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YOUTUBE:
MODO DE USAR
A ciência por trás dos negócios que
movimentam a maior plataforma
de vídeos da internet
Iberê Thenório e
Mariana Fulfaro,
do canal Manual
do Mundo
ent revista: er ik b ar ma c k , d a ne t f l i x
Estúdio do Manual do Mundo, um dos
maiores canais do YouTube no Brasil
Manual do youtube 6
Caminhos do VOD 18
De olho nas séries 54 PORTAL FILME B>>> Editor: Gustavo Leitão Editor-assistente: Thiago Stivaletti Repórter:
Thayz Guimarães Estagiária: Viviane Miranda
De olho no VOD 56
DE OLHO NO PÚBLICO 58
H
Há 18 anos atuando no mercado de cinema, a Filme B con-
quistou espaço criando um amplo mapeamento estatístico e
mercadológico dos setores de produção, distribuição e exibi-
ção. E agora, na ocasião do RioContentMarket, um evento que
se tornou obrigatório para qualquer pessoa que trabalha com
audiovisual, estamos lançando a FILME B +, nossa primeira
revista dedicada à televisão por assinatura, internet, VoD e às
no país, mas em todo o mundo: a chegada das plataformas
de streaming.
Em sua grande maioria, todas essas mídias têm, como ma-
téria-prima, a ficção que o cinema modelou e consagrou, em
seus diversos formatos. E, neste sentido, o cinema continua
sendo feito, mas exibido e negociado de maneiras às vezes
contraditórias ou até autofágicas.
chamadas novas mídias.
Dentro deste novo cenário, fica difícil saber as receitas de vei-
Por quê? culação de cada produto nesses setores, juntos ou separados.
Hoje não se pode mais falar de cinema sem falar neste novo O mundo do audiovisual virou uma enorme bolsa de valores
mundo em que os hábitos de consumo do audiovisual estão onde as cotações sobem e descem a cada nova invenção, às
se modificando em alta velocidade. Cresce o mercado de vezes inviabilizando a anterior, às vezes acrescentando mais
produção de cinema e seus derivados ligados à televisão e à valores.
internet; e cresce também, cada vez mais, o movimento con- Lidar com as diversas plataformas de mídia disponíveis nos
trário, isto é, produtos da TV e da internet que ganham a tela deixa cada vez mais atentos e ao mesmo tempo vulneráveis.
grande. Ao mesmo tempo, ainda são muitas as dificuldades Em outras palavras: o setor tem que ficar de olho nas movi-
de acesso a dados estatísticos, sejam de audiência, sejam de mentações do espectador, em busca sempre do melhor pre-
modelos de negócios. É preciso saber o mínimo sobre este ço. Voltamos à velha questão de custo & benefício, oferta &
mercado. A FILME B + pretende contribuir para preencher procura, ou, falando modernamente: curtir ou não curtir, eis
este vazio. a questão. Ou eis a solução. Esta batalha, ao que parece, está
apenas começando.
Afinal, qual é o tamanho deste mercado no Brasil? O cine-
ma demorou um certo tempo para ganhar transparência a Para navegar neste mundo novo, é preciso fazê-lo com a
ponto de qualquer player poder atuar com segurança. Como parceria da ABPITV, do RioContentMarket, de produtores
se sabe, novos mecanismos de aferição de audiência estão e distribuidores, enfim, de todos que acreditam neste novo
chegando por aqui no momento em que a TV aberta passa mundo. Nossa ideia é, com a Revista FILME B +, inaugural de
por sua maior crise, muito por conta do crescimento da TV nosso posicionamento neste novo mercado, partirmos para
por assinatura, que se expandiu nos últimos anos e chegou cada vez mais incluir todos estes assuntos em nosso conheci-
do Portal Filme B, que ganhará um novo layout e navegação.
perto de 20 milhões de assinantes, e que também começa a
se deparar com uma nova concorrência avassaladora, não só Mas calma: uma coisa de cada vez. Mas cada vez mais.
Manual do
Os segredos e os novos modelos de negócio que estão por trás da explosão dos youtubers
J
Por Tatiana Contreiras e Thayz Guimarães
Jornalista por formação, Julia Tolezano – do horário nobre da TV, como também gam diferentes atrações, numa grade de
conhecida por JoutJout em seu canal no ser remunerado por isso. Hoje, existem programação que só aumenta.
YouTube, onde já arrebanhou mais de várias formas possíveis de ganhar di-
O YouTube contabiliza, no Brasil, 31 ca-
690 mil assinantes – não pensa duas ve- nheiro no YouTube (a chamada “mone-
nais com mais de 500 milhões de visua-
zes ao preencher fichas de check-in em tização”), sendo a mais comum delas a
lizações e mais de cem com mais de um
pousadas e hotéis. No campo designado receita compartilhada de publicidade
milhão de assinantes. Mas como criar,
à profissão, escreve: “youtuber”. (veja mais detalhes na página 11).
crescer e se destacar no imenso univer-
O termo – um neologismo vindo do Ser um youtuber é a meta de muitos que so de youtubers? “Não existe fórmula
nome da plataforma que hoje, só no Bra- desejam produzir, ver e serem vistos, secreta para o sucesso, muito menos
sil, recebe 95% dos espectadores de ví- sem abrir mão de sua liberdade criati- uma previsão do que vai ou não estou-
deos online, segundo dados da própria va, falando diretamente com seu públi- rar”, avalia Eduardo Brandini, diretor de
companhia – é um dos sinais de que a co. É também uma trilha encontrada conteúdo do YouTube no Brasil. “Temos
produção de conteúdo audiovisual não é por grandes produtoras que, de olho na criadores que conquistaram sucesso
mais exclusividade da televisão. Na web, crescente e focada audiência da inter- com vídeos caseiros sem nenhuma so-
já é possível transmitir diretamente de net, investem em atrações online. Redes fisticação técnica, e outros que investi-
um quarto, de uma garagem ou do quin- de canais virtuais – as chamadas Multi- ram em superproduções desde o início;
tal e não só ter uma audiência tão gran- channel Networks, ou MCNs –, em gran- alguns só estouraram anos após lançar
de ou maior que a de muitas atrações de parte ancoradas no YouTube, já agre- o primeiro vídeo, outros levaram sema-
como se especializar
De olho em outros potenciais sucessos de conteúdo online. Ainda
de audiência, o YouTube disponibiliza não há data definida para a
um estúdio e um espaço de aprendizado inauguração.
onde produtores de conteúdo online po- YouTube Space de Nova York
A ambientação do YouTube
dem se especializar de forma totalmen-
Space muda todo mês. Em
te gratuita. O YouTube Space, no bairro
janeiro, remetia ao balcão de um bar;
do Bom Retiro, em São Paulo, é o primei-
desde então já foi remontado com ele- https://www.youtube.com/yt/space/
ro do Brasil e o único do mundo em par-
mentos de filmes como Chappie e Snoo- pt-BR/events-saopaulo.html
ceria com outra organização, o Instituto
py & Charlie Brown. Se o produtor qui-
Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, que
ser usar o estúdio, precisa adaptar suas
capacita jovens para funções ligadas ao
necessidades ao cenário, mas também vivo, iluminação, técnicas de áudio, me-
audiovisual.
pode optar por gravar com chroma key. dia training e até um básico “Como co-
No espaço – um galpão repleto de sa- Ainda estão disponíveis uma sala de edi- meçar no YouTube”. Enquanto algumas
las patrocinadas por outras empresas, ção e pós-produção. aulas são abertas até para quem não
como Spotify e Nestlé –, o YouTube tem um canal no ar, outras, como a de
Para agendar um horário, é preciso
montou seu estúdio, que recebe mais de fonoaudiologia, exigem um mínimo de
cumprir alguns pré-requisitos. “O es-
2,5 mil pessoas por trimestre, um nú- seguidores. No caso da turma de fono,
túdio pode ser utilizado por donos de
mero que engloba criadores que usam todos os alunos tinham mais de 10 mil
canais com mais de 2,5 mil assinantes,
o estúdio de gravação, alunos dos cur- assinantes. Para turmas mais avança-
desde que não tenham sofrido nenhu-
sos e workshops, e frequentadores das das, já foram disponibilizadas palestras
ma denúncia por violação de direitos
happy hours mensais promovidas pela de assuntos como branding (gestão de
ou diretrizes de comunidade. Também
plataforma. Em 2015, a empresa anun- marcas), marketing e relação de clientes
é preciso assinar um contrato de uso do
ciou que vai abrir um novo espaço no com executivos do próprio Google. Para
espaço”, explica Eduardo Brandini, dire-
Brasil: o YouTube Space Rio, localizado um youtuber brasileiro de férias no ex-
tor de conteúdo do YouTube.
no Porto Maravilha. Com mais de 2 mil terior, também é possível agendar um
m², a ideia é que a quantidade de estú- Os cursos e workshops oferecidos co- horário em algum dos YouTube Spaces
dios seja maior e que o local funcione brem temas variados: de câmera a pro- ao redor do mundo (Los Angeles, Nova
como uma incubadora para criadores dução, passando por transmissões ao York, Londres, Tóquio e Berlim).
