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PREPARO DO SOLO
2º EDIÇÃO
PROGRAMA OLERICULTURA
ORGÂNICA
PREPARO DO SOLO
SUPERVISÃO GERAL
Jair Kaczinski
Chefe da Divisão Técnica do SENAR-AR/SP
RESPONSÁVEL TÉCNICO
Marco Antonio de Oliveira
Divisão Técnica do SENAR-AR/SP
AUTORES
Eduardo Mendoza Rodriguez
Marcelo Fabiano Sambiase
Paulo Ricardo Bassul
COLABORADORES
Sindicato Rural de São Roque
REVISÃO GRAMATICAL
André Pomorski Lorente
DIAGRAMAÇÃO
Felipe Prado Bifulco
Diagramador do SENAR-AR/SP
Direitos Autorais: é proibida a reprodução total ou parcial desta cartilha, e por qualquer processo, sem a
expressa e prévia autorização do SENAR-AR/SP.
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................9
PREPARO DO SOLO...................................................................................................................................... 10
VI - PLANEJAR A ÁREA................................................................................................................................. 30
1. FAÇA O HISTÓRICO DA ÁREA......................................................................................................... 30
2. FAÇA O PLANO DE MANEJO ORGÂNICO PARA O PREPARO DO SOLO..................................... 30
ANOTAÇÕES...................................................................................................................................................46
O
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR-AR/SP, criado em 23
de dezembro de 1991, pela Lei n° 8.315, e regulamentado em 10 de junho de 1992,
como Entidade de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, teve
a Administração Regional do Estado de São Paulo criada em 21 de maio de 1993.
Acreditamos que esta cartilha, além de ser um recurso de fundamental importância para os
trabalhadores e produtores, será também, sem sombra de dúvida, um importante instrumento
para o sucesso da aprendizagem a que se propõe esta Instituição.
Agricultura orgânica é um sistema de produção integrado com a fauna e flora, que utiliza
insumos orgânicos, biológicos, recursos naturais de forma racional e que tem por objetivo
produzir alimentos, preservando o meio ambiente, as atividades biológicas do solo,
biodiversidade, logo promovendo o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida das
pessoas.
O solo é a base do cultivo orgânico, pois fornece os nutrientes necessários para o bom
desenvolvimento da planta, não sendo simplesmente um ponto para seu suporte.
A presente cartilha não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas descrever de forma
simples as operações necessárias para a capacitação do trabalhador rural, como a
importância do solo, a escolha e o planejamento da área, a retirada de amostra de solo
para análise e finalmente o preparo do solo para o plantio. Ainda, fornecer subsídios que
auxiliem este trabalhador a desenvolver seu senso crítico e de observação, preservando a
saúde e a segurança, praticando, assim, uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente
e obtendo um produto saudável.
No cultivo orgânico o preparo do solo é tarefa fundamental, pois o solo, além de dar
sustentação às raízes, também fornece água, ar e nutrientes indispensáveis para o
desenvolvimento das plantas.
Proporciona, também, condições para que a planta, através de seus esforços e interações
biológicas, consiga disponibilizar e assimilar os nutrientes vitais.
“Em solo compactado (à dir.) existem menos raízes e a água não se infiltra, deixando a
planta exposta a temperaturas de até 58ºC”.
Entre as raízes das plantas vasculares e os organismos do solo (algas, fungos, actinomicetos,
bactérias e animais) há uma troca ativa de materiais. Os restos vegetais que chegam ao solo
são decompostos e mineralizados e os produtos gasosos são liberados. Em ecossistemas
intactos os processos de mineralização e decomposição da matéria orgânica estão em total
equilíbrio.
