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professores acompanha também essas comunhões e dissidências de
pensamento, desde o Despacho Normativo nº 32/84, de 9 de Fevereiro, até ao
Decreto-Lei nº 79/2014, de 14 de Maio. Analisei em pormenor esta história
legislativa complexa em “A (in)definição de uma filosofia curricular na legislação
sobre formação de professores de línguas nos últimos 30 anos” 1, pelo que agora
me dispenso de repetir o que aí descrevo como uma história que contribuiu,
negativamente, para muitos cenários negros da carreira profissional dos
professores e dos cursos que se desenharam para o efeito no espaço do Ensino
Superior.
Hoje, a NOVA FCSH tem 10 mestrados de ensino para a formação que
conhecemos ainda como inicial, e vários outros cursos pós-graduados na área
educativa, que apontam para a formação contínua de professores: um mestrado
em Educação, um e-mestrado em Didáctica do Inglês, um Doutoramento em
Educação e um Doutoramento em Didáctica das Línguas; tem também renovado o
equilíbrio entre a docência e a investigação em educação, sobretudo com a criação
de um grupo de investigação no âmbito do CICS.NOVA, liderado por David Justino,
a que podemos acrescentar outros grupos específicos como o TEALS do CETAPS,
que eu próprio coordeno, dedicado ao ensino do Inglês e outras línguas aplicadas.
Destaco ainda o facto de vários destes cursos serem em associação com outras
instituições de Ensino Superior, porque sempre entendemos que a formação de
professores se faz com a partilha de experiências e de saberes transversais que
vão muito para além de uma única instituição.
Esta intensa actividade apenas carece de uma maior coesão interna em
termos de organização e gestão: em vez de estar disseminada por vários
departamentos, se a NOVA FCSH caminhar para uma outra forma de organização
interna, podia e devia estar concentrada numa escola ou grande área da educação.
Não escrevo “ciências da educação” de propósito, porque esse sempre foi um
grande equívoco da nossa história, que inclui as instituições de poder como o
próprio MEC, a FCT ou a A3ES: o campo da educação inclui as ciências da educação,
mas não é a sua única forma de realização; as ciências da educação e a formação
de professores partilham muitas afinidades científicas e práticas pedagógicas,
mas não se esgotam em si mesmas; a formação de professores é transversal a
todos os saberes e áreas científicas e pertence ao grande campo da educação.
Infelizmente, desde os painéis de avaliação da FCT até aos da A3ES, desde a
criação de departamentos em diversas universidades até aos programas
editoriais, a história dos últimos 30 anos tratou a formação de professores como
uma espécie de subdisciplina das ciências da educação. Explicar este erro foi
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In Que Alguém Somos? - O Ensino de Línguas Estrangeiras em Portugal, 2017. E-book, Escryptos,
ISBN: 9789899534728; edição ne varietur: Obras Completas de Carlos Ceia, vol. 14, CreateSpace
Independent Publishing Platform, ISBN-13: 978-1981787425; ISBN-10: 1981787429, 2017.
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sempre um enorme desafio não só na NOVA FCSH como no campo de debate sobre
educação.
Temos hoje um quadro favorável a um desenvolvimento sustentado da
formação de professores na NOVA FCSH. Como sempre fizemos, mesmo na
década de 1990 quando se multiplicavam as vagas sem qualquer critério em outras
instituições, aqui nunca aceitámos formar professores como uma produção
industrial em massa. Sempre controlámos muito bem a limitação da oferta,
porque a excelência da formação foi e continua a ser o nosso paradigma
institucional. Nunca foi fácil fazer prevalecer essa opção, quer no quadro interno
da NOVA FCSH quer no quadro das avaliações externas da A3ES, porque é um
caminho que obriga a uma selecção mais rigorosa dos candidatos e à manutenção
dos cursos mesmo em épocas cíclicas de retracção da procura.
No primeiro caso, o da selecção dos candidatos, evoluímos à medida que
fomos aprendendo com os erros próprios e com as limitações legais que não
podem responder à especificidade da formação inicial e ao perfil dos seus
candidatos: gradualmente, temos revisto o regulamento interno, adaptando-o às
idiossincrasias das nossas experiências e dos perfis e acções mais
problemáticos de alguns candidatos. Introduzimos hoje um processo de admissão
mais rígido, que inclui uma entrevista e uma pequena simulação de aula, com o
objectivo de detectar o mais precocemente possível eventuais casos de falta de
vocação para a profissão docente, podendo assim recusar candidatos que
revelem de forma evidente que são incapazes de transmitir conhecimentos,
comunicar em público, relacionar-se com os outros ou manter uma postura
pedagógica adequada à profissão. É ainda um teste falível, mas representa um
passo no sentido antecipar, tanto quanto possível, casos de evidente inaptidão que
no passado não conseguíamos evitar por o concurso ser fundamentalmente
documental.
No segundo caso, a manutenção dos mestrados de ensino mesmo em
épocas cíclicas de retracção de candidatos, por razões várias, desde a pressão
social e política que desvaloriza a profissão docente até às regras internas de
gestão mais contida dos custos destes cursos, tem sido uma insistência cuja
responsabilidade assumo, porque acreditei sempre, e continuo a acreditar, que
devemos manter um fluxo de formação a funcionar com os candidatos que dão
provas de pretender seguir esta profissão.
