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Galeria Ponto

Com Fótons Grafando


Uma introdução à Fotografia

Professor: Fernando Ribeiro feribeiro@gmail.com

1- Introdução

 Etimologia da palavra FOTOGRAFIA

A síntese do que é a fotografia está em seu próprio nome, Photos (luz) e Graphia (escrita).
Pode-se dizer então que FOTOGRAFIA é a “escrita da luz” ou “o que foi escrito pela luz”.
É claro que esta é uma definição reduzida e simplificada, pois a fotografia é uma arte complexa e
abrange aspectos tão diversos quanto a química, física, estética, filosofia, antropologia, sociologia,
eletrônica, computação e história, entre outras
Neste texto, vamos nos concentrar nos aspectos básicos da técnica da fotografia, ou seja, o que a
faz “funcionar”.
Para compreendermos bem o que é e como funciona a fotografia devemos conhecer seus dois
elementos componentes: a luz e onde e como ela é “grafada”.
Como dissemos, estes são os aspectos técnicos básicos dessa arte. Existem inúmeros outros,
alguns dos quais serão abordados nesta curta explanação.

 Espectro eletromagnético

Ondas eletromagnéticas são perturbações simultâneas do campo elétrico e do campo magnético.


Estas perturbações se propagam tanto no ar como no vácuo a uma velocidade aproximada de
300.000 km/s. As ondas podem ser classificadas segundo seu comprimento e formam um espectro.
O chamado espectro eletromagnético compreende toda a gama de comprimentos das ondas
eletromagnéticas. Segundo seu comprimento (do mais longo para o mais curto), uma onda
eletromagnética pode ser de rádio, televisão, radar, microondas, infravermelho, luz visível,
ultravioleta, raios X, raios gama ou raios cósmicos.
 A luz

A luz visível é, portanto, um “caso especial” do espectro eletromagnético. Na faixa situada entre o
infravermelho e o ultravioleta as ondas eletromagnéticas possuem comprimentos que as tornam
visíveis aos nossos olhos, daí o nome: luz visível.
Os raios X, por exemplo, também são uma espécie de luz mas nossos olhos não podem vê-la,
necessitamos de filmes especiais para captá-la. Já o ultravioleta é captado pela nossa pele que
reage fabricando uma substância protetora chamada melanina. É esta substância escura que nos
deixa bronzeados. Nossa pele também é sensível ao infravermelho. A “luz” infravermelha é
responsável pela transmissão do calor. Quando você fica sob o sol ou em frente a uma fogueira
aquela sensação de calor que sente no rosto e no corpo é resultado da irradiação infravermelha das
chamas e brasas. Se você põe a mão em frente ao rosto, projeta uma sombra de infravermelho,
aliviando, assim, o calor. Outros comprimentos de onda só podem ser captados com o auxílio de
aparelhos como: rádios, televisões, telefones celulares ou radiotelescópios.

2- A formação da imagem

 Propriedades da luz.

Para que possamos compreender como as imagens se formam devemos conhecer algumas
características básicas da luz.
Primeira: a luz se propaga em linha reta, ou seja, um feixe de luz sai de um ponto A e vai até um
ponto B sem fazer curvas ( bem, se entre o ponto A e B existir um buraco negro ou uma estrela, a luz
pode fazer uma curva mas convenhamos que isso não vai acontecer por aqui!).
Segunda: a luz sofre refração. Refração é a mudança de direção de um raio de luz quando ele
passa de um meio menos denso para um mais denso, ou vice versa. Quando a luz passa do ar para
a água ou do vidro para o ar. É por isso que uma colher mergulhada num copo com água parece
estar “quebrada”.

Terceira: a luz sofre reflexão. Reflexão é o rebatimento dos raios de luz nas superfícies. A reflexão
pode ser, basicamente, de dois tipos: especular e difusa. A reflexão especular ocorre quando o raio
de luz atinge uma superfície altamente polida, como um espelho. Ele incide sobre a superfície e é
refletido para longe desta superfície, num ângulo igual ao que ele incidiu. Já reflexão difusa ocorre
nas demais superfícies, normalmente rugosas, como nossa pele, o papel e a maioria das coisas. O
raio de luz que incide é refletido espalhado-se.
Quarta: a luz sofre absorção. Isso quer dizer que quando a luz incide sobre uma superfície, parte
dela é refletida e parte fica na superfície, é absorvida por ela. Quanto mais escura for a superfície,
maior será a absorção e menor a reflexão. É por isso que uma roupa escura, no sol, aquece mais
que uma roupa clara. A luz (energia eletromagnética) que é absorvida pela roupa transforma-se em
calor (energia térmica). Um espelho reflete quase toda a luz incidente, absorvendo apenas uma parte
muito pequena.
Vejamos agora como essas propriedades afetam a formação das imagens.

