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1590/S0080-623420140000100004
Artigo Original
O existir da enfermagem cuidando
na terminalidade da vida: um estudo
fenomenológico*
* Extraído da dissertação “A vivência existencial dos profissionais de enfermagem no cuidado paliativo hospitalar oncológico”, Universidade Estadual de
Maringá, 2011 1Doutoranda em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil 2Professora Associada da Graduação e Pós-
Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil. catasales@hotmail.com 3Professora Associada da Graduação e
Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil
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Rev Esc Enferm USP Recebido: 06/08/2013 O existir da enfermagem cuidando na terminalidade
Português / Inglês
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Introdução vivenciado pela equipe de enfermagem que, por um lado,
sente-se aliviada pelo término do sofrimento do doente e,
Desde os primórdios da Enfermagem, o cuidado ao ser por outro, angustia-se ante o quadro de dor que a morte
humano é a essência da profissão, cuja força de trabalho traz consigo. No cuidado ao doente fora de possibilida-
emana em favor da vida, realizando tarefas voltadas à des terapêuticas e sua família, os profissionais de enfer-
cura das doenças e à recuperação da saúde. No entanto, magem são influenciados por suas concepções, valores e
como profissionais da saúde, defrontamo-nos com o res- experiências em relação à morte e ao morrer e, nessa con-
gate da vida e também com situações de morte e com a dição, precisam trabalhar suas emoções(9).
necessidade de aceitar esse fato como um processo natu- Partindo do pressuposto que cuidar requer a tríade
ral do ciclo evolutivo(1). cuidador-paciente-família, a ação do cuidado deve partir
Os cuidados paliativos são uma abordagem altamente de quem cuida, mas quem cuida também precisa ser cui-
especializada para ajudar as pessoas com câncer e seus dado. Delinear a presente pesquisa conduziu-nos a bus-
familiares a viver e a enfrentar o morrer da melhor forma car a compreensão do fenômeno: Como se sentem esses
possível. Desde 1990, a Organização Mundial de Saúde profissionais ao realizar CP no ambiente hospitalar? Como
(OMS)(2) adotou a filosofia dos cuidados paliativos (CP) co- a situação de terminalidade é vivenciada por eles? A pro-
mo uma terapêutica humanizada ao cuidado de pacientes posta deste estudo foi compreender o sentido e o signi-
cuja doença não responde ao tratamento curativo, espe- ficado atribuídos pela equipe de enfermagem hospitalar
cialmente, quando a doença se encontra em fase avança- oncológica à prática da paliação.
da e progressiva(3). A nosso ver, pesquisas com esse escopo justificam-se,
Os CP podem ser realizados em diferentes contextos, uma vez que, para o ano de 2013, as estimativas apontam
como no domicílio, nas instituições gerais de saúde em a ocorrência de aproximadamente 518.510 novos casos
que o doente esteja internado, em uma unidade específica de câncer(10). Tal realidade demonstra que cada vez mais
dentro da instituição de saúde, destinada exclusivamente os profissionais de saúde, principalmente os da enferma-
a essa finalidade, e ainda em instituições sociais que aco- gem, terão de prestar cuidados a pessoas com câncer e
lhem doentes com câncer para realizar tratamento anti- suas famílias. Nesses momentos de cuidado, a equipe de
neoplásico(4). Visam promover qualidade aos dias de vida enfermagem passa por sofrimento emocional ao se de-
do paciente sem possibilidades terapêuticas por meio do frontar com situações suscitadas pela doença. Isso requer
alívio da dor e do sofrimento biológico, psicológico e es- a compreensão de como esses profissionais vivenciam o
piritual(2). Apesar de os CP constituírem uma modalidade cuidado, o que inclui a identificação de suas necessidades
terapêutica a ser empregada desde o diagnóstico de uma biopsicossociais, que devem ser levadas em consideração
doença crônico-degenerativa, como o câncer, atualmente no planejamento das ações e programas de saúde volta-
são utilizados somente quando a medicina tradicional não dos a tais profissionais.
consegue resgatar a vida do doente.
