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Resumo Abstract
Este artigo descreve o comportamento quase-estático e dinâmico This paper discusses the quasi-static and dynamic behaviour of
da ponte 516 de Arouca usando modelos teóricos, analíticos e the 516 Arouca Bridge using theoretical, analytical, and numerical
numéricos. Os modelos teóricos incluem aproximações lineares e models. The theoretical models include linear and non-linear
não-lineares do comportamento dos cabos, que permitiram estimar approximations for the behaviour of the cables, which allowed to
o comportamento estático, a posição inicial e a força de tração dos predict the static behaviour, initial position, and the puling force
cabos principais da ponte. Os cabos principais comportam-se como of the main bridge cables. The main cables worked as suspended
cabos suspensos com massa equivalente dada pelo seu próprio peso cables with an equivalent mass given by their own weight and the
e a massa suspensa dos cabos secundários. A força de tração no cabo suspended mass of the secondary cables. The pulling force in the
varia entre 781,9 kN, no meio do vão, e 848,1 kN, nas extremidades. cable varies from 781,9 kN at the centre of the bridge span, up to
As formas teóricas dos modos de vibração, assim como as frequências 848,1 kN at the extremities.
naturais, foram obtidas a partir das equações de equilíbrio da ponte. The theoretical shapes of the vibration modes as well as the
Foi, ainda, desenvolvido um modelo numérico de elementos finitos, natural frequencies were obtained from the equilibrium equations
que permitiu a identificação das formas modais. of the bridge. Furthermore, a finite element numerical model was
Os resultados analíticos e numéricos foram comparados com developed that allowed for the identification of its modal shapes.
os obtidos através de uma campanha experimental in situ. A The analytical and numerical results were compared to those
concordância entre todas as soluções analíticas, numéricas e obtained from the in-situ experimental campaign. The agreement
experimentais foi considerada muito boa. between the analytical, numerical, and experimental data was very
good.
Palavras-chave: Pontes pedonais de grande vão / Comportamento estático e Keywords: Big span footbridges / Static and dynamic behaviour / Cable structures /
dinâmico / Estruturas de cabos / Análise não-linear de pontes / Nonlinear analysis of footbridges
(pendurais) que suportam 127 módulos metálicos. Os módulos 3.1 Análise linear
estão conectados entre si nas suas extremidades, no mesmo nó
onde os pendurais estão ligados. Esta subseção apresenta dois métodos de análise simplificados para
definir a configuração geométrica inicial da ponte (análise estática),
as frequências próprias e os modos associados (análise dinâmica).
Nestes modelos foi assumido um comportamento linear dos cabos
principais suspensos. A tensão nos cabos principais foi considerada
constante ao longo dos mesmos e a deformação axial foi desprezada.
secundário se fixa ao cabo principal (ui). Nesta fase, foi considerado o modelo ilustrado na Figura 2. Os deslocamentos dinâmicos são
que as massas estão impedidas de ter um comportamento pendular. agora definidos como as oscilações da massa na extremidade da
Como o comprimento de cada segmento do cabo é constante mola ( Ui ) , e da base da mola, onde a massa é concentrada no
(mld = mldi), o equilíbrio estático de equações pode ser escrito de segmento de cabo (ui ) em torno da posição de equilíbrio estático.