 O mundo de cabeça para baixo


Imagine que você está num quarto escuro e coloca uma vela acesa diante de uma folha de papel
branco. O que acontece? Será que aparece uma imagem da vela no papel? É claro que não! Mas e...
por que não?
Bem, de cada ponto da vela saem infinitos raios de luz (vamos imaginar que a vela esteja bem
iluminada pela sua própria luz). Esses raios propagam-se em linha reta e muitos deles atingem a
folha. Outros se espalham pelo quarto e alguns atingem seus olhos. Então, cada ponto da folha
recebe luz de vários pontos da vela pois cada ponto da vela emite infinitos raios de luz. É claro que
tamanha confusão não pode produzir nenhuma imagem, apenas um borrão luminoso que é
exatamente o que nós vemos na folha. Se toda esta explicação lhe pareceu obscura, dê uma olhada
na figura abaixo para clarear as idéias.

Então? Como podemos fazer para resolver este problema? Talvez a solução seja deixar que apenas
um raio de luz saindo de um ponto A na vela atinja um ponto B no papel, acabando assim com a
confusão de raios e formando uma imagem nítida. E como podemos bloquear ou outros raios? Isso
pode ser feito colocando-se um anteparo (um obstáculo) entre a vela (fonte dos raios) e a folha. Para
que o anteparo não bloqueie todos os raios, fazemos um pequeno furo no centro. Assim, o furo deixa
passar apenas um raio de luz da cada ponto da vela em direção ao papel, formando então sua
imagem invertida. Naturalmente isto é apenas teórico, pois mesmo que o furo seja bem pequeno
muitos raios de luz passarão por ele. Mas mesmo assim uma imagem bastante nítida será formada.
Veja a figura abaixo para compreender melhor.

Esse fenômeno já era conhecido há muitos séculos e era empregado na chamada Câmara Obscura,
um quarto fechado com um orifício em uma de suas paredes. Na parede oposta era projetada a
imagem do que estava fora do quanto, ao ar livre. A primeira descrição da câmara obscura foi feita
em 1544 por Giovanni Battista della Porta em sua obra Magia Natural. Ao longo do tempo a câmara
obscura foi diminuindo de tamanho até se tornar portátil. É possível até fazermos fotografias
utilizando apenas uma caixa ou lata com um furinho em um dos lados. Chama-se Câmera
Estenopeica ou Câmera Pinhole (pronuncia-se pinrôle, do inglês pin, agulha e hole, buraco ou seja,
“câmera de buraco de agulha”). Se você quiser saber mais sobre isto visite estes sites na Internet:

http://pinhole.no.sapo.pt/
http://www.eba.ufmg.br/cfalieri/frame.html
http://www.pinholebrasil.hpg.ig.com.br/index.htm
www.pinhole.org

 Aperfeiçoando a idéia

Como vimos, o pequeno furo nos permitiu bloquear a maioria dos raios luminosos que “confundiam”
a imagem. No entanto, esse método tem um grave inconveniente: quanto mais raios de luz nós
bloqueamos, mais escura fica a imagem. É claro que podemos resolver isso aumentando o
tamanho do furo e deixando passar mais luz, mas assim vários raios de um ponto da vela atingirão
vários pontos do papel prejudicando a nitidez da imagem.
É aí que entra outra propriedade da luz, a refração. Usando a refração podemos construir um
dispositivo que “entorte” os raios luminosos. Assim é possível fazer com que muitos raios que saem
de um ponto A da vela atinjam somente um ponto B no papel. Isso aumenta muito a luminosidade
da imagem sem prejudicar sua nitidez. O nome desse dispositivo é lente convergente ou lente
biconvexa. Veja na ilustração abaixo como funciona a lente.

Observe como os raios de luz mudam de direção ao passar do ar para o vidro da lente e deste para
o ar novamente. Essa mudança depende, entre outras coisas, do ângulo que o raio de luz faz com a
superfície da lente. Em uma câmera fotográfica o conjunto de lentes que forma a imagem é
chamado de objetiva.

Vamos ver agora, com o auxílio de imagens feitas durante um de meus cursos de extensão, como
funciona a óptica da fotografia:

1- Este é meu amigo Geraldo. Ele está utilizando uma lente convergente para formar a
imagem da vela sobre a parede. A imagem da vela se forma a partir do desvio, pela
lente, dos raios luminosos segundo o princípio da refração.
2- As setas em roxo indicam os raios luminosos que partem da vela em todas as
direções, iluminando o Geraldo, a parede e projetando sombras.
3-As setas em vermelho indicam os raios que partem do topo da chama e atingem a
lente. Como a superfície da lente é abaulada (convexa) os raios passam por ela em
ângulos diferentes e portanto sofrem refrações (desvios) diferentes. Os de cima são
desviados para baixo, os de baixo para cima e os do centro (que não estão desenhados
nesta foto) são desviados para cima quando entram na lente e para baixo quando saem
dela, resultando em uma trajetória retilínea.