MÉTODO
A equipe de enfermagem participa diretamente do
processo de tratamento e encontra-se presente no fim da
vida, cabendo-lhe assistir ao paciente sem possibilidades Na busca de sanar nossas inquietações, optamos pela
terapêuticas e familiares. Ao cuidar do paciente oncoló- pesquisa qualitativa, numa abordagem fenomenológica
gico, os profissionais de enfermagem experimentam si- existencial heideggeriana. A fenomenologia heideggeria-
tuações de sofrimento, angústia, medo, dor e de revolta na(11) mostra tem um sentido ontológico, pois se volta pa-
vivenciadas pelo paciente e por seus familiares e, como ra a própria questão do Ser. A essência (eidos) do homem
seres humanos dotados de emoções e sentimentos, em reside em sua existência e somente pela existência do en-
alguns momentos manifestam as mesmas reações(5). te é possível se dirigir ao Ser com a finalidade de desvelar
seus mistérios. Possibilita ao profissional da enfermagem
Essa situação foi reiterada em um estudo realizado pa- dar sentido a suas vivências e atividades, tornando-o
ra avaliar o impacto do cuidado ao doente oncológico pela mais atento e reflexivo sobre a realidade e o modo de ser
equipe de enfermagem que assevera que os profissionais dos outros(12).
do cuidado não estão preparados para lidar cotidiana-
mente com as fragilidades humanas em relação à vida e Considerando tais aspectos, vislumbramos na aborda-
à morte, o que gera sofrimentos e angústias(6). Essa é uma gem fenomenológica a possibilidade de compreender a en-
realidade não apenas no cenário brasileiro, mas também fermagem no seu existir de cuidado ao doente com câncer
em países veteranos na implantação da paliação(7-8). sem prognóstico de cura, ou seja, por meio da sua existên-
cia, abarcar as suas dimensões existenciais de ser humano
Em nossas experiências como enfermeiras e docentes que cuida. Assim, a região de inquérito ou ontológica é a
de Enfermagem convivemos com situações de morte ao própria situação na qual ocorre o fenômeno que buscamos
acompanhar alunos de graduação em enfermagem na Ala desvelar - a subjetividade latente nas vivências dos pro-
Oncológica de hospitais gerais. Percebemos o paradoxo fissionais de enfermagem, enquanto seres do cuidado, do
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setor oncológico de um hospital geral de médio porte, loca- sensação de realização profissional no cuidado ofertado,
lizado na região Centro-oeste do Estado do Paraná. demonstrando compaixão ao doente em seu ser morrendo.
Foram sujeitos da pesquisa 14 profissionais de enfer- Dá uma satisfação para a gente ver que o paciente não
magem. Os critérios de inclusão adotados foram: atuar na esta sofrendo, proporcionar o mínimo que ele possa so-
Ala Oncológica do hospital em estudo e integrar a catego- frer quando agente não pode interferir, ou ao estar aju-
ria de auxiliar, técnico de enfermagem ou enfermeiro. Ex- dando ele de alguma forma nos seus últimos dias de vida
cluiu-se do estudo o sujeito que se ausentou do ambiente (Procyon).
de trabalho no período de coleta, por motivos de licença,
atestado médico ou férias. Um dos profissionais recusou- (...) quando eu consigo aplicar algum tipo de cuidado para
se a participar do estudo, o que resultou em 13 depoentes. o paciente paliativo e eu percebo que isso foi importante,
que contribuiu para ele ficar mais confortado, mais tran-
Os dados foram coletados entre os meses de março a qüilo, eu me sinto não é gratificado, é satisfeito (Vega).
maio de 2011, por meio de uma entrevista gravada, nor-
teada pela questão: O que você sente ao realizar os cuida- Eu fico feliz e triste por saber que a família está passando
dos paliativos ao doente oncológico? Também foram reali- por aquilo, mas me sinto feliz. Eu acredito que não deixo
zadas anotações em um diário de campo. Posteriormente, de fazer nada para amenizar a dor desse paciente em ca-
as entrevistas foram transcritas na íntegra e cada discurso so terminal e em estado paliativo. Dou tudo de mim e é
foi analisado individualmente(13). A priori, realizamos lei- bem confortável (Hadar).
turas atentas de cada depoimento, separando os trechos Na construção do cuidado ao doente hospitalizado e
ou unidade de sentidos (us) que se mostraram estrutu- sem possibilidades de cura, os profissionais experimentam
ras fundamentais da existência. A posteriori, analisamos sentimentos de realização, dever cumprido e satisfação ao
as unidades de sentidos de cada depoimento, realizando visualizar os resultados do seu trabalho por meio do reco-
uma seleção fenomenológica da linguagem de cada sujei- nhecimento manifestado pelo doente com câncer e seus
to, pois uma unidade de sentido é, em geral, constituída familiares. Tais sentimentos motivam a equipe de enferma-
de sentimentos revelados pelos depoentes que contem- gem a prosseguir exercendo a arte de cuidar.
