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Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008

ISSN 1982-0178

PERFIL VOCAL DA PESSOA COM DISFONIA: ANÁLISE


DO ÍNDICE DE DESVANTAGEM VOCAL.
Marina Bizigato Iara Bittante de Oliveira
Faculdade de Fonoaudiologia Grupo de Pesquisa em Voz PUC-Campinas
Centro de Ciências da Vida Centro de Ciências da Vida
mabizi19@hotmail.com ibittante@uol.com.br

Resumo: Introdução: Pessoas com obtida por meio da aplicação dos dois
problemas de voz, freqüentemente referem protocolos que tendem a se completar.
limitações, dificuldades e até impedimentos
de diferentes ordens, emocional, física, social Palavras-chave: Voz, Disfonia, Saúde Vocal.
ou profissional. Sendo assim os estudiosos Área do Conhecimento: Saúde –
da área de Voz em Fonoaudiologia vêm Fonoaudiologia.
desenvolvendo protocolos com a finalidade
1. INTRODUÇÃO
de melhor compreender o impacto dos
O homem é um ser social e a comunicação é
distúrbios de voz na qualidade de vida das
a grande responsável pela formação dos
pessoas disfônicas e normatizar a utilização
relacionamentos interpessoais (Kosama,
destes para verificação da efetividade da
Brasolotto, 2007). A fala e a voz são
terapia. Objetivo: Analisar e comparar os
importantes para estabelecer o contato com
resultados de um Protocolo de Índice de
o outro e com o mundo, por meio da
Desvantagem Vocal – IDV idealizado por
exteriorização de sentimentos e
Jacobson, Johnson Grywalski, Sibergleit,
pensamentos. A perda da voz, a rouquidão,
Jacobson, Benninger e Newman (1997)
ou até mesmo sintomas vocais de dor ao
traduzido e adaptado por Behlau (2001)
falar, garganta ardendo constantemente, etc.
aplicado a pessoas disfônicas. Método:
afligem as pessoas que tem problema de
Foram estudados 16 indivíduos com
voz. Se pensarmos que a pessoa necessita
distúrbios de voz, idades entre 17 e 71 anos,
da voz para viver e muitas vezes para
sendo 13 mulheres e três homens,
trabalhar, podemos então, compreender o
participantes do projeto de pesquisa da
seu desespero (Oliveira, 1999).
orientadora deste estudo. As pessoas
Por outro lado a auto-avaliação ou
responderam a um protocolo validado,
autopercepção vocal tem sido muito
nomeado “Protocolo de Índice de
valorizada, pois tenta captar a percepção do
Desvantagem Vocal – IDV”, contendo 30
paciente com relação a sua voz. Por ser uma
itens que buscam descrever o efeito que
medida subjetiva, é muito utilizada para
vozes alteradas podem acarretar na
realizar a comparação com as medidas
qualidade de vida de pessoas com disfonia.
objetivas realizadas durante a avaliação
Os sujeitos assinalaram todas as afirmativas
(Kasama e Brasolotto, 2007).
que no entender deles, traduzem suas
A Fonoaudiologia, em sua área de
dificuldades em enfrentar o dia a dia, tendo
especialidade de voz, vem desenvolvendo
limitação de comunicação decorrente de seu
estudos no sentido de construir protocolos
distúrbio de voz. Resultados: os dados
com o objetivo de medir o impacto dos
obtidos foram analisados e comparados
problemas de voz nas pessoas. Neste
qualitativa e quantitativamente intra –
sentido Jacobson, Johnson Grywalski,
instrumento e, ainda, com o Protocolo QVV –
Sibergleit,Jacobson, Benninger e Newman
Mensuração de Qualidade de Vida e Voz.
(1997) idealizaram o Protocolo do Índice de
Revelam que houve tendência a maior
Desvantagem Vocal – IDV, adaptado por
concentração de comprometimento da
Behlau (2001), que vem sendo utilizado em
qualidade de vida no domínio físico, no caso
vários países, cujos objetivos principais são
do QVV e no domínio orgânico no caso do
compreender o impacto da disfonia na vida
IDV. Conclusão: A melhor compreensão do
de uma pessoa e desenvolver a
impacto vocal na qualidade de vida pode ser
conscientização dos efeitos de um problema
de voz verificando a efetividade do
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tratamento realizado, quando aplicado ao teste resumido e mais rápido. Um aspecto