4-As setas amarelas mostram o mesmo fenômeno, agora na outra extremidade da vela
e de sua imagem.
5-As setas azuis indicam as trajetórias dos raios que partem do centro da vela. Observe
que os raios que passam pelo centro da lente não sofrem desvio algum. Eles incidem na
superfície de vidro com um ângulo de 90 graus e, portanto, não sofrem refração.

5-Agora temos os três conjuntos de raios formando a imagem. Lembrem-se de que isto
é apenas um esquema. Na realidade existem infinitos conjuntos de raios de uma
extremidade à outra da vela/imagem, todos seguindo os mesmos princípios.
6-As setas verdes indicam os raios que partem do centro da chama e tangenciam (raspam) as
bordas da lente. Eles formam o limite da zona entre luz e "sombra". A "sombra" é formada pela
ausência dos raios que foram convergidos pela lente para formar a imagem da vela.

7- Por fim este esquema mostra todos os raios simultaneamente, que é o que acontece no mundo
real.
Quinhentos Anos de Evolução
Nas imagens a seguir foram desenhados três modelos de câmaras sobre as fotos originais.
A geometria está correta e os princípios de óptica também. Estas poderiam, de fato, ser câmeras de
verdade. Examine bem as imagens e veja como as câmeras fotográficas operam sempre sob os
mesmos princípios fundamentais.

Uma Câmera Obscura do século XVI

Uma Câmera para Daguerreótipos, do século XIX


Uma Câmera Moderna, digital ou não,
equipada com uma teleobjetiva.

Como você pode observar o princípio de funcionamento das câmeras fotográficas é o mesmo.
Um orifício deixa entrar a luz de forma organizada. Os feixes de luz atingem um anteparo e formam
uma imagem do que está posto em frente à câmera. Uma lente ou um conjunto de lentes pode ser
empregado. Isso faz com que um número muito maior de raios luminosos entre na câmera,
aumentando a nitidez e o brilho da imagem e alterando outros aspectos como foco, profundidade de
campo, perspectiva etc.

3- Gravando a luz

 Graphia, a invenção do filme1

Já vimos como a imagem se forma e como podemos utilizar lentes para torná-la mais luminosa e
nítida mas e como fazer para gravar esta imagem? Esta foi, talvez, a parte mais difícil e demorada do
aperfeiçoamento da fotografia. A idéia era achar uma substância que se alterasse em presença da
luz de maneira a registrá-la (e por contraste, registrar também sua ausência). Esta é uma história
longa e portanto teremos que resumi-la. Podemos dizer que, de um modo ou de outro, um elemento
sempre esteve presente nas soluções deste problema: a prata. Em 1727, Johann Henrich Schultze
descobriu que a luz escurecia uma solução de nitrato de prata (ainda hoje o nitrato de prata é usado
na desinfecção dos olhos de recém-nascidos e quando um pouco do produto escorre, entra em
contato com o sal (cloreto de sódio) das lágrimas e é exposto a luz por algum tempo, escurece,
2
dando-lhes a simpática aparência de guaxinins! ). Em 1802, Sir Humphry Davy e Thomas Wedwood
impregnaram papel e couro com nitrato de prata, colocaram objetos sobre estas superfícies
sensibilizadas e as expuseram ao sol. Foram obtidas imagens das silhuetas dos objetos, eles
chamaram essas imagens de fotogramas. Quando você tira seu biquíni ou calção depois de ficar ao
sol, pode ver um “fotograma” dele sobre sua pele.
Alguns anos depois, em 1816 o físico francês Joseph Nièpce colocou, dentro de uma caixa com
lentes, uma folha de papel sensibilizada com cloreto de prata. Mas a imagem que ele obteve era
negativa ou seja o que era claro na realidade, aparecia escuro na imagem e vice-versa. Além disso a