plam a interrogação ontológica. Finalmente, destacamos
os sentidos que mais se desvelaram em cada discurso, Eu sinto prazer em poder ajudar as pessoas. Muitas ve-
dos quais emergiram as temáticas ontológicas: Sentindo zes eles até dizem: Como é bom ter alguém para me es-
satisfação e amor no cuidado ofertado e sentindo revolta cutar, ouvir meu problema e que me entenda realmente
e impotência frente à terminalidade, que foram interpre- (Capella).
tadas à luz da perspectiva heideggeriana e de autores que
pesquisam sobre a paliação. Eu sinto uma sensação muito gratificante, ainda mais
aqui (na ala oncológica) que eles te agradecem e você
Para manter o anonimato, os sujeitos receberam pseu- tem um contato grande, pois qualquer ato que você fa-
dônimos de estrelas, pelo fato de serem corpos celestes ça, eles te agradecem. Vendo a situação do paciente,
que servem de orientação para muitos navegadores e eu me sinto realizada como profissional e estar poden-
apresentarem um brilho próprio, cintilante e irradiante, do ajudar (Aldebaran).
que proporciona beleza ao céu, mesmo nas noites escu-
ras(14). Isso porque consideramos que o brilho da enferma- O liame do cuidado em enfermagem dá-se por meio
gem, em seu existir cuidando, serve de guia e amparo pa- do amor que esse ser sente pela profissão e, ao atuar nos
ra muitos pacientes oncológicos e seus familiares durante cuidados paliativos ao ser doente com câncer, demonstra
a estadia hospitalar e que, mesmo nos momentos difíceis, que sem esse componente é difícil a implementação de um
como a morte, não deixa de iluminá-los. cuidar humanizado.
As entrevistas transcritas e gravadas foram armazena- (...) eu cuido por amor mesmo, não por dinheiro. Eu acho
das de forma eletrônica. O desenvolvimento do estudo que estou no caminho certo, no lugar certo. Até eu quero
respeitou os aspectos éticos, disciplinados pela Resolução me aprofundar mais, fazer um curso, assistir uma palestra
196/96, e foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética sobre isso (Barnard).
e Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade Estadual
(...) eu amo essa profissão. Aqui você vê muito sofrimen-
de Maringá, sob o parecer número 709/2010.
to, é um teste. Acho que todo mundo que faz enfermagem
tinha que passar pela oncologia para ver se realmente vai
RESULTADOS amar essa profissão (Régulus).
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(...) você vai embora para casa e depois fica pensando. também gera a indiferença do profissional no cuidado com
Não tem como você sair, ir embora para casa e esquecer o doente em seu sendo para a morte, como um mecanismo
tudo. Não têm como, você acaba se envolvendo, a gente de defesa a fim de se manter mentalmente hígido.
tenta evitar esse envolvimento mais acaba se envolvendo
(Riguel Kentourus). Eu não me sinto bem (...) Não é uma coisa fácil de estar
fazendo, estar vendo a pessoa ali no leito, sabendo que
Há... eu chego em minha casa e rezo muito, sabe a gente pode morrer a qualquer momento, e que não tem outra
entrega o plantão e a gente sabe que deixa o paciente em coisa a fazer. Então eu procuro até não ter muito conta-
uma situação e quando volta ele pode não se encontrar to, não se apegar muito ao paciente, porque depois quem
mais (...)(Luyten). acaba sofrendo é a gente (Wolf).
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autenticidade para conseguir trabalhar com a termina- terminalidade da vida. A morte é uma realidade no dia a
lidade e promover o crescimento pessoal do doente, da dia da enfermagem, porém o sofrimento a ela associado
família e de si mesmo(18). traz consigo algo difícil de ser abarcado no cotidiano pro-
fissional. Em suas falas, os depoentes expõem que, mes-
O ser que cuida precisa ter empatia para com o ser mo sofrendo, o exercício da enfermagem exige que se con-
que está sendo cuidado, ou seja, projetar-se para a situa- tinue a cuidar do outro, que também sofre(5).
ção existencial deste no instante vivido, pois o cuidado só
ocorre quando há manifestações de solicitude. Nas ações Para realizar o cuidado humanizado e estar-com-o-do-
de enfermagem, de um lado, existe a pessoa que se en- ente, o enfermeiro dispõe de uma ferramenta essencial, ou
contra doente e, de outro, o profissional que realiza o cui- seja, ele próprio. Para tanto, torna-se fundamental trans-
dado, ambos trazendo em sua essência o cuidar. E é essa cender a si próprio, para ser capaz de fornecer os cuidados
díade que permite a comunicação enfermeiro-paciente, de enfermagem terapêuticos ao doente oncológico, como
em que cada um se encontra em possibilidade de cuidado a autoconsciência, esclarecimento dos valores, exploração
consigo mesmo e de solicitude para com o outro. dos sentimentos, senso de ética e responsabilidade(20).
