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Resumo do livro : Ferramentas do Astronomo

23 de janeiro de 2023

Sumário
1 Capitulo 2.1.1- Extinção Interestelar 1

1 Capitulo 2.1.1- Extinção Interestelar


L
A equação F = 4zπd 2 presume que nada aconteça com a luz da fonte em sua viagem até nós, isto é, nada

além da diluição com o inverso do quadrado da distância. Isto nem sempre é verdade. O espaço entre as estrelas,
apesar de ser muito mais rarefeito do que o melhor vácuo que se consegue em um laboratório, não é vazio. O
meio interestelar contém gás e partı́culas minúsculas, compostas de grafite, silicatos e uma camada de gelo.
Essas partı́culas, cujos tamanhos são tipicamente de 0,1 a 1 µm, são chamadas de poeira. Em termos relativos,
a quantidade de poeira em nossa galáxia é pequena: São ∼ 107 M⊙ contra mais de 1010 M⊙ em estrelas. Porém,
como a galáxia é vasta, o efeito da poeira sobre a luz não pode ser desprezado.
Quando um raio de luz incide sobre um grão de poeira, ele pode ser defletido para outra direção. Assim, se
no caminho de uma estrela até nós existirem nuvens de poeira, parte da radiação da estrela que vem em nossa
direção será desviada por grãos de poeira, e não chegará até nós. Vista sob esse “véu” de poeira, uma estrela
parece mais fraca do que é:
L
O fluxo observado Fobs é menor do que o fluxo intrı́nseco Fint = 4πd 2 . Esse fenômeno é conhecido como

extinção interestelar.
Em uma noite perfeita, longe das luzes da cidade, você pode perceber uma faixa escura cortando a Via
Láctea como uma “espinha dorsal” (figura 2.2a), para usar a expressão de Carl Sagan. Esta faixa não se deve à
ausência de estrelas, mas à presença de poeira, que esconde as estrelas atrás dela. Esta faixa escura é também
vista em outras galáxias, como a famosa galáxia do Sombrero, ilustrada na figura 2.2b. Note como, em ambos
casos, a poeira está concentrada no plano do disco da galáxia. Outro exemplo de extinção é o “Saco de Carvão”,
uma nuvem escura que pode ser observada nas proximidades do Cruzeiro do Sul.
Obviamente, quanto mais poeira houver no caminho, menor será a razão F Fint . Matematicamente, isto se
obs

expressa da seguinte maneira:

Fobs = Fint e−τ


onde τ é a chamada profundidade óptica da poeira. A profundidade óptica é proporcional ao número de
grãos de poeira no caminho da estrela até nós. Quanto maior for esse caminho, mais poeira haverá e maior será
τ . No disco de nossa galáxia, e para a faixa espectral entre 5000 e 6000 A◦ , τ vale em média ∼ 1 para estrelas a
1 kpc de distância, 2 para estrelas a 2 kpc e assim por diante. Assim, o fluxo observado de uma estrela a d = 1
kpc é Fobs = Fint e−1 = 0, 37Fint , ou seja, 2,7 vezes menor do que o fluxo intrı́nseco. A 2 kpc, Fobs = 0, 14Fint ,
0,05 Fint a 3 kpc, etc.
L
É fácil perceber que a simples aplicação de Fobs = 4πd 2 , ignorando a presença de extinção, nos leva a
+ τ2
superestimar a distância. O valor de d assim obtido é e vezes maior do queqo valor verdadeiro. Por exemplo,
L
para uma distância verdadeira d = 1 kpc, e portanto τ ∼ 1, a expressão 4πFobs forneceria uma distância
aparente de 1,6 kpc, um erro de 60%. Já para d = 3 kpc, obterı́amos 13,4 kpc, um erro de mais de 300%!
Fica claro dos exemplos acima que não é possı́vel ignorar os efeitos da extinção! E para corrigir esse efeito
L
precisamos conhecer τ . Conhecendo L e d, podemos determinar τ pela comparação de Fint = 4πd 2 com o fluxo

observado Fobs . Porém, isso raramente é possı́vel. Embora existam métodos para medir d que independam da
extinção (ver seção 2.2), a determinação de L geralmente requer medidas de fluxo, que são fortemente afetadas
pela extinção. Basicamente, o problema é que não é trivial distingüir uma estrela muito luminosa que parece
fraca porque sofre muita extinção de uma estrela intrinsecamente pouco luminosa que é pouco extinta.
Uma das maneiras de estimar τ é avaliando o efeito que a poeira causa sobre as cores da estrela. Além de
diminuir o fluxo, a poeira muda a cor da radiação que a atravessa: Ela se torna mais vermelha. Esse fenômeno,
conhecido como avermelhamento, se deve ao fato de que os grãos de poeira espalham mais eficientemente

1
fótons de menor λ que fótons de maior λ. Matematicamente, isso implica que τ é maior quanto menor for
λ. Uma explicação simplificada de porque isto ocorre pode ser dada comparando o comprimento de onda de
um fóton com o tamanho dos grãos de poeira, que varia entre ∼ 0,1 e 1 µm. Um “fóton grande”, isto é, de
comprimento de onda grande comparado com o tamanho do grão, passa por ele praticamente sem percebe-lo,
como uma caminhão ultrapassando uma bicicleta. Já um “fóton pequeno”, vê o grão como se ele fosse uma
enorme parede. Assim, os grãos espalham mais fótons azuis do que fótons vermelhos, alterando a cor da estrela.
Neste sentido, é mais correto dizer que a poeira torna a estrela menos azul do que mais vermelha.
A figura 2.2c mostra uma imagem da Via Láctea montada a partir de observações no infra-vermelho. Fótons
nessa faixa espectral têm λ ≫que os grãos de poeira, e portanto sofrem pouquı́ssima extinção. O centro de
nossa galáxia, com seu bojo arredondado, é claramente visı́vel nessa imagem, o que não acontece em imagens
ópticas, pois a extinção nessa faixa é tal que o fluxo das estrelas no centro de nossa galáxia é diminuı́do mais de
10000 vezes! A figura 2.3 compara imagens do centro de nossa galáxia em três λ’s diferentes. O centro galáctico
é completamente invisı́vel no óptico. Em λ = 2µm a profundidade óptica τ é ∼ 10 vezes menor que no óptico, o
que já nos permite pelo menos ver algo, enquanto em λ = 25µm, a escuridão vira luz! Estrelas frias, nebulosas
e a emissão da poeira aparecem na imagem do satélite IRAS, embora ela tenha uma resolução (seção 2.3.3)
bem inferior às outras duas imagens. Outro exemplo de como observações no infravermelho nos permitem ver
através da poeira é dado na figura 2.4, onde comparamos uma imagem óptica com imagem em λ = 1, 5µm da
nebulosa de Orion, uma “maternidade de estrelas”. Como todas outras regiões de formação estelar, Orion é
rica em gás e poeira. Isto, aliás, não é coincidência: estrelas se formam a partir da contração de nuvens de gás,
e onde há gás também há bastante poeira.

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