1
Ronald P. Lovell, Fred C. Zwahlen e James A. Folts. Manual Completo de Fotografía, p. 341 à 346.
2
Dra. Martha Vieira, pediatra e neonatologista.
imagem não era permanente, ela desaparecia com o tempo. Em 1822 ele conseguiu obter uma
imagem positiva (igual a realidade) utilizando uma placa de vidro recoberta com um tipo de resina
chamada betume (que não continha prata). A imagem obtida era muito primitiva e sem detalhes
mesmo assim é considerada a primeira fotografia do mundo. Foi a primeira imagem permanente,
obtida com uma caixa, lentes e material sensível a luz. Nièpce chamou seu invento de heliografia
(escrita pelo sol). Em 1829 ele se associou com um pintor francês chamado Louis Daguerre para
aperfeiçoa-la. Depois de muita pesquisa, Daguerre descobriu que era possível obter uma imagem
positiva, permanente, sensibilizando uma placa metálica recoberta de prata com vapores de iodo.
Essa imagem era revelada com vapores de mercúrio e tornada permanente ou seja, fixada, com
uma solução salina concentrada. Nièpce morreu em 1833 e Daguerre terminou de aperfeiçoar seu
método em 1839. Chamou-o de Daguerreotipia. Nesta mesma época o inventor inglês William
Henry Fox Talbot fazia experiências com papeis impregnados com cloreto de prata e em 1835
obteve sua primeira imagem negativa em papel. Impregnando esse papel com cera, para torná-lo
transparente, colocando-o sobre outro papel sensibilizado e expondo tudo a luz ele obteve uma cópia
positiva. Em 1839 Talbot anunciou sua invenção, a calotipia. Pela primeira vez na história era
possível obter-se um número ilimitado de cópias positivas a partir de um original negativo. Pois ao
contrário do daguerreótipo que era uma única chapa metálica opaca, o calótipo era feito em papel
translúcido e produzia uma imagem negativa que podia ser convertida em inúmeras cópias positivas.
Os calótipos não tinham a mesma qualidade dos daguerreótipos nem alcançaram sua popularidade
porém Talbot foi o primeiro a imaginar a fotografia tal como a conhecemos hoje: um processo
positivo-negativo baseado nas propriedades fotosensíveis dos sais de prata. Nesta mesma época o
astrônomo inglês Sir John Herschel descobriu que as imagens em prata podia ser fixadas e tornadas
permanentes pelo emprego do hiposulfito de sódio.
Inicialmente eram necessários longos tempos de exposição para que fossem obtidos os
daguerreótipos, não raro de meia hora ou mais. Com o aperfeiçoamento das objetivas e o aumento
da sensibilidade dos compostos de prata esse tempo foi reduzido a alguns minutos ou poucos
segundos. Essa redução tornou possível a obtenção de retratos mais espontâneos, em poses
menos rígidas. Nesse ponto do estado da técnica já tínhamos uma caixa fechada com lentes em
uma extremidade e material sensível a luz na outra. Era a câmera fotográfica.

 Melhorando o processo

Em meados do século (1851) descobriu-se que era possível fixar a emulsão sensível ao vidro por
meio de uma substância usada para proteger feridas cirúrgicas, o colódio úmido. Uma placa de
vidro era melhor que o papel e o metal pois não tinha textura e era totalmente transparente,
permitindo a obtenção de cópias negativo-positivas perfeitas. O uso do colódio úmido foi um
aperfeiçoamento que superou as técnicas então existentes pois as imagens obtidas eram tão nítidas
quanto dos daguerreótipos e reprodutíveis dos calótipos. No entanto, existiam desvantagens. Para
manter sua sensibilidade a luz, o colódio devia ser mantido úmido e isso tornava o processo bastante
trabalhoso. Era necessário preparar, expor e revelar as placas sensíveis, pesadas e frágeis
rapidamente sendo indispensável deslocar todo o laboratório para onde quer que se fosse fotografar.
Em 1965 aperfeiçoou-se o processo do colódio seco, o que libertou a fotografia do laboratório e
permitiu que fossem registradas imagens nos mais diversos lugares. Em 1871 o colódio seco foi
substituído pela emulsão de gelatina em placa seca, no entanto o suporte da emulsão continuava
sendo as complicadas placas de vidro. A invenção que iria mudar isso chegou em 1888. George
Eastman, o criador da Kodak, lançou uma tira de papel recoberta com emulsão de gelatina. Pouco
depois ele substituiu a papel por celulóide, o primeiro dos plásticos. Estava criado o filme
fotográfico. Os filmes modernos são fabricados em diversos formatos e vários graus de
sensibilidade. A sensibilidade é medida segundo a escala ISO (International Standard Organisation)
ou ASA (American Standard Association). Quanto maior o número ISO (que tem o mesmo valor do
ASA), maior a sensibilidade do filme. Os valores mais comuns são: ISO 32, 64, 100, 200, 400, 800,
1600 e 3200.