Constatamos nas falas dos profissionais que eles sen- Um estudo realizado com o objetivo de investigar a
tem satisfação e prazer em estar com o outro e sentem-se humanização do cuidado nas percepções dos enfermeiros
realizados profissionalmente nessa temporalidade vivida. ressaltou a necessidade desses profissionais conhecerem
Nessas situações, entendemos que o tempo, a experiên- a si próprios antes de conhecer o outro e, por meio desse
cia, a formação e a atitude pessoal e profissional tornarão autoconhecimento, descobrirem suas habilidades e limi-
o cuidado aos doentes terminais mais gratificante no coti- tações para poder planejar as ações que permitam que o
diano desses profissionais(8). doente e família também os percebam como seres huma-
nos no mundo do cuidado(20). Sendo assim, ao estarem-
Os cuidados paliativos no ambiente hospitalar consti- no-mundo, esses profissionais desvelam sentimentos que
tuem uma modalidade coadjuvante de atendimento, visto trazem em seu mundo próprio (selbstwelt), haja vista que
ser a assistência domiciliar a essência basilar desse cuidar. existir-no-mundo é, antes de tudo, compreender-se a si
Porém, diante da exacerbação de sintomas que não po- mesmo em seu próprio ser.
dem ser controlados em domicílio, por diversas vezes a
hospitalização do paciente torna-se necessária(6). Sua per- Das locuções dos entrevistados depreendemos que
manência prolongada na Ala Oncológica e as internações trabalhar em uma Ala Oncológica é algo que acarreta sofri-
sucessivas provocam nos profissionais da enfermagem a mento físico e mental que decorre do sentimento de impo-
aproximação e a interatividade com a vivência na qual o tência de sentir-se impotente ante o processo morte-mor-
paciente está inserido, viabilizando solicitudes de cuida- rer. A literatura ratifica que esse sentimento de ineficácia
dos que vão além do contato profissional com o doente e do profissional de enfermagem ante a moderna medicina
transcendem para o pessoal desse ser cuidador que, mes- biotecnicista que, cada vez mais, por meio de tecnologias
mo fora do ambiente de trabalho, manifesta solicitude pa- de última geração, busca a inserção de técnicas e pesquisas
ra com o foco de seu cuidado: o doente com câncer sem que visam à cura, almejam a sobrevida de seus pacientes e
possibilidades terapêuticas. negligenciam o processo de terminalidade e da morte ao
albergar a ilusão da vitória sobre a morte(21-22).
O envolvimento emocional e a formação de vínculo
possibilitam uma relação de maior confiança entre do- A morte é vista e vivenciada pela equipe de enfer-
ente, família e equipe de enfermagem. O profissional magem como uma intrusa na existência do doente e
percebe que, dessa maneira, o tratamento e os cuidados também como uma ameaça à onipotência de seu pró-
oferecidos a esses seres fazem com que suas dores sejam prio ser, que é quem, supostamente, deveria impedir es-
amenizadas. Assim, ao compreender o mundo, o ser-aí se processo, apresentando a cura para o sofrimento do
descobre o quanto está consigo mesmo, e esse compre- enfermo(23). A falta de preparo e conhecimento sobre a
ender possui a estrutura essencial do projeto que, com- morte é apontada como um fator desencadeante de es-
preendendo o ser-aí, projeta não somente o mundo como tresse nos profissionais(18,24).
