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ILUMINAÇÃO

Docente: Dr. Elaine Cristina Cintra

Discentes: Elaine Amélia de Morais

Josely Iris Fernandes Miranda

MAÇÃ

1. U/ma/ pa/la/vra a/briu/ o /rou/pão/ pra/ mim/

2. Vi/ tu/do /de/la: a es/co/va /fo/fa, o /pen/te a /do/ce/ ma/çã/

3. A/ mes/ma /ma/çã/ que /per/deu/ A/dão/.

4. Ten/tei /pe/gar/ na/ fru/ta

5. Meu/ bra/ço /não/ se/ mo/veu/.

6. (Acho/que eu es/ta/va/ em /so/nho.)

7. Ten/tei/ de/ no/vo

8. O/ bra/ço /não/ se /mo/veu/.

9. De/pois a /pa/la/vra/ te/ve /pie/da/de

10. E es/fre/gou/ a /les/ma /de/la em/ mim./

Esse poema de Manoel de Barros1 encontra-se no livro Poemas Rupestres. (falar do


livro) Antes de falarmos do poema convém um pouco falarmos do autor. Segundo diz
Vasconcelos (2005), Manoel de Barros parte de uma proposta imaginativa, de forma a
1
Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916) é um poeta brasileiro do século XX,
pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, se situando mais próximo
das vanguardas européias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu
vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos
meios literários.
testar a sintonia da metalinguagem, usa uma postura própria com a escolha da forma e de
um estilo característico. Ao refletir sobre a obra poética de Manoel de Barros, que parte da
invenção, pode-se perceber que ela se refere ao seu próprio fazer.
“Nessa perspectiva, entendemos a poética como obra de invenção apenas
quando o poeta, Manoel de Barros, no caso, remete a uma forte
capacidade de manipulação da linguagem, a exemplo de criações lexicais,
jogos de palavras, paradoxos, linguagem contestadora com formas e
sintaxes invertidas, com estranhezas semânticas e com léxico renovador.
A revolução da palavra, bem como da sintaxe e semântica em Manoel de
Barros, é o que alimenta possibilidades, criatividade, liricidade e
poeticidade a partir desse jogo de palavras” (VASCONCELOS, 2005. p-
3)

Como podemos ver em: “Vi tudo dela: a escova fofa, o pente a doce maçã. (…) E
esfregou a lesma dela em mim”, que
“Manoel de Barros busca incansavelmente essa ruptura, isto é, a
transposição de uma linguagem nova para chegar a uma estética
inaugural, convergindo para um conceito de Poética que leva a invenção
de uma obra de arte. Isto é, o conceito de poética que prioriza o conjunto
de referenciais estéticos, os quais se refletem sobre toda a obra, tanto nos
aspectos formais quanto nos conceptuais” (VASCONCELOS, 2005. p-3)

Percebemos que Manoel de Barros tem ciente o emprego da poética, como reflexo
de uma arte que aponta para o amanhã. Ele é um crítico da sua própria arte, um poeta que
causa efeitos de estranhamento. A metalinguagem está presente nesta estética inovadora, o
poeta conduz ao leitor o entendimento de usa obra. Acredito agora podermos falar do
poema exatamente.
Em primeira leitura o poema chama atenção por ser uma única estrofe de dez
versos, sendo os dois primeiros versos maiores que os que vêm a seguir. Ao se deparar com
o título: MAÇÃ é natural que se pense no fruto proibido, e é o que sugere o poema em
primeira instância. Já em primeiro momento o tratamento que se dá à palavra lhe confere
um caráter de humanidade. Por começar com uma palavra feminina que abre seu roupão,
quem poderia abrir um roupão senão uma mulher? Ele (o EU) diz ver tudo: a escova e o
pente, aqui há certo estranhamento, o que seria esta escova e esse pente? Em seguida fala
de uma doce maçã, a mesma de Adão, seria esta o fruto proibido, mas que fruto proibido é
esse, senão o sexo? Ele tenta pegar na fruta e não consegue, pensa ser um sonho, então
tenta de novo e novamente não consegue. Esse braço seria mesmo um braço, ou um pênis?
Poderia se pensar em homem com impotência sexual, pelo braço não conseguir tocar na
fruta dela. Depois ela se aproxima e torna-se o ser ativo da relação. Assim como o pente
(palavra masculina) que no verso segundo causou uma estranheza, no último verso a
palavra lesma causa a mesma estranheza. O que seria esta lesma, o que seria isto pegajoso,
maleável? Seria a lesma e o pente referenciais de uma mesma coisa, no caso,
possivelmente, um pênis? Mas diferente do braço, que não se moveu. Esse primeiro sentido
é válido. Porém o ar de mistério leva a crer que o poema é mais do que sugere a primeira
leitura.

