berinjela, abobrinha, sem contar batata, mandioca ou Percentual de adultos fisicamente inativos: número de
inhame?” e “Em um dia comum, o(a) Sr.(a) come verdura ou indivíduos fisicamente inativos/número de indivíduos
legume cozidos: no almoço, no jantar ou no almoço e no entrevistados. Foi considerado fisicamente inativo o adulto
jantar?”, “Em um dia comum, quantas copos o(a) Sr.(a) toma que não praticou qualquer atividade física no tempo livre
de suco de frutas natural?” e “Em um dia comum, quantas nos últimos três meses e que não realizou esforços físicos
vezes o(a) Sr.(a) come frutas?” intensos no trabalho, não se deslocou para o trabalho ou
... curso/escola caminhando ou de bicicleta perfazendo um
mínimo de 20 minutos no percurso de ida e volta e não foi
responsável pela limpeza pesada de sua casa. Este indicador
ATIVIDADE FÍSICA
é construído com base nas questões já mencionadas sobre
Percentual de adultos que praticam atividades físicas no atividades físicas no tempo livre, no deslocamento, na
tempo livre equivalentes a pelo menos 150 minutos de atividade ocupacional e em questões sobre atividades físicas
atividade de intensidade moderada por semana: número na limpeza da própria casa: “Quem costuma fazer a faxina da
de indivíduos que praticam pelo menos 150 minutos sua casa?” e “A parte mais pesada da faxina fica com...”.
semanais de atividade física de intensidade moderada ou
pelo menos 75 minutos semanais de atividade física de CONSUMO ABUSIVO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS
intensidade vigorosa/número de indivíduos entrevistados.
Atividade com duração inferior a dez minutos não é Percentual de adultos que consumiram bebidas alcoólicas
considerada para efeito do cálculo da soma diária de de forma abusiva: número de adultos que consumiram
minutos despendidos pelo indivíduo com exercícios físicos bebida alcoólica de forma abusiva/número de entrevistados.
Caminhada, caminhada em esteira, musculação, Foi considerado consumo abusivo de bebidas alcoólicas
hidroginástica, ginástica em geral, natação, artes marciais e cinco ou mais doses (homem) ou quatro ou mais doses
luta, ciclismo, voleibol/futevôlei e dança foram classificados (mulher) em uma única ocasião, pelo menos uma vez nos
como práticas de intensidade moderada; corrida, corrida em últimos 30 dias, conforme resposta à questão: “Nos últimos
esteira, ginástica aeróbica, futebol/futsal, basquetebol e 30 dias, o Sr. chegou a consumir cinco ou mais doses de
tênis foram classificados como práticas de intensidade bebida alcoólica em uma única ocasião?” para homens ou
vigorosa (AINSWORTH et al., 2000). Este indicador é “Nos últimos 30 dias, a Sra. chegou a consumir quatro ou
estimado a partir das questões: “Nos últimos três meses, mais doses de bebida alcoólica em uma única ocasião?” para
o(a) Sr.(a) praticou algum tipo de exercício físico ou mulheres. Uma dose de bebida alcoólica corresponde a uma
esporte?”, “Qual o tipo principal de exercício físico ou lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de cachaça,
esporte que o(a) Sr.(a) praticou?”, “O(a) Sr.(a) pratica o whisky ou qualquer outra bebida alcoólica destilada.
exercício pelo menos uma vez por semana?”, “Quantos dias ...
por semana o(a) Sr.(a) costuma praticar exercício físico ou
esporte?” e “No dia que o(a) Sr.(a) pratica exercício ou AUTOAVALIAÇÃO DO ESTADO DE SAÚDE
esporte, quanto tempo dura essa atividade?”.
Mariana Santana| PMSUS 5 14

MORBIDADE REFERIDA
Percentual de adultos que avaliaram negativamente o Percentual de adultos que referem diagnóstico médico de
próprio estado de saúde: número de adultos que avaliaram hipertensão arterial: número de adultos que referem
o próprio estado de saúde como ruim ou muito diagnóstico médico de hipertensão arterial/número de
ruim/número de entrevistados, conforme resposta dada à indivíduos entrevistados, conforme resposta dada para a
questão: “O(a) Sr.(a) classificaria seu estado de saúde como: questão: “Algum médico já lhe disse que o(a) Sr.(a) tem
muito bom, bom, regular, ruim ou muito ruim?”. pressão alta?”.