início e término de um programa terapêutico. interessante abordado na descrição original
O protocolo em questão compõe três sub- deste teste foi a relação entre o grau de
escalas, a saber, domínios emocional, melhora vocal com o tratamento e os escores
funcional e orgânico, abordadas. do questionário QVV (Hogikyan, Sethuraman,
Sendo assim a proposta do estudo em 1999). Os autores indicaram que incrementos
questão é aplicar o Protocolo do Índice de de 15 a 20 pontos no QVV separam os graus
Desvantagem Vocal – IDV, em pessoas com de auto-avaliação vocal (de moderada a
disfonia em fila de espera, para atendimento severa, por exemplo). Em algumas situações,
na Clínica de Fonoaudiologia do Centro de pode ser interessante a aplicação dos dois
Ciências da Vida da PUC – Campinas, protocolos para uma descrição melhor do
contribuindo para a composição de um perfil impacto do problema de voz na qualidade de
vocal destas. vida do paciente.
Existem dois protocolos principais para O objetivo deste estudo foi avaliar por meio
avaliação vocal, ambos desenvolvidos nos do Instrumento de Desvantagem Vocal (IDV)
Estados Unidos, que foram elaborados o impacto de um distúrbio vocal na qualidade
especificamente para avaliar o impacto de de vida da pessoa disfônica, estabelecendo-
uma alteração vocal na qualidade de vida se análises intra-instrumento, em suas três
dos indivíduos, chamados de VHI e VR-QOL diferentes dimensões, estabelecendo
(VHI – Voice Handicap Index; VR-QOL – comparações com o Protocolo de Qualidade
Voice related Quality of life), traduzidos por de Vida e Voz (QVV), e ainda verificando-se
nós para o português, com os títulos de IDV- como os sujeitos do grupo classificam suas
Índice de Desvantagem Vocal e QVV- vozes.
Protocolo de Qualidade de Vida e Voz
(Behlau, 2001). 2. MÉTODO
A aplicação desses protocolos tem-se
revelado muito importante, não somente para Sujeito: Fizeram parte deste estudo, 16
a compreensão do impacto da disfonia na sujeitos, na faixa etária entre 35 e 74 anos,
vida do indivíduo, mas também para de ambos os sexos, os quais se encontravam
desenvolver a conscientização dos efeitos de em lista de espera para atendimento
um problema de voz e verificar a efetividade fonoaudiológico, na Clínica de
do tratamento realizado. A aplicação desses Fonoaudiologia de uma faculdade de uma
testes na sessão de anamnese e ao término universidade particular da cidade de
do tratamento oferecem uma análise Campinas.
interessante da evolução do caso.
O IDV é um protocolo maior, com 30 itens, e Material e Procedimento: Foi aplicado o
trabalha com três subescalas: domínio Protocolo do Índice de Desvantagem Vocal
emocional, funcional e orgânico, cujos itens IDV, o qual é considerado como um
são identificados pelas correspondentes instrumento importante para compreensão
letras: “E”, “F” e “O”, no próprio questionário. das repercussões dos distúrbios de voz na
Apesar de vários itens do IDV original terem vida de uma pessoa, composto por 30 itens,
sido eliminados, ainda assim o protocolo que visam identificar o efeito que as vozes
apresenta certa redundância ou alteradas podem acarretar na qualidade de
sobreposição de situações pesquisadas. Os vida diária de pessoas com disfonia. Os
autores verificaram que é necessária uma sujeitos assinalaram todas as afirmativas
mudança de 18 pontos ou mais no escore que, no entender deles, se aplicavam ao seu
total entre duas aplicações do questionário, problema de voz, ou mesmo, traduziam suas
para garantir que os resultados no teste não dificuldades em enfrentar o dia a dia, tendo
são eventuais (Jacobson, Johnson, uma limitação de comunicação decorrente de
Grywalsky, Silbergleid, Jacobson, Beninger, seu distúrbio de voz.
Newman, 1997). O uso do instrumento IDV forneceu dados,
Para Behlau 2001, o QVV é um protocolo de forma ampliada com maiores
minimalista, com apenas 10 itens, de dois especificações quanto a domínios emocional,
domínios: sócio-emocional e físico, sendo um
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funcional ou orgânico existentes em maior e 74 anos, sendo 13 mulheres e 3 homens.