um horizonte das preocupações cotidianas, mas também
o seu poder-ser de preocupação(19). Ao se depararem com a morte-morrer, os sentimen-
tos de angústia, frustração e tristeza mencionados pelos
Na meditação heideggeriana, percebemos que o ho- depoentes são apontados na literatura como efeitos biop-
mem, enquanto ser-no-mundo, está aí no mundo. Essa sicossociais decorrentes do sofrimento moral(25). Essa situ-
condição é um fato que desvenda a sua situação irrevo- ação é reiterada por autores ao mencionarem que, quan-
gável, isto é, mesmo em um processo de abertura, o ser- do os profissionais de enfermagem enfrentam obstáculos
aí sempre se depara consigo mesmo, já estando lançado éticos nas suas habilidades práticas, sentem-se forçados
no mundo. E, em seu mundo circundante, representado a comprometer seus valores e normas pessoais, poden-
pelo ambiente hospitalar, o enfermeiro, experimenta em do vivenciar sofrimento(26). Esse sofrimento pode ocor-
muitos momentos as tristezas do cuidar ao lidar com a rer como resposta de enfrentamento quando, após uma
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decisão de conflito ético, os profissionais de enfermagem profissional, como ser-no-mundo, no desenvolver de
reconhecem uma ação pessoal obstaculizada por impedi- sua profissão, tem a possibilidade de exercer o conta-
mentos individual, institucional ou social. to em seu existir cuidando, tornando-se um ser-com-
os-outros nas vivências com seu semelhante, o doente
Diante disso, reconhecemos a necessidade de o pro- com câncer.
fissional de enfermagem estar preparado para lidar com
a terminalidade e morte e não negá-la no cuidado(18), haja Na tríade enfermagem-paciente-família, apesar das
vista que esse profissional, enquanto cuidador, pode aju- dificuldades cotidianas, os profissionais da enfermagem
dar a pessoa em seu morrer ao ter os princípios éticos dos vivenciam não apenas o cuidado, mas também as alegrias
cuidados paliativos como fio condutor no cuidado. Pode e as tristezas de cuidar. Os sentimentos de alegria, prazer,
ainda preservar a dignidade desse indivíduo e auxiliá-lo bem-estar e satisfação são manifestados quando a equi-
no enfrentamento e no reconhecimento de sua morte. Pa- pe de enfermagem experimenta valorização e reconhe-
ra tanto, torna-se imprescindível encontrar o sentido de cimento ao executar o cuidado de quem está sofrendo.
seu próprio ser, ou seja, o ser-aí será autêntico no cuidado Apreendemos também que a presença incômoda da mor-
da terminalidade quando reconhecer que a morte é um te gera sentimentos de angústia ante ao sofrimento que
processo finito e inevitável e que desde o princípio o ser impõe ao doente e à família.
humano está predeterminado ao seu fim, para instituir
O desvelamento da vivência da equipe de enferma-
cuidados eficazes e humanos na terminalidade(8).
gem em-seu-sendo cuidador em uma Ala Oncológica si-
Este estudo desvelou a vivência da equipe de enferma- nalizou facetas que podem contribuir para reflexões nos
gem ao cuidar de pessoas com câncer em uma Ala Oncoló- campo do ensino, do conhecimento e da prática de enfer-
gica de um hospital geral e apresentou algumas limitações magem. Essas contribuições referem-se às especificidades
resultantes do fato de ser desenvolvido em um cenário es- e às necessidades implicadas no cuidar na terminalidade
pecífico, onde os profissionais de enfermagem trabalham da vida. O encontro com a morte faz parte do cotidiano
sem o sustentáculo de uma equipe multidisciplinar de desses profissionais, despertando sentimentos difíceis de
cuidados paliativos. Seus resultados não podem ser gene- serem abarcados em virtude da falta de preparo para tra-
ralizados, mas podem apontar para a realidade de muitas balhar com a morte.
instituições e profissionais de saúde no cenário brasileiro.
A nosso ver, faz-se necessário o (re)pensar dos diri-
Esperamos que os achados deste estudo contribuam e in-
gentes das instituições de saúde acerca dessa questão,
centivem outras pesquisas para compreender e reconhecer
devendo ser fornecidos subsídios, por meio de cursos,
os profissionais da enfermagem como seres humanos me-
oficinas e discussões, para que os profissionais possam
recedores de cuidados, pois o cuidado autêntico só surgirá
desenvolver suas atividades de forma plena, visando ao
no ambiente hospitalar paliativo quando quem executa o
bem-estar do doente e da família. Assim, é necessário que
ato de cuidar também for reconhecido no cuidado.
os profissionais de enfermagem também sejam assistidos
de forma holística e reconhecidos como seres humanos
CONCLUSÃO biopsicossociais e espirituais e não meramente como se-
res provedores de cuidado. Sugere-se a elaboração de
Este estudo permitiu compreender, por meio da fe- manuais, protocolos e guias baseados nas necessidades
nomenologia existencial heideggeriana, o sentido e o cotidianas dos profissionais de enfermagem para direcio-
significado atribuídos pelo profissional de enfermagem nar suas ações de cuidado na paliação hospitalar oncoló-
ao cuidado paliativo na Ala Oncológica hospitalar. Esse gica, suprindo suas carências e limitações.
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