O poema nos provoca uma série de ideias a partir de muitas imagens representadas
pelas metáforas e também pelos símbolos. Um símbolo muito presente neste poema é a
maçã, como símbolo do proibido, do pecado. É um poema de única estrofe décima. Uma
estrofe de dez versos que poderia ser dividido em duas estrofes, sendo a primeira de seis
versos e a segunda de quatro versos. Esta separação seria possível por serem as primeiras
seis linhas a exposição de algo que, possivelmente, se encontra no espaço do sonho. E as
quatro linhas posteriores se encontrarem em espaço real.

Observando um pouco mais o poema, podemos dividir o poema em quatro períodos


de tempo, pela ocorrência e disposição da pontuação, todos os períodos contam com o
ponto para demarcar o fim. O primeiro período é o que apresenta mais pontuação,
caracterizando introdução / exposição do tema. No primeiro período, que constam os três
primeiros versos, é a exibição da iniciativa da palavra. Aqui encontramos o uso da
prosopopéia: “uma palavra abriu o roupão pra mim”, também a assonância do som [a] que
se repete seis vezes, simbolizando o feminino, possivelmente. Ainda, o uso da diácope, com
a repetição da palavra “maçã” com a expressão ‘a mesma’ permeando-as, nos versos dois e
três. Os versos do terceiro período são os maiores do poema, o primeiro é um
hendecassílabo que é dividido por uma cesura e, portanto na verdade são dois hemistíquios,
sendo o primeiro de seis sílabas e o segundo de cinco sílabas. O segundo verso é composto
de dezesseis sílabas, esse é dividido por duas cesuras, sendo, portanto, três hemistíquios: o
primeiro de cinco sílabas, o segundo de quatro sílabas, e o terceiro de sete sílabas. Nesse
verso também há a ocorrência de rima vocálica (escova fofa) e rima toante (fofa, o pente a
doce maçã). O terceiro verso é composto de dez sílabas, com uma cesura, o que faz dele
dois hemistíquios de cinco sílabas.
O segundo período expõe a reação do (EU) diante da atitude da palavra. É disposto
por dois versos (versos 4 e 5), e apresenta um único ponto que demarca o fim do momento
e há a seguir a ocorrência de um verso (6) isolado por parênteses que, por não conseguir
efetuar o querido no momento anterior, o (EU) cogita ser um sonho. O segundo período é
composto de três versos de sete sílabas, que de acordo com M. Said Ali são estes
hendecassílabos quebrados. Nestes versos ocorre uma cesura em cada na mesma posição,
ou seja, dividindo-os em um hemistíquio de quatro sílabas e outro de três sílabas.
Ocorrendo um momento totalmente simétrico no poema.

O terceiro período é demarcado pela segunda tentativa de reação à atitude da


palavra que novamente não alcança êxito. Esse período é composto por dois versos (verso 7
e 8), o verso sete é o menor do poema, com quatro sílabas, caracterizando uma mudança de,
talvez, tempo e espaço. O verso oito, como os versos 4,5 e 6 é um verso de sete sílabas. Há
ocorrência de epístrofe, ou seja, a expressão “não se moveu” se repete no fim dos versos
cinco e oito. E também ocorre anáfora pela repetição da palavra “tentei” do verso quatro no
verso sete e, ainda, a repetição da expressão “meu braço” do verso cinco no verso oito com
a expressão “o braço”.