como monetizar
Fotos: divulgação
Atualmente, os criadores interessados Uma forte tendência tem sido a busca de
em utilizar a plataforma do YouTube po- formas de integração da marca ao conte-
dem simplesmente carregar seus vídeos údo. Em atividade desde 2013, a NetCos
sem qualquer objetivo financeiro ou op- já realizou ações para grandes marcas
tar por um dos modelos de geração de como Sadia, Santander e Citroën. O de-
receita disponibilizados pelo Programa safio é fugir do “merchan” tradicional
de Parceria do YouTube. – uma herança dos formatos televisivos
– e promover uma associação convin-
O programa oferece um gerente que tra-
cente entre conteúdo e marca, sem com-
balha no desenvolvimento do canal de
prometer a reputação do criador com os
forma personalizada, utilizando como
famigerados “jabás”. “Nesse processo,
ferramenta principal o modelo de ex-
a marca sai do papel de interruptora e
ploração publicitária criado pelo Goo-
passa para o de viabilizadora de con-
gle, o Google AdSense. Para começar a
teúdo. A NetCos atua como uma inter-
receber, é preciso associar uma conta
mediária que entende a realidade dos
do Google AdSense à conta do YouTu-
dois universos, ajudando as marcas a
be. Ao aceitar que seus vídeos tenham
selecionarem os canais ideais para suas
publicidade, o criador permite que a
ações e negociando as condições com
plataforma gerencie a melhor forma de
estes canais. Há projetos pequenos, que
exibição dos anúncios (confira os for-
custam às marcas R$ 50 mil; médios, em
matos disponíveis no quadro ao lado). A
torno de R$ 200 mil, e grandes, que pas-
remuneração é baseada na visualização No processo de profissionalização dos
sam dos R$ 500 mil”.
dos anúncios. A empresa não revela de- youtubers, as redes que agregam canais,
talhes sobre a partição de receitas, mas como a Rede Snack e a Network Bra-
o que se comenta é que 55% ficam com sil, têm ganhado importância. As MCNs
o dono do canal, e 45% com o YouTube. gerenciam produtores de conteúdo
Para André Zimmermann, CEO e co-
fundador da NetCos, empresa especia-
“O YouTube não oferecendo ajuda técnica, conselhos e
interlocução comercial para quem está
lizada em aconselhamento para vídeos pode ser tratado começando. A Network Brasil, além de
distribuir, também produz conteúdo: os
em ambientes digitais, o chamado pre
roll (inserção de publicidade antes do e utilizado da canais Desimpedidos, Acelerados, Re-
vídeo), apesar de ser muito usado, tem
seus riscos. “O YouTube não pode ser
mesma forma que visão, Não é Sério TV, Fatality e o Canal
Oficial do São Paulo Futebol Clube são
tratado e utilizado da mesma forma que a TV, com o risco de produzidos pela NWB. Já Mano Coelho,
Manual do Mundo e Desce a Letra são
a TV, com o risco de perder o poder de
engajamento que a plataforma e seus perder o poder de canais associados. “Olhamos para o tema
criadores podem proporcionar às mar-
cas. Dentro desse modelo, o melhor é
engajamento que a do canal a ser desenvolvido e o poten-
cial de mercado para construção de uma
realizar produções próprias, usando a plataforma e seus marca consistente, bem como o potencial
de engajamento”, explica André Barros,
linguagem do meio digital, com mais ou-
sadia. Contudo, o pre roll ainda segue a criadores podem sócio-diretor da NWB, cujos canais so-
lógica da publicidade em outras mídias:
a interrupção da experiência do expec-
proporcionar às mam mais de 17 milhões de assinantes e
contabilizam dois bilhões de views.
tador, o que, no melhor dos casos, pode marcas” Muitos youtubers, no entanto, também
gerar indiferença, e, no pior, rejeição”, buscam formas de monetização que não
avalia. André Zimmermann, CEO da NetCos dependam de marcas, como licencia-
SPONSORED CARDS
Cartelas que podem, por exemplo,
mostrar produtos apresentados no
vídeo
De olho no potencial dos youtubers e no seu retorno de audi- Freddie Wong, cineasta, especialista em efeitos especiais e
ência e engajamento, tanto o YouTube quanto outros canais gamer, também é um bom exemplo deste movimento. Seu
expandem e diversificam suas atrações. Com mais de 5,7 canal RocketJump, com mais de 7,5 milhões de assinantes,
milhões de assinantes na plataforma, a comediante ameri- o levou até o Hulu. Com episódios semanais de meia hora, a
cana Colleen Ballinger-Evans, de 29 anos, assinou contrato atração estreou em dezembro.
com a Netflix para estrelar a série de ficção Haters Back Off,
baseada na personagem criada para seu canal no YouTube, Já a HBO aprovou o projeto Insecure, série de ficção com a
Miranda Sings. Com oito episódios, a série mostrará a vida youtuber Issa Rae à frente do elenco, do roteiro e da produ-
em família de Miranda (interpretada por Colleen) e será a ção executiva. Rae fez sucesso na internet com a webserie
primeira série de ficção da Netflix estrelada por um youtuber. The Misadventures of an Awkward Black Girl.
Outros produtores de conteúdo online também estão fazendo No Brasil, o filme Os penetras 2, dirigido por Andrucha
o mesmo percurso. É o caso de Grace Helbig, 30 anos e Waddington e produzido pela Conspiração, que estreia em
quase três milhões de assinantes, que já lançou livro e ga- novembro, terá participações especiais dos youtubers Pc-
nhou um talk show no canal E!, cuja primeira temporada foi Siqueira, Julio Cacielo, Whindersson Nunes, Gabbie Fadel
exibida em 2015. e Maju Trindade.
como influenciar
Na nova realidade das mídias digitais, Bia Granja, cofundadora do you-
tão ou mais importante do que atrair PIX, que investiga e analisa a cul-
um grande público é a capacidade de tura digital desde muito antes do
influência de um criador. Uma pesquisa boom da explosão dos youtubers,
realizada pela Provokers para o Goo- diz que tanto agências quanto
gle e a revista Meio & Mensagem, entre clientes ainda têm uma herança forte
outubro e novembro de 2015, apontou da métrica da televisão, e ressalta que
um rumo que já se vislumbrava: das “o influenciador de hoje é aquele que cria
20 personalidades mais admiradas por engajamento e uma comunidade ao seu
adolescentes entre 14 e 17 anos, dez redor, não necessariamente aquele com
são youtubers. O estudo, batizado de “Os a maior audiência”.
Para Bia, o boom dos youtubers é “a per-
novos influenciadores: quem brilha na
sonificação do conteúdo até o último
tela dos jovens brasileiros”, entrevistou
mil pessoas ligadas ao universo online
e televisivo. Os jovens deveriam indicar
“Não são só fio de cabelo. O youPIX tentou mostrar
para as pessoas que o que estava sendo
cinco personalidades admiradas da TV, moleques fazendo feito na internet não era baboseira. Ago-
ra, tentamos mostrar que não só é legal,
internet ou cinema.
vídeos. A tendência como também uma profissão. Essa é
No topo do ranking figurou a atriz Tatá
Werneck, conhecida deste público por é a compreensão uma grande tendência, muito mais pro-
funda do que se denominar youtuber.
sua carreira como comediante na MTV,
mas que também estava no ar, no mo-
de que isso é um Não são só moleques fazendo vídeos. A
tendência é a compreensão de que isso
mento da pesquisa, na novela I Love Pa- trabalho, uma é um trabalho, uma carreira, uma em-
raisópolis, na Globo. Os youtubers mais
bem colocados na lista são Leon e Nilce, carreira, uma presa. O conteúdo é rei, mas estamos fo-
cados em distribuição, em quais redes e
do canal Coisa de nerd, que conquis-
taram o 5o lugar, seguidos por Kéfera
empresa” plataformas se está presente, em estra-
tégias descentralizadas”.
Buchmann, do 5incominutos, em 6o, e Bia Granja, cofundadora do youPIX Bia aponta uma outra tendência do mer-
Iberê Thenório, do Manual do Mundo,
cado: a dos canais de médio porte, que
em 7o.
ainda têm espaço para crescer, angariar
Fotos: divulgação
Foto: divulgação
“O conteúdo e a audiência
precisam ser prioridade”
Uma das maiores e mais sólidas produtoras de audiovisual no país, a Conspiração comemora 25
anos em 2016 com uma estrutura reformulada, em que os projetos voltados para as plataformas
digitais ganharam novo peso. Uma das novidades é o canal da apresentadora Bela Gil no
YouTube, no ar desde 24 de fevereiro. “A Bela é nosso primeiro canal oficial no YouTube, um
projeto que não estamos fazendo para terceiros”, conta Renata Brandão, que em janeiro assumiu
o cargo de diretora presidente de negócios da Conspiração. Na entrevista a seguir, Renata explica
como funcionará o canal e analisa os desafios da produção de conteúdo na era digital.