impacto da disfonia na vida do indivíduo. Todos os sujeitos apresentavam queixa
A partir da aplicação do IDV foram realizadas vocal, sendo que quatro apresentaram
análises e feitas comparações com os diagnóstico de fenda glótica, três de edema
resultados do Protocolo de Qualidade de de pregas vocais, dois com nódulos, um
Vida e Voz – QVV, de Hogikyan, N.D.; presbifonia, para quatro o exame foi dado
Sethuraman, G. (1999), traduzido e adaptado como condições anatômicas dentro da
por Behlau (2000), que foi aplicado pela normalidade com diagnóstico de disfonia
orientadora, em seu estudo. Ressalta-se que funcional e dois sujeitos afirmaram terem
o QVV é considerado como um protocolo buscado tratamento fonoaudiológico, por
minimalista que contém somente 10 indicação otorrinolaringológica, mas não
questões, mas que possui, como ponto portavam laudo médico, nos momentos de
interessante a indicação pela pessoa avaliação.
disfônica de uma auto-classificação de sua DOMÍNIOS FUNCIONAL, EMOCIONAL E ORGÂNICO
voz.
Desta forma, a literatura considera que tais 150
protocolos não são excludentes entre si, ao
100
contrário podem se complementar. Conforme
afirma a tradutora de ambos os testes e, 50

adaptadora destes para o Brasil, aplicar os 0


1
dois protocolos “poderá haver uma descrição
melhor do impacto do problema de voz na Funcional Emocional Orgânico

qualidade de vida do paciente” (Behlau, Gráfico 1 – Demonstração dos


2001). Este estudo foi aprovado pelo Comitê resultados do IDV por Domínios
de Ética da instituição sob o número
Protocolo 546/06 e os participantes Com base na análise dos resultados das
assinaram o Termo de Consentimento Livre e respostas ao Protocolo de Índice de
esclarecido. Desvantagem Vocal (IDV), apresentado no
foi possível observar, como demonstrado no
Gráfico 1, que as questões relacionadas ao
3. RESULTADOS
domínio orgânico foram as mais apontadas
O grupo estudado foi composto por sujeitos
pelo grupo, seguidas dos domínios
participantes de um processo clínico-
emocional e funcional.
terapêutico da orientadora deste estudo.
Compõem um grupo de 16 pessoas, entre 35

Tabela 1 – Protocolo de Índice de Desvantagem Vocal: Respostas dos Sujeitos Domínio Funcional

Questões - Domínio Funcional


Sujeitos F1 F3 F5 F6 F8 F11 F12 F16 F19 F22 N %
1 sim sim não sim não não não sim não sim 5 50
2 não não não sim não não não sim não não 2 20
3 não não não não não não sim não não não 1 10
4 não sim não sim sim não não sim não não 4 40
5 sim sim sim não não não sim sim não não 5 50
6 sim sim não não não não sim sim não não 4 40
7 sim sim sim sim sim sim sim sim sim sim 10 100
8 não sim sim não sim não sim não não não 4 40
9 não sim não não não não não sim não não 2 20
10 sim sim sim sim sim não sim não não sim 7 70
11 não sim não não não não sim não não não 2 20
12 sim sim não sim não sim sim não não não 5 50
13 não não não não não não não não não não 0 0
14 não não não não não não sim sim não não 2 20
15 não sim não não sim não sim sim não não 4 40
16 sim sim não não sim não sim não não não 4 40
totais 7 12 4 6 6 2 11 9 1 3
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A Tabela 1 apresenta as respostas dos sujeitos com número de queixas superior a