4- A Câmera Fotográfica


3
Os elementos de uma câmera

3
Ansel Adams. A Câmera p. 22
1) Para que seja possível formar uma imagem a partir de raios luminosos refletidos ou emitidos, é
necessário o emprego de uma lente ou conjunto de lentes agrupadas. É a OBJETIVA. As
características mais importantes de uma objetiva são: sua distância focal e sua abertura.

a) A distância focal de uma lente é a medida (normalmente em mm) entre seu centro e o
filme quando um objeto distante está perfeitamente em foco. No caso de uma objetiva
composta, a distância é medida entre o centro de uma lente hipotética que seria equivalente
a esta objetiva e o filme. Quanto maior a distância focal de uma lente, menor seu ângulo
de visão. Um bom exemplo de lentes “longas” são aquelas que os fotógrafos usam em jogos
de futebol. Como o ângulo de visão é estreito é possível enquadrar apenas uma pequena
parte do campo e mostrar detalhes de uma jogada ou de um jogador. Quanto menor a
distância focal de uma lente, maior seu ângulo de visão. O “olho mágico” de uma porta é
um exemplo de lente de curtíssima distância focal, e grande ângulo de visão (180). As
grande angulares são ideais para se fotografar perto do sujeito e ainda assim enquadra-lo na
sua totalidade. Naturalmente cada tipo de lente tem peculiaridades que resultam em vários
“efeitos colaterais” na imagem. As lentes são nomeadas segundo sua distância focal. Como
a distância focal do olho humano é equivalente a de uma lente com distância focal de 50 mm,
esta é chamada de normal e “enxerga” um ângulo similar ao dos nossos olhos. Lentes com
distância focal menor são chamadas de grande angulares e com distância focal maiores
são chamadas de teleobjetivas. Objetivas podem ter distância focal variável, ou seja, serem
dotadas de mecanismo que modifique a relação entre seus elementos ópticos internos
variando assim sua distância focal. São as chamadas lentes zoom. Este tipo de objetiva
pode ter sua distância focal variando entre, por exemplo, 38 e 120 mm ou 70 e 300 mm.
b) A abertura de uma objetiva é a relação entre seu diâmetro e sua distância focal. Imagine
uma relação entre altura de som e distância da fonte sonora. Chamemos esta relação de
“volume”. Se uma pessoa fala alto mas está longe, o volume de sua voz será igual a de
uma pessoa falando baixo porém perto. Ambas as vozes terão o mesmo volume. Com as
objetivas ocorre a mesma coisa. Uma objetiva longa e de grande diâmetro transmitirá a
mesma luminosidade que uma objetiva curta e de menor diâmetro. Calculando a razão
(divisão) entre o diâmetro da objetiva e sua distância focal, teremos a sua abertura. Uma
objetiva com diâmetro de 50 mm e distância focal de 100 mm terá uma abertura de ½ da
distância focal (50/100 = ½). Para simplificar dizemos que a lente tem uma abertura de f/2,
ou seja, a sua abertura é metade de sua distância focal. Desta forma, uma lente de 50/100
mm tem o mesmo número f (ou seja, abertura ou luminosidade) de uma lente 200/400 mm
ou uma 35/70 mm. Todas têm uma abertura máxima de f/2.

2) Para que a imagem seja projetada nitidamente, a objetiva deve possuir um mecanismo que
permita a variação de sua distância em relação ao filme. É o SISTEMA DE FOCALIZAÇÃO. O
sistema de focalização pode variar muito de uma câmera para outra mas seu objetivo é sempre o
mesmo: fazer com que raios luminosos provenientes de um ponto na frente da objetiva
convirjam para um ponto na superfície do filme.

3) Para que se possa controlar a intensidade da luz que chega até o filme, um sistema de lâminas
forma um orifício de diâmetro variável. Este orifício funciona de maneira idêntica a íris do olho,
variando o diâmetro do feixe de raios luminosos que passa pela objetiva. É o DIAFRAGMA e
é montado no interior da objetiva. A quantidade de luz que passa pela abertura circular do
diafragma tem relação direta com sua área. Quanto maior a área do círculo, mais luz passará. A
área do círculo varia segundo o quadrado de seu diâmetro, portanto quando dobramos o
diâmetro do círculo, multiplicamos em quatro vezes a quantidade de luz que passa por ele. Ora,
esse incremento de quatro vezes é excessivo e não se presta a uma regulagem “fina”. Melhor
seria poder aumentar a área em incrementos de dois ou seja, a cada incremento, duplicar a
quantidade de luz que passa pelo diafragma. Isso é possível se, em vez de 2, alterarmos em 2
o diâmetro do orifício formado pelo diafragma ou seja, aproximadamente 1,4. Cada vez que
multiplicamos o diâmetro do orifício por 1,4 , aumentamos sua área o suficiente para
duplicarmos a quantidade de luz que passa por ele. Se uma lente tem a abertura máxima de f
1,4 a sucessão de aberturas do diafragma será aproximadamente: 1,4; 2; 2,8; 4; 5,6; 8; 11; 16;
22; 32, cada uma deixando passar metade da luz da anterior. Geralmente os diafragmas fecham-
se até formar orifícios f/22 ou f/32. Lembre-se f/32 significa que a abertura é um trinta e dois
avos da distância focal, portanto bem pequena.
4) Para controlarmos o tempo que o filme fica exposto à luz é necessário um dispositivo que
libere ou bloqueie a passagem dos raios até o filme. Esse dispositivo pode ter vários formatos
e princípios de funcionamento mas seu objetivo é sempre o mesmo: controlar o tempo de
exposição do filme à luz que passa pelas lentes. É o OBTURADOR. Obturadores também
podem variar muito de construção mas sua função de controlar o tempo é a mesma. Em geral, o
tempo de obturação pode variar entre 1 segundo e 1/8000 de segundo em incrementos de ½ .
Ou seja 1; 1/2; 1/4; 1/8; 1/15; 1/30; 1/60; 1/125; 1/250; 1/500; 1/1000; 1/2000; 1/4000; 1/8000.
Observe que as frações 1/16; e 1/120 foram “arredondadas” para facilitar a seqüência numérica.
Tempos de exposição maiores que 1 segundo são possíveis empregando-se a posição B do
obturador. Nesta posição o obturador permanecerá aberto enquanto o botão do disparador
permanecer pressionado. Algumas câmeras admitem exposições de 2; 4; 8; 10; 20; e 30
segundos. O obturador e o diafragma são utilizados em conjunto. É possível duplicar a
quantidade de luz que passa pela objetiva e reduzir o tempo de obturação a metade, mantendo-
se constante a exposição do filme. ou vice-versa, é a lei da reciprocidade.