Como a Conspiração tem se prepara- ou seja, o orçamento de lançamento de riência de marketing digital e mídias
do para as transformações do merca- um filme no cinema) em uma campa- sociais em todos os nossos produtos.
do audiovisual? nha de marketing tradicional, perto do
lançamento, criamos uma plataforma Pode dar um exemplo?
A Conspiração comemora 25 anos em
2016, e ao longo desse tempo, claro, de conteúdo que começou a funcionar Vai que cola – O filme teve um lança-
precisou se reinventar. Um desses mo- um ano e meio antes da estreia. Nesse mento muito ancorado nas mídias
mentos ocorreu em 2008, quando foi momento, a Conspiração deu um novo digitais, iniciado muito antes de o fil-
criado o selo Concept, que nasceu jus- passo e se tornou também publisher, me chegar aos cinemas. Estamos tam-
tamente para pensar projetos de pu- criando uma plataforma e realizando bém trabalhando toda a plataforma
blicidade que tivessem o ambiente di- uma espécie de curadoria de conteúdo de divulgação do filme Os penetras 2
gital como plataforma de distribuição. sobre a cidade. A partir da audiência no YouTube e nas mídias digitais. E a
Logo depois, vieram as mídias sociais que passou a orbitar em torno dessa evolução disso chegou ao núcleo de
com toda força, gerando nova deman- plataforma, direcionamos a campanha televisão da casa. Muitos projetos que
da. Em 2010, começamos a produzir do filme. Foi uma costura muito positi- talvez não encontrassem espaço na TV
o filme Rio, eu te amo, uma grande ce- va, não só para atrair os patrocinado- fechada e aberta podem ter um perfil
lebração do Rio de Janeiro. Em vez de res, mas também pela experiência que adequado de conteúdo para a inter-
usarmos o P&A (prints and advertising, ganhamos. Hoje, usamos essa expe- net. Começamos a perceber que existia
Novos caminhos do
VOD
Explosão do video sob demanda no país amplia modelos de negócios e atrai competidores para as novas
plataformas. Movimento também faz produtores repensarem suas estratégias de lançamento.
A
POR THIAGO STIVALETTI E GUSTAVO LEITÃO
A Netflix pode até ser a mais visível pla- exibidos na grade. O Telecine criou seu Segundo Karen Daylac, gerente de aqui-
taforma do momento quando o assunto VoD há cinco anos e hoje opera em for- sição de conteúdo do canal, os contratos
é o tão falado VoD (sigla para video on mato misto: transacional, com aluguel para a exibição dos filmes no VoD são di-
demand, ou seja, vídeo sob demanda), avulso de filmes mais recentes em pay ferentes e independentes daqueles fir-
mas está longe de resumir esse merca- per view (o Telecine On) e o aberto para mados com os estúdios para a exibição
do em ascensão. O serviço, organizado assinantes, com os filmes em exibição na TV. Do lado dos nacionais, uma estra-
como um catálogo de filmes e séries ofe- no momento nos canais da rede (Teleci- tégia do canal – entrar como coprodutor
recidos por meio de assinatura, cada vez ne Play). São cerca de 1,5 mil títulos no ainda no momento da filmagem – agora
mais apostando em produções originais total. garante não só a prioridade na estreia
exclusivas, é apenas um dos inúmeros na TV paga, mas estimula a primazia
Além da vantagem do “veja quando
players e modelos de negócio a operar no on demand em relação a outros con-
quiser”, as plataformas dos canais tam-
no país, em meio a uma tendência que correntes. “Quando a gente coproduz, já
bém oferecem a possibilidade do “onde
começou na trilha deixada pelo DVD e está dentro do filme desde o início. Os
quiser”: o espectador pode ver o filme
seguiu por muitas outras bifurcações. produtores nos procuram muito para
na TV, no computador, no tablet ou no
Essa multiplicidade de caminhos já afe- esse tipo de parceria”, diz Karen. “Os nú-
celular. Os números crescem exponen-
ta as estratégias de produtores, canais meros do VoD ainda não chegam perto
cialmente a cada ano, seguindo as novas
e tem reflexos nos contratos. Se ainda daqueles do homevideo de antigamente,
tendências de consumo: de 2014 para
não chega a ser a propagada revolução mas ele já se tornou uma etapa muito
2015, a quantidade de filmes para alu-
das janelas de exibição, certamente tem importante para os produtores”. O Tele-
guel no Telecine On cresceu 68%, che-
causado abalos nas velhas estruturas. cine já contabiliza coprodução em 120
gando a 560 títulos. O volume de filmes
longas nacionais até o momento.
Hoje, a grande maioria dos canais de alugados aumentou 57%. No Telecine
TV já lançou sua plataforma on demand Play, as visualizações cresceram 82% de Mesmo na seara de concorrentes fortes
para que os assinantes possam rever os um ano a outro – o canal não divulga nú- como Netflix e o Now, da Net, novas pla-
programas fora dos horários em que são mero absoluto de acessos. taformas tem surgido. É o caso da Looke,
e no Now, para aluguel transacional. Aí adaptação para cada tipo de tela e sis-
reside a primeira diferença: no transa- tema operacional. Quando entrei nesse
cional, a renda para o produtor é maior, mercado, achei que meu trabalho maior CONHEÇA OS TIPOS
e ele recebe relatórios regulares de seria o licenciamento, mas metade da DE VOD
acesso e renda do filme. Para os SVoDs, minha equipe hoje é de engenheiros de
o filme é vendido só uma vez, e o produ- software”, explica Fábio Lima, da Sofá FVoD (free VoD) - VoD gratuito, ou
tor não tem mais controle da sua perfor- Digital, uma das mais requisitadas des- seja, o usuário não precisa pagar
mance. “Para entregar seu filme direto sas prestadoras. para assistir aos conteúdos. A
para o Netflix, avançando outras janelas, maior parte das plataformas as-
Para ele, o audiovisual chegou a uma socia anúncios aos vídeos, com
tem que haver uma negociação que va-
nova era com a distribuição digital. receita compartilhada (ou não)
lha a pena”, explica o produtor.
“Agora, a janela de exibição não é mais com os titulares desses conteú-
Segundo Fabiano, o mercado ainda está binária, ditada pela tradição. Ela de- dos. Exemplo: YouTube.
acomodando os novos players e não há pende do produto. Tudo é possível”, re-
regras definidas, mas os contratos cos- sume. SVoD (subscription VoD) - servi-
tumam respeitar o chamado revenue ço por assinatura. O usuário faz
share: de todo o faturamento do filme um pagamento periódico para ter
em qualquer mídia, o produtor fica com acesso a um catálogo. Os vídeos
cerca de 50%. “Num futuro de médio são licenciados para a platafor-
prazo, o VoD vai ser a janela de maior ma mediante pagamento aos ti-
renda da cadeia”, aposta. tulares. Exemplo: Netflix.
Para o produtor, as novas plataformas
TVoD (transactional VoD) - o pa-
não farão milagre – mas introduzem
gamento, aqui, é por título que
uma solução viável para a exploração
o usuário quer acessar. A tran-
dos filmes depois de esgotados outros
sação pode dar direito a um nú-
elos da cadeia. “A gente ouve dizer que
mero limitado de visualizações
as novas plataformas vão democratizar
(aluguel) ou a utilização perma-
o acesso, mas percebe que aquilo que
nente (eletronic sell through,
faz sucesso no cinema é o que se destaca
ou EST). Há um repasse das re-
no VoD. No entanto, esses novos canais
ceitas obtidas para os titulares.
são importantes para dar perenidade ao
Exemplo: iTunes.
filme”.
Segundo Walkíria Barbosa, da Total, é CATCH UP - também chamada de
vital que o cinema brasileiro ocupe logo replay TV. São conteúdos origi-
seu lugar nos novos meios de distribui- nalmente transmitidos na pro-
ção. “O VoD é a grande saída para nós, gramação de canais de TV que
depois que perdemos bilhões com o fim podem ser vistos mais tarde, por
do homevideo e o crescimento da pira- assinantes (no caso da TV paga).
taria”, diz a produtora, responsável pela “Agora, a janela O acesso pode ser feito sem pa-
franquia Se eu fosse você. “Mas o cinema
brasileiro não deve ser tratado como
de exibição não é gamento adicional além da assi-
natura. No caso da TV aberta, a
gueto. Agora é o momento de fortalecer
os players que já estão no mercado”.
mais binária, ditada reprise é gratuita. Exemplo: Net.
Desafios da regulação
Rosana Alcântara, diretora da Ancine, conta como tem sido a árdua missão de elaborar regras
para o conteúdo sob demanda no Brasil. Discussões incluem temas como cotas e tributação
Foto: divulgação
sileiro, ao consumidor coube a parte
boa: o boom de novos conteúdos au-
diovisuais ao alcance do controle e do
mouse. Já o governo federal, responsável
por regular esse mercado, ganhou uma
batata quente. Que regras aplicar a um
serviço que não estava previsto na cria-
ção do Conselho Superior do Cinema,
em 2001? Como tributar essas novas
empresas, muitas delas estrangeiras? E
como assegurar que a produção brasi-
leira teria vez?