REALIZAÇÃO DE EXAMES DE DETECÇÃO PRECOCE


DE CÂNCER EM MULHERE S Percentual de adultos com hipertensão arterial que
referem tratamento medicamentoso para a doença:
Percentual de mulheres (50 a 69 anos) que já realizaram número de adultos que referem diagnóstico médico,
alguma vez exame de mamografia: número de mulheres indicação de tratamento e está em uso de medicamento
entre 50 e 69 anos de idade que realizaram mamografia para controlar a pressão alta/ número de adultos
alguma vez na vida/número de mulheres entre 50 e 69 anos entrevistados que referem diagnóstico médico de
de idade entrevistadas, conforme resposta à questão: “A Sra. hipertensão arterial, conforme respostas dadas para as
já fez alguma vez mamografia, raio-X das mamas?”. questões: “Algum médico já lhe disse que o(a) Sr.(a) tem
pressão alta?”, “Algum médico já lhe receitou algum
medicamento para pressão alta?” e “Atualmente, o(a) Sr.(a)
Percentual de mulheres (50 a 69 anos) que realizaram
está tomando algum medicamento para controlar a pressão
exame de mamografia nos últimos dois anos: número de
alta?”.
mulheres entre 50 e 69 anos de idade que realizaram
mamografia nos últimos dois anos/número de mulheres Percentual de adultos que referem diagnóstico médico de
entre 50 e 69 anos de idade entrevistadas, conforme diabetes: número de adultos que referem diagnóstico
resposta às questões: “A Sra. já fez alguma vez mamografia, médico de diabetes/número de indivíduos entrevistados,
raio-X das mamas?” e “Quanto tempo faz que a Sra. fez conforme resposta dada para a questão: “Algum médico já
mamografia?”. lhe disse que o(a) Sr.(a) tem diabetes?”.
Percentual de mulheres (25 a 64 anos) que realizaram Percentual de adultos com diabetes que referem
alguma vez exame de citologia oncótica para câncer de colo tratamento medicamentoso para a doença: número de
do útero: número de mulheres entre 25 e 64 anos de idade adultos que referem diagnóstico médico, indicação de
que realizaram exame de citologia oncótica alguma vez na tratamento e está em tratamento medicamentoso para
vida/ número de mulheres entre 25 e 64 anos de idade diabetes com medicamento oral e/ou insulina/número de
entrevistadas, conforme resposta para a questão: “A Sra. já adultos entrevistados que referem diagnóstico médico de
fez alguma vez exame de Papanicolau, exame preventivo de diabetes, conforme respostas dadas para as questões:
câncer de colo do útero?”. Em função da alteração nas “Algum médico já lhe disse que o(a) Sr.(a) tem diabetes?”,
diretrizes do Ministério da Saúde para rastreamento de “Algum médico já lhe receitou algum medicamento para
câncer de colo de útero, foi ampliada a faixa etária de diabetes?”, “Atualmente, o(a) Sr.(a) está tomando algum
cobertura do exame de citologia oncótica uterina para 25 a comprimido para controlar o diabetes?” e “Atualmente, o(a)
64 anos (BRASIL, 2016a). Sr.(a) está usando insulina para controlar o diabetes?”.
Percentual de mulheres (25 a 64 anos) que realizaram https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_
exame de citologia oncótica para câncer de colo do útero 2019_vigilancia_fatores_risco.pdf
nos últimos três anos: número de mulheres entre 25 e 64
CONHECER A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO
anos de idade que realizaram exame de citologia oncótica
nos últimos três anos/número de mulheres entre 25 e 64
INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM (PNAISH).
anos de idade entrevistadas, conforme resposta dada para Historicamente, o senso comum considera os homens como
as questões: “A Sra. já fez alguma vez exame de Papanicolau, o sexo forte. Desde pequenos, os meninos são educados,
exame preventivo de câncer de colo do útero?” e “Quanto entre outras coisas, para serem competitivos, corajosos,
tempo faz que a Sra. fez exame de Papanicolau?”. Em função destemidos, poderosos, violentos, invulneráveis, provedores
da alteração nas diretrizes do Ministério da Saúde para e protetores, sendo também treinados para suportar, sem
rastreamento de câncer de colo de útero, foi ampliada a chorar, suas dores físicas e emocionais (WHO, 2000).
faixa etária de cobertura do exame de citologia oncótica
Enfim, qualidades que, na maioria das vezes, ainda são
uterina para 25 a 64 anos (BRASIL, 2016a)
reproduzidas na infância e repassadas de geração em
geração a partir de modelos culturais de gênero cristalizados
Mariana Santana| PMSUS 5 15