5) Para regular o diafragma e o obturador de modo a expor o filme à quantidade de luz indicada
para a sua sensibilidade é necessário um instrumento de medição dessa luz. É o
FOTÔMETRO. Os fotômetros podem ser manuais (separados da câmera) ou integrados à
câmera e medir a quantidade de luz refletida ou incidente em uma cena. O fotômetro nos
informa, segundo aquelas condições de iluminação, que relação entre diafragma e obturador
devemos fazer para obter uma exposição adequada ao filme. Por exemplo: num dia de sol, na
praia, utilizando-se um filme ISO 100, e apontando a câmera para o um pedaço de mar e de
areia o fotômetro pode indicar uma relação de velocidade 250 (1/250 de segundo) e abertura 8
(f/8). Assim podemos variar aberturas e velocidades segundo a lei da reciprocidade e manter a
exposição adequada. Podemos dobrar a abertura para 4 (f/4) e reduzir o tempo à metade
usando a velocidade 500 (1/500 de segundo). Ou o contrário, abertura f/16 e velocidade 125.
Velocidades maiores tendem a congelar o movimento de objetos e pessoas. Aberturas
grandes tendem a deixar poucos planos, além do que você escolheu, em foco.

 Tipos de câmera

A variedade de marcas e modelos de câmeras é imensa. Existem câmeras de grande formato, de


médio formato, de pequeno formato, de objetivas únicas, de objetivas gêmeas, compactas, reflex, de
visor, câmeras descartáveis, câmeras submarinas, espaciais, automáticas, manuais, analógicas,
digitais, panorâmicas, de alta velocidade, astronômicas, estereoscópica, holográfica etc. Enfim, para
cada objetivo específico existe um tipo de câmera. Algumas mais caras e especializadas e outras
mais simples e de uso comum.
Em nosso estudo vamos nos deter nas câmeras de pequeno formato ou seja, que utilizam
negativos de 35 mm (24 x 36 mm). Ansel Adams, em seu livro A Câmera refere-se assim às
câmeras 35 mm: “A câmera de pequeno formato moderna funciona como uma extensão do olho
humano. O fluxo da vida e as relações entre objeto e realidade, em constante mutação, parecem vir
ao encontro do olho e da imaginação do fotógrafo. Essa percepção do mundo é muito mais fluida do
que aquela possibilitada por uma câmera de grande formato, porque o fotógrafo tem que avaliar
todos os elementos dinâmicos da cena e integrá-los em uma fotografia estática convincente em
4
frações de segundo” .
As câmeras de 35 mm podem ser divididas em dois grupos principais: câmeras de visor direto e
câmeras reflex de objetiva única. Nas câmeras de visor direto o fotógrafo vê e enquadra a cena
através de um pequeno visor independente da objetiva. A imagem “vista” pela objetiva é projetada
diretamente sobre o filme. Isso deixa a câmera mais compacta, leve e silenciosa pois elimina uma
série de dispositivos como espelhos e prismas presentes nas reflex. Por outro lado, como o que o
fotógrafo efetivamente vê é ligeiramente diferente da imagem captada pela objetiva, pode ser difícil
enquadrar uma cena com precisão.
Já nas câmeras reflex, um conjunto de espelho e prisma desvia a luz que passa pela objetiva em
direção a um pequeno visor. Assim o que o fotografo vê é exatamente o que será projetado no filme.
No momento do disparo, o espelho se levanta automaticamente, permitindo que a luz passe pelo
obturador e chegue ao filme. Assim, apesar de ser mais complexa, volumosa e barulhenta que uma
câmera de visor direto, uma reflex tem mais precisão de enquadramento. Além disso você pode

4
Id. ibid., p.25.
trocar as objetivas ou alterar sua distância focal e verá com precisão a imagem que será
projetada sobre o filme. entre outras vantagens.