A tarefa tem exigido reuniões, fóruns e
discussões acaloradas entre os profis-
sionais do setor e dos representantes
da União, incluindo a Agência Nacional
do Cinema (Ancine). Nesta entrevista à
Revista Filme B+, a diretora da agência DESAFIO com todos aqueles que estão represen-
Rosana Alcântara explica as caracterís- tados no conselho, que inclui TV aberta,
Temos participado de vários seminários
ticas dessas novas plataformas e conta fechada, exibidores, distribuidores, pro-
e workshops aqui e fora do país. Essa
como o governo tem se articulado para dutores. E também as OTTs, que não têm
não é uma matéria simples, envolve
estabelecer regras claras para o VoD, representação ainda. Todos estão preo-
muitas inquietações de diferentes agen-
incluindo a garantia de oportunidades cupados em relação a uma definição
tes econômicos. E implica também ca-
para os filmes e séries brasileiros nessa mais clara dessa questão. E identificam
racterísticas locais, porque impulsiona
nova vitrine. Confira os principais tópi- um mercado muito promissor.
ou atravanca a produção regional. Por
cos da conversa. REGULAÇÃO MÍNIMA
outro lado, o vídeo por demanda tem
CARACTERÍSTICAS aspectos que rompem a territorialidade, Por que não partimos para uma regula-
daí os desafios importantes do ponto de mentação cinco anos atrás? Acho que o
Ao falar de VoD, não estamos falando de
vista regulatório. Estado tem que observar como o setor
qualquer conteúdo que vai parar na in-
ternet. São serviços que têm curadoria, caminha e não sair na frente, porque
CONSELHO DO CINEMA
produções com qualidade de roteiro, de pode aprisionar e criar dificuldades.
pesquisa. De plataformas que podem O Conselho Superior do Cinema, órgão Hoje esse é um mercado que pulsa e
ser rentabilizas e que têm publicidade. que discute as macropolíticas do audio- tem todas as condições de crescer for-
São empresas que quando fazem seus visual, tem conduzido esse debate. Essa temente. Por isso temos a ideia de uma
catálogos agregam valor, definem perfil, foi a pauta quase única durante o ano de regulamentação mínima, que ajude seu
fidelizam clientes. 2015. Foram três ou quatro reuniões, desenvolvimento.
regulamentações próprias e específicas, Por isso temos da contribuição percentual por empresa
que atua no mercado.
conceituando o que é VoD, detalhando
suas similaridades e diferenças para a a ideia de uma FUTURO
TV, trabalhando aspectos como cotas
para conteúdos locais, proeminência e
regulamentação Vários players internacionais procura-
ERIK BARMACK
Vice-presidente de conteúdo
original local da Netflix
Foto: divulgação
“Queremos que nossos produtores
sejam parte de uma iniciativa global”
Qualquer conversa sobre as novas maneiras Para a Netflix, qual a importância das produções feitas no Brasil? É
um fator-chave para garantir o interesse de seus assinantes no país?
de se consumir TV hoje passa pelo Netflix.
A plataforma de streaming conhecida por Procuramos oferecer o melhor conteúdo para os nossos assinantes,
e existem histórias fantásticas do mundo inteiro que merecem ser
séries originais como House of Cards e contadas. O fator chave é a satisfação do consumidor, e esse sempre
Orange is the New Black começou a operar foi nosso objetivo: oferecer um bom serviço, por um preço justo e
no Brasil e em outros países da América conteúdo de alta qualidade. Além disso, dar às pessoas a opção de
ver o que quiser, quando e onde quiser ajuda a aumentar nossa base
do Sul em setembro de 2011. Depois de
de assinantes no Brasil e no mundo. Dito isso, trabalhamos para ofe-
contratar José Padilha e Wagner Moura para recer não só conteúdo brasileiro para os assinantes daqui, mas para
a produção internacional Narcos, sobre o nossos assinantes no mundo inteiro. 3%, nossa primeira série ori-
ginal, estará disponível em 190 países para mais de 75 milhões de
traficante Pablo Escobar, que rendeu a Moura
assinantes [desse total, 45 milhões estão nos EUA. A empresa não di-
uma indicação para o Globo de Ouro, a vulga o número de usuários no Brasil]. O licenciamento de conteúdo
empresa dá em 2016 outro passo estratégico: local tem sido uma prioridade para nós desde que lançamos nosso
a produção de sua primeira série original no serviço no Brasil, em 2011. Temos uma ótima experiência com os
profissionais brasileiros. José Padilha e Wagner Moura foram fun-
Brasil, a ficção futurista 3%. Na entrevista damentais para o sucesso internacional de Narcos. E agora estamos
a seguir, Erik Barmack, VP de produções orgulhosos de trabalhar com Cesar Charlone, que já foi indicado ao
originais da Netflix, que atua há cinco anos Oscar e é um dos diretores de 3%, e com [os atores] João Miguel e
Bianca Comparato.
na empresa e é um dos palestrantes mais
aguardados do RioContentMarket, fala sobre Quais os fatores que levaram a empresa a escolher A toca, de Felipe
as estratégias da companhia para a produção Neto, e agora 3% como seus lançamentos exclusivos no Brasil? E por
que uma série de ficção científica?
de conteúdo e o crescimento da base de
São dois projetos diferentes. A toca foi um acordo de licenciamento
assinantes no país.
– fechamos um contrato para exibir a série em primeira mão para os
nossos assinantes, assim como fazemos para muitos outros títulos.
Por Thiago Stivaletti Já 3% é nossa primeira série original realizada no Brasil a ser exibi-
da no mundo todo. É um intenso drama pessoal dentro de uma pre-
Fotos: divulgação
te global.
Estamos de olho em gêneros que sejam
locais e mostrem perspectivas únicas de O que a Netflix já sabe sobre seus assi-
histórias contemporâneas situadas es- nantes no Brasil?
pecificamente no Brasil. Atualmente, es- Sabemos que os brasileiros são apaixo-
tamos produzindo em muitos países, da nados por TV e grandes fãs da nossa pro-
África à América do Norte, e só vamos gramação original. Séries como Darede-
expandir esse movimento. Estamos or- vil, Orange is the New Black e Narcos são
gulhosos de nossos produtos feitos fora muito populares no Brasil.
dos EUA. Narcos foi uma grande surpre- 3%
sa, elogiada não só pela crítica e indica- Qual o mercado potencial que ainda
da a dois Globos de Ouro. Club de cuer- pode ser conquistado aqui?
Club de cuervos
vos, nossa primeira série fora dos EUA,
O desenvolvimento da infraestrutura de
foi um sucesso não só no México, mas
banda larga no Brasil vai continuar nos
com espectadores de língua espanhola
ajudando a fornecer um bom serviço
em outros países, incluindo os EUA. Em
por um preço justo, enquanto os consu-
2016, vamos lançar Marseille, produzi-
midores são apresentados aos muitos
da na França, The Crown, feita no Reino
benefícios da TV online, sendo o maior
Unido, e 3%. Teremos mais de 600 horas
deles o poder de controle [sobre a pro-
de programação original, incluindo as
gramação]. Esperamos ter um cresci-
novas temporadas de cerca de 30 séries,
mento constante do nosso negócio no
oito longas-metragens e 35 novas tem-
país nos próximos anos.
poradas de séries infantis.
Como se dá hoje a negociação dos direi-
Que conselhos você daria para os produ- tos de filmes brasileiros para o catálogo
tores interessados em fechar uma parce- da Netflix? Existe uma política formata- com o Now, plataforma on demand da
ria com a Netflix no Brasil? da de remuneração aos produtores e/ou operadora de TV paga do grupo Globo.
Procuramos histórias bem estrutura- integradores? Investimos em conteúdo local desde que
das, que tenham a capacidade de atra- A Netflix licencia individualmente todos começamos a operar no Brasil em 2011.
vessar fronteiras e unir fãs do mundo. os títulos oferecidos aos seus assinan- Um mix de conteúdo é um fator funda-
Não classificamos nem julgamos por tes. Cada acordo é formatado de acordo mental para crescer em qualquer região,
tipo ou gênero – desde que venha das com a legislação local. Estamos sempre por isso oferecemos um catálogo diversi-
melhores mentes criativas. Mas busca- atrás de bom conteúdo, mas, da mesma ficado. A Netflix ainda é vista como con-
mos séries que saibam tirar vantagem forma também somos bastante procura- corrente por alguns players locais que
de uma plataforma on demand. Histó- dos pelos produtores. não querem licenciar seu conteúdo. No
rias complexas e altamente serializadas entanto, temos uma forte relação com
sempre foram muito bem na Netflix. A Netflix ainda não possui um catálogo muitas emissoras locais e agregadores de
expressivo de filmes brasileiros recentes. conteúdo no Brasil. As produções locais
Como se dá a interação entre vocês e os A empresa pretende reforçar esse acer- originais também serão peça chave em
profissionais brasileiros responsáveis vo nos próximos anos? Imagino que nes- como pensar a programação no Brasil
pelas séries? O roteiro de cada episódio, se terreno exista uma forte concorrência daqui para frente.