acordo com o seguinte: As equações de equilíbrio dinâmico, em vibração livre e desprezando
−( mld )g + k ( −ui −1 + 2ui − ui +1 ) − Ki ( Ui − ui ) = 0
o amortecimento, podem ser descritas da seguinte forma:
(1)
−(Mi + mcli )g + Ki ( Ui − ui ) = 0 ui + k ( −ui −1 + 2ui − ui +1 ) − Ki ( Ui − ui ) = 0
mld
(3)
com u(0) = u(l) = 0; M1 = Mn = M /4; Mi = M (para i ≠ 1 e i ≠ n) Ki = EA ( Mi + mcli )Ui + Ki ( Ui − ui ) = 0
Cli
(onde Cli é o comprimento do cabo secundário); mcli = mcl Cli é a E podem ser escritas na forma matricial:
massa de cada cabo secundário; e g é a aceleração gravítica. A força
u +Ku = 0
M (4)
meq gl2
de tração T é estimada através da relação T = . A massa
8d sag onde M é a matriz massa,
equivalente meq combina o peso do cabo principal e o peso dos
módulos suspensos pelos cabos secundários (não incluindo o peso mld
dos cabos secundários) por unidade de comprimento, e l é o vão da mld
ponte.
...
Assim, a equação (1) pode ser escrita na forma matricial após a mld
introdução das condições de fronteira: M=
M1 + mcl1
Ku = m g (2) M2 + mcl2
com ...
Mn + mcln
uT = [ u1 u2 un U1 U2 Un ]
T
mT = [ mld mld mld M1 + mcl 1 M2 + mcl 2 Mn + mcln ] e u = u1 u2 un U1 U2 Un .
Wl W W
sinh
2HL 2EA = 2H
− (16)
0 0
Na presença de N massas discretas suspensas (carga), a forma do
Figura 3 Forças às quais um segmento do cabo é submetido na cabo será uma catenária descontínua com alterações na inclinação
sua posição de equilíbrio (adaptado de [7]) em cada ponto de massa.
1
δ = β φ − + χ 2 + φ 2 − χ 2 + (φ − ϑN − 1)
2
2
N
(22)
+ ∑ βψ i (σ i − 1) + χ 2 + (φ − ϑi − σ i ) − χ 2 + (φ − ϑi −1 − σ i )
2 2
i =0
onde Aj é a amplitude, e j = 1, 2, ….
Na presença de modos simétricos no plano, a tensão adicional do
cabo é induzida, Th = Theιωt , que é considerada constante ao longo
do vão [5]. Após a manipulação matemática da Equação (24) e
impondo as condições de fronteira nulas, obtém-se a seguinte
equação: a)
TH u ( x ) Th TH ω x x
= 1.0 − tan sin ω − cos ω (29)
meq gl2 ω2 2 l l
ωl
onde ω =
TH
meq
Usando a Equação (26) para eliminar Th TH , a seguinte equação
transcendental é obtida [4]:
3
ω ω 4.0 ω
tan = − 2 (30)
2 2 λ 2 b)
(20-22). As Figuras 5a e 5b ilustram a posição e a força de tração nestes 3 pontos, segundo as mesmas premissas.
do cabo principal. A flecha do cabo principal obtida na análise não O modelo da ponte foi analisado em duas etapas, considerando que
linear, dsag = 53,56 m, é semelhante à obtida pelo modelo linear os fenómenos de aumento de rigidez por tração têm uma grande
(dsag = 53,50 m), e ao valor medido na ponte após a construção contribuição para sua rigidez global: 1) uma análise não-linear para
(dsag = 53,72 m). A força de tração no cabo passa de 848,1 kN nas determinar a forma e o estado de tensão da estrutura; 2) uma análise
extremidades do cabo para 781,9 kN no meio vão, superior ao modal usando o estado de tensão no final da etapa 1. Após definição
estimado na análise linear (T = 780,2 kN). da estrutura não deformada, dos comprimentos finais das catenárias
sobre o carregamento de peso próprio e dos níveis de pré-tensão dos
cabos suspensos, foi realizada uma análise geométrica não-linear de
4 Análise numérica grandes deslocamentos usando o método Newton-Raphson. Além
Foi desenvolvido um modelo numérico de elementos finitos através de determinar a forma final da ponte em condições de peso próprio
do software Autodesk® Robot Structural Analysis Professional [6], e impostas, esta análise permite guardar as matrizes de rigidez total
para realizar uma análise modal considerando como estado de e massa no final do processo iterativo. A matriz de rigidez resultante,
tensão inicial o obtido após a análise estática. também chamada de matriz de rigidez secante, é então usada como
entrada para a análise modal e tida em conta a rigidez geométrica
extra decorrente dos elementos tracionados.