5- O Processamento

 Revelação e Ampliação

Depois de exposto o filme precisa ser revelado e ampliado para que possamos apreciar o resultado
de nosso trabalho. Vejamos então como isso é feito em um filme preto e branco.

1) Revelação. Como vimos, ao atingir o filme a luz faz com que alguns átomos de prata metálica se
formem nos cristais da emulsão sensível. Os átomos de prata metálica são pretos mas em
número extremamente reduzido. Depois de exposto o negativo já contém a imagem mas esta
ainda não é visível, é a chamada “imagem latente”. Para que possamos vê-la mergulhamos (no
escuro) o filme numa substância “reveladora”. O revelador vai multiplicar a quantidade de átomos
de prata metálica por um fator de aproximadamente 10.000.000 (sim, dez milhões!) fazendo com
que a imagem apareça. Nesse estágio a imagem já seria visível no negativo mas ainda haveria
prata sensível e se o expusesse-mos à luz ele seria totalmente impressionado ou seja velado
(queimado). Para retirar o resto dos sais sensíveis empregamos outro líquido, o fixador. Ele vai
eliminar todo o material sensível não impressionado do negativo deixando-o transparente onde
não houver prata. Neste ponto o negativo já pode ser exposto à luz e verificado. Depois basta
lavá-lo secá-lo e cortá-lo em tiras para arquivamento.
2) Com o negativo revelado precisamos fazer cópias positivas ampliadas. Para isso colocamos o
negativo em um ampliador que projetará a imagem negativ sobre uma folha de papel fotográfico
sensível. Depois de revelado por um processo similar ao do filme, o papel exibirá uma imagem
positiva e ampliada do negativo. É a fotografia.

6- A Imagem Fotográfica

 Espaço e tempo

Quando fotografamos, executamos uma ação que ocorre num determinado ponto do espaço e do
tempo. Estas dimensões influenciam diretamente no resultado que obtemos. O que fotografamos é
tão importante quanto quando fotografamos. Tanto para “o que” como para o “ quando” existem
várias regras e teorias.

1) Espaço. Dependendo de para onde apontemos a câmera, faremos um recorte diferente da


realidade. O que aparece nesse recorte é regido pelas leis da composição. Nele existirão linhas,
massas, luz, sombra, cor, textura, ritmo, equilíbrio, tensão, movimento etc. A principal regra da
composição em fotografia é a “regra dos terços”. Ela diz que podemos dividir área da imagem em
três partes verticais iguais e três horizontais. posicionando-se um elemento em um dos terços
teremos uma composição mais dinâmica e agradável do que centralizando-o. Assim na nossa
foto da praia, poderíamos ter o terço inferior com areia e os dois superiores com céu ou vice-
versa. Também poderíamos ter crianças brincando nos dois terços esquerdos e espaço vazio no
terço direito. Esta regra diz também que os quatro pontos de intercessão das linhas divisórias
dos terços são pontos de especial interesse na imagem e os elementos posicionados nestes
pontos serão valorizados.
2) Tempo. O momento em que pressionamos o botão do disparador, acionando o obturador,
determina a “fatia” do tempo que escolhemos para registrar em nossa foto. Isso pode fazer toda
a diferença. o fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson cunhou o termo Momento Decisivo (l’intant
décisif). Segundo Cartier-Bresson o instante decisivo é aquele em que todos os elementos
necessários para transmitir a essência do que está ocorrendo se articulam entre si dentro do
campo abrangido pela câmera. Se neste exato momento, ou frações de segundo antes,
pressionamos o disparador, captamos o momento decisivo.

