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INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS

CAMPUS OURO PRETO


CURSO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO
DISCIPLINA: OS AFRICANOS E AFROBRASILEIROS NA CONSTRUÇÃO DO BRASIL (SÉC XVI – XIX)
PROF: FABIANO GOMES DA SILVA
ALUNA: MAIRA MENDES FERREIRA

Texto

THORNTON, J. “O desenvolvimento do comércio entre europeus e africanos”. In: A África e os


africanos na formação do mundo moderno, cap. 2, p. 87 – 121. Rio de Janeiro, Editora Elsevier,
2004.

Apresentarei neste texto, um resumo sobre o que foi tratado no capítulo 2 no livro “A
África e os africanos na formação do mundo moderno, de John Thornton. O capítulo irá tratar
do desenvolvimento do comércio entre os europeus e africanos. Primeiramente, antes de entrar
no assunto propriamente dito, é importante fazer algumas reflexões a respeito do
desenvolvimento comercial africano, tais como: qual o papel à economia africana frente ao
comércio do Atlântico? E qual a visão dos especialistas sobre o comercio da África Atlântica?
Esses questionamentos são importantes de serem trazidos, pois muitos especialistas, como
Walter Rodney, ainda defendem a teoria de que as relações comerciais entre a África Atlântica
e a Europa foi o primeiro e decisivo passo para o atraso da África (THORNTON, p. 88). Rodney
reforça essa teoria considerando que a África já se encontrava num “nível inferior de
desenvolvimento econômico em relação à Europa”. Outro defensor dessa teoria é Ralph Austen,
que, de forma mais conservadora, considerava que o comércio com a Europa levou a África a
uma grande marginalidade econômica.

Exposto isso, Thornton desenvolve o capítulo apontando as teorias dos especialistas de


forma crítica, pois, segundo o mesmo, “para compreender o papel da economia da África no
comercio do Atlântico, é preciso examinar duas questões inter-relacionadas, ambas oriundas de
trabalhos acadêmicos que veem a África como associados comerciais subalternos e
dependentes.” As questões citadas dizem respeito à premissa da baixa qualidade de produtos
manufaturados produzidas pelos africanos e a submissão destes frente à dominação comercial
europeia. Diante disso, ele defende que “o comercio não se desenvolveu para atender às
carências da África ou mesmo para suprir uma produção deficiente ou problemas de qualidade
dos produtos africanos manufaturados.” Na verdade, percebe-se que é uma questão muito mais
complexa, que envolve uma análise mais minuciosa sobre o contexto do comércio interno dos
países africanos. É estudando esse contexto que se percebe que a África como um todo já
possuía um comércio bem desenvolvido, principalmente no que diz respeito à produção de
algumas mercadorias essenciais, como metais e tecidos.

O autor segue sua linha de raciocínio dividindo o capítulo em quatro partes que irão
tratar de forma linear essa discussão, a fim de que se compreenda a complexidade do contexto
africano de forma mais minuciosa. A primeira parte diz respeito à indústria e os termos
comerciais. Thornton escreve neste tópico que os produtos importados da Europa pela África
não eram os chamados produtos essenciais (tecidos, metais, entre outros utilitários), e que sua
importação deveu-se mais a “uma relação de comodismo africano e um medida de extensão do
seu mercado doméstico”, já que a África “contava com industrias bem desenvolvidas que
produziam esses mesmo produtos”. Já sabendo disso, começa-se a perceber que as relações
comerciais com a Europa tinham uma outra função, que não estava relacionada à dependência.
Esta função era de manter uma parceria comercial com os países europeus através da relação
de importação / exportação de produtos africanos e europeus, já que a África tambem
exportava produtos de excelentíssima qualidade para Europa, como por exemplo o marfim e os
famosos tecidos de Alá.

Visto isso, segue-se ao tópico que trata sobre o mercado e o estado no comércio do
Atlântico. Nesta segunda parte, o autor já descreve a participação do estado nas relações
comerciais, principalmente como eram organizadas as estratégias comerciais. Ele ressalta que
“o exame da dimensão organizacional do comercio africano com a Europa revela que ele era o
reflexo do comércio da Europa com a África.” Ou seja, tanto um como o outro tinham uma forma
de organização estruturada e independente que de alguma forma seguia uma série de normas
estabelecidas pelos grupos comerciais afim de que pudesse ter um certo controle nas
negociações. Esse apontamento rompe com o que Rodney defende, ao dizer que a África foi
saqueada pela Europa.

Seguindo essa linha de raciocínio, o terceiro tópico irá tratar sobre o monopólio e
competição no comércio do Atlântico. Nesse tópico, John Thornton descreve se a causa possível
do declínio das relações comerciais entre África e Europa apontavam a existência de “ uma
tentativa subjacente de obter o monopólio por parte da Europa em face das parcerias comerciais
africanas”. O desenrolar dessa questão se esclarece através das pesquisas de Pacheco Pereira,
que percebe a tentativa de um controle por parte da Coroa portuguesa, mas que logo fracassa
devido aos complexos trâmites internos no continente africano que logo foram percebidos, visto
que as intenções da África tambem eram as mesmas frente aos europeus. Pode-se dizer que
este monopólio teve algum sucesso, mas por pouco tempo, já que foram diversos grupos, os
quais eram formados pelo próprio estado ou grupos de companhias de comerciantes
independentes, mas que tinham uma ligação com a coroa, de certa forma. Eles foram
responsáveis pelo povoamento do interior da África, provocando a formação de novos núcleos.

O ultimo tópico, que trata sobre os estados africanos e o comercio, descreve em linhas
grais que nenhum estado africano realmente dominou o comercio de qualquer parte da Costa
da África, e constata que a soberania africana estava de certa forma fragmentada. Mesmo diante
disso, é notório reconhecer que a África tinha uma barreira estatal frente às negociações com
os estrangeiros através dos “obstáculos legais e técnicos entre os mercadores europeus e
compradores africanos”. Os diversos estados africanos eram livres e autônomos o suficiente
para iniciar ou cessar o comercio com a Europa, o que pode acarretou um risco, pois a falta de
uma união entre os estados acabou desestabilizando o controle de algumas regiões tidas como
mais vulneráveis. Conclui-se o capítulo destacando que os verdadeiros atores responsáveis pela
desfragmentação e desestabilização do comércio africano foram os comerciantes particulares,
que aos poucos foram adentrando no interior do continente, fazendo transações e criando
algumas rivalidades militares e políticas no sistema estatal. Portanto, não houve, de fato, uma
história de monopolização, submissão ou saqueamento por parte dos Europeus, mas sim uma
série de acontecimentos bem complexos que, ao longo do tempo, permitiram com que boa
parte dos estados africanos do interior fosse perdendo poder frente às invasões e rivalidades
por parte dos mercadores particulares.

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