TARA SORENSEN
Diretora de programação
infantil da Amazon Studios
Por que é importante para um serviço – mas as crianças também precisam se Quais são as principais atrações infan-
de streaming como a Amazon lançar apaixonar pela história e pelos persona- tis já lançadas pelo Amazon Studios?
programas exclusivos para crianças? gens. Para nossa programação pré-esco- A Amazon oferece uma série de progra-
As famílias formam uma parcela grande lar, trabalhamos com um consultor edu- mas originais para crianças de todas ida-
de nossa base de assinantes; por isso é cacional para se certificar que nossos des, da pré-escola à faixa dos 6 aos 11
importante fornecer conteúdo de primei- programas não sejam só entretenimen- anos. Depois de Tumble Leaf, nossa pri-
ra linha direcionado a crianças de todas to, mas inspirem o pensamento criativo meira série infantil vencedora dos prê-
e a educação por meio de um mundo de mios Annie e Daytime Emmy, lançamos
as idades, com o qual os pais se sintam
aventura e diversão. mais cinco séries originais, entre elas
bem. Como mãe, é muito bom ser res-
Gortimer Gibbon’s Life on Normal Stre-
ponsável por um conteúdo que a família Você vai participar de um painel no Rio et, série live action indicada ao Emmy;
inteira pode curtir e vivenciar junta. Content Market. Tem alguma perspec- Creative Galaxy; Annedroids, indicada ao
Que características deve ter um proje- tiva de produzir no Brasil ou na Améri- Emmy; Wishenpoof, e mais recentemente
to de programa ou série infantil para ca Latina? Just Add Magic. E já anuciamos uma leva
ser produzido e exibido pela Amazon? de novas séries: Thunderbirds Are Go,
Não temos novidades para divulgar nes- Danger & Eggs, Dino Dana, If You Give a
Em todas as nossas séries, precisamos te momento, mas esperamos encontrar Mouse a Cookie, The Kicks, Lost in Oz, The
saber que os pais se sentem bem em re- projetos inspiradores na região, que Stinky & Dirty Show e Niko and the Sword
lação ao que estão mostrando aos filhos possam interessar nossos assinantes. of Light.
Vai faltar
tempo
Netflix tem calendário cheio
de estreias para os primeiros
meses de 2016
no planeta
dos fãs
M
Unindo os universos dos
quadrinhos, cinema, TV e
internet num mesmo espaço,
Comic Con Experience atrai
Mesmo que você não se considere um nerd ou um geek,
é bem provável que já tenha ouvido falar das comic cons,
eventos que reúnem milhares de fãs de cultura pop, su-
per-heróis, games, seriados e cinema pelo mundo afora.
Fenômeno que começou nos EUA nos anos 1970, discre-
tamente, e viveu uma explosão a partir dos anos 1990, o
conceito da Comic Con chegou ao Brasil há apenas dois
anos, mas já alcançou força total.
mais de 140 mil fãs e se A primeira edição da Comic Con Experience (CCXP) acon-
teceu em 2014, em São Paulo. Ocupando 39 mil m² de um
torna espaço privilegiado de dos maiores centros de convenções da capital paulista (a
São Paulo Expo), atraiu 97 mil fãs. Na segunda edição, em
divulgação dos lançamentos dos dezembro passado, o evento viu expandir seu público e
seu espaço: 142 mil pessoas em 55 mil m2. Para 2016, um
grandes estúdios e da Netflix novo pavilhão está sendo construído ao lado do existente,
aumentando a área para 70 mil m2 – o equivalente a cerca
de sete campos de futebol. Desta vez, os organizadores
esperam movimentar 200 mil fãs.
Com seus números superlativos, em pouquíssimo tempo
Por Thayz Guimarães
o evento se tornou uma etapa fundamental da estraté-
gia dos grandes estúdios para divulgar seus blockbusters
e despertou o interesse de empresas como a Netflix e a
Rede Globo que, na última edição, fez questão de divul-
gar sua série inédita Supermax em um painel exclusivo.
DO SHOWEST AO CINEMACON
O crescente sucesso da Comic-Con fez
os grandes estúdios americanos arrega-
larem os olhos. Eles não só passaram a
empresa de VoD, uma das maiores e mais FILAS INTERMINÁVEIS Star Wars: Episódio VII – O despertar da
disputadas do evento, era possível parti- O perfil dos frequentadores também é força.
cipar de quizzes que valiam brindes ex- distinto. “Brasileiro adora um brinde,
clusivos; cantar num karaokê as músicas- A presença do tapete vermelho neste
um negócio exclusivo. É ostentação mes-
-tema de suas séries favoritas; tirar fotos tipo de evento é outra iniciativa brasilei-
mo”, Ivan se diverte. Um outro exemplo:
com personagens famosos por meio de ra. “Em outras Comic Cons, o convidado
os fãs daqui não dispensam uma foto. “O
interação virtual; e tentar “passar pelo entra pelos fundos do palco e só quem
público adora os ‘momentos Kodak’. Coi-
está no auditório consegue vê-lo. Nós
controle mental” do Kilgrave, o vilão da sas para tirar foto são com o brasileiro entendemos que se colocássemos o con-
série Jessica Jones, ao ter sua mente “con- mesmo. Vários estúdios entenderam isso vidado entrando pela porta principal,
trolada” por uma máquina. Um prato nesta última edição”. É comum ainda ver com acesso a todo o público, mesmo que
cheio para os fãs. os participantes circulando com elabora- de forma rápida, isso geraria uma como-
das fantasias de seus heróis preferidos, ção, as pessoas ficariam felizes”, explica.
Ivan afirma que o evento brasileiro tem
prática conhecida como cosplay. “E, afinal de contas, a gente está no mer-
um perfil mais descontraído do que o
americano, buscando estimular a inte- Quem foi ao evento pôde conferir as fi- cado do encantamento, não é?”.
ratividade dos fãs. “O que nós queremos las intermináveis de alguns estandes Mas é bom lembrar que na CCXP nenhu-
é criar uma experiência. Você vai ao es- como o da Warner, onde o público podia ma ideia é por acaso ou simples experi-
tande da Disney e tem uma piscina de entrar numa gaiola temática do filme mentação. “Tudo é friamente calculado,
bolinhas, vai ao da Fox e tem um ringue Esquadrão Suicida; o da Fox, em que se mas no bom sentido”, brincou Ivan, se
de patinação. Lá fora não é assim, os es- tinha, em tamanho real, um carro tom- referindo à pesquisa anual realizada pelo
túdios têm estandes mais burocráticos, bado pelo herói Deadpool e a casinha do Omelete, um dos organizadores do even-
com apresentação dos lançamentos, Snoopy; e o da Disney, com seus figuri- to, que reúne informações sobre esse pú-
sessão de autógrafos, no máximo”. nos de Capitão América – Guerra Civil e blico. Segundo o CEO, é com base nesses
resultados que o evento é calibrado, “mas reta, a crise não influenciou em nada. e apoio, operação e sistema de projeção
sem deixar de lado as questões comer- Nosso público é dedicado ao ponto de da Cinebrasil. Nele acontecem as princi-
ciais e de contrato”, esclarece. De acordo saber que não vai abrir mão daquilo”, pais apresentações do mercado de cine-
com o estudo mais recente, 55% dos fãs afirma. Muito pelo contrário: ainda ma, TV e VoD, além de pré-estreias. Na
da cultura pop no Brasil têm entre 20 e há uma demanda reprimida para um edição deste ano, que será de 1 a 4 de
29 anos e renda familiar média entre três evento dessa magnitude, já que exis- dezembro, a ideia é continuar investin-
e seis salários mínimos. tem outros do gênero no Brasil, mas do em infraestrutura e modernização
que não fazem a mesma convergência do encontro, que conta também com
CRISE? QUE CRISE? de quadrinhos, cinema, TV e internet outros dois auditórios menores, criando
Ivan cita uma frase do filme Campo dos num mesmo espaço. novos espaços.
sonhos (1989), com Kevin Costner, para Desde o ano passado, o evento conta Os organizadores têm planos para levar
explicar o sucesso do evento: “Se cons- com a parceria da Cinemark, que ad- a CCXP para outras cidades, mas a repro-
truir, ele virá”. Mesmo num período de quiriu o naming right (“direito de ba- dução de um evento deste tipo nas mes-
crise, com forte desvalorização do real, tismo”) do Auditório Thunder, o maior mas proporções é difícil, devido à nego-
que poderia tornar o entretenimento do evento. Agora chamado de Auditório ciação com os estúdios. A solução seria
algo supérfluo, os fãs vêm – e um even- Cinemark, o espaço é destinado a 2,5 investir em versões “de bolso”. Como di-
to como a Comic Con parece não ter mil pessoas e equipado com projeção ria o personagem do Campo dos sonhos:
motivos para se abalar. “De forma di- da Barco, sistema 3D da Master Image se construírem, os fãs virão.