Em tempos de retracção da procura da formação inicial de professores,
podemos ter a quase certeza de que quem procura adquirir habilitação
profissional para a docência é porque está convictamente motivado para este
percurso e temos, assim, o dever institucional de acolher tais candidatos e de lhes
dar a melhor formação possível. Não compete à instituição de ensino superior
decidir sobre a necessidade de formar mais ou menos professores. Essa é uma
prorrogativa das instituições governativas; às universidades e politécnicos
compete oferecer a formação a quem a procura. Este princípio simples não nos
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impede de acompanhar as flutuações do mercado, as variações das políticas
educativas e outros factores externos, por exemplo, reflectir sobre as condições
que podem conduzir a uma renovação do quadro de professores dos ensinos
Básico e Secundário.
O contraditório a esta tese foi apresentado pelo insuspeito Mário Nogueira, com
quem sou obrigado a concordar nesta contra-argumentação: por outro lado,
houve “uma queda de 30% do número de professores nos últimos 10 anos quando
o total de alunos registou uma diminuição de apenas 10%”. Ou seja, precisa, “dois
terços da redução dos professores não teve nada a ver com a queda demográfica,
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Isabel Leiria,“Candidatos a professor quase sem emprego a partir de 2020 “,
http://expresso.sapo.pt/sociedade/2017-12-12-Candidatos-a-professor-quase-sem-emprego-
a-partir-de-2020#gs.PSXdh5E
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mas sim com a adopção de políticas como o aumento do número de alunos por
turma ou a constituição de mega-agrupamentos”. 3
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“Só serão necessários mais professores até 2020 “,
https://www.publico.pt/2017/12/12/sociedade/noticia/so-vao-ser-necessarios-mais-
professores-nos-proximos-dois-anos-1795646
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política não fosse a de querer concluir que há professores a mais em Portugal: se
o valor do rácio é a divisão simples entre o número de alunos pelo número de
professores em exercício em determinado ano lectivo, incluindo os professores
do ensino especial e contabilizando a população crescente de ano para ano de
alunos com NEE que obriga à redução do número de alunos por turma, então os
valores médios globais que situam sempre Portugal num patamar de conforto na
rácio professor/alunos têm que ser lidos de forma muito cautelosa quanto à real
necessidade do sistema educativo português relativamente ao contingente de
professores no sistema e suas necessidades futuras. É que em outros países que
gostamos citar (Alemanha, Finlândia, Reino Unido, etc.) como exemplos de rácios
maiores que podíamos adoptar, o sistema educativo tem uma gestão totalmente
diferente dos alunos com NEE, em regra concentrados em escolas especiais, com
professores e técnicos trabalhando em conjunto com essa população especial.
Por isso, quando a OCDE calcular o rácio professor/alunos em Portugal apenas
em turmas que não incluam alunos com NEE, teremos finalmente um quadro mais
justo e correcto da situação.
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http://www.cnedu.pt/pt/noticias/cne/1108-estudo-cne-organizacao-escolar-as-turmas
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2.º ciclo, o número médio de alunos por turma é de 22,1; no 3.º ciclo, o número médio
é de 22,4; no Ensino Secundário, o número médio de alunos por turma é de 24,5.
Nesta análise, verifica-se que grande parte das turmas de todos os ciclos estão
sobredimensionadas. 5 Ou seja, temos dados que demonstram o contrário de
tantas estatísticas e estudos sobre educação, em contextos nacionais muito
diferentes dos europeus, e portanto incomparáveis, apontando para uma medida
que desde sempre apoiei: é mais provável ter sucesso de aprendizagem em
turmas mais pequenas do que em turmas maiores, logo um sistema educativo
saturado de professores, alegadamente, pode investir – não há outro verbo
possível – mais em educação, contratando mais professores, criando turmas
mais pequenas e apoiando de forma mais organizada o ensino especial. Esta
cenário afectará qualquer política de formação de professores, quer no caso mais
provável de tais medidas nunca acontecerem quer no caso mais idealista de
alguém assumir a coragem política de ir por esse caminho.
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OECD (2015), "Who wants to become a teacher?", PISA in Focus, No. 58, OECD Publishing, Paris,
http://dx.doi.org/10.1787/5jrp3qdk2fzp-en.
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cooperate with each other. This is higher, on average, than what is observed
among other countries. 6
6
OECD (2017), "What do we know about teachers’ selection and professional development in high-
performing countries?", PISA in Focus, No. 70, OECD Publishing, Paris,
http://dx.doi.org/10.1787/87acdc87-en.
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integrar a investigação em acção na formação inicial se não existir nenhum
incentivo à sua continuidade ao longo da carreira de um professor. E esta opção é
meramente política: uma vez que existe hoje um modelo legislativo estável e
adequado, por mais suspeita que seja a minha opinião por me ter envolvido nesse
modelo, exigia-se, com urgência, que se repensasse totalmente a formação ao
longo da vida de um professor dos ensinos básico e secundário.