na sociedade patriarcal, sem que haja uma visão reflexiva a implantação de uma “política nacional para assistência à
sobre os mandatos compulsórios de vida a serem cumpridos saúde do homem” no âmbito do SUS.
e as consequências implicadas na replicação acrítica de Com a instituição formal da PNAISH, o Brasil passaria a ser o
determinados condicionamentos e comportamentos para a
primeiro país das Américas com uma política destinada à
saúde e o bem-estar de homens, mulheres, crianças e saúde do homem – e o segundo no mundo, após a Irlanda
comunidades. São condicionamentos e qualidades que
ter formulado a sua própria política, em 2008 –, que passam
influenciam e são influenciados por todo um imaginário a ser sujeitos de foco de ações em saúde junto com grupos
simbólico coletivo social, responsável direto por alimentar e
específicos mais antigos, a saber, adolescentes, mulheres,
sedimentar no núcleo mais íntimo da formação da
idosos, indivíduos institucionalizados, pessoas com
identidade destes meninos, e futuros homens, o modo deficiência, etc. (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009).
supostamente “correto de se viver e sobreviver“ entre os
seus semelhantes nos mais diversos contextos e ambientes
sociais, políticos, econômicos, laborais, geográficos, etc. A FORMULAÇÃO DA PNAISH
As condutas varonis que contribuem para construir e
A estratégia de elaboração escolhida pela PNAISH foi
reforçar esta imagem identitária masculina onipotente de
investigar os principais agravos de saúde que acometiam os
certo modo impedem cultivar a função essencial de
homens, por meio do recorte de sexo, na faixa etária entre
autoconservação, ou seja, os valores esperados do que seja
20 a 59 anos, e que, em 2009, correspondia a 41% da
considerado um “homem de verdade” não estimulam a
população de homens no Brasil.
manifestação do afeto e do cuidar, tampouco do cuidado
próprio. Os homens são educados para responder às
expectativas sociais de modo proativo, em que o risco não é A PNAISH afirma princípios consonantes aos do SUS
algo a ser evitado, mas sim superado. Assim, a noção de relacionados, por exemplo, à “humanização, qualidade de
autocuidado dá lugar a um estilo de vida autodestrutivo e, vida e promoção da integralidade do cuidado na população
em diversos sentidos, vulnerável (INSTITUTO PAPAI; RHEG, masculina promovendo o reconhecimento e respeito à ética
2009). e aos direitos do homem, obedecendo às suas
Contudo, o desafio não é pequeno, haja vista que os valores peculiaridades socioculturais” (BRASIL, 2009).
da cultura masculina envolvem comportamentos de risco à E, para que seja possível cumprir esses princípios, oito
saúde. A forma como os homens constroem e vivenciam elementos foram listados a fim de serem considerados:
suas masculinidades encontram-se vinculadas às matrizes
dos modos de adoecer e morrer, conforme evidencia
Levorato et al. (2014), em um estudo transversal, realizado
com 320 pessoas, em serviços de saúde do município de
Ribeirão Preto/SP, ao constatar que as mulheres buscaram
os serviços de saúde quase duas vezes mais do que os
homens, e que ser do sexo feminino foi um fator preditor de
maior busca por assistência à saúde, sendo mensurado com
magnitude 2,4 vezes em relação a eles.
Os principais fatores associados a não procura por serviços
de saúde, a saber: sexo masculino, horário de
funcionamento das unidades de saúde, horário de trabalho
do usuário e não possuir nenhuma doença.
No Brasil, a PNAISH reconhece a necessidade de identificar
os elementos psicossociais que acarretam a vulnerabilidade
da população masculina, além de evidenciar os principais
A PNAISH traz como OBJETIVO PRINCIPAL :
fatores de morbimortalidade como uma estratégia de
atenção integral à saúde, haja vista que muitos agravos 1. facilitar e ampliar o acesso com qualidade da
poderiam ser evitados, caso os homens realizassem, com população masculina às ações e aos serviços de
regularidade, as medidas de prevenção primária (BRASIL, assistência integral à saúde da Rede SUS, mediante
2009). a atuação nos aspectos socioculturais, sob a
perspectiva de gênero, contribuindo de modo
No Brasil, a temática da saúde do homem enquanto política
efetivo para a redução da morbidade, da
pública passa a ter visibilidade em 2007, quando uma das
metas prioritárias elencadas pela gestão federal passa a ser
Mariana Santana| PMSUS 5 16