TV por assinatura
e banda larga
2015
O Brasil é o 7º
maior mercado de TV por
Crescimento do mercado da TV paga nos Projeção de domicílios
assinantes até o fim de 2020:
67%
últimos cinco anos:
assinatura do mundo
22,8 milhões
Crescimento da base de assinantes Total de domicílios assinantes:
em relação a 2014:
9% 19,6 milhões
Total de pessoas com acesso Número de pessoas alcançadas a cada
aos canais pagos: um ponto de audiência da TV paga: Total de assinantes de banda larga:
60,8 milhões 336 mil 8,5 milhões
Fonte: Mídia Fatos – Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), disponível em www.abta.org.br
A região Sudeste
concentra nada menos
que 62% dos domicílios
4% com TV por assinatura
do país
12%
7% 62% Sudeste
15% Sul
62% 12% Nordeste
7% Centro-oeste
4% Norte
15% Fonte: ABTA / Anatel
OUTROS
VIVO TV
GVT 4% 2%
5%
OI
6%
NET
CLARO TV 37%
16%
SKY
30%
FIBRA ÓTICA
1%
CABO
39%
SATÉLITE
60%
2010 2014
Fonte: ABTA
BANDA LARGA
8,5 8,5**
7,4
5,8
4,6
3,2 3,7
2,6
1,2 1,8
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
* em milhões / ** estimativa
Fonte: ABTA
O presente do futuro
A realidade virtual frequenta as previsões dos
futurologistas há anos. Mas esse futuro, final-
mente, está bem presente. Em 2015, iniciati-
vas de grandes empresas tiraram o conceito
dos laboratórios e o puseram nas prateleiras.
A Oculus, comprada pela Facebook, lançou
o Rift. A Samsung chegou com o Gear VR. A
Streaming dá novo fôlego ao Google despachou cinco milhões de cardbo-
ard viewers, formato barato feito de papelão
cinema independente e lentes. Já a Sony criou o Playstation VR e a
HTC, o Vive. Em comum, são dispositivos leves,
Principal plataforma do cinema in- os direitos de streaming de Tallulah, usáveis, sem a maçaroca de fios dos primeiros
dependente americano, o Sundance com Ellen Page, The Fundamentals of protótipos, e alguns com o smartphone como
Film Festival, que se realizou de 21 Caring, com Paul Rudd, e o filme de peça acoplável.
a 31 de janeiro, teve uma edição horror iraniano Under the Shadow.
E o conteúdo, alguém há de perguntar? Ao que
considerada histórica em 2016. Isso
parece, ninguém quer perder esse bonde. A
porque Amazon e Netflix, serviços A companhia também teria sido
Oculus fechou parceria com a Fox em setembro
de streaming que tiveram atuações responsável pelo maior negócio do
passado para lançar mais de cem filmes no for-
tímidas em edições anteriores, arre- festival, a aquisição, pela Fox Search-
mato, incluindo clássicos como Alien, o oitavo
gaçaram as mangas e foram às com- light, de The Birth of a Nation, de Nate
passageiro e novidades como Maze runner. Na
pras, em muitos casos por valores Parker, também considerado aposta
última edição do Sundance Festival, a seção
robustos. A Amazon, por exemplo, certa para o próximo Oscar. Rumores
New Frontier programou filmetes e instalações
bateu as ofertas da Fox Searchlight afirmam que a Netflix teria dado um imersivas, incluindo um mergulho no mundo
e Focus Features e arrematou, por lance de US$ 20 milhões, mas os pro- de Perdido em Marte. Para esquentar a estreia
US$ 10 milhões, Manchester by the dutores preferiram optar por um dis- de Star Wars: O despertar da força, a Lucasfilm
Sea, de Kenneth Lonergan. Segun- tribuidor com maior experiência em lançou uma série de curtas chamada Jakku spy.
do a Variety, o filme recebeu uma cinema, fechando com a Fox Search- Em abril, o Festival de Tribeca vai programar 23
ovação semelhante à de Boyhood, light por US$ 17,5 milhões. Segundo títulos interativos, que incluem documentários,
dois anos atrás, e a compra pode ter John Cooper, diretor artístico do Sun- narrativa e jornalismo.
garantido à Amazon “um ingresso dance, os serviços de streaming estão
Resta saber se a adaptação dos espectadores
na primeira fila para o Oscar do ano ajudando a dar novo fôlego ao cine-
será indolor ou se muita desorientação e en-
que vem”. A Amazon comprou ainda ma independente, depois dos baques
joo ainda virão até que a tecnologia de imer-
Love and Friendship, de Whit Stillman, com a crise do homevideo e a decisão
são radical esteja plenamente comercial.
e o documentário Author: The J. T. dos estúdios de acabar ou diminuir
LeRoy. A Neftlix, por sua vez, garantiu suas divisões de cinema de arte.
costumeira: “Não sei como me meti nisso”, escreveu. Serão seis episó-
dios de meia hora, ambientados nos anos 60. Estão confirmados no
elenco o próprio Allen, Miley Cirus e a veterana Elaine May.
LIA BAHIA
Pesquisadora especializada em
cinema e televisão
Qual foi a principal novidade no lança- buído por independentes, e nos surpre- da. São filmes que viram séries, séries
mento de Os dez mandamentos? ende. Não vamos entrar no mérito se que viram filmes, séries que viram te-
é bom ou ruim. No caso, o interessan- lefilmes. É uma estratégia de maximiza-
Acho que temos aí três movimentos im-
te de se observar é que o cinema não ção do conteúdo audiovisual nacional.
portantes. O primeiro é que o espaço au-
pode mais ignorar a TV e vice-versa. O Contudo, não podemos esquecer de Os
diovisual brasileiro entende que é cada segundo movimento é a estratégia de Trapalhões e Xuxa, que nos anos 1970
vez mais fundamental a necessidade pré-compras de ingressos (pela igreja? e 1980 tiveram uma sólida produção
de aliança entre cinema e TV no Brasil. pela emissora?) para alavancar a per- que deslizava entre cinema e televisão.
Uma das questões mais proeminen- formance e a permanência do filme nas O que muda é que, atualmente, a circu-
tes da política pública no país é a não salas de cinema. Sabemos que o cinema laridade entre cinema e TV se torna um
integração institucional entre cinema brasileiro se faz no boca a boca, e que é recurso positivo e inserido no processo
e TV. Com a Globo Filmes, temos uma uma luta para manter o filme em cartaz.
produtivo; não é mais visto como nega-
integração entre cinema e TV privada. Alguns produtores independentes usam
tivo e de exceção.
Com a Lei 12.485, tivemos um avanço dessa estratégia, mas em escala bem me-
importante, mas que não dá conta da nor. Os dez mandamentos também assus- O filme tem um final diferente do exi-
regulação da TV aberta. Aí vem Os dez tou por este fato. Por fim, não podemos bido na TV, que introduz a próxima no-
mandamentos, que não tem nada a ver ignorar que, nesse caso específico, ainda vela da Record. De que maneira você vê
com a Globo nem com o Estado, distri- entra a questão da religião, que é bastan- essa ligação?
te delicada e controversa e abre debates
É um gancho do filme para a novela. A
importantes sobre sua relação com o au-
convergência transmidiática, tendência
Os dez mandamentos diovisual no país.
mundial do modelo capitalista e tão ce-
Essa estratégia de lançar no cinema lebrada, se apresenta de maneira singu-
um conteúdo de sucesso na TV não é lar e contraditória no Brasil. Uma novela
novidade. De que maneira isso já foi que se desdobra em temporadas, mas
Foto: divulgação
CINEMA
2015
A A crise que se abateu sobre a economia brasileira em
2015 não chegou a atingir o mercado de cinema do país,
que apresentou crescimento pelo décimo ano consecu-
tivo em arrecadação de bilheteria. A renda total chegou
a R$ 2,31 bilhões, uma alta de 17,1% em relação a 2014,
e o público foi de 170,7 milhões, alta de 8,5%.
exibidos comercialmente no circuito de salas do país, um
número 16% maior que o de 2014. Essa alta se explica,
pelo menos em parte, pelo próprio avanço da digitaliza-
ção, que tem facilitado a distribuição de filmes indepen-
dentes.
O cinema nacional também teve um ano de crescimento,
O circuito exibidor também continuou seu processo de com alta de 16,4% em renda e de 10,1% em público. Fo-
contínua expansão, chegando a 2.960 salas, e o proces- ram R$ 266 milhões arrecadados nas bilheterias e 21,6
so de digitalização, como esperado, avançou bastante. milhões de ingressos vendidos.
Nada menos que 97% das salas do país já trabalham com
Como também houve um crescimento proporcional dos
projeção digital.
filmes estrangeiros, o market share dos filmes nacionais
O número de estreias nos cinemas aumentou significati- se manteve estável, com participação de 11,5% em ren-
vamente. Nada menos que 435 longas-metragens foram da e 12,7% em público.
