Você está na página 1de 2

METODOLOGIA DA PESQUISA II

Cristian da Cruz Chiabotto

Escolhas Metodológicas
Pesquisar, nas orientações da ciência moderna-ocidental, é ação que pressupõe
caminhos a serem percorridos em busca de um certo saber a ser desvelado em um campo
ainda estranho ao investigador. O pesquisador nesta perspectiva, é sujeito neutro, aproxima-
se de seu objeto de pesquisa como uma lupa, mantendo distância e buscando ali algum tipo
de verdade verificável por aquilo que convém chamar de método. O método aqui, é antes de
tudo, uma prescrição que possibilitaria sistematizar os caminhos da pesquisa de modo
previsível e objetificável. No avesso destas concepções, esta pesquisa situa-se em uma escrita
feita em primeira pessoa, abrindo espaço aos afetos, experiências e narrativas do
pesquisador, compreendendo-os como vetores de implicação do e no pesquisar. Tendo
percorrido os caminhos da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial nos últimos anos,
como trabalhador e militante, experimentei a potência do fazer-com, dos agenciamentos
coletivos na invenção de uma clínica ética, política e estética. Pesquisar neste sentido, é verbo
que se conjuga junto, produzindo bifurcações para uma metodologia possível, um fazer
inventivo, uma outra ciência.
Trago comigo muitas ins(pirações), dentre elas o método cartográfico, a análise
institucional, a teoria decolonial, as epistemologias do Sul, os fazeres artísticos e inventivos
de experiências de produção de saúde mental no cotidiano da Reforma Psiquiátrica, as rodas
de conversa vividas no CAPS, a tenda do afeto popular da Parada Gaúcha do Orgulho Louco,
o caldo lourenciano do Mental Tchê, as idas e vindas no metrô que me conduz ao trabalho
diário na atenção psicossocial no SUS. Todas estas inserções, múltiplos caminhos, se cruzam
e convergem na defesa do cuidado em liberdade e de políticas públicas de saúde mental que
corporifiquem uma escuta comprometida com a eliminação das opressões que adoecem o
psiquismo, nos interessa aqui, nomear os sistemas opressivos e seus efeitos no campo da
Reforma Psiquiátrica. Tomado pelas contribuições de bell hooks (2019) sobre a história feita
a mão por mulheres negras na transmissão de suas heranças estéticas, situo o percurso
metodológico desta pesquisa, como o tecer de uma colcha de retalhos cujo o costurar é um
processo íntimo, artesanal e interpelado por pausas, recomeços e criação de um manto
afetivo que ao fim, aquece e produz memórias coletivas.
O método cartográfico é uma das linhas de costura desta grande colcha do pesquisar.
Aliado à pista de que cartografar é acompanhar processos (BARROS & KASTRUP, 2015), a
pesquisa acontece em um plano de forças moventes, onde os modos de subjetivação em
curso são experenciados pelo pesquisador e o coletivo, que juntos dissolvem a oposição
binária entre sujeito e objeto, do modo moderno-colonial de fazer ciência. Essa aproximação
e composição de afetos entre os atores da pesquisa, torna possível esquadrinhar o diagrama
de produção de subjetividade e os territórios existenciais que compõem aquilo que se
pretende conhecer em campo. A atitude de conhecer, aliás, não se trata de uma posição sobre
o plano da pesquisa, e sim de fazer juntos.
A cartografia alia-se à pesquisa-intervenção em uma proposição de que o saber
emerge do fazer, e, portanto, a experiência de investigar ao abrir mão das suposições
anteriores ao campo (metà), apoia-se no caminho trilhado (hódos) como bússola da pesquisa
(PASSOS & BARROS, 2015). Intervir, é verbo de ação que só se faz possível no coletivo
implicado com os problemas do plano da pesquisa.

Você também pode gostar