mortalidade e a melhoria das condições de saúde em promoção, prevenção, assistência e recuperação, nos
(BRASIL, 2009, p. 53) diferentes níveis de atenção à saúde, priorizando a atenção
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: básica e a integração das ações governamentais com as da
sociedade civil organizada (SCHWARZ et al., 2012).
- se dividem em três grandes grupos e trabalham de maneira
a garantir a integralidade da atenção por meio da A PNAISH foi lançada em 2009, juntamente com o seu
perspectiva de linhas de cuidado, abrangendo os diferentes instrumento norteador para a construção de ações e
níveis de atenção em saúde (SCHWARZ et al. 2012). estratégias voltadas para a saúde do homem: o Plano de
Ação Nacional (PAN), triênio 2009-2011.

a) “Organizar, implantar, qualificar e humanizar, em


todo território brasileiro, a atenção integral a saúde A IMPLANTAÇÃO DA PNAISH PELA ÓTICA DOS
do homem, dentro dos princípios que regem o PROFISSIONAIS
Sistema Único de Saúde” (BRASIL, 2009, p. 53) - Como requisito fundamental para a implementação da
preocupam-se em garantir o acesso e a qualidade política, constatou-se a necessidade da formação de uma
da atenção na perspectiva da integralidade e em equipe ou um responsável pela nova área, a da Saúde do
qualificar os profissionais, bem como promover Homem, haja vista que a alta rotatividade dos profissionais
ações integradas com outras áreas no cargo de gestão foi apontada como um desafio a ser
governamentais. superado.
b) b) “Estimular a implantação e implementação da
assistência em saúde sexual e reprodutiva, no
âmbito da atenção integral à saúde” (BRASIL, 2009, Outro fator importante verificado foi a grande diferença em
p. 53) - além de metas mais tradicionais relativas ao termos do conhecimento das diretrizes contidas na PNAISH
planejamento reprodutivo masculino, a prevenção por parte dos gerentes e dos profissionais da assistência.
às IST/AIDS, a atenção às disfunções sexuais Observou-se a falta de familiaridade da maioria dos
masculinas e também a importante missão de entrevistados com a política que, quando questionados,
desenvolver estratégias voltadas para a atenção à elencaram como possíveis motivos: a falta de capacitações
saúde e a promoção da equidade em grupos sociais específicas, a pouca divulgação da política entre
como populações indígenas, negras, quilombolas, profissionais de saúde, a ausência de materiais didáticos
gays, bissexuais, travestis, transexuais, impressos, etc.
trabalhadores rurais, portadores de deficiência,
ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO DA AB PARA A EFET IVAÇÃO DA
homens em situação de risco e privados de
PNAISH
liberdade, entre outros.
c) “Ampliar, através da educação, o acesso dos A PNAISH é fruto do reconhecimento da gravidade do
homens às informações sobre as medidas quadro epidemiológico dos usuários homens no Brasil, com
preventivas contra os agravos e enfermidades que índices de morbimortalidade alarmantes, especialmente se
os atingem” (BRASIL, 2009, p.54) - têm o intuito de comparados aos mesmos índices para mulheres e para
promover a parceria com os movimentos sociais e crianças, o que evidencia a urgência de ações específicas
populares e demais áreas do governo, a fim de para este segmento da população.
somar esforços e recursos para estimular o
autocuidado na população masculina, bem como
incluir os enfoques étnico-racial, de gênero e
orientação sexual nas ações educativas.