2.819 2.960
2.645
2.529
2.225 2.346
2.045 2.050 2.063 2.096
1.997 2.045
1.817
1.620 1.635
+0,9% +11,1% +9,9% +2,4% +0,0% +0,2% +0,6% +1,6% +6,2% +5,4% +7,8% +5,0% +6,6% +5,0%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Público
(em milhões)
170,7
148,9 151,2 157,2
141,7
134,9
117,4 112,7
105,0
90,8
75,0
93,6 90,2 89,3 89,1
+21,0% +15,6% +11,8% -20,3% -3,6% -1,0% -0,2% +26,5% +15,7% +5,0% +5,1% +1,5% +4,0% +8,5%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Renda
(em milhões)
2.311,9
1.973,3
1.769,9
1.639,6
1.417,5
1.261,3
970,4
784,5 695,1 712,7 727,1
660,6
412,5 529,7
672,0
+28,4% +24,7% +18,7% -14,3% +3,4% +2,5% +2,0% +33,4% +30,0% +12,4% +15,7% +7,9% +11,5% +17,1%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Lançamentos
435
395
337 333
302 278 375
225 336 328 327
197 317 306
154
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Lançamentos nacionais
130
120
98
82 82 85 103
73
51 76 82
51
30 30 30
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Lançamentos estrangeiros
305
264 275 272
251 235 245
195
167 254
124 227 246 232 230
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
22,0 21,6
15,9 19,6
17,8
16,4
10,3 15,1
7,8
6,9
10,7 9,9
8,8
+13,0% +182,0% -25,5% -34,7% -7,4% +4,0% -14,6% +80,7% +61,0% -30,5% -15,2% +86,1% -30,6% +10,1%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
225,7
166,9 228,5
134,0 131,4
110,1 154,0
79,0
35,5 40,3
73,8 73,7 69,3
+13,5% +232,5% -17,8% -32,9% -0,1% +7,2% -12,3% +89,6% +71,7% -26,1% -7,7% +94,8% -24,9% +16,4%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
21,4%
19,0% 18,6%
14,2%
12,6% 12,7%
11,6%
14,3%
9,3% 12,4%
12,0%
11,0% 10,2%
9,9%
8,0%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Quantas horas por dia você passa navegan- volto é o No Film School e o Cinephilia & da imaginação), eu já havia acumulado
do e como a internet ajuda seu trabalho? Beyond. uma considerável bagagem de literatu-
ra e audiovisual que devia tudo a ela – e
Não sei dizer ao certo, mas passo mais
Onde você busca informações sobre fil- foi como voltar para casa. É um marco
horas por dia conectado do que seria
mes, séries, etc? absoluto e uma fonte constante de ins-
desejável – ou mesmo saudável. Quan-
Além dos suspeitos usuais (Variety, piração. É impossível escolher um único
do escrevo, tenho como regra ficar des-
Hollywood Reporter, Filme B, etc), de episódio favorito, então vou me permi-
conectado. É claro que a internet pode
onde tiro minha dose diária de informa- tir selecionar dois: Time Enough At Last,
ser uma grande aliada na pesquisa e nas
ção, tenho predileção por sites como o escrito pelo próprio Serling e um exem-
ferramentas para o seu aprimoramento
TwitchFilm e o IndieWire, que me apre- plo perfeito do seu estilo irônico, e The
profissional, mas um dos grandes desa-
sentam novidades sobre o cinema inde- Howling Man, do Charles Beaumont, que
fios é separar o joio do trigo: sites dedi-
pendente internacional com qualidade. emprestou sua voz única aos avanços da
cados a técnicas de produção de roteiros
Descobri uma imensidão de filmes e série no terreno do horror.
e DIY filmmaking estão em toda parte e
quase sempre flertam com a mistifica- cineastas incríveis a partir dessas duas
ção motivacional e a autoajuda. Entre fontes.
os sites dedicados a roteiros que sem-
pre justificam a visita estão o de John Qual sua série favorita de todos os tem-
August e o Go Into the Story, que con- pos, qual a temporada favorita dessa série
seguem aliar bons conselhos práticos e (ou de outra), e qual o capítulo favorito de
profissionais a um trabalho analítico de qualquer temporada dessa série (ou de
primeira. Outra boa dupla à qual sempre outra)?
Entre as primeiras séries que vi estavam
DIY filmmaking: DIY é a sigla para “do it Galeria do Terror e o remake de Além da
yourself”, ou seja, faça você mesmo. DIY film- imaginação, além de outras antologias
making, portanto, significa algo como “faça como Amazing Stories e Contos da Cripta.
seu próprio filme” Quando, já adulto, finalmente tive aces-
so à série original do Rod Serling (Além
O Santo Graal
Como alcançar o almejado mercado de TV nos Estados Unidos
Produtora e roteirista com 13 anos de experiência, é consultora da rede americana ABC para o mercado brasileiro.
Foi Gerente de Programação da Globo e Diretora de Desenvolvimento da produtora Os Alquimistas, eleita uma das
100 empresas mais inovadoras do mundo. Tem passagens também por Telecine, Riofilme e Oi Futuro.
a
Após um ano morando nos Estados Uni- cinco anos. Em 2014, esse número pu- narrativas dos seriados, como uma tra-
dos, é difícil resumir as inúmeras dife- lou para 371. Hoje, são mais de 400. ma central clara e condensada, e menos
renças em relação ao mercado de televi- personagens. Avenida Brasil foi vendida
Nesse cenário altamente competitivo, ga-
são no Brasil. Mas estamos caminhando para mais de 130 países.
nham as melhores histórias. Segundo Eri-
para uma interseção nunca antes vista,
ka D. Kennair, Vice-presidente de Comédia Ao mesmo tempo, aqui nos EUA, ganhou
graças à combinação de dois fatores: o
e Desenvolvimento Internacional da ABC, força a dramaturgia mais soapy, mais no-
aumento da produção de séries de qua-
“a busca por talentos, histórias e perso- velesca e melodramática, com relações
lidade no Brasil e a busca por conteúdo
nagens maravilhosos tem que ir além das familiares complicadas, backstories ela-
internacional pelos canais americanos.
fronteiras do nosso país”. boradas e grandes viradas. É o caso das
Além de cinco canais de TV aberta e mais séries de Shonda Rhimes (ABC) e de Em-
A ABC tem uma rede de consultores de
de 180 canais a cabo, já é notícia velha o pire (FOX), a grande revelação de 2015.
diferentes nacionalidades, da qual faço
investimento e os resultados de serviços
parte, que a ajuda a encontrar essas his- Com um crescente diálogo entre a lin-
de streaming como Netflix, Hulu e Ama-
tórias. As possibilidades são reais: a con- guagem americana de seriados e a lin-
zon Studios. Apesar de não divulgarem
sultora britânica trouxe uma comédia guagem latino-americana de teleno-
seus dados de audiência, séries do Ne-
que está em desenvolvimento pela ABC, velas, o mercado dos EUA vê um bom
tflix como House of Cards, Unbreakable
sobre a relação disfuncional e codepen- potencial para a compra de produtos
Kimmy Schmidt, Orange is The New Black,
dente de uma lésbica e seu amigo hétero. brasileiros. “A televisão precisa de dinâ-
e do Amazon Studios, como Transparent
e Mozart in the Jungle tiveram reconhe- E os critérios usados pela rede, parte micas entre personagens que vão durar
cimento do público, da crítica e das pre- da Disney, deveriam ser a bússola de de temporada a temporada, e o Brasil
miações – dado que faltava para legiti- qualquer roteirista: “Nossos programas estabelece essas dinâmicas de forma ad-
mar seus esforços como produtores de precisam ter personagens incrivelmente mirável com suas novelas”, diz Michelle
entretenimento de qualidade. interessantes e originais”, explica Samie Woodmansee, Gerente de Comédia e De-
Falvey, Vice-presidente Executiva de Co- senvolvimento Internacional da ABC.
Diferentemente da televisão aberta
média e Desenvolvimento Internacional
(gratuita e dependente de anúncios e A venda de novelas prontas dubladas é,
do canal. “Obviamente, também estamos
números de audiência), os serviços de portanto, apenas um pedaço das pos-
atrás de histórias e mundos bem criados
streaming adotam, agora, a mesma es- sibilidades de receita para o conteúdo
e de autenticidade emocional, já que é
tratégia lançada pela HBO, desde a sua nacional, a exemplo da empresa Keshet,
necessário criar uma conexão emocio-
concepção, na década de 1970, e inves- de Israel, que exportou para o mundo
nal com os fãs”. E como isso começa?
tem em conteúdo exclusivo, original formatos como In Treatment (original-
“Sempre dizemos: tudo começa com os
e inovador, que justifique um desem- mente Be’tipul) e Homeland (origina-
personagens”, reitera Samie. Nosso his-
bolso mensal para o consumidor. Com lemente Hatufim). Alguns seriados da
tórico de exportação de novelas prontas
mais players competindo por atenção, Keshet fizeram sucesso nos EUA, outros
é antigo, como não poderia deixar de ser,
aumentou também o investimento em não. E assim é a vida em Hollywood,
já que o Brasil produz as melhores do
ficção seriada. uma terra em que o sucesso pode estar
mundo. Dentro desse filão, o campeão
Segundo um estudo do canal FX, a TV é João Emanuel Carneiro, que, não por na próxima esquina, desde que não se
americana tinha 280 séries de ficção há acaso, traz para suas novelas estratégias pare de produzir.