FATORES QUE INFLUENCIAM A FERTILIDADE DO SOLO
Infiltração de água
Teor de matéria
orgânica
Vida ativa do solo
Estrutura
do solo
Capacidade de
retenção de água
Drenagem suficiente
Liberação de
nutrientes
Figura 5: Solo bem estruturado. Fonte: SENAR-AR/SP Figura 6: Solo bem estruturado. Fonte: SENAR-AR/SP
Diz respeito à textura do solo, que é definida pela distribuição de tamanho de partículas,
à estrutura do solo, que é definida pelo arranjamento das partículas em agregados, e à
porosidade do solo, que por sua vez é responsável por um conjunto de fenômenos e uma
série de mecanismos, tais como retenção e fluxo de ar e água.
Sua constituição em estado natural é de 45% de minerais (areia, silte e argila), 50% de ar
e água e de 2 a 5% de matéria orgânica.
A proporção destes minerais (areia, silte e argila) caracteriza a textura do solo, podendo
esta ser grossa ou arenosa, média ou areno-argilosa, fina ou argilosa.
A estrutura física do solo irá direcionar o manejo da área. O experimento descrito abaixo
identifica a classe textural do solo. Siga os passos abaixo.
Após assentada a terra, várias camadas diferentes devem aparecer, ficando embaixo a
areia grossa, areia fina, silte, argilas de partículas finas e em cima uma camada de matéria
orgânica.
Atenção!!!
Se houver menos de 15% de argila o solo será arenoso, com 20 a 40% de argila
será areno-argiloso, e com mais de 40% de argila será argiloso. A matéria orgânica
dificilmente passará de 5%.
Diz respeito a todas as formas de vida que habitam o solo: fungos, bactérias, vírus, vermes,
algas e outros seres, responsáveis pela decomposição da matéria orgânica e estabilidade
da fertilidade do solo.
MICROBIOLOGIA DO SOLO
Dizem respeito aos nutrientes que se encontram na água, na rocha de origem do solo e nas
atividades da macro e da microfauna.
Os macronutrientes são: Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca), Magnésio
(Mg) e Enxofre (S).
Os micronutrientes são: Ferro (Fe), Cobre (Cu), Zinco (Zn), Manganês (Mn), Molibdênio
(Mo), Boro (B), Cloro (Cl) e outros.
As raízes são capazes de absorver nutrientes pela interação com o organismo solo.
Para identificar a quantidade de nutrientes devemos enviar a amostra de solo para análise
em laboratório especializado.
Fonte: BURG, Ines C.& Mayer, Paulo H. Alternativas ecológicas para prevenção e controle de pragas e doenças. Francisco Beltrão, PR (2002).
Localização - proximidade do mercado consumidor, para evitar que o transporte dos produtos
onere os custos.
Face do terreno - a face noroeste voltada para o sol da manhã é a ideal, pois as hortaliças
são plantas de crescimento rápido e necessitam de 8 a 10 horas diárias de luz.
Histórico da área - é importante para saber se é viável o cultivo. Quais foram as culturas
anteriores, produtividade obtida, fertilizantes e produtos agrotóxicos já utilizados em período,
se já houve algum problema de doenças ou pragas na área, etc.
As amostras devem ser coletadas em pontos escolhidos ao acaso, em uma área homogênea.
A análise visa determinar o índice de acidez (pH) e a fertilidade do solo para as devidas
correções e fertilizações futuras.
As amostras podem ser coletadas utilizando-se enxada, pá reta, trado, enxadão ou cavadeira
de boca.
1.4. Retire uma fatia de solo de 3 centímetros, em uma das laterais da cova, com uso
de pá reta ou enxadão;
1.5. Coloque a fatia de solo em um balde de plástico limpo (uma amostra simples);
Atenção!!!
O número de amostras simples deve ser proporcional ao tamanho da área, sendo
recomendadas de 15 a 20 amostras simples por hectare.
A amostragem de cada área é formada com terra retirada de vários pontos, bem misturada,
para que seja representativa do trecho do terreno que se quer examinar.
1.8. Retire aproximadamente 200 gramas da mistura e coloque em saco plástico limpo;
Atenção!!!
As amostras são identificadas com o nome da propriedade, endereço completo,
cobertura vegetal existente, cultura a ser plantada e localização geográfica.