5 Resultados
5.1 Resposta da ponte devido a carga quase-estática
O modelo não-linear foi usado para calcular os deslocamentos
obtidos quando um grupo de 34 pessoas atravessou a ponte, no
âmbito dos testes experimentais. As cargas geradas pelo grupo de
voluntários foram consideradas como massas discretas suspensas
Figura 6 Detalhe do modelo numérico (adaptado de [7]) nos cabos principais. Após a manipulação matemática das Equações
Os elementos que formam o tabuleiro foram modelados com (21) e (22) os deslocamentos foram determinados. Na Figura 7, a
elementos de viga Euler-Bernoulli de 12DOF, enquanto que os cabos título de exemplo, apresentam-se os deslocamentos determinados
foram modelados com elementos de cabo (somente tração, 6DOF). segundo X (direção longitudinal), Y (direção vertical) e Z (direção
Para aplicação de carga, foram adicionados três nós nas extremidades transversal), respetivamente, para a posição de meio vão da ponte.
de cada módulo definidos por L, C e R. Estes correspondem ao centro A figura incluiu também deslocamentos registados pelas antenas
de massa teórico dos corpos humanos para cargas concêntricas e GNSS durante um dos testes realizados.
excêntricas acoplados ao centro de massa do módulo (ver Figura Como esperado, o deslocamento transversal é quase zero, dado que
6). Todas as cargas são aplicadas nos pontos acima mencionados. a velocidade do vento era mínima (abaixo de 3,0 m/s), e as pessoas
As cargas decorrentes do peso próprio e da ação do vento foram caminhavam a um ritmo lento. A concordância entre a solução
modeladas como cargas concentradas no ponto C. As cargas analítica e os resultados experimentais é muito boa. Como pode ser
decorrentes da atividade humana foram modeladas em qualquer observado, os módulos da ponte tiveram um deslocamento máximo
um dos 3 pontos, dependendo do caso de carga em estudo. As no eixo Y de 0,62 m e um deslocamento máximo no eixo X de
massas utilizadas na análise modal foram modeladas igualmente 0,15 m.
Figura 7 Deslocamentos experimentais registados com as antenas GNSS e os resultados analíticos calculados a meio
vão da ponte, causados pela ação do grupo a caminhar com uma velocidade de 0,5 m/s (adaptado de [7])
5.2 Identificação modal principais da ponte. Os cabos principais comportam-se como cabos
suspensos com massa equivalente dada pelo seu próprio peso e a
As frequências naturais e os fatores de amortecimento foram massa suspensa pelos cabos secundários. A força de tração no cabo
identificados a partir da resposta estrutural devido à ação do varia de 781,9 kN no meio do vão até 848,1 kN nas extremidades,
vento. A Tabela 1 apresenta as frequências naturais e os fatores sob ação do seu peso próprio. As frequências naturais foram obtidas
de amortecimento modal (ξ) associadas aos primeiros modos de a partir das equações de equilíbrio da ponte utilizando modelos
vibração (no plano e fora do plano). A análise destes resultados analíticos e numéricos.
permite concluir que as frequências naturais estimadas em fase
Os testes realizados in situ permitiram avaliar o comportamento
de projeto/dimensionamento através dos modelos analíticos e
da estrutura da ponte 516 de Arouca sob carga de serviço e validar
numéricos são próximas das obtidas experimentalmente [7].
os pressupostos utilizados em fase de projeto/dimensionamento.