7- A Imagem Digital

Como vimos anteriormente, as imagens analógicas em negativo são formadas por grãos de prata
que se formam na superfície do suporte. Essas imagens são chamadas de “tom contínuo” por,
aparentemente, não apresentarem descontinuidades ou “quebras” em sua constituição. Já as
imagens digitais têm por característica serem formadas por elementos individuais reconhecíveis
chamados de pixels. Pixel é a junção de duas palavras da língua inglesa: Picture (imagem, foto) e
Element (elemento) e foi usada pela primeira vez em 1965 pelo cientista Frederic C. Billingsley em
um artigo descrevendo os sistemas de captura de imagem de sondas lunares e marcianas.
Os pixels possuem as seguintes características principais:

 São, em geral, quadrados. É possível termos pixel retangulares, em especial em sistemas de


televisão, mas em fotografia e computação gráfica a proporção é quase sempre de 1:1.
 São indivisíveis, ou seja, não é possível utilizar meio pixel ou pedaço de pixel. É possível, por
manipulação digital, multiplicar um pixel, mas você não acrescentará informação alguma à
imagem.
 São preenchidos por apenas uma cor. Um tem uma cor sólida: verde, vermelho, azul
ultramar, amarelo limão, cinza escuro, preto etc. Nunca um dégradé, listras, pontos etc.
 São adimensionais, ou seja, não possuem uma dimensão física. Um pixel é um simples
quadrado e um quadrado pode ter qualquer tamanho que se queira. Quanto maior o tamanho
que se atribuir aos pixels que formam uma imagem digital, maior será o tamanho da imagem.

Quando você faz uma fotografia digital, a câmera “recorta” a imagem em milhares (kilopixels) ou
milhões (megapixels) de elementos. Portanto quanto maior o número de pixels de uma mesma cena,
maior o nível de detalhe com que esta cena será digitalizada. Porém isto nem sempre é verdade!
Para captar as imagens os sensores (CCDs e CMOS) organizam grandes quantidades de
fotorreceptores em linhas e colunas. Cada quatro fotorreceptores (um para o vermelho, um para o
azul e dois para o verde) captarão a informação que formará um pixel. Se você está usando uma
câmera digital compacta e, portanto, pequena, com sensores de mais de 6 megapixels os
fotorreceptores serão tão pequenos que introduzirão ruído (noise) e distorções na imagem.
Veja na imagem abaixo alguns sensores e seus respectivos tamanhos.
Observe abaixo uma imagem aparentemente em tom contínuo (sem quebras ou interrupções).
Veja no detalhe como ela é, na verdade, formada por pedaços individuais, os pixels.

Observe no detalhe à esquerda,


como os pixels são quadrados e
preenchidos por uma cor sólida
cada um.

A uma imagem formada por linhas e colunas de pixels damos o nome de “Bitmap”.
Um bitmap tem duas dimensões, largura e altura. O bitmap abaixo tem 150 pixels de largura por 112
pixels de altura. Dizemos que ele tem uma resolução de 150 x 112 pixels.
Um bitmap pode ser criado de várias maneiras. Ele poder ser uma fotografia feita por uma câmera
digital, o resultado de um processo de escaneamento, um imagem gerada por computador etc.
Independentemente de sua origem um bitmap poderá ser editado utilizando-se um editor de imagens
digitais. Existem inúmeros editores à nossa disposição, tanto gratuitos quanto pagos. O aplicativo de
retoque, ajuste e edição de imagens mais conhecido e considerado o padrão da indústria é o Adobe
Photoshop. Uma boa alternativa gratuita é o Gimp, cuja licença é livre. Existem também editores de
imagens online, como o FotoFlexer.

Bem, isto conclui nossa breve viagem pelo mundo da fotografia, começando com a luz e terminado
com os Pixels. Como vimos, a arte de fotografar tem inúmeras e interessantes facetas. Nesta simples
apostila não fizemos mais que arranhar a superfície de um vasto oceano de conhecimento. Espero
que esta introdução sirva de estímulo para uma busca continuada de novas informações e
aperfeiçoamento.

Contem comigo para orientá-los e estabelecer um diálogo sobre os aspectos técnicos e artísticos da
fotografia.
Boas fotos!

Fernando Ribeiro – feribeiro@gmail.com

Bibliografia:

GUIA DE FOTOGRAFIA DIGITAL

Autor: BAVISTER, STEVE


Editora: SENAC SP -

TUDO SOBRE FOTOGRAFIA

Tradutor: ABREU, FERNANDA


Tradutor: MORAIS, FABIANO
Tradutor: KORYTOWSKI, IVO
coordenador/editor: HACKING, JULIET
Prefácio/Posfácio: CAMPANY, DAVID
Editora: SEXTANTE

FOTOGRAFIA DIGITAL - UMA INTRODUÇAO

Autor: ANG, TOM


Tradutor: SZLAK, CARLOS
Editora: SENAC SP -
Assunto: FOTOGRAFIA

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Em reedição. Próxima edição prevista para: 6/5/2013 . Previsão de envio a partir de: 17/5/2013
Autor: HEDGECOE, JOHN
Editora: SENAC SP -

FOTOGRAFIA AVANÇADA DE LANGFORD


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Autor: BILISSI, EFTHIMIA


Autor: LANGFORD, MICHAEL
Tradutor: MENEZES, RONALD SARAIVA DE
Editora: BOOKMAN COMPANHIA ED
Assunto: FOTOGRAFIA

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