A AB, porta de entrada do SUS, é central na consolidação das


ações e estratégias formuladas pela PNAISH, tendo a
melhoria do acesso e do acolhimento da população
masculina como aspectos-chave para a ampliação da
cobertura da assistência a este público pelas equipes da AB.
Atuam contra a melhoria do acesso e o acolhimento desta
Considerando estes elementos, as diretrizes foram
população à rede de serviços, tal como configurada, as
construídas destacando-se um conjunto de ações com foco
Mariana Santana| PMSUS 5 17

barreiras socioculturais, econômicas e institucionais, Para atingir o seu objetivo geral, que é ampliar e melhorar o
desafiando os princípios norteadores da PNAISH acesso da população masculina adulta – 20 a 59 anos – do
recomendados pela política do SUS – equidade, Brasil aos serviços de saúde, a Política Nacional de Saúde do
integralidade e universalidade. Pesquisas apontam várias Homem é desenvolvida a partir de cinco (05) eixos
razões para isso, mas, de um modo geral, podemos agrupar temáticos:
as causas da baixa adesão dos homens aos serviços de saúde
em dois grupos principais de determinantes: barreiras 1. Acesso e Acolhimento: objetiva reorganizar as
socioculturais e institucionais (GOMES, 2003; KEIJZER, 2003; ações de saúde, através de uma proposta inclusiva,
SCHRAIBER, 2005). na qual os homens considerem os serviços de saúde
A inclusão efetiva dos homens na lógica dos serviços também como espaços masculinos e, por sua vez,
ofertados na AB requer esforços permanentes de todos os os serviços reconheçam os homens como sujeitos
envolvidos no SUS, sobretudo no combate à discriminação e que necessitam de cuidados.
ao preconceito contra a diversidade sexual e de gênero 2. Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva: busca
(população LGBTTI), a diversidade étnico-racial (homens sensibilizar gestores(as), profissionais de saúde e a
negros, indígenas, ciganos, entre outros) e grupos em população em geral para reconhecer os homens
situação de vulnerabilidade pela segregação como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos, os
socioeconômica. São segmentos da população que envolvendo nas ações voltadas a esse fim e
convocam os profissionais de saúde a intervir e romper com implementando estratégias para aproximá-los
práticas preconceituosas, seletivas, corporativistas, racistas desta temática.
e sexistas. 3. Paternidade e Cuidado: objetiva sensibilizar
gestores(as), profissionais de saúde e a população
em geral sobre os benefícios do envolvimento ativo
dos homens com em todas as fases da gestação e
nas ações de cuidado com seus(uas) filhos(as),
destacando como esta participação pode trazer
saúde, bem-estar e fortalecimento de vínculos
saudáveis entre crianças, homens e suas (eus)
parceiras(os).
4. Doenças prevalentes na população
masculina: busca fortalecer a assistência básica no
cuidado à saúde dos homens, facilitando e
garantindo o acesso e a qualidade da atenção
necessária ao enfrentamento dos fatores de risco
das doenças e dos agravos à saúde.
5. Prevenção de Violências e Acidentes: visa propor
e/ou desenvolver ações que chamem atenção para
a grave e contundente relação entre a população
masculina e as violências (em especial a violência
urbana) e acidentes, sensibilizando a população em
geral e os profissionais de saúde sobre o tema.
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac SAÚDE DO HOMEM
ional_atencao_integral_saude_homem.pdf
Novembro é o mês de conscientização sobre os cuidados
integrais com a saúde do homem. Saúde mental, infecções
RESUMO sexualmente transmissíveis, doenças crônicas (diabetes,
hipertensão) entre outros pontos devem ser sempre
A Política Nacional de Atenção Integral da Saúde do Homem observados pela população masculina. Todos os anos, nesse
(PNAISH) tem como diretriz promover ações de saúde que período, 21 países, incluindo o Brasil, preparam campanhas
contribuam significativamente para a compreensão da sobre prevenção e diagnóstico do câncer de próstata, além
realidade singular masculina nos seus diversos contextos de levar informações sobre a prevenção e promoção aos
socioculturais e político-econômicos, respeitando os cuidados integrais com o cuidado da saúde masculina.
diferentes níveis de desenvolvimento e organização dos
sistemas locais de saúde e tipos de gestão de Estados e
Municípios.
Mariana Santana| PMSUS 5 18

Entre as informações estão, por exemplo, dicas para manter


alimentação saudável, evitar fumar e consumir bebicas
alcoólicas, além de praticar atividades físicas. São atos
simples que promoverm o bem-estar e ajudam a manter
mente e corpo em perfeito funcionamento, prevenindo
doenças.

Você também pode gostar