A desagregação do solo é a perda da aderência das partículas de areia, argila, silte e matéria
orgânica e da atividade microbiana.
2.1.4. Coloque o torrão em um balde com água, de forma a ficar totalmente imerso;
Atenção!!!
Se o torrão se dissolver rapidamente, o solo estará desagregado.
Se o torrão se dissolver lentamente, soltando bolhas de ar, o solo estará agregado.
O solo compactado tem certa resistência à penetração. Para medir essa resistência,
utilizamos um aparelho chamado penetrômetro, que pode ser de impacto ou estático.
O aparelho é feito em aço inoxidável e compõe-se de uma haste com 9,5 milímetros
de diâmetro, graduada numa extensão de 45 centímetros; acima, a haste continua sem
graduação.
Atenção!!!
A umidade do solo nos locais testados deve ser a mesma.
Caso não haja resistência a até 40 centímetros de profundidade, o solo não
apresenta o pé de grade.
Após interpretada a análise química do solo, avaliada a fertilidade do solo através das
plantas indicadoras que se apresentam no terreno, e verificado o grau de compactação do
solo, poderá ser levantado o histórico da área e elaborado o plano de manejo.
É o registro das atividades que devemos tomar quando queremos produzir de forma
orgânica. O plano também é uma ferramenta que ajuda o produtor na gestão das atividades
relacionadas ao uso do solo.
É a aplicação de gesso agrícola (sulfato de cálcio), para elevar os teores de cálcio e enxofre
em subsuperfície, mantendo o pH do solo e favorecendo o enraizamento das culturas nas
camadas mais profundas, podendo ser aplicado de forma manual ou mecânica conforme
a recomendação técnica.
É a aplicação de fosfato em solos nos quais a fixação do nutriente fósforo é baixa, visando
estimular a atividade biológica do solo e desenvolvimento radicular, podendo ser aplicado
de forma manual ou mecânica conforme a recomendação técnica.
O plantio pode ser aplicado de forma manual ou mecânica conforme a recomendação técnica.
É a substituição de uma cultura por outra ou por produção de biomassa, a cada safra. Esse
manejo é realizado para dar descanso ao solo e dificultar a proliferação de pragas e doenças
comuns a uma cultura, mas não a outra. Para maior eficiência, as rotações devem ser feitas
com plantas de famílias diferentes e que sejam boas sucessoras, como as gramíneas e as
leguminosas. No caso da rotação com biomassa, devemos deixar que se manifestem as
ervas espontâneas.
O vento é um dos agentes de erosão do solo. Para minimizar sua ação utilizam-se quebra-
ventos, sem no entanto interromper a ventilação, podendo fornecer proteção (zona de
calmaria) à cultura, a uma distância proporcional de 10 a 20 vezes a sua altura.
Os quebra-ventos são constituídos por fileiras de árvores e arbustos que podem ter largura
e espaçamentos variáveis e multiestratificados, ou seja, com três fileiras de árvores de
diferentes alturas. A primeira fileira é constituída por um arbusto, que pode ser de espécies
leguminosas. A segunda fileira pode ser formada por árvores frutíferas de porte baixo. A
terceira fileira pode ter árvores maiores, nativas ou exóticas.
Os quebra-ventos também podem ser feitos com uma única fileira de árvores ou arbustos.
Capim Napier ou plantas utilizadas para a adubação verde, como guandú, crotalária, tefrósia,
entre outras, também podem ser utilizadas como quebra-ventos, devendo estar de acordo
com cada cultura.
Os quebra-ventos devem ter uma permeabilidade de 40% a 50%, ou seja, que 40% a 50%
do vento passem através da barreira de árvores e o restante passe por cima da copa das
árvores, devendo estar a uma distância suficiente para evitar o sombreamento excessivo
das culturas.
Consorciação de culturas
Consiste em cobrir o solo com diferentes materiais, para protegê-lo do sol forte, das chuvas,
para reter a umidade natural, manter a temperatura mais amena, facilitar a infiltração de água
no solo, diminuir a erosão e a perda de nutrientes e, por meio da decomposição da matéria
orgânica, disponibilizar mais nutrientes. Ainda, contribui para a manutenção da estrutura e
atividade biológica do solo.