sujeitos com relação às 10 questões voltadas metade das questões, com destaque ao
para o domínio funcional do IDV. É possível sujeito de número 7, que afirmou ocorrer
observar que as questões F1, F3, F12 e F16 consigo todos os comportamentos
foram as mais citadas, relacionadas às investigados. A Tabela 2 apresenta o
dificuldades de produção da voz relacionadas percentual de auto – avaliação dos sujeitos,
à dificuldade de compreensão, que os em que se observa que 25% avaliaram sua
sujeitos relatam perceber em seus voz como boa e 75% dos sujeitos
interlocutores. Nesse domínio a maioria dos categorizaram suas vozes entre razoável e
sujeitos apresenta menos de 50% de ruim.
respostas afirmativas, havendo somente dois

Tabela 2 – Apresentação dos Resultados do QVV: percentuais e escores brutos


Escore Bruto Escore Bruto
Sujeitos Domínio Físico Percentual - % Domínio Emocional Percentual - %
1 26 40,0 15 31,3
2 25 37,5 14 37,5
3 7 -7,5 6 87,5
4 19 22,5 12 50,0
5 21 27,5 14 37,5
6 22 30,0 5 93,8
7 21 27,5 12 50,0
8 11 2,5 8 75,0
9 17 17,5 10 62,5
10 15 12,5 8 75,0
11 16 15,0 10 62,5
12 27 42,5 11 56,3
13 9 37,5 4 100,0
14 15 -2,5 9 75,0
15 8 15,0 14 37,5
16 19 2,5 13 43,8
total 278 165

Conclusão informações sobre a qualidade de vida


da pessoa disfônica e fornecer aspectos
A melhor compreensão do do funcionamento de tais limitações. O
impacto vocal na qualidade de vida pode uso do IDV confirma a literatura de sua
ser obtida por meio da aplicação dos dois tendência à redundância, embora caso
protocolos que tendem a ser completar. de estudos voltados a perfis, demonstra
P QVV embora reducionista, pode trazer ser um instrumento relevante.

REFERÊNCIAS

Andrews, M. L. Manual of Voice Berhman, A. Common Practices of Voice


Treatment, Pediatrics Through Therapists in the Evaluation of Patients,
Geriatrics. San Diego, Singular Journal of Voice, Vol.19, No 3, 2005, pp
Publishing Group, 1995. 454-469.

Amir, O.; Ashkenazi, O; Leibovitzh, T; Benninger, M.S.; Ahuja, A.S.; Gardner,


Michael, O, Tavor, Y; Wolf M. Applying G; Grywalski,C. Assessing Outcomes for
the Voice handicap Index (VHI) to Dysphonic Patients. Journal o f Voice,
Dysphonic and Nondysphonic Hebrew 1998: vol 12. Nº 4, pp. 540 – 550.
Speakers. Journal of Voice, 2006: vol.
20, Nº 2, pp. 318-324.
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ISSN 1982-0178

Behlau, M.(org). Voz, O Livro do enfoques à voz profissional, In Ferreira,


Especialista. Rio de Janeiro, Revinter, L. P.; Befi - Lopes, D. M.; Limongi,
2001. S.C.O. Tratado de Fonoaudiologia, São
Paulo, Roca, 2004,p.11-24.
Oliveira, I.B. Desempenho Vocal do
Professor: avaliação multidimensional. Kosama, S.T. Brasolotto, A.G
Tese de Doutorado, Curso de Pós – 2007.Percepção vocal e qualidade de
Graduação em Psicologia, Instituto de vida Pró-fono. (Vol19. nº 1 jan/abri).
Psicologia e Fonoaudiologia, Pontifícia
universidade Católica de Campinas, Grillo, M.H.M.M; Penteado, R.Z. Impacto
1999. da voz na qualidade de vida de
professores (a)s do ensino fundamental.
Oliveira, I.B. Avaliação Fonoaudiológica Pró-fono. Barueri (SP), v.17, n.3, p.321-
da Voz: reflexões sobre condutas, com 330, set.-dez.2005.
Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008
ISSN 1982-0178

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