Tabela 1 Resumo dos modos no plano e fora do plano e Neste âmbito, a ponte foi submetida a cargas quase-estáticas e
das frequências naturais estimadas (resultado dos dinâmicas para diferentes configurações de sobrecarga. A análise
modelos analíticos lineares e não lineares e obtidos dos registos obtidos permitiu: i) validar os resultados numéricos e os
experimentalmente, fExp) e os coeficientes de modelos analíticos utilizados para prever os movimentos estáticos;
amortecimento modal medidos ξ. Os erros absolutos e ii) validar os modelos numéricos e analíticos usados para prever
relativos em relação aos resultados experimentais o comportamento dinâmico da ponte, essencialmente através da
também são incluídos entre parênteses (adaptado de [7]) avaliação das frequências naturais de vibração.
Modelo Modelo
fExp ξ fFE Identificação
[Hz] [%]
linear não-linear
[Hz] do modos
Agradecimentos
[Hz] [Hz]
Os autores gostariam de agradecer o apoio prestado pela Câmara
0,076 0,116 Municipal de Arouca, com especial agradecimento à Presidente,
0,113 1,45 – Fora do plano
(32,7%) (2,7%) Margarida Belém, e à Engenheira Conceição Oliveira; à empresa
MEO – Serviços de Comunicações e Multimédia, S.A. e Geoide
0,151 0,135 Geosystems S.A., pela ligação à Internet e dados das antenas
0,131 1,65 – Fora do plano
(15,3%) (3,1%)
GNSS, respetivamente, e ao Prof. Eduardo Kausel do MIT pela
0,151 0,151 0,157 sua ajuda na definição dos modelos analíticos. Por fim, os autores
0,147 1,05 No plano gostariam também de agradecer o apoio financeiro fornecido pelo
(2,7%) (2,7%) (6,8%)
Ministério da Ciência, Inovação e Universidades da Espanha
0,227 0,205 (PID2019-109622RB-C21).
0,196 1,48 – Fora do plano
(15,8%) (4,6%)
0,214 0,70
0,226 0,214 0,249
No plano Referências
(5,6%) (0,0%) (16,4%)
[1] Van Nimmen, K.; Lombaert, G.; De Roeck, G.; Van den Broeck, P. –
0,303 0,221 “Vibration serviceability of footbridges: Evaluation of the current
0,214 0,84 – Fora do plano
(41,6%) (3,3%) codes of practice,” Eng. Struct., vol. 59, no. 0, pp. 448-461, 2014,
doi: 10.1016/j.engstruct.2013.11.006.
0,378 0,267
0,257 1,65 – Fora do plano [2] Dallard, P. et al. – “The London Millennium Bridge,” Struct. Eng., vol. 79,
(47,1%) (3,9%)
no. 22, pp. 17-33, 2001.
0,454 0,311 [3] Kausel, E. – Advanced Structural Dynamics. Cambridge University
0,293 0,91 – Fora do plano
(54,4%) (6,1%) Press, 2017.
[4] Irvine, H.M. – Cable structures. MIT, 1981.
[5] Luongo, A.; Rega, G.; Vestroni,F. – “Planar non-linear free vibrations of
an elastic cable,” Int. J. Non. Linear. Mech., vol. 19, no. 1, pp. 39-52,
6 Conclusões Jan. 1984, doi: 10.1016/0020-7462(84)90017-9.
Este artigo descreve a abordagem utilizada para estudar o [6] Autodesk – “Autodesk Robot Structural Analysis Professional.” 2020.
comportamento quase-estático e dinâmico da ponte 516 de [7] Tadeu, A. et al. – “Theoretical and experimental analysis of the
Arouca, usando modelos teóricos, analíticos e numéricos. Os quasi-static and dynamic behaviour of the world’s longest suspension
modelos teóricos incluem aproximações lineares e não-lineares footbridge in 2020,” Eng. Struct., vol. 253, p. 113830, Feb. 2022,
do comportamento dos cabos, que permitiram estimar o doi: 10.1016/j.engstruct.2021.113830.
comportamento estático, posição inicial e força de tração dos cabos