Cenário de incertezas
Quais os desafios do ambiente de VoD no Brasil
Sócios do escritório Cesnik, Quintino e Salinas Advogados. Fábio Cesnik se formou em direito pela USP e se especializou na área de
mídia e entretenimento. É autor dos livros Guia do incentivo à cultura e Globalização da cultura, ambos da editora Manole. Gilberto
Toscano também se formou pela USP, com pós-graduação em Direito do entretenimento pela Escola Superior de Direito da OAB.
O O desenvolvimento tecnológico do
streaming tornou possível a disponi-
bilização de conteúdos fonográficos e
audiovisuais transmitidos em período
determinado pelo próprio usuário (o
VoD) por meio da internet. Mas a conti-
nuidade do crescimento desse mercado
no Brasil depende da implementação
Internet, e aproximá-la da ingerência do
próprio CSC e da Agência Nacional de
Cinema (Ancine). A regulação de tal ma-
téria e da agência competente para sua
regulamentação e fiscalização, de qual-
quer forma, depende da aprovação de
uma lei específica, a ser proposta na for-
ma do art. 61 da Constituição Federal.
análise, votação e posterior promulga-
ção permanecem incertos.
3 - A ausência de lei e de uma agência
governamental competente para regula-
mentar e fiscalizar o mercado de VoD. A
regulação do VoD envolve itens como
o registro de agentes econômicos e as
de um ambiente juridicamente seguro informações que deverão prestar, ques-
2 - A ausência de regulação do uso de tões concorrenciais, metodologia para
e economicamente viável. Atualmente,
dados pessoais, essencial na definição de eventual criação de cotas para conteú-
são entraves para essa implementação:
limites para o uso de dados de usuários dos brasileiros, etc. Se depender do teor
1 - A ausência de uma agência governa- de plataformas de VoD para mapeamento do documento “Desafios para a regula-
mental para regulamentação e fiscaliza- e sugestões de consumo de outros conte-
mentação do vídeo sob demanda” e da
ção da internet no Brasil, essencial para údos. O uso de dados pessoais em geral
atenção dedicada pela Ancine ao tema,
plataformas de VoD que operam sobre conta com poucos princípios e parâme-
poderá ser a Ancine tal agência, se assim
rede aberta (OTT). O conceito jurídico tros (a exemplo daqueles especificados
dispuser lei futura.
que mais se aproxima ao de plataforma no Marco Civil da Internet, aplicável ao
de VoD que opera sobre rede aberta é o uso de dados em redes abertas, na Cons- 4 - A definição de um modelo de tributação
de provedor de aplicações de internet, tituição e no Código Civil). Isso acarreta saudável para plataformas de VoD sobre
previsto no Marco Civil da Internet (Lei incertezas cujas informações são utili- rede aberta e rede fechada. O que pas-
12.965/14), cujo art. 5º, VII conceitua zadas (quais os limites e as condições sa – mas não se limita – pela redefinição
aplicações como “o conjunto de fun- para uso desses dados) e para as empre- do método de cálculo da Condecine a ser
cionalidades que podem ser acessadas sas que se utilizam desses dados (qual a cobrado pela disponibilização de conte-
por meio de um terminal conectado à viabilidade jurídica e a durabilidade no údos audiovisuais nessas plataformas.
internet”. O Conselho Superior do Ci- médio prazo das ferramentas em que in-
nema (CSC), a despeito disso, publicou, vestem para uso de dados de terceiros, a 5 - O enquadramento do direito autoral
em 17/12/15, um documento intitula- exemplo da indicação de obras audiovi- para comercialização de conteúdos por
do “Desafios para a regulamentação do suais baseadas nos elementos disponí- demanda do usuário. Dado o impacto da
vídeo sob demanda”, no qual declara veis do usuário de certa plataforma de sua possível classificação como comuni-
entender que “o VoD não se confunde VoD). A disciplina desses dados tam- cação pública na arrecadação de receitas
com serviços de provimento de conexão bém depende da aprovação de Lei no por associação musical de gestão coletiva.
de internet”. Um argumento questio- Congresso Nacional e, em outubro de A relevância dessas questões torna ne-
nável do ponto de vista técnico, com o 2015, o Ministério da Justiça encami- cessária a participação ativa de todos os
provável fim de afastar sua futura regu- nhou à Casa Civil um anteprojeto de lei interessados nos processos de constru-
lamentação do âmbito da Lei Geral das para disciplinar o assunto, cuja modifi- ção dessas políticas e das normas que as
Telecomunicações e do Marco Civil da cação e apresentação ao Congresso para lastrearão.
Universos paralelos
Até onde o público está disposto a ir por uma história
M
“Mas eu só quero ver um filme”, comen- lineava dessa maneira há tempos, desde Nem toda história precisa de crossovers,
tou um amigo em uma discussão no a década de 1950. spinoffs e estratégias em múltiplas mí-
Facebook, que começou com um post dias. A lógica transmídia, tão comentada,
No seu livro mais conhecido, Cultura da
bastante empolgado sobre o trailer de não deve se impor ao conteúdo. E ainda
convergência, Henry Jenkins apresenta
Capitão América: Guerra civil. O desaba- tem a questão do público: você deve estar
a sinergia como a oportunidade econô-
fo veio depois de uma série de mensa- onde sua audiência está. Assim como não
mica representada pela capacidade de
gens explicando como o filme poderia adianta explorar mídias que não tenham
possuir e controlar manifestações de
influenciar a próxima temporada de aderência com sua narrativa, de nada
um conteúdo por diferentes sistemas de
Agents of S.H.I.E.L.D., em que lugar do adianta criar conteúdo para snapchat se
distribuição. Junto à extensão – a ten-
tempo estaria situada a história depois seus espectadores nem conhecem o apli-
tativa de expandir mercados potenciais
do último filme do Homem de Ferro e de cativo, por exemplo.
pelo movimento de conteúdos por esses
Vingadores: Era de Ultron, e quais as ex-
sistemas – e à franquia – o esforço em Da mesma forma, você pode ter um pro-
pectativas para o aparecimento do novo
imprimir uma marca e um mercado a duto que agrade a diferentes públicos e
Homem-Aranha.
conteúdos ficcionais –, a sinergia seria criar, para cada um deles, diferentes ca-
A mesma situação poderia ter aconteci- uma peça fundamental da cultura da minhos da história a serem descobertos.
do em alguma publicação em torno de convergência a que se refere o título. Assim, cabe ao consumidor decidir até
Legends of Tomorrow, série lançada no onde ele está disposto a ir. O principal
fim de janeiro nos Estados Unidos (e em Muita gente vê a convergência como cuidado que precisamos ter nesse mo-
fevereiro no Brasil), reunindo persona- uma questão essencialmente tecnológi- mento é não excluir ninguém. Um espec-
gens que já haviam aparecido em Arrow e ca, que acabou impactando o comporta- tador que não acessa uma determinada
Flash, dois grandes sucessos da TV ame- mento do público – mas o movimento na plataforma ou não conhece algum meio
ricana que, por muitas vezes, tiveram verdade é bem mais complexo que isso. não deve se sentir frustrado por estar
suas tramas cruzadas com o intercâm- Na verdade, esses padrões de consumo perdendo parte da história. Ele tem tanto
bio de personagens e histórias compar- já estavam ali há tempos, ainda que cer- direito ao conteúdo quanto o maior fã.
tilhadas – as primeiras cenas de Flash, tamente tenham sido imensamente po-
tencializados pelas novas possibilidades Em um mercado hipersegmentado, não
inclusive, apareceram em um episódio
podemos tratar os nichos como mains-
da segunda temporada de Arrow, antes tecnológicas.
tream. Há, sem dúvidas, um grupo de-
mesmo do lançamento do piloto da série A tecnologia fez com que pudéssemos le- dicado, que acompanha as histórias e
sobre o homem mais rápido do mundo. var diferentes conteúdos para qualquer corre atrás dos personagens, encarando
A sinergia entre diferentes meios na lugar e nos aproximou ainda mais dele. a experiência como um grande quebra-
indústria do entretenimento não é no- Assim, não necessariamente surgiram -cabeça narrativo que espalha peças em
vidade. Nas décadas de 80 e 90, acom- novas formas de assistir à TV, mas os há- diferentes plataformas; mas há, tam-
panhamos produtos voltados para o bitos foram adaptados à nova realidade. bém, aquele consumidor que se esforça
público jovem que eram uma mistura Uma realidade em que nos encontramos para conseguir dedicar uma hora da se-
complexa de diferentes mídias, incluin- conectados, e onde nossa vida se dá em mana a uma série, ou comemora quando
do filmes, programas de televisão, clipes diferentes plataformas. Nada mais natu- consegue um tempo para ir ao cinema. E
musicais, livros e videogames – uma ral, então, que as histórias nos acompa- todos, sem exceção, querem e merecem
cultura jovem que, na verdade, já se de- nhem, certo? Não necessariamente. se divertir.