O quarto período é a conclusão do poema, disposto em dois versos (versos 9 e 10).


No verso nove ocorre uma prosopopéia, já o verso dez, continuando a idéia do verso
anterior, é uma metáfora, pois a palavra ganha um caráter de humanidade e ainda passa a
possuir uma lesma como parte do corpo. Os dois são eneassílabos. No verso nove, ocorre
ainda, uma sinérese com a palavra piedade, ou seja, a sílaba (pie)dade é pronunciada como
uma única sílaba, havendo casos em que ocorra como duas sílabas: (pi-e)dade. No último
verso ocorre também a assonância do som [e]: "E esfregou a lesma dela em mim." e a rima
vocálica: “lesma dela”.

Os verbos indicam primeira pessoa do singular o que dá ao poema um caráter


predominante de subjetividade. Fazendo uma comparação entre o poema de Manuel
Bandeira intitulado também “MAÇÔ e anterior ao de Manoel de Barros, percebemos
algumas particularidades, tais como:
No poema de Manuel Bandeira desde o início impõe o objeto da maçã. Nos
primeiros versos o poeta lembra a arte de um pintor, a maneira de compor a natureza morta.
Neste contexto vê-se o vermelho da fruta e o reduto da interioridade do sujeito, ele também
vê a maçã como o fruto proibido como em Manoel de Barros.

Existe um paradoxo entre a maçã e a imagem da mulher em Bandeira, é um poema


dividido em estrofes, o que não ocorre no poema de Barros que é de apenas uma estrofe de
dez versos. No poema de Bandeira a estrutura é diferente, os dois primeiros versos são
muito extensos e vão diminuindo até o fim, aonde se chega a um equilíbrio.

Como podemos perceber o poema de Manuel Bandeira leva ao reconhecimento do


valor do humilde, a valorizar o que é pequeno, e o de Manoel de Barros leva ao
conhecimento da palavra, o que reflete uma forte capacidade que o autor tem de manipular
a linguagem, linguagem esta que o autor trabalha com maestria. O poema leva, após o
primeiro momento, a uma boa reflexão e a um sentido oculto.
Indo mais além da primeira análise. É óbvio, com a presença da palavra [palavra] no
início do poema que se trata de um poema metalinguístico. Aceitando esta perspectiva,
poderíamos pensar que no caso a palavra refere-se à poesia, e então que ele (o EU) seria o
poeta que foi agraciado com o conhecimento poético. Vamos para o poema. O primeiro
verso introduz e diz tudo: "uma palavra abriu o roupão pra mim", ou seja, uma palavra se
refere à palavra maçã, e esta deu o caminho para todo o campo da poesia. No verso
segundo e terceiro tem a confirmação de que foi esta palavra que deu caminho a ele que a
partir dela ele pode ver tudo, "a doce maçã - A mesma maçã que perdeu Adão.", seria o
doce conhecimento, o mesmo que teve Adão no texto bíblico ao comer a maçã, fruto
proibido que estava no meio do jardim do Édem. Do verso quatro até o verso oito, ele conta
a experiência dele ao tentar escrever a partir de seu conhecimento, primeiro não dá certo e
ele reflete (Acho que eu estava em sonho.), depois ele tenta outra vez e de novo não
consegue. Até que nos versos nove e dez, a palavra, melhor dizendo, a poesia chegou a ele
por meio de inspiração. Fazendo com que ele fosse dela e não ela dele, como ele antes
pensava que devia ser. (falta uma conclusão)

BIBLIOGRAFIA

Vasconcelos, Vânia Maria de


Departamento de Letras (CCHS) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS)

http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-
2005/4publica-estudos-2005-pdfs/a-poetica-de-manoel-de-barros-661.pdf?
SQMSESSID=a38ffc79c82bcbe561e1c641326fd16c

Arrigucci Junior, Davi, 1943 –

Humildade, Paixão e Morte: a poesia de Manuel Bandeira / Davi Arrigucci Jr. – São Paulo:
Companhia da Letras, 1990.

Ali, Manoel Said

Versificação Portuguesa / M. Said Ali: prefácio de Manuel Bandeira – São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 1999.

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