São as ações de manejo que antecedem o plantio e têm por finalidade deixar o solo em
condições favoráveis para o plantio, a germinação e o desenvolvimento da planta.
A subsolagem é uma prática agrícola cujo único objetivo é soltar as camadas compactadas
do solo, abaixo daquela considerada arável (20 a 25 centímetros), alcançando a profundidade
de trabalho de pelo menos 30 a 35 centímetros. Os implementos especiais empregados
são os subsoladores.
Atenção!
Esta prática deve ser utilizada somente quando o solo apresentar pé de grade.
Esta operação deve ser feita em solos secos, para conseguir o rompimento lateral do solo.
2. FERTILIZE O SOLO
A adubação verde recupera solos degradados por meio de uma grande produção de raízes,
protege os solos das chuvas intensas, minimiza a erosão, aumenta a capacidade de retenção
de água e de fixação de determinados nutrientes no solo, conforme tabelas abaixo.
O coquetel consiste em misturar espécies de plantas de várias famílias, para obter a maior
diversidade possível, o que, pela ação de suas raízes, recupera nutrientes das camadas
profundas do solo, vivifica, agrega e descompacta o solo.
41
42
MASSA N FIXADO NITROGÊNIO FÓSFORO POTÁSSIO CÁLCIO MAGNÉSIO ENXOFRE
NOME NOME (N) (P) (K) (Ca) (Mg) (S)
SECA POR ANO
COMUM CIENTÍFICO
T/ha Kg/ha g Kg de MS
Brachiaria
Braquiária 4 – 20 --- 12 – 20 0,8 – 3,0 12 – 25 2–6 1,5 – 4,0 0,8 – 2,5
decumbens
Crotalária Crotalaria
3–5 67 32,9 1,4 28,4 9,1 2,5 ---
breviflora breviflora
Crotalária 10 –
Crotalaria juncea 150 a 450 11,3 – 44,0 0,9 – 3,7 5,7 – 33,7 3,3 – 23,1 2,5 – 8,0 1,2 – 2,7
júncea 17,6
Crotalária
Crotalaria paulina 5,4 – 15 100 a 170 12,4 – 14,8 0,9 – 1,1 4,2 – 9,5 6,3 – 8,0 2,4 – 4,1 0,8 ´- 3,6
paulina
Crotalária Crotalaria
4 – 14,9 60 a 120 19,7 – 33,0 0,7 – 2,5 7,9 – 17,8 4,3 – 18,5 3,7- 5,0 1,5 – 1,6
espectábilis spectabilis
Feijão de Canavalia
3,4 – 8 49 a 190 22,2 – 33,9 1,2 – 5,7 11,1 – 56,2 16,4 – 25,8 2,4 – 6,3 1,1 – 2,0
porco ensifomis
Feijão bravo Canavalia
wightil
Sorgo Sorghum bicolor 10 – 20 --- 5,0 -11,0 1,0 – 3,0 14,0 – 22,0 3,0 – 4,0 2,5 – 5,0 0,1 – 0,2
2.2.1. Adquira as sementes;
Atenção!!!
Coloque as sementes maiores em primeiro lugar.
Atenção!!!
Em períodos de estiagem se faz necessário irrigar o cultivo.
O ponto ideal de roçada do coquetel será quando a espécie predominante florescer.
“Quando insetos invadem seu campo, eles somente vêm como mensageiros do Céu para
avisar-lhe que seu solo está doente”.
EYHOM, F.; HEEB, M; WEIDMANN, G. IFOAM, training manual for organic agriculture
in the tropics. FiBl, 2002. 195 p.
JANICK, J. A Ciência da Horticultura. 2. ed. São Paulo: Livraria Freitas Bastos, 1969.
VIEIRA, L. S. Manual de Ciência do Solo. São Paulo: Ed. Agro Ceres, 1975. 464 p.